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~ Capitulo 2 A ética da crenga W.K. Clifford 1. O dever de investigar [Um armador preparava-se para enviar para 0 mar ut ‘navio com emigrantes. Sabia que o navio estava velo ¢ tinha dfeitos de construcao: que conhecera ja muitos mares eclimas ¢teve de ser reparado muito mais de uma ver, Algagm sugeriu a0 armador que o navio talver no estivesse em condigoes de navegat Estas cividas pesa- vam-the na conscién que talves devesse manda inspeceiomare renovar com: ‘letamente © navio, embora isto ficasse provavelmente dleixavam-no infeliz; pensou hrastante caro. Antes de 0 navio zarpar, contudl, 0 2 rmadlor conseguiu deixar para ts estes pensamentos me- lanedlicos. Disse para consigo que o navio enfreneara, ico tants vingens o resistifa a cantas tempestades {que nio havia ranio para supor que no reressaraileso também desta viagem, © armador confiaria na provie ca éncia, que seguramentenio deiaria de protege todas angus infelzes famine abundorsavam psi em busca de uma vida melhor noutrasparagens Silenciaria todas as dvidas mesquinhas acerea da honestidade dos construtores¢ dos empectirs, Assim learns uma cet teza sincera econfortive de que o seu mavo era comple- camente seguro eestavaem condi de navegat it-o puri con despreocupagio edesejos carkdosos de que os ‘otladasfossembem-socedbos nonowo cestanho karque cs esperava;e recehew o dinhito do seguro quand 0 avin se afundow em pleno mar sem deixar rst (© que ditemos do armadar? Seguramente, que & rmuicsimo culpado pela morte daqueles homens. Admi- tuno-se que acredtava sinceramente no bom estado do seu navio, a sincerdade da sua convicsko, porém, no The pode valer de maneia alum, porgue no sinha o di eit deacredtar om base nen nds de que dspunha. No aqui as crenga por mero honest, atravs da inves- ‘igagio paciente, mas silenciando a suas divides, Bem za sobre o asst fose porven- ‘ura to grande que nto era capaz de pensar de putea manera, remos de o consideraeresponsdvel pelo suce- sido, na medida em que se colocou dliberad evolun- tariamente naguele estado dees ‘Alteremes um pouco a histiae suponhatnen que & navio noestava final, em mau estado suponbumos que bora no inal a sta fez a viagem em seguranga, © muitas outras viagens aps aquela, Ser que isso diminui a culpa do seu proprietitio? Nem um pouco. Quando se pratica uma acco uma ver, ‘esta € correcta ou incomrecta pata sempre; nenuma falha acidental das suas bons ou mis consequéncas pode alte- car tal facto. O homer no seria inocentes apenas nao. teria sido descoberto, A questo do correcta ¢ do incor recto tem que ver com a arigem da crenga do armaxlog & do com o seu conteddo; no €a erenga que conta, mas ‘© modo como a adloptous nao se trata de a erenca ser af nal vendadtra ou flsa, mas de © armadior er ou ito od reito a acreditar com base nos indicios de que disp, Era uma ver uma ifha onde alguns dos habitantes se -guiam uma religio que nio pregwva a doutrina do pecado Original ner a douteins: do castigo etemo, Espalhow-se a snpeita de que os seguidores desta relgiso se tinham set- vido de meies desonestos para ensinar as suas doutrings 38 mngas. Acusaram-nos de viola as leis do pais de ma- neira a afastar as criancas da viglineia de quem tinba a sua custélia naturale legal; e até de as roubar € man escondidas dos amigos e familiares. Algumas pessoas for nara uma associagio cum o objetivo de prowoear a agi- ‘ago do pablo acerea deste assunte. Publicaram aes ‘des wraves contra cidados individuais do mais clevado cstatuto © reputagd, efizeram tudo o que estava a0 seu aleance para lesa ests cdadsos no exercicn das sas pro fisGes, Fizeram tamanho harulho que foi nomeada uma ‘comisso para investgar os fats; mas apds a comissio ter averiguado cuidadosamente roos os inlicios que se podliam cbtes, parecia que os ncusados estavam inocen: tes, Nao s6 foram acusidos com base em indicios insuti- cients, como os indfcios da sua inocéneia eram tas que ‘os agitaclones os pediam ter facilmente obtido se tivessem procurado fazer uma investigacio imparcial. Apis estas revelagoes, os habitantes daquele pafspassaram a encarar ‘os membros da associago agitalona ni s6 conto pessoas «em cujo discernimento nao se devia conta, ras tamba como individuos que no mais podiam eonsiderat-se ho- restos. Pos embora acreditassem sincera ediligentemente ras acusagGes que fizeram, no tinham txavia o dni de sacreditar com base nos indicios de que dispunham, As suas ‘onviogdes sinceras, em vez de merecidas pela investiga- so paciente, foram roubadas, dando ouvides 8 vo do preconceito ¢ da pai, Introduzamos uma variagdo também neste caso su Ponhimos,deixando o resto na mesma, que uina investi ‘gag ainda mats meticulosa provava que os acusados «ram realmente culpados. Faria isto diferengaalauma para a culpa dos acusadores? Evkdentemente que no} a ques- tio nio éa de a sua erenga ser ou no verdadeira, mas a dea terem ou no sustentado sera ruzbes adequadas, Sem

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