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Conceituacgado de ideologia No século XVilt, Destutt de Tracy, filésofo frances, de- senvolveu o termo ideologia para indicar uma ciéncia sobre a ideias. O intuito era abservar o funcionamento da raz3o 1no ser humano por meio das construgoes mentais, com vis- tas a entender a elaboracdo do pensamento humano. € di- {ici definir ideologia sem se referir as crencas e aos valores ue os individuos constroem no decorrer da vida, principal- ‘mente sob influéncia da cultura de sua sociedade. Dizer que alguém segue determinada ideologia significa apontar suas concepgées e seus entendimentos a respeito da vida e de seus acontecimentos. Essa passeata contra 0 aborto é uma demonstacao de ideologia, Conforme Boudon e Bourrcaud,falarse-s, enim, de ideolagia se o sistema de valores ou, mais genericamente, de crencas, por um lado, nio recorrer as nocées de sagra- do e de transcendéncia e, por outro, tater sobretudo da ‘rganizacao sociale poltica das sociedades ov, mais gene- ricamente, de seu devir (BOUDON; BOURRICAUD; 2004, 1. 276). Quando se fala de crencas, hé também referencia bs concepcées religiosas, porém a ideologia nao se remete necessariamente a esse fator¢, sim, 2 outs idesisesigni- 6: Grit yrecficados da realidade, A ideologia, nesse sentido, consttuia ty eedAibleréncia de individuos, partidos politicos, organizacoes & tantos outros grupos. Fundamentados nela grupos ou indi- viduos estabelecer seus objetivos de vida, a forma de rea- lizac suas atividades, de entender o mundo... Considera-se exemplo disso uma citagao de Marilena Cchaui, no lvro O que ¢ ideotogia, quando ela se refere a rmontanha como uma “coisa” que ganha significado a partir das concepsbes dos individuos Saponhainos que pertencemos a uma sociedade cuja religido ¢ politefsta e cujos deuses sto imagi- nados com formas ¢ sentimentos humanos, embo- ra superiores aos dos homens, e que nossa socieda- de exprima essa superioridade divina fazendo com ra que os deuses sejam habitantes dos altos lugares. A montanha jé ndo ¢ uma coisa: &a morada dos deuses. Suponhamos, agora, que somos uma empresa capi- talista que pretende explorar minério de ferro e que descobrimos uma grande jazida numa montanha, Como empresarios, compramos a montanha, que, portanto, nao é uma coisa, mas propriedade privada. Visto que iremos exploré-la para obtencio de lucros, nao é uma coisa, mas capital. Ora, sendo propriedade privada capitalista, s6 existe como tal se for lugar de trabalho. Assim, a montanha nao é coisa, mas relacio econémica e, portanto, relacao social. A montanha, agora, ¢ matéria-prima num conjunto de forgas pro- dutivas, dentre as quais se destaca o trabalhador, para quem a montanha é lugar de trabalho. Suponhamos, agora, que somos pintores. Para nés, a montanha & forma, cor, volume, linhas, profundidade — nao é uma coisa, mas um campo de visibilidade. CCHAUL, Malena, 1994. p. 17. 31 PAE Gin) tIZACAO Sale Eaemel no da esttca de Seen eas eovole a pin sar, dense say Se pesca vere omnes Iso escarece a maneira como uma “coisa” pode g2- nar tantos outros significados, dependendo do ponto de vista do individuo ou grupo. Caso se acredite que a mon- tanha sea a morada dos deuses, as atitudes em relacdo a ela serdo de adoracdo e cuidado com o local sagrado, 20 ontrario dos proprietirios da montanha que podem con- cebe-la como matela-prima, violando-a para exporar as jazidas. Apesar de ser apenas exemplo, pode-se perceber ual aideologia das pessoas por interméio das frases que, representarn seu pensamento Por que as pessoas entram na faculdade? Para ar~ rumar um emprego. Eu jé tenho um trabalho. ‘Aut Lavigne, cantora pop canadense,expicando por que no que fazer graduado, em entievsta ao ornal otha de. Paulo, 12 st. 2005. Digitalizado com CamScanner Ela é tao magra que nunca arranjaria marido aqui na tribo. Indio do Xingu, sobre Gisele Bundchen, que visitou 2 tribo como namorado, Leonardo DiCaprio. Revista Epoce, 6 set. 2004 Mussolini nunca mandou matar ninguém. Mandava as pessoas passarem férias no exilio. Silvio Berlusconi, primeiro-ministro da Italia, ao descrever o ditador ¢ fascista Benito Mussolini. Revista Epaca, 15 set. 2003. COLIVEIRA; COSTA, 2007. p. 109-110. Cada frase expressa a maneira de 0 individuo entender a realidade, o mundo, ou seja, sua ideologia de vida. Nao quer dizer que esteja certo ou errado.—y cnave) “~Baistem outras possibiidades de entendimento do ter- ee mo ideologia, como a concepcao marxista de que haja uma 15" (ie consciéncia” sobre a realidade, estabelecendo uma viseira que direciona o ponto de vista do individuo. € como ce ele olhasse sempre para o mesmo lugar, excluindo os 2r- redores, mantendo visao dnica sobre a realidade. Para Mars sss vigio nao foi constituida pelo individuo; ha uma sobre- posicdo dos ideais burgueses na socedade, instaurando uma ideologia capitalista que atenda aos interesses burausse se aproprie das habilidades dos operari st cao contral ~~ Segundo Raymon podem-se estabelecer trés concep Como sistema de crengas de uma classe ou gru- po social. Nessa concepgao estariam incluidos va- Fores, ideias e projetos de um grupo ou classe social especificos. ‘Como sistema de crengas ilusérias — 0 que se costuma chamar de “falsa consciéncia’. Essas cren- gas ilusdrias, baseadas em critérios impossiveis de ser rastariam com o conhecimento 1d Williams, citado por Tomazi (2000), oes de ideologia: comprovados, cont yerdadeiro ou cientifico. Como 0 processo geral cados e ideias. de produgio de signifi- TOMAZI, 2000. p. 180. | Desse modo, é proprio dos grupos socials ter uma ideo- logia, seja como referéncia de comportamento, como mas- caramento da realidade, seja como expressao do entendi- mento da sociedade, a fim de significar ou orientar a vida em sociedade. Digitalizado com CamScanner

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