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Lino Bertrand O QUE E A PSICOLOGIA ANALITICA DE JUNG E SUAS DIFERENGAS EM RELAGAO A PSICANALISE DE FREUD 5 R 1 U D os e) U | e Jung na Prati¢ INTRODUCAO Dois génios da Humanidade! Seus trabalhos mudaram os rumos de imimeras 4reas do conhecime- nto, incluindo a psicologia, e ainda se mantém mudando, o que deve ocorrer muito e por muito tempo ainda. O: mergulho que ambos fizeram nos dominios do que outrora fora terreno de adivinhos, feiticeiros, misticos, loucos, artistas, etc., foi de extrema importancia para a criagao de uma nova visaéo de mundo, onde o oculto, o inconsciente, tem sim influéncia sobremaneira na nossa vida diaria. Certamente néo foi tarefa facil reunir, auto experimentar e expor de forma clara sob os moldes da ciéncia, seus pensamentos e vivéncias. 0 estudo da vida e da obra desses grandes homens traz riqueza e pluralidade para analise e interpretacdo da vida pessoal e profissional de quem desejar esse mergulho interior. © objetivo deste trabalho é expor de forma breve algumas diferengas em relagao aos principais conceitos de ambos, permitindo que haja elementos para reflexdo e posterior aprofundamento sobre as obras em questio. De inicio cito o historiador Sonu Shamdasani ‘ que disse, na palestra em que estive presente, em Porto Alegre em 2015, em resposta a pergunta de uma das participantes, que a obra de Jung esté sim nas universidades, no entanto, em sua grande maioria, nas pos-graduagées. Deixo aqui um link para um encontro online que fiz na época, com reflexdes acerca do livro langado naquela ocasido, “O Lamento dos Mortos” ?, de Sonu Shamdasani: https: //www. youtube .com/watch?v=mUnoLhhbQH8 — importante conhecer a histéria e a linha de pensamento de cada um, Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, para poder tragar uma andlise comparativa de seus pensamentos. Espero, ainda que de forma breve, contribuir para que se enriqueca esta analise. as (SUMARIO Atracdo e repulsao, a relagado intensa dos génios n . A Psicologia Analitica x A Psicandlise 3. O inconsciente 4. A libido 5. Os sonhos 6. 7 8 9 simbolo religiao relagdo com o paciente sentido da emocdo ndo sentida Oprpo Carl Gustav Jung disse: “Compreendemos sempre os outros como a nds mesmos, ou como procuramos compreender-nos. O que ndo compreendemos em nds proprios, também ndo 0 compreendemos nos outros.” Sobre a vida de Freud e Jung j4 muito se sabe. Em 1907 se encontram pela primeira vez, permanecendo 13 horas conversando ininterruptamente. Para Freud era importante que seu sucessor fosse nao judeu e mais jovem para poder expandir e expor sua teoria. Jung atendia todos esses requisitos e, em muito pouco tempo Freud transformou-o em Presidente fundador da Sociedade Psicanalitica Internacional Mas Jung, desde 0 inicio percebeu que existia uma incompatibilidade entre eles. Eles conversavam muito e analisavam seus sonhos mutuamente. Freud se encantou com a ideia dos complexos e também. passou a usar na sua pratica o teste de associacao de palavras de Jung, de uma forma livre. Jung nao desejava ficar atras de um diva esperando o nucleo afetivo do complexo se manifestar, reconhecendo ser mais rico e efetivo olhar para esse paciente no olho a olho e¢ interagir. Para Freud 0 sentido da vida é aquisigao de conhecimento em busca da perfeigao, enquanto que para Jung, é a realizagao do si mesmo que traz um sentimento de plenitude que leva 4 transcendéncia, apesar das imperfeigdes humanas. “Conhega todas as teorias, domine todas as técnicas, mas «ao focar uma alma humana seja apenas outra alma Aumana.” Carl Gustay Jung A psicandlise de Freud no final do século XIX, quando ele observa e trabalha sintomas neurdticos e/ou histéricos, Por meio do dilogo com seus pacientes ele foi percebendo que seus problemas tinham origem em relagio ao seu meio ambiente social e cultural, passando as pessoas a reprimir seus desejos sexuais e fantasias inconscientes. Utilizava em seu processo terapéutico a relagiio de transferéncia e da resisténcia de forma interpretativa através também da associagao livre de palavras. O terapeuta ouve seus pacientes falarem de seus sonhos, anseios, desejos, e vai fazendo comentarios para que o paciente possa se autoconhecer. Assim como um espelho, 0 terapeuta deve ser neutro e manter a relagio 0 mais limpa possivel de interferéncias para que o paciente tenha uma visio clara de si mesmo. A Psicologia Analitica nasceu com psiquiatra suigo Carl Gustav Jung, que teve uma formagio filoséfica de estudos desde muito cedo. Ja como base teve contato intenso com a religifo, visto que seu pai era pastor. Através da mitologia, alquimia, sua experiéncia em hospital psiquiatrico, do contato com a obra de Freud, suas viagens investigagdes, de seu contato com intimeros estudiosos de varias areas do conhecimento de sua época, edificou seus principais conceitos e que determinaram a linha de orientagao da Psicologia Analitica As bases da sua teoria esto entre: arquétipos, inconsciente pessoal e coletivo, processo de individuagio, sonhos, enantiodromia, teleologia, complexos, sincronicidade, tipos e fungdes psicoldgicos, energia psiquica, simbolo, entre outros Segundo Jung é necessario que haja a conscientizagao do individuo, onde self e ego se comunicam constantemente para que haja, de inicio a autorregulagao da psique e consequentemente sua autorrealizagao. Psique é uma palavra que remonta a Grécia e significa sopro ou alma, A fungio da psique junguiana é regular e harmonizar intermamente o individuo para que este possa se adaptar e ser capaz de interagir com o mundo. Para Freud o inconsciente é basicamente composto por aspectos de repressao. De qualquer forma, tanto Freud quanto Jung acreditavam que a psique humana possui trés components. Freud divide a psique em inconsciente, pré-consciente ¢ o consciente, enquanto para Jung existe 0 consciente (ego), 0 inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. As suas principais diferengas esto entre os assuntos referentes fi sexualidade, sonhos € 0 inconsciente. Sobre este tiltimo, quando se trata da psique, ¢ a ideia de inconsciente um dos fatores de discordancia entre eles. vn foe ee ee eee De TER ‘ aR alee ORION (S fossos ancestrais (ef@bccix, por exemplo), a psique Ag d Pai yuarda tod historia Te as ) Uesenvolbimento humane.” (NEETO, 2013 2s, WSS Este entendimento nao era corroborado desta forma por Freud que em certo ponto passa a nao mais aceitar compartilhar sonhos com Jung dizendo ser uma questao de hierarquia. A partir de ento os dois se separam e tomam rumos diferentes Para Jung a humanidade tem no inconsciente coletivo toda estrutura de conhecimentos. O inconsciente caletivo é formado pelos arquétipos que dio forma a todo esse conhecimento e como Jung diz, so como continentes sem contetido proprio que servem para organizar e/ou canalizar todo 0 conhecimento da humanidade e so preenchidos pelas pessoas medida de suas experiéncias conscientes. (Cf. JUNG, 2002, p91) clara do fato de que, mesmo ainda num estigio primitivo, a consci tia a necessidade de representar concretamente © dinamismo percebido dos acontecimentos psiquicos. Por isso, se em nossa psicologia colocamos énfase no ponto de vista energético, fazemo-lo de acordo com os fatos psiquicos que se i acham gravados no espirito humano desde épocas primordiais.” Carl Gustav Jung A questao da libido para Freud era tratada com base sexual, ou seja, as atitudes humanas estao pautadas, iniciadas tendo como veiculo primario, a libido que para ele tinha esta conotacéo sexual. Jung, ao contrario, dizia que a libido é energia psiquica total e que o aspecto sexual era uma das facetas desta forca poderosa na psique humana. Seus encontros, estudos e trocas, acontecem entre 1907 e 1913, ano em que Jung langa seu livro “Simbolos de transformacéo da libido”, onde expde a capacidade do simbolo transformar a energia psiquica. Este fato é considerado o fator de ruptura entre os dois e que ficou marcado na historia ao longo dos anos como 0 momento de seguir rumos diferentes. “A individuagéo néio exclui o mundo; pelo contréirio, o engloba.” Carl Gustav Jung Para Freud ¢ importante compreender 0 homem e sua cultura pelas leis naturais independente de forgas mais elevadas. Para ele, em geral, todas as religides advém de certa forma de pensamentos e ages até entiio imaturas. Ele acredita que tudo deve invariavelmente ser “cientificamente demonstrado”, Somos todos “Homo Religiosus”!? Esta questo era objeto de reflexdo de Jung ¢ junto a pensadores como Mircea Eliade, Lévy-Brhul, Viktor Frankl, entre outros, procurou analisar a fundo, vivenciando também, por aspectos particulares & sua formagao, a profundidade desta questZo, tanto de forma individual como referente a toda humanidade. Para Eliade o ser sagrago é manifestagfio completa do ser Essa necessidade religiosa exprime uma inextinguivel sede ontologica. O homem religioso ¢ sedento do set. O terror diante do “Caos” que envolve seu mundo habitado corresponde ao seu terror diante do nada. O espago desconhecido que se estende para além do seu “mundo”, espago n&o-cosmizado porque nao consagrado, simples extensio amorfa onde nenhuma orientatio foi ainda projetada €, portanto, nenhuma estrutura se esclareceu ainda — este espaco profano representa para o homem religioso 0 nfo-ser absoluto. Se, por desventura, o homem se perde no interior dele, sente-se esvaziado de sua substancia “6ntica”, como se se dissolvesse no Caos, ¢ acaba por extinguir-se. (ELIADE, 2008, p.60) ‘4 Tung considerava a psique humana, por natureza, religiosa. Por ser filho de um pastor, teve muito contato com esta questo a qual deu muita importincia. Estudou muitas vertentes religiosas e paralelos que somaram para o desenvolvimento de sua teoria, entre eles o cristianismo, I Ching, as religides orientais, mitologia, alquimia, astrologia, entre muitas outras. “Hai quem diga que sao os sonhos dos homens que sustentam o mundo na sua érbita. - Carl Gustav Jung Em termos do trabalho com os sonhos, as diferengas so também muito claras. Para Freud objetos pontiagudos que apareciam nos sonhos eram considerados como um simbolo do pénis, assim como caixas, compartimentos fechados representavam 0 érga0 sexual feminino, ou seja, a interpretagio dos sonhos baseado nos significados comuns dos simbolos a que ele chegou. Para Jung poderiam ter outras interpretagdes de acordo com a ligagao entre o simbolo, © conteiido do sonho, aspectos de ordem individual do sonhador e também de ordem coletiva. Os sonhos em Freud ¢ instrumento da personalidade humana, pois vém revelar desejos suprimidos pelo ego. Para ele os sonhos sao fendmenos normais da vida psiquica que sao passiveis de estudo. Segundo ele sdo seis categorias no processo onitico: 10 Além disso, Freud inclui em suas interpretagdes nao s6 0 contetido manifesto pela fala do sonhador frente as lembrangas que tem dos sonhos, mas também o contetido latente, expresso pelas possibilidades simbolicas advindas da anilise e da associagao de palavras. Em 1899, Freud produza obra “A interpretagao de sonhos”, e uma das suas frases mais conhecidas, diz: “A interpretagao dos sonhos é a vida real que leva ao conhecimento das atividades inconscientes da mente”. (2004 op. cit., p. 647) Para Jung os simbolos oniricos podem ser de carter pessoal ou coletivo e tem fungao para ambos, terapeuta e paciente na relagao terapéutica: “Sonhos sao realizagdes de desejos ocultos ¢ sio ferramentas que buscam equilibrio pela compensagao. E 0 meio de comunicagao do inconsciente com 0 consciente.” (JUNG, 2015, pg. 19.) Cinco sao as fungdes dos sonhos para Jung: eee ico 5 ges 285 Para ele a ordem e cronologia dos sonhos sao muito importantes e mostram o estado geral do paciente, mas como num conjunto buscam 0 reequilibrio psiquico geral. Ele diz: "A fungao geral dos sonhos é tentar reestabelecer a nossa balanca psicolégica, produzindo um material onirico que reconstitui, de maneira sutil, 0 equilibrio psiquico total. Fao que chamo fingdo complementar (ou compensat6ria) dos sonhos na nossa constitnicdo psiquica." (JUNG, 1964, pg, 49.) A simbologia dos sonhos parece ser ponto comum entre as duas escolas, apesar de terem suas divergéncias, tém no simbolo algo importante. O fato é que ao estudarmos ambos podemos ter uma melhor compreensao dos sonhos de forma pratica e efetiva, plural e maledvel, mensagens plasticamente compostas por algo profundo e natural em cada um de nés e que tem um motivo e significado 12 “O mecanismo psicolégico que transforma a energia é 0 simbolo.” - Carl Gustav Jung Simbolo em grego “symbolon”, representa algo abstrato, essencial, atemporal e inesgotavel. Representa através de uma imagem ~ a imagem simbélica - um arquétipo que vai caminhando, elaborando e ao mesmo tempo formando 0 cotidiano das pessoas e esté presente nas mais diferentes areas do saber humano, Para Freud ¢ Jung as ideias sobre simbolo eram diferentes. Para o primeiro, os simbolos mascaravam a verdade, basicamente representada pela sexualidade e pelo complexo de Edipo. O segundo acredita que o simbolo é infinito em possibilidades e n&io mascara, mas elucida. Maria Helena M. Guerra bem aponta Como para Freud o centro de sua Psicologia era a sexualidade e 0 Complexo de Edipo, ele via, por exemplo, nos simbolos oniricos, disfarces que encobririam aspectos ligados a sexualidade e a0 Complexo de Edipo. Para Jung, um simbolo nunca possui um unico significado, e nem uma interpretagio fixa. Ele também nio via as express6es oniricas como disfarce, acreditando que a psique se ‘expressa numa linguagem arcaica e simbélica. Ao invés de atribuir aos simbolos significados fixos, Jung considera que eles sao a melhor expresstio para aquilo que é pressentido e ainda nao sabido. (GUERRA, Jung ¢ Freud: Opostos ou Complementares?, p.02) Apesar de diferentes concepgdes sobre simbolo, Freud e Jung reconhecem sua importancia e assim como citado anteriormente, devemos entender ambos para que possamos ter uma maior compreensao da psique como um todo. 13 m= “Nao se pode exercer influéncia sem estar aberto a influéncia. O paciente influencia [o analista] inconscientemente. Um dos sintomas mais conhecidos deste tipo é a contratransferéncia provocada pela transferéncia.” - Carl Gustav Jung A ideia de didlogo no processo terapéutico recente na historia da humanidade nasce com Freud, um didlogo reflexivo, colocando 0 paciente face a face com o inconsciente. O psicanalista interage com 0 paciente e vai ajudando a revelar o que esteja oculto. Em termos praticos 0 diva freudiano era como o balcdo de um marceneiro onde se apoiam Os materiais a serem analisados e cujo processo era feito com o psicanalista ouvindo o paciente e interagindo com ele no sentido de trazer a tona os contetidos inconscientes, mas deixando de lado os seus proprios. O diva, em Jung, é substituido pelas poltronas, onde paciente e terapeuta ficam frente a frente. O dialogo entao acontece e podemos observar ao menos quatro aspectos: O encontro CCaen > ee Ui a-11 ae pena) a Md aCe PR Koc ASST ~ Clues Peele Occ Persea Pea i pac ee Sd el roy geo aE. [oon tcSthac nc} SES COM ad MoM Tool ESE} Simbolizacao, 14 Dentro da psicanalise de Freud, na relagao, o terapeuta deve manter-se 0 mais neutro possivel e pode ou nao ocorrer a projegao. O terapeuta se mantém “ausente” enquanto participante do processo para que o paciente projete sobre ele e haja a possibilidade de percep¢ao dos elementos que constituem as causas dos sintomas No processo analitico de Jung, a relacdo entre paciente terapeuta é um dos elementos muito importantes, pois a interagao entre conscientes e inconscientes geram infinitas possibilidades simbolicas, demandas de ambos que pretendem, além de resolver qualquer sintoma, alcancar niveis de consciéncia ¢ realizagao mais elevados. No livro “A Pritica da Psicoterapia”, Jung diz: “A diferenciagao e 0 aprofindamento da problemdtica psicoterapéutica que comecaram com Freud, logicamente deve, mais cedo ou mais tarde, chegar & conclusao de que o ditilogo analitico,final entre médico e 0 paciente tem que incluir a personalidade do médico.’O. antigo hipnotismo e a terapia por sugestiio de Bernheinm jésabiam disso: isto é que 0 efeito terapéutico depende por um lacio do chamaco “rapport” (relacio) —transferéncia, na linguagem de Freud — e por outro lado, da forca de persuasao e de penetracao da personalidade do médico. Na relagao médico-paciente, hi, no fundo, dois sistemas psiquicos que se inter-relacionam. Toda visdo mais profinda do (processo psicoterapeutico levard, assim, infalivelmente & conclusao de que em iltima amélise, - isto ¢, na medida em que a individualidade é um fato que nao pode ser simplesmente ignorado —o relacionamento médico-paciente tem que serum processo dialético.” (UNG, 2013, p.19) Podemos verificar entio as diferengas basicas entre os dois métodos terapéuticos acerca da relac3o psicoterapéutica. Sob © ponto de vista de Jung, a necessidade da relagao existe enquanto fundamento para o desenvolvimento do processo terapéutico saudavel. “Muito mais forte do que suas frégeis palavras é a coisa que voce é. O paciente é impregnado pelo que vocé é— pelo seu ser real — ¢ presta pouca atengdo ao que voce diz.” - Carl Gustav Jung Muito se destaca as diferengas entre Freud e Jung, mas pouco se observa a importancia que tiveram como opostos complementares. Enquanto Freud da atengao a infancia e aos processos patolégicos, Jung olha para a autorrealizacdo, para a maturidade. Um nao exclui 0 outro, mas 0 complementa, onde pontos de fundamentais diferengas podem interagir para que se forme algo novo, como diz Byington: “Acho que 0 que mais chama atengao, pois é 0 ebxo central das diferencas de suas obras esté no conceito de Self e de Superego. Enquanto Freud se preocupou com o agente repressor inirojetado culturalmente numa atmosfera de proibicdo e culpa, Jung ocupou-se basicamente do instinto criador do homem, fomte instintiva e natural ao mesmo tempo da sexualidade, da arte e da moral.” (BYINGTON, Freud e Jung: Dois Opostos que Formam um Todo, p.03) “Este enfoque permite que a psicandlise seja muito mais pedagogica e diretiva sem ser paternalista, pois a atividade criadora do Self necessita ser conhecida e interpretada tao intensamente quanto a funcao repressiva do Superego. E necessdrio consciemtizar a transferéncia de cura (Self) tanto quanto a neurose de transferéncia — (Superego).” (BYINGTON, Freud e Jung: Dois Opostos que Formam um Todo, p.08) Em toda a obra de ambos, de maneira geral, existem pontos de convergéncia € complementagdo, onde podemos nos apoiar para um estudo ¢ reflexiio mais completo da psique humana, Maria Helena Madacarit Guerra expe 16 “0 pensamento de Freud ¢ Jung sao complementares no que tange ao estudo do desenvolvimento da personalidade. Enquanto Freud deu muita importéncia a formagao do Ego na inféincia, Jung dedicou-se mais ao desenvolvimento da personalidade na vida adulta, enfatizando sobretudo 0 processo de individuagdo na segunda metade da vida.” (GUERRA, Jung e Freud: Opostos ou Complementares?, p.02) Outro ponto muito interessante e fundamental para a compreensio de todo 9 contexto relacional das teorias, assim como dos homens, Carl G. Jung e Sigmund Freud é a motivagao de seu rompimento. O fato mais conhecido e ja citado anteriormente é que suas diferengas eram ideolégicas e que a partir dai originaram divergéncias que culminaram na separagao dos dois génios e posterior abalo emocional. De um lado Freud, com seu conceito de libido caracteristicamente sexual, simbolos que escondem a verdade, método onde o médico deve estar isento na relagao, 0 inconsciente como substrato de ideias e emogdes reprimidas. De outro lado esta Jung, considerando a libido como energia psiquica total, onde a sexual é apenas e tio somente uma parte, os simbolos como atemporais e¢ inesgotaveis em significado, a relagdo médico-paciente é intensa e deve ser dialética, 0 inconsciente como pessoal e coletivo. Tantas sto as particularidades que poderiamos relatar acerca dessas diferengas, mas 0 que chama a atengao ¢ a possibilidade do embate, do abalo, da ciso emocional ter acontecido antes da separagao ideoldgica, tesrica, como que sendo, inclusive, a causa desta inevitavel separagao. Carlos Byington se refere ao niicleo da relagao emocional entre ambos como sendo 0 complexo paterno de cada um, onde para Freud, Jung seria seu legitimo herdeiro, entre intimeras outras questdes pessoais. 4 Jung, desde cedo, tinha dificuldades de relacionamento com seu pai, especialmente em relagdo a questao da religiosidade e via em Freud um pai espiritual que nao teve. 17 Enfim, Byington considera: “Freud e Jung, apesar de sua genialidade e de terem lancado as bases da Psicologia moderna, nunca fizeram uma terapia com elaboracao de suas defesas conscientes & inconscientes dentro de uma relagdo transferencial, 0 que caracteriza a andilise como a concebemos hoje, de acordo com os pardmetros por eles lancados. O complexo constelado na sua relagao, e que acabou os afastando, parece-me ter sido um complexo de Edipo em suas personalidades, 0 qual ndo foi elaborado em uma terapia.” (BYINGTON, Freud e Jung, sua Limitagao com 0 Sagrado e o seu Complexo de Edipo, p.01) Mesmo conhecendo a teoria e reconhecendo suas defesas, seus complexos, ambos os autores parecem nao ter elaborado suas questdes acerca deste tema e isto culminou numa explosio emocional que, segundo Carlos Byington pondera, foi o motivo real para a ruptura entre eles, seja a nivel de relacionamento interpessoal, assim como posterior separacao das teorias. Ele diz: “O maior sintoma da atuagdo de suas defesas, no que diz respeito a relacdo entre eles, foi para mim a sua separagdo abrupta, em plena associagao extraordinariamente criativa, sem nenhuma elaboragao emocional e qualquer integracao das suas diferencas. Perderam eles, por certo, mas, por serem os pilares da psicologia dindmica, sua separagdo traumitica afetou 0 campo da Psicologia de maneira fundamental. Ficaram polarizados no estudo do inconsciente pessoal e coletivo. Assim, ndo perceberam que a separagdo entre pessoal e arquetipico nem sempre existe, uma vez que a dimensao pessoal tem fundamentagéo arquetipica, a comegar pelos simbolos do pai, da mae e da crianga bem como por todas as defesas descritas por Freud para formar o inconsciente pessoal.“ (BYINGTON, FREUD e JUNG: O que a Emogao nao Deixou Reunir, p.07) 18 Ainda sobre sua emogiio ¢ sua separagao. “4o ler a correspondéncia dos dois enquanto preparava o artigo, tive a nitida sensagdo de que a ruptura emocional havia desencadeado a separagdo ideolégica e néio 0 oposto. Senti claramente 0 ferimento que isso havia sido para 0 movimento psicanalitico e a necessidade dele ser reparado.” (BYINGTON, Freud e Jung: Dois Opostos que Formam um Todo, p.02) Essa relago entre a psicanalise e a Psicologia Analitica deve se estreitar pelos préximos anos, visto que muitos estudiosos vém reconhecendo a complementariedade de ambas as teorias. Num futuro, quem sabe, podemos clarificar os conceitos de cada um e reunir o que ha de mais essencial, eficiente, eficaz, tanto para o tratamento do corpo, como da mente e do espirito. Espero que com este breve esbogo acerca da relagao pessoal e tedrica dos dois grandes génios da humanidade, Sigmund Freud e Carl Gustav Jung, Ppossamos iniciar este movimento de unido complementar para a construgao de uma teoria mais dialética, Mantenho-me feliz em ver o trabalho do professor Carlos Byington ja realizando este trabalho e resolvendo questées to importantes para a humanidade. 19 TAREFA: Faca uma meditacaéo livre (sozinho e num lugar tranquilo) de no minimo 10 minutos acerca dos temas expostos neste livro. Se desejar pode usar alguma musica para ajudar a relaxar: Clique na imagem acima ou neste link para acessar a musica 20 Por ter completado esta tarefa, vocé ganhou a Insignia Nivel: ‘“Matéria Prima” Insignia Clique Aqui para obter sua insignia! 21 Conhega mais do Jung na Pratica! Clique nos icones abaixo para ser redirecionado aos nossos canais de conteido! ) s s = q Facebook Site Youtube Instagram Referéncias Bibliograficas BERTONE, sousa. 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