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ANTONIO SOUSA RIBEIRO Faculdade de Leties a Univericase Ge Coimara e Cento de Eatucoe Soci MODERNISMO E POS- -MODERNISMO —0 PONTO DA SITUAGAO ceriaiee mere iracinss gui iabineah site eee ieee iy rae, Taig ce ee hope ecpeanii at dened et che ct ieee ein ae Stee eimai, sii Dipee at nee Pa “« E M termos um tanto grosseiros, podemos carac- terizar 0 pensamento pés-moderno (..) como © pensamento que se recusa a transtormar 0 Outro no Mesmo» (During, 1987:33): eis uma definicdo, entre muitas outras possiveis, que, pela sua propria generalidade, nao deixaria por certo de ‘obter facil consenso. No contexto «p6s-modemor, 0 Outro cuja diferenga ha que preservar 6, evidentemente, antes de mais, 0 «Outro da RazAo», esse slado de fora que, segundo ‘Adorno @ Horkheimer, um lluminisme regredido & condigéo mmitica recalca como’ fonte incontrolada de pavor. E, no entanto, a andlise critica da «dialéctiea do lluminismo- que ambos levam a cabo mantinha-se ainda, apesar de tudo, no interior do paradigma racionalista, recusando-se a abandonar «0 trabalho, tornado paradoxal, da andlise conceptual» (Habermas, 19858:130) © aasumindo a tareta de siluminar 0 Huminismo a respeito de si proprio» (idem: 143), Nisto se dis- tingue inequivocamente da empresa nietzschiana, com a qual, como mostra Habermas, oferece varios paralelismos flagran- tes. Assim, a «ciéncia melancélica» em que se constitui a teo- ria frankturtense preserva a ideia da Razo continua a reivindicar-se como teoria critica, se bem que t4o-somente por lum tour de force assente no paradoxo de um passimismo 23 ie uen nso oe ftgsotoe edo Gespotae que aio tm nennum exsroto fe'suas organs por sso «forma fue aneontam de Subjugar 0 mundo & ‘encortt9 num Musi, 1999259 © tuminemo #0 pavor mio, fomago rasicat 2 imandne's pure do fear absoltamont Pada do fora. poraus Pimples nia de ‘Adorno/Horkaimer, 18038. 24 Antonio Sousa Ribeiro radical sforgado a langar mo da mesma critica que declarou obsoletas. Esta «denunela a transmutagao totalitéria do llumi= nismo com 08 proprios melos deste» (Habermas, 1985a:144). ‘Assim também, embora consciente de uma nostélgica poste- rloridade, a teoria adorniana ¢ indiferente a quaisquer preten- sbes «pés-filosoficass, como se exprime na célebre assercao iniial da Dialdctica Negativa: A tilosotia, que chegou a parecer ultrapassada, mantém-se ‘iva, porque se debvou. perder 8 oportunidade da sua reall 2agho (Adorno, 1982: 18) ‘Como 6 bem sabido, 6 na dimensio estética que Adorno encontra 0 lugar possivel desse Outro recalcado pela Razao, dessa «reminiscéncia da natureza no sujeito, em cujo cum- primento ae encerra a verdade incompreendida de toda a cub tura» (Adorno/Horkeimer, 1981:33). A reinterpretagao da dimansio mimética da arte nos termos de «uma posigao perante a realidade que esta para além da contraposigao rigida entre sujeito e objecto» (Adorno, 1981:163) configura uma racionalidade outra capaz de, paradoxalmente, manter viva uma possibilidade utopica de reconciliagao.(') A negatl- vidade radical que, segundo Adorno, funda 0 projecto moderaista nao @ em si um valor absoluto, mas antes a con- sequéncia inescapavel da situagao objectiva da arte numa situagao historica concreta. Ela encontra no principio da dis- sondncia, «protétipo estético da ambivaléncia» e, enquanto tal, suma espécie de invariante do modernismo» (Adorno, 4081:28-30), 0 seu equivalente estrutural, testomunno também da situagdo aporética da arte, uma vez perdidas, na moderna sociedade capitalista, todas as evidéncias quanto ao seu esta- tuto e legitimagao. Uma vez due, desde muito cedo, condicionados nom damente pelo colapso do movimento operdrio perante a ‘ascensdo do nazismo e pelo tracasso das esperancas deposi- tadas na Russia Sovistica, os tedricos da escola de Frankfurt do i ave HM. Enzenaberger eaplou no eu Wicada' a Adomng “om nome dos fm rome doa autres que nao cabom de ada / Feet eas ac sepacdar/(2)Inpocintmerte/om note dom SEisetos desonperart"pacientomenta) ay ome Gos. Ceseeperados/ due Tarde Senet Endenaberer rte) Re au extamporancicade ‘Sondlsio poxmoderna into a sor da negansor como o det snore es parece To"30 tornado obscltos, nds a stesso Salva Indicagao em contro, odes ae tradugbes so minhas modernismo (Birger, 19836), mantém-so inextricavelmente imerso nas aporias de uma intransigente negatividade. O pathos da distingao que marca a sua teoria estétiea, o rigorismo da recusa liminar da légica do senso comum ¢ das formas do quotidiano, vistas como irremediavelmente degradadas, fencontra a expresso mais exemplar na rejeicao sem apelo da industria da culturae, (2) reflexo fiel da sestratégia de hiber- ‘nagdor cujos limites Habermas, no contexto de uma reflexao sobre «8 actualidade de W. Benjamins, jd em 1972 apontava ‘Adorno segue ums estratégia de hibernagto, cule, traqueza roads vslualmonte no aos carsior Gatonaho, nore. {Sante quo.atese de Adorno porsa demonstar sxemplos sa iteratura.e da musica eng Stover a feiturasoltara'e a avcigho contemplats, ito 6 S"Sotrade real da individuagao burguesa, Para as aries que S80 objecto de uma fecopgdo coleciva’—a arqulectura © intura desentacse, pelo. conta, ta como ura de Massa @ 8 mosica de consume que 3° {mou dependente Joa medi electronicos, uma evalvgao ue aponta pare lém da simples industria da eutura @ Ado {ivatide a fortor a esperanga de Benjamin numa lumina (ho protena generalzada (Habermas, 197295-190). {A srpleituras da Dialdetica do tluminismo por Habermas, ‘que a atrds citel insere-se no seu projecto de reconstrugao a teoria critica, cuja pega maior até ao momento 6 a Teoria da Acgao Comunicativa. Do ponto de vista deste projecto, ‘este texto, de 1982, que viria a constituir, com algumas alte- ragdes, 0 quinto capitulo dO Discurso Filosdtico da Moder- nnidade, ocupa um lugar claramente estratégico: o diagnéstico critica dos paradoxos da tradigao teorica da Escola de Frank- furt vai de par com uma avaliagao fortemente negativa da maré pos-estruturalista, bem patente na preocupagao com @ especiticagao inequivoca do «diterendos dos autores da Dia- Iectica do lluminismo em relagao a Nietzsche. Para Habermas, 0 rigorismo ascético da teoria frankfur- tense, que, no plano da teoria estetica, parte da critica totall- Zante & industria da cultura para a formulag4o de uma intran- sigente estética da negatividade, leva-a a uma visao drasticamente redutora do processo da modemnidade que ignora aspactos essenciais da modernidade culturaly: Adorno @ Horkheimer partem de uma Optica limitada que gera insen- sibilidade perante os tragos e as formas existentes de racio- rnalidade comunicativas (Habermas, 1985a: 138 e 155). Tratar- sed entdo, sem que isso implique abandonar a perspective a Sosa ab aime atau et a Modernismo 2 Poe-Mod 25 ‘Antonio Sousa Ribeiro de eritérios universais de validade, de saber auscultar as dit rentes l6gicas de autonomia quo, por mais deformadas que se apresentem, configuram na «praxis comunicativa quotidiana- (187) ndcleos de racionalidade que escapam a um simples critério performative e exprimem assim a critica dinamica do smundo-da-vida> a rigidez dos sistemas, Nao pretendo discutir aqul em pormenor as teses de Habermas; o que particularmente me interessa relevar é 0 facto de @ revalorizagao do local @ do particular, tida como um dos tragos definidores do pensamento pés-moderno, ‘emergir também naquelas posicdes que, mais ou menos criti- camente, se situam no interior do projecto sinacabado» da modernidade, preocupadas com uma reavaliagio das légicas ‘dese quotidiano om que a teoria critica nao consegula sendo ¢ das estratégias de excluso {que fundavam 0 projecto modernista (Huyssen, 1986-i}. Em Habermas, isto reflecte-se numa retracgdo do peso epistemo- légico do estético, coerente com a sua definigao de uma racionalidade comunicativa, j& nao dependente apenas de um discurso estético acantonado numa reivindicagao de autono- mia. (*) As varias formulagdes do pés-moderno, pelo contrario, tém em comum a sobrevalorizagao da dimensdo estética, fembora num sentido pan-esteticista oposto ao de Adorno. Este via ainda a situagao estética contemporanea mover-se ‘numa margem dramaticamente estreita ‘Tambem no plano social a situacao da arte é hoje aporé- tice. Se enfraquece 2 sua autonomia, entroga-se a0 mec: nnismo da ‘sociedade existonte. se permanece estrtamente ‘no seu campo, deixe-se Intograr com igual faciligade, como ‘rama inotensive no meio de outros, (Adorno, 1981°382-59) A concepgdo detensiva e ascética de Adorno ¢ agora Substituida pela universalizagao do estético, traduzida, nomeadamente, na rejeigao ou relativagao da rigida dicotomia ‘entre alta cultura e cultura de massas.(") Eate abandono da (0) cA satvagio [da Razko « do sete) (.) esta na radealiapto oo lum copiceme due, Uma ver raseslzado. oe instore em anhaeto ot ipo ats dose cata oc, um epreno tp 1 {805 08). Note'se ue 0 conceto Ge fs plurals: nto ae confuna ‘iar brapotineiag, max ineisenstae go connecimento eanthio pode star fa brigem ae me nove Ta Ver a: proposta de Habermas demasiado afeclaas por Um hasta (Gruncer, 1986188 segs). (77 Sobre gata Siceroma om Adorno 0, a tun geneslogia. ct. ainda Bible, T088,Seao pre tab rexbn ann ool go, ‘or tomo cm noqho do sausime-art.ulam una concept do gata ‘ule aparertada com a-ge'Adorno (ot a pate final do provonte argo) Modernismo 1 Poe Mor ar 28 Antonio Sousa Ribeiro tensdo da negatividade, quo permitia& teoria estética pensar- se ainda como critica, implica 0 abandono irremediavel da porspectiva critica e a reconciliagao com a logica do exis tente? Trata-se de edestruir os chades da vida infibulando-os ‘com os chavdes da arte» (Newman, 1986:143) e de neutralizar um potencial de resistencia através de uma estratégia pancul- turalista que no representa sendo o reverso da logica uni- formizante do mercado © a universalizagto do felticismo ou, pelo contrério, tratar-se-a simplesmente de um dos sentidos Possiveis da tolerancia discursiva» (Santos, 1987:48) que Caracteriza a producdo do conhecimento pos-moderno? Res- ponder a estas perguntas implicaria @ particularizagao da an- lise, que teria de comecar por problematizar a relacao entre (08 pares modernidade/pos-modernidade @ modernismo/pés- -modernismo, que esta muito longe de traduzir uma corres- pondéncia biunivoca. Por alguma razao, no contexto do debate em curso, quando a andlise se centra na dimensdo estética 0s contornos da discussao tornam-se mais difusos ¢ a propria utilidade do conceito menos palpavel.(*) E certo que a dificuldade de defi- igo © 0 cardcter abstracto do conceito de »pés-moderno» ‘880 comuns a todos os compostos do género, sempre mais, aptos a denotar o desejo de descolar de uma situacto de uma forma ou de outra sentida como incémoda ou sedica do que 8 definir a direcgao @ © sentido dessa descolagem. No caso do «pds-modernismo», porém, acresce a Isso a consciéncia, ‘mais ou menos clara da permanéncia irredutivel da problemé- tica modernista no seio daquilo que mesmo os textos apolo- géticos tm frequentemente dificuldade em precisar em t mos de um novo paradigma. Uma das raz6es, ou a raz8o maior, dessa consciéncia reside, a meu ver, justamente na percepgio de que a critica aos mitos da modernidade articu- Jada no discurso filoséfico pos-moderno esta ja claramente prefigurada no discurso estético do modernismo. (°) E pro samente em torno das ambiguidades da rela¢ao entre os varios termos em confronto que me parece util desenvolver algumas raflexdes. (=A pba-moderigade covrctamants entendida sara um projet. o pleinaatman, som quando. sect ainnierai do ue Laie Sama matior poder ser cmereendido « como um movimento 36 buses, come uma fentatva de registro racos Se ransormaeho © Se fee surgi Som gale rldee os contormos daauele projection (Welle, 1988 18), (G)"A cacao de Musil om eprgrate no 6 senao um dae mulion xem po posewels‘ngo detxa, por cus lado de ser intarescantoveniear camo Grama sen Qualdades surge mals de uma vee reltide A Condicdo Pos-toderna. A-voraade € que camo ietragao.no contro ce ryote, fi au Ciiehso homer sam uahaaser,exrpice» ics shia oes iaigo eauivsea, taando-se como to tt fro aw e una euoeca de ound do qu doe Quando se trata de avancar na detinigao do pos-moder nismo para além da formulagao comodamente genérica que cito a abrir este texto, um dos mais reveladores denominado- res comuns @ © reconhecimento, muito diversamente assu- mido, do cardeter fluido do proprio termo em debate, redun- dando, muitas vezes, numa retlexBo consciente do estatuto problematico e da duvidosa produtividade tedrica do conceito. Mesmo um Ihab Hassan, ele proprio, de ha longa data, um {dos mais prolificos teorizadores da questdo, apesar de escre- ver a partir de um contexto, 0 norte-americano, em que as coisas poderiam talvez parecer mais claras, ainda em 1986 fazia um diagndstico pouco menos que alarmante: Parece, assim, claro que chegou a altura de teorizar 0 termo [pos-modernigmo}, quando nae de detiniio, antes {Que ele passe de neologismo desastrado a chavao estafado ‘Sem Jamals ter enogado @ assumir @ cignidade do um con- Ceito cultural (Hassan, 1986:604), Nao se trata aqui de decidir se a dificuldade em instituir- 16 como se tornou uma questo irrecusével, sinal de que, bem ‘ou mal, por ela passam algumas Interrogagoes decisivas Jo ‘nosso presente. Fredric Jameson sintetizou com pertinéncia a incomodidade daqui resultante para quem nfo partha a eutoria das posigdes apologsticas:(') © facto 6 que nos encontramos imersos na cultura do po “imodernisme ate um ponto tm qua © seu ropudio fee ¢ {Wo impossivel como qualquer Igualmente falsa celebragao ‘cele € complacente e corrupta. (Jamieson, 19640 83) lege aplicado fo positon @ Stein aon frou arian reco : PHY Para'um laeussto arguta das contradiges por un ver grads por essa incomocidage, vje-at' testa de Nancy’ Atmaivong nosis ments “amples possbiicade de eustonea ot A expresso scultura do pés-modernismo» reflecte a con- cepcto de Jameson do »p6s-modernismo» como uma «domi- rnante cultural», ela propria tradugdo da slogica cultural do capitalismo avangado» (Jameson, 19842). Nestes termos, ape- sar da perspectiva critica que ¢ a sua, ele acaba por néo con- seguir escapar aos equivocos de uma concepgae monolit do pés-modernismo e por Ihe conferir uma aura de equivoca positividade. Haverd que perguatar se, ao cristalizar em seu torno um conjunto de interrogagdes que mergulham fundo na problematica cultural contemporénea, o rétulo do pés-moder- rhismo nao condiciona a formufacdo dessas interrogacoes de uma forma que contribul fortemente para ocultar e desvalor'- zat respostas altarnativas. No selo de uma retérica que privi- legia 0 local e 0 ex-céntrico, assistir-se-ia assim a uma dina mica paradoxalmente totalitaria, que condena literalmente a uma nao-existéncia as I6gicas, mesmo que residuals, de resistencia e diterenca. (12) ‘Se 0 «p6s-modernismo» entrou decididamente no nosso horizonte discursivo, sera Util, assim, nao perder do vista as suas ambiguidades e evitar desde logo 0 equivoco maior da ontraposigao ingénua de um pos-modernismo a um moder- riismo, ambos entendidos monoliticamente. As formulagdes ‘menos taxativas do problema terto necessariamente que plu- ralizar ambos 0s conceltos, 0 que implica, por exemplo, do lado do modernism, entrar em linha de conta com as ques- ‘es suscitadas pela distingdo entre modernismo e vanguardas tal como foi teorizada por Peter Birger (Burger, 1974), ela jprépria também problematizével de virios modos (Lidke, 1976; Burger, 1983a: 189-90; Miranda, 1987:100-101), , do lado do pés-modernismo, obriga a tentativa de discriminar fentre as varias formulagées. para além da sua uniformidade aparente. A dificuldade esta precisamente na exigéncia de uma analise suficientemente especificadora, que tem estado ausente tanto das prociamagées apologéticas como das rejei- {9008 liminares. Talvez por isso a discussdo tom abundado nas sgeneralizagées polémicas> de que, numa critica a Terry Eagleton (1985) se queixa Linda Hutcheon, em termos que poderiam aplicar-se de facto a boa parte das contribuigdes para 0 debate Como muitos outros antes dela (tanto detensores como (yotard quanto detractores como Jameson}, Eagleton (7) Asim também a alecussgo tonde a assum com demas ona anateria,oequocenda que, para out es, ela simplesmonte taer ndo Taga senico (During, 1887) Derapestra Ge grupos soca margindlzados as porguriae fruto bem ser Sutras (ch para caso de mulheres do tarts [7088] © Armstiorah Modernismo @ Pos-Modernismo 31 32 ‘Antonio Sousa Ribeiro separa teoria e pratiea, escolnendo argumentar apenas em betractos @ procurando quace delibora” fo que tipo exacto de pratica esttica Sse est realmente a tratar- (Hutcheon, 1987.10 6 22) A dificuldade esta em que, no contexto dos E.U.A.. 0 conceite de (16 @ segs.) reconci- liagdo distarcaca de adesejo de sentido» (13), popullamo (18): eclectismo como «grau zero da cultura geral contemporan (19). As reminiscéncias da teoria estetica de Adorno so ini- lugiveis; veja-se, por exemplo, @ definigfo lyotardiana da situagao do artista pés-moderno: Un gests: Tost que cxctove-e ara que ral nbo 80 ipo governadas por regres ja estabelecides, no podem ser julgadas mediante um juizo determinante, Bando a este texto, a essa obra, categories connecidas Estas regras e estas catagorias sa0 aqullo que 8 ora ou o texto procura. (25) © programa nominalista da estética adorniana Informa também o texto de Lyotard (salvar a nonra do nome (27)).0%) A irrupgao do novo, a fuga em frente de que falel atrds como caracteristica da atitude vanguardista, continua a ‘caracterizar exactamente nos mesmos termos a situagao pos- “moderna: Espantosa acsloragdo, as geragtes procipitam-se, Uma obra 86 pode tornar-se moderna se primeiro for pés-moderns, (© posemademismo, entendigo assim, no @ 0 madernismo ‘no'seu estado terminal, mas no seu estado nascente, © esse festada @ conetante. (24) A dotesa das vanguardas articula-se, algo paradoxalmente, ‘com um coneeito chave para @ concepcao lyotardiana do pos modernism e que, como 6 reforcado pelos exemplos do autor, constitui uma caracteristica historicemente recorrente, € ‘ndo uma marca epocal. Trata-se do conceito de sublime, que Lyotard vai buscar a estética kantiana, mas fazenido passar ‘para segundo plano o elemento do terror @ retendo sobretudo dois aspectos: 0 da -presentificagao do impresentificével> (22) @ 0 da cintensificacao» das sensacoes e da percepcao (Lyotard, 1984-159). ("") Assim, o sublime serve fundamental mente @ Lyotard para fundamentar uma estética da alusao, bem integrdvel na tradigao moderna (Lokke, 1982, sobretudo fas referencias a Mallarmé, 427-428) Num aspecto essencial se articula a nogao de sublime com as teses de Lyotard: ele ¢ 0 lugar por exceléncia do dife- rendo—ao contréio do belo, ndo é partlhavel nem pode ser ‘abjeoto de consenso, constitui, neste plano o rigoroso oposto do senso comum (Lyotard, 1987.20 e segs.; 1984:162). Aqui se Insinua subtiimente também uma diferenga em relagio a ‘Adorno: para esta, a estética do sublime liga-se a consciéncia ‘melancélica da impossibilidade historica de uma estética do belo, mas, mesmo em estado negativo, esta mantém-se como horizonte, presente no proprio trabalho de luto (Shapiro, 1985:281-232—mas os exemplos poderiam multiplicar-se).. Indo para além de um conceito estatico de arte (ct. a citacao de Adorno acima, na pag. 8), a tooria adorniana detém-se em dead Baca Invi do ponsamert a nao oe humane ama fs 2 ‘seguro To0F 29, 182). Modernismo fe Pos-Modernismo 39 40 Antonio Sousa Albeiro limites a que, cum grano salis, poderiam ay deragoes de Lyotard: E poranto este o diferenda: a estética moderna ¢ uma ostotiea do sublime, mas nostdigica: permite que o wimpre- Sentificavelr seja alegado apenas como um conteudo fusenis, mas @ forma continua a proporcionar ao leitor ou 40 espectador, gragas 4 sua constoncia. reconhecivel ‘materia para consolagdo e prazer. (1987:26) A contraposigao por Lyotard desta estética melancolica a uma estética da inovagao, contraposi¢ao que, alias, nao é muito clara, uma vez que elas se interpenetram em muitos aspectos, assenta assim, essencialmenta, numa delinigao da estetica pés-modernista como aquela que abandonou o traba- tho de luto. O vélho motivo da «pagina em branco» que 0 artista € sempre @ sempre capaz de dominar surge aqui ape- nas despojado da sua dimensao agonica, traduzindo-se, em ltima analise, na exaltagzo epigonal das vanguardas. Se bem {que sejam escassas as indicagoes dadas por Lyotard, ele esta a mover-se, no essencial, nos termos da oposicao entre modernismo @ vanguardas teorada por Peter Burger. A Insisténcia na caracterizagao da estética pos-modernista como luma estética da nao-representagao no bastaria, $6 por si, para tragar uma linha diviséria. O essencial seré'a perda de sconsciénciay da forma, em beneficio do «acontecimento>, © que equivale & =destruigao da instituigao da Arte que, par Biirger, define 0 projecto das vanguardas (e, neste aspecto, alguns'dos exemplos concretos de Lyotard parecem encal- xar-se mal). A euforia da poténcia em presentificar o impre- sentificavel, em produzir a presenga de um acontecimento, sobreleva 0 efeito classico do sublime, o terror. Nao se trata tanto da exposigao aquele «pavor mitico que o sistema do iluminismo esconjurava como de reflectir a perda da realidade afirmativamente, uma vez que é a consciéncia «alegre dessa Perda que permite a irrupeao da consciéncia pos-moderna. (© pos-modernismo na versao lyotardiana acaba assim por 88 confundir praticamente com as vanguardas nistoricas, acentuando, por um lado, uma dimensao critica que, pri- meira vista, ndo se compagina com as teses 4'A Condi¢so Pds-Moderna, mas que, na sua insisténcia radical numa esté- tica do sublime, traduz afinal a pulverizagao da Razzo ps Irredutibilidade do diferendo ¢ 0 abandono da perspectiva vutopica que marcava aquelas vanguardas. Nas suas pré} coscilagdes, 0s textos da toorizacdo estética de Lyotard retlec- tem em que medida, apesar do tom afirmativo, ele se mantém ppreso de dilemas que sao, no fundo, as aporias do moder- hismo e que, na oscilagdo entre a melancolia defensiva projeccao dindmica para a logica dos novos meics de produ- $40, se rollectiam ja, por exemplo, na fundamental polémica ‘entre Benjamin @ Adorno nas anos 30 (Ribeiro, 1986-44-50) © cardcter problematico do hipostasiar do sublime e o risco de redundar numa politica do mito (Lyotard, 1984:163) ¢ entrevisto com clareza pelo proprio Lyotard No entanto, hé uma acordo aecrato entre o capital e a vane Guarda, © poder Jo. copticiamo a's forga avtenticamente Gestrutdora postas em acgdo pelo captaliamo.e quo Marx Ito se cansou de analisar reconhocer,encorajarsde certo Modo. os artisias = recuserse as Tegias estabslecss, 8 fetvarihes a confiangs. estimulam s vantade ds expéc Novos, Ha algo subime'na ecotomia capralsia jeter, ‘1984, 163) 2 ® © perigo 6 ontao a -contusao entre inovagao e acontect- mento (164), com 0 resultado de que -se julga estar a exprimir 0 espitito do tempo @ esta-se apenas a exprimir 0 ‘espirito do meroado>. Apasar da lucider desta anglise, que ‘contd implicto 0 distanciamento em relagao a0 »pOs-moder- nism de reacg20 qua marca os textos de Lyotard, este con- lui com a atirmagdo renovada da actualidade das vanguar- das, quo neste contexto surge om termos de veréadeiro deus ‘ex-machina. As propostas de Lyotard, assim, nada trazem de Yyerdadeiramente novo om relagdo ao problema da situagso contomporanea da arte: elo ropraduz com algumas cambian- tes as posigdes histéricas das vanguardas—a sua distingto entre modernismo e pos-modernismo, como ja reter, @ uma Versto renovada da distingao de Peter Burger entre moder- nismo @ vanguardas. Paradoxalmente, também para ole 0 modernismo, nesta acepgao, € um «projecto inconcluso», fembora a sua resposta seja a de uma simples continuidade que mantém por solucionar todos os dilemas ja antigos, tra- duzindo, & sua maneira, o impasse actual da teoria estética ‘Que outras respostas possa haver, eis 0 que ninguém esta fem condigoes de dizer. A atirmagao, a varios nivais, da per~ manéncia da problematica modernista remete, de qualquer forma, para a necessicade de aiferenciar o quadro desta para além das simplificagées generalizantes, evitando quer a recusa fcil de uma stradig&o repressivas, quer uma aceitagao ce ccontinuidade que deixa tudo por resolver. Se, pelo contrério, std na ordem do dia & buses de um -novo senso comum {uo no pode ser pensado nostalgicamente, mas em termos de uma aceitagao dos desatlos do presente capaz, ao mesmo tempo, do resistir& ldgica da mercadoria e da fragmentagao capitalist, haverd que ir buscar também & tadigao modernista elementos que permitam superar esse -great divide» de que fala A. Huyssen. Para regressar & dicotomia kantiana utiizada por Lyotard, isto implicaria, nao um hipostasiar do sublime, Modernismo ‘© Poe-Mademnismo a

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