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Cae Tener \ ONDE MUITOS VEEM APENAS UMA CRIANG ‘A Prefeitura da sua cidade, em parceria com a Editore Positivo, pode realizar uma verdadeira revolugao nas escolas piblicas do seu municipio. 0 Sistema de Ensino Aprende Brasil € um programe que oferece beneticios para alunns e professores de todas as escolas de sua comunidade. € um conjunte de recursos pedagisicos com a garantia do maior grupo educacional do Pais. SISTEMA DE ENSINO APRENDE BRASIL. TRANSFORMANDO 0 FUTURO DAS CRIANCAS BRASILEIRAS. GARANTIA DE QUALIDADE 0s Livros Didaticos Integrados sao desenvohid atualizados pelo Centro de Pesquisas Posi Ele co cam o padrio de excléncia © a precisdo na pro editorial egrfica que consagraram a Edita Psi VALORIZAGKO DOS PROFESSORES Une equipe altamente qualficada estaré & spo dos profisionis de educagao do seu muncipn, 0 suporte necessério & pratica pedagégica, por de cursos de metodologia que contribuirao pe formagdo contnuada MELHOR PARA AS CRIANGAS. 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Que os conflitos no sio problemas externos que invadem a paz da esco- la, mas um dado da realidade social que deve servir como gancho para a formagao de seres humanos mais bem preparados para a vida? E assim, invertendo a légica do discur- so autovitimado do professor, que a pesquisadora Telma Vinha tem trazido a educadores de virias regides do pais uma perspectiva diferente para a ges- tio do conflito na escola —que emerge no apenas de seus estudos, as deseu trabalho de campo, dentro de escolas pliblicas e particulares. Pesquisadorada Universidade Fstadual de Campinas (Unicamp),onde também sedoutorou, Telma éuma vozinfluente, com uma fala propositiva. Entre outras coisas, ela sugere que os adultos deixem de inventar tantas regras apenas para conter problemas ajudem as criangas ceadolescentesa vera extensiodo dano que so capazes de causar, colocando frente a frente agressor ¢ agredido. Leia, a seguir, a entrevista concedi Paulo de Camargo. Muitas vezes, quando lemos sobre violéncia nas escolas, parece que 0 conflitoé algo externo que invade, re- pentinamente, a celestial paz escolar. E assim mesmo? Ascola véoconlito como algo atipico ¢ antinatural, Os proetos voltados para essa rea tratam a paz como a auséneia 4e conflito, e esse & 0 primeiro engano. Adiscordancia é necessiiia. Eo quenos ‘move. Hoje, muiias pesquses mostram ‘como o professor se sent aetado. Uma delas mostra que 47% dos professores PW) Ra) Ere Keates Pee eee Cr eau) Cytol e Lolo PE acted Te dedicam entre 21% e 40% do seu dia a problemas de disciplina. Ou seja, para ‘© professor, o conflito & um fendmeno danoso, quando poderia ser uma opor- tunidade de aprender. ‘Como a escola lida com esses proble- mas? Como eles poderiam se tornar uma forma de aprendizado? Eppreciso dizer que o professor realmente sofre com a sensaglo de estar sendo desrespeitado,acha que ja fez de tudo ¢ esta certo, Realmente, fez tudo o que creer ten pelio ottakacd que pera ‘mal-estar e inseguranga e leva a escola ‘tomar sempre duns diregbes: ou tent contro problema, ou tenta punir Entre as estratépias de contengo, esto inicia- tivas que levam a filmadora e grades. 1ss0 9 vai gerarnovos confitos. final, sio jovens quero estio send educados, ‘mas contids, Por quanto tempo? Auta estratégia éaresolugdorpida: existe um. problema, ¢ para resolvé-0 aplico uma ppunigdo ou erio uma nova regra, Estio usando boné para carregzar drogas? Proi- bese oboné.Ascriangasestioapostando card? Proibem-se 0s cards. E o que deveriam fazer? © que nfo se percebe € que quando se ccria uma regra apenas para impedir que ‘0 problema ocorra, impede-se a apren- dizagem. E pelo conflito, ¢ nao pela Janeiro 2009 doutrinagdo do que écerto ouerrado, que se aprende. No caso dos cards, perde- ‘uma oportunidade preciosa de traballar comalunasde9, 10 anossobreos valores ceperdas envolvidos naquela brincadcira. Por que nio sentar ao lado do aluno e, ‘em ver de tri-lo do confito, mostrar 0 aleance das conseqiéncias dos seus atos? De situago em situagdo, a escola cria uma soma de regras para evitarconflitos, ‘eas alunos crescem despreparados para as relagdes interpessoais. A educagio de hoje tem um efeito nocivo para a sociedade ndo pela indiscipina, mas por preparar pessoas que nio conseguem pereeber perspectivas diferentes sem se sentirameagadas, pessoas que nfo sabem debater, argument. (Ou seja, além de nao educar, a alter- nativas sio deseducadoras? (Os mecanismos punitivos geram a ligio de que se pode simplesmente quitar 0s débitos. A escola ensina os alunos a analisar tudo sob 0 ponto de vista do cus- to-beneficio. Alguém rasgou um cartaz produzido por outro aluno? Paga-se com asuspensio e pronto, A vidanio Eassim: as pessoas ficam magoadas...Alguém in- ‘vsti tempo para fazer aquele carta, ted perdas que nfo sero compensadas. a escola no coloca frente a frente esses alunos, jamais vo conhecer a extensiio dos eros para as relagdes humanas. swonw.revistasducacao.com.br P Telma Vinha Nesse exemplo simples do cartaz, 0 que poderia ser aprendido? ‘Vamos pelo principio: a pessoa efeti- vamente aufGnoma que a escola quer regida por mecanismos de auto-regulamentagao internos. A pessoa auténoma faz escolhas justas mesmo quando sabe que vai perder; pensa em quanto vai se sentir bem seguindo principios nos quais acredita, Se quem rasgou 0 cartaz. confessou € {i suspenso, sentird apenas que foi um trouxa, Quem niio contou, se safou. Os jovens precisam se sentir bem quando no agridem, Isso s6 se consegue quando colocamos as pessoas frente a frente Desse ponto de vista, na resolugdo de confitos os valores sio transmitidos nos procedimentos, no nos resultados. Mas freqilentemente a escola abre mio dos prinefpios de justia, de didlogo, de res- peito em nome da resolugio, Furtaram 6 dinheiro da professora? Humilha-se, pedese a delagio andnima... tia no 6 reméio; ¢ vaca! A escola no espetha a sociedade em ‘queesté inserida? Ou seja, nfo éassim também no mundo adulto? Os valores de uma sociedad estariio tamiém dentro da escola; seus confitos, idem, Iso assim porque vivemosem uma sociedad heferénoma, Temos inimeros dados que mostram que 0s brasileiros br pensam em temos de retomo conereto. Mas isso no quer dizer que todas as indo as que vém pela mmidia, sdo deterministas. Ha muito que fazer. Mas a escola nio abre espago para © tema € os professores também nunca foram preparados para idar com o confit. Na formado dos docentes, no existem estudos sobre confitos, reer, disciplina, sendo que 0 educador vai dedicar grande parte do seu tempo a lidar com isso. Além disso, escola intra deve estarenvolvida. ‘Scaescolanio for ooperativa, se odiretor do sentarjunto ¢ viro problema de convi- ‘éncia como algo que deva ser investigndo, hi pouco o que fazer. Pecisamos de uma szestio mais democrtic, se pretendemos que oprofessor faa uma gestio de conflitos ‘mais democritica. Seno, tudo oque se fart 6 lament, vtimizar ou doutrinar. influéncias, Quando escothe o caminho da pu- nigdo € das regras, a escola nao é também opressora? Estou cansada de conversar com alunos ouvir que eles se sentem injustigados, desrespeitados por professores que no sem o nome do aluno, que do cépia na lousa para manté-los ocupads, faze ‘gozagdes, usam a avaliagdo como uma forma de ameaga... Tem lugar em que © banheiro € fechado & chave, Isso hhumilhante. A escola passa amensagem de que pensar e obedecer so coisas distintas, Colocam-se regrase cobranga ‘sem que se proporcione a compreensio dda sua necessidade. Quem & punido aprende apenas uma coisa: a nao ser flagrado. Muito sintomdtica ¢ a expressio: te pego la fora. Esses alunos nao aprenderam a dialogar, apenas foram contidos. Onde entra a questio da autoridade, nese contexto? Aautoridade é mais do que necessiia, vital no processo educativo. A crianga entra no mundo da moral pela via da autoridade: a crianga que segue uma regranio pensa se €justa ounccessiria, mas quem mandou. Isso & uma etapa da vida. Com 0 tempo, por volta dos 8 anos, cla comega a questionar. A partir dai, s6 sou autoridade quando o outro ‘me vé como autoridade. Em sala de aula, preciso que o aluno reconhega 4 autoridade em mim, seja pelo meu conhecimento ou pelo meu compor- tamento ético. O professor que grit, que ameaga, que utiliza mecanismos de humillagdo, de ironia, no procisaria fazer isso se tivesse autoridade Por que as regras sio tio pouco obe- decidas na escola? Aeescola colocano mesmo balaio regras ‘boas e regras ruins, que vao confundir sobre o que vale a pena seguir ou no, # mito comem em palestras alguém perguntar sobre o que fazer com os alunos se eles vém de meia branca e no com a preta, Briga-se pela cor da ‘meia do mesmo modo que pela ofensa pessoal, Certodia, em uma escola, uma professora mandou um aluno para fora porque estava de bone, inas contem- porizou quando chamaram a aluna de piranha. Regras que so convencionais podem ser mudadas; principios nao podem ser contemporizados, E qual critério as escolas deveriam adotar ao estabelecer regras? BEN ead ee Oo ere ld de formacao Ce Tra ru) CU ato iTe) Cor eel eu) As pesquisas mostram que so tantas proibigdes tolas, que os jovens pas- sam a ver tudo como implicdncia dos adultos. © problema niio é a falta de limites, mas 0 excesso de limites que confundem © sio desnecessirios. A pais e professores, sempre pergunto © seguinte: regras inevitavelmente levam a confltes, mas pelo que vale efetivamente a pena brigar? As rela- ges so muito mais importantes. Ja vviram professores em sala de aula, em programas de formagao continuada? ‘Fazem exatamente como os alunos dos quais reclamam: saem correndo, no voltam no horério, entram com a.coca~ cola na sala, pedem para irao banheiro assim que acaba o intervalo... ser que essa atitude esti questionando algum principio vital para a autoridade? Eles esto send injustos ou desrespeitosos? Acho que nil Precisamos irs causas dos contftos,¢ a solugo tem de repre- sentar prine(pios de justiga. As vezes, © problema esta mesmo em uma aula ‘que ninguém agtenta, A escola tem de ‘ser um lugar bom para se it. Em que etapa é mais efetivo 0 inicio do trabalho sobre resolugio de conflitos? ‘Os estudos mostram que quanto mais ‘cedo melhor. Sao, de Fito, mais dificeis mas niio impossiveis —os programas de interyengaio com adolescentes. De- ‘vemos pensar que os problemas chama~ ‘dos de ‘indisciplina’ nao sio generali- zados. Os estudos mostra que 0 perfil do brasileiro é muito mais de submis- so do que de agresstio, mas para isso a escola nio liga. Os adultos dizem: esse € da paz, é gente boa. Contudo, osalunos submissos precisam também deajuda. Alguém que diga: como voce permitiu isso? Os professores querem ‘bom comportamenio, mas por sujigao. Em nossa proposta, a questo ndo esta em trabalhar para resolver 0 confito, ‘mas muito mais: queremos fazer com que o conflito sea assertive para oalu- no, para o professor e para a sociedad. ‘Teruma escola preocupada em ensinar a lidar com o conflito, com 0 piblico e ‘o privado, com as relagdes humanas, & um direito dos alunos, no importa se tém 7 ou 15 anos. © que o professor pode fazer, na ritica, diante de um conftito? Ha algumas orientagdes basicas. A pri- imeira € ver os conflitos como naturais na relaglo educativa, O educador deve ‘manter-se calmo e procurar sempre ‘controlar suas reagdes, evitando a " pulsividade, Outro passo importante & reconhecer que os contfltos pertencem 20s envolvidos, 0 que niio significa deixé-los & propria sorte. O professor ‘deve agir sem tomar partido e sabendo que niio & necesséria uma resolugio imediata, Como um mediador, nao ‘um negociador, 0 educador interfere descrevendo o problema, incentivando 6s alunos a falar sobre seus sentimen- tos ¢ atos. E fundamental acreditar na ceapacidade dos alunos de solucions-lo —0 que nio significa aceitar qualquer alternativa de resolugio. Uma boa solugdo deve incidir sobre as causas € respeitar 0s principios, Janeiro 2009 A partir de janeiro, a revista Lingua Portuguesa circula com um novo projeto grafico, trazendo contetido ainda mais focado e novas sessGes. PMc nny CARREIRA re editora eer) (11) 3039-5666 Meeicieee hicks Prem te z BD sumario 6. Entrevista O CONFLITO ESSENCIAL Telma Vinha, pesquisadora da Unicamp, diz que desavencas na escola ndo devem ser apenas contidas ou punidas; alunos devem aprender a levar 0 outro em consideragao 24. Dossié LEGITIMIDADE PERDIDA Idéia de autoridade, esfacelada no ambito escolar, deve ser reconstruida a partir do respeito 20 aluno e a0 ato de educar 36. Ensino médio DECOLAGEM TECNOLOGICA Conselho Estadual de Educagao de Sao Paulo causa polémica a0 permitir adogao de EAD na ultima etapa do ensino médio 46. No mundo A GRANDE ESQUECIDA Tema pouco lembrado durante as eleicdes norte-americanas, educacao comega a aparecer no discurso do presidente eleito Barack Obama B MAIS 12, MOSAICO 20. OBSERVATORIO 22. 31" ANPED Direitos humanos ¢ cidadania em pauta 23. ENTRE MARGENS Rédea curta 24. DOSSIE/ABERTURA 30. DOSSIE/O RESGATE 32. DOSSIE/ENTREVISTA 34. DOSSIE/ARTIGO. 44. FORMAGAQ: DOCENTE ‘Corregao de rumo 48. LEITURAS EDUCADORAS Franz Kafka 51. CONTRAPONTO Do declinio da autoridade docente Qs 400 anos do Padre Vieira O dia em que 0 papa visitou Melo A autoridade de fora lustragao de Copa: Roberto Negrores 0 Brasil reduziu a reprovagéo no ensino fundamental entre os anos de 1999 e 2005 em cinco pontos percentuais, de 24% para 19%. O probleme que, quando ‘comparado com 0s 150 paises que integram um estudo da Organizacao das Nagées Unidas para a Educagao, Ciéncia e Cultura (Unesco) divulgedo em novembro, © pais s6 perde para o Nepal, Suriname e 12 paises africanos, que tm indices de repeténcia maiores. Alem disso, também perde para a média mundial de repeténcia (3%). relatério monitora anualmente desempenho das nacdes em relacSo ‘as metas tracadas em 2000 na Conferéncia Mundial de Educa Outro aspecto do quadro educacional brasileiro analisado pela Unesco diz respeito 20 2 desempenho no Pisa, exame internacional que compara alunos de 57 paises: mais de 60% dos estudantes néo conseguem passar do nivel bésico de aprendizado na escala da prova de ciéncias. Na India, outro dado assustador: pouco menos da metade dos alunos da 3* série conseguem ler um texto para alunos da 1° série. “Muitas criangas estéo terminando a escola sem adquirir 2 mais basicas habilidades de alfabetizacao e de dominio de ndmeros", diz 0 relatério. 1m Problemas como a influéncia da alimentacdo no desempenho escolar também foram detectados pela Unesco. Uma de cada trés criangas ‘em paises em desenvolvimento chega na faixa etéria adequada ‘a educagéo priméria com uma deficiéncia em suas possibilidades de educagio e de desenvolvimento cerebral devido a desnutricio. Outro aspecto levantado foi a desigualdade entre os paises pobres @ 05 ricos. Enquanto mais de um tergo de alunos dos paises ricos concluem o ensino superior, na maior parte da Africa Subseariana, uma parcela ainda menor conclui a ‘educaglo priméria e apenas 15% chegam a universidade. Mais: criangas pertencentes 20s 20% mais pobres da populacéo ‘em pafses como a Etidpia, Mali € Niger tém trds vezes menos chances de freqlentar uma escola primaria do que aquelas que fazem parte dos 20% mais ricos. No Peru e nas Filipinas, criancas que pertencem aos 20% mais pobres da populagdo tém cinco anos menos de escolaridade do que criancas de familias mais rcas. | / (© Centro Cuitural Banco do Brasil (CCBB) de Brasiia mantém, até 18 de Janeio, a exposicio Arte para ciencas, ma exposicéo de arte contemporénea projetada para criancas de até 3 anos. Com curadori, arqutetura e design ideaizado para aproximar a arte das ceiangas, as galerias trazem obras de Cilde Meizeles e Yoko Ono, entre outros, Integrando a mostra, hé uma sala multivso {que abriga um paleo para realizacéo do espetaculo teatral Desenhando labirintos, cdesenvolvido pelo grupo espanhol La Casa Incierta, também para criéncas de ‘até 3 anos. A exposicso acontece aos sibados e domingos, em duas sessées, as 16h es 17h30, e cada adulto deverd estar acompanhado de pelo menos uma | crianga. As senha sero distribuides a partir das 15h no dia do espeticulo. © CCBE Breast fica na SCES,trecho 02, lote 22. Mais informacées pelo telefone (61) 3310-7087. HSOCIOLOGIA NA PRATICA IN Para tentar preencher 0 vacuo de diretrizes para o ensino de sociologia no ensino médio, @ Atta Midia e Educacao langou recentemente em DVD a colecéo Sociologia no ensino médio. Partindo da intermiténcia no processo de implementacio-do curriculo na disciplina- ora por motivos politicos, ora pela tentativa de integré-la aos conteddos de tras disciplnas -, os professores Amaury César Moraes e Nelson Tomazi, ambos elaboradores das Orientacoes Curriculares Nacionais para 0 ensino médio na disciplina, discutem os seguintes aspectos: contexto, principios gerais, ferramentas e temas do pensar sociolégico e questées préticas. Com duragéo média de 40 minutos cada, os DVDs podem ser comprados pelo site wnw.cedicbrasil.com.br/. Mais informagées pelo e-m attamidia@terra ccom.br ou pelo telefone (11) 3675-6690, AICO un ESTANTE Dentro da noite, de Joao do Rio (Editora Girefinha, 64 pags., RS 26) Uma estranha mania ~a de alfinetar 0s bragos de mulheres leva Rodolfo Queirés, artista, a perder a novva, Clotiide, € também o julzo. A vontade é tanta ‘que ele passa a vagar, dentro de trens e pelas vas, em butca de mais bragos. Mamae zangada, de Jutta Bauer (CosacNaify, 40 pags., RS 32) Num dia de manha em que sua je gritou muito, um pinglim se despedacou em pleno ar. A cabace foi parar no universo e © bico desapareceu nas montanhas. Quando jé ndo sabia mais 0 que fezer, a memée zangede apareceu, recolhendo e costurando todos os ppedacos perdidos, e fazendo um pedide: “desculpe” Tempo, de Penelope Arion (Editora Caramelo, 24 pags., R$ 21,90) Como as pessoas sabem a hora certa? Como os antigos mediam 0 tempo? Essas € coutras perguntas sao respondidas pela Coleco Primeiras Descobertas, cujos volumes iniciais so Tempo e Clima, [BL ACHO MELHOR NAO levemente arrumado, lamentavelmente lesamparado. Assim Bartleby, recém-contratado pelo speitavel e Oficial do Registro Publico, faz sua propria epresentacak trés empregados: Turkey, Nippers e Ginger Nut. De métodos e posturas, peculiares, Bartleby comeca a intrigar 0 Oficial quando, requisit conferir um docum melhor De nao em re a compaixao e a ira, © Oficial a do estranho funcionério de comportamento um tanto infantil - ele nunca fal @ nunca almoga ~ até seus dltimos dias de vic com Bartleby? sempre se perguntando: 0 que Bartleby, o escrivao ~ Uma historia de Wall Street, de Herman Melvll Naty, 3s. R$ 35) (Editora | Explicado olicado ste mundo com| Uma colegao que descc if re Oey do Ute b IR www. com.br QD iiinte roo Enn Cl Veen er Mle ie Minion Rianne EDUCACAO eeresaccsocomte Deco Gowt Licino do Cums Enron Ra Bares Fierturesnediesementocom br ‘Semroron Be Feseumestionseptenocon (Gs os ach, Seg Fees de ‘Gana, Mura aac, Seo Rem ay Foros: Gus iris sumac: Sss Maries f avenue A pot Fhe Carmen EDUCACAO EM NUMEROS eaten caren eee Bs Cites Sega Nosy hae Fr osha tat Mate Lan Beer {uae Mar Sa al fea) OS NUMEROS DA MERENDA ESCOLAR eee 1 0 Fundo Nacional de para a compra dos alimentos ¢ dio Recon Desenvolvimento da Educagéo Contrapartida de outras formas, como ‘Sree sombe (FIDE) divulgou em dezembro a na contratagdo de merendeiras ou Sea ee | prestacéo de contas do Programa de na reestruturagaofisica das unidades a Mame Re Moria Alimentagao Escolar (Pnae). Hé nimeros _escolares. Entre os avangos apontados Ecce Reo impressionantes: apenas 14% de todos _pelo balanco esté a forte ampliacdo no ea) M79) purulent 1095 estados e municipios, incluindo o DF, numero de nutricionistas atuando nos eta fentram com contrapartida financeira municipios. Em 2005, apenas 18% dos ritonpmetcoe para compra de géneros aimenticios _entes federativos possuiam em seus a F para a merenda dos estudentes. Ou ‘quadros esses profissionais - este ano, ee seja, 86% utlizam o repasse federal ja si0 69%. ‘sero wa Lei Ass GIRCULAGAOE MARKETING = Gener: Crt Marae Strenates or Grenselo: Base Zaguts A EDUCAGAO DOS EUA EM CIFRAS eee epee te Desa Orgamento federal 2009 - USS 3 trlhdes Delo meu B Orgamento federal para educacao ~ US$ 60 bilhdes (2% do total) Ruse Keak Sanmauio Loh keds Bok eee : Sram“ Copea 0 Ensino primério e secundério: ae ne. sind sameeren tren Siu psa nna pec 56 milhées de alunos * 28 mil escolas privades pee egy epee fads Apia ereraoaen Eepeoccen oun 14 mil escolas distritais, 97 mil escolas publicas A COLOCACAO DOS ALUNOS AMERICANOS NO PISA vin Catt Goeth bends Cees Se ats 2000 2003 Pity earl de tntinent a ase Ciéncias 14° 19° 21° sexta 8 ‘sm sutras bo tenor wiadrnegrent com Leitura 15° 15° Nao reportado* MZ R4 ANE * Resultado nao reportado em funcao de erro Fonte: PISA 2006 16 Traga a Cultura Inglesa para dentro da Sua escola. Os alunos podem aproveitar todas as vantagens que a Cultura Inglesa oferece. e-Campus Site exclusivo com mais de 2.500 atividades online, eM OMe MUU NCO oM CME On re NU eee UOMO CU eE Mie Weer ete UE PVN CoreTe lem UL Ue} Oe ec West CPUC Ile MOM CSU testy OTM ees Meche Rt UU veskt ca Cl CeR On ool elise a Wt Aee rin Mu ecd Uys Certificados Internacionais MOM Ue Seek SCS (3 ie Ue Ree M ONES Me MOLL ie OL aceitos internacionalmente. SAUDE DO PROFESSOR Areportagem Ha saidas para o problema, publicana edicdo 140 da revista Educacao, revela um quadro as- sustador para os professores. Ja sofri com problemas de voz e depressio e acredito que os diretores poderiam se empenhar mais para resolver = ou 20 menos diminuir - esses problemas. O caso da professora ‘Adriana Rodriguez é apenas um entre milhares. : Patricia dos Santos, site professor néo tem sequer © direito de dar suas opinides em relago & educacio paulista Tudo vem do governo, os professores ttém de aceitar 0 descaso. O go- verno faz 0 que quer com as escolas eos professores nao tém odireito de questionar. Recentemente, a Secretaria de Educagée lancou uma nova grade curricular, em que dim niu aulas de algumas disciplinas sem pedir a opiniso dos professores. Todos estamos tristes com essas medidas. ‘Sérgio Crema, de Americana (SP), via site Muito Obrigado por debater tal tema. De inicio, a establiidade dos professores: saimos de férias sem saber que vai acontecer no préximo ano. Fora isso, ha a falta de material didético, as horas de trabalho pedagégico precariamente remuneradas, obrigando o professor a ALE CO REDA r thes sobre conta dri apron pe ae ee eee Cartas: Rua Cunha Go pees Conan Come pelle pacnepni Leeson ore pare oc levar trabalho para sua casa etc. E preocupante escutar rnossos governantes tratarem a educaco ou de forma postica, ou de forma muito “profissional”, exigindo em um curto period resultados que em educagéo deman- cdam um tempo peculiar...Gostaria muito que amudanca da educacao fosse feita de forma técnica e nlo politica, ‘que fosse um projeto endo uma plataforma. Carlos Eduadro Andrade Barreiro, Santo André, via site HORA DA EDUCACAO INFANTIL Como unir as dimensdes do educar e do cuidar na primeira infancia? Como os docentes que trabalham com criangas de 0 a 6 anos podem ajudé-las a ser mais auténomas e despertar seu interesse pelo conhecimento sem cair nas armadilhas da escolarizagao precoce? Para debater essas ¢ outras ques- t5es, a revista Educagao lanca, no inicio de fevereiro © primeiro de uma série de quatro especiais sobre Educagae Infantil, Voltade aos docentes, a colecéo trabalha Com situagées concretas do dia-a-dia dessa etapa da educacao. eed prpeierss eer Pres ee pean eet Visite a versio on-line da revista Educacao. t PEDAGOGICAS EDUCACAO. Como desenvolver habilidades e competéncias no ensino da lingua portuguesa Treinamento das praticas pedagégicas, com o objetivo de aprimorar 0 desenvolvimento de habilidades e competéncias dos alunos a partir do ensino da Lingua Portuguesa. A leitura e os professores: desafio e experiéncia Como fazer alunos lerem e gostarem de ler? A experiéncia da leitura revista a partir de novos conceitos de texto e de leitura. O didlogo entre leitor e texto: como fazer o aluno viver essa nova perspectiva de leitura? As aulas sao ministradas na propria instituigao, nos dias e hordrios mais adequados. Cada curso tem 10 horas e contempla teoria e exercicios praticos. Consulte-nos para saber mais detalhes: ‘ Telefone: (11) 3039-5696 Zp atitiento E-mail: oficinas@revistalingua.com.br | Marta Avancini, de ssis05 marta@editorasegmento.combr | MEXENDO NO TEMPO Se em 2008 0 financiamento da educacio e 0 piso saarial cdo magistério mobilizaram | os congressistas, neste ano o tema deverd ser a ampliacao da cscolaridade obrigatéria para afaixa de 4.a17 anos. O presidente Luiz Inicio Lula da Siva vai enviar 20 ‘Congresso uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) aumentando os anos de permanéncia na escola. | MDe acordo com a secretéria de | Educagao Basica do Ministério da Educagio (MEC), Maria do Pilar de RUMO/AO CAMPO: Almeida Lacerda e Silva, a decisao de enviar a PEC js foi tomada e a proposta do governo devers chegar &s maos dos parlamentares logo no inicio de 2009. "A mudanca ‘go vai ser de um dia para 0 outro. Estamos negociando com os estados e municipios um periodo de transigo que deve variar de quatro a, no méximo, sels anos", relata Maria do Pilar. (0 prazo de transicéo néo & a Unica dificuldade. “Vamos precisar ampliat 0 ‘orgamento", admite ela. “Os recursos aka elie eel Sane US ee tea ae ett oe Essa é uma das nossas prioridades para 2009", afirma a secretéria Pete a aa ce ae eyed eee oe eo dade de enfocar a melhoria da qualidade do ensino ghee Sao milhar eee Cer et ao -conclui ela lent ees ee aS so pequenos, principalmente se confrontados com os indicadores ‘com o Instituto de Pesquisas Econémi ee et ee eo eee ee ead 20 para a educagéo estéo aumentando, ‘em 2008 houve um incremento de R$ 8 bilhdes de recursos da Unido, mas orgamento precisa crescer, 6 necessi investr mais.” ‘falta de recursos, contudo, no 6 um empeciho para 2 mudanga, reitera a secretéria Pile. "Nao dé para esperarmos uma situacéo ideal para amplar a escolaridade obrigatéria. Nossa posicao é a de que, se fizermos a ampliaglo, as conigdes para sua implantagao serdo MAOs A CANETA Os estudantes da escola estadual Carminha Vasconcelos, de Morrinhos, Cearg, foram ‘escolhidos como vencedores entre colegas de 200 instituicoes de ensino de todo o pais que concorreram a0 prémio de reportagem Jovem Protagonista, uma iniciativa do Instituto Faca Parte, em parceria com a rede Record, Record News e Instituto Ressoar Areportagem premiada aborda 0 projeto Aqui se Aprende, em que os alunos desenvolvem atividades de reforco escolar com impacto positivo sobre os indices de aprovacéo e de evaséo escolar. Entre as reportagens selecionadas, destacam-se aces de incentivo 8 leitura, resgate da cultura local, preocupacao com o meio ambiente e inclusée digital, todas baseadas no voluntariado dos alunos. 0 200 AME-O OU DEIXE-O No Rio de Janeiro, os cadernos utilizados pelos alunos da rede piiblica ndo deverao conter a letra do Hino Nacional. A decisdo foi tomada pelos deputedos estadueis. ‘A medida devera entrar em vigor apesar do veto do governador ‘Sérgio Cabral. MAIS OSORIO & MANUEL DA SILVA Enquanto isso, os deputados aprovaram na Comissio de Constituicdo e Justica e na de Cidadania um projeto de lei que torna obrigatéria a execucio do Hino Nacional no primeiro ou no Ltimo dia da semana nas escolas de ensino fundamental e médio. A proposta esté passando pela avallacéo dos senadores. FRENTE AMPLA REDE DA IGUALDADE Centro de Estudos das Relacées de Trabalho ¢ Desigualdades langou, em parceria ‘com a Universidade Mackenzie, ‘a Rede Educar para a Igualdade Racial, com a finalidade de possiblitar a troca de experiéncias ¢ informacées entre professores intoressados em praticas de promogao da igualdade racial. Mis um ponto a favor do piso do magistério: 0 Conselho Nacional de Educagao (CNE) parabenizou, por decisio plenéria, os estados e municipios que estio se mobilzando para viabilzar cumnprimento da nova le que fxa 0 piso salarial do magistério em R$ 950. Ao mesmo tempo, os conselheirs se dizem "preocupads" com a postura dos cinco governadores que entraram com uma aco de inconstitucionalidade contra a medida no Supremo Tribunal Federal (STF) No Congreso Nacional, deputados « senadores se uniram em uma Frente Parlamentar de Defesa do Piso para 0s Profissionais da Educa¢éo. ‘A Procuradoria Geral da Replica também divulgou um parecer contrério a tese de inconstitucionalidade detendida pelos cinco governadores em questéo. a woiwrevistaeducacao.com.b BB 31: Anped PAUTA CIDADA Encontro realizado em Minas Gerais aborda questées sobre direitos humanos e sua expressao na Constituicao Brasileira Carmen Guerreiro A coincidéneia entre os ani- WH sersérios dos 20 anos da Constitiigao Brasileira e dos 660 anos da Declarago Universal dos Direitos Humanos no passou. em branco na reunidio anual da Associagio Nacional de Pés-Graduagdo Pesquisa em Educagdo (Anped). “O universal naj se consti enquanto houver pessoas cexcluidas”, pontuou Roseli Fischman, pesquisadora da Universidade de Sio Paulo, que participou do debate Direitos humanos educagiio: questoes atuais durante 0 seminério. ‘Aorganizagio dedicou a 31° edigdo do evento, ealizada em Caxambu (MG), ‘em outubro, aos dois documentos histori ‘cos que marcaram profundas mudangas sociais e poiticas no Brasil eno mundo. Durante trés dias, mais de 2 mil educa- dores ¢estudantes discutiram os avancos desafios da educagdo tendo os dois documentos em perspectiva “Os trabalhos de direitos humanos ‘em educagao que fazem diferenga tém que ver com mudanga de atitude, com 1 geragiio de um conhecimento trans- formador”, disse Roseli, Tal tipo de conhecimento, porém, deve estabelecer ‘o diflogo entre os direitos humanos e as _questdes atuais da pedagogia para ganar forca e se difundir entre os educadores, completa Vera Maria Ferro Candau, da PUC-Rio, para quem, diferentemente de ‘reas como odireito eas cigncias socia 1a educagio ainda esti longe da discus- io dos direitos humanos. “Penetramos ouco nesse assunto, especialmente no 2 Roseli Fischman, da USP: o que faz a diferenca é a mudanca de atitude ques Faltam pesquisas e cursos de especiali= zagio. A sensagio & que temos cursos refere formagao de professores. expositivos, mas no educamos, de fato, para os direitos humanos”, observou. Para Aida Maria Monteiro Sil cretiria-executiva de Desenvolvimento da Educagao de Pemambuco e professo- ada Universidade Federal de Pemam- bbuco (UFPE), o desafio é compreender que o tema dos direitos humanos no precisa apenas ser priorizado, mas deve transpassar todas as disciplinas -essencial criar politicas puiblicas e transformar planos em realidade. Mas nem tudo esté no sessirio se basear do curriculo, Para isso. campo oficial: “En tem experiéncias anteriores com direitos sem educagao e sair do campo Durante o encontro, a Anped pro- ‘moveu um ato piblico em que declarou repiidio 20 continuo desrespeito 20 Estatuto da Crianga e do Adolescen 0s direitos humanos. “ que 0 Brasil tem um Plano Nacion de Educagao em Direitos Humanos ‘que foi um dos primeiros a implant isso”, protestou. Uma e6pia do pla ¢ um livreto elaborado pela Unesco e Seeretaria Especial dos Direitos Hum nos foram entregues aos participantes ‘Anped. Os educadores ainda desaiara 6s presentes a se empenhar em levar tema paraarotina escolar, que depen de valores aplicados 4 pedagogia, nod a-din da sala de aula (Os grupos de trabalho do semind também discutiram temas relacionad os direitos humanos, como género snoram sexualidade na escola, alfabetizaga edueagio popular, educaco de jove adultos e movimentos sociais. + Rrepérter Carmen Guerrero vigjoua CCaxambuMG a comite da Anped. Rédea curta Ajudar o outro a crescer pressupée 0 exercicio do didlogo ‘A noticia veio de Campinas, mas poderia vir de ‘outro lugar: trés alunos colaram uma professora na cadeira, foram expulsose transferidos para outrases colas. Esse lamentivel episéidio terd sido 0 corolirio 4a tolerincia do intolerivel. Mas por que criminalizar 2 indisciplina, agindo sobre as consequéncias, se 4 € tempo de agir sobre as causas? De que serviré expulsar alunos? A violencia sera resposta para a vio- Iéncia? Se 0 discurso € unanime ~ E preciso reforgar a autoridade dos professores! ~a prética contraria 0 discurso, A regra é a transfeiéncia da autoridade do professor para os Graios de gestdo ¢ para burocriticos procedimentos disciplinares. ‘Autoridade no rima com controlo, imposigao, submissio. Etimologicamente, a palavra autoridade significa “ajudar a crescer”, Ajudar a crescer pres- supde 0 exercieio do didlogo e a desocultagao de perversos modos de relacdo. Como diria 0 Brecht, diz-se das ‘iguas de um rio que sio violentas, mas nada se diz das margens que as comprimem. mais que custe reconhecer, perante @ violéncia sim- bolice imposta pelas escolas, a desobediéncia ¢ a indisciplina poderdo ser manifestagoes de sanidade ‘mental. E, entre os alunos considerados “normais”, poderiio estar potenciais assassinos. Veja-se 0 que ‘vem acontecendo nos Estados Unidos ¢ na Finlin- dia, onde alunos “bem comportados” se munem de ccarabinas e matam colegas e professores. Longe vai o tempo em que o pai era a autoridade na familia e em que o professor era a autoridade na escola. Os jovens deveriam obedecera ondens ¢ estar atentos As ligdes. Hoje, a indisciplina — herdeira do autoritarismo e da permissividade — ocupa o lugar desse “respeitinho” de antigamente. Apesar de reconhecer a complexidade do assunto, couso apontar pistas de reflekdo, Numa escola, onde trabalhei durante mais de 30 anos, acolhemos jovens expulsos de outras escolas ~ porque maltrataram ou puseram professores em estado de coma ~e iio nos confrontamos com falta de autoridade, Nao aconteceu por milagre, mas porque reelaboramos a nossa cultu- za pessoal e profissional, porque reconfiguramos as nossas priticas, deixamos de estar sozinhos na nossa Por «ha didlogo, hé violencia, colocamos uma pedagogia sala de aula. Porque compreendemos que, onde nfo dda pergunta no lugar antes ocupado pela da resposia, eescutando 0 outro ¢ levando em consideragao 0 que ‘© outro nos dissesse. Porque nos apercebernos que no poderiamos resolver os problemas da crianga sem resolver os problemas dos adultos —ninguém dé aquilo que nfo tem, ninguém transmite aquilo que nao €—e de uma educagio para a cidadania passamos a uma pritica de educagio na cidadania, Os estatutos nao se confundem — professor & professor: aluno € aluno. Mas, para que consiga recuperar a autoridade, & necessério que o professor se conhega afectivamente ese reconhega no outro. A seguranga gerada permite ao professor ser senor de sielevara auto-estima e beneficiar de hetero-estima. Mas quem cuida da melhoria da formagao pessoal social do professor? Quando se operars a ruptura ida qual por si”, que infesta as com a cultura do“ nossas escolas? Bem cedo, o meu amigo Filipe tomou consciéncia do drama: “Recordo-me do meu maior receio, 0 dendo conseguir controlar turma! Na faculdade, ensinaram- ‘me que nfo podia dar confianga aos alunos, porque eles abusariam. Na sala dos professores, aprendi que se mantinha os alunos quietos marcando faltas disci- plinares. Os meus colegas mais velhos-foram claros: “Tens de os terna linha, dar-Ihes rédea curta!’. Comecei olocar alunos na rua até as aulas comegarem a tomar um rumo. Bastava a rédea curta a aor aoa} nee erg Perea Soe et er one ee nee Rédea curta Ajudar o outro a crescer pressupée 0 exercicio do didlogo vir de outro lugar: trés alunos colaram uma professora na cadeira, foram expulsose transferidos para outrases colas, Esse lamentavel episédio terd sido 0 corolirio 4a tolerincia do intolerivel. Mas por que criminalizar 4 indisciplina, agindo sobre as consequéncias, se {i € tempo de agir sobre as causas? De que servira expulsar alunos? A violencia sera resposta para a vio- Iéncia? Se 0 discurso € unanime ~ E preciso reforgar a autoridade dos professores! ~a prética contraria 0 discurso. A regra é a transfeiéncia da autoridade do professor para os Gratis de gestdo.¢ para butoeritios procedimentos disciplinares. Autoridade no rima com controlo, imposigao, submissio. Etimologicamente, a palavra autoridade significa “ajudar a crescer”, Ajudar a crescer pres- supde 0 exercieio do didlogo e a desocultagdo de perversos modos de elacdo. Como diria 0 Brecht, diz-se das ‘iguas de um rio que sio violentas, mas nada se diz das margens que as comprimem... Por mais que custe reconhecer, perante @ violencia sim- bolica imposta pelas escolas, a desobediéncia ea indisciplina poderao ser manifestagoes de sanidade ‘mental. E, entre os alunos considerados “normais” poderiio estar potenciais assassinos. Veja-se 0 que ‘vem acontecendo nos Estados Unidos ¢ na Finlin- dia, onde alunos “bem comportados” se munem de ccarabinas e matam colegas e professores. Longe vai o tempo em que o pai era a autoridade na familia e em que o professor era a autoridade na escola, Os jovens deveriam obedecera ondens ¢ estar atentos As ligdes. Hoje, a indisciplina ~ herdeira do autoritarismo e da permissividade ~ ocupa o lugar desse “respeitinho” de antigamente. Apesar de reconhecer a complexidade do assunto, couso apontar pistas de reflekdo, Numa escola, onde trabalhei durante mais de 30 anos, acolhemos jovens expulsos de outras escolas ~ porque maltrataram ou puseram professores em estado de coma ~e no nos. confrontames com falta de autoridade. Nao aconteceu por milagre, mas porque reelaboramos a nossa cultu- ra pessoal e profissional, porque reconfiguramos as nossas priticas, deixamos de estar sozinhos na nossa ‘A noticia veio de Campinas, mas poderi «ha didlogo, hé violencia, colocamos uma pedagogia i sala de aula. Porque compreendemos que, onde nfo dda pergunta no lugar antes ocupado pela da resposta, escutando 0 outro ¢ levando em considerago 0 que ‘0 outro nos dissesse. Porque nos apercebernos que nfo poderiamos resolver os problemas da crianga sem resolver os problemas dos adultos —ninguém dé aquilo que no tem, ninguém transmite aquilo que nao €—e de uma educago para a cidadania passamos a uma pritica de educagio na cidadania, Os estatutos nao se confundem — professor & professor: aluno € aluno. Mas, para que consiga recuperar a autoridade, é necessério que o professor se conhega afectivamente e se reconhega no outro. A seguranga gerada permite ao professor ser senhor de si,elevara auto-estima e beneficiar de hetero-estima, Mas quem cuida da melhoria da formagao pessoal social do professor? Quando se operaré a ruptura ‘com a cultura do “cada qual por si”, que infesta as nossas escolas? Bem cedo, meu amigo Filipe tomou consciéncia, do drama: “Recordo-me do meu maior receio, 0 dendo conseguir controlaraturma! Na faculdade, ensinaram- ‘me que nfo podia dar confianga aos alunos, porque eles abusariam. Na sala dos professores, aprendi que se mantinha os alunos quietos marcando faltas disci- plinares. Os meus colegas mais velhos-foram claros: “Tens deos terna linha, dar-Ihes rédea curta!’. Comecei acolocar alunos na nua, atéasaulas comegarema tomar um rumo, Bastava a rédea curta eel aoe} Pn e ee erg la Escola da Ponte, om SO et cr prema te eae eer BD Dossie _ LEGITIMIDADE | PERDIDA Desgastada pelo uso severo consagrado no passado, a idéia de autoridade esfacelou-se no ambito escolar. Para reconstrui-la, € preciso ao mesmo tempo respeitar o aluno e néo abrir mao do ato de educar e da condicao de adulto Sérgio Rizzo Conhevide pela tradigao liberal, fundada nos ideais da Revolugo de 1789, a Franca viveu em 1933 um episédio ‘mais caracteristico de ditaduras e de seus mecanismos de censura a liberdade de expresso. Em 7 de abril, foi exibido pela primeira vez em Paris o filme Zero em comportamento, escrito & dirigido por Jean Vigo (1905-1934), e langado recentemente em DVD no Brasil. Se o sentido escolar do titulo por acaso passasse despercebido, o subtitulo se encarregava de deixar tudo bem ex- plicado: “jovens diabos no colegio”. Em pouco mais de 40 minutos, conta-se a historia de uma pequena rebelido arquitetada © executada pelos alunos de um colégio interno, que se consideram em uma “prisdo”, sob 0 con- trole autoritério da diregio e dos professores. “A escola de Zero em comportamento, tirada das recordagdes de infancia de Vigo, € também a sociedade tal como ele a vé adulto”, observa o profes- sore eri tico brasileiro Paulo Emilio Salles Gomes no livro Jean Vigo. “A divisio entre criangas e adultos no interior dessa escola corresponde a divisio em classes da sociedade: uma minoria forte que impée sua vontadé maioria fraca.” ( publico francés da época reagiu mal aessa leitura. O cineasta, brasileiro Alberto Cavalcanti, que vivia em Paris, escreveu no ano seguinte, em artigo citado por Salles Gomes, que “os espec- tadores se sentiram feridos em seus sentimentos burgueses pelo 24 Janeiro 20 comportamento dos meninas, tal como por uma grande amargura que o autor para criangas e nfo divertiré os adul o mostrava Vis Durante primeira guardoude um passado miserivel num — tos”, provocou 0 periédico catélict projecdo, “foi preciso acender a luz internato”, escreveu 0 critico Pierre Omnium Cinematographe vrias vezes ea sessio quase termi- Ogou nou em tumulto”. Parte das criticas mes. feitas a Zero em comportamento see dspero,estigmatiza os ped também citado por Salles Go- infectado de grosserias, nocivo determinante, mas teria contribuid A “pressio dos padres” nao fo sos vir para a interdigdo, decidida pela Co concentrava no que pareceu “falta de ciosos. limitados, e canta com deses- miso dos Censores, cujo president qualidade”, mas a objegdo aos seus _peroumhinod liberdade.” Nao tardou fez referéncia na ocasido “filmes qu valores também foi verbalizada, para que o discurso se agravasse. “E _possam criar problemas e prejudicar: “Irado, violento, destruidor, ran- duvidoso que censura deixe cireular manutengo da ordem”, sem mencio coroso, (0 filme) parece insuflado esta fita que no serve absolutamente nar a obra de Vigo. “ Be ee CE Eee ae Yves de La Taille, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de Sao Paulo. Nascido na Franca, Re ee eo eee) Pee ee aes ral, Autor de Moral e ética ~ Dimensées intelectuais e afetivas e Vergonha~ A ferida moral, também co-autor OO ee oc ST ee ee cee) te SS ee Le mento de vergonha”, comeca com uma pergunta que intriga diversos autores desde o inicio do século 20: por Cree te eee neta tidas “levavam em conta o que era considerado um fato: as criancas obedecem a seus pais e, em geral, também a seus professores”. Hoje, “parece-me que a pergunta formulada espontaneamente seria a inversa: por que as CE eer ome Ceca DN ee ad Cee ee eae ed eked Dee ee De ee) fet ee teeta tral nesse artigo é de que a indisciplina em sala de aula é, Cee eae ee) vvinculo entre moralidade e sentimento de vergonha’. De La Taille cita o ensaio A tentagao da inocéncia, do ee ee ce ue) eee ee ay eee eu eee ‘tempo, o mau aluno, 0 ignorante. Pelo contrério, ei-los que reinam na midia, novos reis preguicosos, que, longe de se enrubescerem de ndo saber nada, se orgulham disto, (.) No satisfeitos em ridicularizar a escola e 2 A ce et eee ey Pree ute eu Cees sava entio que as projegdes piblicas desse filme poderiam criar problemas € prejudicara manutengo da ordem”, afirma Salles Gomes. Embora tenha sido exibido em seguida na Belgica, uma vez que a censura francesa no pide impedir a sua exportagao, Zero em comportamento s6 voltaria a cit- cular na Franca em 1945 ¢ seria ho- menageado por Frangois Truffaut em Os incompreendidos (1959), classico inaugural da nouvelle vague (nova onda), um dos principais movimentos da histéria do cinema. Decoeanll Mais de 75 anos depois, insurrei-_q famosa cena da guerra dos travesseiros no filme Zero em comportamento, so imaginada por Vigo parece doce __ de Jean Vigo: simbolo poético da rebelido dos alunos ante uma autoridade € até mesmo ingénua, embebida de que se exprimia por meio da opressio ‘muito humor e poesia. Foi eapaz, no entanto, de incomodara elite francesa alunas —acrescida do fato de os alunos tos, querem dizer enfaticamente: no porque ousava discutir um dogma: a serem mantidos na escola em perio- reconhecemos a autoridade de voces, autoridade escolar representada por do integral sem oferta de atividades no gostamos deste lugar, ndo vemos professores e gestores. Os primeiros teria levado dezenas de estudantes porque ficar presos aqui, esperamos an- até poderiam ser, eventualmente, a destruir carteiras e quebrar janelas, _siosamente pelo momento de ir embora “viciosos ¢ limitado8”; em resposta _além de provocar outros danos as ins- para vivera vida, Nesses casos, outrora a isso, os alunos poderiam sonhar — talagbes. Incapazesde conterarevolta, _fraca maioria se insurge e precisa ser com um “hino a liberdade” — como os professores se isolaramem uma das controlada i forga;a minoria antes forte, Ogouz bem resumiu a situagio. Mas salas e acionaram a Policia Mi ygora admitindofraqueza, pede socorro a sociedade se mobilizou para calar — que informou ter sido chamada an- para impor a autoridade que, em tese, essa denincia, ainda que pertencente teriormente para intervirem incidentes seria conferida a ela naturalmente. a0 campo da ficgao. E provavel que semelhantes na mesma escola Aindisciplina, em especial quando ocorresse 0 mesmo, nos EUA ouno A ocorréncia policial foi assunto recorre & violéncia fisi Brasil, se algum cineasta ousasse na- da imprensa por alguns dias, mas ra-_manifestago mais ostensiva do esva- quele momento fazeralgo semelhante. pidamente desapareceu do noticidrio. ziamento da autoridade educacional, a Nao se questionava a autoridade da Nao gerou debate, exceto entre pro- ser exercida tanto por professores quan- escola porque ela simbolizava o equi- _fissionais de edueagao. Nao despertou to pela familia. “Aescola tem um ritual librio social indignagdo generalizada, como se a que lhe é constitutivo. Quando ele & Hoje, ndio é mais preciso que um sociedade jé estivesse acostumada a quebrado,é preciso ‘ler’ ocorréncia”, filme trate do assunto; 0 noticiério manifestagdes como essa e ni en- _analisa Carlota Reis Boto, professora traz, com incémoda freqiiéricia, ca- _xergasse o que se revela de simbélico da Faculdade de Educagio da Univer 508 veridicos em que estudantes se quandoadolescentes, pormeio de seus sidade de Sao Paulo (Feusp). insurgem contra a ordem vigente-¢0 fazem nao com poesia elu com 6dio ¢ violencia, Na Fran Brasil. Um dos mais recentes epis6- dios registrados entre nés, em meados de novembro, envolveu a depredaga0 da Escola Estadual Amadeu Amaral, no Belenzinho, bairro da zona leste de Sao Paulo. Uma briga entre duas tar ; | , & apenas a mo, mas “Alunos que depredam a escola esto dando um recado para a propria ‘escola, mas também um recado para a sociedade. Eles sinalizam que ainsti- tuigdo nao faz sentido para suas vidas, mas podem também sinalizar que nao ‘encontram saidas para tuma sociedade fraturada entre aqueles que possuem muito e aqueles que nio possuem ‘quase nada, em termos de riqueza ‘de oportunidades.” Nas escolas onde hé um am- biente de violéneia, “a sensagio é de que ninguém ocupa sew lugar: 0s professores ndo ensinam, os alunos nio estudam, os coordenadores nao coordenam, os diretores nao diri- gem”, diagnostica Flavia Schilling, também professora da Feusp. “Nao ha ninguém que consiga ocupar um lugar e 0 espaco escolar & tomado pelas brigas, pelos grupos, pela depredacao e pelo uso privado do es- pago. Os discursos sobre 03 alunos, por parte dos professores, sio recor- rentes e podem ser assim resumidos: “nossos alunos so horriveis’ 0 que se revela, na avaliagdo de Flavia, “é que hé um deseonhecimen- to em relagdo a quem sdo realmente esses alunos”, que nunca foram “olhados como pessoas potentes, que podem ajudam a reverter 0 quadro existente”. “O estabelecimento de acordos sobre como sera a convi- véncia é fundamental, assim como © trabalho com alguns projetos, um cotidiano rico de informagbes conhecimentos, ea participagao nas decisdes”, sugere. 28 © que constréi e o que destréi Em O resgate da autoridade em ‘educagdo, o educador francés Gérard Guillot ¢ categérico em afirmar que vivemos hoje uma erise. Professor de filosofia na Universidade de Lyon, ele investiga o percurso que levou a autoridade educativa a entrar “em pane”, sobretudo nas iiltimas déca~ das, a partir da definigao dos sentidos do termo, distinguindo a autoridade que “destrdi” da que “constréi”. A primeira, segundo Guillot, se fundamenta em “injungdes des- trutivas” — mensagens dirigidas &s criangas que sabotam a construgio de sua autonomia. Quando um me~ nino chora depois de cair e aluém Ihe diz que “nio foi nada”, ou resiste a comer algo ¢ ouve 0 encorajador “experimente, voc’ vai ver como é gostoso”, o recado segue a linha do “nfo sinta, nfo pense ¢ ndo exista por si mesmo”. ‘A autoridade que destr6i toma o outro como refém”, observa Guillot, “© paradoxo perverso em agio é 0 seguinte: entregue-se, seu cativei- ro € a condigio de sua liberdade futura. Confisco sua pessoa atual para restitui-la ‘pronta’ em alguns anos: voc me agradecer! (..,) De fato, a tentagdo primeira dos pais ou dos professores reside na vontade, consciente ou nao, de transformar a crianga ou 0 aluno em objeto de desejo: seja pela reprodugao da au- toridade que eles proprios sofreram, seja por vontade de fazer melhor’ No sentido contrério, a autorida- de que “constréi” permite & crianga ou 20 jovem sentir, pensar ¢ existir por si mesmo, mas nao se confunde com permissividade. “Nao se trata absolutamente de deixar a erianga se ‘virar’ com sua personalidade em construgio e decidir sozinha 0 que Ihe convém ou ndo”, explica Guillot. “A autorizagdo de sentir por si mesmo nao é abandonar a ccrianga a suas sensagdes e emogoes. E reconhecer que seu corpo Ihe pertence. Seus prazeres ¢ suas dores a afetam de acordo com sus propria sensibilidade.” 0 adulto nao vai, de acordd com essa atitude construtiva, “st contentar em constatar ¢ caucionai tudo”, pois tem “uma responsabi lidade e um dever de acompanha mento da crianga quanto ao que el pode fazer de e com seu corpo” Esse modelo de exercicio da au toridade educacional envolveri também a distingao entre respeit ¢ tolerancia. “Respeitar a pesso € respeitar a condi¢ao humana” observa Guillot. Por decorréncia compreender que “a universa lidade da condigao humana nai significa uniformidade: os sere humanos sto, felizmente, diferen tes uns dos outros, cada um cor sua singularidade. Jia nogao de tolerancia é mai social ¢ politica”. “Acredita-s freqiientemente que seja sindnim de respeito, mas essa confusa pode se revelar grave”, destac Guillot. “Uma pessoa se respeiti Jé a tolerncia refere-se as cor dutas ¢ as praticas, as agdes, a comportamentos. Tanto quanto respeito incondicional, a tol rancia conhece necessariament limites: no podemos nem devi mos tolerar tudo. Nao se dey tolerar o intolerdvel, que, no cas da Franga, se define principalmet Janeiro 20 A policia 6 chamada a invadir a EE Amadeu Amaral, em So Paulo: retrato da impota te em relagdo a lei republicana e democritica, Ora, essa lei integra a necessidade do respeito e o dever de tolerancia, mas desde que nio se transgrida a lei nem os valores fundadores da Declaragao Univer- sal dos Direitos Humanos.” A crise atual se explicaria em parte, segundo essa cadeia de raciocinio, pela reagao de pais € educadores a autoridade que “destr6i”, Sua busca por uma edu- cago mais libertéria, no entanto, se expressaria equivocadamente em uma reniincia ao exercicio da 0 da autoridade que “consiréi”, com sua énfase nos valores do,respeito ¢ da tolerancia. “Saber dizer nao a uma pessoa ¢ respeité-la, desde que se saiba dizer nfo ao que ela faz, sem dizer ndo a0 que ela & recusar uma conduta sem rejeitar pessoa”, resume Guillot. autoridade, e no ao exer. ‘ertamente hi um impacto nas escolas dos deslocamentos da au- ombr docente frente ao néo reconhecimento de sua autoridade toridade na contemporancidade”, observa Flavia. “Se ha muito tem- po se discute a ‘crise da autoridade tradicional’, hoje também a forma moderna da autoridade, a ‘autori- dade racional-legal’, encontra~ questionada. A essa situago geral soma-se a dificuldade que temos, no Brasil, de compreender 0 que € autoridade, pois o que nos dom na éa figura do ‘chefe-despstico’, como a figura tipica brasileira que encarnaria a autoridade.” Oscilamos assim, de acordo com a andlise de Flavia, entre “uma permissividade que inclui © abandono do nosso lugar de adultos e uma severidade extrem da, autoritéria e despética”. “Ou ‘passamos a mo na cabega’ ou ‘matamos, prendemos, surramos? Nao haverd alternativas? Dai ser de fundamental importancia a dis- cussio da autoridade do professor (da autoridade da pedagogia) e do lugar da educagdo na atualidade.” PARA SABER MAIS ‘A autoridade do professor de Maria José Maya, Texto Bra (Portugal, 2001. Autoridade do professor de Licia Tebweira Furlan, Editora Cortez, 1998. ‘Como enfrentar a indscplina na escola, de Siva Parrat-Dayan, Editora Contex: to, 2008, Conhecimento e valor, de Nilson José ‘Machado, Moderna Eitora, 2004 Educacio e autoridade, de Nilson José Machedo, Vozes, 2008. Histéria de indisciplin escolar, Cinta Copit Freer, Casa do Pscélogo, 2001 Indlscplina,disciplin - ica, morale gio do professor, de Yves de La Til, "Nelson Pedro-Sivae José Sterza-lusto, ‘Mediagao Eitora, 2006, Indiscipin om contexto escolar, de José CCaciro (nttuto Piaget, Portugal, 2005 Indscplina na escola ~ Alternatives tose ase pritices org. Julio Groppe Aquino, Ecitora Summus, 1996, (Oresgate de autordade am educagéo, de Gererd Gullot, Armed, 2008. 2» Dossié/Entrevista | CIRCULO ICIO ISO Para a pesquisadora Flavia Schilling, da Feusp, precarizacao do trabalho do professor leva a rotina do descompromisso, da agressao e da vitimizagao docente Presa de 1972 a 1980 no TH Cnguai, sob a acusaeto de militar no grupo po- litico de esquerda Tupamaros, a galicha Flivia Schilling s6 foi liber- tada depois de ampla campanha que mobilizou 0 Brasil. Graduada em pedagogia pela Pontificia Universi- dade Catélica de Sto Paulo, mestre em educagio pela Universidade Estadual de Campinas e doutora em sociologia pela Universidade de Sio Paulo, da qual é hoje professora da Faculdade de Educacio, ela integra Ciitedra Unesco de EducacSo para Paz, Direitos Humanos, Tolerdncia © Democracia. “Como construir o lugar da esco- a ma atualidade, nesse momento essencial da histéria da educacio brasileira em que, pela primeira vez, estamos com praticamente todas as criangas na escola, quan- do temos 0 direito A educacio = ainda com dificuldades enormes ~ se universalizando?”, pergunta- se Flavia, “Nao € uma tarefa ficil € 6, a0 mesmo tempo, uma grande 32 prioridade, pois 0 que percebemos em trabalhos com escolas onde hi queixas de violencia é que ninguém consegue ocupar 0 seu lugar.” Como se estabeleceu a crise da au- toridade, que se manifeta de forma ais aguda em certas escolas? Isso deriva, em parte, da perda da ideia de qual & fungio da escola em uma sociedade. Dai que uma das primei- A ras intervengdes nessas escolas constituigtio de um espago para 68 adultos possam se colocar co adultos que sabem a que vieran que deve fazer € que, assim, r sam acolher os mais jovens, aque que chegam ao mundo. Uma ént deve ser dada ao fortalecimento adultos que, assim como os alu nfo se conhecem, no confiam nos outros, “passam” pela escola ‘comprometer-se com o seu cotidic Chamo a atengaio para 0 fato de cessa é uma questdo estrutural: em sistema de ensino em que praticar te a metade dos professores & mada por “precérios” (temporit torna-se quase impossivel consti um coletivo que sabe a que veio, tenha uma proposta politico-ped: szica, que possa se engajar na ta de ensinar e acolher. Quais os efeitos concretos que correm dessa precariza¢io? A precarizagio do trabalho do fessor leva a impasses em relag escola, tora seu trabalho meram Janeiro “é preciso fomentar a paixao pelo conhecimento”, defende a professora Flavia Schilling formal e burocritico, no leva ao en- gajamento ou ao compromisso com a transformagao do ambiente, do local onde trabalha e da vida daquelas pessoas que ali estéo. Ha, também, problemas sérios na escolha dos di- retores ¢ dos coordenadores. Assim, temos escolas onde hi queixas de violéneia em que vemos claramente que o desengajamento, o temor, can- sago, a desisténcia de tudo comega na cequipe de adultos, que no conseguem perceber saidas. Dai a temer ou des- prezar os alunos é um passo, Cria-se, assim, um circulo de agresséo/vitimi- zagiio. Os alunos sentem-se vitimas de preconceito ¢ discriminago por parte dos professores; os professores sentem-se vitimas de discriminago « preconceito por parte da sociedade, do governo, dos pais € dos alunos {que nfo 0s respeitam. Vé-se, quando descrevemos esse circulo vicioso de agressio/\itimizago, que no hd lugar de autoridade para o professor. worw.evistaeducacao.com.br Como seria esse lugar? Precisa ser composto, criado a partir dealgumas premissas: da constituigaio de um coletivo que possa organizar, acolher, proteger, ensinar; de um co- letivo que tenha um discurso de mu- tuo apoio, que tenha regras e normas claras para proceder em relag30 a0 grupo de adultos ao grupo de alunos (uma das queixas € a severidade com faltas cometidas por alunos ea ausén- cia de qualquer severidade em relagao a comportamentos de alguns profes- sores); mostrar claramente a que se veio, qual € a proposta pedagégica, qual €0 objetivo; mostrara utilidade, desenvolver uma identidade com a cultura escolar, fomentar a paixio € 0 interesse pelo conhecimento (de acordo com [0 socidlogo francés] Francois Dubet, 0s eixos centrais de qualquer instituigao escolar). Somen- te assim haverd um reconhecimento de uma autoridade na escola, da auto- ridade do professor, da autoridade do adulto, que assume assim sua fungio de resguardar, guiar, orientar aqueles que chegam ao mundo. Qual a sua andlise de episédios como o da depredagio ocorrida na Escola Estadual Amadeu Ama- ral, em Séo Paulo? Havia ali um clima de desinimo muito antigo. Cireula uma fala que diria desse colégio o seguinte: escola... onde 0 aluno entra burto € sai animal. Como se poderia espe- rar algo distinto do que aconteceu em uma instituigto cereada por esse desprestigio? claramente, como ja comentei, uma “escola de passagem”, onde ninguém gostava de estar. O acontecimento da de- predacao foi uma “crénica de uma ‘morte anunciada”, pois precedida de varios episédios que nao foram tratados. Nada ¢ pior do que deixar pasar... Claramente, ndo havia um grupo de adultos que pudesse conversar, se constituir como um grupo de mediacdo de conflitos. ‘A tendéncia, em escolas assim, & a ocorréncia de situagdes cada vez mais graves. O cotidiano se tora vazio, burocritico, nada acontece, a exasperago toma conta © que fazer nessas situagées? Logicamente, recompor um coletivo, ou construir um coletivo que tenha como objetivo central, com os alunos € 0s pais, construir uma escola da qual todos possam se orgulhar. Essa composicao passa por assembléias, por um tempo de conversa com todos os integrantes daquele cotidiano, pelo estabelecimento de acordos sobre como agir, por onde comerar. Repito que esse trabalho no avangara se no envolver os alunos e os pais que se disponham a transformar aquela esco- Ja em um lugar que ensine, que tenha uma identidade positiva, que seja um modelo de instituisao educacional para aqueles que li estdo. Que que- bre com o imaginério de que aquela escola era a ante-sala da Febem, tal como apareceu na midia. Nao & um trabalho fil, mas trata-se de algo imprescindivel e que ja foi realizado por outras escolas. 33

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