You are on page 1of 178
Tcaiomnr athe extant iy Gee Panatelaowiunclonamento AAA, © GUE MEY ees Hab. WAB NICSE CNM IE, Te ee TEL. G AeOMABGEND Cate OSIRIS GINED ideMirontelrasgteoricasta) CIRRURES Aleunlaotdosfensalostde) GAGE WAU Sitioéeasy ZOU RD feritcontafaldiscussaoldoss Vatlosscaminhosptriipados pe pene aul = fOGES. Com clareza e objetividade’ fatieatie mesa apelam mae CS ORE Lil i sit Gs neecace EVD mm antlagoye lomRobertoyschwarz! Ricardo’ Pigliaventre outros Com REMSereT Sea ‘cftica cultural nao dexam de) reurhyeseinsiyemes Cindy Si aacrarase Coppyright © 202 by Editora URMG Exte livre ou parte dele nde pode ser reproduade por qualquer Editor mew sem autoriagae escrita S729 Souza, kneida Mara de Critica cult / Eneida Maria de Souza Educa UEMG, ISBN. 85-7041-322-X 1 Literatura = crfuca 2 Ersaion 3 Literatura ceangarada | Titulo Ih Sene cpp: 9 825 Dyvulgacao da agio. Divisio de Planepimento € caeca Universitaria - UEMG publ Editoragio de Textos Ana Maria de Moraes, Projeto Grafica Gi6ria Campos (Manga) Capa Marcelo Belico sobre desenhos de ‘Tom Tierney, Carmem Miranda - (paper dolls n full color, New York, Dover Publications, 1982, p. 1-2. Producto Grifica Warren de Maric Santos Revisio de Provas Claudia Pereira Maria do Carmo Leite Ribeiro Formatagio Eduardo Ferreira EDITORA UFMG ‘Av. Antonio Carlos, 6627 - Ala direita da Biblioteca Central - “Térreo ~ Campus Pampulha 31270-901 Belo Horizonte/MG - ‘el : (31) 3499-4650 Fax: (31) 3499-4768 E-mail Haitors@bu ufmg be wow editora.ufmg br UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Reitora: Ana Liicia Almeida Gazzoka Vice-reitor: Marcos Borato Viana CONSELHO EDITORIAL. Titulares Anténio Luiz Pinho Ribeiro, Beatriz Rezende Dantas, Carlos Ant6nio Leite Brando, Heloist Maria ‘Murgel Starling, Luiz Oxdvio Fagundes Amaral, Maria Helena Damasceno e Silva Megale, Romeu (Cardoso Guimaries, Silvana Maria Leal Céser, Wander Melo Miranda (Presidente) Suplentes fistiano Machado Gontijo, Leonardo Barci Castriota, Lucas José Bretas dos Santos, ‘Maria Aparecida dos Santos Paiva, Maria das Gragas Santa Barbara, Maurilio Nunes Vieira, Newton Bignotto de Souza, Reinaldo Martiniano Marques, Ricardo Castanheira Pimenta Figueiredo conecnenas nents Agradeco ao CNPq pela bolsa de pesquisa Ao Silviano, 0 mats sabto dos cults ALGUMAS PALAVRAS, OS LIVROS DE CABE IRA DA CRITICA SAUDADES DE LEVI-STRAUSS © ESPACO NOMADE DO SABER © DISCURSO CRITICO BRASILEIRO © mal-estar da dependéncia ¢ a alegria antropofagica Vanguarda ¢ subdesenvolvimento ‘A TEORIA EM CRISE © NAO-LUGAR DA LITERATURA NOSTALGIAS DO CANONE ESTETICAS DA RUPTURA NOTAS' SOBRE A CRITICA BIOGRAFICA d MADAME BOVARY SOMOS NOS Afinidades cletivas PAISAGENS POS-UTOPICAS Profetizar americanamente o Brasil Brasilia é uma estrela espatifada JEITOS DO BRASIL NEM SAMBA NEM RUMBA ENCIAS BIBLIOGRAFICAS REFI NOTA DA AUTORA ul 15 79 89 95 ua 121 129 137 140 142 147 161 169 ALGUNAS PALAVRAS Estes textos, escritos na década de 1990, representam uma vertente de minha pesquisa académica, voltada para a reflexao sobre a critica literaria e a sua vinculagao & critica cultural e a literatura comparada. Por revelarem a necessidade de uma discussio mais ampla no ambito dos estudos literarios no Brasil, acredito estar contribuindo para a continuidade de um debate teérico que nao se circunscreva ao espaco académico, mas atinja outras 4reas das ciéncias humanas. Os preconceitos de ordem teorica quanto 4 insercao de parametros de andlise que suplantam a abordagem literaria € alcangam interpretacdes vinculadas ao pélo cultural consti- tuem um entrave para o avanco de questdes que merecem ser examinadas. Diante de posicoes criticas que defendem o estatuto do literario e a necessidade de preserva-lo a todo custo, coloca-se outra corrente, mais preocupada com uma abordagem que nao s6 valoriza o discurso literario, mas o considera na sua dimensio histérica ¢ contextual. Conceder ao estético autonomia e superioridade em relagao aos demais textos € esquecer que a nogao de valor é construida por regras sociais € por critérios de julgamento que nao se limitam a verdade de um sé discurso. A reflexdo contida nos ensaios aqui reunidos pretende também iniciar um didlogo com a critica latino-americana, através de consideracGes teéricas e da discussao de conceitos que, ou sao comuns ao imagindrio tedrico do continente, ou se distinguem na sua formulacao especifica, ao tomarem como base discrepancias de ordem histérica. Discute-se ainda ° velho preconceito quanto as idéias produzicas nos paises hegemGnicos e a sua recep¢o nos pals periféricos, tanto em relagao as teorias europeias, com maior incidéncia en décadas anteriores, quanto as americanas do norte, de epoca mais recente, principalmente se essas teonas Ver ‘América Latina. Trata-se de um problema de adaptagdo e de transculturacao, provocado pela necessidade de se conceber m germinar, impondo-s m sobre a um solo comum onde as ideéias po: uma temporalidade homogénea e um lugs dessas idéias. O descompasso sempre foi MouvO de diferenciagio propicio a, recepgao entre culturas, considerando-se que € sempre mais facil op- tarmos por uma defesa do semelhante € do mesmo do que do diferente e do outro. A alteridade constitui um dos inimigos invisiveis do pensamento conservador € acomodado, pois a mera constatagio de sua existéncia j4 provoca um sentimento de repulsa e de fechamento entre aqueles que recusam o didlogo. Enfrentar o desconhecido, seja através do Ambito tedrico ou ideoldgico, desconfiar de certezas estabelecidas si0 os perigos que possibilitam o avango do pensamento critico ea abertura para 0 novo, mesmo que este esteja ja marcado pela sua exaustao. Stuart Hall € citado por Alberto Moreiras em seu recente livro, A exaustao da diferenga, a propésito da reagio e do impacto causados pelos estudos culturais, situagao conside- rada por Hall como saudavel e instigante, mas sujeita a desli- zes e€ a perigos de interpretagao, como é o caso do “perigo populista” apontado por Moreiras: “A explosio dos estudos culturais, justamente com outras formas de teoria critica na academia, representa um momento de perigo extraordinaria- mente grande.” (Cultural, p. 273) Mas, usando novamente uma expressao de Hall, “os perigos nao sao lugares dos quais se deve fugir, mas lugares na diregio dos quais devemos ir”. (P 273)! A sensagao de perigo iminente experimentado na pritica de toda teoria e no seu aprendizado denota a obsessio sempre crescente pelo dificil em detrimento do facil, pelo incerto € precdrio como formas constituintes de um saber em processo. A ousadia revelada no rompimento de barreiras disciplinares, de valores estabelecidos, das leituras consagradas do literdrio e das fronteiras do lugar-comum & um dos desalios enfrentados pelos tedricos como signo e marca de um deter minado tempo. 12 J A vida da critica se alimenta de um movimer de interrogacao, por se negar a seguir 4 risca um método fixo ou idéias congeladas, como assim se expressa J. Hills Miller Ao tomar a desconstrucao de Derrida como Pratica analitica, o critico americano se Posiciona também de maneira inquieta diante do texto a ser lido, em virtude da impossibilidade de se chegar a uma interpreta¢gao definitiva: nto intermindvel A desconstrucao tenta resistir 45 tendéncias totalizantes ¢ fotslitarias da critica. Tenta resistir as suas préprias tendéncias de repousar em algum sentido de dominacgao sobre a obra Resiste a tudo isso em nome de uma g: Pretagao, que vai inquictude da inter- m do niilismo, sempre em movimento, um ur além que nos faz permanecer no mesmo lugar, assim como o Parasita esti fora da porta mas também ja esta sempre dentro, como © mais sinistro © inquietante estranho dos héspedes.! Mas © vicio teérico persiste, que € 0 de pensar que os conceitos ou nao se adaptam a cultura hospedeira ou, por desconhecimento dos mesmos, eles servem a contento para toda resposta as nossas indagacdes. Outro risco a que a critica esta sujeita consiste na essencializacao e€ na descontextuali- zacdo das nogoes te6ricas, ao serem transformadas, num simples toque de magica, em chave analitica para toda e qualquer situacdo discursiva. Torna-se necessario proceder ao deslo- camento dos lugares de enunciagao fixa, de producao de sa- beres, assim como dos contradiscursos que, a0 se colocarem numa posicao extrema e radical, revestem-se de carater fundamentalista, diferencial e essencialista. Se os perigos da globalizagao se concentram, do ponto de vista cultural, na indefinicao e€ na eliminagao de diferencas, o contra-ataque pés-colonialista — uma outra forma de nomear os discursos do Terceiro Mundo — nao devera se afirmar como defesa da diferenca. Levada a extremos, essa diferenga pode se converter numa ideologia ultrapassada que se concentra na busca do auténtico, do outro lado da moeda que, a rigor, se apresenta como parte integrante de uma dupla articulacao, ainda nao afeita a binarismos ou a instauracao de um pdlo unico de atuacao. E preciso contar com a formulacao de um locus de enunciacao migrante, na medida em que a identidade ja se reveste como hibrida, ao falar e responder a partir de dois ou mais lugares, nao conduzindo, portanto, a sinteses, fusoes ou identidades estaveis. 13 Por serem estes ensaios textos apresentados €M Congressos ¢ similares ou discussocs produzidas em cursos de p6s-graduacao, coma interlocugao sempre ativa dos alunos, cles sao contaminados pela marca do contingente € da precariedade temporal. Este é © principio ao qual nos prendemos, Como FeCusa aos estere- Otipos teGricos © ao Espago tranquilo reservado as verdades e ao carater finito da interpretagao. Os artigos conservam ainda uma qualidade que suponho dominar todas as incerte- yas: o convite a reflexao € a constante busca de uma voz cri- tica que nao se deixa levar por uma dicgao piegas ou pela angélica unanimidade do coro dos contentes. NOTAS ! MOREIRAS. A exausido da diferenga. A politica dos estudos culturais latino- americans, p. 508. + MILLER. O critico como hospedeiro, p. 49 OS LIVROS DE CABECEIRA DA CRITICA © “IV Encontro Nacional de Professores de Literatura”, realizado em novembro de 1977, na PUC do Rio de Janeiro, teve como programa principal o balango da produgio univer- sitaria da década de 1970, reunindo trabalhos dos mestres em literatura saidos dos recentes cursos de pds-graduacgao do Pais. O evento propiciou a divulgacao de diferentes linhas de Pesquisa desenvolvidas no meio universitario, bem como a discussao dos problemas da critica diante do emprego excessivo de teorias e métodos de anilise literaria. Destacavam-se, nessa programacdo, os trabalhos realizados por mestres formados na USP, divididos entre a abordagem socioldgica da literatura, a sistematizacao de um pensamento critico brasileiro e a recuperagao de fontes primdrias, através do estabelecimento de edigées criticas; na PUC do Rio de Janeiro, teses pautadas pelo enfoque estruturalista de natureza antropoldgica, psicanalitica e sociolégica, e de reflexdes filos6ficas ligadas a desconstrugao, de Jacques Derrida, € crise do saber, de Michel Foucault; na UFRJ, trabalhos tedricos marcados por indagagoes filos6ficas e pela visao ontolégica do liter4rio; na UFRGS e na PUC/RGS, pesquisas sobre a revisio da critica brasileira e da literatura gaticha, com tendéncias metodologicas centradas na relagao entre literatura € hist6ria, sem contudo se prenderem a métodos especificos de abordagem critica. No acirrado debate af desenvolvido, péde-se avaliar as miultiplas vertentes da critica literaria como resultado da atividade universitaria, que no momento retomava com grande forga as rédeas desse saber. Entre jovens mestres e seus orientadores, discutia-se ainda o lugar de produgao de um novo conhecimento, causado pela proliferagao de cursos de pos-graduacao no Brasil. Um dos topicos mais debatidos foi a qualidade do ensino nas universidades, a0 lado da defesa de uma linguagem menos hermética, verificada sobretudo na apresentagio de alguns resumos de teses © artigo da jornalista Norma Couri, publicado no Jornal do Brasil 1 época do evento, com o titulo ironico de “Esses jovens mestres e suas teses maravilhosas (quem as entende?)", apresentava, na abertura, o abismo entre escritor e critica, motivado pela acusagao de estar a produgao universitaria distanciando-se do ptiblico, pela sofisticagao de sua lingua- gem. Escritores presentes ao Encontro, cuja obra era alvo de andlise, como Autran Dourado, manifestaram-se de maneira favoravel diante das recentes conquistas da critica universitaria, apontando, principalmente, 9 deslocamento da critica de rodapé, realizada pela imprensa, para o espa¢o universitario. Ressalto, desse artigo, o depoimento do escritor mineiro, que sempre compartilhou das mudangas conceituais e metodol6- gicas trazidas pelo discurso estruturalista: Ora, ora, a discussio do fazer literario deslocou-se da imprensa para as universidades e nio vejo por que reclamam tanto da linguagem preciosa ou hermética. Nao pode ser de outro jeito, sio andlises que, tanto quanto as médicas, se pretendem cien- tificas. Acontece, na verdade, um certo porre, um pileque de terminologias misturadas a0 estruturalismo. E que € afinal o estruturalismo? Chama-se a tudo de estruturalismo, na tentativa de deprecia-lo.' A atitude demonstrada pela midia e por um grupo de con- servadores era de repulsa pelo enfoque universitario que, com linguagem especifica e discurso especulativo, rompia com a natureza experimental dos artigos jornalisticos, A polémica iria se acirrar nos anos seguintes, evidenciando a distancia entre a produgio universitéria e a do jornal. A critica literaria {dessa época, interessada sobretudo em construir cientifica- mente seu objeto ¢ obrigada a cumprir as exigéncias académicas dos trabalhos de tese, convive de forma contraditéria com a lexceléncia de sua producao e a dificuldade de tornd-la aces- sivel 8 comunidade.[Nos anos 1980} a situacdo comegard a se. reverter, com as mudangas processadas na critica literaria como. um todo, inspiradas por varias razées de ordem cultural € 16 pela transformagio verificada no interior de sua propria linguagem. Em outro artigo de Norma Couri relativo ao evento, “A hora de criticar os que criticam (ou deveriam)”,? relata-se ° contraponto de vozes produzido no debate entre os antigos defensores da catedra, avessos & democratizagio do direito de titulagao docente, e os que defendiam a criag4o dos cur- sos dé pés-graduagao como fator de melhoria do ensino e da pesquisa no Pajs. Affonso Romano de Sant’Anna e Silviano Santiago, organizadores do Encontro e representantes da nova geracio de professores das universidades brasileiras, en- contravam-se entre os defensores da segunda posicio. Com grande experiéncia de estudo e docéncia no exterior, aliada a uma abertura proporcionada pelas mudangas significativas na sociedade brasileira dos anos 1960 para ca, esses profes- sores da PUC mantinham uma rela 10 menos hierarquica com. os alunos, fator imprescindivel para o avanco democratico na transmissao de saberes. Nao resta divida de que a geracao atual desconhece 0 aprendizado solitério e autodidata de muitos de nossos antigos professores, cujo conhecimento era produto de uma maturagao lenta ¢ interiorizada. Essa posi¢’io acarretou, na grande maioria dos defensores da cAtedra, ati- tudes académicas voltadas para a elitizagao da cultura e de sua transmissao, assim como preconceitos relativos a titulagao “em massa” que se processava nos recém-criados cursos de pds-graduacao. Dentre esses Ultimos, merece destaque a participagao, no Encontro, de José Guilherme Merquior, pela sua inquietagao frente as novas terminologias ¢ as esquizofrenias tedricas dos jovens mestres. Repetia, nessa ocasido, o mesmo gesto que 0 fez atacar, em 1974, a “moda estruturalista”, em artigo estam- pado no Jornal do Brasil, intitulado “O estruturalismo dos pobres”, cujo teor elitista j4 se anuncia desde o titulo. 0 estruturalismo europeu nao combinava com a sua recepcio verificada no Terceiro Mundo, e 0 critico nao se conformava com o fato de o intelectual tupiniquim se valer de terminologia © pensamentos estrangeiros — principalmente franceses — Por ser essa linguagem privilégio de poucos. O artigo tem ainda cartas marcadas: a Gnica universidade que nao teria sido atingida pelo apelo sedutor do estruturalismno, a USP, é 7 leita come a “mais sedimemtada, 4 mais atnadurecida das nonias instituigaes do genera A inaturidade seria o melhor antidote para os devaneios idade adulescente © texto de Merquior, ao i que est por tras da moda catruturalista branleira, peetendsa dar ums liso de moral para intelectuais. Insurge ainda contra o emprego de ey cay de escritura, que tanta nos meios académicos. Para o to original, @ Copia ven sem- inteiramente seduzida de una intelertud pelo aceno das idévas importadss denunciar o carater reac 8 “pobre terion mal taduzados, comme polémica suscitoy, a épocs irrada detesa do a e cum ebeire de fruta passada ou proibida. A citagao de ura f 1n do referido texto funciona como artificio reténeo que az a cena do presente o exemplo de Jeyante & desrespeitoso de tratar os problemas criticn, et pre degr um modo des cultusais: brasileiros xeessive de terminologia superfluamente hermética mm lugar do real trabalho de andlive, quase nunca depara, neste Brasil de jovens © precarissimas universidades, com a resistencia da pesquisa séria ¢ do ensino critico. Ao contrério: como as univeridades “brotam’ agora (numa expansao demasiada ripida para ver levada 4 sér10), € 08 ignorantes se diplomam e se doutosain 45 Centenas, 2 srrogincia intelectual mais oca € s inept ve dé facilmente ares dogméticos de ciéncia exclu- tiva No entanto, on sacerdotes do Método nao sabem sequer portugues Nossa ensaistica atual € © paraiso do solecismo, 0 éden do barbariano, Se voce encontra um titulo sobre “escritura”, de uma obra para tabchOes: uata-se mesmo € de “éentute’, que on nesses preclaros estruturalistas no sabem traduzir por “excrita”* oahune © " nao en yee Ura © que na realidade Merquior nao conseguiu entender € que a proliferagao de cursos de pos-graduacao trazia bencficios, apesar de suas limitagdes, enquanto fruto de um periodo de repressao politica © de controle ideolégico. A reflexao mais sistematizada, o rigor técnico © a necessidade de sofisticar 0 instrumental de trabalho nao representavam, como queriam alguns, alternativas reaciondrias coniventes com o regime militar, Os resultados do esforgo distendido naquela €poca, bern como da resistencia as acusagdes desse tipo, mostram-se hoje bastante enriquecedoras, a 18 [Ruanto as relacoes desse discurso critico com as modific agoes sadas na andlise literana, cabe ressaltar a desvincul: 2 a cesvinculagag ariter techado ¢ auto-sufigiente di eee bein et Hechade ¢ auto-subiciente do texte deriirigy nos de Iteranedade, pela ampliazao Os discursos das ciéncias humanas, > da _antropologia, a0 descentrar © eixo de valores céntricos, propiciou ainda a qucbra de hicrarquia dos 1108, agucando o interesse pela valorizagao de textos alizados pela cultura oficial. A conceituacao do estético experiéncia radical de transgressao comega, a partir Jessa époea, a perder terreno no interior dos estudos literarios nedida que os textos do cotidiano passam a incorporar as manifestacées de vanguarda, € a midia, a se alimentar dos procedimentos artisticos © desafeto quanto as teorias estruturalistas incidia no carater essencialista € universalista de seus pressupostos € no abandono do texto literério em favor da discussio de ordem tedrica e metodolégica. A invasao da terminologia critica representava uma ameaca aqueles que se colocavam em defesa da construgao de um pensamento prdprio brasileiro, imune aos empréstimos de ultima hora. Representantes da vertente sociolégica — € marxista — condenavam o estudo imanentista dos textos € o recorte sincrénico, responsaveis pelo esquecimento da historia € a universalizacao do objeto uerrio. (As idéias continuavam, felizmente, ainda fora do lugar.) Defensores da estilistica ¢ da filologia colocavam-se a favor da singularidade do texto artistico, nao mais considerado come ur valor em si, mas diluido nas malhas de outros discursos. A utilizagao constante do vocabulario especifico do estru- turalismno arrepiava 0 cabelo dos conservadores € feria os ouvidos dos mais puristas: paradigmas, sintagmas, corte sincronico, corte diacronico, écriture, differance, corte epistemol6gico, intertextualidade, narrativa diegética, narrativa intradiegética, leitura sintomal, cadeia do sig- nificante, matema, € assim por diante. Enumerados dessa forma, 08 termos Comp6em uma litania que nao se sustenta Lides no seu espaco enunciativo € num tempo especifico, esses operadores conceituais ainda tém muito a dizer a critica contemporanea, nao mais fechada em claves hermeti- cas, mas sensivel 48 rupturas ¢ aos beneficios traz! dos por esse discurso. 19 No final da década de 1990, passados prevleatientc 21 anos do “IV Encontro de Professores de Literatura um dos tracos mais fortes do discurso critico éa gradativa dil luicao de mar- Cos teéricos, causada pela vertente pés-estruturalista e pelas inclinacdes pos-modernas da criticay Apos 0 boom teéricg @ metodolégico que dominou os estudos literarios a partir dos anos 1960, procede-se & revalorizagao da historia e ag exercicio da pratica interdisciplinar e cultural. Tendéncias de ordem revisionista irao ainda dominar 0 cenario tedrico do -pod- PM }nogso tempo, ficando os discursos sujeitos a balancos e Ji dede io so Oa GP yw releituras. Essa exigéncia de revisio teria origem nao apenas ‘no interior das teorias, levadas a extremos de elaboracao, mas em virtude de circunstancias hist6ricas € institucionais A crise das ideologias e da representa¢ao, o desencanto diante da seducao dos grandes relatos emancipatérios iriam naturalmente influenciar o papel até entao exercido pela insti- tuicdo universitéaria quanto 4 natureza de sua produgio. A proliferacao de outros meios de divulgacao do saber, como as revistas culturais, os jornais e a televisdo ira acarretar trans- formagdes no discurso critico. Uma vez sensivel aos temas mais gerais e munido de dicg4o mista, esse discurso terd con: digdes de estabelecer a ponte entre a academia ea esfera publica, através dos indmeros meios de comunicagao de massa, Muda-se portanto 0 enfoque: se antes a critica de rodapé cedia lugar a universitaéria, criando-se um abismo entre a academia e a midia, hoje o discurso critico se nutre dos meios de comunicacio de massa, através da apropriacao dos procedimentos e da dicc&o enunciativa. A elitizagao cultural nao mais se sustenta diante do apelo democratico dos discursos, razao pela qual a literatura deixa de se impor como texto auténomo e independente — se é que algum dia ela assim péde ser vista. -» A posi¢’o da literatura no Ambito dos estudos culturais € um tema oportuno para se refletir sobre o estatuto do discurs° critico literério frente ao avanco dos estudos culturais 9 contemporaneidade. O que se tem hoje é a mudanga do foc? om critica_aos empréstimos: 0 eurocentrismo imputado 208 xy estudos estruturais pelo americanismo dos estudos culturals

You might also like