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Pade. 303 JOR CORIO est i Jew Ohad Frgin Cacti, fn Petrie bcs 2060 0 conbesiniena ete ala Quai sx Pada pv ee ‘sales Inpleada po con ‘lo decimieio ta greta He decile S08? Qu a ogden eae ben stating ‘vn far oo font de elses dy al tn? Zain, Jen de Fein fas una sesso faut dc dienes eve, ‘eds tle ie ieniaran dr respstst es Ss 6 obtas quevdes wlremes a0 euneals efeecent Desiaquese © arbatho do avior em tagar eserves forms d aera a questo do cei © du eds, dus formas em pet. ITapene iensic: 4 sbondagem sceehégea ea” shortage pedapdges, People anliieg es pempectia prescia, Lange deat re ‘there erie, Jan led Pea a ea 9 cade arn deta sisiacando surs respec thas conniburs 3 Compreensto d erbel Peni excl. inséo:conleidase nfo cure! Guals + tenuate hentia 4 . _ if JeanCh pas es : te VURLIID F VIOOST ESCOLA E- , CULTU as hayes soeiais “s ¢ epistemoldgicay Uo combecinenta eserslay. 0 Prefacio Este livco constitui a versio abseviada e reformulada de minha Tese de Dovtorndo de Estado em Letras e Ciéncias Humanas, preparada sob a orientagio Conjunia de Olivier Reboul, professor de Filosofia da Universidade de Cincias, Humanas de Estrasburgo (Estrasburgo 2) ¢ de Lovis Legrand, professor de Ciencias, aa Edveasio na Universidade Lovis Pasteur de Excasburgo (Esiesburgo 1) © ofendida er 12.de junho de 1987 na USHS.' Fat feito um esforgo pars apresentar ‘aqui ura texto mals legiel, sliviado de uma parte de sua carga dooumental bibliogréfica de sua extenséo, gue conserva, entretanto,o essenclal do contelde de informagio © de pensamento do texto original. A conclosto fbi quase inteira- mente reascrita. ‘Agrideso 805 professores Olivier Reboul ¢ Louis Legrand por terem aeeitsdo ‘oricalar este (rabalho, assim como 20s professores Miche! Tardy, Jean Hassenforder e Brie Plaisance, respectivamente presidente e membros da banca examinadora, Agradecimentos devem ser também dicigidos a todas as pess0as que, em diversos _niveis, em particular da Esoola Normal Superior de Saint-Cloud (depois Fontenay- ‘Ssint-Cloud), contribuiram por seu auxflio ¢ seu apoio para a realizaglo deste trabalho de tese © para producto do presente livro. Nota 1 Jean-Claude Forguin: Le dat sur cole tla cltare chet les undorciens ei socologues de {education en Grande-Breragne (1960-1985). Texe de DowioradadeBsindo, 1987, Barasbutee, Universidade de Citncias Humenas de Esrosburgo, 2 vel, 662 p.,disponvel soba forma de rmicro-fcbas (Atelier Nelionl de Reproduction dex Theses, Universidade de Lite TL, SSN 10294-1767, exe n® 87,01.05039/88), aay wie Te IntrodugZo - Curriculo e cultura J. A edueago € a quesiio da cultura Je todas as questdes suscitadas pela reflexio sobre os problemas da educspo desde 0 comego dos anos 60, as que se referem & funcio de tansmissio cultural {a escola slo, 20 messio tempo, as mais confusase as mals crucais. Ocorre que ‘as dizem Tespeio a0 pibpri conteddo do processo pedugSgico e tuterpelans 0 professores no mais profusdo de sua ideatidade. Se aH0 bd realmente ensino possivel sem 0 reconheclmento, por parte daqueles ¢ quem eusino é: ceria legiinidade da coisa ensinada, corolério da autoridade pedagégica do javfessor, 6 necessério immbém, t anies de tio, que este senlitieato seje parilhado pelo pe6peo professor. Toda pedagogia cinta, ito €, cousciente de al como manipulagto, meatira ov passatempo fi, desteuiria a si mesma: ninguém pode ensinar verdadeiramente se no ensina alguma coisa que seja verdadeira ot ‘alida a seus proprio» onus, Esta nog de valor inirnat + modestamente, a certas refleies particulermente esclarecedoras propels por Hannah Arendt, quando els déstaca as implleagdes educativas fundamentals aqui que ela cham “a natalidade”, o fio de que 0s seroé humanos nascent am ‘mundo que preexiste« eles, que nfo 6 naturaltente 0 seu, ¢ no interior do qual s¢ tem a resporsablidade sbsoluta de introduzi-los e de acolht-lo como os sucessores Imprevisivelmente novos, ctgos no enianto enquanio nip se hes € dado ver o vistvel, paralitcos enquanto nfo se lhes & dado percorrer aqulo que & percortvel. Com a concepedo e o nascimento”, esereve Haamah Arendt (em La crise de ‘culture, taduslo, 1972, p.228), os pais ndo deram somente a vidaa sous flhos, les, 20 mesino tempo, intcoduzirin-nos cm um mundo, Educando-os, eles assumen« tesponsabilidade da vida e do desenvolvimento da erianga, mas também 16a confinsidade do mundo. Betas dies respousabitidades nfo colneldem de mado ‘gum ¢ podem mesmo eatrar em conflito, Num certo sentido @ responsabilidade -do desenvolvimento a erianga vai contra 0 mundo: a erianea tem aiito patiou- Termente necessidade de ser protegida e cuidada para eviar que o mundo possa destrutla, Mac este mundo também tei necessidade de uma proteedo que o impesa -de ser devasiado e destru(do pela vaga dos reoém chegados que se precipita sobre ‘den cada gerario"”. £ por isso que, gara Arendt, esta responsabilidade de designar ‘mundo, de dizer: "Eis nosso mundo”, que cabe aos adultos diane destes ecém- chegudos, 05 quais devem sobrevivere substitu-los em seus reinadas, supe uma aitule fundamentalmente coviservadors, ou, mais exataoiente, preservadora. “O fito de aprender esidinevitavelmenta voltado para o pessado”, escrove ele (9.250), 60 papel do educador supe ‘um iméaso respeito pelo passado” (p.248), E com twta daien condida que, paradoralmente, nés delxaremos para nossos filhos “sua chance de empreender quslquer coisa de novo", que nés 0: preparuremos para “a tarefa de renover 0 mundo comim’” (9.252), Entretanto, observa (p.247), “apesar de toda & ugurelice da mods sobre um nove conservadorismo, hoje éextremamente iflll de apegar-se & este rafnimo de conservagdo ¢ = esia atltude consecvedora som qual 2 educasao 6 totale simplesmente imposs(el. ‘Toda rellexdo sabre a educagdo ¢.4 cultura pode assim parti da idéia segundo 4 qual o que justifea fundamentalmente, e sempre, o emopreendimento edueativo 4 responmbilidade de ter que mausmitir © perpetuar.@ experifncia humana 1 Dois pontos de vista opostos sobre aescolaea cultura: Williams e Bantock debate sobre os fatores calturais da escolarizagio, que st desenyolveu na /Gri-Beetanha a partir dos anos 60, insoreve-se nlm espago no quai Raymond, Williams e Geoffrey H. Bantock conslituem dua ceferEncies essenciais ¢ diame- tralmente opostas. Estes dois autores ligan-se, um e ovito, a uma tradigo de exsamento muito tpica dos “intelectuas literfrios™ britinicos desde o comego o séoulo dezenove, que pode cacucterizar como uma tradi¢fo de reflexdo sobte aculturaede “critica cultural” da civilizagZo burguesa eindustish. Como lembea ‘Lesley Johnson numa obra consagrada a esta corteate dos “cultural rites” (1979), ‘o.conceito de cultura, antes de tornar-se ne século XX um importante insteumneaio de andtise para as ciencias sociais positivas, serviu primeiramente, com efeito, come instrumente gs ergumento polémico ene os esecitoes que estavam funda- mentalmente em desacordo com as novas endéncias 4 desenvalvisiento da sociedade. Mas ele esteve lambém,no centro das altecativas mais ou mecos ‘udpicas nas qusis desembocaram freqUentemente as crflicas trazidas por estes aulores, em estreitaligagio com a afiqmagio de novas exigSncias em matéra de ‘educagio. Sabe-se, na verdade, no minimo através da anslise muito sugestive que Propée o préprio’ Williams em seu liveo Culture and Society (1958), que ignificagfo sociale politic desta corcente de “‘riica cultural” esteve longe & ser unvoea: @ desconfianga dos “inelectuais lierdrics” em relaggo eo mundo industrial e& “civlizagio mectinica” era portadora de poteneialidades eoutradt6- es. Em Williams, como em alguns escritores ligados a0 socidlismo, desde 0 steulo XTX, a reflexio sobre a cultura inssreve-se no contexto de unia adesio niltante aos ideals modemnas da democracia. Em oulros autores, dos quais Bantock é sob alguns aspectos herdeiro, ela conduz anes @ um tipo de elitismo ansioso ¢ por vezes nostélgico. Uma breve evocaglo da contribuigho de alguns seatre eles para esta reflex (essencialmente Arnold, Leavis ¢ Eliot far-n0s-4 Escola e cultura 29 compreender melhor alguns aspectos do content intelectual no qual se desearola hnoje nt GrisBretanha @ debate sobre o eurrfeulo ea cultura. 1. Os “intelecsuais inertrios” e a quesiéo da eulttra +B com Coleridge que aparece pela prisita vez no voesbulésio inglts, segundo ‘Williams (op.cit., p-74), 0 termo “cultivation” tomado no sentido de disposisio, marcira de ser geral ol bébito do espfrito. Pera Coleridge, a cultura reside 10 ‘desenvolvimento harnjonioso desta qualidades faculdaces que nos caracteritamm enquanto homens” (1830, citado por Willisins, p.121). E esta nogio de eultura como disposigdo cultivada é oposta por Coleridge & de civilizagao, pois que 2 civilizagdo acha-se completamente a0 lado da exterioridade, 20 lad das oaisas, ‘enquanto que a cultura como exigéncia humana de pérfigao tem sua origem na intimidade da conscitncia. Entretanto, pare Coleridge, como para Burke jf antes dele, 08 esforgas pessoels do hosnem com vistas a 308 aperfsigaamento espicitial podem ¢ devem apoiar-se sobre 28 instituigdes, que so como as condigSes socials, ‘06 suportes socioldgions da cultura. Para Coleridge, a responsabilidade social da ‘reservaglo eGo desenvolvimerto da csltera com disposigfo esplritual cabe a ‘uma classe social partic, dstnta da ristoeracia funditri (base da permanancia a nao) bem como da burguesis industrial e comercial (origem de seu progresso matedal) « que s pode denominar de clase dos olfcigns (“Clerisy"), espécie de {grojaracionel consitufda de todos 0s homens instrufdos ras elénciag nas “uttes liberais™, devoteda conscrvagio da meméria coletiva ea difusio do saber no sefo da communidiade. ‘Algumas décadas mals tarde, feencontra-se em Mattew Amold (escrito, ertico ‘© ambém pedagogo c inspetor escolar) esta oposig&o entre 0 earfiee “exterior”, mectiieo, de nova civlizagin criada a Inglaterra pela indusrializagao (que denunciada, por seu lado, entre tantos ovtcos, por Thomas Carlyle) eo carilec intecro, ou interior, de exigénclaculturl. Em sev importante ensaio Culture and Anarchy (S809), te define, com efeito, 2 eultura como “a busca da perteiglo pessoal total alravés do conhecimento, sobre todos os assunlos que mais nos oncemém, de tudo o que foi pensado e dito de meltor no mundo” (1923, p. VIN). ‘al definigdo, que se une evidentemente & proposta na mesma époce (1852) por LH. Newman (“o exercicio do esptito com visius& sus prépria perieigio"), far sobresstir, contudo, 0: fundimentos “objetivos” desta busea subjetiva de casptitocultivado & aquele no qual se eflete, se condensa ese purifica 4 meméria do mundo. Enicelanto, nenhumna classe socia] tem, segundo Amokd, voeagio natural pam encamar ¢ defender, no seio ds saciedade democrética moderna, cujo advento considera inevtivelGempre denuncfando as tentayées do ‘eta Exigtncia de perfeigdo interna. A iia nova. Asclasses médias 30 Jean-Ctoude Forguin Industinis eee wutmante Jigadas a esta eivilizagéo “exterior”, que € 8 do maquinismo ¢ da eficdcia econbmica, As massas populares estio Tigadas a ext mesma eivlizasdo, descjosas de inlegrarem-se 0 mais possivel 28 classes médias, ‘ov entia condenadas cegueirn e A violEncia. Isto significa que a salvagio cultural nfo poderd Vir senao de um poder copaz de transcender as divisGes sovais, de impor-se como “fonte de luz ¢ de autoridade” e como forga cducadorn. Este poder ‘eabe uniearnente ao Estado moxerno. Daf a reapcoximsio, sugctida por Lionel ‘ailing (1963), com 0 concolto platbnico de RepibTica. Existe uma afinidade evidente entre as concepeées de Arnold © aqueles esenvolvidss mals recentemente pelo ertico Iiterdrio Frank Raymord Leavis. O titvlo do ensaio Mass Civilization and Minority Culture pudiicado por Laas em. 190 6 revelador. Para Leavis, como para Coleridge um século antes, existe uma oposigfo entre civilizagao ¢ cultura, ¢ as reslizagtes, 05 manciras de ser que a palevra “cultura” recobre constitvem qualquer coisa de guaitativamente superior ‘1 1udo aquilo que traem os “progressos da civilizagdo”, mas s6 uma minoria pode. ser capex de manter estes valores supetiores, a0 prego, mais freqientemente, de ‘uma lut contra o meio host da ‘civilizagio de massa’, Para Leavis, esta minoria slo eles que sfo capazes ico iterdtia as potencialidades mais sutis da Jinguagem. HE, pois, assim, em muitos dos “ntelechals lterdrios", de Coleridge a Leavis, ‘uma enfase “eristocrsica” na definiggo de cultura: enquanto conjunto de qi des ¢ disposigdes subjetivas volisdas para uma certaperfeisdo individual, @ culty ‘io €0 bem de todos, a pstlha de todos, No erdanm a qualidade geral da existénc coletive depende da presenca 10 corpo do maguinismo ¢ do indus ametcada, ab mesmo tempo, de unifarmizagio ¢ de desagregasio, €0 nivelémento cultural, # coccupgéo do gosto, o predomtnio universal da trvialidade earacterizam, 46, 805 olhos de Leavis como aos de Arnold, um grande pals como América, ‘Fara esies attores, a persisténela de uma elite insubmissa a fei da massa ¢ impermedvel & conlaminagdo wtilitacista constitu, numa sociedade moderna, um penhor de continvidade espiritval ede manutengi0 desta vnidade “orgfnica”, sem 2 gual rao hf comsusidade possivel, Com as Notes towards the Definition of Culture, de T.S, Pliot (1987), 9 postulacdo arislocrdtica pereeptivel em toda a problemética da cultura herdada do ‘omithtisme encantrs-s¢ acentuada ¢ levada a um nfvel quase doutrinal, Fara Eliot, ‘ali culture 6 € deve permanecer essencialmente minoriifria, pois todo esforgo pro diftndicla em grande escala e para fixer © conjunlo do corpo social beneficiaege dela nfo pode senio destctila, Mals ainda, enquanto autores como ‘Ammold ou Leavis acibuem a responsebilidade da preservagao edo desenvolvimento dd alls cultura a ume elite aberta, independente das claszes sociais tradicionais e ‘quese renovatia de qualquer modo pela cooptacto ““meritoerdtica’, Eliot sustenta ‘que nfo poderia haver continuidade ex tural sem ttm minimo de exttiNidade social Escola e cultura ”

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