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LATINOAMERICA. Y DERECHO EN EXPOSICION -VOL. VII Coordinadoras Francieli long Ieolani Jaqueline Sampaio de Oliveira Colaboradores ‘Adilson Silva Ferraz Aadileon S, Santos ‘Ana Cléudia Moreire Miguel Philippini “Anny Mayra Ferreira Benevides ‘Brenda Ciclaika Vanegas Leon (Camila Ferreira Ramos Danicle Ferron D'avila David Chingui Chissevo Deborah Marques Pereira Fabiola Aparecida Delben Costa George Fernandes Geyson Magno Térres Monteiro Tury Peixoto Souza Jannice Améras Monteiro Leidiany Alves Reis Vitor Linketynci Souza de Freitas Luis Eduardo Pombo Celles Cordeiro Marcelo Augusto Travezani Maria Gabriela de Assis Soves Michele Cristina Michelan Plauto Cavaleamte Lemos Cardoso Renato Augusta de Aleintara Philippini ‘Walter Gustavo da Silva Lemos Goprish © 2017 by Coordinadoras« Golaboredores napresso no Brasil Printed in Baal Diagramagion as Souza Revisio DaAwers Dios Ineracionss de Catalogo na Pblicagto (CIP) Fish Calapan sr Linoametis y derecho en expeicign./ Frail lung tele, Jaqueline Sampaio de Olveis (Coordmadoas) = Olin: Lia Rapid, 2017, 282 p.; Grafs Tab 3. VL CComtene bibliog lial e cad apo ISDN 976-95.5707-653-4 1. Derecho. 2. Derecho comparado. 3. Derechos Ihumanoe 1. loli France hang, Olver, Jrqucine Sampaio de. I Tilo 240 CDU (1555) Fabia Belo ~CRB-A/1463, Livro Répido Editora ~ Eigica Coordenador editorial Mal Obie us Dr Jofo Tavares de Mour, 5799 Peixinhor (lines PE CEP: 53230-290, onc: (8) 21215307 (61) 2121 5313 Tionpido@uebeloge co O LINCHAMENTO PELAS REDES SOCIAI! Estamos retornando a Revolucao Francesa ‘Walter Gustavo da Silva Lemos! Tury Peixoto Souza? 1INTRODUGAO A Revolugio Francesa, que se desdobrou no ano 1789, € tum marco, para a chamada Idade Contemporsnea, tanto que os historiadores delineiam este cenério de marco que faz nascer a Idade Contemporanea, devido a radicalizacio politica que se fez presente, ma Iuta social empreendida contra os mandos desmandos dos governantes para com 0 povo. Na data de 9 de julho de 1789, houve uma Assembleia Nacional Constituinte, com o fito de edificar uma carta magna para a Franca, Significando assim que Rei deixaria de ser a pessoa que exercia de forma soberana ¢ absoluta os poderes do Estado francés, vez que jé no atendia os interesses do seu pova e dos camponeses, lutando para manter os seus proprios privilégios, da aristocracia ¢ das classes religiosas. ‘A burguesia da Franca, em contra partida, instigou, apelando para 0 Povo uma resposta quanto uma manifestacio, de forma que no dia 14 de julho de 1789, a populacio parisiense, em sua grande maioria, avanga, para a chamada Bastilha, que era uma Doutorando em Direito pela UNESA/RJ. Professor da graduacto do curso de Direito da FCR - Faculdade Catslica de Rond6nia ¢ da FARO ~ Faculdade de Rondénis, ministrando a disciplinas de D. Internacional Hermenutica Juridica 2 Graduato na Faculdade Catdlica ~ FCR. Pos Graduando em Dieito Civil & Processo Civil pela Faculdade Catélica ~ FCR 361 prisio onde ficavamn os presos politicos, 0 que era um s{mbolo da Franga Absolutista. Nesse momento de protagonismo dos camponeses, houve a percepgio dos mesmos da fragilidade da nobreza ¢ invadem castelos, num carter de revanche aos nobres detentores da Fiqueza por tanto tempo. Tais atitudes, contra propriedades também feudais, foi encabecada e apoiada por intelectuais da €poca, que via essa uma forma ideal para exigir reformas na sociedade Francesa da épaca Mais € justamente nessas atitudes da revolugio que desencadearam algo que posteriormente ficaria incontrolével, 0 6dio da populagio, que apoiariam depois linchamentos © decapitagio, posteriormente, inclusive dos Arquitetos da Revolugio Francesa, como Maximilien Robespierre. ‘Aqui se encontra 0 norte principal do presente artigo, jé que o descontentamento geral do povo francés desencadeou o que 1d de pior na populagio como sociedade em si, com uma onda de linchamentos, mortes birbaras, execugSes puiblicas, penas de morte € a utilizacio da tortura como priticas empreendidas pelo povo ou pelos governos da época na busca de reformas com absolutismo ¢ suas mazelas. © uso da violéneia era corriqueito € constante, nio somente do governo real na tentativa de se manter no poder, como por aqueles que ascenderam a0 governo apés a deposigio do Rei Neste ponto, podemos ver que este tipo de pritica possui muitos seguidores, que acham que a obtengio de uma sociedade ordeira e pacifica se estabelece por via da promogio da violéncia, da forca e do autoritarismo. ‘Mas este tipo de pritica tem encontrada muitos adeptos no Brasil nestes tempos, jé que o pais vive um turbilhio de escindalos de corrupgio, malversagio do dinheito piblico, 362 | ‘ 1 | conjuntamente com uma crise na sua seguranga publica ¢ nascimentos de polos efervescentes de antagonismos ideolégicos nna opiniio piblica, onde um grupo cada vez maior clama pela promogio de agées de justica privada. Mas como esas reag6es_politicas podem virar fundamentos desenfreados, voltado até em discursos? E possivel ver isso em opiniées odiosas em redes sociais, de pessoas para com as outras pelo simples fato de pensar diferente politicamente, 0 que tem levado 8 separacio da convivéncia social de quem pensa diferente. £ perceptivel tais atos também pelo afi de vinganga que corre em certas atuagées piiblicas, em todas as esferas e poderes. ‘A sociedade jé tem agido na promogio da autotutela, colocando risco os demais membros da sociedade, inclusive a si préprios quando fizem justica com a prépria mio, com pessoas que cometem supostamente algum ato _ilicito. ‘Temos recentemente 0 caso do tatuador, que tatuou na testa de um suposto ladr3o que tentava roubar sua bicicleta; “eu sou ladrao ¢ vvacilio” Tal situagio gerou uma série de debates sobre a conduta coercitiva do tatuador, mostra que a sociedade hoje ainda atua com 6dio, © com sua espécie atualizada, pelos dias atuais de linchamento, tanto por crimes de 6dio pela internet, ou por sitwagdes como essa. ° Hlomem tatua “sow ladro e vacilio” na testa de suposto criminoso em sua ‘eas, Noticia por Marcelo Gouveia. Dispontvel no enderego eletnico: < hixpy/snwjornalopeao.combrfaltimas-noticia/homem-tatua-sou-ladra0-ew vacilao-na-testa-de-supasto-criminoso-em-sua-c2sa-96948/> 363 2_ DOS LINCHAMENTOS NA EPOCA DA REVOLUGAO FRANCESA Na Revolugio Francesa tinha-se séries de mortes e linchamentos, acobertado pela propria sociedade, que comecou invadindo castelos de Nobres ¢ posteriormente acobertou a pena de morte institucionalizada pelo proprio Estado através da guilhotina, que desencadeou uma falta de controle no decorrer do tempo. Contudo, mesmo com seu cariter de acontecimento de importincia incontestével, houve analistas que se colocaram de forma diversas 3 sistematizagio que a Revolugio Francesa acabou findando, Um deles, Edmund Burke, em 1790 ja alertava sobre a ameaca do radicalismo dos revoluciondrios _ franceses. Posteriormente, no século XIX, o historiador francés chamado Alexis de Tocqueville, estabeleceu uma critica particular Revolugio de 1789, trazida no livro O Antigo Regime e a Revolugio. Tocqueville, a0 analisar os antecedentes da Revolucio Francesa, afirma que esta foi um levante politico-nacional, nos ‘mesmos moldes que havia acontecido na Inglaterra, em 1688, mas que a Revolugdo Francesa fora arquitetada pelos interesses de poucos ¢ na implementagio de um sistema de pensamentos internacionais, encabécadas pelos filésofos iluministas do século XVII Esses ideais citados pelo autor, na sociedade francesa instigava a busca de uma atitude revolucionéria, nio voltada apenas em nome dos cidadios franceses, mas em prol do Homem, € do Cidadio de maneira geral. Com efeito, 0 que construfa com ssa ideologia, era bem mais a tal “revolugio da burguesia", mas, sim um movimento maior. Sendo assim, Tocqueville fez um paradoxo com as revolugdes religiosas: 364 A Revolugio Francesa agiu em relagfo a este mundo cxatamente como 2s. revolucSes religiosas operam em relacio ao outro. Tem considerado 0 cidadio de uma mancira abstrata, fora de qualquer sociedade particular, da mesma maneira como 3s religibes consideram © homem em geral, independentemente do pais ¢ da época. Nio pesquisou tio-somente qual era o dircito particular do cidadio francés mas também quais os deveres ¢ direitos gerais dos ‘homens em matéria pol Como parecia aspirar_ mais ainda a regeneracio do género humano que 3 reforma da Franca, acendew uma paixdo que as revolugées politicas 2s mais violentas jamais conseguiram produzir até entio. Inspirou 0 proselismo © gerou a propaganda, revolugio religiosa que tanto apavorou os ccontemporineos, ou melhor, tornou-se ela propria uma espécie de nova religiéo, uma religiéo imperfeita, € verdade, sem Deus, sem culo, sem Além, mas que, todavia, como 0 islamismo, inundow toda a terra ‘com seus soldados, apéstolos e mértres. Dessa forma, a revolugio desencadeou uma série de manifestagoespoliticas, porém que desencadearam 0 fator violento da populagio, com 0 abuso da violéncia no empreendimento de ato de revanchismo. O maior exemplo foi o caréter politico institucionalizado pelo Estado através da Guilhotina, “ TOCQUEVILLE, Alexis. © Antigo Regime e a Revolucio. Trad, Ywonme Jean, Brasilia: Editora Universidade de Brasilia, 1997. P. 60. 365, Através do fim da monarquia Constitucional, na propria revolugio, teve como consequéncia a extingio da Assembleia Constituinte a Convengio Nacional de um novo parlamento. A partir desse marco, partiu-se para 0 radicalismo jacobino exacerbado, comandando a revolucio, momento do qual, ficou conhecido como fase do Terror do levante francés, Nesse perfodo, uusou-se indiscriminadamente a guilhotina como méquina de punigio, que ceifou a vida do rei Luis XVI e sua esposa Maria Antonieta, ¢ inclusive mataria, Robespierre, que figurava entre um dos protagonistas Jacobinos. A guilhotina era utilizada de forma implacivel, perante a elementos que supostamente poderiam fazer parte de algum rotagonismos junto 20 povo, contra aos ideais da revolugio. Ou seja, para aqueles que no eram apoiadores da revolucio, tinham como destino 0 uso da forga em seu desfavor. Em 1795, a burguesia conseguiu retomar o poder ¢, através de uma nova constituicio, instituir uma nova fase 4 Revolugio, chamada 0 Diretério, érgio composto por cinco membros indicados pelos deputados. Mas a partir deste mesmo ano a crise social se tornou muito ampla na Franca, 0 que exigia jum contorno politico mais eficaz, sob pena da volta da radicalizacio jacobina’ Com efeito, isso traz a0 ponto principal do texto, que é Justamente como a revolugio Francesa apesar da sua importincia crucial para humanidade, apresentou um cardter perverso da sociedade que através do radicalismo, advindo da insatisfagio de como se encontrava o Estado, quanto a falta da representatividade a populagio e pela fragilidade econémica, chegou a matar nobres * FERNANDES, Claudio. Revolugio Francesa. Disponivel no site: < |bepy//historiadomundo.uol.com.br/idade-moderna/revolucao-francesa.him> acessado em 1 de jumbo de 2017, 366 em nome de suas ideias, ¢ institucionalizou, posteriormente, a morte através da guilhotina, acatando ceifar a vida de outros seres, humanos, pelos simples fato do antagonismo politico que apresentaria 3 DA LIBERDADE DE EXPRESSAO E AS SUAS LIMITAGOES © Estado Democritico de Direito presente no Brasil salvaguarda a liberdade de expressio, mas também prever sua Timitacio, para casos que a liberdade pode ferir direito inerente a foutrem, sendo que neste momento deve se mitigar a aplicacio desta liberdade para garantir a aplicagZo de outra, Na Constituigio Federal Brasileira, nos artigos 5° e 220, ¢ pargrafos, tratam desta matéria de forma bem delineada 20 prescreverem Art, 5%, IV ~ é live a manifestagio do pensamento, sendo vedado 0 anonimato; (o)IK ~ € livre a expressio da atividade intelectual, anistica, cientfica © de comunicacéo, independentemente de ccensura ou licence: (-) XIV ~ 6 assegurado a todos 0 acesso 4 informagio e resguardo do sigilo da fonte, quando necessirio ao exercicio profissional:® w Art. 220- A manifestacio do pensamento, 2 criagio, a expressio © a. informasio, sob qualquer forma, processo ou veiculo, no © BRASIL, Constinsigio (1988). Constituiglo da Repiblica Federativa do™ Brasil 367 sofferio qualquer restrigio, observado o - disposto nesta Consttuicho, §1° - Nenhuma lei conteré dispositive que ppossa constituir embaraco 3 plena liberdade de informagio jornalistica em qualquer veiculo de comunicagio social, observado 0 disposto no art. 5°, 1V, V,X, XIII eXIV; §2° - B vedada toda © qualquer censura de nnatureza politica, ideolégicae artistica” Entretanto, hé um ponto em que a propria organizagio de Estado, para a melhor convivéncia em sociedade, necessita promover a mitigagio da liberdade de expressio? Sim, é possivel descrever tal assertiva, j4 que este preceito, fandamentado como primordial no nosso ordenamento, parte do pressuposto que tal liberdade s6 € mitigada se ela for uma clara infragio a dignidade de outrem ow a outras liberdades que a propria norma resguarda. Nessa linha de raciocinio, a liberdade de expressio no pode ser considerada um direito absoluto, de forma que em hipotese onde 0 exercicio de tal liberdade quebre o direito constitucionalmente previsto por outrem, hi de existir essa Jimitagio, assim como sua consequente punigio. Com efeito, a ‘mesma premissa vai para expressio intelectual e artistica, pois se uma determinada obra literéria pregar preconceito contra uma tminoria, ela pode sofrer a punigio com sua retirada de circulacio. ‘Um exemplo bem emblemitico, ¢ trabalhado nesse artigo, € a forma do abuso do direito da liberdade de expressio, que trabalhada através do discurso de édio. © mesmo existe quando tum cidadio usa de seu direito a liberdade, para discriminar outro 7 Op. Cit 368 individuo, com fandamentos em sexo, etnia, orientagio sexual, religifo, e etc. ‘Como € not6rio, volta e meia vemos em comentérios na internet, a natureza humana se aflorando de forma bem negativa, tecendo comentarios por vezes discriminatérios, pelo simples fato de discordancia de opiniao. Desa forma, € incompativel que tis condutas preconceituosas possam acontecer no Estado de democritico, tendo em vista que qualquer discurso que pregue édio, nio € acobertado por qualquer principio ou norma do nosso ordenamento; muito pelo contritio, © Estado democritico preserva primordialmente © principio da dignidade humana, que rio pode ser ferida por danos a honra Um dos desdobramentos para o nosso atual momento de sociedade tecnol6gica, ligada pelas redes sociais, sio chamados “haters”. © ataque de um haier pode vir de vérias maneiras, mas sgeralmente as provocagies sio feitas por comentérios péblicos ou ‘mensagens privadas. Este termo é um meio de definir pessoas que postam comentitios de édio ou critica sem muito critério, aproveitando postagens realizadas por outras pessoas nas redes sociais para empreender suas agGes de propagacio da ir A tendéncia seria de utilizar a dignidade humana como baliza ou limite a0 direito de liberdade de expressio. Contudo, no no sentido de um limite fundado no direito geral da personalidade, como é inequivocamente aceito, mas sim como um obsticulo as ofensas proferidas coletivamente contra determinados grupos étnicos, religiosos on, ainda, contra aqueles que possuem * LEMOS, Walter Gustavo da Silva. Hater ¢ a propagacio do édio nas redes sociais. Disponivel em: _. Acesso erm: junho de 2017. 309 uma determinada origem social, de género, de orientagio sexual off de “raga”. ‘A norma supralegal também promove a descrigio de meios para que se mitigue a liberdade de expressio quando esta acabar por promover ato ofensivo, o que pode se ver no art. 13, inciso V, do Pacto de San Jose da Costa Rica que dita que “a le deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ‘io nacional, racial ou rligioso que constitua incitamento a diseriminagio, 4 hostlidade, ao crime ou & violéncia”®, Por conseguinte, a limitagio da liberdade de expressio, se faz tio somente pelo principio basilar da dignidade da pessoa humana, seguida pelo nosso ordenamento juridico. Brasil pois, a partir do momento em que usa-se conceito da liberdade de expressar para ferir a dignidade humana de outrem, a limitagio da liberdade de expressio, deve ser usada, 4 LINCHAMENTO NAS REDES SOCIAIS NA ATUALIDADE E A LIBERDADE DE EXPRESSAO ‘Atualmente as redes sociais servem para propagat dio, fem algumas esferas, como politica ¢ ideol6gica, aonde pessoas acobertadas a principio pelo anonimato da internet, desenfreadamente destilam palavras de reptidio a terceiros que pensam de forma contréria. A opinio piblica de um cidadao, as * NETO, Joio Costa Ribeiro. Dignidade Humana (Menschenwrirde} evolugio histérico-flosstica do conceito e de sua interpretagio 4 Ine da Jurisprudéncia do Tribunal Constitucional Federal alemio, do Supremo ‘Tribunal Federal e do Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Universidade de Brastia, Faculdade de Diteito, Curso de Mestrado em Direito, 2013. Disseragio (mestrado), p. 4 "Pacto de San José da Costa Rica, 22 de novembro de 1969, Dispontvel em: ‘. Acesso em: jumbo de 2017 370 vezes expressada em alguma rede social, coadunando com a liberdade de expressio prevista na nossa constituigio federal, & rebatida com supostos debatedores, que por analisarem opiniéo contréria, partem para ofensas pessoais. Define a opinifo piblica, Alfred Sauvy como “um érbit, uma consciéncia, diremos que quase sm tribunal desprovido de poder juridco, mas receado. E 0 foro interior de uma nagio. A opinido priblia, esse poder andnimo, & uma forca politica ¢ esa forga nao foi prevista por nenbuma constituicio'™. Nessa seara Paulo Bonavides afirma que:"(..) opinido, enfim, organizada e que traduz, oo exprimir-se, a ideologia do partido ‘ic, instrumento da ditadura totlitaria’?”. Entretanto, indaga-se, se a pessoa tem a sua liberdade de expressio para exprimir suas opinides, a pessoa que rebate com palavras de cunho pessoal destilando édio, também nio exerceria sua liberdade de expressio legalmente prevista? Claramente, tal indagagio tem que ser respondida que a liberdade de expresso no pode ser trampolim para crimes de 6dio. Nessa linha de raciocinio, Manoel Goncalves Ferreira Filho, afirma que A liberdade de conscigneia e de erenca, porém, se extroverte, se manifesta na medida em que os individues, segundo suas crengas, agem deste ou daquele modo, na medida em que, por uma inclinagdo natural, tendem a expor seu pensamento aos outros fe, mais, 2 ganhé-los para suas ideias. As rmanifestag6es, estas sim, pelo seu caréter social valioso, € que devem ser protegidas, " ALFRED, Sauvy, L'Opinion Public, Pais, Presses Universitaires de France (PUF), Colection Que Sais-Je2, 1977, p.3 % BONAVIDES, Paulo. Ciéncia Politica P. 483. Si0 Paulo, Ed.14, 2007. a7 we 12¢ 84"z1ge ‘eeses yng OFS Ea 95 “Po “eworanno onoup ap oxic “sauesuon owwyy “OHId VaEERNER cous] ou spuary yeuueyy 10d opunexs * reyy op apepleurg., 2p ‘omsouoo 0 zeseue sourapod ‘t9pt ess9 wo opusiianuor soupifeio sounfor wo eaviedoid 9s ore owios ,woq 9p wowoYy, wn 2p o11z0%09 oF oLrenKOD ‘Soanod ap wiDq OLIPDpE Op oESeedosd ® opt 9 “souour apeparoos eum ap joud wa ‘stapqaeg e ‘sest3j0 se ‘sopepoueniqie se ‘sogSaox9 se enuoo souneyeieg ap apepiss2oou ¥ soutaa ‘sepuade sessou op e409 opewo wis) anb seusas sono aniua ‘opti ‘sonranp a1qos ‘Sopepiaq a1qos ‘stewes9 ‘seovojoopr ‘seonyjod sagasanb 10d seossad anus onyuos 2p ouswo0w Teme 0 souresteue oF ‘oMIO!NEI ap ey ELISIUT wISIKy ‘opener opuigyo4 op wisSew & opuess] auipqaeq e exensoUL anb oapra woo steio0s sapas seu opspe] oisodns © soda sopeniea © MeoIsyy eioUgjOIA ep uIZ[e “Ose a1S9N “Epeqhor BiepDIIq EMS uot onb oprpuayo onsodns ojad riser eu opener 10} anb ourasut op opeazeu ef ose> 0 suuosuo> ‘earnsoane ap a1opdso eum ow1oD conodures ‘seossad sep waSeu 9 e1uoy ‘epeatid epra ‘opeprunut © sug exed epeaymn ass ered adeoso ap efnayga 498 apod oft ‘eastaaud aiuousfeuoromansuo; apepragy [8 “eUHI05 ¥ss2qq “eueumy eossad =p opepruiip © aatsnour euoye anb jeuoroent soypae nas o vista ‘up opus ‘onspseig euorsnapsuo> oxdjoutid 2289 sod epeusqooe 9 OU “euIsoUE e aanuasUE no eAtA[OIA opSmsoyHeUE sonbfenb vious onb opSesayuew sonbjenb omeanus ‘epepifeworses 2 ‘sontoumniize woo epeziiqueduen “eproiaxa 498 anap oessaud 9p apepraqy¢ anb eunzoy © onb ‘faapspauians 9 “eu wss9cy s2PeP2HOS e seaypnoad no we _nusop 2p seprpadun anb oduuos ows oF “Eichmann em Jerusalém”, que descreve inclusive criticas a comunidade judaica. Tal obra foi posteriormente ao julgamento em de Adolf Eichmmann em Jerusalém, capturado pelo servigo secreto israelita na Argentina em 1960. Na obra, a fildsofa fundamenta que em virtude da massificacio da sociedade, insurgiu uma multidio que nio é capaz de fazer julgamentos na esfera moral, razfo 20 fato de os mesmos anufrem ordens sem questionar"* Eichmann, € colocado pela autora como um dos responsiveis pela solucio do resultado, nao sendo othado como ‘monstro, mas sim como funcionério zeloso. Porém a partir desse f2to, o mal tomna-se assim banal © fator da “banalidade do mal” é imprescindivel, como uma das normas para andlise do mundo contemporinco. Neste sentido, o mal banal caracteriza-se pela auséncia do pensamento. Essa auséncia provoca a privacio de responsabilidade. © praticante do mal banal submete-se de tal forma a uma I6gica externa que no enxerga a sua responsabilidade nos atos que pratica. Age como mera engrenagem. Nao se interroga sobre 0 sentido da sua agio ‘ou dos acontecimentos 20 seu redo A autora Arendt tinha como paradigma, na obra supracitada, 0 dialogo com Kant em sua obra “As Origens do Totalitarismo” (1951); Segundo o conceito deste autor, foi exaurido que o mal tem como premissa no nos instintos ou na natureza profana do homem, mas sim, nos recursos légicos que 0 fazem isento. Por conseguinte, 0 mal nao dispée proporcio ARENDT, Hanna, Eichmann em Jerusalém. 1963, Editors: Companhia das letras. Ano: 1999, 1" Edicio. Sio Paulo Op. Cit AGUIAR, Odio Alves. Violéncia e banalidade do mal. Dispontvel em: hhups://revistacut-uol.com br/home/violencia-e-banalidade-do-mal/ - Acessado em 1 de juno de 2017, 373 ‘ontolégica, mas contingencial. Nesta seara, desencadeia assim, segundo 0 autor, a partir do convivio e da reagio dos recursos espirituais humanas as suas circunstincias"”. Se Eichmann nunca perccbeu © que estava fazendo, para Hannah Arendt isto se deu porque ele era incapaz de pensar. Essa incapacidade de pensar est4 na esséncia do mal banal, Estamos aqui diante de uma reflexio de filosofia moral. Para entendé-la, precisamos buscar referéncias - alls, esta € uma constante: quando se estuda um fildsofo € necessirio recorrer a outros, porque os filsofos estio sempre dialogando uns com os outros, mesmo quando parecem falar sozinhos"*, Sobre este tema, MILGRAM descreve sobre a questio da obediéncia da autoridade ¢ a banalizagio do mal, descrevendo como este pode se dar a partir da percepgio de que a barbarie é um ‘mal necessario, pensado politicamente pelas autoridades como meio de estabelecer a ordem social, Bichmann ficava abatide a0 visitar_ os campos de concentracio, mas para purticipar de assassinatos em massa precisava apenas sentar-se em seu gabinete € mexer em seus papéis. Por sua vez, o homem do campo que acionava as cimaras de gis podia justificar a sua conduta dizendo que estava apenas cumprindo ordens superiores, A pessoa que assume total responsabilidade pelo ato evaporou-se. Talvez seja esta a mais ® KANT, Immanuel, A Regio nos Limites da Simples Razfo. "BARROS, Luiz Ferri. Hannah Arendt e a banalidade do mal , Disponivel em:< _htpy/emporiododireito.com.brfmannah-arendt-e-2-banalidade-do- rmal-por-luiz-ferrinde-barray’> acessado em 1 de junho de 2017. 374 comum caracteristica do mal, socialmente ‘organizado, da sociedade moderna” © Brasil passa por um momento conturbado em todos os sentidos, numa crise ética ¢ moral dos representantes do poder, que nio ajudam em nada a evolugio da sociedade, mas o retorno 20 passado, aos abusos tampouco resolvers tais situagées, como também nfo o racha politico criado nos iiltimos anos, aonde antagonistnos politicos se tornam presentes € no se dialoga, para compreendermos os anseios da sociedade, numa atuagio mais convergente € préspera Nessa perspectiva, para a proibicio do discurso de édio, 0 artigo 13 do Pacto de Sao José da Costa Rica, no § 2°, estabelece a liberdade de pensamento, apesar de nio estar voltada a uma censura de forma prévia, responsabiliza fatores posteriores pela utilizagio de pensamentos que podem ser considerados de 6dio™. Com efeito, © artigo 13 no §5°, prever, por exemplo, que ha proibicio de propaganda em prol da guerra, bem como argumentos que compactuem com édio racional, religioso ou nacional, com intuito discriminatério e hosti Por conseguinte, 0 Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Politicos, na norma em. artigo 20, § 2°, registra que: “Seré _proibida por Lei qualquer apologia de édio nacional, racial ou religioso, que constitua incitamento d discriminagio, a hosilidade ou a violéncia®™. Algo que claramente deve analisado como carter de punigio, as pessoas que utilizam de forma arbitraria e sem qualquer bom senso, 2 * MILGRAM, STANLEY, Obedigncia 2 Autoridade: uma visio experimental. Rio de Janeiro: Ed. F. Alves, 1988, p. 28. ® Op. cit. 2% Op.cit ® BRASIL. N° 592, de 6 de Julho de 1992. 375 internet para ofender pessoais na internet, sem se preocupar com Este “discurso que utiliza expresses de 6dio tende, nnecessariamente, a diminuir a dignidade das pessoas, sua auto-estima, resultendo as veces na impossiblidade deles virem a participar de Aeterminadas atividades € até mesrio do debate piiblico”®, importa em atos que podem importar em consequéncias juridicas das mais diversas maneiras. 5 DAS CONSEQUENCIAS JURIDICAS DESTE TIPO DE CONDUTA Discursos com natureza de dio, desonrosa ¢ discriminatoria, tem 0 fito de ofender uma pessoa individualmente ou um grupo de pessoas, a partir de uma condigéo comum que estas detém, seja por uma questio de identidade politica, religiosa, de género, sexual, de cot ou qualquer outro tipo de elemento de similitude. Um exemplo ocorre quando em debate na internet, a pessoa é rebatida por outrem com palavras que desqualificam a opini devido a sua orientagdo sexual, ou até pelo fato da sua raga ser diferente. Um dos fundamentos do Nosso Estado democritico de direito, € © principio da dignidade da pessoa humana, como 0 exposto no artigo 1° inciso III da nossa Carta Magna, assim como art.3° em seu inciso IV, aonde prevé que o Estado deve promover © bem-estar de todos, sem qualquer tipo de preconceito de origem, raga, sexo, cor, idade e outra forma de discrimina, de determinada pessoa, ® MEVER-PFLUG, Samantha Ribeiro. Liberdade de expressio e diseurso do 6dio, Sto Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 98. 376 us ‘Lloz 2p oyun 9p 9g ura opessaay sow, sx -OAmsnd-s3qeasod-orpo-ap-os1nostp-op-apepiaqy-9-oFt-oPseaidha-2p -apepiaqiyauos-oaanod}auredyediy “yum ox pastodsiqy “oIpp ap oxinasp 2p aprproqy 9 o7t oxssoxdxo op 2pepsoqrT "EAS EP GAB ANIEAL “SOW we anua ‘eSeoure ‘euoy € enuo> sau ap empuos ap oeSeztfeas eu stuodur apod uipquie seur ‘enpsop eunse o12su0sa1d 9p CoSeisiBoj eu on2sap 0 ood ‘somjap sosmno wo sexrodusr wapod ‘anpuos ap sodn ste ‘esonitjap apmane eum owoo orpg ap osmnosip op orSeogidn & axa19s9p anb eoyjoadso euou py oeu 2g ‘eupieu tursaut e wiaBas anb sreuorsmmsuos soxdyornad soaino opueifesuo> ureqese anb pf ‘,,orssaidxa ap apepsoqy, ap ordiouud 0 wiaray or sagStqosd sesso anb owios wi9q ‘oompyint orusureu2pio ofad sopiqiord wio198 o1pg ap sosimosip sop apepissaoau ep eo1s9" ‘jeuo!seusai! orSe[sido] eu epexedure snuaureyduue rape risa urgqure opuas ‘opnuas omsout 23sau ove ap ‘oda anno no o1pg 0 se8edosd 9 sessaudxo apod as ogu pf ‘apeps9qy, piso © ogSisisa1 euIn ENDTISeIq FULION eu Ey “oIUEHOg ‘omyap sonno a1iu9 ‘onzouooaid ap sous so aund anb ‘6gqZ:L “u 1] ep 0g “ue OM orLDs9p ‘yseig ot sw oUIos osmastp axsop seanspiaioeao se eoyida 1p] ¥ anb euoy ap ‘opeprutp ens wo uranno ¥ oaisuazo OW 2p orbeziear v exsoduu anb pf ‘opssozdxa ap apepzoqy| ep sopniuese ordpuud ojad operedue 9 ofu osinosip ap od sq ‘opSeummmusstp 2p passed oxedse axnno no jenxas opSeiuati0 ‘opifijar ‘apepyeuororu. ‘enna ‘oreugi ‘eer eum enuos sore soaoward sod eqeoe ‘osinostp ap odn aasa “unnssy -soepepr> ap odeu wn eprunut no ‘9puiayo eye anbiod no seossad ap oda win entioo euqweumostp ore no eDug[oIA seu ura suodum anb ‘epeiusszidan no e111959 eULI0} ap ‘SemMpuoD no sorss8 ‘seIap! ap oxssaudxa © sanouord as opuenb 21020 oIpp ap osinosp O outros tipos penais especificos que podem ser apliciveis a tais condutas. Porém, nio € somente este tipo punigéo que pode ser aplicada a quem promove este tipo de conduta, jd que quem estabelece tais condutas comete ato ilfcito cfvel, podendo responder pelos danos materiais e morais que causar com estas, condutas de édio, discriminacio € de preconceito, podendo tais, condutas serem consideradas como ofensivas a coletividade, ja estamos em uma democracia e € necessirio que esta se concretize por via da harmonia entre todos os grupos que a formam, jé que o Estado deve objetivar sempre o bem comum como scu fim e da sociedade. Se estes atos jé importam em punigfo, outros podem ser tomados pelas esferas administrativas quando ocorrem condutas ou discurso de dio. Se estivermos falando sobre ato que importe na fiscalizagio pela Administragio Pablica ou de servidor piiblico, € possivel que este tipo de conduta, de propagagio de édio ou discriminagio, importe em punigdes nesta esfera, aplicando-se adverténcias, multas, suspensdes, entre outras punigées para quem ofende a dignidade do outro. 6 CONSIDERACOES FINAIS Partindo da premissa que dificuldades passadas pela sociedade podem gerar revolucées, é possivel dizer também que as fragilidades do Estado podem levar a dificuldades na convivéncia entre 0s seus cidadios, 0 que pode desencadear a utilizacio de violencia fisica, psiquica, verbais ou por outras expressées. Se na Revolugdo Francesa, o grande Marco foi pela tomada da Bastilha, que _posteriormenteteve como desdobramentos a promogio de linchamentos por parte do povo para com aqueles que consideravam subversivos, empreendendo- 378 se a institucionalizagio da violencia, Se naquele momento vivia-se ‘uma instabilidade que causaram estas condutas, nos dias de hoje vivemos a repeticio do clima de instabilidade, sendo que também se vé este clima de violéncia como meio de resolugio destas intranquilidades sociais, s6 que © linchamento anteriormente ocorrido nao se dé mais por ofensas corporais, mas pelo cempreendimento nas redes sociais dos chamados discursos de dio. Passado tanto tempo da Revolugio Francesa para os dias atuais, podemos dizer obviamente que a sociedade evolui a0 se manifestar € 20 atuar na resolugio dos seus problemas em conjunto, porém seu ideal violento pode-se manifestar da mesma forma e fica sem controle, tudo partindo de uma premissa de que tais atitudes € em pro! da propria sociedade, como um todo sem pensar que aquilo fere alguma garantia individual pétrea, ‘Ao analisamos a questio da guilhotina desertores de pensamento na Revolugio analisada, que ceifou até os préprios arquitetos do levanta, podemos ver que atualmente, apesar de ndo haver pena de morte, a sociedade apresenta pessoas que exaurem discursos carregados de Gdio, sem se preocupar com as consequéncias trazidas, pelo simples fato de pensar contrério aos seus pensamentos. ‘A sociedade deve fugir da intolerincia, fugir de descontroles que levam a novas guilhotinas, que apesar de até nao ceifar vidas, pode aparecer na modernidade como uma ceifadora de honras alheias, através de discursos de 6dio. ‘A liberdade de expressio existe € plena no Estado democritico de direfto, mas ela ni € absoluta ao lidar com irresponsiveis que utilizam dela para destilar barbéries sem se importar com a dignidade da pessoa humana, O Brasil deve controlar e punir detentores do dio social enraizado atwalmenté 379 que apesar de as vezes se esconderem no anonimato de internet, Iificham a vida de pessoas com difamagées, discriminacées, calinias de tudo que € espécie para com terceiros que pensam diferente, sendo necesséria a aplicagio dos meios de punigdes cabiveis para aqueles que empreende estas condutas, nas esferas criminais, cveis ¢ administrativas, Nio podemos reapresentar as mesmas condutas ofensivas de linchamentos ¢ ofensas & integridade do ser humano que foram praticadas na Revolugio Francesa, onde se pregava a necessidade de extirpar da sociedade aqueles que eram contra os ideais revolucionérios. Agora vemos cada vez mais a promogio de linchamentos € ofensas sendo realizadas no imbito das redes sociais, de forma que pode parecer que alguns daqueles idearios franceses novamente se expressam, o que importa na necessidade de promover punicées aqueles que realizam tais condutas. Isso é necessirio para que possamos garantir a convivéncia democritica fem nosso pafs, para que se promova a tolerincia entre todos, de forma que a dignidade da pessoa humana seja garantida e todos os cidadios possam viver em sociedade de forma digna. 380

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