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PRODUCAO TEX TUAL na universidade Désirée Motta-Roth Graciela Rabuske Hendges 5 j= rs KA Py ARTIGO ACADEMICO: INTRODUCAO Pablo Picasso: “A Refeicao” (1953) 4.10 que é um artigo académico? artigo é um texto, de aproximadamente 10 mil palavras, produzido ados, os resultados com 0 objetivo de publicar, em periédicos de uma pesquisa desenvolvida sobre um tema especifico. se género serve como uma via de comunicacao entre pesquisadores, profissionais, professo- res ¢ alunos de graduagéo e pés-graduagio. Na atualidade, 0 conhecimento gerado na atividade de pesquisa ¢ primor- jade. A atividade dial para 0 avango das varias profissées que compéem a so 65, PRODUCAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE de pesquisa esté essencialmente ligada ao meio universitirio, onde professores © alunos desenvolvem estudos avangados € pesquisas que, mais tarde, se torna- rio puiblicas por meio de apresentagdes em congressos, mas principalmente, por meio da publicagio de artigos. Esse conhecimento sera gradativamente reescrito € recontextualizado na forma de informagécs simplificadas a serem publicadas na forma de textos de popularizacao da ciéncia em outros contextos como jornais € revistas de comunicagio de massa para que o piblico em geral va assimilando os avancos da ciéncia. Nio se esqueca de que até bem pouco tempo, algo que acontece ainda hoje, as pessoas pensavam que 0 Sol girava em torno da Terra. Foi preciso muito estudo, discusses (¢ algumas fogueiras da Inquisi¢ao) para que, por meio da divulgacio desse saber, qualquer crianga atualmente na 5* série do ensino fundamental tenha © dircito de saber como se dé a rotagio terrestre. Esse conhecimento hoje tio algo extremamente académico, limitado a um cfrculo fechado de simples jé fe doutos senhores (havia pesquisadoras anres{durante ¢ depois da Idade Média, mas elas foram ignoradas nos relatos da-historia da ciéticia, Mas isso ja ¢ assunto para outro livro!). As informacées geradad ha pesquisaya6 Serem submetidas aapreciagao ¢ apro- vacio (ou condenagéo) publica, 5463 aospoucos, absorvidas pelasociedade mais ampla, servindo de suporte pafa tomadas de decisdo.eit diferentes instincias como governos, empresas, indistriasecomeércio, escolas ¢ famiilias. “Assim, ¢ importante que examinemos mais de perto o sistema de ciréulagdovde infeimacao cientifica. Como 0 artigo académico é o géneto textuial mais Conceittuado na divulgagio do saber especializado académicd) concéntrarenios nossit atengao nele. A titulo de genetélizacaos tim. artigo pode’ ser visto como um documento es- crito por um ou mais pequisaddres pata relatar os resultados de uma atividade de investigagio. Cada area @€ada problema de pesquisa determinam 0 modo como a pesquisa serd desenvolvida e, como consequéncia, a configuragao final do artigo que relatara a pesquisa. Hi 0 artigo de revisio teérica, que relata uma pesquisa que consiste em um levantamento de toda a literatura publicada sobre um tema (0 conceito de identidade na sociologia ou o mal de Alzheimer, por exemplo) em anos, de 2000-2010 etc.). Hao determinado periodo de tempo (nos tiltimos vint artigo experimental, que relata um experimento montado para fins de testagem de determinadas hipsteses (vestagem dos efeitos de impulsos elétricos no tratamento de depressio por meio de levantamento estatistico em um grupo de pacientes). 66 ARTIGO ACADEMIC: INTRODUGAG Hé 0s chamados artigos cientificos empiricos, em que 0 autor ou autores nao relat m uma pesquisa desenvolvida em um ambiente experimental controlado, mas reportam a observacao direta dos fenémenos conforme percebidos pela ex- periéncia (a andlise das representagées sociais sobre a mulher conforme observa- das nos textos que circulam na midia ¢ nas entrevistas com os jornalistas autores dos textos). Note que, em algumas dreas como astrofisica, artigos experimentais so impensaveis: “Nao se pode fazer um experimento com uma estrela ou uma gakixia do mesmo modo como se pode realizar um experimento com um com- posto quimico ou uma planta’, Nesse caso, 0s artigos de astrofisica se estruturam mais como argumentagées logicas do que como relatos de anélise de dados (Swa- les, 2004, p. 207). Embora haja tipos diferentes de artigos académicos, ficaremos circunscritos dados sobre determinado problema dentro de uma,rea de conhecimento especifica ¢ a artigos experimentais e empiricos, cujo objetivo é apresentar ¢ discut inteti- fazer interpretagées na forma de resultad6s\de pesquisa, Génforme vimos camente no capitulo 1, 0 artigo experimental pode 8é# descrito em termos de: * objetivo (apresentarsos tesultados de, tim experimento); * forma (10-20 paginas, incluindo e@rekeréncias); " publickgio (em periddigos, acacémicos); = atividades que’ autor désenvolve (selecionara bibliogratia, delimitar ¢ cuting avaliar os resultados, do estudo frente & anali im problema, di pesqisa prévia na drea); Neste capitulo, discusitémos.es84s quést0es isis detalhadamente, com espe- cial atengao para a seG40 devintrodugdo de artigos académicos, onde se constroem © contexto de pesquisa“ probléma-¢-68 objetivos do trabalho da pesquisa repor- tada no artigo. E importante ressaltar a introdugio como a parte do artigo onde se justifica a importincia ‘da pesquisa, isto é onde sio apontadas razdes para a realizagéo do estudo, da escolha do tema ¢ do problema da pesquisa, bem como da base tedrica e/ou metodoldgica. 4.2 RazGes para se escrever um artigo O artigo tem como objetivo bisico reportar um estudo. No entanto, para que essa informacio circule ¢ tenha impacto na area de conhecimento, o leitor precisa 67 PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE estar convencido de que o estudo reportado tem relevancia para a area do saber em que a pesquisa se inscreve (neurologia, boténica, educagéo, sociologia ou econo- mia, por exemplo) e que tem adequagao as priticas de pesquisa ¢ de argumentagio usadas nessa disciplina. Para demonstrar isso, 0 autor descreve o estudo, expée ¢ avalia seus resulta- dos, conclui ¢ argumenta, utilizando as convengoes proprias aquela area, Cada drea tem uma cultura propria que se traduz em um objeto de estudo prdprio (numa analogia rudimentat, pode-se dizer que 0 uso da linguagem é o objeto de a area de odontologia). [sso estudo na area de letras assim como a satide bucal resulta em modos particulares de construir objetivos e procedimentos, padroes para propor argumentos, maneiras de usar a linguagem (estilo e vocabulArio tée- bre problemas na area. O capitulo 2 discute iplidas, no modo de se apropriar de um nico), de argumentar e de refletir s essa variabilidade, existente entre as dis género. A resenha foi usada como exémplo para ilustrah\eomo diferentes culeuras disciplinares elaboram maneiras proprias de consttttir e avaliar conhecimento em textos dentro de um mesmo enero. A seguir, verentos Como iniciar@ redagao do artigo a partir de conceitos cen- trais a uma-drea de interesse. 4.3 Por ondecomegamos a escrever.o artigo académico? Q@ohforme indicado no capitulo jo aurordé um Sttigo busca demonstrar habilidade para: (1) selecionargas Teferéneias bibliograficas relevantes ao assunto; (2) refletit sobxe'estudos anteriores na area; (3) delimitar untproblenta ainda nao totalmente estudado na dea; (4) claborar uma abordagem para 0 exame desse problema; (5) delimitar ¢ analisar um conjunto de dados representative do universo sobre o qual deseja alcancar generalizagoes (6) apresentar ¢ discutir os resultados da andlise desses dadoss (7) finalmente, concluir, elaborando generalizagées a partir desses resultados, co- nectando-as aos estudos prévios dentro da drea de conhecimento em questio. Na medida em que o autor vai construindo seu texto, hé uma progressio da informagao do item 1 até o item 7, em quatro segbes que podem ser definidas 68 ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAG como': introdugao, metodologia, resultados ¢ discussio. Essa progressio pode ser descrita como a passage de uma visio geral da disciplina, em que situa 0 conhe- cimento estabelecido ¢ 0 que ainda falta descobrir sobre o problema (segoes 1, 2 © 3), passando por uma descri¢ao detalhada de como a pesquisa foi desenvolvida € que dados ela obteve (4 ¢ 5), até a interpretagao dos dados como evidencias de dado fendmeno e a demonstracéo da relevancias desses resultados para 0 conheci mento inici almente descrito como estabelecido, questionando-o ou reafirmando- © (6 e 7). O texto avanga do conhecimento amplamente aceito na érea para a geracao de um novo conhecimento especifico e deste de volta para a area. | +GERAL | | tntroaugio: Aprseniagio de fos conheci, resume de estudos priv, gneralzagies sobre conhecimento compartihado e indicagio da importancia do assunto para a rea, 8 | Metddologia: Descrigiio(dos materials 8 procedimentos usados no trabalho para ctudar o problema, Resultadds: Informagdes e dados obtidos, cofiohtados.coms auxiio retirados do proptio Wabalho! smplos Discliésdo;Intdtprotagio dos resultados emrolago ao que se avangou no conhecimento do problema, +GERAL Figura 4.1: artigo cientifico” * © tito desas segs poem ser esses mesos ou podem sefeferr ao objetivo ou tema da respetiva ego. Asim, aimrodsso pode receber um titulo como: “contextualiagio do problema” ova metodologia pode ser renomeada como “a implementagio Adapeagio da figur Jaborada por Hill, Soppelsa e West (1982, p. 335). 69 PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE ‘A figura 4.1 demonstra essa dindmica textual do artigo académico. Em prin- cipio, a transigéo do geral para o especifico, de uma visio ampla da disciplina a focalizacdo do t6pico de interesse, atraindo a atengio do leitor para um para a nova transigao do es- nicho no conhecimento na rea. J4 na conclusao, ha um; pecifico para geral, em que o foco se amplia gradativamente em direcio ’s s da disciplina e 4 solugéo do problema apontado na introdugao. a para a drea ea questées ge Nesse ponto, so apresentadas algumas implicagées da pesqui s questoes mencionadas na introdugao sio reto- que essas duas seges podem ser vistas como 10 do estudo. A‘ conclu: madas na discussao de tal manei imagens espelhadas uma da outra. Uma tiltima ressalva de ordem geral diz. respeito ao inicio do processo de escrita de um artigo. Ao planejar a redagéo de um artigo, é importante termos alguma estratégia de geragio de ideias, Um possivel ponto de partida para a cons- trugio do artigo é 0 conjunto de conceitos eentrais organizados em um mapa semantico. 20 se combinarem, estabele- Conceitos centrais expressatino foco do trabalho: is, com uma rede de relagbegqiné delimita 9,éma do nosso texto. Em termos gera @ fe qnipbincipais ideias @esenyolvidas no tex- as expressoes oriéntam o leitor s to, ao mesmeGmpo em que atixiliando escritor a delimitane manter constante a linha de discusséo emeseu texto. Por exemploy durante a leinuta’do abstract da pagina seguinte, é:possiyeb identificar concéitos.cehtrais do trabalho: Exemplo 4.1 L#2 ROMPENDO COM“ VERTICALIDADE: Autonomia € motiyagao na aula de inglés mediada por computador* © advento das tecnologias intelectuais eletréni- cas € 0 crescente niimero de usuarios da internet vém introduzindo novas configuragdes. sociais ¢ culturais nas prdticas discursivas adotadas em de- terminados contextos (Howard, 1997). Especi- ficamente na sala de aula de linguas, 0 processo ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO de traz, 4 tona nogoes como a de Me ee do aluno. ’ is nog6es se evidenciam no uso de ambientes de aprendizagem alternativos em que 0s alunos podem colaborar ¢ interagit em pares ou grupos em ambientes virtuais nio centralizados na figura do professor. Este estudo investiga a intera- o escrita de alunos de inglés da UFSM em rela- RRRERerrtete. Foi possivel identificar Re cm instincias de negociagao entre jo a sinais de os alunos que buscavam respostas satisfatérias a todos, na autocorre¢io decorrente dessas negocia- oes, € nas tentativas de ‘reparar’ respostas de co- legas. Aspectos de foram, ericontrados em atividades que os alunos faéiam além das so icitadas, participagéo, atenigao, curiosidadé€ ava- liagao positiva mosttda pelos alunds%o final do semestre. O.deslotamento doxceiitro dé-atencio do professo¥ para o grupo dé alunds-Concribui para desenvolvimento da EERE ja que a inter (o do-grupo-tirante a aulasébaseiatha ne: ered do-rumo, gociagdd dos membros do griipo a a scr tomado na interagid. Podése consideran gite um kale A iele® Sic. mente, negocia decis6es,eage dinamiicamente com 0 grupo € comb/a professorladurante seu processo de aprendizagem): Por outro lado, a introdugao da tecnologia na sala de aula de inglés parece resultar numa maior para o uso efetivo da lingua estrangeira para a comunicagao. *Resumo da palestra apresentada no II Seminario do Projeto Salin- ‘guas Pesquisa em sala de aula de linguas. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras, UFRJ, 1999. n SIOenTE © > Conceitos centrais, ‘aparecem recorrentemente a0 longo do texto. ee PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE have (como internet) e suas va- Se nos detivermos sobre as quatro palavras- riagdes (recnologias intelectuais eletrénicas ¢ ambientes virtuais) do abstract aci- ma, conseguiremos construir uma representagio esquemdtica do todo do texto a que chamamos de mapa semantico do trabalho, conforme a figura 4.2. Internet > Ensino-apredizagem mediado por Cries Figura 4.2: Exemplo de mapa semantico A partir da identificagao dessas quatro palaVras, poderfamos perguntar ‘Sobre | 2 que é 0 trabalho?” ecfoimular uma resposta,gonforme o textoNvo exemplo 4.2. E importante norar-que o titulo-(Rompertila com a verticalidide; autonomia e mo- tivagio na isla de inglés mediada pir computador) biisca sintetizar 0 trabalho e, portanto, se relacionaéoin algéitnas das palayeas-chaye indigadas. Exemplo 4.2 L#2 O wrabalho Sobrettecnglogias incelectus s (Como os ambientes vireuais da internet) e sua is cletré- nici contribuigao patid deseavolvimento da autonomia io de palavras-chave na geracao de ideias iniciais para um texto tem rado anual- se provado muito produtiva no curso de redacio académica mini mente, desde 1995, no Laboratério de Pesquisa ¢ Ensino de Leitura ¢ Redagio (LABLER), da Universidade Federal de Santa Maria. A experiéncia com escrito- res novatos demonstra que a sintese de um artigo na forma de mapa semantico, R ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO formado por conceitos de base, é um recurso de fundamental importincia na ge- ragao de uma estrutura conceitual inicial para o artigo, especialmente para alunos de graduacao ¢ mestrado com pouca experiéncia de redacao de textos de pesquisa. 4.4 Asecao de introducgao Uma ver estabelecido 0 tema central do trabalho por meio desse mapa se- mintico, devemos nos dedicar a contextualizar 0 problema de pesquisa dentro da Grea de conhecimento pertinente a ele, bem como nos concentrar no objetivo & na justificativa do estudo. Essas questées compreendem a introducio do artigo. Conforme indicado na se¢ao anterior, nosso ponto de partida para a redagio do texto seré o estabelecimento das palavras-chave. A figura 4.3 ilustra exemplos de palavras-chave para um trabalho na drea de medicina, especificamente em sati- de piblica. Satide publica ~“Andlise espacial Figura 4:3: Mapa semantico ém Medicina (Satide Publica) Geralmente, Watiacdes dessa palavras-chave se repetirdo na introdug’o’, au- xiliando tanto o escritor/leitor a identificar 0 assunto tratado no texto. Os auto res do artigo reproduzido no exemplo 4.3, publicado num periddico da area de medicina, escolheram as trés palavras-chave do nosso campo semantico da figura “+ mortdlidade infantil ¢ analise espacial. Veja como essas palavras das repetidamente, ao longo do texto, para manter a continuidade [Nas cigneias humanas, €comum a insergio dos mesmos termos no titulo do artigo ena citagéo das palavras-chave, logo abaixo do abstract. Nas ciéncias rurais, pritica comum a jnsergo de termos diferentes no titulo e nas palavras-chave. Unva explicagio que se titulo-© palaveas-chave sio consteuidos por termos diferentes, isso aumenta as chances de um mecanismo buscador ‘encontrar um dado texto na internet, em uma biblioveca, em um baneo de dados ex B PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE das informagdes a coeséo (a “costura’) entre as sentengas. Observe também que as informagées so apresentad ee Exemplo 4.3 MAL Mortalidade infantil e condigoes de vid: a reprodugao das desigualdades sociais em satide na década de 90 M. da C..N. Costa, P de A. Azi, J. S. Paim, LM. V. da Siloa aos poucos ¢ repetidamente: primeiramente As palavras-chave Palavras-chave: mortalidade infantil; geralmente : aparecem Fociidndlis expat ca introducio. INTRODUCAO A estreita relagio\@ue a mortalidade infantil apre- é reco- senta comcas-fatores sociais\€ ecoriémicos nhecidihé muito tempi tert’sido evidenciada’em diversos estudosdatino-americanos (Belim, 1980; Monteiropf982;Raim er alii, 1987; Yunes}\1983)s Em yittude da grande vulneribilidad@que agctian- gas com menos de.1 ano de idade, apresentamem face das alteragde ocorridas no-umbienté social e econdmic\@ das interven gees deGaiide (Murray, 1988), a mortalidadeatessa faixa evdria é considera- da como um indicador tanto da situagao de saiide, one quanto das SEES (Grant, 1992). Entretanto, estudos realizados em paises em desenvolvimento tém demonstrado que essa vinculagio deixou de ser tao evidente, visto mundial observada que, apesar da crise econém a partir dos anos 1980, néo ocorreu uma reverséo da tendéncia decrescente que esta mortalidade vi- nha exibindo (Ageitos ef alii, 1991). 74 ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO Na América Latina, uma das consequéncias des crise foi o agravamento das desigualdades soc ais, ‘Todavia, em varios paises verificou-se a manutengio € mesmo uma intensificagio da queda que vinha sendo registrada nas taxas de mortalidade infantil (Silva & Duran, 1990). Esse panorama contribuiu para que as questoes relativas as desigualdades em satide passassem a ser privilegiadas na demonstra- a0 empirica dos diferenciais socioecondmicos do proceso satide-doenga e, por conseguinte, na iden- tificagao de grupos populacionais submetidos a cos m: is clevados (Breilh, 1990). Algumas organi- zacées internacionais de satide passaram a orientar 0s investigadores no sentido de dirigir seuss esforcos para a claboracao de novos métodose-técnicas que possibilivassem discriminar melhor a situagio“de satide segundo as (ORS, 1992; WHO, 1991). Diante das'dificuldades pard’operacionalizar 0 cons ceito de dlasse socialnalgunSatitores vém se inelina. do para 0 empregode\indicadores comipostos por diferentes Varidveid socioecondmieas que permirem Me ete das condicoes materiais de ¢ téncia de grupos humanos de uma sociedad {am tellanos, 1990): Outté-abordagemempregada na apreensto dosgptocessox’tnyolvidos na determina- cao da doenga nepopulagio tem sido aquela na qual as relac6es sociais ‘também sao entendidas como determinantes do FRRIEQIERIRRT ee CieOieyutss FERREWEEERE. Assim, os indicadores tradicionais de satide so estimados para areas geogréficas com menor nivel de agregacao, tendo como referencia, ainda que nem sempre explicitada, a consideracéo de que o RERRGRUEREAERERE ¢ definido pelas relagées sociais decorrentes do modo de producéo w PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE econémica (Santos, 1980), e que a é concomitantemente uma condi¢io e uma consequéncia da evolugio de uma sociedade global (Santos, 1979). Paim (1997) imputa as Sefateltews RENE © papel de mediacao dos determinan- tes estruturais da satide. Para operacionalizar esse RiGee te) conceito, utiliza indicadores sociais ¢ econdmicos selecionados, considerando que uma abordagem 5 distincos BSIREMBEPEE, ocupa- a partir d dos por diferentes grupos populacionais, permi- te uma aproximagao da realidade, apesar da sua complexidade. Embora seja bastante antigo o eniprego da I para descreyei)a ocorréncia. dé do- feo enga, em geral, essa ahordagem restringiase 4 com- internacionais_¢, regionais, paracao de diferén¢ em que fates’ ambientais/climévicos sentados’ Como principais deferminantes das\de- eram apre- sigualdades enconitradas:\ Mais recenteméte,.eSa estratégia.vem sendle'tima das mais“utilizadlas par analisara influénicia de farores'demogificos, socio~ econdmicos ¢ de atengao"a savide na determinaéio © explicagio dayvariagiosda mottalidad® infantil (Gongalo-Perez & HerrerasLeon, 4990; Lardelli et alii, 1993; ZattriagaLlorens ebalii, 1990). No Brasil, esse ipo deéifoque revelou uma grande heterogeneidade na distribuigao espacial dos ébitos de menores de um ano no Rio Grande do Sul (Vic- tora et alii, 1994), em Porto Alegre (Guimaraes & Fischmann, 1986) e em Sao Paulo (Monteiro et. alii, 1980; Yunes, 1983). ‘Também em Salvador, BA, em 1980, foi demons- trada uma acentuada desigualdade na ocorrén- cia das mortes infantis quando distribuidas nas 76 ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO diferentes zonas de informaga desse municipio (Paim er alii, 1987), que se manteve entre os anos 1980-1988, apesar de os niveis desta mortalidade terem decrescido (Paim & Costa, 1993). Considerando a complexidade ¢ 0 dinamismo dos processos que envolvem a mortalidade infantil, faz-se necessdrio seu continuo acompanhamento, de modo que se po a dispor de informag6es que permitam a anélis da situagio de satide no nivel local € a adogao de medidas de controle pertinen- tes. Assim, o presente trabalho tem como objetivos, descrever a evolugéo da mortalidade infantil em Salvador entre os anos de 1991 ¢ 1997 ¢ analisar a municipio em 1991 ¢ 1994. Na introducaos o\autor geralmenté-indi¢a a Felevancia dotéma, revisa itens de ¢ 8 pesquisa prévia\e faz generalizages sobe 6 assunto que'serd ttatado no artigo. A relevancia do tema é sinal yada:por passagens quéapontant as lagunas no conhe- cimento ou a dificildadesria Solucéo de problemascorrespondentes. O objetivo estabeleceruriia base dé conhecimento comapattilhads com'6 Teitor para contex- tualizar a questao de pesquisa: A introdugéo define determninadg eampo dé conhecimento como se este fosse um vasto rerritérid-de investigaghoy Exemplo 4.4 M#l A estreita relagéo que a mortalidade infantil apre- senta com os fatores sociais e econdmicos é reco- nhecida ha muito tempo ¢ tem sido evidenciada em diversos estudos_latino-americanos | Em virtude da grande vulnerabilidade que as a PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE criangas com menos de 1 ano de idade apresentam em face das alteracées ocorridas no ambiente social ¢ econdmico ¢ das intervengées de savice (IEE (BBB, « mortalidade nessa faixa eviria é considera da como um indicador tanto da situagao de satide, quanto das condigées de vida de uma populacao |, Entretanto, que essa vinculagio deixou de ser téo evidente, visto que, apesar da crise econémica mundial observada a partir dos anos 1980, nao ocorreu uma reverso da tendéncia decrescente que esta mortalidade vi- nha cxibindo (aaa Na América Latina, uma das consequiéiicias dessa, crise foi o agravamento das desigaldades sociais. ‘Todavia, em varios paises AHMBBER a mahtatengio € mesmo uma invensificacao da queda que vinha sendo registradnas taxas detmortalithide infantil ‘Silva & Duran, 1990 para que as questdés relativas as desigualdatles em’ .Eske pavorama contribait satide passassein a seb privilegiadas fia depréastra- ‘a dos diferenciais-socioecandmicos do gio emp processo satide-doenga e por conseguinté na idea: tificagdo de grupos\populacidnais submetid6s a ris- cos mais cleysdos possibilicassem discriminar melhor a situacéo d satide segundo as condigées de vida [RSI Diante das dificuldades para operacionalizar 0 con- ceito de classe social, alguns autores tém se inclina- do para 0 emprego de indicadores compostos por diferentes varidveis socioeconémicas que permitem 78 ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO uma aproximagio das condigoes de existéncia de grupos humanos de uma sociedade (SSIES Outra abordagem empregada na apreen- so dos processos envolvidos na determinacio da doenga na populagéo tem sido aquela na qual as relacées sociais também sao entendidas como de- terminantes do padrao de ocupacao do espaco de uma cidade. Assim, os indicadores tradicionais de satide sao es- timados para areas geogréficas com menor nivel de agregacdo, tendo como referéncia, ainda que nem sempre explicitada, a consideragio de que 0 pa- drao espacial da cidade é definido pelas relagdes sociais decorrentes do modo de produsao econd- mica (SHRROSMIDBD), ¢ que a evolugid-do espaco é concomitantemente uma condi¢io ¢ uma con= sequéncia da evolugio. de ima sociedade global (Santos, 1979). PRAGA) inipura ds condicesde vida de cada classe, social 0 papel dénediacad dos dererpsinan- 2 struturais da saude\Para operaciotializar sé conceito,ctitilizaindicadores sociais ¢ econdmicos selegibnados, considerandoQue,uima abordagem a partir dos distintos espag6s da jeldade, cdduipa- dos por diferentes. grupos poplilacinais, permi- te uma apfoximatio daealidade) apesar da sua complexidade, No exemplo 4.4, 0s autores abrem 0 primeiro pardgrafo com uma generali- zacio sobre o tema da mortalidade infant infantil apresenta com os fator tempo”. Ao fa “A estreita relagao que a mortalidade sociais e econdmicos é reconhecida hé muito 1 uma generalizagao, 0 autor afirma (ou nega) algo sobre o tema em questao. Por ter um carater de generalidade ¢ de conhecimento estabelecido (em oposigao a conhecimento novo), a generalizagdo muitas vezes dispensa cita- ao do autor ou do ano da publicagao que gerou a informagio. 79 PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE Em seguida, os autores revisam sinteticamente a literatura sobre pesquisas prévias acerca do vema, Além da citagao de trabalhos relevantes por meio da refe- 40 (por exemplo, “Monteiro, 2008”), revisio da literatura é indicada por expresses que remetem as pesquisas feitas réncia ao nome do autor e & data de publi ssi na area, tais como so experimental (“investigado- (1) verbos ¢ substantivos relativos ao pro ja em amostras coletadas”); res”, “tém verificado”, “uma grande incidén (2) verbos no passado composto (“tem sido”, “vem sendo” etc.) para aludir a atividade de pesquisa como um proceso que comecou no passado ¢ se estende até o presente (“tem sido objeto de muitas pesquisas”, “vem sendo evidenciada em diversos estudos”). Uma terceira estratégia usada pelos autores para fazer alusio a um corpo de co- nhecimento existente ¢ alertar para a importtitia do assunto na area, por meio de (1) énfase na repercussio do problema (“grandevulnerabilidade que as crian- gas com menos de um ano de idade aprésencam”); (2) referencia expligita’ao interesse\e outtos pesquisadores Sobre 0 assunto (“tem sidg evidenciada em diversos tstudos latingyameticanos”, “Algumas internaéionaisde Saude passarant a oriehtar os investigado- orgahidags res no sentido de di igit'seus esforgos pata & clabidragdode novos métodos © técnicas?). Aqui,(6dmo também em artigos de watras-freas),, ®medicina é mostrada como umm territério “povoado® por pesquisaddres, oride muitos estudos ja foram realizados ¢ muitos achados ja, estab, sctimenraddds, conforme a revisio da litera- tura indica, No.¢fitantog6s aurofes identificam lacunas ainda por preencher no conhecimenté éstabélecide. Exemplo 4.5 Mél Identificar lacunas no . . | | conhecimento existente Embora seja bastante antigo o emprego da dis- — tribuigéo espacial para descrever a ocorréncia da doenga, em geral, essa abordagem restringia-se & comparagao de diferencas internacionais e regio- nais, em que fatores ambientais/climéticos eram apresentados como principais determinantes das 80 ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO desigualdades encontradas. Mais recentemente, essa estratégia vem sendo uma das mais utilizadas para analisar a influéncia de fatores demogréticos, socioecondmicos e de atengio a satide na determi- nagio explicagéo da variago da mortalidade in- fantil (Gongalo-Perez & Herrera-Leon, 1990; Lar- delli et alii, 1993; Zurriaga-Llorens et alii, 1990). No Brasil, esse tipo de enfoque revelou uma grande heterogeneidade na distribuicao espacial dos dbitos de menores de um ano no Rio Grande do Sul (Vic tora et alii, 1994), em Porto Alegre (Guimaraes & Fischmann, 1986) ¢ em Sao Paulo (Monteiro et alii, 1980; Yunes, 1983). ‘Também em Salvador, Bahia, em 1980, foi de- monstrada uma acentuada desigualdade na ocor- réncia das mortes infantis quando distribuidas nas diferentes zonas de infofmacao desse mihicipio (Paim et alii, 198Z)\\qué se manteyeehtre.0s anos 1980-1988, apesar de os niveis desea mortalidade terem decescido (Paime8¢ Costa; 1993). Considerando acémplexidade ¢ o dinantisme. das processos .qiie” envolvem a moreifidade. Infanti | Assim, o'presente trabalho tem como objetivos descrever a evoltigia dla’ mortalidade infantil em Salvador entre os anos de 1991 ¢ 1997 ¢ analisar a relagdo existente entre a distribui io espacial dessa mortalidade ¢ as condigées de vida da populacéo do municipio em 1991 ¢ 1994, Os autores indicam que ainda ha lacunas no conhecimento em sua area ao evidenciarem dificuldades em estabelecer parametros confiaveis para estudar as 8 PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE causas da mortalidade infantil ea necessidade de continuar a pesquisar o assunto. 5 pelos resultados nao As falhas ainda existentes no conhecimento sao exp! conclusivos de pesquisas prévias ¢ a dificuldade de se estudar 0 problema (“hete- rogeneidade na distribuigao” e “desigualdade na ocorréncia’). Delimitada a lacuna, os autores devem explicar como seu trabalho tenta pre- forgos encher essa falha no conhecimento. Geralmente os: concentram na construgao de um lugar de destaque, um nicho para a pesquisa que passa a ser re- portada, valorizando e justificando a publicagao do artigo como causa natural des- sa necessidade de se pesquisar mais sobre o assunto (“Assim, o presente trabalho”). Nesse parigrafo final da introdugao, os autores retomam as trés palavras-cha- ve eas inter-relacionam em uma ideia central que explicita o objetivo do trabalho: (0 objetivo do trabalho éestabelecido ao final da Introducao. Exemplo 4.6 M#l Assim, 0 presente trabalho tenn como objetives descrever a evolugio da_mortalidade infantil em Salvador entre os anosde 1991 € 1997 analisar a relacao existente éntre a RSC U ee! dessa Petes condicées de vida da popula do municipio em, L991 ¢ 1994, do de Uma estratégia muito usada‘para finilizar,aintrodugio ¢ a apresentag uma visio geral da organizagie doaabalhe paraque o leitor possa construir um enquadramento mentale anteéipar, os pontos teméticos que serio tratados no tex- to que se segue, de’ modo tornar maisAgil a leitura. No exemplo 4.6, os autores antecipam para o leitor,a@rganizacao do texto em tpicos: (1) descrever (note a escolha dos verbos sublinhados) a evolugao da mortali- dade infantil em Salvador entre os anos de 1991 ¢ 199) (2) analisar a relagio existente entre distribuigao espacial dessa mortalidade e condigées de vida da populacao do municipio entre 1991 ¢ 1994. Muitas vezes, a estrutura do artigo é indicada pela enumeragao explicita de cada seco como, por exemplo, “No presente trabalho, primeiramente reviso a lite- ratura sobre 0 tema..., em seguida explico a metodologia adotada para seu estudo, 8 ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO ressaltando a importancia dos estudos de caso, ¢ finalmente apresento os resultados da pesquisa, chamando a atengio para as limitagdes do estudo quanto a...”. Swales (1990) claborou uma representagio esquemética da secéo de intro- dugio de artigos cientificos bastante conhecida no ensino de linguas para fins académicos. A representacéo ilustra a organizagio de uma introdugao com trés momentos. Assim, p: introduzir seu relato de pesquisa, um autor: (1) apresenta um territério de conhecimentos (2) constréi um nicho para sua pesquisa; (3) ocupa esse nicho com seu trabalho, conforme reproduzido na figura 4.4. A representagao esquemitica de Swales sugere diferentes estratégias retdricas para cada um desses momentos que parte do ambito mais geral em diregio a0 mais especifico (note que a figura 4.4, éum detalhamento da introdugio da figura 4.1). Cada uma dessas etapas do texto é interpretada como um movimento em um jogo de xadrez, cujo objetivo tiltimo é conyesitet 6 leitor da importincia do artigo 6, assim, persuadi-lo a seguir lendo 0, artigo até o fim, dBsses movimentos do texto sto chamados movimentos retdticos, pois a cada’momento do texto o autor usa os cursos linguisticos disponiveis para inttetagir com o leitor, petsuadindo-o a agir numa determinada direcdo de acdtdo, cont o argumentodefendido no texto. wae —— eae os Movimento 1 Estabelecer um territ6rio ff Passo-4 Asseverar a importéncia, 40 assunto eeu Og Vv. Pesso2 Fazer goneraldagéo(Ges) Sobre gassunt, )e/ou— / Passo 3 Reviseritens de pesquisa prévid ZF Movimento 2°.” Estabelecerum nicho / / Passdiia\Anrecbniarorqumbros contsdna estudosprovios ou / NG PassoaB Identiesriacunasnd conhacmento ou / ON. Pasto 1c Fazerquastonamentos ou // pas 10, Contin uma tradigao—//./ Movimento 3 Ocupar o nicho// PasgOAA — Esbogar os \Passo 18 Anunciar a pres Passo 2 Anunatr ge Passo Inia Figura 4.4: Representagao do modelo CARS da Introducio de Artigos (SWALES, 1990, p. 141) 83 PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE O primeiro movimento retérico tem como objetivo apresentar um territeyin de conhecimento. Para tanto, um autor pode: (1) asseverar a importancia do assunto; iio(6es) sobre eles (2) fazer generali obre 0 exemplo 4.4), (3) revisar itens de pesquisa prévia (ver comentarios s Frequentemente, os autores adotam essas trés estratégias em conjunto. Em seguida, para identificar um nicho no campo de conhecimento onde teu trabalho possa se inscrever, 0 autor revé a pesquisa prévia e pode (1) apresentar argumentos contrarios a estudos prévios; (2) identificar lacunas no conhecimento estabelecido; (3) fazer questionamentos sobre o assuntos (4) continuar uma tradi¢ao de pesquisa ja estabelecida (ver comentarios sobre Exemplo 4.5). O autor adota uma déssas quatro linha# de argumentagéo para construir 4m espago para seu trabalho, 4 que nao\pode, por exemplo, indiear lacunas em unya tradicao de pesqitisa jd estabelecidla ¢ ao inésmo tempojadlerir integralmente a cla. Por fim, para ocupar 6 hich@que construius'6 autor pode: (1) definir 98 (dBjetivos‘u as principais Caractéristicas Uo trabalho; (2) anunci resultados; 1 05 principais (3) indicar a estruturado artigo (Wer cofentériGs sobre o exemplo 4.6). Nattinger ¢ De, Carrico (1992, p2 164-167) listam algumas express6es carac- teristicas da segao de introdugao de artigos académicos, tipicamente produzidos por estudantes de‘tniversidadescamericanas. Essas expressbes sao semelhantes a algumas ja indicadas‘nosexémplos indicados ¢ também funcionam como sinali- zadores de como a informacao se estrutura no texto: Delimitar um territério Por muito tempo/nos tiltimos anos/em anos recentes, tem havido um cres- cente interesse em x; a maioria dos estudos de x estabelece/argumenta/propoe ys frequentemente tem sido afirmado/argumentado que x; muitas das pers- pectivas adotadas para x preveem/descrevem/avaliam que y; uma das mais controversas/importantes xs (na literatura recente) é y; de acordo com _, x é/indicalsignifical y. 84 ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO Estabelecer um nicho Tépico: Este trabalho trata/discute/afirma/argumenta que x; no presente trabalho/estudo x; meu/nosso argumento é essencialmente que x; eu/nés busco(amos) argumentar que x. Objetivo (ou hipdtese): 0 presente trabalho tem por objetivo x; este trabalho foi claborado para x; a énfase/a proposta/o objetivo (geral) do trabalho é x; eu/nés pretendemos demonstrarfilustrar que/debacer x; 0 objetivo do(a) tra- balho/estudo/anilise/discussio é x; a hipétese (central/bsica) é x. Organizagéo: primeiro lugar, __, em seguida, __, ¢ finalmente este trabalho compara/contrasta/descreve/demonstra __, em no restante deste ar- tigo, x ser4 examinado em termos de __; 0 presente artigo inclui uma andlise/ compara¢io/demonstracio de__, Em seguida, dever____e concluird por_. ALERTA! ALERTA! NAO SE ESQUECA DE... 1, Ler e preparar anotacGes da bibliografia com REFERENCIAS COMPLETAS, dando crédito ao autor pelas ideias citadas. 2. Observar o estilo das referencias em textos em sua drea e as normas dos pe- riédicos, evitando inconsisténcias naj fora dé-escrever a segao de referéncias bibliograficas, DICAS:PARA REDIGIR AINTRODUCAQ. 1. Seja simples’e direto. Nao ha necessidade de impréssionar hinguém, apenas tente deixar seu leitor interessado, informando+ sobre ditexto que vird adiante. 2. O leitor tem que entender o cohtextoé a base’de seu trabalho. Normalmente nao se exige que aintrodugdo faga-uma ampla revisdo da literatura, mas algumas referéncias fundamentals sdonecessatias (a nao ser em periddicos que determi- nem uma estrutura fixade introdueao-metodologia-resultados-discussao, em que © contetido da revisdo dailiteratura deve estar contido na introducao). 3. Justifique claramente por que vocé fez o que fez e por que isso vale a pena. Seus argumentos devem ser construidos a partir de critérios cientificamente re- levantes para a drea de estudo em questdo. Raz6es pessoais (preferéncia pelo tema, por exemplo) sempre entram em jogo, mas nao vém ao caso, pois nao se- ro consideradas validas na maioria das areas. Veja mais sobre justificativa no ca- pitulo sobre projetos de pesquisa neste volume; 4. Mesmo que vocé, muitas vezes, tenha a nitida sensacao de que esta enrolado, que 0 texto nao avanga, nao desista. Isso faz parte do processo de producao de 85 PRODUGAO TEXTUAL NA UNIVERSIDADE sentido. Escrever é dificil e demanda exercicio pratico, mas é uma tarefa extrema- mente recompensadora do ponto de vista de realizado pessoal e afirmacao de nossa identidade profissional. 5. Apés labutar na escrita do texto, deixe-o “descansar” um pouco enquanto vocé vai dar uma “arejada” no cérebro. Ao abandonar uma passagem problematica, vocé pode ir para outra parte do texto que precisa ser trabalhada. Mais tarde, po- dera voltar ao ponto problematico com mais distanciamento e atengao renovada. TOME AS PRIMEIRAS PROVIDENCIAS 1. Converse com professores e colegas mais experientes sobre possiveis ideias para o trabalho. 2. Escolha o assunto do artigo. 3, Faga leituras preliminares. Como se viu no capitulo sobre projetos de pesquisa neste volume, a ideia inicial para a pesquisa deve ser balizada pelas pesquisas pré- vias sobre 0 tema. S6 se pode identificar uma lacuna no conhecimento ao se co- nhecer 0 corpo de conhecimento estabelecida Chega-se a essa visdo abrangente dos temas inovadores de pesquisa, fazendo leituras prelifninares dos principais periddicos da area em questo. 4. Delimite claramente o foco\do trabalho. ELEJA PRIORIDADES 1. Visite bibliotecas e pesquisé em Bases de dados'ha internet (livros, coletaneas, artigos em periddicds conceituados, abstrdets, dissertag6és, teses, catdlogos) para buscar biblidgrafia de referéncia. 2. Definaumn enfoque a ser dado?ao assuinto (elaborar.uina tese ou um mapa se- mantico preliminar!).. 3. Organize a bibliogtafia que Ihe servira de Teferéncia basica (quais textos Ihe darao subsidios para escrever-cada uma'das secées de introducao, metodologia, resultados e discuss40?). COMECE A ESCREVER ESCREVENDO 1, Elabore um esquema do trabalho. Lembre-se de deixar etiquetas adesivas bem 8 vista para marcar ideias centrais nos livros e artigos consultados. Assim, vocé poderd voltar a elas sem muito esforco, sempre que precisar. 2. Desenvolva um resumo a partir desse esquema. 3. Prepare-se para escrever o trabalho propriamente dito, colocando anotacées na mesma ordem em que cada assunto aparece no esquema ou no resumo. 86 ARTIGO ACADEMICO: INTRODUGAO 4. Decida sobre o tempo verbal a ser utilizado no trabalho. O presente parece ser 0 mais indicado por ser um tempo neutro, isto é, pode ser usado para fazer referéncia ao presente, ao passado ou ao futuro (‘“Neste trabalho, investiga-se”). 5. Escreva uma primeira versao ou rascunho do trabalho a partir do resumo. 6. Escreva, revise e reescreva essa primeira verso varias vezes! Cada reescrita 6 uma oportunidade valiosa para aprimorar suas ideias e corrigir erros. Aproveite o exercicio, pois cada versao é um passo & frente no trabalho. PARA DAR O PONTO FINAL NO TRABALHO 1. Leia a versao final com critério, mas sem piedade ('), eliminando e reordenando trechos. 2. Pega a um/a grande amigo/a (ou orientador/a) que leia e depois discuta com vocé (que vai acatar quando possivel!) as sugestdes dadas. 3. Revise e reescreva a tiltima versdo pela ultima vez!!! PARA APRENDE A ESCREVER E PRECISO SE ENGAJAR EM PRATICAS DE LEITURA E ESCRITURA, PORTANTO TENTE REALIZAR A SUGESTAO DE ATIVIDADES-ABAIXO 1. Eleja um artigo para estudar. 2, Leia o artigo, procurando definir seu tdpico central e sua éstrutura (organizagao em secées). 3. Marque com canétas dediférentes cores‘a organizacao da’introducao em blo- cos de informacao que guardem alguma corréspondéncia comes movimentos da figura 4-4/conforme explicada.acima. 4, Identifique se a introdugao trazconceitds centrals com respectivas definigdes. 5. Procure o(s) trecho(s).de justificativa na.introdugao, nos quais o autor apon- ta as raz6es para fazef-a pesquisa, escrever o artigo, explorar o tema escolhido. Atente para pontos do téxto eny que o autor explica a relevancia do trabalho. 6. Busque, no texto, passagens em que o autor cita/critica/explica ideias de outros autores. Identifique pontos fortes e fracos encontrados pelo autor em pesquisas prévias e as razGes para essa avaliacao. 7. Localize critério(s) utilizado(s) pelo autor para organizar sua discussao da lite- ratura (por exemplo, cronologia das pesquisas, temas abordados e/ou correntes tedricas). 8. Procure sugestées do autor sobre temas para futuras pesquisas. 9. Tente elaborar um mapa seméntico das ideias centrais desse texto. 87

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