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henri focillon ARTE DO OCIDENTE a idade média romanica e gotica prensa unherstaia editorial estampa INTRODUGAO ‘Cada um dos capitlos da nossa civlzagso tem o seu suporte geogrie fico ¢ a sua paisagem. Acordamse e iluminamse sucessivamente, como os diveros aspecios dum grande sitio percorrido pela luz. A Antiguidade Uo antges trades, de um peso imovel,apesar da sua poderosa obsessio ddo passado romano, Para sempre ficam ligadas & vida profunda da dade com fachada para © Atlintco, os fundadores de sistemas ‘os construtores de cidades, os grandes corpos da povoamento mais rico, eriam tipos de organizacio e tipos humanos ainda ‘Com o rechasamento © a conversio, estendem-nos pelo Norte ‘asia. Esa fora de expansio expe o Ocidente a contatos, a penerasbes Como veremos, torna sua a matéria que recebe. A Idade Média € actividade intelectual, ficaria melo na sombra se nfo estivese ainda pre- 1s ela andza das constusies. wie medieval eign 0 horinnte so 1 Tepes, innaos nas suas, pts os seus Younes fagui A mais firme razio. No dia em que esta perde 0” seu dominio, pole verse que ¢ arte da Idade Média chega ao fim. Mas, durante os Seus grandes séculos, e particularmente nos séculos XII ©” XIII, multi- tura no absorve todas as forgas vivas da arte da Idade rdina-as e determina-as. Este carcter 6 essencial. A lei do primado té:nico, posta em evidéncia por Brébier, exerce-se aqui duma ‘maneira inconiestavel. Os séculos que se seguem as invasbes mostram-08 , & a matéria da grande Idade Média. Mesmo disfargada sob a policromia, € nio s6 obra de pedreiro, shas decoragéo incorporada na AS necessidades tecténicas definem a forma rominica, aparel- do sonho e do capricho, mas na realidade ao mesmo tempo estimulada ¢ contida pela parede em que se inscreve, numa localizaglo «scolhida —a parede com que faz corpo. A parede tende a vazarse 8 sstrutura gotca, feita acima de tudo de arcos, de nervuras ¢ de pilares, ‘mas a forma esculpida € monumental e estabelece sobre outros principios 9 seu acordo com a arquitectura, A moldura das miniaturas do século XII moldura arquitectural. © mével 6 monumento e as formas combinadss 16 “oger com as proporgoes num dado m pals o demonstra. Esse wogor nio € virtuoso, O Eecorre sempre do cilculo das for ma funtos, a arte da Tdade Média ea mento em que fentar os seus maiores empreen: juntar os elementos. ‘Nao @ pois surpreendente ver a arte da Tdade Média, dom anqultectura, neste caso pot ama vigorosa \6gica construtiva, por um io sobre ag relagbes das Forgas ¢ das formas, ss que {avorccerat originais, Mas elas propagaram: ura medieval e a artes que dela ‘mas traduzindo os mesos conhect ‘ham idioma inteligivel para {o¥os. A propagasto europea | ‘laborado em menos de tres gerayOes pelos cons- | for wos abs : amtigos a que acrescenta uma cor oF is grays fe Treas ut as fore do se Wate "A are Tomer ofescenos do Um Ou ot is Manet como tipo de base de pereginaglo esl, por Tr denthagho ao longo doe canhot de Saetago e ce Sipels mancly como a8 eras do in Some tases os sus owes, ‘como uma dialéctice da forma, tern unt va que este traya do énio mediev 23 @ das oficinas m absolute © universal e ¢ € mais manifesto, mas 0 se se preferir, fala com tum sotague particular. Estas varigntes idio mam a silida unidade da Jingua e testemunham a sua aptidao para 2 vida € que a actividade da Made Média € dupla, A Tdade Média ¢ seden- trae € némada, & locale & europeia, As cidades, os campos, os Estas feudais, ns monarquias, so meios mais ou menes fixos; as estradas do comércio e os caminhos tomados pelos peregrinos sf meios movents. A Europa esta tio profundamente lisads 8 Europa e numa ares mais vasta, como nos tempos em que a paz romana se estendia pelo Mediter ineo, Compreende também uma humanidade mais diversamente com posta. A matéria histories de que a sua arte se faz € um complexo duma srande riqueze, pois amalgama, ngs suas profundezas, 08 restos da) 2aclo antiga com os vestigios das culturas birbaras ¢ das cont do Oriente. Por esse meio capia diversas faces do hamem e nio para Ae se interessar por elas. As caravanas, as cruzadas, aproximemena ines santemente a Asia © da Africa. Desie 0 principio da Tdade Medi © desenvolvimento da instituigdo monastica dispersara por longe ¢ e todos os sentidos os depositos das mais velhas civilzacies, wtilizados Pela slimbotice evista, ¢ juntara nas Mhas Britinieas os sonhos os monges 0 Yo 20s devaneios lincares dos Celtas. O universalismo da arte medieval fol stm divide preparado por este fusio, por um guecimento daaullo que se poderia chamar o wicot Fol fevoresido pelo 8 sua expresso. mais alta © mais inte 4 arguitectura e a combinagao ‘ manos do Europea imo incessante das trocas, Finalmente, encontroy el nessa forma superior 2 das imagens, 18 mma rede de omamentos ¢ wnem nia esta ¢ a beste no an fe mareara o timpano das submetidos a inces- ypaciéneia duma génese que, no Pro- cura alcangar a vida. Dirseia, no mundo criado, mas © sonho de {a criagio e 0 da sua obra, B a enciefo- cifradas e contempla o homem ¢ ‘trabalhada entre a vista © 0 ob secular como antigos compankeiros sem os quais 0 quadro da natureza ficaria incompleto. Esta nogio dum humanismo medieval, tal como se extrai do estado 2 heranca mais’ ou menos as. Existe, € certo, um humanismo dos humanistas, mas existe um , mais largo e, se assim se pode dizer, mais auténtico, porque pede itamente menos & tradicdo do que a vids. A arte da Idade Média farnos conhecer a sua vastn concepsio do homem e das suas relagSes com 0 universe, Nao 0 isola. Mostra-o brayos com as exigenciss, as miséries e as grandezas do seu destino. Nao se detém no desabrochar da sua juventude, salvo quando © deita sobre a pedra dos témulos. Toma-o em todas as idades, em todas as condigdes, manejando a ferra- sofrendo os feus males, O cego das de Reims proclama dda paciéncia humana. A dogura dos . este humanism figurado junta o podgr da sua simpatia por tudo o que respira, uma compaixio, uma Cordiatidade, uma bonomia formidavels, Abraga o todo, pSe o homem hho centro, ¢ esta imagem de Deus € toda humanidade. Esta palavra ladquire aqui a plenitude do seu sentido, A ad hhumanidade da [ , ‘statudria prega estd incompleta, Move-se no imperectvel, ¢ uma afirma |< Go to categérica do homem que o vota a uma espécie de solidio. ‘A Idade Média banha-o por todo o lado na corrente dos sores ¢ das coisas. ‘Mas esta generosidade nfo € um fluimento. Téo perto da matéria ¢ da 19 te toda a aventore da vida, to seasWel, mesmo & tenra tho cativa He tee See esprit. Nao sO honra os trabalhos da ta, stg arte © 6 Ge Laon as arts Iiberas, como a a cag gp encadeamento. das figuras ov, por nue fo sou plano ordensdor, radica Dum alto eas Dano Ter jaa sinetias ¢ das sorcespondencias, a tet dos p oe eaueee de misica dos simbolos, organizam secretamente sda de peura. Sem euvida tomes nelss, nfo digo ion sreeS thas sob a sta forma mais complcia © mals Meiral e a bisrie Wee} do. homer. edie, ciadora t peopagadora dum humae so @ apenas 3 expressto superior da Idade aii0 orgdnica, 0 seu valor ve cielo na série com gue se desgna esta época tem sind a ‘thon do genio clasco, virado. para-a Amtguidade e, por iso mesmo, Tae thot moderne que.a Hiade Média, Nao € uma transigfo entre {uur loader que por sia dela se luntam, no ¢ uma dade intermediaria, Slate as popra, A palura posers aplcarse” ao Peviodo que se EXDUE div nvanies fundagto do Imperio Caroling. E, tal como nto Sima tapsgio entteo antigo € 0 mlodemno, no € um mmeio termo entre bes do Sub, do Norte ¢ do Oriente, A riqueza e a diversidade ‘buigdes que fe emalgamam ¢ se entreeruzim nas suas substruc- ss, 0 sua proveriécia logingun, por vezes a Vitalidade que astegura a Sua Sesureigo, no devern engenur-aes neste ponto. Cada geragéo de dnvesigadores € tentada a deslocar a t6nica, na sua interpretaglo getal dia Nsira, coloca-a na pariuleridade das suas descobertas, © ensarnento Sue ordens, encagcia e combina os elementos transmitidos por todas & Sristandades que colaboraram com éxito desigual na mesma obra universal, o Resumes gue os submete& araulcturae que conctbe esta ksi somo um raciocinio sobre as fungdes, € © pensamento do. Ocidente Fal, 6 no Ocidente que com matcrsis antigos e cistantes se elaborsm formas noves que se fednem rigorosamente ‘mas as ouifas, que desea: volvem as suas possibilidades, que geram os membros © os enquadra- rentos gue thes sto necesirios, af que se define, pelo encadeament® as experitncis, uma nogto nove dos esilon los. af Finalmente que cresce ‘esa concepsto do homem sem qual a Tdade. Media seria para. 203 eee Sibel peaen ae 2 lente © numa igrejaocidental, a comparasio das plantas ¢ da local ‘acto da decoragao figurativa rey i plantas ¢ da locale “ait da desorado gratia reel ierngasfondametais a prot se ctns SV soe & o atords purecem mals estrtos. Quanto Rotanaags NOW, fopindr dy ctl es doutna anda do ‘lo € de desprezac, na media em que ngs fac srenntroe oo eg Tease Sess Media em que no fae eater prembulo da “Tn eo ei das formas herdado de eas cles proto MOS, 0 que separe a igreja de madeira da prege dame pepia que preside & distil putas palavras, © prOPt 20 de um raciocinio ‘nos a complexidade dos pro- estudo da arte da Idade Média levanta. Mergulha na vida 6 na diversidade de fe dos lugares. O seu desen- ccujos diversos estidios seriam ‘uma progressio sem chogues, 's também no se sucedem 108 varBes ou por usurpagdo. Num , correntes diversas manifestam com 'Na primeira metade do século XII, consoante nos situemos a0 Norte ou 20 Sul do Loire, véem-se cerescer dois sistemas, um em pleno desabrochar elissico, a arte romanica, ‘© outro com um vigor e uma precocidade de experiéncias que, ao fim d¢ ppoucos anos, o levam as suas decisdes essenciais: a arte gética. A arte rapidamente aqui para a decoragao por sua vez a Franga para se i= fncia a forma suprema da arte medieval, o estilo flamejante, Para captar estes fortes cambiantes da vida, parece primeiro legitimo estudar, ndo movimentos gerais, mas os séculos © 05 pases. Mas as criagées da arte, quando se encadeiam em tais conjuntos, contém, até nas suas variantes ¢ nas suas formas de adaptagio, © principio de um desenvolvimento que s6 com prudéncia pode ser Fragmentado, Combinaremos portanto os dois métodos. Esse impulso pro- sressivo, essas experiéncias multiplicadas que certamente por vezes abor- fam, mas que, no caso das mais afortunadas, se completam como os membros duma dedugdo, essa firmeza das grandes épocas, depois, essas Crises de requintamento, por fim, esses esquecimentos e esses Contra “sensos do declinio, todos esses aspectos duma vida profunda nfo podem pensar o espago e 0 tempo: constituem uma espécie de légica, mas 0 préprio tempo apressa ou retarda os termos ¢ as conclusées, pensados por frupos ¢ por mestres diversos, A. originalidade destes iltimos & susceptivel de invengio, Determina nos estilos mais homogéneos um ératamento ivre s fundamentais. O estudo ‘A gencalogia das igrejas : revela frequentemente, pelo contritio, uma notdvel flexibilidade de interpretagio. ‘Os modernos t8m uma tal necessidade da particularidade biosréfica, yodeiam duma tio rica documentaglo anedética 0 relato das vidas de a sua figura, no s6 nas ces aug ism ss es fami, como ov donors, persament, Nol fanos, a0 Ta da sua ora et todo rea nes saat ica-se e cresce. Por vezes imprime-the tal ave ela Talantee fisionsmica como um fon, Aen lingua serve a vias figras de espios. sts espanoses ‘Ratejadarce de fora, que se atrevem'a medirse com massas colssals, tio feam aniguilados pelo triunfo, nlo so escravos cegos do peso © da randioaade. Mesno quando 0 seu nome nio esti em parte nenhuma, aa igvela hes serve de asinatura. Seria um etro grave querer indi Widvalizar a todo 0 custo ¢ em todos 0s casos monumentos {40 rieos de Investigagoes acumuladas ¢ cuj Jel tGsnica no se presta também & faci- lidade consantemente renovada da iavengo: mas nao seria menor 0 erro se se bane dels a qunlidade pesoal © humana "Assim, o homem ¢ 0 tempo, nos seus percursos diversos, 0s dados rimbios,colaboram com a forga na dos estilo que definem, aumentam, preciptam, a que dio cor. F isto que-nos mostraré 0 extudo das artes no Ocidente, do séeulo XL a0 século XV, Mas ser-nos-d primeizamente indispensével conhecer nas serals 0 que foi o séoulo XI. a base da dade Média, ‘mos em conta estes cem anos de experiéncias, mais numerosis mais sistematieas do que se julgou até agora, ¢ o estilo tao claramente definido 4 pr iio do séeulo XII pareceria inexplicével, A partir dai, ser-nosd Possivel seguir o desenvolvimento da arte romAnica e depois o da arte aética, tendo em conta os seus sincronismos ¢ as suas trocas. O estudo desta sitima, tal como foi conduzido pelos mestres lo ne pelos mestres do século XIX, Hodos, mas os seus caracte rofundos do que os 8 chameiras. Hi fundamento para distinguir vérios pe- res devem ser procurados em tragos. mais junto com o emprego sistemético © tornard a férmula cléssica da primeira metade 0 22 século XIHL. Entio 0 de pedra, rigorosament lo das catedrais ersue os seus imensos sistemas coneebidos ¢ deduidos, cada um dos quais € a 1esmo pensamento, e todos povoades por tim mundo de imagens igual a inesgotivel diversidade da criagio. A. se- ‘metade da mesma época eo século seguinte requintam com com secura, as solugdes adquirides e que nfo deixam na arte do imaginario e na arte do A investigagio sobre o homem, que se manifesta no final do sé , renuncia 30 tipo monumental para se interessar pelo omamento ¢ pelo acess6rio. A vida profunda da fé reflecte-se nestas diversas figuras. Primeiro assombrada imultaneamente serenidade dos Evangelhos, m: is ardente, acolhe os movi- Imentos mais apaixonados da alma, e 05 misticos conduzem-na pouco a pouco ao culto da dor ¢ da morte, A oréem intelectual definida pela Arguitectura ‘da lugar a uma espécie de dramaturgia. O fim da Tdade ‘Média constitui um periodo & parte. A arte flamejante comega por parecer ter sido a consequéncia natural ¢ necessiria do principio g6tico, mas Antes 0 seu desvio. © papel da arquitectura como acento tonico da civi- iagio esta terminado no Ocidente, pelo menos para esta época. A pintura fen, apestada em estreitos espagos e combatida pelo brilho dos. ns catedrais do Norte, encontra nas paredes de Ttalia um vasto campo Oferecido a pesquisas € combinacbes novas: as oficinas toscanas propagam a grandes distincias 0s seus preciosos feones; o gosto do objecto © a paixio de por a vida em imagem chocam-se com a regra monumental. Por fim, Ss oficinas dos Paises-Baixos meridionais descobrem recursos que nfo s6 tém o valor dum requinte técnico, como impdem & Europa uma concep¢ao rnova da forma, do espago € da cor. Envolvem numa luz quente misteriosa Os ttimos penvamentos da dade Média, mas aprofundam 0 horizonte por {ts dela, apoderando.se de um mundo mais vasto e transparente. 0 Principio duma outra idade da civlizasio.

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