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TEXTOS DE FRIEDRICH RATZEL Ratzel | Organizador: Antonio Carlos Robert Moraes I, GEOGRAFIA DO HOMEM (ANTROPOGEOGRAFIA)* . _ 1, EVOLUCAO DOS CONCEITOS RELATIVOS A INFLUENCIA QUE AS CONDICOES NATURAIS EXERCEM SOBRE A HUMANIDADE §7. Conesitos predomi apés.a renovacio intes no passado — A geografis, imediatamente vida vegerl e a, que sobre aqucla mente 0 nexo entre uma e ora nadas. Hoje, a parte geogrifica ‘tudo tem uma impornciaindubivel ea mesmo tempo, ace mais realizagio. E de se sssinalar, em primeiro ger, que tudo que se rele A natureza, a0 ambiente € imutével em comparagia alo que st relere 20 em. Do mesmo modo que a onda quebra sempre da mesma manera cor a determinada forma de rocha, ocore também que determinadas condigdes niaturaisimpdem ao movimento da vida sempre as mesmas vase, enovendo- se perenemente, colocam sempre © no mesmo sentido obstculos ou liicacdes Por isso, aimporsncia dessa condigdes alm daguela que ologat 33 mento hhstérico singular; elas réprest ia subseqiiente dos povos um elemento de carder dura- pds as do cingido & natureza do seu t de vista a partir do qual se consi inado ¢ pouquissimo mutavel, através fa corrente da humanidade, e tanto melhor se reconhece im- 0 elemento geogrifico do qual falamos.E pre- 0s se desenvolveram, Porém, como sempre ocorre no desenvi ‘Nao foram estes os problemas que a geografia apontou ar, pois ja desde os tempos antigos a filosofia se vinha apro- acerca das relacdes entre a ‘que as obras tanto cle uma quanto de outra se tornam plenamente ‘qualquer ponto de vista, perceber as influéncias que a primeira exerce sobre a segunda algo extremamente dift= tanto que se pode encontrar a natureza e a nos historiadores, nos ge6grafos da Antiguidade, encontramos uma verda- deira riqueza de conceitos antropogeogrificos, o que surpreende dupl te, se se considera quanto eram limitados o horizonte geografico ¢ 0 conhe- cimento etnografico e histérico daqueles tempos'. Jd em encontram-se excelentes observacdes sobre a influéncia que o ol na vida dos povos; ¢ em Estrabdo, onde ele trata dos comtinentes e dos luga- res singulares, encontram-se alguns conceitos que 0s n0s50s manuais de geo- _srafia retomaram hé apenas alguns decénios; e a necessidade que ele expres- sa de considerar a conformacao diversa dos territérios como preordenada ‘com base em um principio racional é precisamente 0 conceito fundamental de Karl Ritter. ‘Com a renovacdo da ciéncia voltam a ser estudadas também as rela- bes entre as condigbes naturais e a vida do homem. E é a partir dai que ito de natureza e mais direta a sua compreensfo, procedimento se detenham no limiar da histé- ‘enguanto a ad facitem uma grande influéncia sobre a natureza e sobre a hist6ria dos pov dera também a influéncia exercida pelos tipos de terreno, pelos cursos de gua etc, e nisso vai além dos antigos, dos quais extraiu os principios fun- damentais da sua teoria®. Mas Bodin atribui uma poderosa influéncia sobre fs destinos dos povos também aos planetas. As geragdes posteriores libertaram-se totalmente deste preconceito; mas conservaram, por outro la- do, um grande horror aos fenémenos nat 10 que, por exemplo, na descrigdo do estado de natureza, venerada a partir de Hobbes, ninguém pen- sou em utilizar o abundante material ai recolhido desde a época des grandes descobertas geograficas para fazer uma descriedo direta dos povos; simples- mente se representou um estado de natureza ideal e essas descrigdes foram sendo repetidas sem que se buscasse prova-las. Somente nas * ‘moda nessa época, se tira partido do material das observagbes de modo inteiramente superficial. Assim, de Tomés Morus € representada uma subdividir a histéria em trés periodos — divino, herdico e h leva a assistir a um fenOmeno de progress © aos mares, Hé nele como que um press aqualo + mas desse pressentimento nfo resultaria nenhuma, A pattir de Bacon, observa-se que, a cada novo passo da evolucdo fi- loséfica, abre-se caminho a uma concepedo particular que considera os po- vos como prodittos da natureza e da histéria; contudo, Bacon ndo deu uma atenglo particular a influéncia das condigOes naturais sobre a histéria ¢ essa concepeao na sua obra, ‘em Hobbes, ndo foi além da mera hips- ra como uma flor dissecada e encerrada orquee, mesmo naqueles casos em i e provar a influéncia exercida pelas condigées -Se passat por cima dos fatos a por decididamente as maos mento geogratico, representado pela unio dos luos singulares, com "Mave, Richard. Die philsophische Ceschichnauffesung der Newzit. 187. p. 69 e eqs 2 Karr V, igomeine verglechende Erdtunde, Ned. 1878. p. 90 et ss, 35 nga’ seguranca, ¢ pela conseqiiente fusdo de, segundo Spinoza, abi que ada natureza, cont 0s nfo sao para 56), Se propdem o mes- ‘mo objetivo e o perseguem pelo mesmo caminho, Mas nito é af ainda que cles pretendem investigar as relades de dependéncia entre os povos e 0 ter- rit6rio por eles habitado. Voltaire tenta realizar uma exposi¢ao geral da 10 humano, ea sua obra representa a primeira hi ssquieu quer representar 0 Estad entendimentos nada geograticos. fenderam de modo algum ree exercem sobre incesa, sod As suas consideragdes sobre ‘me, uma idée générale: “se € verdade’ 26 Em seguida afirma, sem muita demonstrago, que 0: ‘cem uma agéo depressora e 0s frios uma acto f que nos primeiros as mulheres se encontram em um ‘mens Sie menos corajosos, o povo é mais facilmente ¢ climas frios ocorre 0 contrario; ¢ isto ele afirma tendo >smpletas, entre as quais recolhemos frases como est idade de um moscovita seria necessério arrancar sua pele”. Ele atribui © pouco progresso das legislag6es orientais & indoléneia produzida pelo cl ma ¢ as escassas necessidades a brandura daquelas populagoes que, sempre por efeito do clima, tomam bebidas excitantes; e, do mesmo modo, explica a proibicao do vinho imposta por Maomé. A mais importante entre todas estas consideragdes ¢ a constatardo, renovada mais tarde com maior pro- fundidade por H. Th. Buckle, de que nos paises quentes medra o despotis- mo e nos paises yerdade; desse conceito, Montesquieu fundamento natural da escravidao nas resides tropicais. O: ‘08 ao solo comeram pela fertilidade, que & 0 que des da planicie daquelas da montanha. Os povos insulares esti, para ipo e a de Ritter ou do prdpr de, Pode-se dizer que, ire naturelle de I’homme (1748), de Buffon, pretende ser uma traente e impres: pertara antes. Mas esté reple- ta de dados err6neos e absolutamente fantésticos, que se devem em parte 40 uso de fontes ji entao superadas. Esta obra se tornou, por sua vez, uma fonte importante, eisto vale, infelizmente, também para Kant, a quem néo se pode poupar a eritica de Georg Forster, no prefacio & sua Reise um die Welt, dirgida aos filésofos daquele século que, apoiando-se em trechos ex- traidos dos escritores de viagem e ar! +08 ou alterados, chegaram a const §9. Kant, Reinhold Forster, Pallas e Zimmermann — Katit sofre a in- fluéncia do mau material ¢ das apressadas conclusdes de Buff 37 ‘mente nas suas lies de Geografia fisic,¢ creio que, de fato, como destaca Unold’, o primeiro impulso a criticar a obra de Buffon tenha En ssaios sobre a histéria da humanidade, de H. Home (Lord Kaimes)’. Esta obra aparece ein cde Kant, Von den verschiedenen Rassen des Mens- chen, que foi sua primeira tentativa nesse campo, é de 1775. Nesta obra Kant decididamente a teoria das répidas'e acidentais trans considera o homem como pertencente ‘todos os elimas, mas que em cada um de adaptacio, que por sua vez pro: ss¢ processo de formagdo, a caus verda- ios; concepso aprofundada ca Kant numa posie&o intermedi idade das espécies humanas, em cada raga uma criagio conceito de Kant de que qualquer ie casual, pressupe um processo de mado por C. E. von Baer er jana. Outro conceito fundamental snero humano com toda forma de loqiiente em Herder, que jé tinha geografia do mestre, de A antropologia de Kant tem mui- Nao 6 porque ambas foram des- até mesmo a0 de Kant, 0 da criagdo, encontrou-seu defensor.mais rernados —, mas por presente apenas uma parte Em 1777, R. Forster publi mentos de geogratia fisica, de ddas na sua viagem ao redor do mundo. A parte relativa ao género humano ‘com base em arg ® UsouD, J Die ehnographischen und anthropogecgraphiscen Anscnaungen be J. Kent und J. Rein Fi i 1886. p18 ve Aqua época propre “Anthropotoge, (798, Pr iqueza de pontos de vista, e a isso acrescenta ague- Ja modéstia pessoal que brota do inti dos fenémenos. Como parecem mesquinhos e descoloridos os conceitos de um Buffon, de um Kant, de wm Rousseau, ou do proprio Herder em torno da humanidade em comparagdo aos de Forster que, pela primeira vez, as fantésticas teorias da répida transformagao dos povos por obra do clinia opde micia de que nossa vida é muito breve, nosso conhecimento sobre ‘as migrapoes dos povos muito incompleio, nossas observagdes fisicas hd muito las para que sejalicito chegar a conclusdes seguras! Em R, Forster encontramos os germes dle uma concepeto verdadeiramente an- fica, segundo a qual 0s povos sao considerados como massas em movimento, de modo que nas suas atuais co ,sejam lisicas ou de civilizagio, nao podemos pretender distinguir com seguranca, exatamente porque elas sao moveis, as influéncias do ambiente atual, Tanto no que se relere as ragas como aos povos, Forster atribui aos deslocamentos e aos in- erementos ¢ diminuig6es numéricas uma importéncia como nenhuum outro antes dele; seus pontos de vista acerca da origem dos povos de cor escura 0s de cor clara da Oceania e acerca de suas diferencas de civilizacao sero sempre dignos de apreciacao"®. Esta obra preparava assim o terreno para ‘0 surgimento de uma verdadeira ci as relagOes entre a natureza as Anotacdes filasdficas, roceddeu muito aquém do ponto ilo soube utilizar plena- mente 0 impulso dado por Forster; nao fosse assim, teriamos ja de ha muito ‘tempo, em lugar de dissertagdes escolésticas que repetem sempre somente es- 3s, uma “antropogcografia met completo da que 0 solo exerce sobre os movime: dese deplorar ila que o proprio Reinhold Forster nao tenha fe ‘mesmo uma exposigao clara das suas idéias, tao justas, acerca da fungdo 39 anteopogeogréfica das ilhas, dos relevos terrestres etc. Mesmo Kant ¢ Herder, ‘nao obstante os louvores que tributaram a Forster, nfo souberam dar um de- senvolvimento posterior as suas idéias;e talvez 0 resultado mais duradouro da obra de Forster tena sido 0 de sificagio das ragas humanas uma quinta raga, a malaio-p ‘Sorte andloga tiveram as informacdes etnograficas r ¢ compreendidas especialmente em duas grandes obras: jedenen Provinzen des russschen Reiches (1771) Bemerkungen auf einer Reise in de stidlichen Stadhalterschafien des russischen Reiches (1796 ¢ 1805) e também nos Nordische Beitrdge (a par Aaguilo que Rudolphi, bidgrato de Palla, diz de suas descrigdes zoolégicas vale também para as eioldgicas: “Ble dexa de lado tudo que € supériluo, abandona totalmente as coisas estranhas e &exato sem ser Pi ‘Com 05 escritos de Pallas tem inicio a longa série das descrigdes e dos relatos dos viajantes, cujo contetido antropogeografico e etnogrfico os cienistas den- to de sua propria casa ja ndo esiavam em condigdes ce elaborar. Os simples observadores se sobrepdem agora aos ‘textos filoséficos”, mas © material que homens como Lichtenstein, Burckhardt, Von Wied, Pappig e muitos outros trazem & patria permanece ainda inutilizado. E quando se tabetha sobre ele isto se reduz basicamente a dar-Ihe um novo erdenamento, sem penetré-lo profundamente e sem utilizé-lo para deduzir dele os pontos de Vista gerais acerca da geografia do homem. Assim o fizeram Kari Ritter em relagdo & Africa e Asia, Meinecke em relacdo & Australia e Oceania, © nfo {oj além a Antropologie der Naturvéiker de Waitz-Gerland que apareze mais tarde. E, A. W. Zitimermann, entdo professor do “Colégio Carolingio” de Braunschuieg, tentou apresentar nos anos 1778-83, na sua Gesc ‘Menschen und der allgemein verbreiteen vierfissigen Tiere (. dquema das influéncias que as condices naturais exercem sobre o fisico hu- mano; mas incorreu em um err0 fundamental, atribuindo ao organismo hu- ‘mano uma plasticidade tal, a ponto de subordinar a cor ao calor solar, a por diante, ese propondo a demonstrar essa e. De qualquer modo, na obra de Zimmermann 0 argu- fo com uma amplitude que ndo se encontra em baixa estatura a0 frio, e ass tese minuciosame mento é desenvoh nade consierado noo rasas “anoes do erie” lapses, esgu 40 ta era uma base sobre a qual o autor poderia ter construido mais, mas no iro volume da obra séo dedicadas ao homem 98 paginas incluida também uma parte onde € discutida a descendénci humana do macaco. Uma outra seed importante sob o aspecto antropo- geografico encontra-se depois no terceiro volume sob o titulo “Versuch ei ner Anwendung det Zoologie auf die Geschichte des Menschen” (p. 250-62), ‘onde Zimmermann se propde a demonstrat a influéncia que os animais do- mésticos exerceram sobre a histdria humana. A abordagem é por demais afo- ristica para poder conduzir a conclusdes seguras; contudo, encontram-se ai §10. Herder — J. G. Herder tem um papel importante na geogtafia do homem por ter passado das consideracdes particulares sobre-os povos ‘ considerago geral sobre a humanidade, das observagdes incidentais a uma abordagem completa, de uma historia universal fragmentaria a verdadeira propria historia da lhumanidade. Da dependéncia do homem e de suia his- (Oria das condigdes naturais, Herder tratou, se nao com maior profundida- Movido sem diivida mais por um pressentimento do que por uma consciente, ele indagou e escreveu, com base no conceito fundamental de gue para compreender a humanidade € nevessério estudé-la em relagdo com a Terra, no porque esta sofra caso por caso a influéncia das inumerdiveis ‘condigdes naturais, mas sim porque constitui parte importante desta Terra, sobre a qual ¢ com a qual foi criada. Partindo desta grande concepeao unitdria Herder vai muito além das consideragdes de cardter mais incidental feitas por seus predevessores, E de seus seguidores, nenhum, nem mesmo Karl Ritter, atinge aquela altura da ‘qual Herder péde considerar a Terra como astro entre os astros, estudar 2 sua posigao ea sua elevagio dentro do sistema planetério e observar as trans- formagdes dos relevos ¢ dos mares, onde tiveram origem os continentes as regides terrestres, Herder realiza esse estudo ndo para fazer dele uma in- trodugdo ciemtifica a uma obra histérico- ‘mas para nos oferecer ‘uma descric&o da Terra tal qual ele a considera, isto é, como uma grande inada a organizaeio dos seres mais diversos, entre 0s quais o ho- mem (em o seu lugar predeterminado. Essa organizacao s6 pode se realizar sobre 0 s aqui como algo além do simples solo la humanidade, e também como algo racdo para 0 dela toda a nal & quantidade dos novos conceitos por ele enunciados. Ao contrério, lo. a go moveu-se contra ele a acusagdo de ter engrossado com seu livro 0 nime- ro de textos superficiais, ta de uma energia pertinaz,esfoream-se por se ele- dal Nao se pode dizer de fato que a filosofia especulativa, a cujos discipulos se refere aqui, tenha se aproximado das idéias de Herder, que tiveram mais fécil acothida na Geografia comparada de Karl Ritter. Estas, no entanto, ‘em parte por esta via, em parte por influéncia conseguiram chamar a atencdo dos historiadores para a importdncia que o teatro dos aé Imentos assume perante a histéria; e, ‘que visam As grandes concepedes hi de Herder. Mas, para chegar 20 conhecimento da histéria da Herder nao indicou 0 caminho correto. Fle falou de humar considerou os povos como parte desta; tratou a humanidade e os povos mais, ta do que como cientista, Nao ha diivida de que poder pensar 0 izado como uma pl a0 crer que o segredo deste fendmeno uni rar mo, do mesmo modo que a uma plant sal seja algo que se possa agar ha i a reforgar esta tendéncia, como al lade com que podem ser rompidas s perveber aqui o germe do "'Volkergedanken”” dos etndlogos contempo- §11. O ambiente fisico — O fato de se perceber em toda a ev do conesito de ambiente fisico uma certa aversao em seguir 0 método ai -0 deve-se também, em part so pois de Herder as velhs idtas acerca da dependéncia da vida dos relagdo &s condigdes naturais tiveram um duplo desenvolvim: lo, reaparece sob novas formas filosoficas aguilo que jé tinha ido outras vezes, mas se esté ainda, s a senvolvimento deste primeito direcionamento. Por outro lado, foram apro- fundados os numerosos problemas geozraticos que se referem a esse argtt ‘mento e se chegou, finalmente, a uma abordagem pretensamente cientifica dos antigos problemas direcionada em bases geogrificas. O estudo do qual nos ocupamos encontrou pat 40 por obra dos fildsofos ps is francéses, Na verdade estes n20 r Zaram aqui nenhum progresso substancial, mas contribuiram muito para sua difuso, Pensadores que sofreram a influéncia desta escola, como Taine, Buckle, Spencer, ajudaram a fazer com que aqueles conceitos ndo permane- n apenas como uma luz reservada a alguns intelectos superiores, mas jundissem num circulo de pessoas muito mais amplo e encontrassem tural — onde por cerea de meio século, embor teoria da evoluedo dos organismo: 10 — que por uma extraordindria aproximagdo estes conceitos se de- ram € deram abundantes frutos. mmhecimento que possufa do mundo orgénico, a simples teoria da plasticidade dos de deviraqi que chamamos hoje de adaptagdo, fazencdlo deste um de seus conceitos fun- damentais. Segundo Lamarck as grandes mudaneas que se verificam nas con- nas produzem grandes alteracdes nas necessidades dos organis- i correspondem por sua vez alteragdes nas agOes da vida. Se as am permanentes, os organismos assumem novos 1m novas ages que se tornam habituais, produzindo a for- magi de novos drgios ¢ o seu revigoramento, enquanto velhos organismos se atrofiam e se desmembram. Com as modificagdes da habitagao, da posi- a fica, do clima, do al dos hidbitos de vida, vemos do mes- 105, de sua forma, da pro- dade etc. Lamar riliew de Lamarck & um conceito totalmente diverso da- guele de ambiente natural de Buffon; mas aqueles que adotaram esse conk to nao se deram conta disso. A aplicacdo feta por Comte da milieu de La- ‘marck, tal como ele enuncia nas primeiras paginas da sua Philosophie zoolo- cdo dos povos ¢ & histéria ta humanidade ¢ meramente superti- ‘como nem sequer chegou ‘que possa estar ligado ao homem. Por: ‘mo 0 mnliew de Comte pode ser considerado no sent Mais do que isto, Comte jé falava de um n para que se pudes separagdo e de analis. de Comte e Tai- ne nao é sendo a teoria da infludneia que exercem sobre o individuo aque cas da posiglo peografica, fisicoe intelectual de cada organi de uma observagao jé is, so the heart of man O fato de Comte e seus sepuid na influéncia do clima e da aliment teor ser traduzido em uma expressio geogrifica ainda mais restrta: cles dist guem apenas a influéncias do ambiente que tém origem na posicao do ria que Byron coneretizou na frase: “As the soil terem pensado quase exclusivamente lum povo em relago aos outros, das relagdes geogriicas de vizinhanga nas foge a cles assim como 0 outro no to dbvio da ia exercida pelas relacdes de espaco. Embora todos os seguidores de ienham tido em grande conta a maxima do Mestre: ugente et la plus générale de la vie des soci cles nao atribuiram a0 solo, nem por este motivo nem por outros a mais sérios, a importancia que lhe é devida, Lendo a frase com a qual Taine inicia suas consideragties acerca do miiew'*: “o homem no esta s6 sobre a Tetra; a natureza 0 envolve ¢ os outros homens 0 citcundam””, ndo se espera tia, decerto, uma conclusio como a seguinte: “Histoire de tnérture anglaise, Prac, p. XVI. slam a navegagao e ao comércio € nfo sendo i sncias do estdmago, sen fram, neles a cidneda, das Por oui aresso da hu na da concepedo geogréfica do pro- influem sobre esse pro: jdade de chegar a uma abordagem ci mmte também negou, com aquel imanidade é um organismo qu recer. Mas € na abordagem que Comte lizacdo humana que, melhor do que em quel se manifestam de forma mais patente 0s erros em que in- ram. Para eles ndo sfo as condigdes externas do progresso que tem im- cia, mas a sucessio dos estagios através dos quais 0s povos caminham imentos superiores. Mas a representaca destes es- Entre os conceitos que Comte expressou, ¢ até certo ponto estabelecen, sem contudo conferir a eles uma verdadeira também aquele que considera os povos, ¢ inclusive a ganismos. Comt nidade, como or ha um alto apreyo pelo alcance deste conceita; por isso ‘que nem ele nem seus seguidores tenham jamais vis- lumbrado a necessidade, que se tornava desse modo evidente, de descer 20 estudo do solo no qual este organismo se abriga, criando assim 0 fundamento Diogeogrifico da sua teoria; 0 que atesta que estes no conseguiram nem mesmo descobrir as vias que podetiam condluzilos a campos de indagagdo mais De Gi sua Introduction @ la sociologie", fez da estéril teoria do ‘miliew uma particular introdugdo a soci dando-Ihe © nome de me- ise. 45 sologia. Mas se enganaria quem acreditasse que esta separagio do argumento daria como fruto pelo menos, como seria de se esperar, uma andlise dos problemas “‘mesolégicos", Como seus predecessores, também De Grief de mo- «do algum buseou demonstrar, ainda que fosse num pequeno ponto, a sua teoria cdo milieu com base nos fendmenos reais. Sua mesologia nao é sendio uma ex- posigio das condigdes externas que influem no desenvolvimento da histéria humana. Os préprios exemplos que ele cita para demonstrar estas influéncias io s8o sendo paralelos antiquados e superticiais entre os fenémenos geogrd- ficos ¢ os fendmenos histéricos. ar de representar de modo evidente a caracteristica desta abor- dagem, cujo argumento se recusa a penetrat a fundo e que por isso per que interessam a sociedade humana, uma categori ial, a dos fatores geomeétricos de buscar clasificagoes e categorins, ‘um conceito complexo como o que se segu inorganique et méme organique autre que celle ainda pior que entender 9 conceito de ‘Uma prova da escassa influéncia que os seguidores de Comte exerceram sobre a etnografia ¢ especialmente sobre aquilo que é a sua aplicagao prit portante — 0 juizo acerca do valor intrinseco dos povos — encont se no livro bastante difundido e exageradamente apreciado de Gobineau, As diferencas enire as raras humanas (1853), onde o autor pretende entrar em. ‘campo contra uma mania igualitarista que cheirava a filantropia insipida, a bui as pequenas e grandes diferen ierraineo, S40 argumentos que ele cconfere ao territério o seu val econdmico, moral e . Teorias andlogas foram sustentadas durante ‘0 movimento antiescravista da América do Norte, mas sem que com isto 0 problema progredisse de alguma forma. Pretender, como fazem os positivsias e outros filbsofos da histéria, en- quaar hstdria da antropogeografia dentro de um esquema exon a hi "Tid pa, © conccito de ‘*hierarquia das cincias”, ou seja, da necesséria sucessi- videde da sua formacio, sempre repetido entre os positivistas, e do qual eles deduzem que 0 método histérico ndo pdde nascer antes que se completasse a formagdo de todas as citncias as quais a sociologia recorreu, nao corres- onde absolutamente a verdade. A partir do séeulo XVI os mapas do Medi- ‘errdineo e do Baltico jé sio bastante bons para permitir que sobre eles se es: tabelega um confronto entre as infludncias que esses dois mares periféricos exerceram sobre a histria dos scus povos. Assim como também ja sao bas por outro lado a urna lei mui ‘O contorno geral de uma ci definem sempre antes que suas aplicacbes particulares aos casos singulares”, 3 filésofos da histéria, que também afirmaram a influéncia das condigdes externas, manifestaram maior interesse por outras questdes, como 0 progres- so da humanidade, 0 berco da civil ‘Além do mitiew, Comte reconhece a existéncia de uma outra forca se- cundaria, que: bre o progresso humano favorecendo-o ou obstacula- rizando-o, que é a concorréncia social, produzida pelo aumento da densida- de da populacdo, da consegiiente necessidade maior de alimentos, da mais minuciosa divisdo do trabalho ¢ da maior extensio da cooperacao. Ele po- deria muito bem ter compreendido esta forea no conceito de milieu, na me- ddida em que esta se refere a um elemento essencial do ambiente, 20 espaco, ou seja, & amplitude do territério. Trata-se, portanto, de uma das mais im- portantes conseqiiéncias das relagdes entre a humanidade e o solo, & qual Se poderia dar certamente um destaque maior, mas nao separar do milieu. Deste modo, 0 velho problema teria sido levado aquele terreno no qual uni- camente podcria se desenvolver cientificamente, §12. Karl Ritter — “Como disciplina historica, a geografia até hoje do passou de uma mistura variada, sem qualquer let in ob 0 peso Que a ecobrem,aguardsopolimenio que deve transforma das grandes questdes até entdo reservadas iter tem 0 mérito de haver reforgado o laco insolivel que reconhecendo a importancia geografica dos pro- constituem 0 terreno comum as duas ciéncias, ¢ abrindo assim imo campo de estudo & geogratia. a7 distingdo ent le que € 0 elemento histarico (necess Acres- de i$ 0S espacos terrestres, considerados como ‘“habitagdo do género nao permaneceram imutéveis, especialmente porque o homem, liante novos mei 3 ide as condicdes dadas, A grande influéncia que es no a sua novidade, pois el Os mesmos fermos |, mas ao fato de t lo formulados a ta geogrifico. O gedgrafo nao s6 estava mais prepara. do para estudar as co » que NO caso eram 0 seu argumento, do que 0 fildsofo ou o hi lagar suas influéncias hist como também deveria estabelecer a medida, o contorno e a determinagio daqueles fendmenos, com o que ficava assegurada a abordagem positiva de uma parte do dificil problema. E, especialmente na segunda metade do sé- onto de Tio ma Asalemia em 1893, Edtadona Einfetun zur Allemenen vergleichenden Geodra: 43 culo XIX, o novo florescimento da cartogratia historica, fundada por Orte- lius, a aplicagao mais direta da cartografia a etnografia ¢ a estatistica, a ten- déncia estimulada em toclos os paises a buscar as cifras mais exatas quanto possivel da populago, a maior consideracdo da antropogeografia, da etno- ‘tafia e da geografia historica as retardes de espaco e de posigdo, represen: tam jé 0 fruto do exame mais atento do elemento histérico. ( pensamento de Ritter acerca da importancia do solo em relacdo & histéria contém muitos conceitos “‘mecdnicos’”, que nao recebem, contudo, ‘em nenhum aspecto, uma abordagem clara. Para perceber a simples relagao ‘que se da entre a superficie estvel da Terra ea humanidade em transforma- a0 sobre ela, Karl Ritter deveria ter abandonado a concepsao teleolégica, a partir da qual ele considera os processos histdricos como partes preorde~ nadas de um grande plano de educagio da humanidade. A teleologia ndo 6 teria impedido por si s6 de chegar & clara compreenséo das simples rela~ ‘coes que se interpdem entre comunidad e solo, c de estudé-las em cada um. Ge seuis minimos aspectos, Mas ela obstruiu em Ritter a acuidade do instra- nento lésico, inspirando nele uma incompreensivel aversao a tratar 0s pro- bblemas antropogeograficos do ponto de vista puramente mevanico. Nele a concepcdo releologica ao invés de permanecer em suspensio, como mera con- iced, acima dos fendmenos singulares, chega ao ponto de estabelecer com cada um destes uma intima ligagdos dai a investigacdo se deter diante do fa- to patticular numa inanigo espantosa, Assim, ele se contentou em saber que ‘rica historia do povo de Israel se desenvolveu sobre um territ6rio bastante estreito, situado em uma zona de facil comunieagéo; mas nio se preocupou ‘em investigar como as condigdes fisicas influiram particularmente sobre es- sa histéria, embora tenha descrito a regio nos minimos detalhes. Em ov: tras palavras, a Geografia comparada de Ritter se desvia da tarefa granclio- sa & qual ele pretendia destiné-la, jitter contribuiu notavelmente para a elevagao da ciéncia geogréfica favés da obra que ocupou toda a sua vida, a classica Erdkunde tm Verkalt- site des Menschen, cujo titulo indica 0 alto props: ‘a uma grande quantidade de mate- rials que o autor deveria ali pela prime! ere ordenar, aquele pro- ppésito é mantido apenas como idéia fundamental e nao Ihe foi possivel che- ‘Bar, caso por caso, & sua realizagdo. Alguns de seus grandes disefpulos tendo a frente E. Kapp, cuja Philosophische Erdkunde'” apresenta, em rnbas gerais, uima ampla exposig&o das influéncias que as condices naturais exercem sobre a histéria, realizada com alguma profundidade e a partir de lum ponto de vista filosético muito elevado — compreenderam plenamente ‘ovvalor, a importéncia do conceito fundamental do mestre, fizeram também. por veres aplicagoes parciais deste, mas sobretudo nao deixaram jamais de proclamar a influéncia vivificadora que este exercia sobre a matéria ina- igi de 1868 sob 0 titulo de Algemene vrsechende Erdkunde, Viadana ee 49 ada ¢ inerte da geografia. Mas & singular como os esforcos destes per- ianeceram isolados, e como fizeram avancar pouco e lentanente a eiéncia eogrdfica no seu conjunto. A escola de Ritter progrediu, vivificando o arido material de estudo ede ensino da geografia que se limitava a nomes e cifras, Mas ainda muito tempo depois da morte do mestre, a prépria geografia ndo tinha dado wm impulso substancial ao grande problema das relagoes entre o hamem e a na- tureza. Nada pode ser mais valioso para caracterizar este periodo de estag- nagGo cientifica que os geniais artigos nos quais O. Peschel analisou critica- mente em Ausland, a partir de 1859, as chamadas Rittersche Ideen para de- ‘monstrar que a tentativa de investigar as leis da influéncia exercida pelas con- digdes nacurais sobre o homem e sobre os povos feita por Karl Ritter na sua ‘omparada tinha fracassado. Na verdade, o proprio Peschel ten- contrariando a opiniao ali enunciada, passar a conclusdes de ca- rater antropogeografico na sua Volkerkunde (1875), Contudo, sua critica demonstra como as opinides e as intengdes de Ritter foram pouco compreen- is naquela 6poea, Assim, a uma certa altura, O. Peschel critica Ritter por ter dado gran- de importancia & determinagdo do recorte das costas nao 20 e demonstrar como gvolugdo dos habitantes ea menor articule- culagdo da terra firme favorece ‘fo influi em sentido contrxio Isto significa que, segundo Pesce, Ritter deveria ter tratado este argumen- to do ponto de vista da cigncia natural e ndo no sentido geografico como cleo entendia, ou seja, deveria ter se proposto uma tarefa que é de comumm auribuigdo da geologia e da geografiafisica, e néo uma tarefa de caréter histérico-geografico, A critica injusta deriva de uma concep¢ao muito res- trita da geografia e, no fundo, revela também que ela € movida por uma idade de separar aquilo que no estudo da influéncia ida pelo ambiente fisico sobre a histéria pode ser assumido com valor ecogra descobrir tos onde quer que se" (Ora, exatamente nisto Ritter se aproximou mais da verdacle do que Pes- chel: pode-se dizer apenas que ele mais intuiu do que efetivamente desco- BT Abonlngen, tp. 396 et ses 50 mistura cheia de equ ria com que se tornasse soa, naquela época em que a geografia era estudada 2% 90 de reflexdo, se dedicasse a0 na sua obra La Terre se encontrava diante destes impulsos que vinham nente diversas daquelas da historia. Ao de- sham desenvolvide os vex, se do permanecerd sempre, ja que essa tarefa pressupde 0 conbecimento seg ro tanto do elemento como do el mano, enquanto os da- dos mais importantes da pesquisa se perdem em um passado vol, © por outro lado as influéncias da natureza penetram até nos mais -mos recessos, sejam mat e Jovem, como a geograt sar receio. Por outro lado, quantas; jmediata estavam ainda por serem feitas! O proprio Kar po para nos oferecer uma precisa e completa aplicacao dos seus conceitos, ‘enem mesma para nos indicar particularmente o caminho para chegar a eles. Desse modo se explica como a p ‘clo da geografia e da histéria riadores do que entre os geograt im levar a obras de carder predominantemente ar canismos adotados resultaram, dada a sua natureza, de mais fe que Grote ja. Considerando devidamente a arte sin- ide de sua observacao ao rude elem sto iancia entre Grote e Cur icar aqui. Quem queira sranga de Ritter observe is pode aprender do mestre ¢ encontraré ‘A bela introducdo geografica & Ge ira obra historica al ‘compreender ‘quanto um di 51 4 na sua Universalgeschichte este genial historiador tivesse recordado com profundo respeito a geografia de Ritter ¢ dela tivesse feito amplo uso. Mas no campo geogrdfico 0 que ocorre é bem diverso. Aqui as de Ritter definiram as tarefas cuja execugdo precisa talvez permaneca para sempre imposstvel, Apenas um cientista as enfrentou de modo sistematico & completo, Emnst Kapp, na sua Philosophische Erdkunde (1845), enquanto ou- {ros produziram bons estudos particulares, como J. G, Kohl, na obra Der Ver- Kehr und die Ansiedelungen der Menschen in ihrer Abhangigkeit von der Ges- ‘altung der Erdoberfliche, madura ¢ densa de idéias (1841), Arnold Guyot nos seus Principios de geografia fisica comparada em relacdo a histéi homem, riegk nos seus escritos de geografia 840), ¢ alguns outros po: te Mas isto € pouco em comparaco ao impeio com que o elemento geo- grafico vem se afitmando entre as obras histOricas, que a partir desse mo- a introducdo ou mediaedes icas, € menos ainda em comparacdo & renovardo que se cias naturais associadas & geografia (A. v, Hum- cntendida conforme o antigo conceito de D’Anville”. Mas também por parte dos historiadores ngo foi poupada a Ritter a sorte de ser erroneamente compreendido. E verdadeirames um cientista como E. bilidade depois de Element in tado, Ueber das his er afitmado com tar das condigoes natu: nua gradativamente a medida que ele progride, enquanto permane: ‘el apenas para o homem primitivo. Na verdade, julgamos esse conceito di cutivel ea ele retornaremos. Contudo, declaram hd, em toda a Geografia de Ri tre o homem ea natureza que sar de que seria desejével que hoje alguns daqueles prin sentados de outro modo: objecao esta que tem origem ape qual se nos apresentam algumas afirmacoes de Ritt dancia de palavras em que se percebe muito de eque éao ‘mesmo tempo, em consequéncia da firme convieeio do autor, mais preten- siosa, 0 que nao favorece absolutamente a clareza da abordagem, ‘Na verdade, a época de Ritter pecou muitas vezes por uma certa pre- sungdo verbal; além disso, teve especial simpatia por aquelas construgdes cientificas que avancavam tanto até o limite da obscuridade, Mas estas so plas quais inc (Geographics

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