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Análise Psicológica (2010), 1 (XXVIII): 7-28

Psicologia Social da Justiça:


Fundamentos e desenvolvimentos
teóricos e empíricos (*)

ISABEL CORREIA (**)

INTRODUÇÃO entanto, quando consultamos um manual de


Psicologia Social (e.g., Hogg & Vaughn, 2005),
Numa análise atenta da Psicologia Social da na maior parte dos casos não encontramos um
Justiça podemos concluir que esta área capítulo dedicado à Psicologia Social da Justiça,
disciplinar constitui um ramo importante da estando alguns dos seus objectos disseminados
Psicologia Social. De facto, a Psicologia Social por outros capítulos. Naqueles em que encon-
da Justiça ocupa um capítulo na última edição do tramos um capítulo de Psicologia Social aplicada
Handbook of Social Psychology (Tyler & Smith, à Justiça, esses capítulos tratam do modo como
1998), existem revistas especializadas nessa área os fenómenos da Psicologia Social (e.g., facilita-
(e.g., Social Justice Research) e associações ção social) se aplicam ao sistema criminal (e.g.,
especificamente dedicadas ao seu estudo (e.g., prática de crimes em grupo, Day, 2005). De
International Society for Justice Research). Para facto, para um estudante que se queira iniciar
além destes dados, e como se poderá constatar nesta área disciplinar torna-se muito difícil
nas referências deste artigo, grande parte das encontrar uma obra de referência em que a
referências desta disciplina encontram-se nas evidência teórica e empírica seja apresentada de
revistas mais importantes da Psicologia Social uma forma sistematizada e completa (Tyler,
como o Journal of Personality and Social Psy- Boeckman, Smith, & Huo, 1997, para uma
chology, o Personality and Social Psychology excepção).
Bulletin, ou o Advances in Experimental Social Longe de se pretender fazer uma análise
Psychology e também nas de Psicologia Social e exaustiva da bibliografia da Psicologia Social da
das Organizações, como o Organizational Justiça, que nos manuais é geralmente mais uma
Behavior and Human Decision Processes. No Psicologia Social aplicada ao sistema judicial,
criminal e prisional, pretende-se com este artigo
(*) Este artigo foi parcialmente financiado pelo oferecer uma revisão de literatura do que consi-
Projecto PDCT/PSI/55709/2004. deramos serem os principais desenvolvimentos
(**) CIS – Centro de Investigação e Intervenção teóricos e empíricos da Psicologia Social da
Social / ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Justiça. Para esta sistematização partimos das
Av das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal;
tel.: +351-217903001; fax: +351-217903002; e-mail: correntes téoricas na investigação da justiça
Isabel.Correia@iscte.pt. identificadas por Tyler, Boeckman, Smith, e

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Huo (1997): a privação relativa, a justiça (Skarlicki, Ellard & Kelln, 1998; e Victor,
distributiva, a justiça procedimental, a justiça Trevino, & Shapiro, 1993, para duas excepções)
retributiva, tendo nós acrescentado a justiça e apenas alguns estudos comparam a justiça
reparadora (Braithwaite, 1999). Nesta revisão retributiva e a reparadora (e.g., Gromet &
não fazemos referência à Teoria da Crença no Darley, 2006).
Mundo Justo (Lerner, 1980) por existirem já A investigação tem sido transversal a vários
revisões de literatura detalhadas desta teoria em domínios de aplicação. Aqui enumeramos alguns
português (Correia, 2000, 2003). sem a pretensão de sermos exaustivos: a escola
(e.g., Gouveia-Pereira, Vala, Palmonari, &
Rubini, 2003), as relações com a autoridade
ÂMBITO DA (Tyler & Caine, 1981), as organizações (Caetano
PSICOLOGIA SOCIAL DA JUSTIÇA & Vala, 1999; Folger & Cropanzano, 1998), o
ambiente (Giordano & Wolf, 2001), as relações
A Psicologia Social da Justiça estuda as de género (Crosby, 1982), os movimentos sociais
causas e as consequências dos julgamentos de protesto (Guimond & Tougas, 1994;
subjectivos do que é justo ou injusto (Tyler, Pettigrew, 1972), o sistema criminal (Otto &
Boeckman, Smith, & Huo, 1997). Ao contrário Dalbert, 2005), os acidentes (Walster 1966), a
dos filósofos como Aristóteles, Platão, Kant, satisfação com a vida (Correia & Dalbert, 2007),
Marx ou Rawls que tentaram definir quais as o bem-estar físico (Kivikami et al., 2005), a
normas que devem governar as sociedades, os percepção das vítimas (Correia, Vala, & Aguiar,
psicólogos sociais têm estudado o que as pessoas 2007), as relações intergrupais (Vala, 1993; Vala,
pensam estar certo ou errado, ser justo ou injusto Brito & Lopes, 1999; Vala, Monteiro, & Lima,
e compreender como as pessoas justificam esses 1987; Vala, Ferreira, Lima, & Lopes, 2004), e as
julgamentos (Tyler & Smith, 1998). De facto, relações íntimas (Van Yperen & Buunk, 1994).
sabemos ser muito importante conhecer o que o
homem comum pensa sobre a justiça porque a
investigação tem mostrado que as pessoas agem A TEORIA DA PRIVAÇÃO RELATIVA
e reagem em função do que pensam que é justo.
Tyler et al. (1997) distinguem quatro eras na Ficará um aluno que teve 16 como
investigação da justiça: a era da privação relativa classificação numa disciplina, satisfeito com
(início 1945); a era da justiça distributiva (anos essa nota? Serão 2000 Euros, um bom ordenado?
60 e 70); a era da justiça procedimental (anos 80 Estes são exemplos de perguntas cuja resposta
e 90); e a era da justiça retributiva (em tem mostrado não ser unânime, dado que a
emergência nos anos 90). Nós acrescentaríamos avaliação das situações em que estamos ou dos
a justiça reparadora que surgiu a partir do final benefícios que nos são atribuídos é relativa e não
dos anos 80 e assume grande relevância absoluta. Embora o conhecimento deste facto
actualmente. esteja difundido entre o senso comum e tenha
Apesar de algumas tentativas no sentido de sido referido por filósofos como Aristóteles e
uma integração teórica (Törnblom & Vermunt, Marx, mais recentemente foi apelidado de
1999), a maior parte dos estudos desenvolvidos privação relativa por Stoufer, Suchman,
nesta área está focalizada apenas num dos tipos DeVinney, Starr, e Williams (1949).
de justiça (distributiva, procedimental, Privação relativa é um julgamento de que
retributiva ou reparadora), como veremos no estamos numa situação pior em comparação
decorrer deste artigo. A excepção mais comum é com uma determinada situação padrão
o caso dos estudos que tentaram comparar os (componente cognitiva da privação relativa),
efeitos da justiça procedimental em comparação julgamento este que está ligado a sentimentos de
com a justiça distributiva, que é abundante (e.g., raiva e ressentimento (componente emocional da
Konovoski & Cropanzano, 1991). São muito privação relativa) (Tyler et al., 1997). Ou
poucos os estudos que integram por exemplo a alternativamente, segundo Crosby (1982), a
justiça retributiva e a justiça procedimental privação relativa refere-se a um sentimento e

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implica uma relação entre uma realidade sido formalmente definido pelos autores. De
objectiva e uma realidade subjectiva. facto, este conceito salientava o facto de a
satisfação subjectiva não depender apenas dos
Os estudos empíricos iniciais da teoria da resultados que as pessoas obtêm mas, pelo
privação relativa contrário, as pessoas avaliam os seus resultados
comparando-os com os de outros. Segundo
O conceito de privação relativa foi Festinger (1954) as pessoas têm uma motivação
introduzido por Stoufer e co-autores (1949) no 1º para avaliar as suas opiniões e capacidades.
volume da obra American Soldier para explicar Quando não há meios objectivos (não sociais)
resultados que pareciam paradoxais e contra- disponíveis para a avaliação, as pessoas avaliam
intuitivos. Um desses resultados referia-se ao as suas opiniões e aptidões em comparação,
facto de os soldados com maior escolaridade respectivamente, com as opiniões e aptidões dos
estarem menos satisfeitos com a sua carreira do outros.
que os soldados com níveis de escolaridade mais
baixos apesar de os primeiros terem mais oportu- A multiplicidade dos referentes de
nidades para progredir no exército do que os comparação
segundos. Do mesmo modo, os pilotos estavam
menos satisfeitos com as oportunidades de Segundo Tyler et al. (1997) nas comparações
promoção do que os polícias militares, apesar de entre a situação considerada como padrão e a
os pilotos terem muito maiores oportunidades de situação em que a pessoa efectivamente se
promoção. Em ambos os casos, Stoufer e encontra está implícito um modelo do que as
co-autores (1949) invocam o conceito de pessoas merecem em comparação com outras.
privação relativa para explicar estes resultados Deste modo, esta ênfase no merecimento torna a
considerando que é a discrepância entre a teoria da privação relativa uma teoria de justiça,
expectativa (padrão de comparação) e a situação embora originalmente não tenha sido
concreta que leva à insatisfação: no primeiro apresentada como tal, mas sim como uma teoria
caso, os soldados com maior formação teriam relacionada com a satisfação.
um nível de aspiração mais elevado por A questão da escolha do referente de
comparação com o que seria a sua carreira na comparação e da dimensão de comparação
vida civil, ao contrário daqueles com menor assume uma importância central para esta teoria,
nível de escolaridade em que essa discrepância dado que dependendo da dimensão de
seria menor ou não existente. No segundo caso comparação escolhida e do referente, o resultado
seriam também as expectativas dos pilotos a da comparação será ou não desvantajoso e só no
explicar a insatisfação, desta vez provocadas primeiro caso induzirá a privação relativa. A
pela elevada taxa de promoção que aumentaria dificuldade em prever qual a dimensão de
as expectativas de mobilidade; pelo contrário os comparação e o referente de comparação
polícias militares tendo baixas expectativas escolhido tem sido apontada como uma das
sentiriam menores discrepâncias entre as principais limitações da teoria da privação
expectativas e a situação concreta e, consequen- relativa (Taylor & Moghaddam, 1994). De facto,
temente, menor privação relativa. Spector (1956) existem múltiplas dimensões passíveis de serem
obteve resultados experimentais que escolhidas para comparação, tais como o
corroboraram esta explicação ao mostrar que um desempenho, o potencial futuro, a atractividade
grupo de participantes com elevadas expecta- física, a riqueza e as capacidades. Quanto ao
tivas de ser promovido, ao sê-lo, mostrava-se referente de comparação, este poderá ser o
menos satisfeito com o sistema de promoção do próprio indivíduo (num determinado ponto da
que o grupo de participantes ao qual tinham sido sua vida passada ou num futuro antecipado) ou
induzidas baixas expectativas de promoção. outras pessoas, as quais podem ser consideradas,
Estes resultados suscitaram muito interesse quer como indivíduos únicos, quer como
aos psicólogos sociais e sociológos da época membros representativos de grupos (Taylor &
apesar de o conceito de privação relativa não ter Moghaddam, 1994).

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Nos anos 50, 60 e 70 surgiram outros modelos preferem muitas vezes comparações com
de privação relativa (Crosby, 1982) que se têm indivíduos que estão muito pior do que eles,
concentrado nos antecedentes e/ou consequên- comparações downward ou descendentes, o que
cias da escolha de diferentes referentes de leva a baixos sentimentos de privação (Taylor &
comparação. Lobel, 1989). Se a motivação for de auto-
Tyler e co-autores (1997) sistematizaram as privação, as pessoas preferem comparações
várias hipóteses de escolhas de referentes de upward ou ascendentes que são comparações
comparação salientando que poderão ser com indivíduos semelhantes que estão muito
escolhidos em função das características melhor que elas, comparações estas que levam a
pessoais ou situacionais do indivíduo. Assim, sentimentos de inferioridade relativa (Wood,
quando o indivíduo se representa como um 1989).
indivíduo único e diferente de todos os outros
pode comparar-se consigo próprio num Privação relativa egoísta versus privação
determinado momento do passado. Caso a sua relativa fraterna
situação presente seja pior do que a sua situação
passada, o indivíduo pode experimentar privação Se o indivíduo se representa como um
relativa. De acordo com os estudos de Gurr membro de um grupo (de entre os vários ao qual
(1970), se o poder de compra das pessoas pertence), quando sente que o seu grupo está em
decresceu em relação ao passado, mas as desvantagem em relação a outro grupo ou em
aspirações da pessoa se mantiveram constantes, relação a um outro ponto no tempo (passado ou
pode surgir uma situação de privação relativa. futuro antecipado), a privação relativa
Também podem ocorrer situações de privação denomina-se privação relativa fraterna
relativa se o poder de compra das pessoas se (Runciman, 1966). Quando o indivíduo realiza
manteve em relação ao passado, mas as comparações interpessoais (intragrupais) e se
aspirações da pessoa se elevaram, ou ainda se o sente desfavorecido em relação aos membros do
poder de compra das pessoas aumentou em seu próprio grupo falamos de privação relativa
relação ao passado, mas as aspirações da pessoa egoísta (Runciman, 1966). Vala, Brito e Lopes
se elevaram mais do que esse aumento (Gurr, (1999) mostraram que o grau em que os
1970). portugueses sentiam privação relativa em relação
As pessoas podem comparar-se ainda com aos negros (privação relativa intergrupal)
uma expectativa do que será o seu futuro num predizia mais o grau em que os participantes
determinado momento: se as pessoas acreditam portugueses consideravam os negros como
que a situação poderia ter sido diferente noutras ameaçadores economicamente para o país do que
circunstâncias e não consideram suficientemente a privação relativa intragrupal (medida entre a
justificada a alteração da situação que levou à sua família e os portugueses em geral).
redução dos benefícios, podem experimentar A teoria da identidade social (Tajfel & Turner,
privação relativa (Folger, 1986, 1987 – Teoria do 1979), com os conceitos de identidade pessoal e
Referente Cognitivo). identidade social, sugere que diferentes auto-
Relativamente às comparações com uma outra definições levam a diferentes comparações
pessoa, um dos critérios para a pessoa que será pessoais e grupais. Quando a identidade pessoal
escolhida para a comparação é o contexto social está mais saliente são mais prováveis as
imediato (Martin, 1981), mas também as comparações interpessoais e a privação relativa é
motivações pessoais (Levine & Moreland, do tipo egoísta. Quando a identidade grupal está
1987). Se a motivação tiver na base a melhoria mais saliente são mais prováveis as comparações
do desempenho, as pessoas farão comparações intergrupais e a privação relativa é do tipo
com indivíduos semelhantes que estão fraterno. A investigação tem mostrado que as
ligeiramente melhor que elas e o sentimento de pessoas têm mais probabilidade de se envolver
inferioridade relativa motiva a melhoria do em acções de protesto colectivo e acções para
desempenho (Wood & Taylor, 1991). Se a mudar o sistema social quando interpretam as
motivação for de auto-protecção, as pessoas suas experiências baseando-se no grupo (Hafer

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& Olson, 1993; Walker & Mann, 1987). Pelo dades de contacto com outros grupos mais
contrário, os sentimentos de privação relativa favorecidos, o que aumenta a probabilidade de
individual ou egoísta estão mais associados a reconhecerem a discrepância que existe entre
depressão psicológica e sintomas de stresse eles. Por exemplo, a seguir ao maior contacto
físico (Hafer & Olson, 1993; Walker & Mann, entre Brancos e Afro-Americanos no período
1987). após a II Guerra Mundial, os Afro-Americanos
A investigação tem mostrado que a na década de 60 envolveram-se em protestos
probabilidade de reconhecer a injustiça ao nível para melhorar a sua situação que perceberam ser
do grupo (quando se reconhece que o grupo se desfavorável em relação aos Brancos (Pettigrew,
encontra em desvantagem em relação a outros 1972). Do mesmo modo, as mulheres de maior
grupos) é maior em comparação com aquelas em estatuto (favorável em relação a mulheres de
que é o próprio indivíduo que se encontra em menor estatuto, mas desfavorável em relação aos
desvantagem em relação a outras pessoas homens de elevado estatuto), por terem maior
(Crosby, 1982, 1984). Por exemplo, as mulheres contacto com homens, comparam-se com eles e
com estatuto profissional mais elevado sentem-se mais privadas do que as mulheres em
reconhecem a situação de desvantagem profissões de estatuto mais baixo (Crosby, 1982;
profissional das mulheres como grupo, mas Zanna, Crosby, & Loewenstein, 1987).
negam que essa situação de desvantagem as A escolha do referente de comparação pode
afecte a elas próprias (Crosby, 1982, 1984). ainda explicar porque é que pessoas em situação
Finalmente, a escolha dos referentes de de desvantagem objectiva (mulheres em relação
comparação pode ser um componente importante aos homens, no que diz respeito à distribuição
dos procedimentos terapêuticos já que tem das tarefas domésticas) não se sentem privadas
consequências para o bem-estar das pessoas relativamente e avaliam a sua situação como
(Tennen, McKee, & Affleck, 2000). justa. Este fenómeno ocorre porque as mulheres
Uma das implicações da Teoria da Privação tendem a escolher como referente de compa-
Relativa diz respeito ao facto de as pessoas com ração outras mulheres casadas, e não os maridos
maior rendimento não serem as que estão mais relativamente aos quais se sentiriam privadas
felizes com as suas condições de vida (Myers, (Fredenthaler & Mikula, 1998; Poeschl, 2008).
1992; Strumpel, 1976) porque as pessoas não
avaliam a riqueza em termos absolutos, mas
sim em comparação com outros. Como indicado A JUSTIÇA DISTRIBUTIVA
anteriormente, por vezes as pessoas comparam-
se com outros que estão numa situação A justiça distributiva refere-se à percepção
objectivamente mais favorável do que eles. Por acerca da justiça da distribuição, ou do resultado
isso, a melhoria objectiva da sua situação, se da distribuição, de recursos com valência
levar a uma alteração para referentes de positiva e negativa (e.g., Törnblom, 1992).
comparação mais favorecidos, pode não As primeiras teorias de justiça distributiva
conduzir a uma percepção de vantagem. (Homans, 1961; Patchen, 1961; Sayles, 1958)
A privação relativa pode também ajudar a foram desenvolvidas em contexto organizacional
explicar acções de protesto colectivo que surgem e postulavam que a justiça ocorre quando existe
quando as pessoas sentem que existe uma uma proporcionalidade entre os salários de cada
discrepância entre aquilo a que elas têm direito e trabalhador e as suas contribuições. Por
a sua situação objectiva. O que é particularmente exemplo, se um trabalhador investe duas vezes
interessante é que são os membros mais mais (tempo, esforço, competência) numa
favorecidos dos grupos mais desfavorecidos (e actividade do que outro deve receber um salário
não os mais desfavorecidos dos grupos mais duas vezes maior do que o outro. Por outras
desfavorecidos) que se envolvem mais em palavras, nesta perspectiva a justiça está
protestos colectivos. Este facto explica-se por relacionada com o rácio entre contribuições e
serem os membros mais favorecidos dos grupos compensações, que deve ser o mesmo para
mais desfavorecidos que têm maiores oportuni- ambos os trabalhadores, e não apenas com as

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compensações de cada trabalhador. Assim, que os outros ficam mais satisfeitos numa
muitas vezes a desigualdade pode ser percebida condição de pagamento injustamente elevado
como justa. Por outro lado, quanto maior a do que elas mesmas ficariam (Peters, Van den
discrepância entre os rácios de compensações e Bos, & Bobocel, 2004).
contribuições maior a iniquidade.
Esta dimensão comparativa de justiça integra A teoria da equidade – O princípio do mérito
o conceito de privação relativa quando Homans
(1961) considera que se uma pessoa se percebe Segundo Adams (1965), as teorias da privação
como estando em desvantagem nessa relativa e da justiça distributiva especificam
comparação tem sentimentos de raiva; pelo condições para a percepção de justiça ou
contrário, se uma pessoa se percebe como injustiça nas relações entre os indivíduos, mas
estando em vantagem em relação a outro tem não especificam teoricamente outras conse-
sentimentos de culpa. No entanto, segundo quências da injustiça para além da insatisfação.
Homans (1961), e mais tarde confirmado A teoria da equidade (Adams, 1965) pretende
experimentalmente (Pritchard, Dunnette, & dar resposta a estas lacunas.
Jorgenson, 1972; VanYperen & Buunk, 1994), o Segundo Taylor e Moghaddam (1994), a
limiar para o reconhecimento da injustiça é teoria da equidade envolve uma integração de
maior quando o próprio está em desvantagem em duas tradições importantes na Psicologia Social:
comparação com a situação em que a pessoa se a noção comportamentalista de troca social
encontra em vantagem. Uma ilustração típica de (Thibaut & Kelley, 1959) e a noção de equilíbrio
um estudo no âmbito da teoria da equidade é o cognitivo (Festinger, 1957; Heider, 1956). De
de Pritchard et al. (1972). Nesse estudo facto, em relação à primeira, verifica-se a ênfase
contratavam-se trabalhadores para uma fábrica mecanicista do comportamento humano em que
fictícia através de um anúncio de trabalho. Os as contribuições e benefícios são aparentemente
participantes recebiam um de três tipos de calculáveis; em relação à segunda, está presente
informação na entrevista: ou que lhes seria pago a ideia de que a dissonância cognitiva provoca
o que estava previsto (e era justo) – Condição de um estado de desconforto ao indivíduo.
pagamento justo; ou que havia um erro no jornal
(valor mais alto do que era devido), mas que o Numa situação de equidade:
trabalho ser-lhes-ia pago como estava no Benefícios1 da pessoa = Benefícios do outro
anúncio por questões legais – Condição de Contribuições da pessoa Contribuições do outro
pagamento injustamente elevado; ou que havia
um erro no jornal (valor mais baixo do que era Sendo os benefícios da pessoa o somatório de
devido), e que o trabalho ser-lhes-ia pago pelo todos os benefícios, e as contribuições o
valor que estava no anúncio por questões legais somatório de contribuições percebidos como
– Condição de pagamento injustamente baixo. relevantes numa determinada troca. No entanto,
Os resultados mostraram que as pessoas ficavam algumas contribuições poderão ter um peso
mais satisfeitas com o seu salário na condição de diferente na equação, o mesmo acontecendo
pagamento justo do que nas outras duas com os benefícios.
condições. No entanto a insatisfação dos
excessivamente pagos foi menor do que a As situações de iniquidade surgem quando:
insatisfação dos pagos a menos (alguma Benefícios da pessoa > Benefícios do outro
evidência do auto-interesse). Contribuições da pessoa Contribuições do outro
Mais tarde desenvolveu-se uma teoria geral da
justiça para explicar todas as interacções sociais, Sendo que nesta situação surgem sentimentos
inclusivamente as românticas (Walster, Walster, de culpa.
& Berscheid, 1978), com base nos pressupostos
da teoria da justiça distributiva. É ainda 1 Na língua inglesa Adams (1965) recorre aos
interessante notar que as pessoas revelam um termos inputs e outcomes. Optámos por traduzi-los
efeito de superioridade moral ao considerarem respectivamente por contribuições e benefícios.

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Ou quando: Ainda uma outra situação para a percepção de
iniquidade surge quando os benefícios são
Benefícios da pessoa < Benefícios do outro
reconhecidos apenas por quem os dá, e não por
Contribuições da pessoa Contribuições do outro
quem os recebe, e/ou os benefícios não são
considerados relevantes para a transacção por
Sendo que nesta situação surgem sentimentos
quem os recebe.
de raiva.

Definições dos termos usados: As consequências da percepção de iniquidade


Pessoa é o indivíduo que percebe a equidade Adams (1965), com a sua teoria da
ou iniquidade da situação; Outro é o indivíduo iniquidade, teve como objectivo explicitar que,
(a) com quem a Pessoa está numa relação de para além do estado emocional desagradável
troca; (b) com quem a Pessoa se compara (raiva ou culpa), existem outros efeitos da
quando ele e outro estão numa troca com uma iniquidade igualmente importantes, todos eles
terceira parte; (c) uma terceira parte considerada tendo como motivação eliminar ou reduzir a
pela Pessoa como comparável. Pessoa e Outro iniquidade. Essas consequências são:
podem designar tanto pessoas como grupos.
a) A Pessoa pode alterar as suas contribuições –
é mais provável quando a iniquidade se deve à
As condições para a percepção de iniquidade diferença de contribuições entre a Pessoa e o
Outro e a iniquidade é desfavorável à Pessoa
Adams (1965) identifica várias causas para a em comparação com o Outro (Adams &
percepção de iniquidade. Uma delas ocorre Jacobsen, 1964). Mais recentemente, num
estudo empírico, Greenberg (1988) aproveitou
quando a existência de um determinado atributo
uma reorganização de um serviço para
importante para a transacção é reconhecido distribuir os trabalhadores por postos de igual,
apenas pela parte que o possui e não pela outra maior ou menor estatuto do que o merecido
parte. Por exemplo, um empregado pode pela sua posição organizacional. Os resultados
considerar as suas habilitações escolares tão mostraram que trabalhadores injustamente
importantes como a experiência profissional no pagos ajustam o seu nível de esforço e
exercício de uma determinada função, enquanto produtividade para restaurar a equidade, quer
que o empregador pode reconhecer apenas a aumentando a sua produtividade quando eram
pagos acima do considerado justo, quer
experiência profissional e não as habilitações
diminuindo a sua produtividade quando eram
escolares pagando ao empregado a remuneração pagos abaixo do considerado justo;
que considere adequada, tendo apenas em conta
b) A Pessoa pode alterar os seus benefícios: por
a informação sobre a experiência profissional. exemplo quem trabalha mais tenderá a exigir
Uma outra situação para a percepção de mais benefícios como reivindicações salariais
iniquidade surge quando o indivíduo trata ou de promoção (Homans, 1953);
determinadas contribuições que estão c) A Pessoa pode alterar as suas contribuições
correlacionadas como sendo independentes (e ou benefícios cognitivamente sem os
assim soma-as), enquanto que o empregador modificar objectivamente. Por exemplo, numa
pode considerá-los como associadas e, por isso, situação de iniquidade em que a Pessoa é des-
ao considerar uma está a considerar a outra. Por favorecida por excesso de contribuições pode
exemplo, um determinado empregador pode diminuir a percepção da quantidade dessa
contribuição ou a percepção da relevância
considerar que deve ser mais bem pago do que
dessa contribuição. No caso de a iniquidade se
outro por estar simultaneamente há mais anos na deve a uma desvantagem nos benefícios a
empresa e ter mais anos de experiência Pessoa pode aumentar a percepção da
profissional, enquanto que o seu empregador relevância dos benefícios (Weick, 1964);
pode não considerar estes dois factores como d) A Pessoa pode abandonar o contexto (por
independentes, mas sim como sendo o mesmo exemplo despedindo-se ou pedindo transfe-
factor. rência), o que é mais provável se a iniquidade

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for muito elevada e se não houver outros esforços colectivos, pelo que o somatório das
meios disponíveis para a reduzir (Patchen, estimativas das contribuições das duas partes é
1959); superior a 100% (Schlenker & Miller, 1977).
e) A Pessoa pode distorcer cognitivamente as Por outro lado, a teoria da equidade foi
contribuições e os benefícios do Outro. Por concebida no contexto Norte-Americano e
exemplo, no caso da iniquidade lhe ser desfa- reflecte a importância dos valores económicos
vorável, a Pessoa pode aumentar a percepção dessa sociedade (Deutsch, 1975). Noutras
da relevância das contribuições do Outro, por
culturas, podem ser salientes outros princípios de
exemplo, valorizando muito a tarefa/esforço
do Outro; justiça como a igualdade ou a necessidade
(Leventhal, 1976, 1980). Segundo Deutsch
f) A Pessoa pode mudar o objecto de compara-
(1975), quando a relação é competitiva e o
ção para outro objecto em que a equidade
ocorra. objectivo é a produtividade económica,
considera-se justo que as distribuições de
Estudos recentes (Brosnan, 2006; Brosnan & recursos sigam o princípio da equidade. No
de Waal, 2003) mostraram experimentalmente entanto, quando o objectivo é promover relações
que espécies não humanas, como macacos sociais harmoniosas todos deverão receber os
capuchinhos e chimpanzés, também reagem mesmos resultados independentemente das suas
negativamente à iniquidade, sendo no caso dos contribuições (princípio da igualdade), ou
chimpanzés essa resposta negativa superior quando o objectivo é satisfazer os mais caren-
quando os indivíduos pertencem a grupos com ciados o princípio será o da necessidade.
uma história menos longa. No entanto, estas
reacções à iniquidade verificam-se apenas Os princípios de justiça da igualdade e da
quando a iniquidade lhes é desfavorável, quando necessidade
lhes é favorável não foi notada nenhuma reacção
negativa, o que poderá, no entanto, ter-se devido Pelas limitações expostas anteriormente, o
às características do paradigma utilizado. princípio da equidade muitas vezes pode não se
Outros estudos (Hegtvedt, 1990) mostraram aplicar às relações íntimas (Peters & Van den
que o estatuto da Pessoa pode influenciar a sua Bos, 2008). De facto, as relações íntimas
reacção à iniquidade, sentindo-se as pessoas (relações entre amigos, relações amorosas e
com mais poder menos culpabilizadas por serem relações familiares) são relações de tipo comunal
sobre-recompensadas do que as pessoas com e não relações de troca em que as pessoas
menor poder. envolvidas sentem uma responsabilidade mútua
pelas necessidades dos outros. Nas relações de
As limitações da teoria da equidade troca (relações entre estranhos, conhecidos, ou
relações de negócios) as pessoas não estão
Várias limitações têm sido apontadas à teoria motivadas para agir de acordo com as necessi-
da equidade, nomeadamente a dificuldade de, em dades dos outros (Clark & Mills, 1979, 1993).
situações da vida real, determinar a priori quais Peters e Van den Bos (2008) mostraram experi-
serão as contribuições ou os benefícios mentalmente que quando a iniquidades lhes é
percebidos pelas partes quando estão numa favorável, as pessoas ficam ainda menos satis-
determinada relação (Deutsch, 1985), o que feitas no caso de uma interacção com amigos do
torna a teoria não refutável. De facto, o próprio que no caso de uma interacção com estranhos.
julgamento acerca da importância ou da Estes autores mostraram também que quando a
quantidade de uma contribuição ou de um iniquidade é desfavorável aos participantes, estes
benefício não é objectivo (Leventhal, 1976, ficam menos insatisfeitos se as pessoas com
1980). Estes problemas são controlados nos quem estão a interagir forem amigas do que se
estudos empíricos porque esses julgamentos são forem estranhos. Assim, ficou experimentalmente
apresentados como objectivos, mas a mostrado que o tipo de relação estabelecido
investigação tem mostrado que as pessoas entre a Pessoa e o Outro afecta as reacções das
tendem a exagerar as suas contribuições para pessoas à iniquidade. No entanto, a equidade

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percebida no casal parece mesmo assim ser Iyer, Clayton, & Downing, 2003, para uma
bastante importante dado que está positivamente revisão). A investigação tem também mostrado
associada à maior satisfação conjugal (Van que as atitudes em relação a medidas de acção
Yperen & Buunk, 1994) e a um menor número afirmativa dependem do grupo a que se dirigem
de casos extra-conjugais (Clark & Chrisman, essas medidas. Por exemplo, Santos (2004)
1994). mostrou, em Portugal, que as atitudes (de
A teoria da equidade tem importantes homens e mulheres) em relação a quotas eram
implicações ao nível político porque os grupos mais positivas quando estas se destinavam a
mais beneficados podem tentar criar condições ajudar deficientes e regiões subdesenvolvidas do
para que o grupo mais desfavorecido tente que quando estas se destinavam a ajudar
restabelecer a equidade psicologicamente, em minorias étnicas e mulheres.
vez de restabelecer a equidade pela alteração Uma das principais críticas à teoria da
objectiva da sua situação e das suas condições de equidade foi a de esta ignorar a justiça
vida procedimental (Leventhal, 1976, 1980). Estas
críticas levaram a que, a partir da década de 80,
Políticas de acção afirmativa se verificasse uma estagnação teórica da justiça
distributiva e que florescesse a era da justiça
As políticas de acção afirmativa partem do procedimental (e.g., Giordano & Wolf, 2001;
reconhecimento de que determinados grupos Markovsky & Younts, 2001).
sociais (mulheres, minorias, étnicas, deficientes),
sendo discriminados, têm menor possibilidade de
acesso a determinados cargos, embora os seus A JUSTIÇA PROCEDIMENTAL
membros possam ter mérito equivalente ao de
outros grupos favorecidos que os ocupam. A Em meados da década de 70, o trabalho de
Associação Americana de Psicologia (1996, p. 2) Thibaut e Walker (1975) deu início à era da
definiu acção afirmativa como “esforços justiça procedimental (ou processual), que iria
voluntários e obrigatórios por parte do Estado, ter o seu apogeu nas décadas de 80 e 90, ao
das entidades locais dos empregadores privados mesmo tempo que se notava uma menor atenção
e das escolas para combater a discriminação e dos investigadores em relação ao desenvolvi-
promover iguais oportunidades para todos ao mento das teorias da justiça distributiva (ver
nível da educação e do emprego”, sendo o seu Gouveia-Pereira, 2008; e Sousa & Vala, 2002,
objectivo “eliminar a discriminação contra as para revisões).
mulheres e as minorias étnicas e corrigir os Thibaut e Walker (1975) chamaram a atenção
efeitos da discriminação passada “ (Kravitz et para o facto das pessoas envolvidas em disputas
al., 1997, p. vii). legais considerarem que, para além do resultado
Nos EUA, desde os anos 60, têm sido da decisão do tribunal, também o modo como o
introduzidos vários programas que reconhecem a julgamento foi conduzido influencia o grau em
pertença a determinados grupos como condição que as pessoas consideram que tiveram um
legítima para a aquisição de compensações julgamento justo. Para Thibaut e Walker (1975),
económicas ou políticas. O facto de estes a justiça dos procedimentos é determinada pela
programas se focarem no grupo a que os distribuição do controlo entre as partes e quem
indivíduos pertencem, em vez de se focarem nas decide. Estes autores identificaram dois tipos de
características consideradas isoladamente, tem controlo para a definição de justiça procedi-
suscitado muitas resistências tanto por parte dos mental: Controlo do processo – grau e natureza
grupos mais beneficiados da sociedade (e.g., do controlo de cada uma das partes na apresen-
Tougas & Beaton, 1993) como por parte dos tação da evidência; Controlo da decisão – grau e
grupos que se pretende beneficiar com estas natureza do controlo de cada uma das partes
políticas (Taylor & Dubé, 1986; Taylor & sobre as decisões tomadas. Os procedimentos
Moghaddam, 1994) por serem percebidos como mais justos seriam aqueles em que as partes
violação do princípio da equidade (ver Crosby, sentem maior controlo sobre o processo e/ou

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sobre a decisão. Um conjunto posterior de melhor preditor da satisfação com o trabalho do
estudos destes e de outros autores, mostrou que que a justiça distributiva.
os efeitos do resultado efectivo da decisão e do Uma das operacionalizações da justiça
controlo sobre a decisão e o processo decisório procedimental mais frequente tem sido a
eram independentes (Houlden, Latour, Walker, & oportunidade de as pessoas pronunciarem a sua
Thibaut, 1978; Lind, Kurtz, Musante, Walker, & opinião (voz) num processo de tomada de
Thibaut, 1980). Foram estudadas as reacções a decisão. Os resultados de muitas investigações
diferentes procedimentos de resolução de mostraram que quando é dada aos participantes
conflitos, tais como os sistemas adversarial essa oportunidade, os processos de decisão são
versus inquisitorial, ou a resolução de conflitos considerados mais justos do que quando não é
através da arbitragem. No entanto, a abordagem dada essa oportunidade aos participantes, mesmo
destes autores enfatizava ainda o contrato social quando estes acreditam que a expressão dessa
(Thibaut & Walker, 1975) e o auto-interesse, opinião não influenciará o resultado das decisões
sendo o acesso aos processos de decisão, um (e.g., Folger, 1977; Folger, Rosenfield, Grove, &
meio para permitir o controlo dos resultados. Corkran, 1979; Tyler, 1987).
Uns anos mais tarde, Leventhal (1980) propôs Tyler, Degoey, e Smith, (1996) sumarizam os
um conjunto de critérios para avaliar a justiça resultados de 20 anos de investigação em justiça
procedimental: consistência – igual tratamento procedimental referindo estudos que mostraram
entre as pessoas e ao longo do tempo; supressão que quando as pessoas sentem que foram
de enviesamentos – ausência de auto-interesse tratadas justamente têm mais probabilidade de
ou preconceitos ideológicos; acuracidade – uso aceitar as decisões resultantes dos procedi-
adequado da informação; correctabilidade – mentos, ficam mais satisfeitas com os proce-
oportunidade de outras autoridades poderem dimentos, têm maior probabilidade de aceitar as
alterar as decisões; representatividade – normas do grupo, têm maior a probabilidade de
consideração das preocupações, valores e pontos permanecer um membro do grupo, e têm maior
de vista de todas as partes do processo; ética – probabilidade de ajudar o grupo mesmo que
compatibilidade com valores morais e éticos isso implique custos para eles.
fundamentais. A ênfase na justiça dos procedimentos levou
Muita da investigação na sequência dos ao surgimento de teorias de justiça que
trabalhos de Thibaut, Walker e colegas, e de salientaram mais a justiça dos procedimentos do
Leventhal teve como principal objectivo mostrar que os resultados, as mais importantes das quais
que a justiça distributiva e a justiça consideramos serem o modelo do valor do grupo
procedimental tinham efeitos independentes nas (Lind & Tyler, 1988; Tyler, 1989; Tyler & Lind,
avaliações de justiça ou da satisfação dos 1992), a teoria da heurística da justiça (Lind,
participantes, sendo que a justiça procedimental Kulik, Ambrose, & De Vera Park, 1993; Van den
tinha mais impacto nessas variáveis do que a Bos, Vermunt, & Wilke, 1997), e o modelo da
justiça distributiva (Folger & Konovski, 1989; gestão da incerteza (Van den Bos, 2001). No
Tyler & Caine, 1981; Tyler & Folger, 1980). entanto, alguns autores chamaram a atenção
Actualmente, publicam-se ainda estudos com para o facto de a justiça distributiva também ser
esse objectivo (e.g., Fondacaro, Jackson, & importante e de, nalguns casos, a ausência de
Luescher, 2002; Lambert, Cluse-Tolar, efeitos da justiça distributiva poder ser devida a
Pasupuleti, Hall, & Jenkins, 2005). Duas meta- particularidades dos estudos que tentavam
análises recentes, no âmbito da satisfação confrontar a justiça distributiva com a justiça
organizacional, chegaram a conclusões procedimental (Brockner & Wiesenfeld, 1996,
contraditórias: Cohen-Charash e Spector (2001) para uma revisão; Greenberg, 1990). Barret-
concluíram que a justiça distributiva é um Howard e Tyler (1986) sugerem que a justiça
melhor preditor da satisfação com o trabalho do processual é mais importante do que a
que a justiça procedimental, enquanto que distributiva em situações de relações sociais
Colquitt, Conlon, Wessom, Porter, e Ng (2001) moderadas (quando as pessoas se preocupam em
concluíram que a justiça procedimental é um manter a relação) e de relações sociais fortes.

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Em situações de conexões sociais mínimas as cional, tanto ao nível do departamento como no
pessoas não se importam com a manutenção da grupo de trabalho (Sousa & Vala, 2002).
relação. Theotónio e Vala (1999) mostraram que nas
Têm também surgido vozes no sentido de situações de injustiça os indivíduos salientam
integrar estes dois domínios da justiça (e.g., mais os aspectos distributivos, mas nas situações
Cropanzano & Folger, 1989; Sweeney & de justiça são os aspectos procedimentais e
McFarlin, 1993). interaccionais os mais salientes. Vala e Marinho
(2003) mostraram que as percepções de justiça
procedimental explicam mais o grau de
A justiça interaccional
satisfação das pessoas com as instituições
democráticas em Portugal do que as percepções
Uma terceira dimensão de justiça foi proposta
de justiça distributiva.
(Bies & Moag, 1986; Bies & Shapiro, 1987), a
de justiça interaccional, considerada como a
qualidade da interacção com os decisores e O modelo do valor do grupo
baseada na comunicação e não nos aspectos
formais do processo de tomada de decisão. O Modelo do Valor do Grupo2 (Lind & Tyler,
Assim, a justiça interaccional inclui um 1988; Tyler, 1989; Tyler & Lind, 1992) oferece
relacionamento honesto e verdadeiro, o respeito uma explicação dos mecanismos através dos
pelos direitos e pela dignidade das pessoas, e a quais a justiça procedimental influencia os
justificação das decisões tomadas (Bies & Moag, comportamentos e atitudes orientados para o
1986; Bies & Shapiro, 1987). Bies e Moag grupo. Este modelo sugere que os procedimentos
(1986) mostraram que a dimensão de justiça e o tratamento justo pelas autoridades comunica
interaccional surge espontaneamente no discurso informação relevante para a identidade aos
dos indivíduos e Bies e Shapiro (1988) indivíduos afectados por estes procedimentos,
mostraram empiricamente que os efeitos da voz nomeadamente o grau em que os indivíduos são
(operacionalização da justiça procedimental) e membros respeitados pelos elementos do seu
da justificação das decisões (operacionalização grupo e o grau em que os indivíduos se sentem
da justiça interactiva) afectam os julgamentos de orgulhosos do seu grupo. Relativamente ao grau
justiça independentemente. em que os indivíduos são membros respeitados
Apesar de não haver acordo quanto à pelos seus grupos, o modelo considera que o
distinção das dimensões de justiça procedimental tratamento justo indica que as autoridades do
e interaccional, com estudos a apoiarem a clara grupo consideram que o indivíduo tem uma
distinção entre as duas dimensões (e.g., Rego, posição de respeito no grupo; o tratamento
2000) e outros a mostrarem a não diferenciação injusto indica marginalidade e desrespeito.
destas duas dimensões (e.g., Sousa & Vala, Relativamente ao grau em que os indivíduos se
sentem orgulhosos do seu grupo, o modelo
2002), elas são referidas no discurso dos
considera que um tratamento justo pelas autori-
indivíduos (Mikula, Petri, & Tanzer, 1990) e
dades pode comunicar este tipo de informação
parecem ter saliências diferentes nas situações de
importante para a identidade dos indivíduos
justiça e injustiça (e.g., Theotónio & Vala, 1999).
porque as autoridades agem como protótipos
Salientamos os resultados de alguns estudos
representativos dos grupos e as suas acções
feitos em Portugal. Lamego (1997) mostrou que
a avaliação do processo de avaliação de
2 Na literatura encontra-se uma certa indiferen-
desempenho está mais correlacionada com a
ciação do modelo do valor do grupo (Lind & Tyler,
justiça procedimental e a justiça interaccional do 1988; Tyler, 1989) em relação ao modelo relacional da
que com a justiça distributiva. Em contexto autoridade (Tyler & Lind, 1992). Esta indiferenciação
organizacional, mostrou-se que as dimensões de é feita pelos próprios autores deste modelo ao se
justiça procedimental e interaccional são mais referirem globalmente a este modelo como modelo do
valor do grupo (Tyler et al., 1996), enquanto outros
importantes do que a justiça distributiva para a autores referem estes artigos como dizendo respeito ao
satisfação organizacional (Caetano & Vala, modelo relacional da autoridade (van Prooijen, van
1999) e para a aceitação da mudança organiza- den Bos, & Wilke, 2004).

17
podem ser consideradas como indicadores alta- Alguns estudos feitos em Portugal
mente salientes das opiniões dos grupos. Para confirmaram os papeis mediadores do orgulho
além disso, nos grupos organizados as autori- no grupo e do respeito sentido no seio do grupo,
dades exprimem os valores e normas do grupo. entre a percepção de justiça procedimental e a
Este modelo incorpora a tradição da teoria da orientação para a mudança (Sousa & Vala,
identidade social que mostra que as pessoas que 2002), bem como em relação à legitimação da
se identificam com o seu grupo e avaliam o autoridade escolar (Gouveia-Pereira, 2008),
grupo positivamente internalizam os interesses suportando assim empiricamente o modelo do
do grupo, equacionando-os com o seu auto- valor do grupo. Gouveia-Pereira, Vala,
interesse (Brewer & Kramer, 1986). Tal conduz Palmonari, e Rubini (2003) mostraram ainda
à interiorização das normas do grupo que guiam que a legitimação das autoridades escolares é
o comportamento individual e encorajam a uma variável mediadora entre a percepção de
conformidade às normas do grupo (Turner et al., justiça procedimental/relacional e a legitimação
1987). Segundo o modelo do valor do grupo, os das autoridades institucionais exteriores à escola.
sentimentos de orgulho e respeito que resultam
do tratamento justo, por sua vez são A teoria da heurística da justiça
hipotetizados como legitimando as autoridades e,
deste modo, promovendo comportamentos que A Teoria da Heurística da Justiça (Lind et al.,
servem o grupo. Tyler, Degoey, e Smith (1996) 1993) baseia-se no modelo do valor do grupo e
mostraram empiricamente que os membros do considera que as pessoas quando são
grupo que se sentem mais respeitados e mais confrontadas com uma determinada situação de
orgulhosos do seu grupo, pelo facto de serem interacção com uma autoridade começam a
tratados justamente pelas autoridades do grupo procurar informação para formular julgamentos
(com neutralidade, confiança e reconhecimento de justiça. De facto, dado que as autoridades
da posição social), conformam-se mais com as podem agir de modo a prejudicar a pessoa,
normas grupais, ajudam mais o grupo, estão importa perceber se são ou não de confiança ou
mais motivados para permanecer no mesmo e ainda neutras nesta dimensão, e se tratarão os
envolvem-se mais em comportamentos indivíduos de acordo com o estatuto que eles
extrapapel. detêm no seio dos grupos. Uma vez formados os
O modelo do valor do grupo também julgamentos de justiça, na maior parte das vezes
incorpora outra premissa chave da teoria da com base em informação procedimental por ser a
identidade social – que as pessoas usam os primeira disponível, este julgamento actua como
grupos como fontes de informação sobre si heurística para interpretar os acontecimentos
próprias (Tajfel & Turner, 1979). Tyler, Degoey, subsequentes. Van den Bos, Vermunt, e Wilke
e Smith (1996) mostraram ainda empiricamente (1997) mostraram empiricamente que a justiça
que os procedimentos justos comunicam orgulho procedimental será mais importante quando as
e respeito aos membros do grupo, o que por seu pessoas são informadas sobre o procedimento
turno aumenta a auto-estima. antes de serem informadas sobre o resultado, e a
Tyler (1989) propõe três aspectos relacionais justiça distributiva será mais importante quando
críticos na percepção de justiça procedimental: as pessoas são informadas sobre o resultado
neutralidade (em que medida os procedimentos antes de serem informadas sobre o procedi-
são percebidos como não enviesados e iguais mento. Numa tentativa de integração dos
para todos); confiança (em que medida os domínios procedimental e distributivo da justiça,
motivos da autoridade são vistos como orien- Van den Bos, Vermunt, e Wilke (1997) afirmam
tados por preocupações de justiça de acordo que a Teoria da Heurística da Justiça é uma
com as necessidades dos outros e as suas acções teoria da justiça, e não apenas uma teoria da
são vistas como honestas); reconhecimento da justiça procedimental, tal como conceptualizada
posição pessoal (o grau de dignidade e respeito por Lind e colaboradores (1993).
com que as pessoas são tratadas durante os Jones e Skarlicki (2005) mostraram que na
procedimentos). ausência de informação sobre uma autoridade, os

18
indivíduos são influenciados sobre as opiniões nismos institucionais para lidar com as violações
dos seus pares acerca da reputação da de normas sociais. Embora nem sempre as leis
autoridade. Este estudo mostrou que o trata- coincidam com as instituições e o raciocínio
mento injusto por parte de uma autoridade com moral dos cidadãos sobre o que é justo, as leis
reputação de ser justa pode provocar reacções de são desenvolvidas por actores sociais e reflectem
retaliação mais fortes do que o tratamento o que, pelo menos alguns deles, pensam num
injusto por parte de uma autoridade cuja determinado momento.
reputação em relação à justiça se desconhece. Como referem Hogan e Emler (1981) o
processo de retribuição é culturalmente universal
O modelo da gestão da incerteza e foi encontrado em todas as sociedades
humanas de que há registos históricos até ao
Alguns estudos (Van den Bos, 2001; Van den presente. Tem sido também empiricamente
Bos & Miedema, 2000), partindo da teoria da demonstrado que tanto as vítimas como os
heurística da justiça, sugerem que a justiça é observadores culpabilizam os ofensores e acham
importante para as pessoas porque lhes dá a que estes devem ser punidos (Shaver, 1970;
oportunidade de gerir os aspectos da sua vida Walster, 1966).
que percepcionam como incertos. Consequente- Uma questão importante colocada por vários
mente, este modelo de gestão da incerteza (Van autores (e.g., Hogan & Emler, 1981; Tyler et al.,
den Bos, 2001) postula que a justiça é especial- 1997) é se a justiça retributiva se distingue da
mente importante quando as pessoas estão restauração da equidade, mas o facto de que,
focadas em aspectos da sua vida relativamente para além de se restabelecer a equidade se
aos quais não têm certeza. Estudos feitos no considerar que os infractores devem ser punidos
âmbito deste modelo (Van den Bos, 2003) adicionalmente, é um argumento importante para
mostraram que em situações de incerteza o a diferenciação dos dois tipos de justiça.
estado afectivo em que a pessoa está antes do Também o facto de a responsabilidade do
acontecimento que elicita a percepção de justiça infractor e dos danos morais serem aspectos
pode influenciar fortemente esse julgamento. importantes a considerar na retribuição contribui
Estes resultados salientam o carácter subjectivo para o argumento a favor dessa diferenciação.
dos julgamentos de justiça. Esta qualidade Existem basicamente dois tipos de explica-
subjectiva dos julgamentos de justiça, que ções sobre o que motiva as pessoas a desejar a
contrasta com as teorias de justiça que concebem punição dos ofensores (Carlsmith, Darley, &
os julgamentos de justiça como sendo o Robinson, 2002). Uma dessas explicações é a
resultado de processos racionais-cognitivos, perpectiva de controlo do comportamento,
parece uma importante via de investigação para também denominada utilitária ou instrumental,
os anos futuros. que considera que a punição tem como objectivo
a dissuasão de futuros crimes. A mais influente
destas teorias é a teoria da dissuasão defendida
A JUSTIÇA RETRIBUTIVA por Bentham (1970). A teoria da dissuasão (ver
Nagin, 1998, para uma revisão) considera que a
Segundo Tyler et al. (1997) as questões de punição de um ofensor deve ser apenas
justiça retributiva colocam-se quando as normas suficiente para prevenir futuras ocorrências da
não são cumpridas e é preciso decidir se alguém ofensa que tenham o próprio ou outros como
deve ser punido pela quebra das normas, que vítimas. Esta teoria baseia-se no pressuposto de
tipo de punição deve ser atribuída, e quão severa que o criminoso potencial, tal como outros
deve ser essa punição. cidadãos, entre os quais alguns que se poderiam
Estas questões são relevantes quer ao nível vir a sentir tentados a cometer crimes, é um actor
individual, quer ao nível social mais geral dos racional que ao perceber os elevados custos
sistemas legais e criminais que elaboram leis associados à acção criminosa transformará essa
para decidir como actuar nas várias situações. De acção numa opção pouco atraente. Uma outra
facto, a maior parte das sociedades tem meca- teoria dentro desta mesma perspectiva é a teoria

19
da incapacitação, que considera que os indiví- os grupos e, por isso, os grupos punem os
duos que cometeram crimes devem ser presos de infractores para defenderem os valores e a
modo a que se assegure que não cometerão mais identidade do próprio grupo (Boeckman, 1993,
crimes (ver Zimring & Hawkins, 1995, para citado por Tyler et al., 1997), para assegurarem a
uma revisão). manutenção do mesmo (Boeckman, 1996a,
Pelo contrário, a teoria do merecimento citado por Tyler et al., 1997), e para restabele-
considera que o ofensor deve ter uma punição cerem o estatuto da vítima que sofreu a ofensa
apropriada, e mesmo que esta seja a prisão, a (Heider, 1958).
razão não é para prevenir futuros crimes, mas
sim para que o ofensor seja punido pelo acto Normas sociais e reacções à infracção a essas
danoso que praticou. Esta teoria tem como normas
conceito central a proporcionalidade entre a
punição e o mal causado. De facto, verifica-se Segundo Boeckman (1996a, citado por Tyler
um grande consenso social acerca da gravidade et al., 1997), a natureza da resposta à violação da
de vários tipos de crimes (Rossi, Waite, Bose, & regra é função do tipo de regra que foi quebrada.
Berk, 1974). Mostrou-se também empiricamente As normas que regulam as actividades dos
que as circunstâncias em que o crime é membros de grupos sociais podem ser classifi-
cometido, sejam atenuantes ou agravantes, afec- cadas em quatro categorias: normas que regulam
tam a indignação moral sentida pelos cidadãos e as transacções de recursos pessoais materiais;
aumentam ou diminuem a severidade e o tipo de normas que regulam as transacções de recursos
punição (e.g., Finkel, Maloney, Valbuena, & pessoais de estatuto; normas que regulam o uso
Groscup, 1996). de recursos materiais colectivos; e normas que
Carlsmith, Darley, e Robinson (2002) regulam os valores colectivos fundamentais da
realizaram três estudos experimentais para sociedade (Tyler et al., 1997). Segundo esta
contrastar as motivações de merecimento e tipologia, a intensidade e o carácter das respostas
dissuasão na punição, mostrando que as res- retributivas depende do modo como a infracção
postas dos participantes foram muito sensíveis às pode ser categorizada ou, no caso de ser
variações dos factores associados ao mereci- multidimensional, da dimensão mais saliente.
mento e pouco sensíveis aos factores associados No caso das infracções às transacções de
à dissuasão. A base desta motivação retributiva recursos pessoais materiais, estas podem ser
tem sido conceptualizada, não como resultado de vistas como desvios à equidade, contratos
uma lei de talião “olho por olho, dente por quebrados, violações de propriedade ou ausência
dente”, que teria uma base de vingança, mas de reciprocidade. A retribuição deve consistir na
como a necessidade de restabelecer o equilíbrio restituição da equidade e do estatuto da parte
que foi posto em causa pela violação de uma lesada. Um exemplo desta investigação é o das
regra (Darley & Pittman, 2003). Assim, a respostas à violação da equidade (Walster et al.,
violação das normas sociais é conceptualizada 1978).
como prejudicando, não apenas o indivíduo As transacções de recursos pessoais de
lesado, mas toda a sociedade, sendo necessário estatuto referem-se às normas em que se baseia a
reafirmar simbolicamente a manutenção dessas ordem social através da especificação do modo
normas que são importantes para a compreensão como as pessoas de estatuto igual ou diferente se
da realidade pelos cidadãos. Desta forma, o devem comportar em relação aos outros. Essas
comportamento desviante é considerado como normas podem especificar princípios de justiça
ofensivo dos valores das pessoas independente- distributiva (por exemplo, as pessoas com
mente de qualquer ameaça física ou monetária elevado estatuto têm direito a receber mais
porque simboliza uma erosão dos valores que é recursos) e/ou especificar princípios de justiça
ofensiva e ameaçadora para o sistema normativo procedimental (por exemplo, todas as pessoas
sobre o qual os grupos se apoiam. Deste modo, a têm direito a um tratamento delicado por parte
necessidade de punir os infractores relaciona-se da polícia). As violações a este tipo de normas
com a necessidade de coesão e identificação com envolvem injúrias a posições de estatuto (por

20
exemplo, insultos, acções que implicam descon- dos impulsos de punição e compensação da
sideração). Neste exemplo, o objectivo da justiça vítima. Assim, quando o ofensor é percepcio-
retributiva é restaurar o status quo original, nado como tendo cometido o dano de modo
diminuindo o estatuto do ofensor ou aumentando intencional provoca elevada indignação moral
o estatuto da vítima, por exemplo, através do nos observadores, levando a impulsos de
pedido de desculpas do ofensor à vítima. punição e compensação da vítima; quando o
Relativamente à utilização de recursos materi- ofensor é percepcionado como tendo cometido o
ais colectivos (fundos públicos, propriedade dano negligentemente provoca baixa indignação
pública, recursos naturais), quando são infrin- moral nos observadores, levando a impulsos
gidas as normas de utilização destes recursos, apenas de compensação; quando o ofensor é
esse facto origina reacções de indignação. As percepcionado como tendo cometido o dano
penas atribuídas aos culpados tentam preservar acidentalmente não provoca indignação moral
ou prevenir o agravamento da utilização desses nos observadores, não levando a impulsos de
recursos (Baron, Gowda, & Kunreuther, 1993). punição ou compensação.
No que diz respeito aos valores colectivos A evidência empírica tem mostrado que a
fundamentais da sociedade, e que podem ou motivação básica para a retribuição dos seres
não provocar vitimização de indivíduos, como humanos, na ausência de autoridades legais que
por exemplo colocar uma criança em perigo ou os cidadãos considerem eficazes e rápidas na
queimar uma bandeira, o objectivo da justiça reposição da justiça, pode levar ao aumento do
retributiva é restaurar a validade das normas ou apoio social a acções de auto-defesa e retaliação
valores violados e assegurar que não o voltam a “pelas próprias mãos” (Robinson & Darley,
ser (Miller & Vidmar, 1981). Neste caso é 1995).
importante que toda a sociedade tenha conheci-
mento da punição e que esta seja exemplar.
Os critérios desta tipologia (individual versus A JUSTIÇA REPARADORA
colectivo, e material versus simbólico) têm
consequências diferentes para a retribuição Os sistemas de justiça criminal das sociedades
(Boeckman, 1996a, citado por Tyler et al., 1997). ditas desenvolvidas, baseados numa justiça
As pessoas reagem mais quando as normas retributiva que procura uma proporcionalidade
infringidas têm consequências colectivas e/ou entre a pena atribuída e a gravidade da infracção,
quando os recursos simbólicos estão em causa; não têm conseguido eficazmente, nem diminuir a
se a natureza das consequências da infracção são ocorrência de crimes, nem assegurar a
físicas ou materiais privilegia-se mais a reabilitação dos ofensores (Cohen, 2001). Como
restauração material do que as desculpas; se reacção a esta constatação, nas últimas duas
essas consequências são simbólicas privilegia-se décadas do século XX a justiça reparadora
mais as desculpas (restituição simbólica) do que emergiu como um fenómeno global, criando-se
a restauração material. políticas e programas de justiça reparadora na
maior parte dos países industrializados e em
Punição do agressor versus compensação das desenvolvimento (e.g., Braithwaite, 1999). Estas
vítimas medidas têm origem em antigas práticas de
grupos como os Maoris e os Arborígenes
Segundo Hogan e Emler (1981), as pessoas Australianos, bem como tribos de Índios
consideram que punir o ofensor é mais Americanos (Braithwaite & Daly, 1998).
importante do que compensar a vítima de modo A justiça reparadora devolve um papel activo
a que esta se volte a encontrar numa situação aos três actores principais das injustiças (vítima,
equivalente à anterior ao dano que sofreu. Darley agressor e comunidade a que ambos pertencem)
e Pittman (2003) apresentam um modelo na resolução da situação criada pela infracção e
segundo o qual a intencionalidade percebida da procura a reconciliação, em vez de apenas se
ofensa determina a indignação moral dos procurar a punição do ofensor. Confere-se, assim
observadores, o que tem consequências ao nível controlo sobre a resolução do conflito e a

21
restauração da justiça àqueles a quem esse A aceitação das medidas de justiça
conflito pertence (Christie, 1977; Cohen, 2001): reparadora
as vítimas deixam de ter apenas o papel de
testemunhas, podendo confrontar aqueles que A evidência empírica apoia o aumento da
lhes causaram danos, relatando o impacto do satisfação com o sistema criminal por parte dos
crimes nas suas vidas e sugerindo maneiras de ofensores e das vítimas que participaram numa
estes repararem o mal que fizeram – as vítimas sessão de mediação em comparação com aqueles
são, assim, reconhecidas e ouvidas; os ofensores que não participaram (Abrams, Umbreit, &
podem explicar as razões pelas quais cometeram Gordon, 2006). Pelo contrário, sabemos que os
o crime e o modo como o fizeram, o que muitas
processos de justiça retributiva, muitas vezes re-
vezes ainda não tinham tido oportunidade de
vitimizam as vítimas (Epstein, Saunders, &
fazer (Cohen, 2001), encoraja-se a aceitação da
Kilpatrick, 1997; Koss, 2000).
responsabilidade e a expressão do remorso; as
comunidades são capazes de responder ao mal Estudos sobre a aceitação das medidas de
feito e reintegrar os ofensores e as vítimas. Os justiça reparadora por parte da opinião pública
encontros entre vítimas e ofensores podem mostraram um apoio alargado a estas alternativas
assumir várias formas (Bazemore & Schiff, à punição, especialmente quando aplicadas a
2001), entre as quais programas de mediação e jovens ofensores, diminuindo à medida que a
reconciliação vítima/ofensor, conferências entre gravidade da infracção e a reincidência
as famílias das vítimas e dos ofensores e a aumentam (Roberts & Stalans, 2004). Gromet e
comunidade, experiências de vergonha 3 Darley (2006) mostraram experimentalmente
reintegrativa, comissões de inquérito de que, no caso das ofensas mais graves, o apoio às
averiguação e reconciliação (Cohen, 2001). Em medidas reparadoras se mantém desde que
todos estes formatos a comunidade (podendo combinadas com medidas retributivas, como por
incluir apoiantes das vítimas e do ofensor) exemplo, uma pena de prisão. Vários estudos
oferece uma protecção para esse encontro num experimentais têm mostrado ainda que os
ambiente seguro e estruturado. Juntos, a vítima e
pedidos de desculpa pelos ofensores e a
o ofensor definem os termos de um acordo de
expressão de remorsos diminuem a gravidade
reparação que pode envolver o pagamento de
perdas financeiras, trabalho comunitário ou das penas recomendadas pela opinião pública
tarefas específicas que beneficiem a vítima (Harrel, 1981), e o aumento do recurso a
(Lawson & Katz, 2004). medidas de justiça reparadora em detrimento das
De acordo com Brooks (2000, citado por de justiça retributiva (Bilz, 2002).
Lawson & Katz, 2004), a justiça reparadora As medidas de justiça reparadora, combinadas
procura produzir três tipos de consequências: ou não com as de justiça retributiva, recebem
apoio da opinião pública (Roberts & Stalans,
– a reconciliação entre a vítima e o ofensor,
com a vítima e receber um pedido de des- 2004) e têm sido especialmente recomendadas
culpas e a ver a sua dignidade restabelecida, como devendo ser aplicadas aplicadas ao crime
enquanto o ofensor aceita ter feito um acto juvenil (Lawson & Katz, 2004). O crime juvenil
danoso sem o estigma de ser considerado assume características peculiares atingindo um
uma pessoa desviante (vergonha reintegra- pico entre os 15 e os 17 anos, estrutura etária
tiva, Braithwaite, 1989);
esta que parece ser invariável entre culturas e
– a reparação em que o ofensor concorda em períodos históricos, e constante para diferentes
reparar a vítima de uma forma considerada
justa e mutuamente aceitável;
tipos de crime (Hirschi & Gottfredson, 1983).
A justiça reparadora tem sido também
– a transformação das condições que contri-
buem para a perpetuação do ciclo de vitimi- aplicada a situações de vitimização que não
zação e agressão. chegariam ao sistema judicial formal como, por
exemplo, as situações de vitimização entre pares
3 A expressão original é “shaming”. A tradução por na escola, denominadas vulgarmente por
“vergonha” parece-nos adequada. bullying (Morrison, 2006).

22
CONCLUSÕES Bies, R. J., & Shapiro, D. L. (1987). Interactional
fairness judgments: The influence of causal
accounts. Social Justice Research, 1, 199-218.
Esperamos ter mostrado nesta revisão de
literatura que o campo da Psicologia Social da Bies, R. J., & Shapiro, D. (1988). Voice and
Justiça é fascinante, tendo as teorias aqui justification: Their influence on procedural fairness
judgments. Academy of Management Journal, 31,
abordadas estado estreitamente relacionadas com 676-685.
a resposta a problemas sociais e organizacionais
relevantes. Com esta revisão pretendemos Bilz, K. (2002). Restorative justice and victim offender
mediation (VOM): A new area for Social
facilitar a vida ao leitor que pretenda ter uma Psychology Inquiry. Retirado de www.Princeton.
revisão global deste campo, não pretendendo edu/~kbilz/v
substituir-nos à consulta das referências de base
Braithwaite, J. (1989). Crime, shame and reintegration.
que aqui apresentamos e que são essenciais para
Cambridge: Cambridge University Press.
o aprofundamento destas questões.
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