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Correção das Fichas 1.

Poesia do ortónimo
FICHA DE AVALIAÇÃO FORMATIVA 1

GRUPO I (Cenários de resposta)


A
1
1.1 
No primeiro verso do texto, o eu lírico refere­‑se à música que ouve — a mesma música que ouvia
quando era criança. A experiência presente é marcada pela emotividade e pela subjetividade, como
evidencia a anteposição dos adjetivos, em lugar de destaque, na frase exclamativa que abre o poema:
«Pobre velha música!» Além da dupla adjetivação anteposta e da exclamação, salienta a intensidade
emotiva desta experiência o carácter apostrófico do primeiro verso, que torna presente o que é
invocado, e a hipálage em «Pobre […] música» (atribuindo à música uma característica que, na
realidade, pertence ao sujeito poético). É esta recordação que suscita, no eu lírico, a nostalgia da
infância evidenciada ao longo do poema. A música é, pois, o elemento que liga o presente — um
tempo de infelicidade, de «lágrimas» e de «olhar parado» (vv. 3­‑4) — ao passado, ao qual o sujeito
poético deseja regressar («Com que ânsia tão raiva / Quero aquele outrora!», vv. 9­‑10).

2 O sujeito poético recorda­‑se de si próprio, quando criança, a ouvir a música, mas o eu do presente difere

do eu do passado — experiência da alteridade que expressa o primeiro verso desta quadra («Recordo
outro ouvir­‑te», v. 5). O passado a que alude não corresponde a uma experiência real, que o sujeito
poético não sabe se, de facto, existiu; trata­‑se antes de uma representação atual, intelectualizada, da
infância, suscitada pela música ouvida no momento presente («Não sei se te ouvi / Nessa minha infância /
Que me lembra em ti.», vv. 6­‑8).

3 O eu lírico não sabe se a infância vivida, a infância real, foi um tempo feliz. A felicidade existe na

representação da infância que é feita por ele no presente — é uma infância imaginada. Os dois últimos
versos do poema confirmam, pois, a ideia de que a infância a que o sujeito poético alude é o resultado
de um processo de intelectualização, realçado pela antítese presente no verso que fecha o poema:
«Fui­‑o outrora agora.»

B
4
4.1 
A companheira é caracterizada como uma figura frágil («Mais morta do que viva, a minha
companheira / Nem força teve em si», vv. 1­‑2) e «medrosa» (v. 20), ficando apavorada («a tremer,
cosida com o muro, / Ombros em pé», vv. 19­‑20) com a aproximação de uma «vaquita preta» (v. 17).
A expressividade deste diminutivo evidencia a reação exagerada da figura feminina, acentuando
a sua fragilidade.
Já o sujeito poético demonstra audácia e valentia (era «um destro e bravo rapazito», v. 3), protegendo
a companheira «Como um homenzarrão» (v. 4) ao segurar o animal «Que eu segurei, prendi» (v. 18).

5 Enquanto a companheira tem uma reação amedrontada, o «rapazito» demonstra um grande à­‑vontade

ao segurar o animal. Reveladora da sintonia do sujeito poético com o campo é igualmente a descrição
pormenorizada e entusiasmada do espaço circundante, com o recurso a enumerações, frases
exclamativas e expressivos diminutivos («bezerrinhas», v. 6, «casitas», v. 9, «vaquita», v. 17), que sugerem
a ternura do sujeito poético pelo ambiente campestre.

ENTRE NÓS E AS PALAVRAS  •  Português  •  12.o ano  •  Material fotocopiável  •  © Santillana 21


UNIDADE

GRUPO II
1 1
(D) 2
(B) 3
(A) 4
(C) 5
(D) 6
(A) 7
(B)
Fernando Pessoa

8 Complemento do nome.

9 «aqui»

9.1 Deítico espacial.

10 Oração subordinada adverbial concessiva.

GRUPO III
Construção de um texto de opinião que respeite o tema, a estrutura e os limites propostos. Devem respeitar­‑se
as principais características do género textual em causa:
•  explicitação do ponto de vista;
•  clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos;
•  discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

FICHA DE COMPREENSÃO DO ORAL 1


(Duração do documentário: 04:14)
Transcrição:

Voz off: No dia 30 de novembro de 1935, morre Fernando Pessoa. Tinha 47 anos. É hoje um dos mais
importantes nomes da nossa literatura e dos mais estudados em todo o mundo. Homem
complexo, começou a escrever poemas quando era criança. Criou vários heterónimos, muito
diferentes entre si. Quem não ouviu falar já de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro ou Ricardo Reis?
E do Livro do desassossego, das cartas a Ofélia, do «Menino de sua mãe», de «O guardador de
rebanhos»?
Tendo publicado apenas um livro em vida, Pessoa deixou milhares de páginas escritas, que ainda
agora estão a ser descobertas, analisadas e divulgadas.
[…]
Fernando Rosas: Hoje temos connosco a Professora Teresa Rita Lopes. É uma das mais conhecidas
pessoanas. A primeira pergunta que eu gostaria de lhe fazer é esta: porque é que, depois da morte
de Pessoa, há um tão longo silêncio acerca de Pessoa? Porque é que Pessoa é (re)descoberto
tardiamente, apesar de tudo, na cultura portuguesa do século xx?
Teresa Rita Lopes: Os Portugueses terão sempre um certo mal­‑estar em relação a Pessoa. Terão desde
sempre e continuam a ter.
Fernando Rosas: Um mal­‑estar político? Um mal­‑estar cultural?
Teresa Rita Lopes: De muitas, muitas naturezas. Para começar, pela ignorância. Ainda hoje… Fala­‑se
tanto de Pessoa, mas vá lá averiguar o que é que conhecem de Pessoa as pessoas que falam de
Pessoa? Eu própria, se me lembrar de mim, do que é que eu sentia na altura… enfim, que lia o
Pessoa, que devorava Pessoa, mas ouvia dizer que ele, no fundo, tinha sido um grandessíssimo
fascista. E ficava incomodada com isso. Mas dizia para mim: mas houve outros que o foram…
tenho de esquecer essas coisas… Mas, até eu própria descobrir, pelos meus próprios meios, que
isso era tudo balela, e que o homem, pelo contrário, tinha, em determinada altura, em textos que
estavam desconhecidos, que estavam verdes, tinha denunciado não só o Estado Novo, em termos
muito violentos… A Salazar chamou […] um seminarista da contabilidade… Depois, em 1932,
quando ele tomou plenos poderes, quando deixou de ser apenas ministro das Finanças, ele
escreveu esses tais textos, uma carta que escreveu para mandar ao Presidente da República. Ele
disse: «Assistimos à cesarização de um contabilista.»

22 ENTRE NÓS E AS PALAVRAS  •  Português  •  12.o ano  •  Material fotocopiável  •  © Santillana


Portanto, só depois de eu ter conhecido todos estes documentos é que percebi que não havia 1.1
razão nenhuma para esse mal­‑estar… que nós tínhamos, nós, os que amávamos Pessoa, em pleno

Poesia do ortónimo
Neorrealismo, se quiser… A gente, para perceber isto e essa faceta, digamos, política de Pessoa,
a gente não se pode esquecer de que ele é, antes de mais — e foi ele próprio que o afirmou —
«um nacionalista místico»… «um nacionalista místico».
Fernando Rosas: Mensagem, portanto?
Teresa Rita Lopes: Mensagem é a obra de uma vida.
[…]
Voz off: Avesso a que lhe tirassem fotografias, uma das imagens mais conhecidas do escritor foi
pintada por Almada Negreiros, em 1954, com o título Retrato de Fernando Pessoa.
Pessoa interessou­‑se sempre pelo oculto, pela astrologia, pelo esoterismo, pelas sociedades
secretas, mantendo uma relação quase metafísica com a vida.
Além de escrever e ler compulsivamente, era colecionador de postais e de selos. Apreciador de
música clássica, Pessoa ouvia compositores como Beethoven, Wagner, Verdi, Chopin e Mozart.

1 Trata­‑se da voz do narrador/locutor, uma voz off que assegura a ligação entre as várias partes do

documentário, dando­‑lhes unidade e sentido.

2 São interrogações retóricas, que visam tornar o discurso mais vivo, captando a atenção do ouvinte.


3 O entrevistador é Fernando Rosas. A entrevistada é Teresa Rita Lopes, uma das maiores especialistas na

obra de Fernando Pessoa.

4 4.1 O facto de ouvir dizer que Pessoa era fascista.




5 A metáfora estabelece uma analogia entre a subida de Salazar à chefia do Governo, em 1932, e o poder

de Júlio César, o famoso ditador romano da Antiguidade.

FICHA DE COMPREENSÃO DA LEITURA 1

1
1.1 (A);  1.2 (D);  1.3 (C);  1.4 (D);  1.5 (C);  1.6 (C);  1.7 (A);  1.8 (C);  1.9 (C).

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