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15/02/2022 Paraisópolis | Meusite

TUCA VIEIRA
Hipercidades (em progreso)
Atlas Fotográfico
2020
Terra Nova
Dead end
Quadrado Negro
Vista de Toledo
Viagem ao Brasil
Estrada de ferro Carajás
Cumbica
São Paulo
Berlim
Minsk
Pyongyang
Glitches
Paraisópolis
Cracolândia
Templo de Salomão
Valle de la Muerte
V. se encontra da posição da seta
Fotografia de rua
Viaduto
Última sessão
Tríler
Água sobre pedra
Oscar Niemeyer
Espacio Escultórico
The Vertical Earth Kilometer
Mirante do Vale
Vagabundo
Paraisópolis, 2004
–––––––
Livros
Bio | Contato

Em 2012, em seu terceiro número, a revista ZUM publicou uma foto famosa de Tuca Vieira,
representando, à esquerda, o bairro de Paraisópolis e, à direita, um empreendimento imobiliário de
luxo. A foto não era nova: já em 2007, fora utilizada como cartaz da exposição Cidades globais, da
Tate Modern de Londres. Mas continuava (e continua) a circular pelas redes sociais, gerando
milhares de comentários. Junto com a imagem, a ZUM publicou uma seleção destes comentários e
um breve texto do próprio Tuca. Neste, o fotógrafo ressalta algumas escolhas que contribuíram para
o sucesso da foto: especialmente, enquadrar de maneira a excluir o horizonte e tornar a imagem a
mais chapada possível. Sem dúvida, são aspectos importantes, que contribuem para aquilo que, a
meu ver, é o caráter mais marcante da foto: ela parece uma colagem.

As duas metades são igualmente desordenadas. Mas as duas desordens não combinam: à esquerda,
um aglomerado denso de casas, sem nenhuma planificação; à direita, construções igualmente
caprichosas, que não parecem muito preocupadas com uma articulação racional. E muito menos com
uma integração com o território. Acumulação de um lado, desperdício de outro. Até as cores não
batem: cinza do asfalto e bege amarelado dos tijolos à esquerda; verde da grama, azul das piscinas e
ocre das quadras à direita. Realmente, parecem duas fotos diferentes recortadas e coladas. Mas a
colagem não está na foto, está no lugar.

No meio, corre um muro fino, cujo trajeto irregular provavelmente responde a desníveis do terreno –
no entanto, não conseguimos detectá-los, graças à bidimensionalidade da imagem. Assim como
aparece, seu traçado soa totalmente arbitrário. Mas o que mais impressiona é o fato de ser tão fino e,
ao mesmo tempo, tão impenetrável. Até a terra, repare-se, é mais clara no bairro do que no
condomínio. Podemos apostar que não há portas nesse muro. Muros como esses não são cercados ou
arrimos: são fronteiras. As fronteiras são finas, porque são muito mais do que físicas. O que as

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sustenta é a convicção de que o que está do outro lado é outro Estado, outra situação, outro lugar que
não nos diz respeito. O muro de Berlim era alto, pouco mais de três metros. As cidades e os bairros
do Brasil são crivados de fronteiras como essas.
TUCA VIEIRA
(Lorenzo Mammì, publicado originalmente da Revista Zum)
Hipercidades (em progreso)
Atlas Fotográfico
2020
Terra Nova
Dead end
Quadrado Negro
Vista de Toledo
Viagem ao Brasil
Estrada de ferro Carajás
Cumbica
São Paulo
Berlim
Minsk
Pyongyang
Glitches
Paraisópolis
Cracolândia
Templo de Salomão
Valle de la Muerte
V. se encontra da posição da seta
Fotografia de rua
Viaduto
Última sessão
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Água sobre pedra
Oscar Niemeyer
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