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A ESCALA NOS TRABALHOS DE CAMPO E DE LABORATORIO ste capitulo trata de uma questao fundamental nas atividades de pesquisa, que engloba e transcende a Cartografia: 0 uso da escala. Alem de uma abordagem sucinta sobre seu significado, seu uso sera discutido na elaboracao de projetos, nas perspectivas da utilizacao, de documentos de apoio (cartas, fotos aéreas, imagens de satélite) e do trabalho de campo. Esta abordagem pretende a elaboracao de um roteiro, por meio de perguntas ¢ questionamentos, para orientar as referidas etapas de uma pesquisa 4.1 AS ABORDAGENS DE ESCALA Escala € um termo que possui muitos significados ¢ caracteriza varias dimensbes da pesquisa cientifica. Pode ser considerada como uma estratégia de aproximacao do mundo real, um mecanismo de compreensio da realidade, devido & impossibilidade de apreendé-la em sua totalidade (Castro, 2003) O microscépic, 0 telescépio € os satélites orbitais so exemplos de instrumentos criados para ampliar ou reduzir objetos, isto é, para modificar seu tamanho ~ sua escala de visualizagio — e facilitar seu estudo. A escala pode ser considerada um dos aspectos fundamentais de uma pesquisa, pois, em principio, quanto mais préximo o observador se colocar de seu objeto de estudo, mais detalhes cle perceberé (Goodchild e Quattrochi, 1997). Mas existem muitas Circunsténcias nas quais a proximidade do fendmeno nao significa melhor capacidade de compreensio. A ampliagao da escala de visualizagio produzida pelos dispositivos 6pticos, mecanicos ¢ cletrénicos é muito titil, mas nem sempre auxilia © pesquisador. Conforme o caso, o distanciamento pode ser uma estratégia mais apropriada para a compreensio do objeto estudado, Ao ampliar parte de uma fotografia aérea, observa-se melhor os detalhes, mas perde-se a nogao do conjunto € de seu relacionamento com as outras entidades. E fundamental selecionar a distancia, isto é, a(s) escala(s) adequada(s) para entender um fendmeno. Nas anilises geogréficas, a escala esté relacionada ao tamanho dos objetos estudados ¢ ao nivel de detalhe que sera utilizado. A natureza dos fendmenos determina a escala, que define seu grau de generalizagao (Fabrikant, 2001) A idéia de escala est diretamente ligada & de representagao da realidade. A Tepresentagdo do espago possui uma conotagao de forma geométrica quando esté associada a Cartografia; também apresenta conotagao de profundidade de anélise 0u recorte espacial, quando relacionada 4 Geografia (Lacoste, 1988, Racine et al, 1983) DE QUEIROZ Fil, PRATICANDO GEOGRAFIA 56 Montello (2001) propée trés principais significados, do ponto de vista espacial, para termo escala: cartografico, andlise ¢ fenomeno, Q autor ressalta que, embora possam ser tratadas separadamente, essas escalas sdo inter-relacionadas Seus significados sao definidos por # escala cartografica. indica a proporgao entre o tamanho do objeto no terreno € as suas dimensdes no mapa. E expressa numericamente por uma fragao {exemplo: 1:50.000), ou graficamente, por uma barra graduada {ver mais detalhes no Anexo 1); » escala de anilise: representa a unidade de tamanho na qual um fendmeno éanalisado. A dimensio espacial de um trabalho pode ser local, regional ou global. Os dados do censo estao agrupados por setor censitério, por distrito € por municipio ete.; @ escala dos fenémenos: indica as dimensdes da ocorréncia de fendmenos sobre a superficie terrestre. A regido semi-drida brasileira ocupa uma ara total de 974.752 km?, e abrange a maior parte dos Estados da Regiao Nordeste (86.48%), a Regio Setentrional do Estado de Minas Gerais (11,019) ¢ o Norte do Espirito Santo (2,51%) Acorrelagao entre estes trés aspectos é de suma importancia para delimitagao do objeto de estudo e para a selecdo dos materiais cartogréficos a serem utilizados nas fases de projeto, de trabalho de campo e de apresentagdo de dados de uma pesquisa. A reflexdo sobre as quest6es elaboradas nos préximos itens deve, passo a passo, colaborar para esse objetivo, 4.2 AESCALA EA ELABORAGAO DE PROJETOS 4.2.1 ESCALA CARTOGRAFICA i) Qual é 0 tamanho do objeto de estudo? Fssa € uma pergunta muito freqiente no inicio de um trabalho e costuma estar associada § determinada unidade de medida. A primeira pergunta a ser feita é: qual 6a menor dimensio do objeto de estudo observada no terreno? Se houver varios episédios do fendmeno, € importante saber se hd diferengas em suas dimensGes ¢ mensurar 0 tamanho da menor € da maior ocorréncia. Veja alguns exemplos « Telefones piblicos de uma cidade, A diferenca entre os tamanhos dos aparelhos pode nao ser significativa, mas as formas ¢ 0s locais de fixagao (parede, poste etc.) podem ser importantes. Nesse caso, ¢ aconselhavel avaliar se 0s tamanhos dos abrigos dos equipamentos telefdnicos serio incluidos na medida (cabines, orelhdes ete.); « Rede de drenagem. A extenstio dos rios pode variar de metros a quilémetros Medir o tamanho do maior e do menor rio permite o estabelecimento da unidade mais adequada; * Desmatamentos préximos a uma Unidade de Conservacao. A unidade de area pode ser metros quadrados, hectares ou quilémetros quadrados. Conhecer 0 tamanho do maior ¢ do menor desmatamento indica qual € a unidade mais se adapta a0 caso. 4 AESCALA NOS TRABALOS DE CAMPO F DE LABORATORIO ii) Qual é a forma de tratamento da ocorréncia? A segunda questao esta relacionada as caracteristicas da manifestagao do fendmeno (distribuigao espacial) € & maneira como ‘ele serd analisado. Signilica decidir se 0 objeto de estudo serd tratado numa perspectiva particular, isolada, separada ou geral, concentrada, conjunta. A pergunta deve ser: € pertinente Pesquisar episédios isolados ou somente as ocorréncias conjuntas? As variéveis do sew estudo serao agrupadas? Estas questées podem ser aplicadas aos seguintes casos. um homicidio sera tratado isoladamente ou seré agrupado por alguma unidade administrativa (distrito, municipio, Estado)? A pesquisa estuda uma tinica dtvore (individuo}, uma certa espécie arbdrea ou o conjunto de espécies que compée © ecossistema? E suficiente delimitar a drea ocupada- pela favela ou € necessario diferenciar suas caracteristicas, como os materiais de construcao das edificacdes (paredes: madeira, alvenaria; telhado: laje, fibro-cimento, zinco), a largura das vielas, a declividade das encostas? A importancia desse aspecto € ressaltada quando se percebem os possiveis equivocos que podem surgir da dita faldcia eoldgica, que significa, resumidamente, tomar as caracteristicas do todo (agrupamento) e atribu(-la a parte (individuo). Em qualquer processo de anilise, deve-se evitar a realizagio de inferéncias sobre dados individuais a partir de dados agregados. Se o indice de desemprego médio de um Estado € de 10%, nao € possivel deduzir qual o percentual de desemprego de cada um dos seus municipios iti) Como o fenémeno seré representado? A terceira pergunta trata da forma de representacio espacial do fenmeno estudado, Ele poder ser representado por elementos pontuais, lineares ou zonais (pontos, linhas ou poligonos). Nos exemplos apresentados anteriormente, 0 telefones podem ser representados por pontos, os rios por linhas e o¢ desmatamentos por poligonos (zonas ou dreas). E fundamental ressaltar que a forma de representagio dos fendmenos depende da escala e das caracteristicas da distribuigéo da ocorréncia (isolada ou concentrada). Uma cidade pode ser representada por um ponto, em uma escala pequena (1: 1.000.000), mas seus limites podem ser representados por um poligono, em uma escala grande (1:10,000). As reas dos municipios com alta incidéncia de maléria podem ser agrupadas para caracterizar uma regiao que demanda mais atencdo do Ministério da Satide. Os limites administrativos podem ser menos importantes do que a delimitaco da area na qual a epidemia se manifesta. Os vazamentos de leo no litoral podem ser. Tepresentados por pontos ou poligonos. Se a intengao for mostrar a localizacao dos acidentes ao longo da faixa litoranea de um Estado (escala pequena), a representacio Pontual ¢ indicada. No entanto, também podem ser representados por polgonos, se a escala de trabalho for maior ¢ houver necessidade de representar as areas afetadas pelo vazamento. iv) A escala muda no meio digital? Aquarta questao que pode surgir esté relacionada ao meio de armazenamento das informagées. O conceito de escala cartografica nio € alterado pela forma de armazenamento da carta topogrdfica. A escala continua sendo uma relacéo 57 AATICANDO GEOGRAFIA 58 proporcional entre o tamanho do objeto no mapa € no terreno. Cabe realgar uma das diferengas basicas entre ® manipulagie da carta impressa € digital:a facilidade de alteragao da escala Alguns programas de computador permitem & ampliagao ¢ a reducao da carta, ou seja, a constante modificagao dda escala, Essa comodidade pode, no entanto, ser fonte de equivocos aos usuarios desatentos. £ possivel ampliar uma carta 1:1,000,000 € visualiza-la na escala 1 50.000, Contudo, nao se pode esperar que uma carta que representa aproximadamente 269 mil km? (1:1,000.000) contenha vrmesma riqueza de informagoes que UMA Care concebida para representar uma frea aproximada de 715 km? (1:50,000) (CONCAR, 1984) Da mesma forma, ao reduzir uma carta 1:50 000 € visualizé-la na escala 1 1.000.000, 0 usuario terd dificuldades para distinguir, por ‘exemplo, a rede de drenagem, pois ela se torna muito densa para ser observada num tamanho muito diminuido. Além da quantidade de informacoes, a ampliacao de uma carta também cria problemas de posicionamento, ou seja, de exatidao cartogréfica. Quanto mais a carta éampliada maior é a probabilidade de erro da localizagao do fendmeno. A exatidio de trabalhos cartograficos € definida pelo Padraio de Exatidao Cartografica (Pec), 0 que ‘esté associado & escala das cartas (CONCAR, 1984), Este indicador estatistico de dispersao define que 90% dos pontos bem definidos numa carta, quando testados no terreno, nao deverdo apresentar erro superior 20 Pec estabelecido (Tab. 4. 1) De acordo com a Tab. 4.1, nas cartas de classe A {de maior exatidao), Pec dos elementos planimétricos (planimetria & 0 proceso de medicao de superficies planas, medigio horizontal) corresponde a 0,5 mm na escala da carta, € para a sitimetria (medicio das elevagoes do rerreno), equivale a metade da eqtiidisrancia senere’ as curvas de nivel. [sso quer dizer que, num? carta 1/1,000.000, a pasicae do Fenomeno pode variar até 500 metros. Embora ess ‘margem seja aceitavel para @ referida escala, € inadmissivel que ela seja ampliada até a egcala 1:50.000 € utilizada, por exemplo, para a delimitagio de uma Linidade de Conservagio (parque, estacso ecoldgica etc.), pois 0 €rTO de posicionamento certamente invalidaria o trabalho realizado. Lim conceito diretamente associado mencionada variagdo de escala, que nao depende do meio de armazenamento, a generalizacio cartogréfica, Consiste ao de exatidéo de cartas topogréficas de classe A RIS eee alors a RED Vi equldisténcia = 20 om v4 eqildistincia = 50 251m % eqilidistancia 100m 50m Ys egiiidistancia 100m som % eqiidistancia 100 ou 200 m BO ou 100m 4 AESCALA NOS TRABALHOS DE CAMPO E DF LAbORATORI na selegao € na simplificagdo da forma e da estrutura dos objetos representados, conforme uma hierarquia de importancia (D'Alge e Goodchild, 1996). A produgao de cartas topogréficas em escalas pequenas é baseada nesse procedimento. A carta 1: 1.000.000 é derivada, reduzida ou generalizada de escalas maiores. Isso significa que uma entidade pode ser representada de formas diferentes, conforme a escala. Por exemplo, a rede vidria pode ser mais detathada, incluindo vias pavimentadas ¢ nao pavimentadas, estradas vicinais, trilhas ¢ caminhos, na escala 1.50,000. A rede vidria da mesma regio pode ser representada exclusivamente pelas vias principais, com simbolos e cores distintas, quando for expressa na escala 1:1.000.000. No meio digital, a variagio de escala destaca um novo aspecto: a diferenga entre a escala de elaboragio ¢ de visualizagdo. Nas cartas topograficas impressas pelo Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica (IBGE), a escala de claboracao est{ sempre indicada na sua margem. No meio digital, entretanto, a escala de visualizagao nao depende da escala na qual a carta foi produzida. Com a facilidade de reproducio de transmissio dos arquivos digitais, por vezes, 0 usudrio obtém um arquivo, mas nao possui as referéncias sobre seu processo de produgao. necessario conhecer os parametros de elaboragao de uma base de dados digital para evitar a propagacio de erros ¢ atestar um uso adequado a sua proposta de trabalho. Essas informagdes podem ser denominadas metadados (dados sobre os dados). Esse arquivo descreve o hist6rico do seu processo de obtencao e producao, ‘0 seu contetido, sua qualidade e demais caracteristicas. A utilizagio de miltiplas escalas, entretanto, pode ser gerenciada por alguns mecanismos do meio digital. Alguns programas, particularmente os Sistemas de Informagées Geograficas (SIG), possibilitam uma alternativa para visualizar dados de escalas distintas € evitar problemas de posicionamento € de densidade de informagées. Dependendo da ampliacdo ou redugao da carta, © usuario visualiza arquivos com escalas de representacao distintas. E possivel determinar a escala de visualizagio de cada um dos arquivos e minimizar os referidos problemas. Se o pesquisador vai ampliando um arquivo que contém dados na escala 1:1.000.000, 0 programa pode, automaticamente, mostrar o arquivo na escala 1:50.000, baseado em uma escala determinada, tornando mais suaves os efeitos da variagio de escala. 4.2.2 ESCALA DE ANALISE Conforme mencionado, a escala de andlise define a unidade de tamanho € de agregacao dos dados. Pode ser considerada como sindnimo de recorte espacial, de delimitagao da area de estudo, Por exemplo, 0 ecossistema de manguezal est4 presente na larga faixa litoranea brasileira (do Amapaé até Santa Catarina), mas a proposta é estudar as particularidades da vegetacao no municipio de Cananéia (SP) Deve-se ressaltar que 0 pesquisador pode definir sua area de estudo de acordo com os dados existentes € nao somente conforme o seu interesse. Nem sempre é Possivel participar do processo de obtengao dos dados, uma vez que restrigdes 59 PRATICANDO GFOGRARA 60 de ordem técnica, temporal, financeira, entre outras, Iimitam possibilidade Neceas condigaes, 0 projeto € realizado conforme wescala disponivel. Isso significa que © pesquisadar pode ser obrigado a utilizar dados secundarios (coletados por terceiros) ou que foram agrupados em unidades espaciais distintas das suas oF cmerdades (distrital, municipal, estadual e federal. Fle também pode ter que arr cartas topograficas, fotosaéreas€ imagens de satélites com escalae resolugio espacial diferentes das desejaveis. Pode ser dificil obter e uniformizar os dados da reriao fronteiriga entre os Estados de Sao Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, pois as informagoes podem ter sido produzidas e coletadas de formas distintas, com propésitos € periodicidades incompativeis, ou simplesmente nao estarem disponiveis em todos os Estados. E altamente recomendivel que se procure, previamente, avaliar a possibilidade de obteng2o de dados e as caracteristicas das fontes disponiveis, para que a escala de andlise sea compativel com a proposta da pesquisa 4.2.3. ESCALA DO FENOMENO: Esta escala se refere ao tamanho da manifestagio do fenémeno geografico sobre a superiicie terrestre. Por mais dbvio que poss parecer, sua determinacao € vima tarefa complexa, pois os elementos nao possuem Jimites claramente definidos, sua ago pode se propagar em intimeras dimensdes, além de haver interagao com Outros fendmenos. Quais séo os efeitos do desmatamento da Mata Atlantica? Ha conseqiténcias para 0 solo ¢ subsolo, relevo, clima, qualidade do ar ¢ da agua, fauna flora, implicagbes sociais, pois pode afetar a sobrevivencia de comunidades, pode causar problemas de satide piiblica, entre outras A importancia da sua determinagéo se deve ao fato de que intmeras ocorréncias. dependem, ou sao definidas a partir da escala. Se alguns padres podem ser observados em diversas escalas, pode-se ponderar sobre a existéncia de ima hierarquia, na qual uma pequena ocorrénci® € subordinada a uma ocorréncia maior. Por exemplo, um corrego é afluente de um rio, que faz’ parte de uma bacia hidrografica, a economia local depende da regional ‘O entendimento da escala do fendmeno durante a etapa de projcio éessencial para que 0 pesquisador compreenda a relagao de seu trabalho com a complexidade, ae nter-relacdes € a abrangéncia do fendmeno; para que poss entender ¢ delimitar e contribuigao do seu trabalho face & magnitude do objeto de estudo: 4.3. A ESCALA E OS DOCUMENTOS DE APOIO, 4.3.1. CARTAS TOPOGRAFICAS As cartas topogrificas sao representagdes dos aspectos naturals € transformados da Terra materializadas em uma superficie plana, subdividida em folhas de forma sistemética, conforme um plano nacional ou internacional. Elas permitem a avaliagio precisa de distancias, diregbes ¢ localizagao geogréficas (Oliveira, 1983). . Nessas cartas, a rea representada (de abrangéncia) inversamente proporcional a0 niimero de detalhes. A escala € denominada como maior, of TD 4 A ESCALA NOs TRABALHOS DE CAMPO E DE LABORATOR grande, quando ilustra elevado mimero de detalhes ¢, conseaiientemente, menor atca representada, Por outro lado, a escala menor, ou pequena, significa baixo nimero de detalhes © maior area de abrangéncia. Para recobrir a mesma area de uma carta na escala 1:1.000,000 (escala menor ou pequena), sio necessdrias 16 cartas 1:250.000, ou 64 cartas 1:100.000, ou 384 cartas 1:50.00 (escala maior ou grande}. Veja as dilerengas entre as Figs. 4.1 ¢ 4.2 Embora as cartas topograticas sejam un instrumento imprescindivel a0 trabalho de campo, sua disponibilidade € limitada, Conforme mencionado, nem sempre é possivel dispor de dados na escala desejada. Este aspecto aplica. Se, principalmente, 25 cartas topogréficas nas escalas de maior detalhe, como 150.000 (Fig. 4.2). De acordo com o IBGE (em: . Acesso em 14/02/2005), © percentual de cobertura do territério brasileiro pelas cartas topogrficas est expresso pela Tab. 4.2 Além do percentual de cobertura ser baixo, a ocorréncia da escala 1-50.000 estd concentrada nas Regides Sul ¢ Sudeste do Pais. Soma-se ao problema a possibilidade de defasagem ou desatualizagao da carta, isto é, dela ter sido elaborada ha décadas ¢ ndo representar aspectos que podem ser relevantes 3 pesquisa, como estradas, linhas de alta tensio ou represas, construidas apés a elaboragdo do Figat Parcial da carta Rio de Jaciro (SF-23), scala 4$:4.000.000 fabrange parte do Estado de Sao Paulo) 61 PRATICANDU GEOGRAFIA Tab. 42 Percentual de cobertura das cartas topograticas do territério brasileiro. — documento. No entanto, tais 62 Escala dacarta Percentual de cobertura circunstancias nao impedem a realizagio_ das pesquisas 139% 180000 * Uma alternativa usual para o 1-100,000 75,39 % problema ¢ a utilizagao conjunta 1.250.000 wn de recursos: 0 uso. das cartas topograficas pode ser associado 1.000.000 100% as fotografias aéreas ¢ imagens de satélites mais recentes, o GPS pode auxiliar na atualizagio dos elementos mais importantes da carta no campo, € assim por diante Emerge desse fato a polarizacao entre dois pontos fundamentais: a necessidade de manter a preciséo ¢ a necessidade de buscar a atualizagao dos fendmenos, A reflexio sobre esta questio pode surgir durante a etapa de elaboragao do projeto € a decisio depende do objetivo de cada pesquisa. E freqiiente que o pesquisador se depare com a seguinte pergunta: a atualizacao € mais importante do que a precisdo? Até que ponto € possivel sacrificar a precisao para obter dados mais atuais? 4.3.2 FOTOGRAFIAS AEREAS: A fotografia pode ser considerada como 0 registro da imagem de um objeto realizado com a fixacio de raios eletromagnéticos sobre um material sensivel. As fotografias aéreas mencionadas neste trabalho sao as verticais. Segundo Anderson (1982), elas sao tomadas por uma camara aérea cujo cixo € perpendicular ao solo (inclinagio maxima de até 3°), e medem 23 x 23 cm. Tais fotografias aéreas sao utilizadas no processo de confecgéo das cartas topograficas, mas nao podem ser consideradas mapas. E necessério corrigit as distorcées da fotografia aérea para produzir uma carta. Lim exemplo disso é quando nao hé coincidéncia na sobreposicao da rede de drenagem de uma foto e de uma carta nas mesmas escalas. E necesséria uma transformagao da projegao cénica da fotografia para a projecao ortogonal da carta. E justamente por causa da projecdo cénica da fotografia aérea que os objetos deformam-se no sentido radial, a partir do seu centro. Quanto mais alto for o objeto € mais distante estiver do centro da foto, maior serd a distorgdo de sua imagem. Quando a projegao cénica € transformada em ortogonal, através da retificagao diferencial, a fotografia transforma-se em uma ortofotografia e a deformagao vertical dos objetos é bastante minimizada . A escala de uma fotografia aérea pode ser calculada a partir da relacao entre a distancia focal da cimara e a altura do véo. O célculo de escala obtida em um voo de 6.000 m de altura e distancia focal de 150 mm é E-f/H E= —150_ o —_1_ 6.000.000 40.000 4 AESCALA NOS TRABALHOS DE CAMPO E DE LABORATORIO. onde E = escala f = distancia focal da ca nara H = altura do véo eas se destaca a clabo Dentre as inimeras fungdes das fotografias aé ragao de mapas teméticos, a atualizagao de determinados aspectos das cartas € a orientagio do deslocamento no trabalho de campo. A vantagem’do uso conjugado (carta ¢ foto) pode ser explicada pela riqueza de informagées contidas nas fotografias aéreas em comparacao com as cartas, que representam seletiva e generalizadamente a superficie terrestre Na claboragio de projeto, ¢ indicada a busca de instituigdes € empresas que possuam acervos aerofotogramétricos. As perguntas recorrentes sao: a area de estudo esté recoberta por um voo acrofotogréfico? O voo € atual? Em que escala? ossivel consulté-lo ou obter cépias das fotos? 4.3.3. IMAGENS DE SATELITE De acordo com Crosta (1993), as imagens digitais produzidas por sensoriamento remoto sao constituidas por elementos estruturados na forma de uma grade ou malha. Os componentes dessa grade sio denominados pixels A unidade de medida das imagens de satélite mais relevante para este capitulo é a resolugao espacial, Ela € definida pelo tamanho do pixd e representa a menor érea no terreno que o sensor € capaz de detectar. Essa resolugio decorre do processo de geracao da imagem, ¢ esté associado ao campo de visada instantanea Instantaneous Field of View - FOV) do sensor do satélite (ver exemplos de imagens no Cap. 3) A resolugao espacial diferencia-se da escala, pois se refere ao tamanho do pixel, menor elemento da imagem, ¢ nao as dimensdes do objeto no terreno Contudo, como € possivel sobrepor as imagens de satélite as cartas topograficas, é admissivel estabelecer uma relagio entre elas Quanto maior a resclugao do pixel, quanto mais detalhes a imagem contiver, mais fécil seré estabelecer a correspondéncia entre as coordenadas da carta topogrdfica da imagem (ver mais detalhes no Cap. 3, em georreferenciamento) Por exemplo, um pixel com resolugao de 30x30 m (do satélite Landsat TM 5) que representa 900 m? no terreno, ndo possibilita um ajuste satisfatério a uma carta na escala 1:10.00, pois os pontos identificaveis na imagem na carta possuem tamanhos muito diferentes. O cruzamento de duas estradas, que mede aproximadamente 10x10 m no terreno (1x1 mm na carta), pode ser representado Por, um pixel que mede 30x30 m no terreno (3x3 mm na carta). Essa diferenga de Posicionamento, se repetida em outros pontos de ajuste, certamente implicard em erros de georreferenciamento da imagem 63 PRATICANDO GEOGRAFIA Fig. 42 Parcial da carta Sto Paulo (SF-23-Y-C-VI- 64 2), escala 150,000 7395 000 ma 7384.000 1.332.000 Também € possivel estabelecer uma relagao entre o tamanho do pixel e as dimensdes do objeto pesquisado. O pixel de 30 m nao é indicado para o estudo de loteamentos urbanos, com terrenos que medem 6 m por 20 m, pois a area que pixel representa no terreno (900 m?) é, aproximadamente, sete vezes maior do que 0 objeto estudado (120 m?). Assim como acontece com a carta topogréfica, é importante comparar 0 tamanho e a forma de ocorréncia do objeto estudado com a resolugio da imagem de satélite, Os satélites mais recentes permitem documentar o terreno com alta resolugao (1 m ou menor). Quanto maior a resolugao do pixel, menor a extensio da érea representada, Devido ao tamanho dos arquivos ¢ do preco das imagens, pode ser contra-indicado utilizar uma resolugao de 1m para pesquisar uma érea de 900 km? O uso conjugado das imagens de satélite ¢ das cartas pode permitir a uniao da exatidao cartografica com a atualidade das informagées geradas pelos sensores orbitais. Além disso, o nivel de abstracao das imagens é menor do que 0 do mapa. Algumas composigées coloridas (3 bandas espectrais do satélite associadas as cores vermelha, verde ¢ azul), assim como as fotos, exigem menor esforco para identificagdo dos objetos, pois sio muito semelhantes a realidade. Os mapas, que 4 AESCALA NOS TRaBALHOS DE CAMPO F DE LABORATORIO, representam os fendmenos por meio de simbolos (pontos, linhas ¢ poligonos), exi- xem maior capacidade de interpretagio para decodificar os elementos grafados 4.4 SUGESTOES E RECOMENDAGOES PARA O TRABALHO DE CAMPO Este item contém algumas indicagdes que podem ser titeis antes ou durante © trabalho de campo. Pressupdem a utilizagao de cartas topogréficas, fotografias aéreas, imagens de satélite, bussola, trena ou GPS. Foram agrupadas em trés categorias: documentos, medigées, equipamentos 4.4.1 DOCUMENTOS * Antes do trabalho de campo, consulte os sites da Embrapa, para ver imagens de satélite de todo o Pais (http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br); ¢ do IBGE para obter informagées dos municipios e visualizar 0 servidor de mapas (http://www.ibge.gov.br) Lembre-se de que a escala numérica nao pode conter indicagio de unidade (centimetro, metro ou quilémetro). Lé-se "um para cinqiienta mil” (1:50.00). A vantagem de seu uso reside na informagao imediata do niimero de redugoes ao qual a superficie foi submetida, # Nao se esquega de que a escala gréfica requer unidade de medida (metros ou quilémetros). Ela nio perde validade caso 0 desenho seja ampliado ou reduzido, pois acompanha a mudana de escala do mapa A escala das fotografias aéreas ¢ das imagens de satélites € sempre aproximada, por causa da influéncia do relevo. A escala € definida sobre um plano de referéncia, que corresponde & altitude média do terreno. Nio € possivel a sobreposigio da carta topogrifica ¢ da fotografia aérea, mesmo com escalas idénticas, por causa das diferentes projegBes (quando uma parte se ajusta, a outra fica desalinhada). Contudo, so instrumentos complementares ¢ 0 seu uso conjugado aumenta 0 nimero de detalhes de que 0 pesquisador dispde. A ampliagio ou reducio da escala de fotos e imagens, numa foto-copiadora, ¢ a sua reprodugio sobre uma transparéncia pode ser titil e enriquecer as anilises, mesmo que nao haja coincidéncia dos limites. * A maioria das fotos aéreas dos acervos € em preto & branco (P&B). A fotocépia colorida de fotografias aéreas P&B garante uma qualidade satisfatéria (permite a estereoscopia, que é a sensaio de tridimensionalidade produzida quando observamos documentos com uma determinada de superposicao de Areas, através de lentes apropriadas) € preserva o documento original da umidade ¢ dos eventuais imprevistos do trabalho de campo. No momento, as Fotografias aéreas coloridas estio se tornando mais comuns, devido & semelhanga de custo em relagio as P&B, ¢ facilitam ainda mais o trabalho do pesquisador. 65 PRATICANDO GEOGRAFIA 66 4.4.2 MEDIGOES * Ao medira distancia entre dois topos de morro, numa carta topografica, o usuario mensura a distancia em linha reta, uma distancia que desconsidera o relevo. Uma alternativa para obter a distancia que sera caminhada entre esses pontos € realizar um perfil topografico. Deve-se medir a distancia entre os pontos com um barbante, acompanhando as variagdes do relevo O proximo passo € esticar o barbante ¢ medi-lo com uma régua, calculando sua distancia através da escala do perfil * A largura de estradas € rios (elementos lineares) ¢ o tamanho de cidades (pontos) podem nao corresponder a dimensao real. Na maioria dos casos, trata-se de um artificio de representagao, para tornar as entidades visiveis na respectiva escala 4.4.3, EQUIPAMENTOS * Para orientar a carta topogréfica no campo, deve-se_manter 0 norte magnético da carta alinhado ao norte da agulha da biissola © Antes de usar um GPS, é imprescindivel ajustar trés elementos: 0 Datum (sistema de referéncia para as coordenadas geodésicas e aceleragio da gravidade), a hora e o tipo de coordenada. Verifique qual é 0 Datum nas margens da carta topogréfica (Cérrego Alegre ou South American Datum 1969 — SAD-69) ¢ selecionea mesma referéncia, Acerte 0 relégio do GPS até que marque 0 horério correto do local onde ele esta sendo utilizado. Escolha as coordenadas geogréficas (latitude ¢ longitude) expressas em graus, minutos e segundos ou as coordenadas plao-retangulares (UTM), métricas. * Dependendo do equipamento, do niimero ¢ da geometria dos satélites rastreados, a determinagao das altitudes de um GPS manual pode possuir precisao inferior & de um altimetro. 4 A ESCALA NOS TRABALHOS DE CAMPO E DE LABORATORIO ANEXO I (*) Um mapa, uma fotografia aérea ou uma imagem de satélite sio representagoes em escala da superficie da terra, que envolvem reducao da realidade. ESCALA CARTOGRAFICA E a relagdo (E) entre uma distancia medida no mapa (Dm) e uma distancia medida no terreno (Dt). E possivel calcular um dos valores, caso os outros dois parametros forem conhecidos Dm=DtlE — Di=DmxE E=Dt/Dm onde E = denominador da escala Dm = distancia no mapa Dt = distancia no terreno ESCALA NUMERICA 1:500 ou 1/500 (lé-se: um para quinhentos) € significa que 1 unidade no mapa = 500 unidades no terreno. ESCALA GRAFICA E um segmento de reta dividido conforme a escala numérica. Pode conter ow nao um talao (subdiviséo numérica a esquerda do zero). 4 Bkm 2 6 2 Le oe Significa que 6 cm = 6 km (portanto, 1 cm = 1 km) 0 05 1 15 2km Ga Sm =2km ou 1 cm = 400 m SISTEMA METRICO DECIMAL etio. hectimetro decdmetro metro —decimotro—centinatra. mime. A900) 24400m) (om)! itm) fost my 9oim)onon) 1:10.00 100 m 1:50.000 500 m 1:100.000 4,000 m (1 km) 4:500.000. 5 km 4:1.000.000 10km Sees IMEI OSA SEARS (*) Anexo produzido ¢ cedido pela Profa. Dra. Regina Aratijo de Almeida 67

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