You are on page 1of 101
Helena Bolli Mota HHCY URUACY. WWD RUCTCO D PARA NC NECUING RAND ONGICOS N , I yh J AS RevinTER INTRODUGAO a ou o estudo dos padres de sons de uma lingua, faz da Lingtiistica. No entanto, a abordagem fonold- das alteragdes de fala ¢ relativamente nova ¢ wnramente fonémicas que enfatizavam ‘de sons pelas criangas. Existe uma sé~ crete outros aspectos, no uso dos sons de uma lingua, que ndo se limita pends a aquisigdo de um inventirio destes. Sobretudo existe uma mes- aejimensto contextual no uso dos mesmos: um som pode aparecer em. diferentes posigdes na palavra ou na silaba, pode ocorrer antes ou de- pois de uma variedade de outros sons e pode ter diferentes fungdes em felagdo a morfologia. Somente uma anilise fonol6gica pode dar conta de todos estes aspectos. No Brasil, a grande tonica na pritica fonoaudiolégica com criangas que apresentam distirbios de fala continua sendo um tipo de terapia tradicional, que considera esses problemas como basicamente articu- latorios ¢ que adota, como unidade de corregdo, o som isolado. Ocorre, entretanto, que esse tipo de abordagem terapéutica, as vezes, nao leva aos resultados desejados ou necessita de muito tempo para que os mes- ‘mos sejam alcangados. Verificam-se casos de criangas que, apés pas rem um longo periodo de tempo recebendo atendimento fonoaudioldgi co, sio capazes de produzir, isoladamente, de forma correta, cada som A fonologia, parte da longa histéria gica na avaliagdo e terapia veio substituir as abordagens pt apenas a aquisigao do inventirio que apresentava problemas, mas nio conseguem incorporar esses sons corretos em sua linguagem espontinea. i A partir de meados da década de 70, no entanto, a literatura especia- pork trouxe como proposta uma visio diferente dos transtornos de ‘ala, buscando na fonologia uma explicagdo para alguns desses proble- sas, Um marco dessa mudanga foi a publicagdo de Ingram (1976 rae gum enfoque um pouco diferente: aguilo que antes era vio pre como um transtomo de artculag%o, passou a ter uma outa sosen, prepretagio, sei, a servis como um problema fonoligio, ino din problema ao nivel da organizagdo mental do sistema de sons da in gua. - Essas mudangas tiveram repercussdes nas formas de avaliagio ¢ tratamento das alteragdes de fala, Lingtistas e fonoaudidlogos comey sana trabalhar em conjunto com o objetivo de desenvolver novas aber. {Tasens para avaliar as desordens de fala e de aplicar essas abordagens dnaliticas como base para a elaboragao de planos terapéuticos, todos ‘eles com suporte tedrico na fonologia. © objetivo deste livro & 0 de apresentar alguns dos principais mo- delos de terapia de fala com base fonolégica, dando énfase para aqueles {ue ja foram aplicados no Brasil. No Capitulo 1 abordamos os desvios fonoldgicos com um breve historico e sua caracterizagao. O Capitulo 2 traz informagdes sobre a avaliagdo e a descrigo dos desvios fonologi- cos, O Capitulo 3 apresenta as bases de qualquer terapia fonoldgica, No Capitulo 4 sao descritos diferentes modelos de tratamento com base fo- rologica com a aplicagao pritica de alguns deles. No Capitulo $ apre- Sentamos algumas consideragdes finais ¢ as implicagdes deste tema pa- ra a pratica fonoaudiolégica. SUMARIO See Capitulo 1 OS DESVIOS FONOLOGICDS 6 ce eee ee ee eee ees 1 Capitulo 2 AYALIACAO £ DESCRICAO DOS DESVIOS FONOLOGICOS. ..... 7 Capitulo 3 TERAPIA DE DESYIOS FONOLOGICOS 35 Capitulo 4 MODELOS DE TERAPIA FONOLOGICA. «+ seen eee ewes a" Capitulo 5 CONSIDERACOES FINAIS . 6. ce oe ‘ 99 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS . 2 map SE jaa ee 5 “TOM inpice RemissiVo ... Ree eee eee EES 107 OS DESVIOS FONOLOGICOS HISTORICO Parte da tarefa de adquirir uma lingua envolve o aprendizado de quais so 0s sons usados e como esses sons so organizados. A maioria das criangas executa essa tarefa sem dificuldades e por volta dos 5 anos {ja produz os sons da lingua ambiente adequadamente e apenas nas se- «iiéncias permitidas. No entanto, ha uma significante minoria de crian- as para as quais adquirir o sistema de sons de uma lingua é um grande obsticulo a vencer. Existem diferentes grupos de criangas que apresentam dificuldades nos sons da fala. Entre eles, criangas com deficiéncia mental, com defi- ciéncia auditiva, com lesdes focais no cérebro, com autismo, com le- sies organicas nos érgios fonoarticulatérios. No entanto, ha também criangas cujos problemas de fala nao esto associados a nenhuma des- sas condigdes. Essas criangas tém escores de acordo com a idade em testes de inteligéncia nao verbal, exibem audicao normal ¢ no apresen- tam sinais de problemas neuroldgicos ou de autismo. Essas criangas constituem 0 foco central deste livro. Os primeiros estudos sobre criangas com dificuldades de fala em- pregavam o termo “desordem articulatoria funcional” para se referirem aos problemas dessas criangas. No seu uso mais restrito, esse termo re- feria-se apenas ao fato de que a causa da dificuldade de fala era desco- nhecida. Entretanto, muitos dos estudos iniciais supunham que o déficit era devido a um aprendizado defeituoso dos gestos articulatérios. Esses estudos consideravam as limitagdes motoras e perceptuais como causas 1 2 TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS. FONOLOe cos iniciais do problema. Porém, supunham que uma vez que acranga gisse 0 ponto de maturacdo, no qual os sons poderiam ser profs em sua forma adulta, os erros persistiriam em razio dos habit, — crianga tinha formado, fos que a Até meados dos anos 70, a maioria dos terapeutas da linguagem considerava a fala com desvios como o resultado de diferengas ene sons isolados em vez de diferengas fonol6gicas. Em nomenclatura fy. noaudiolégica, esses desvios eram chamados de “ [savi] 1m dificuldade &™ vi] para cha savi} pra Chae As produgées em (1) revelam que a crianga te usar [s] em sia. No entanto, a produgao incorreta de [ ie sugere que a crianga é capaz de produzir o som [s]. © fato _——a (05 DESVIOS FONOLOGICOS 05: DESVIOS ONDLOGISO = 5c oN ete 8 som tenha sido usado em chave mas no em saia indica que a organiza- gdo do sistema de sons da crianga nao é apropriada. Leonard (1995) ressalta o fato de que, na linguagem de criangas com dificuldades de fala, os erros de omissao e de substituigo so mui- to mais freqiientes do que os erros que constituem distorgdes intrafone- ma, Se as dificuldades de fala fossem decorrentes principalmente de er- 10s articulatorios, as distorgdes (que parecem ser erros mais proximos dos alvos articulatorios) deveriam representar uma percentagem muito mais alta de erros observados. Para descrever a natureza dos desvios de fala é necessétio que se faca uma distingZo teGrica fundamental entre andlise fonética e anilise fonolgica. Através da andlise fonética chega-se a uma descrigao deta- Ihada das caracteristicas auditivas, acisticas e articulatorias da fala por uma perspectiva fisica e fisiolégica. Tal descrigao proporciona infor- ‘maces importantes sobre as habilidades, o potencial e as restrigdes do mecanismo de produgdo de fala da crianga. Porém, esse tipo de descri- do no traz nenhuma informagao de “como” esses recursos fonéticos esto sendo utilizados na comunicacao através da linguagem falada. A fonologia descreve a organizacio e as fungdes dos recursos fonéticos da fala, Uma andlise fonolégica da fala de uma erianca com desordem & aquela que proporciona, portanto, uma descrig&o dos padrées de pro- nincia usados na linguagem e identifica as implicagdes comunicativas da desordem. Assim, a andlise fonolégica descreve as caracteristicas funcionais dos padrdes de pronincia com desvios que se manifestam por falhas na mareagao das diferengas de sons necessarias para comuni- ar distingdes de significado. Para Hewlett (1985), no entanto, uma distingao binaria entre fonéti- cae fonologia é muito simplista e ndo serve como modelo de produgo de fala, nem como base para identificar os componentes envolvidos no desenvolvimento e nos desvios de pronincia, O autor propde um mode- lo composto de trés componentes: © 4 fonologia, que & 0 mais alto estigio em relagio as fungdes corti- cais, no qual as palavras a serem ditas so selecionadas junto com sua representaco fonolégica em termos de uma imagem estocada de seus constituintes fonolégicos — é o nivel cognitivo. *® A fonética, que & 0 estigio intermedidrio, no qual os constituintes fo- nolbgicos so convertidos em seqiiéneias de movimentos para a pro- niincia. Este estgio envolve, portanto, selegio, ordenamento e se- Giienciagao de padrdes motores estocados — é o nivel organizacio- nal do controle e coordenago motores. TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS DESVIOS FONOLGg GICOs © Aarticulagao, que € 0 estagio periférico da produgio da fala, és articuladores produzem os movimentos que resultam nos ev” fala — € 0 nivel observavel da produgio da fala. eas Conforme Stoel-Gammon & Dunn (1985), “articulago” refere aos movimentos fisicos envolvidos na produgo da fala, enquanto que sonolowia” tem dois significados. Em um sentido mais restr, rf, re-se a organizacio ¢ classificagao dos sons da fala que se eomporam como unidades contrastivas dentro de uma determinada lingua. Em um sentido mais amplo, é usado como um termo geral referindo-se a todos 98 aspectos do estudo dos sons da fala, incluindo a percepgdo ea produ. go da fala, assim como os aspectos cognitivos ¢ motores da mesma. A maioria dos trabalhos sobre o desenvolvimento fonol6gico das criangas adota a definigéo mais ampla de fonologia. Dessa forma, entende-se a aquisicdo articulatoria como parte do desenvolvimento fonolégico—a parte que envolve o dominio da habilidade motora para produzi cone- tamente os sons e seqiiéncias de sons da linguagem adulta, Ao adouirir os padrées articulatérios do adulto, a crianga deve aprender a controlar a corrente de ar proveniente dos pulmées ao passar através da laringe a fim de produzir sons sonoros e surdos; a abertura ¢ o fechamento da ve- Jofaringe para produzir sons orais ¢ nasais, ¢ os movimentos da lingua, labios e mandibula para produzir as diferentes consoantes ¢ vogais da lingua. ‘Além dos movimentes fisicos que entram na produgao da fala, 08 aspectos organizacionais (ou estruturais) do sistema de sons da lingua também precisam ser aprendidos. A crianga deve saber, por exemplo, quais as diferengas de sons que so contrastivas ¢ quais no so; que t- pos de restrigdes posicionais e seqiienciais so colocadas nos vitios sons da fala; que regras ou processos estilo envolvidos com as altemin- cias morfofonémicas da lingua. Foi apenas na segunda metade da década de 70 que os principios lingiiisticos comegaram a ser usados com mais freqiiéncia na avaliagdo das chamadas “desordens articulatérias funcionais”. Até entdo, com fase na articulagio, os métodos de avaliagdo e tratamento centravamS nos aspectos mecdnicos da prontineia dos sons da fala. O novo enfodvss baseado em um modelo lingiiistico, levou, inevitavelmente, a recons deragdes sobre essas desordens. A anilise lingtifstica da fala de uma anca com “desordem de articulagao severa” revela padrdes fonol6sieS diferentes daqueles encontrados em falantes normais da lingua. A sot Pariaata, parece estar na organizacio do nivel fonologiee nivla por fest patologia da linguagem, e seria mais correto oii = sordem fonolégica e nao apenas como distirbio artic “ey, — } OS DESVIOS FONOLOGICOS : GSIDESVIOSIFONOLOGICOS eS Assim, considera-se que as criancas com desvios fonoldgicos so aquelas cujo dominio geral da dificuldade ¢ a fonologia. No entanto, deve ser lembrado que termo permite a possibilidade de imprecisdes articulatorias, assim como problemas na organizagao do sistema de sons. No Brasil, os estudos referentes 4 fonologia com desvios foram in- troduzidos pelos trabalhos de Teixeira (1985), Lamprecht (1986) ¢ Her- nandorena (1988), sendo intensificados com a criagao do Centro de Estudos sobre Aquisigao ¢ Aprendizagem da Linguagem (CEAAL) na Pontificia Universidade Catdlica do Rio Grande do Sul. Novos traba- thos sobre aquisigdo normal e desviante do sistema fonolégico surgi- ram com base na fonologia gerativa clissica e na fonologia natural, consolidando anlises como a de tragos distintivos e a de processos fo- nolégicos como excelentes métodos de descrigao da fala da crianca, como é visto no trabalho de Yavas, Hernandorena e Lamprecht (1991). Recentemente novos modelos tedricos, como a fonologia auto segmental, a fonologia meétrica, a teoria da silaba e a teoria da optimali- dade, t&m sido utilizados em pesquisas sobre os desvios fonoligicos. Pode-se citar trabalhos como os de Hemandorena (1995, 1997), Lam- precht (1995, 1997, 1999), Mota (1996, 1997), Ramos (1996, 1997). CARACTERIZACAO DOS DESVIOS FONOLOGICOS De acordo com Grunwell (1981), “desvio fonolégico” é uma desor- dem lingiiistica que se manifesta pelo uso de padres anormais no meio falado da linguagem. Esta definigao enfatiza que o transtorno afeta o ni- vel fonoldgico da organizagao lingitistica e nao a mecnica da produgao articulatéria. O termo “desvio fonoldgico evolutivo” ou “desordem fonolégica” € utilizado comumente para referir criangas com dificuldade especifica para o aprendizado da linguagem, afetando a produgio da fala na ausé cia de fatores etiolégicos conhecidos e detectaveis, tais como dificulda- de geral de aprendizagem, déficit intelectual, desordens neuromotoras, disturbios psiquidtricos ou fatores ambientais. As caracteristicas clini- cas classicas dessas criangas, segundo Grunwell, sao: 1. Uma fala espontnea apresentando erros resultantes, principal- mente, de desvios consonantais da proniincia adulta alvo. 2. Mais de 4 anos, pois'essa é a idade em que a fala da crianga nor- malmente jé ¢ inteligivel para pessoas que nao fazem parte do seu ambiente social imediato, Ha controvérsias em relagio a essa idade, pois estudos mais recentes vém demonstrando que 6 _TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA 05 DESVIOS FONOLOGICos em idades mais baixas jé hi sinais na fala da erianga que ing cam uma aquisigdo fonoldgica desviante, : 3, Audigdo normal para a fala. 4. Nenhuma anormalidade anat6mica ou fisiolégica do mecanis. mo de produgao da fala 5, Nenhuma disfung’o neurologica detectivel relevante para q produgio da fala. 6. Capacidades intelectuais adequadas para o desenvolvimento da linguagem falada através de um processo normal de socializa. io. 7. Compreensio da linguagem falada apropriada para sua idade mental 8, Linguagem expressiva aparentemente adequada em termos de tamanho de vocabulirio e extensio de expresses, refletindo, presumivelmente, estruturas sintiticas de alguma complexide- de, as quais geralmente nao podem ser avaliadas com precisio por causa da inteligibilidade da fala As pesquisas indicam, no entanto, que a ocorréncia dessas condi- ges em sua forma classica pura é rara. Um niimero apreciavel de crian- ‘cas que apresentam esse tipo de desordem de fala podem ter histérias de nas de audigdio de natureza leve, como, por exemple, otite mé io de seu desenvolvimento. Muitas criangas tém deficits cognit vo-lingiiisticos detectaveis tanto na produgio como na compreensio. Seu progresso educacional é geralmente lento e podem apresentar pro- blemas de ateng’o. Além disso, ha evidéncias freqtientes de historia fa- miliar de problemas de linguagem. Apesar de, originariamente, ter surgido para a anailise de desvios fonolégicos, a abordagem fonologica ¢ igualmente aplicavel e necessé ria na avaliaco e no tratamento de criangas com outros tipos de desor dens da fala, pois os padrées de produgao de fala associados, por exem- plo, a desordens orginicas, tais como palato fendido, geralmente tém conseqiiéncia fonologica. Trabalhos como os de Grunwell (1988), Ingram (1989) e, no Brasil, Ramos (1991) sao exemplos da necessidade de associar uma orientagdo fonoldégica a treinamento articulatério 0s casos de criangas portadoras de fissuras do labio e do palato. Além dis- So, pode haver dimensdes fonolégico-evolutivas na ma proniincia dos padres de fala de criancas com problemas organicos. Esses ca808 "* querem investigagdo e intervengdo dentro de um modelo fonolégic® em Mls oe com desvios fonolégicos tém também difcal ae Em alan cots da linguagem, tais como sintaxe, morfologia ¢ er volvineem i808 € Provavel que 0 desvio fonoldgico impeca 0 OF 1s dreas citadas. Em certos casos, no entanto, 0S PF a, ood (0S DESVIOS FONOLOGICOS mas na fonologia da crianga ndo so a causa direta de suas dificuldades dm outras areas da linguagem. Nestes casos, uma desordem mais geral dda linguagem esta presente, a qual afeta varias dreas desta, incluindo a fonologia. Os desvios fonolégicos tém sérias implicages para as aquisigbes futuras, Estudos de follow-up de criangas com desvios fonolégicos re- velam melhoras significativas com a idade; no entanto, mesmo durante a adolescéncia e a idade adulta, esses individuos tém performances mais baixas do que os grupos controle em uma série de tarefas de fala, leitura, soletragem e de conscincia de fonemas. Os problemas residuais sao mais Sbvios em individuos cujas limitagdes fonolégicas foram acompanhadas de outros déficits de linguagem durante a idade pré-es- colar. Segundo Grunwell (1997), 0s desvios fonolégicos podem ser ca- racterizados de acordo com uma perspectiva fonolégica ou uma pers- pectiva evolutiva, Do ponto de vista fonolégico, ¢ possivel definir ca- racteristicas do sistema de sons, das estruturas fonotaticas e de estabili- dade. Em relagio ao sistema de sons, os desvios fonolégicos podem ter as seguintes caracteristicas: 1. Na maior parte das vezes ha uma correspondéncia sistematica entre o sistema do adulto e as realizagdes da crianga, 2. O sistema da crianga é menor do que o sistema adulto, havendo, portanto, nas produg6es da crianga, perdas de contrastes fonols- gicos. Por exemplo, ft] ¢ |s| — [t]; as palavras “taco” e “ saco” sio produzidas como [tako} 3. Hai uma tendéneia de um tinico som do sistema da crianga subs- tituir uma série de alvos adultos, levando a uma perda miltipla de contrastes fonologicos. Por exemplo, |p, b, td k, el > [t; as palavras “pato”, “bato”, “tato”, “dato”, “cato”, “gato” so produzidas como [tato] 4, Ha uma relagdo entre as propriedades fonéticas do alvo adulto ¢ as propriedades fonéticas da realizagio da crianca. Por exemplo, © alvo |s|, que € uma fricativa alveolar nao-vozeada realizada como [i], que ¢ uma plosiva alveolar néio-vozeada. 5. Osistema da erianga tende a ser assimétrico e antiecondmico no : que diz respeito & ocorréncia de potenciais combinagdes de tra- 605 fonéticos, como no seguinte exemplo: pot g mon rERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA 05 DESVIOS FOND IGICo, s strutura fonot: 08 desvios fonol é oldie racteristicas: 'BICOS aptesen, Em relagio a ¢ tam as seguintes cal 1. Os padres fonotiticos da erianga fendem a ser menos o xos do que os do adulto, comple. 5, ne produgoes da crianga envolvem simplificagdes sistem “hos estruturas complexas do adulto. Por exemplo, ip] aticas como em “prato” — [pati] » Ir > fp), 3, As simplificagdes das estruturas complexas do adulto ley; perda de contrastes fonologicos e, juntamente com outras ae podem Leva a perdas miiplas de contasts fons "i cos, Por exemple, ipr| —> [p], como em “praro” "paie® ae So produzidas como [pati] ¢ também possivelmente "alka “hato” produzidas com (pat!) e Em relagio a estabilidade das produgdes das criangas com desvas fonolouicos em relagio ao sistema adulto, a caracersticas so as se guintes: 1. Hé uma tendéncia de variabilidade nas realizagdes de alvos eultos pela crianga. Por exemplo,|s|—> [8], como em “spo” produzido como [sapu € como [tapu) +, Em alguns casos a variabilidade € potencialmente progressiva, como no exemplo em 1 4, Ei outros casos, a variabilidade no & progressiva, Por exem- plovis) [ts dj, como em “sapo" produzido como [tu] oa [dapu}. 4 Variabitidade extrema acontece quando existem vrias realize goes diferentes para um alvo, 5. Os sistemas de criangas com varidveis mas estaticos. desvios fonologicos tendem a ser Gob uma perspectiva evolutiva, os desvios fonolégices podem ser clasificados em trés categorias gerais: © Desenvolvimento atrasado: a crianga desenvolve os padroes de pro eescia normals, porém com uma velocidade mais lenta do qe? es perado. «Desenvolvimento varidvel: a crianga usa padres de dois (ou mas) estagios diferentes do desenvolvimento fonol6sico ‘Alguns padroes podem estar apropriados para a idade, outros podem estar atrasados ‘ou avancados (desencontro cronolégico). + Desonvotvimento diferent: a crianga usa padroes que MO oe habitualmente no desenvolvimento fonologico normal; estes P (0s DESVIOS. FONOLOGICOS so incomuns e atipicos ¢ podem ser considerados como idiossine ticos. As eriangas com desvios fonolégicos podem apresentar um desen- solvimento atrasado, variivel e diferente em relagdo ao desenvolvi- vento das criangas com aquisigo fonologica normal, ‘Uma outta classificago evolutiva mais especifica, que considera 0 uso de provessos fonologicos pela crianca com desvios fonolégicos, en- sloba cinco categorias: » Processos normais persistentes: os padrdes normais permanecem nas produgdes da crianga até idades em que estes normalmente jé te- riam desaparecido, Por exemplo, a presenga do processo de anierio- rizagdo de fricativas em uma crianga com 5 anos de idade. ‘® Desencontro cronologico: processos mais iniciais co-ocorrem com padrdes caraeteristicos de estagios mais tardios do desenvolvimento. Por exemplo, a presenga do processo de plosivizagao, que deveria ser suprimido por volta de 2 anos ¢ 6 meses em uma crianga de 4 ‘anos, que jé produz encontros consonantais. # Processos incomuns: presenga de padrdes que raramente acontecem no desenvolvimento normal. Por exemplo, o processo de africagao, em que plosivas e fricativas sio produzidas como afticadas, inde- pendentemente do contexto. + Preferéncia sistemética por wm som: uma tinica consoante ¢ usada no lugar de uma ampla gama de alvos, tendo como conseqiténcia a perda de varios contrastes fonolégicos. Por exemplo, toda a clas das fricativas sendo produzida como uma fricativa velar — fv, ,z, s.2\> [xh Uso varidvel de pracessos: mais do que uma realizagao é usada para a mesma consoante alvo. Por exemplo, a consoante |s| produzida como [s} € como [t] —“sapo” — [sapu), [tapu} Farias (1997) realizou um estudo com o objetivo de verificar as ca- racteristicas evolutivas no uso de processos fonoldgicos de 30 criangas, com desvios fonol6gicos falantes de portugués. Os resultados demons traram que 100% das criangas estudadas apresentavam processos nor- mais persistentes, 70% apresentavam desencontro cronologico e apenas 5% das criangas faziam uso de processos incomuns. Nao houve nenhu- tna ocorréncia de preferéncia sistematica por um som ¢ 0 uso varidvel de processos nao foi analisado nesta pesquisa. Estes resultados mos- tram que a maioria das criangas com desvios fonolégicos apresentam padres de fala semelhantes aos das eriangas com desenvolvimento fo- nolgico normal, porém encontram-se atrasadas em termos de idade em Telagdo a estas. 10 TERAPIA FONOAUDIOLOGICA F PARA OS DESVIOy FON, GICos Pesquisadores como Ingram (1976, 1981, 1987) e Gry 1982) mostraram que as diferengas entre criangas com eso (1981, légicas € as normais nio estao tanto nos tipos de Processos en fon. dlos, mas, sim, no uso desses mesmos processos. As criancas gan Mit fonologicos podem apresentar processos em idade em que consi veriam ter desaparecido, podem apresentar um desenvolvimente de. gular ou fazer uso de processos incomuns. Para Leonard (Logs: criangas nao sao radicalmente diferentes das criangas com dese |t| — je] / — fil [ti’ko} |trj > [t _ Neste exemplo, a crianga com representagio menos evoluida aplica mais regras ¢ a mais evoluida menos regras. Portanto, nao é explicitada a distingao de conhecimento entre as duas criangas, pelo contratio, fica escondida. Fica claro aqui que a formalizacao de tal teoria é incoerente. Nas teorias fonoldgicas atuais é possivel fazer, mais claramente, essas distingdes. Além disso, todos os processos passam por uma nova analise nesses modelos, ¢ alguns processos que antes ficavam como “residuo de anilise”, tais como epéntese, metitese, assimilagZo e coa- lescéncia, recebem uma aniilise mais adequada, levando, muitas vezes, discussdes importantes para a teoria fonoldgica e para a construgio de um modelo de processamento da linguagem. Numa proposta de teoria da silaba atual, a anilise acima ficaria assim, de acordo com Mota & Ramos (1996): (lg 6 (hel > mm NN NAN ZN A Prosidico coy coy c cov Borie | | Melédico @ | si Kiog Jo 24 TERAPIA FONOAUDIOLOGICA PARA OS. DESVIOs Fon Cos A presenga do espago da Segunda consoante no nivel pros (camada CV) demonstra que, apesar de nao produzir 9 encontro nantal pela auséncia da liquida |r| na camada melédica (dos Segments), a crianga tem a representagao do encontro na subjacéncia, TERAPIA DE DESVIOS FONOLOGICOS BASES DE UMA TERAPIA FONOLOGICA 7 _Embora exista uma variedade de diferentes procedimentos de ava- liagdo que podem ser usados pelo clinico, os principios terapéuticos que derivam destes so fundamentalmente os mesmos. Isso ocorre porque todos esses procedimentos de avaliacdo compartilham pelo menos um dos prineipios basicos da fonologia: existem regularidades na lingua- zzem falada, isto é, 0s padres de proniincia sfo regis por regras ¢ ‘so previsiveis. A partir dessa acepgao basica ¢ que derivam todos 0s prin- Cipios de andlise e terapia fonol6gica. Assim, uma vez que om compor- tamento orientado por regras implica organizagao, uma anilise deve re- velar a organizagio subjacente a esses padres. uma avaliagiio deve jidentificar os desvios inadequagdes nesta organizacao e um tratamen- to deve ser planejado para mudar esses aspectos deficientes da organi- zagao. Grunwell (1985) postula alguns principios bésicos de uma rerapia fonologica: sempre em uma avaliagao e andli- 1. O programa terapéutico baseia-se se fonolégicas e estas definem os 2. A terapia baseia-se no principio de que existem P: dades na fala da crianga. 3. A terapia baseia-se no principio drées fonoldgicos é comunicativa, is assinalam mentos de sons e estruturas objetivos do tratamento. adres ¢ regulari- de que a principal fungio dos pa~ fo &, as diferengas entre 0s seg- diferencas de significado. 25

You might also like