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221082020, Morash | HOLOCAUSTO - A Viagem dos Condanados PESQUISAR Q MorasHA (home.htm Home (home.himl) / HOLOCAUSTO (1/holocausto.himl) 1A Viagem dos Condenados Refugiados judeus embarcam no St. Louls. Hamburgo, maio, 1939 A Viagem dos Condenados por Zevi Ghivelder No dia 30 de janeiro de 1933, Franklin Delano Roosevelt completou 51 anos de idade. Em menos de um més seria eleito presidente dos Estados Unidos. No mesmo dia, Adolf Hitler tornou-se 0 chanceler da Alemanha. Seis anos mais tarde, no oceano que separava estes dois homens, navegou um navio chamado St. Louis, abarrotado por refugiados. Eudigdo 89 - Setembro de 2015 © Fuhrer alemao arquitetou e executou contra o Povo Judeu um genocidio alheio aos mais elementares valores e principios da civilizagao ocidental. O presidente americano tratou-os com um comportamento ambiguo e até hoje controverso, Naquele final dos anos 1930, os Estados Unidos estavam dispostos a aceitar exatamente 25.957 imigrantes oriundos da Alemanha, Mas, desse total, qual seria o nlimero de judeus? Eleanor, a mulher de Roosevelt, era solidéria com relagao aos refugiados judeus. O presidente, porém, temia a reagéo da maioria da opiniéo piiblica americana, que nao queria acolher “essa gente”, além do fato de boa parte dos funciondrios do governo explicitarem seu antissemitismo. De qualquer maneira, a pergunta tinha duas respostas. A primeira dependia da emissao de vistos que deveriam ser concedidos pelos diplomatas americanos que serviam em Berlim e outras grandes cidades da Alemanha. A segunda dependia das diretivas do recém-implantado regime nazista, que impunha toda a sorte de dificuldades para os judeus que pretendiam emigrar, incluindo 0 confisco de seus bens e a cobranga de taxas exorbitantes, em moeda forte, para as permissdes de saidas. ‘Além disso, nenhum imigrante poderia partir com mais de 1 délar no bolso. _www.morasha.com briholocaustola-viagem-dos-condenados him 18 20812020 Morashé | HOLOCAUSTO - A Viagem dos Condenados No dia 3 de maio de 1939, 0 navio de passageiros St. Louis, pertencente a Hamburg-America Line, chegou & ‘Alemanha, vindo dos Estados Unidos, comandado por Gustav Schroeder, um homem do mar, com 37 anos de ‘experiéncia em viagens transatlénticas. Era uma pessoa correta que, no decorrer dos tiltimos seis anos, ndo aceitava filiar-se ao partido nazista embora sofresse frequentes pressdes nesse sentido. Ele foi chamado para uma conversa com o diretor da companhia naval, de nome Holthusen, que comegou a distrair-Ihe com banalidades até chegar ao que de fato pretendia: “Vocé vai levar o St. Louis com cerca de mil passageiros, todos refugiados, para Cuba, 0 que é uma coisa formidavel em face da crise financeira que o pais esté atravessando”. Schroeder indagou quem eram os viajantes e recebeu a seguinte resposta: "Sao apenas judeus que nao querem mais viver na Alemanha, nada fora do comum. Mas este é um assunto sobre o qual the aconselho a nao fazer muitas perguntas. Sé posso adiantar que em Havana vocé seré recebido por um dos nossos funciondrios, chamado Robert Hofman, a quem entregaré uma encomenda’. Schroeder deixou 0 escritério do diretor convicto de que este nao Ihe tinha passado as informagées mais importantes. Naquele mesmo dia, em Havana, o tal Hofman estava sendo vigiado por agentes americanos a servico da Inteligéncia Naval Miltar, do Departamento de Imigragao dos Estados Unidos e do FBI, todos sob 0 comando do coronel Ross Rowell, da Inteligéncia Naval. No dia seguinte, em seu escritério na embaixada americana ‘em Cuba, Rowell enviou um comunicado para Washington informando que uma agente nazista chegaria em breve a Havana, vinda do canal do Panama, com a missao de encontrar-se com o dito alemao ¢ entregar-the um pacote. Aquela altura, Rowell ja possula elementos sobre a rede de espionagem instalada pelo regime nazista em Cuba, compreendendo cerca de sessenta agentes que, na eventualidade de um confit, jé estariam porto da costa americana. Em um de seus relatérios oficials, enfatizou: “O elemento de contato dos espides chama-se Julius Otto Ott, que ndo logrei apurar se é suico ou alemao, proprietario do restaurante Swiss Home”. Rowell s6 no sabia que o dito pacote continha papéis e microfilmes com informagbes pormenorizadas sobre locais a serem sabotados nos Estados Unidos caso estourasse uma guerra por iniciativa da Alemanha. © restante das informagdes secretas e complementares chegariam a Cuba no navio St. Louise seriam entregues pelo comandante Gustav Schroeder. No dia 13 de maio de 1939, 0 navio St. Louis acolheu em Hamburgo 936 homens, mulheres e criangas (ha fontes que citam o numero 937). Desse total, 930 eram judeus, em cujos passaportes estavam impressos em vermelho uma grande letra "J", referéncia a Jude (judeu, no idioma alemao). Assustados desde os dramaticos acontecimentos da Noite dos Cristals, seis meses antes, além de frequentes medidas de cardter antissemita, aqueles judeus haviam decidido deixar a Alemanha para sempre. A custa de muito dinheiro sacrificios, tais como se despojarem de todos os seus bens e abdicarem de suas profissées © ocupagées, tinham obtido vistos de entrada para um pais distante chamado Cuba. Dali, julgavam, tomariam diferentes destinos, mas tendo como ponto final e preferencial os Estados Unidos. Com essa finalidade, 734 deles ja tinham preenchido formulrios exigidos peta imigragao americana e poderiam entrar no pals de trés meses a trés anos depois de aportarem em Cuba. De qualquer maneita ainda thes restava uma sombria diivida. Depois de terem pagado 262 délares pela passagem (volumosa quantia naquela época), além do custo dos vistos, foram obrigados a desembolsar mais 181 délares a titulo de uma espécie de seguro caso o governo de Cuba impedisse seu desembarque, embora os vistos contivessem a assinatura do coronel Manuel Benites, diretor do Departamento de Imigrago de Cuba. Esses vistos thes tinham sido entregues pela Hamburg Line,que os ‘comprara por uma quantia ridicula do Coronel Benites e os havia revendido ao custo de 150 délares por pessoa, contabilizando um lucro expressivo. Dentre 0s passageiros do St. Louis encontravam-se judeus proeminentes, Um deles era o famoso advogado Max Loewe, que lutara pela Alemanha na 1® Guerra Mundial, tendo sido condecorado por herofsmo. Ele estava com a mulher, a mde, e dois filhos adolescentes. Viajava, também, o artista plastic Moritz ‘Schoenberger, celebrizado pelos cartazes que concebera para os filmes alemées produzidos pela empresa UFA. 0 rabino Gelder, de 67 anos de idade, ansiava por encontrar na América seus dois filhos que ja tinham ‘emigrado. A senhora Feinchfeld, de Breslau, levava seus quatro filhos com idades de um a onze anos. 0 marido estava a espera de todos em Nova York. _www.morasha.com briholocaustola-viagem-dos-condenados him 28 20812020 Morashé | HOLOCAUSTO - A Viagem dos Condenados Por ordem do comandante Schroeder, os passageiros nao eram tratados como refugiados, mas como passageiros comuns, que haviam comprado suas passagens e, portanto, mereciam todas as atengées e cortesias por parte da tripulagao, que inclu‘a alguns ferrenhos a adeptos do nazismo. Mas, em fungéo, dos regulamentos maritimos internacionais, estes nao ousavam desrespeitar quaisquer ordens superiores. A viagem através do oceano Atlantico transcorreu na mais absoluta tranquilidade com os passageiros tendo acesso as chaises ongues do convés e a excelentes refeigées. ‘Antes que 0 navio chegasse a seu destino, o comandante comegou a receber telegramas que aludiam a frégil validade dos vistos repassados pela empresa de navegagao. Isto se deveu a ago de antissemilas cubanos instigados pelos agentes nazistas infitrados no pais. Logo essa informagao correu entre os passageiros, que foram ficando ansiosos e deprimidos. Durante os jantares a bordo, os viajantes eram entretidos pelo comediante Max Schlesiger, de Viena, que, em face do ambiente reinante no navio, interrompeu suas apresentacdes. Os menos preocupados, pelo menos na aparéncia, eram aqueles 734 que haviam preenchido os papéis americanos. Achavam que, mesmo se o St. Louis fosse obrigado a retomnar a Europa, estariam sob a protecdo das leis de imigracao dos Estados Unidos. A almosfera no navio ficou tao carregada que um de seus mais importantes passageiros, o professor Moritz Weller, sofreu um infarto e morreu. Os judous insistiram em que seu corpo fosse acomodado no frigorifico da embarcagao para que, uma vez em terra, tivesse um funeral judaico. Schroeder invocou as leis maritimas, segundo as quais um corpo inanimado deveria ser jogado ao mar. A revolta dos refugiados foi quase incontrolavel. Schroeder, entdo, valeu-se de um argumento que nao comportava contestacdo: a existéncia de um cadaver a bordo poderia concorrer para que as autoridades cubanas impedissem a atracagéo do navio, O corpo do professor foi jogado ao mar tendo o préprio Schroeder proferido um emocionado elogio fiinebre. No dia 27 de maio o St. Louis chegou ao porto de Havana. Ninguém teve permissao para desembarcar, nem ‘as pessoas que se encontravam no cais puderam subir ao navio. Os judeus que aguardavam familiares e amigos alugaram pequenos botes e margearam o transatldntico, na esperanga de que, protegidos pela escuriddo notuma, alguns se atirassem na agua e nadassem ao seu encontro. Os cubanos, entretanto, instalaram poderosos holofotes em tomno do navio ¢ essa arriscada fuga tornou-se impossivel. Entretanto, 28 passageiros obtiveram permissao para desembarcar. Desconfiados dos vistos sob responsabilidade da Hamburg Line, eles haviam contratado advogados na Europa que hes obtiveram documentos adicionais emitidos pelo Departamento do Tesouro ¢ pelo Departamento do Trabalho do governo ‘cubano. Outros seis que escaparam, foram um casal cubano que retornava de uma viagem de lua de mel na Europa e quatro turistas espanhéis. A bordo permaneceram 908 judeus. As autoridades cubanas alegaram que seus vistos tinham origem ilegal ¢ assim careciam de validade. Além disso, argumentavam que Cuba, uma pequena ilha, ja tinha recebido desde a segunda metade da década de 1930 milhares de imigrantes (2.500 dos quais eram judeus), muito mais, em proporgéio, do que paises muito maiores © muito mais ricos. O drama do St. Louis chegou as paginas de todos os jornais do mundo, notadamente dos Estados Unidos, que ressaltavam o perigo com que se defrontavam os refugiados judeus caso fossem obrigados a retornar & ‘Alemanha, Apesar de atento a imprensa, o presidente Roosevelt nada fez para aliviar 0 sofrimento dos refugiados do St. Louis. Por essa razo, diversos segmentos da sociedade americana, judeus e ndo-judeus, até hoje acusam ‘seu presidente de ter permanecido indiferente a sorte dos judeus europeus que viriam a ser assassinados no Holocausto. No entanto, um livro langado em novembro de 2014, da autoria de Richard Breitman e Allan J. Lichtman, isenta Roosevelt de tal comportamento. Os autores afirmam que os refugiados do St. Louis sé conseguiram ‘embarcar rumo a Cuba gragas a importantes medidas tomadas pelo governo americano. Quando Roosevelt tomou conhecimento da ocorréncia da Noite dos Cristais (novembro de 1938), ordenou que o Departamento de Estado entrasse em contato com diversos paises latino-americanos, pedindo-Ihes que dessem acolhida _www.morasha.com briholocaustola-viagem-dos-condenados him 38 20812020 Morashé | HOLOCAUSTO - A Viagem dos Condenados 0s judeus perseguidos pelo nazismo, Roosevelt, inclusive, teve um encontro pessoal com o segundo homem do governo cubano, porém o mais influente, chamado Fulgencio Batista, que Ihe prometeu total colaboragao. Mas néo foi de graga. Por conta da sua aquiescéncia, Batista conseguiu que 0 governo americano diminuisse as tarifas referentes {as operagées comerciais do agticar importado de Cuba, além de obter por parte de Washington ajuda militar e tecnoligica. O fato de Batista nao ter cumprido 0 acordo firmado com Roosevelt ndo chega a admirar em face do seu carter pouco confidvel. Tornado ditador de Cuba, anos mais tarde, ele acabou sendo deposto por Fidel Castro, em 1959. Hé um outro livro, intitulado Refugees and Rescue, de 2009, escrito por James McDonald, que foi assessor de Roosevelt para todos os assuntos referentes aos refugiados. O autor afirma que, jé em abril de 1938, 0 presidente elaborou um plano segundo o qual os judeus perseguidos na Alemanha nazista seriam absorvidos por dez nagdes demoordticas e até pediu ao Congresso um orgamento de 150 milhdes de délares a titulo de ‘compensagGes para os paises que os recebessem. Era uma quantia fabulosa e McDonald afirma que ouviu de Roosevelt o seguinte comentério: "Nao se trata de dinheiro, trata-se de seres humanos”. O autor afirma que 0 plano do presidente teve de ser abandonado porque, em 1940, a prioridade dos Estados Unidos era a seguranga nacional © nao agées humanitarias. Mas, a posigdo americana, vista pelo aspecto humano, néo apagava a frustragao dos refugiados do St. Louis que avistaram, nas proximidades da Florida, embarcagées da guarda-costeira americana ¢ tiveram a ‘esperanga de que estas fariam algum tipo de intervengao em seu favor. No dia 29 de maio, a entidade beneficente americano-judaica Joint (Joint Distribution Committee) enviou dois representantes a Havana. Eram a assistente social Cecilia Razovsky e um famoso advogado de Nova York, Lawrence Berenson, presidente da Camara de Comércio Cubano-Americana e amigo pessoal de Fulgencio Batista, aquela altura posicionado como chefe do Estado Maior do exército de Cuba. Ceoflia garantiu as autoridades locais que, se 08 judeus pudessem desembarcar, o Joint cuidaria de seus alojamentos e refeigdes até que pudessem partir para outros paises. Em um encontro com Batista, o advogado Berenson comprometeu-se a fazer uma doagao de 125 mil délares ao governo cubano, como garantia de que os passageiros, uma vez em terra firme, ndo se tomariam dependentes da economia do pais. De bordo do navio, Schroeder solicitou uma audiéncia com 0 presidente de Cuba, Laredi Bru, mas nao foi atendido, No telegrama enviado ao chefe do governo, 0 ‘comandante havia advertido, com todo o respeito, que se o St. Louis tivesse que retornar para a Europa, um nimero incerto de refugiados poderia optar pelo suicidio. Mas, Bru aceitou receber Berenson para uma conversa indi: nenhum judeu tocaria o solo cubano. Disse que tinha simpatia pelos refugiados, mas néo aceitava a intermediago dos vistos pela Hamburg Line porque aquele expediente atentava contra a dignidade de seu governo. Enquanto isso, 0 passageiro Max Loewe, cortou os pulsos, foi socorrido e levado para um hospital em Havana. Sua mulher e fihos no tiveram permisso para acompanhé-lo, Ele sé reencontrou a familia anos mais tarde, na Franca No dia 1° de junho, o presidente Bru assinou um decreto ordenando que o St. Louis levantasse ancora e navegasse até doze milhas além do porto de Havana, caso contrério seria conduzido a forga pela marinha cubana. Era o tempo que Berenson, bastante otimista, precisava para orquestrar a entrega dos délares prometidos. Em contato telefbnico com a sede do Joint em Nova York, Berenson foi informado de que, segundo a avaliagdo do Departamento de Estado, aquelas pessoas que haviam preenchido formularios para a ‘obtengdio de vistos ndo se enquadravam nas leis americanas de acolhimento de imigrantes. Berenson ainda tentou oferecer mais dinheiro (500 mil délares) ao governo cubano e acabou enredado numa disputa entre Bru, candidato a um novo mandato, ¢ Batista, também candidato a presidéncia. Nos dias seguintes, Berenson soffeu as mais repugnantes chantagens e manobras escusas, inclusive ameagas fisicas, das quais acabou se descartando e regressou para os Estados Unidos. No dia 2 de junho o St. Louis partiu para Hamburgo, as onze horas da manha. O comandante Schroeder, ciente de um novo encontro de Berenson com Bru, no dia 4, cuidou de ganhar tempo navegando na diregao de Miami, Ali o navio passou a ser monitorado pela lancha da guarda-costeira americana de ntimero 244, incumbida de impedir que algum passageiro se aventurasse a nadar até a costa. A imprensa americana _www.morasha.com briholocaustola-viagem-dos-condenados him 48 20812020 Morashé | HOLOCAUSTO - A Viagem dos Condenados continuou publicando reportagens sobre o drama do St. Louis, No jomal The Richmond Times Dispatch, 0 bispo James Cannon Jr, escreveu: “A indiferenga com relagéo a esses judeus, que vivem um momento de extrema angiistia, é uma desgraca para a histéria americana e cobre nossa nagdo com uma mancha de vergonha’, No dia 6 de junho, as 23 horas e 40 minutos, sem receber qualquer noticia por parte de Berenson, 0 ‘comandante Schroeder decidiu partir rumo a Hamburgo. Um comité formado pelos refugiados enviou um telegrama ao presidente Roosevelt dizendo que dentre os 907 passageiros do navio mais de 400 eram mulheres e criangas. Nao obtiveram resposta. Mandaram, entéo, outro telegrama para a sede do Joint: “Em grande desespero pedimos sua ajuda para desembarcar em Southampton ou receber asilo da benevolente & nobre Franca’. Em Paris, 0 representante do Joint, Morris Troper, tinha acumulado uma série de telegramas recebidos do escritério central em Nova York, Estes diziam: "Imigragao fechada na Colémbia’, ‘Nada de positivo no Chil “Situagao politica conturbada no Paraguai. Nada’. “Argentina receptiva, porém resultado incerto’. Troper entrou em contato com 0 ministro da justiga da Bélgica, que, apés consultar o primeiro-ministro, deu sinal verde para o desembarque de 200 refugiados. Em seguida, falou com a responsavel pelo comité de refugiados da Holanda. A Rainha Guilhermina permitiu, entao, 0 acolhimento de 194 passageiros, O representante do Joint estabeleceu contatos com as autoridades da Gré Bretanha, Portugal e Luxemburgo. Nao Ihe disseram que sim, mas também néo Ihe disseram que néo, razo pela qual enviou um telegrama para ‘Schroeder: “Talvez tenha boas noticias em 36 horas © comandante seguiu curso para Hamburgo, porém, de propésito, da forma mais lenta possivel. Em Paris, Troper encontrou-se com Louise Weiss, secretaria do Comité Central de Refugiados, que, por sua vez, recorreu ao ministro das relagdes exteriores da Franga. Enquanto esses conluios se desdobravam, Troper recebeu um telegrama informando que a Gra Brotanha aceitava receber 250 refugiados. Isto fez com que os franceses concordassem com igual niimero. No fim das contas, 214 judeus ficaram na Bélgica, 181 na Holanda e 224 na Franga. As vésperas de receber os 250 destinados a Inglaterra, 0 Subsecretario briténico do Interior declarou, numa entrevista coletiva: “Estamos dando um exemplo, mas nao estamos abrindo um precedente. Nao hé mais lugar para refugiados em nosso pais” Os judeus restantes no St. Louis se viram obrigados a descer em Hamburgo, no dia 20 de junho, ¢ enfrentar ‘08 mais incertos destinos. A passageira Gerda Blachmann, nascida em Breslau, foi para o interior da ‘Alemanha, se disfargou como camponesa, junto com a mae. Ambas conseguiram atravessar a fronteira para a Suiga. Ali trabalharam como operarias numa fabrica de tecidos e emigraram para os Estados Unidos em 1949, A vitiva polonesa Klara Gottfried Reif, um filho e uma filha encontraram refiigio em Paris até a normalidade de suas vidas ser devastada pela invasdo nazista. Eles deixaram a capital francesa e se esconderam na pequena cidade de Limoges. Um ano depois, seus parentes que moravam nos Estados Unidos tiveram a sorte de resgaté-los e levé-los via Portugal para Nova York, onde Liane, filha de Klara, ‘completou seu doutorado em quimica, No dia 1° de setembro de 1939 eclodiu a 2* Guerra Mundial. Por este motivo, sé ficaram a salvo os judeus acolhidos na Inglaterra, Os outros, apés as invasées nazistas nos paises que os tinham abrigado, acabaram sendo deportados junto com as demais populagées judaicas para campos de concentragao, onde a maioria encontrou a morte em cémaras de gas. Dez anos depois do fim do conflto, o comandante Gustav Schroeder recebeu uma condecoragéo do governo da Alemanha Ocidental por sua corajosa e impecavel conduta, Ele morreu em janeiro de 1959, aos 74 anos de idade. O ttimo pais a negar ajuda ao St. Louis foi o Canada. Por isso, em janeiro de 2011, foi inaugurado no Museu Maritimo da cidade costeira de Halifax, na provincia da Nova Escécia, um memorial em homenagem aos refugiados daquele navio, criado pelo arquiteto israelense David Libeskind, O memorial, uma grande instalagao a fei¢ao de um tambor contendo dezenas de fotografias, recebeu o significative nome de Roda da Consciénoia. Dentre as centenas de pessoas presentes a solenidade, encontrava-se um prestigioso médico _www.morasha.com briholocaustola-viagem-dos-condenados him 58 20812020 Morashé | HOLOCAUSTO - A Viagem dos Condenados ‘canadense chamado Sol Messinger, entéo com 74 anos, Aos sete anos de idade, Messinger fora passageiro do St. Louis e descera na Bélgica junto com os pais. Em setembro, eles embarcaram num trem oriundo de Antuérpia rumo a Franga © comboio foi bombardeado por avides alemaes e Messinger nunca mais se esqueceu do peso de sua mae sobre ele, para livré-lo dos explosivos. A familia conseguiu chegar ao sul da Franga, de onde partiu para o outro lado do Atlantico, pouco depois de parte dos judeus de Vichy terem sido conduzidos para campos de concentragéo. Em Halifax, o doutor Messinger declarou aos jornalistas: “Que brilhante simbolismo! Neste mesmo porto de Halifax, que fechou as portas para os judeus do St. Louis, ficara para sempre um monumento em sua meméria’. E pouco provavel que o comandante Schroeder tenha entregado os documentos secretos para 0 espido nazista sediado em Havana, porque em nenhum momento pisou o solo de Cuba e ninguém obteve permissao para subir a bordo. Ross Rowell foi um dos mais destacados pilotos da marinha miltar americana durante a guerra, tendo sido promovido a general e recebido uma série de condecoragées por bravura. Morreu em 1947. E preciso acentuar que todos os acontecimentos referentes & malograda viagem do St. Louis se desenrolaram durante trés meses e dezessete dias antes do inicio da 2a Guerra Mundial. A perspectiva histérica evidencia que 0 St. Louis foi 0 prentincio do Holocausto. Bibliografia Thomas, Gordon e Morgan-Witts, Max, “Voyage of the Damned’, editora Coronet Books, EUA, 1976.v Zevi Ghivelder é escritor e jomalista EDIGOES ANTERIORES Outras edi (couista.nim ‘ABRIL 2020 - ED. 107, ACENDIMENTO DAS VELAS _www.morasha.com biholocaustoa-viagem-dos-condenados him ee 2305/2020 Morash | HOLOCAUSTO - A Viagem dos Condanados Si 18h05 ‘S40 Paulo (Sao Paulo) *HORARIO DE VERAO RECEBA NOSSA NEWSLETTER Nome Email ENVIAR REVISTA (revista.html) suDaismo NOSSAS FESTAS (1/Oinossas-festas htm!) SHABAT (t/shabat htm) LEIS, COSTUMES E TRADIGOES (teis-costumes-e-tradicoes him) MISTICISMO (1/misticismo.himi) ETICA (tietica.him)) SABEDORIA JUDAICA (/sabedoria-udaica htm) GRONICAS E CONTOS (t/eronicas-e-contos.html) HISTORIA HISTORIA JUDAICA NA ANTIGUIDADE (1/historiajudaica-na-antiguidade.him!) HISTORIA JUDAICA MODERNA (‘historia udaica-moderna hin!) COMUNIDADES DA DIASPORA (t/comunidades-da-ciaspora-1 nim!) ANTISSEMITISMO (1/antissemitismo, htm!) 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