14 • Público • Sexta-feira 20 Maio 2011
Portugal
Conte-nos como está a vencer a crise para casosdesucesso@publico.pt
Governo dos Açores quer aprovar código que
possibilita novas PPP na área da acção social
Luísa Pinto e Tolentino
de Nóbrega
Especialista em concessões
diz que proposta do
governo de Carlos César não
contribui para a imagem de
prudência orçamental a que
Portugal está obrigado
a A intenção do Governo Regional
dos Açores em fazer aprovar um
Código de Acção Social que prevê a
celebração de contratos com priva-
dos para construírem e explorarem
equipamentos para dar resposta a
necessidades sociais da região “até
poderia não ser um sinal nitidamen-
te mau”. Mas, no contexto do pedi-
do de ajuda externa, e numa altura
que Portugal se comprometeu a não
avançar com mais nenhum contrato
de concessões e de parcerias público-
privadas (PPP), esta intenção “não é
com certeza nada daquilo que o mer-
cado queria ouvir”.
Quem o diz é Mariana Abrantes,
economista especializada nestes con-
tratos de parcerias e que refere que
a região dos Açores não estará, desta
forma, a contribuir para a imagem de
prudência orçamental a que está obri-
gada. Mariana Abrantes alerta ainda
para o facto de, em termos de PPP, a
situação portuguesa ser muito pior do
que a grega, pelo que não devemos
correr riscos nesta matéria.
No entendimento de Duarte Frei-
tas, líder parlamentar do PSD na
Assembleia Legislativa dos Açores,
os contratos previsto no Código de
Acção Social dos Açores configuram
“autênticas PPP”, a que o governo
regional recorre “como forma de
encapotamento de endividamento,
por remeter para responsabilidades fi-
nanceiras futuras”. O diploma é “uma
tentativa de contornar as formas de
PSD-Madeira trava inquérito aos aluviões de 2010
Tolentino de Nóbrega
a O PSD rejeitou ontem na Assembleia
da Madeira a constituição de uma co-
missão de inquérito para apurar res-
ponsabilidades pelos efeitos da tragé-
dia de 20 de Fevereiro de 2010. Passa-
do mais de um ano sobre a tragédia,
os partidos da oposição e familiares
das vítimas mostram-se inconforma-
dos com as conclusões do inquérito
aberto pelo Ministério Público que,
por não encontrar indícios para im-
putar a morte de qualquer uma das 48
vítimas a um acto humano, voluntário
ou meramente negligente, decidiu pe-
lo arquivamento.
Dois recursos hierárquicos, subscri-
tos por moradores nas freguesias do
Monte e de Santo António, no Fun-
endividamento e constitui uma cla-
ra violação do memorando celebra-
do entre o Governo da República e
a troika que determina a suspensão
de novas PPP”, acrescenta o deputa-
do. Por isso, adianta, o PSD vai apre-
sentar em plenário uma proposta de
eliminação do artigo que prevê essa
possibilidade.
Também ouvido pelo PÚBLICO, o
vice-presidente do executivo açoriano
Sérgio Ávila classifica de “embuste” e
“enorme barbaridade” a posição do
PSD que, sem ter levantado qualquer
objecção à proposta que mereceu pa-
receres favoráveis de diversas enti-
dades, “quer arranjar uma bandeira
para a campanha eleitoral”. “Não há
nada no diploma que possa configu-
rar uma PPP”, frisa o governante,
O executivo de Carlos César tem mais uma proposta polémica
chal, atingidas directamente pelo tem-
poral, foram dirigidos ao procurador-
geral da República a contestar o des-
pacho do coordenador dos serviços
do MP na região, Gonçalves Pereira,
entretanto transferido para Sintra. O
PCP, de acordo com Edgar Silva, dis-
ponibilizou os serviços jurídicos do
partido para os familiares das vítimas
que entendam recorrer da decisão.
“Há factores que não podem ser mi-
nimizados e há um conjunto de situ-
ações que requerem o apuramento
de responsabilidades criminais face
ao sucedido”, adianta.
Também o PS, proponente da aber-
tura de inquérito parlamentar que te-
ve o apoio de toda a oposição, pediu
a intervenção directa do procurador-
geral. À carta enviada a Pinto Monteiro
Mendes considera
caso inaceitável
Marques Mendes rotulou
este caso açoriano como
inaceitável. Na sua rubrica
semanal da TVI24, o ex-líder
do PSD expliucou porquê: “É
inaceitável, porque parece que
temos dois Estados dentro do
Estado. Inaceitável, porque
isto representa uma violação
do acordo feito com a troika.
Inaceitável, porque isto significa
que os Açores querem continuar
a espiral de endividamento (faz
obra agora e quem vier a seguir
que pague a conta).”
o líder socialista Jacinto Serrão ane-
xou duas centenas de documentos, in-
cluindo depoimentos de académicos e
especialistas que apontaram respon-
sabilidades políticas aos governantes
e autarcas que permitiram a constru-
ção em zonas de risco ou aceitaram
violações aos instrumentos de gestão
do território que, em conjunto com o
temporal, terão causado a morte de 48
pessoas e elevados danos materiais.
Pondo em causa a decisão do MP, a
Alberto João
Jardim considera
que a oposição
queria “o
absurdo de
culpar alguém
pelos aluviões do
ano passado”
que considera a proposta uma “de-
claração genérica de princípios do
regime jurídico da acção social” no
arquipélago.
O projecto, aprovado pelo conse-
lho de governo a 11 de Março, foi já
analisado em comissão especializada
que procedeu à audição da União das
Instituições Particulares de Solidarie-
dade Social, União das Misericórdias
e a Câmara do Comércio e Indústria,
tendo recebido ainda um parecer da
Associação de Municípios da região,
entidades que relevaram a importân-
cia de um diploma desta natureza que
reúne legislação avulsa publicada ao
longo de 27 anos de actividade na
área social. A discussão e votação da
proposta em plenário estão previstas
para a segunda semana de Junho.
PEDRO CUNHA
restante oposição apontou exemplos
de situações, como o aterro ilegal das
Babosas, o Ribeiro da Pena e a grua
do Laranjal, em que terá havido res-
ponsabilidade humana na tragédia,
mas o PSD inviabilizou a iniciativa
socialista.
O “trabalho célere” do MP, que
culminou com o despacho de arqui-
vamento exarado 14 meses depois da
tragédia, foi elogiado pelo governo
regional, que reagiu em defesa do
procurador acusado pela oposição de
“covardia” e de se ter deixado influen-
ciar pelo poder político. “A oposição
pretendia que o MP se deixasse ins-
trumentalizar politicamente, exigin-
do o absurdo de culpar alguém pelos
aluviões do ano passado”, respondeu
Alberto João Jardim.
CGTP defende
aumento do
salário mínimo
para 500 euros
a Carvalho da Silva, secretário-geral
da CGTP, garantiu ontem que vai lu-
tar para que o salário mínimo atinja
os 500 euros e prometeu contestar a
revisão das leis laborais que permiti-
rão “facilitar e tornar mais barato o
despedimento”.
Numa intervenção proferida no
final da manifestação contra a “in-
gerência” da União Europeia e do
Fundo Monetário Internacional, que
juntou milhares de pessoas que per-
correram o trajecto entre o Largo do
Calvário e os jardins de Belém, em
Lisboa, o líder da Intersindical subli-
nhou, citado pela Lusa, que o progra-
ma imposto pela troika “não é lei e,
tal como aconteceu na Grécia, não
responde aos problemas estruturais
do país”, apesar de o PS, o PSD, o CDS
e o Presidente da República estarem
“determinados em impô-lo”.
“O acordo das troikas é, objectiva-
mente, um programa político ao servi-
ço dos grandes accionistas de grupos
económicos e financeiros, nacionais
e internacionais”, acrescentou, no-
tando que Portugal terá, no final de
2012, o seu Produto Interno Bruto a
recuar para o nível de 2002, fazendo
retroceder, em 10 dez anos, a capaci-
dade de produção da riqueza nacio-
nal. Aos jornalistas, Carvalho da Silva
disse ainda que as taxas de juro que
serão aplicadas ao financiamento de
78 mil milhões de euros são “insusten-
táveis” e alertou para os resultados do
acordo: irá gerar “injustiças, desigual-
dade e pobreza” e implicará “perdas
irreparáveis” na saúde, educação, Se-
gurança Social e Justiça. E, atendendo
à revisão da legislação laboral, a CGTP
irá reivindicar a subida para 500 euros
do salário mínimo nacional.
Também no Porto, o protesto da
Intersindical reuniu centenas de ma-
nifestantes e terminou na Baixa da ci-
dade, na Avenida dos Aliados. À Lu-
sa João Torres, membro da comissão
executiva da CGTP e coordenador da
União dos Sindicatos do Porto, expli-
cou que a iniciativa serviu para “de-
nunciar” o “acordo de traição” com
a troika, mas também para apelar ao
voto no PCP nas eleições de 5 de Ju-
nho. “Estamos aqui para denunciar
este acordo de traição que foi proces-
sado nas costas do nosso povo e ainda
por cima depois de saberem quais são
os resultados de acordos semelhantes
feitos com a Grécia”, afirmou, acres-
centando que o plano de resgate é
“mais um entalanço para Portugal e
para os portugueses”.
O sindicalista, que critica a “pseu-
do-solidariedade europeia”, defendeu
ainda que “a maior parte das medidas
[do memorando de entendimento]
têm de ser escrutinadas na Assembleia
da República” e lembrou que as elei-
ções representam “um dia importan-
tíssimo da luta dos trabalhadores por-
tugueses”, em que “o voto é decisivo
para alterar a correlação de forças”.