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2ano7n AAlgumas consideragdes acerca da Iberdade e da desigualdade em Jean Jacques Rousseau Webartigos.com - Publicagao de artigos e monografias, Titulo: Agumas consideragées acerca da liberdade e da desigualdade em Jean Jacques Rousseau Autor(a): Luciane Farias Pantoja Endereco da publicacdo: http:iwmw.webartigos. com/artigos/algumas-consideracoes-acerca-da-liberdade-e-da- desigualdade-em-jean-jacques-rousseau/58670/ Filosofia Algumas considerag6es acerca da liberdade e da desigualdade em Jean Jacques Rousseau TEMA: ALGUMAS CONSIDERAGOES ACERCA DA LIBERDADE E DA IGUALDADE DO HOMEM EM JEAN JACQUES ROUSSEAU. LUCIANE FARIAS PANTOJA Capitulo |: NOGAO DE ESTADO DE NATUREZA © pensamento de Rousseau é perpassado por uma antitese fundamental: a antitese entre a natureza “original” do homem e sua corrupgao da sociedade social. De forma similar, a liberdade do verdadeiro ser humano, que se encontra contrastada com sua atual escravidao. A expressao antitética da argumentagao de Rousseau fica reforgada, posteriormente, por sua determinagao de contrastar a decadéncia contemporanea com a nobre virlude das antigas repiiblicas e de seus herdis, assim como com a “natureza", que o homem abandonou com conseqiéncias {40 desastrosas para ele ao cair na escravidao do estado social Mesmo que os termos "natureza” e "natural" desempenhem claramente um papel importante no conjunto do pensamento de Rousseau, Sua fungao primordial no Contrato Social é senir de principio critico que determina a gravidade da situagao imediata do homem, A natureza € o que o homem nao é, ou seja, 0 que deveria ser, enquanto tal, 6 o homem em sua esséncia pura, que tem um significado fundamental como meio de fazer com que tome consciéncia de todas as implicagdes de sua corrupedo no estado social Neste contexto, Rousseau considera que a idéia de uma natureza original do homem é insepardvel da andlise dos processos responsdveis por sua perversdo, E impossivel delimitar os tragos auténticos da existéncia humana sem indicar, em primeiro lugar, as principais etapas de sua queda na desgraca e na corrupeao, Em qualquer caso, Rousseau esclarece, no comego de seu Discurso da Desigualdade, que nao esté interessado na histéria factual, mas em construir uma hipétese sobre o que deveria ter ocorrido com os homens desde o estado de natureza até o estado social ‘Seu propésito é esclarecer a natureza original do homem mais do que as circunstancias reais de seu desenvolvimento. Nao esta interessado nos fatos enquanto tais, mas na necessidade de distinguir os elementos originais @ artificiais do ser humano, para tentar esbogar os elementos constitutivos da verdadeira natureza humana, E necessério, portanto, ultrapassar os limites das disciplinas intelectuais particulares examinar os elementos, fundamentals da existéncia humana, Para compreender a natureza humana é importante considerar o desenvohimento histérico do homem, é preciso remontar a suas origens no tempo. Mesmo que estas origens nao revelem seu ser em sua totalidade, elas expressam a pureza e a simplicidade dos sentimentos primordiais que ainda nao tinham sido corrompidos pela sociedade. A idéia do estado de natureza 6, assim, um simples ponto de partida para a consideragao de um problema mais amplo. Neste sentido, Rousseau admite que esta descrevendo um estado que j4 ndo existe, que talvez nunca tenha existido, e que, provavelmente, nunca existiré, mas que pode senir como um instrumento para julgar nossa condi¢ao presente, desentranhando o que & original e webarigos.com/artigos..print 18 2ano7n ‘Algumas consideragdes acerca dalbordadee da desiualdade om Jean Jacques Rousseau artificial na natureza atual do homem Rousseau atribui as confusées floséficas de outros filésofos, em épocas anteriores, as concepgées erradas, sobre a natureza do homem e sua relagao com o direito natural. Para resolver este problema, € preciso abandonar os tratados cientificos e refletir sobre as primeiras e mais simples expressées da alma humana, ‘como Rousseau fez quando pela primeira vez refletiu sobre as questdes que iria desenvolver no Discurso da Desigualdade nos bosques de Saint-Germain . Sua intengao era buscar a imagem dos primeiros tempos dos quais orgulhosamente tragou a histéria fazendo tabula rasa das pequenas mentiras dos homens, mostrando- nos o sentido da natureza e comparando 0 homem ? produto do homem ? com o homem natural . A natureza ¢ a natureza do homem so, no entanto, conceitos muito mais fundamentais do que o estado de natureza; @ a exposigao pseudo-histérica da evolucao do homem, desde as condigdes primitivas & sua existéncia no mundo social, so principios normativos e criticos que permitem distinguir entre o aspecto original ¢ o ndo essencial do ser humano. A natureza nao pode ter um significado exclusivamente historico, jd que a historia representa pouco mais do que a decadéncia e a queda da existéncia humana do estado de inocéncia & escravidao e a corrupgao. A idéia do estado de natureza foi estudada por muitos pensadores anteriores a Rousseau, e muito especialmente pelos pensadores do Direito Natural, como Grocio e Pufendorf. Embora alguns predecessores tenham atribuido a esta nogo um status histérico, nos tempos de Rousseau, sua fungao hipotética era de aceitagao geral, Seu objetivo principal era esclarecer a natureza do homem antes de sua entrada na vida social. Suas implicagdes para a compreensao da condigao humana eram mais importantes do que 0 significado histérico do conceito. Apesar de Rousseau nao ignorar 0 enfoque historico, diferia de seus predecessores numa questao importante: eles consideraram e atribuiram ao homem primitivo muitas caracteristicas essenciais do homem social, enquanto Rousseau ressaltou a concepgao do homem como um ser que adquire novas faculdades & capacidades no curso de seu desenvolvimento. Enquanto Grotius e Pufendort, por exemplo, tinham considerado o homem primitivo como um ser essencialmente racional e social (concepgao aceita por outro pensador como Locke: o homem guiado pela razao é o homem em sociedade e ndo o homem natural), Rousseau tratava o estado de natureza como um simples ponto de partida, como 0 estado no qual o homem possuia algumas qualidades que o diferenciavam dos animais, mas era uma criatura puramente instintiva, e carente de atributos morais e intelectuais, Hobbes tinha uma posi¢ao similar, pois também havia insistido no fato de que a natureza do homem era basicamente agressiva e egoista e que nao se modificava radicalmente pela sociedade, mas que simplesmente estava controlada pela forga das leis, ou seja, os homens se faziam morais pelas pressdes as quais estavam submetidos para seu proprio bem, da mesma forma como se incorporavam a uma associagao social. Neste sentido, Rousseau acreditava na capacidade do homem de evoluir e de se aperfeigoar. Nesta etapa primitiva da existéncia humana, portanto, a natureza representa pouco mais do que os instintos primérios fisicos e psicolégics, isto 6, na concepgao de Rousseau, a disposigéo primitiva necesséria para a sobrevivéncia, pois 0 homem selvagem nao tem necessidades intelectuais ou morais, é uma oriatura de instinto adaptavel, fisicamente forte e dotado de uma sensibilidade que permite viver em harmonia com seu meio. Neste caso, Rousseau concorda com Hobbes que retira do homem primitivo o sentido moral e a sociabilidade que ihe atribui a Escola do Direito Natural, negando, no entanto, que a condi¢éio do homem no estado de natureza seja a de um individuo “naturalmente fraco", perverso ou beligerante, Pelo contratio, no estado de natureza, ele é pacifico e leva uma existéncia isolada e independente, sem entrar em conflito sério com outros homens. © homem primitive esté dominado por instintos fundamentals: 0 primeiro é 0 instinto basico de autopreservagao, que o toma facilmente satisfeito num entomo fisico favordvel 4 sobrevivéncia; simultaneamente, o sentimento de piedade consiste numa aversdo esponténea ao softimento que Ihe impede de ser desenfreadamente agressivo com os demais. Embora nao seja uma condigao de vida ideal para o homem, Rousseau considera que o estado de natureza tinha uma grande vantagem sobre a condigao do homiem social, pois the permitia gozar de uma felicidade totalmente desconhecida para as geragdes posteriores. A razao principal para que isso ocorresse era a capacidade de o homem primitive identificar-se sem esforgo com a sua verdadeira natureza, Podia viver em si mesmo, enquanto 0 homem social tem que estar constantemente fora de si. Criatura do instinto, estava em paz consigo mesmo, porque era fiel A sua propria natureza. Sua alma que nada altera, abandona-se ao tinico sentimento de sua existéncia atual, sem nenhuma idéia do futuro, por mais préximo que este seja webarigos.com/artigos.print 216 2ano7n ‘Algumas consideragdes acerca dalbordadee da desiualdade om Jean Jacques Rousseau E feliz porque néo sente 0 aguilhéo da curiosidade. Sua existéncia se caracteriza por uma unidade fundamental que the faz em grande medida auto-suficiente, O instinto permite a satisfagao desinibida © pacifica de seus desejos eo desfrute de sua existéncia imediata © homem social, pelo contrario, rege-se por necessidades artifciais que s6 podem ser satisfeitas com a ajuda de outras pessoas. Sua situagao é, portanto, de dependéncia, Seus sofimentos so agravados, nao 86 por depender dos outros, mas também porque se converte em vitima de seus préprios esforgos mal encaminhados em busca da satisfagao. Este processo foi iniciado pela primeira contemplagao de si mesmo, que ndo sé Ihe fez tomar consciéncia de si, enquanto ser diferenciado, mas também dos outros como distintos dele. Assim, na segunda parte do Discurso da Desigualdade, Rousseau tenta demonstrar como isso aconteceu. autor considera que o homem nao passou, assim, repentinamente, do estado de natureza a vida social; a sociedade politica & 0 resultado de um longo processo histérico. Sem divida, algum fendmeno fisico inesperado foi responsével pelo afastamento inicial da natureza, ja que Rousseau nao acredita que os homens abandonaram voluntariamente uma condigao que hes produzia tanta felicidade e paz. Por outro lado, embora tenha sido extera a causa da mudanga, esta teria sido insuficiente sem a ajuda de certas potencialidades presentes nos primeiros estdgios do homem desde o primeiro momento. Foram estas potencialidades que Ihe permitiram superar sua condi¢ao primitiva. A natureza, em sua forma mais rudimentar, representa um mundo estatico e circunscrito no qual todas as criaturas vivem de acordo com leis fisicas basicas e seguem as mesmas pautas de comportamento imodificaveis. Neste nivel, & dificil distinguir (© Ser humano e 0 animal, porque ambos estdo animados pelos apetites fisicos @ os sentidos, dominados pelas exigéncias do prazer e da dor. Desta forma, ha poucas possibilidades para o desenvolvimento e a mudanga stbita; 0 ser natural, seja este homem ou animal, alcanga rapidamente a maturidade e, a partir dai, segue o mesmo modelo de comportamento invariavel. No entanto, inclusive neste estagio primitivo, j4 existe uma diferenga importante entre o homem e o animal: embora o homem primitivo seja em aparéncia pouco mais do que uma criatura do instinto, desprovido de moral e reflexéo, possui certas capacidades viruais desconhecidas para o reino animal. No principio, 0 homem, no estado de natureza, era mais adaptavel do que os animais e, com frequéncia, era capaz de vencer as criaturas fisicamente mais fortes do que ele. Isto ocorre porque a natureza domina a todos os animais e as bestas obedecem, no entanto o homem sente a mesma exigéncia, mas é live para se ‘submeter ou para resistir, sua capacidade de querer ou de escolher ? a consciéncia de sua liberdade ? revela sua capacidade de eludir a sujeigao as forgas mecénicas © comportar-se como um agente live . Sem dinida, esta capacidade esté adormecida no estado de natureza, mas a liberdade do homem se manifestara ativamente em condig6es adequadas. Além disso, o homem tem uma segunda caracteristica, igualmente importante, que Ihe diferencia dos animais: enquanto 0 animal alcanga o pleno desenvolvimento ao final de um periodo de tempo relativamente breve, e a partir de entéo néo muda, 0 homem tem a possibilidade de se aperfeicoar © progredir para novas formas de ser muito mais complexas. Rousseau poe especial énfase nesta idéia da capacidade de aperfeigoamento do homem que atribui um papel decisivo em toda sua filosofia da natureza humana. Admite que a capacidade de aperfeigoamento pode ser tanto causa de desgraca como de folicidade, j& que se 0 homem pode elevar-se acima dos animais, também pode degradar-se abaixo deles: a capacidade de aperfeigoamento pressupse a possibilidade de piorar, assim como de melhorar, mas quaisquer que sejam suas conseqiléncias, é um vestigio que nao se pode erradicar da natureza humana; o homem tem que avangar constantemente para um novo estado de desenvolvimento, posto que suas capacidades primitivas se ampliam e se fortalecem . surgimento da sociedade simples constitui a primeira revolugao social ? acontecimento que no sé foi importante porque agrupou pela primeira vez os homens, mas também pelas suas repercussdes sobre a natureza humana; o homem modificou sua conformagao mental e emocional ao tomar consciéncia de si mesmo e dos outros. Desafortunadamente, essa mudanga de atilude pode-se dizer que foi 0 antincio dos males posteriores da Vida socializada, como por exemplo, 0 orgulho e a vaidade, conseqiiéncias do desejo pessoal de contemplar- se a si mesmo e comparar-se com os outros. Entéo, quando o homem comegou a considerar a si mesmo ‘como um ser diferenciado, comecou também, inevitavelmente, a se ver como o rival das demais pessoas Iniciaimente, estas desvantagens poderiam ficar facilmente compensadas: os homens experimentavam satisfagdes que ndo haviam sido descobertas por seus antepassados. webarigos.com/artigos.print 6 2ano7n ‘Algumas consideragdes acerca dalbordadee da desiualdade om Jean Jacques Rousseau Podemos dizer que gozavam dos sentimentos mais doces que o homem conhece, 0 amor conjugal e patemal . Além disso, todos os lagos familiares eram reciprocos ¢ livres. A vida continuava sendo simples solitéria, com necessidades muito limitadas e meios adequados para satisfazé-las. No entanto, o uso de bens, até entéo desconhecidos, constitula j4 uma ameaga potencial para a felicidade futura ao debilitar tanto ‘© corpo como a mente, especialmente o sentimento de privagao, percebido por aqueles que se sentiam afetados sem justiicativa por sua incapacidade para obter bens supérfiuos; eram desgragados por perdé-los, sem ser felizes por possuHlos. Portanto, mais importante do que os bens materiais eram os efeitos psicolégicos de sua possessao ou privagao que comegaram a repercutir sobre as relagdes dos homens entre si. A bondade simples de seu estagio anterior @ a manifestagao esponténea de sentimentos inatos deram espago para reagdes morais ligadas ao orgulho e a inveja. Em qualquer caso, estas dificuldades e desvantagens nao eam suficientemente graves para descompensar o equilibrio da existéncia humana e, em seu conjunto, provavelmente, este tenha sido 0 periodo mais feliz da existéncia humana, © homem social, situado pela natureza a mesma distancia da estupidez dos brutos € da ilustragao funesta do homem social, e empurrado igualmente pelo instinto e pela razo a proteger-se contra o mal que Ihe ameaga, se encontra obrigado pela piedade natural a nao fazer mal a ninguém, e nao se vé forjado a fazé-lo, inclusive depois de ter sido danificado Ao contrério do homem primitivo, este primeiro homem social utiliza sua razo, mas de tal forma que a harmoniza com suas necessidades simples. Esta fase do desenvolvimento humano, segundo Rousseau, que estabelece um justo equilibrio entre a indoléncia do homem primitivo e a atitude petulante do amor préprio do homem social deve ter sido a época mais duradoura na histéria humana . Nao existiam mudangas Violentas e 0 homem desfrutava de um sentimento de seguranga e estabilidade; posto que os homens nao dependiam uns dos outros, tinham, todavia, habilidades suficientes para elaborar seus proprios instrumentos @ ser, em grande medida, auto-suficientes. Podiam ser "ties, sos, bons e felizes", @ gozar de todas as formas dos prazeres do intercémbio independente. Nao & necessério oferecer uma exposigao detalhada da reconstruc da histéria humana realizada por Rousseau, Segundo ele mesmo afirmou, esta evocava a perfeigo do homem e a deterioragao da espécie, jé que o homem, ao desenvolver as capacidades individuais vantajosas para ele, entorpecia progressivamente a convivéncia com seus semelhantes. Entdo, ocorreu uma segunda revolugao social que alterou completamente o curso da existéncia humana. A descoberta da metalurgia e da agricultura, 0 que resultou na divisao do trabalho e na implantacao da propriedade, com a nefasta distingao entre "o meu" e“o teu", iria colocar os homens em permanente conflto entre si. A conseqiiéncia mais significativa desta mudanga foi 0 surgimento da desigualdade como vestigio iniludivel da condigéo humana Simultaneamente, estas novas condigdes provocaram um desenvolimento acelerado das capacidades humanas ? a meméria, a imaginagao, a razéo e orgulho. Todas estas tomaram a vida mais dificil e complexa. Um dos vestigios mais chamativos da sociedade modema se manifestou entdo pela primeira vez: . era necessario que as pessoas se mostrassem diferentes do que de fato eram, Ser e parecer se converteram em duas coisas radicalmente distintas, e desta distin¢do surgiu 0 fato enganoso, a astiicia falaz e todos seus vicios que sao seu cortejo" . Devido as desastrosas conseatiéncias da desigualdade, a servddo substituiu a liberdade. Inclusive os ricos foram escravizados pelos pobres, porque o rico e 0 pobre nao podem existir um sem o outro. A desigualdade criada pela propriedade produziu a ansiedade, a inseguranga e 0 conflto, j4 que cada homem lutava para ser t&o rico e poderoso quanto possivel, para que pudesse se impor sobre os demais. Os homens jé ndo se contentavam em satisfazer suas necessidades; pretendiam, além disso, alcangar, primeiro a abundancia e depois 0 supérfluo. Todos se inspiraram no escuro instinto de se prejudicarem uns aos outros. No primeiro discurso, Rousseau diz que os homens se escondem atras de suas mascaras para satisfazer seu desejo ooullo de conseguir seu proprio beneficio as custas dos demais". Os homens, logo, vveram no webarigos.com/artigos.print 46

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