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No conto © Semetbante, Miguel de Unamuno apresenta Celesti- no, © personagem principal, como uma daquelas pessoas que, por se- rem portadores de deficiéncia mental, io manginalizadas € maltrata- das na comunidade onde vivem. E os r6tulos de maluco, tolo entre outros servem de autorizagio ao sadismo de adultos e até, infelizmen- te, de criancas. No trecho do conta, O semelhante, de Miguel de Unamuno, 0 autor faz uma andiise da amizade ou da sociedade contempordnea? Discuta a questo com a turma. ‘As regras para 0 debate encontram-se na introdugao deste liv. sm van ganma.cy 1 Fidel na caimdnia de encora ret de I Cpu Oabe-Car- oom. ® tica B AAmizade como Questo para a Etica ‘A amizade foi também motivo de investigac3o em Arist6teles na obra, Flica a Nicémacos, nos livros IX ¢ X, discore de forma minucio- sa € exaustiva sobre o tema Aristoteles apresenta a amizade como fundamental para a uniao das cidades e dos povos. A inimizade entre as cidades € paises gera con- flitos € guerras, por isso a preocupacio dos legisladores em evitar que haja divisoes. Para entender melhor a questao da amizade como uma questio éti- ca é preciso ter claro o que Aristoteles pressupde, ou seja, 05 valores que fundamentam ¢ dao sustentaao 2 amizade. A amizade perfeita, que poderfamos aqui denominar de verdadeira, ocorre entre pessoas boas ¢ inexiste a caltinia, pois ha confianga e sinceridade, ja que pes- soas boas gostam do que é bom. E por que Arist6teles diz isso? Por entender que °C.) aquilo que € imrestritamente bom e agradavel pare- ce ser estimével ¢ desejavel, € part cada pessoa o bom ou o agradavel aquilo que & bom ou agradivel para ela; € uma pessoa boa € dese jdvel € estimavel para outra pessoa por ambas estas razoes [...] a pes- soa boa, tornando-se amiga, torna-se um bem para seu amigo” (sAisI0 TELES 2007, 150, Entio a amizade para Aristételes esta diretamente ligada 4 bonda- de. Ea bondade € algo agradavel e desejavel e por isso torna-se busca Para as pessoas boas. Mas 0 que nos torna bons, segundo Aristételes, € 0 fato de agirmos de forma acertada, buscando em tudo a mediania, © equilibrio em nossas agdes € dante de nossas emogoes. A amizade esta relacionada a esta mediania, equilibrio por ter como caracteristicas € causas a boa disposigio ¢ a sociabilidade, pois *(...) as pessoas boas so ao mesmo tempo agradaveis e titeis. jAsTOTHES 29 1.160 Ao mesmo tempo em que Aristoteles apresenta as caracteristicas € causas da amizade € as afirma nas pessoas boas, procura destacar que nem sempre as pessoas estio em igualdade de situacao nas relacoes de amizade. E passa a relacionar as espécies de amizade em que hia supetioridade de uma das partes. $a0 os casos de amizade entre pai filho, pessoas idosas ¢ jovens, marido € mulher ¢ em geral, entre quem manda e quem obedece. Sao amizades que diferem entre si pois a ex- celéncia moral e suas funcdes, bem como as razdes de envolvimen- to das pessoas sao diferentes. Nestas amizades “(...) os beneficios que cada parte recebe © pode pretender da outra nao si0 os mesmos da ‘outra”. ARSIOIFLES 2001,» 167) Sendo assim, nestes tipos de amizade o que ocorre é a diferenga na proporcionalidade de amor que cada uma das partes recebe e tem para com a outra, Entio, se na justica “(...Jo que € igual no sentido primordial € aquilo que € proporcional ao mereci- mento"; na amizade “(...) a igualdade quantitativa é primordial e a pro- porcionalidade a0 merecimento € secundaria STOTELES 2001. p,161) -gundo Aristoteles, isto € mais evidente em casos onde “...) ha um grande desequilibrio entre as partes em relacao a exceléncia moral ou a deficiéncia moral ou 3 riqueza ou a qualquer outra coisa”, "S10 TELES 200" p. 161) SAO exemplos disso os deuses € os reis € as pessoas me Ihores © sabias, Pelo fato de haver proporcionalidade ao merecimento no caso da amizade ser secundiirio, ja que ha relagdes de amizade em que ha su: 1m hp: /stsapopt ® Etica perioridade de uma das partes, Aristoteles alerta comum as pessoas preferirem serem amadas a amarem, ou s luladas, atrairem para junto de si amigos de qualidad tulador Sendo a amizade fundamental para a vida em s seus des vios podem gerar em contrapartida problemas Seri isso real mente possivel? No Brasil, no século XVI, um dos homens mais s da época padre Anténio Vieira, em um de seus sermoes sco apresen- tado por Arist6teles em relacdo aos amigos de ferior Anténio Vieira, um dos grandes pregadores cesso a cor te portuguesa, vivera e pregara no Maranhao g rte de sua vida. Em suas pregagdes falava aos nobres e, até s escravos, Nc conjunto de seus sermdes encontra-se inclus a Irmanda de dos Pretos de um engenho, 1633, que fc Z vara OS ne gros no dia da festa do evangelista Sao J Rosario. No Sermdo da Primeira Sexta-Feira da Q Capela Real no ano de 1651, com © mote: “Mas eu vos dig S08 inimi g0s, fazei o bem aos que vos tém 6dio” ( iscute se os reis estio ou nao dispensados de amar s s. Discute quem seriam de fato os inimigos dos reis e pr é-lo apresenta uma distingao entre os inimigos e as hostes gos seriam os de dentro do reino € as hostes seriam os es ra, OS que fa- zem guerra ao reino, combatem e sa Porém, entendendo as hostes com: mbatem ¢ sao combatidos em busca de interesses ¢ ¢ das como legi- timas, até mesmo com 0 uso da violénc ira alerta que © pior € real inimigo do rei nao sao as 2s domésticos, os familiares, os que 540 admitidos a s dos, estes (sie) sio 0s aduladores, € por isso, 0s inimig Por que, segundo Vieira, o adulad € tinico inimigo dos reis? Porque “C..) a intengao reta dos é esta, senao que cada um diga livremente 0 que ente selhem 0 que mais importa; mas, como o norte sempre € 0 interesse € cia propria, nenhum ha ¢ 0 real, € todos temem arriscar a graca onde tém post Mesmo pregando na Capela Re erteza estava 0 rei ¢ toda sua corte reunida, ja que Vie que tinha grande Prestigio € puiblico, nao mede as palavras € € contundente ao afirmar que: “Tao certa € a proposi¢aio do noss. € tho verdadeira solida a razao fundamental déle (si sos que em palicio sao amigos do interesse, sao amigos do re Vieira, assim como Aristoteles orie eta reise principes para © cuidado com suas amizades, uma s mesmas, pelo fato de nais digni serem eles, pessoas melhores, segundo Arist6teles, e com dade e soberania, segundo Vieira, correm o risco de estarem cercados de adulacores que irto ofuscé-los com bajulacdes € causar-lhes a rui- na de si mesmos e do reino. No Ivo © rei que ndo sabia de nada, de Ruth Rocha, ha uma narrativa que ilustra muito bem o que nos 6 apresentado por Antonio Vieira. “Era uma vez um lugar muito longe daqui.... Neste lugar tinha um rei, muito aiferente dos reis que an- dam por aqui. Este rei tinha uns ministros, muito fingidos, que viviam fingindo que trabalhava, mas que no faziam nada de nada. RoOHA, 2008) ‘Anarrativa continua e fala da compra de ura maquina, sugesto dos ministros, que fazia tudo. O rei gostou da idéia e, estimulado par seus ministros, comprou a méquina, que segundo eles, resoveria to- das os problemas do reino. Mas com a maquina apareceu um novo problema, pois a mesma passou a No funcionar de forma adequada o que ocasionou inumeras confustes. Os ministios jamais permititam que 0 rei soubesse @ sempre ihe falavarn que estava tudo bern com maquina @ Com 0 reno, Até que um dia, 0 rei resolveu ver tudo de perto e com seus prdprios alhos. \Vooé pode imaginar 0 que aconteceu! Responda as questées a seguir 1. Quais as serneihangas que se pode estabelecer entre 0 rei e seus ministros do lio de Ruth Rocha com 0s reis principes € aduladores apresentados por Vieira? 2. Ruth Rocha fala de um rei, portanto regime mondrquico. No Brasil, hoje, temos um presidente e vi- ‘vernos em um regime democrético. Os riscos que Vieira alertava aos reis @ principes so validos ho- je para presidentes, govemadores e prefetos? Justiique. 8. Sabendo que a amizade esté diretamente relacionada com a ética, 6 possivel ver nas orientagdes de Vieira @ na narrativa de Ruth Rocha alguma referéncia que sirva para nossas relagdes de amiza- de, jA que somos apenas cidadéos? Justifique. § AAmizade e a Justicga Um outro conceito que Arist6teles apresenta relacionado & amiza- de a justica. Afirma que entre amigos nao ha necessidade de justica Aristoteles pressupde a vida do homem na polis, na cidade, por ser © homem um ser social. O conceito de justiga esta diretamente ligado & vida na polis. Quando se fala da polis é preciso esclarecer que existem dois espacos: 0 da polis ~ publico e, o do oikos, da casa, 0 privado. A amizade entre os cidadaos Aristoteles denomina concordia. Se- gundo ele a amizade nado é apenas necessaria, mas também nobili- tante, ou seja, nobre, louvavel. Conclui que a amizade ea bondade encontr 4s pessoas que sao amigas de seus amigos. Antes de Hse Amizade io rx | opinar sobre o que seja a | diosos de sua época diziam, ou seja, alguns fil6sofos que o antecede- ram ou foram seus contemporiineos. nizade, Aristoteles apresenta 0 que os est ‘Mas ndo poucos aspactos da amizade so objeto de debates. Alguns estudiosos do assunto defnem a amizade como uma espécie de seme- 1 Tenz, Ofardo, Cobre ceca ihanga entre as pessoas € dizem que as pessoas semelhantes s4o amigas 972 ~ dai vem os provérbios como “o semehante encontra seu semelhante “..} Outros tentar achar uma explicagao mais profunda e mais fisica para este sentimento. Euripides, por exemplo, escreve: “A tera seca ama a chuva, @ a divino céu pleno de chuva ama molhar a terra! “Heracles, em contraste, diz: ‘Os contrérios andem juntos’, "A mais bela harmonia € feta de tons di- ferentes' e “Tudo nasce do antagonismo!" Quiros sustentam um ponto de vista oposto a este, principalmente Empédocles, segundo 0 qual "o serne- ‘hante busca 0 semelhante", (AASTOTELES 2001, 15 De acordo com os estudiosos, segundo Aristoteles, basica mente 2 e Heraclito ~ “Os semelhante busca 0 dois principios definem © sentimento contrarios andam juntos” © 0 de Empédoc semelhante”. E preciso es urecer que & saclito como Empédo- cles apresentam uma explicagao fisiea par ade Responda as questoes a seguir: 1, Qual des duas explicagdes vocé considera ter mais a ver oom 2 Herdcitos ou a de Empédocles? Elabore um texto defendendo 2 exnliess 2, Aristételes apresenta as sequintes questées: “Se a amizade pessoas: ou, se as pessoas mas ndo podem ser amigas; e, se de uma’, @ASTOTELES 2001, 9.154) Qual a sua opiniéio em rel les? Ef A amizade é algo humano Independente de qual dos dois autores wecé tenha escolhido, para continuar € preciso posicionar-se em relacSo 20s problemas que Aris- Loteles nos apresenta, apés afirmal nos 08 casos, Heriicli- tos e Empédocles, a amizade € exa mn problema fisico e que deve ser analisada como “(...) problemas a0 homem, per tinentes ao carter € aos sentimentos es «| Para responder aos questionamentos que havia levantado, Aristé- a por afirmar que ha varias espécies de amizade € *...) a talvez possa ser esclarecida s 2001 154 teles come questo das varias espécies de amizad antes chegarmos a conhecer © objeto do amor.” (ARSTOTELE “Parece que nem todas as coisas so amadas, mas somente aque- las que merecem ser amadas ¢ estas sio © que & bom, ou agradavel, ou titil”, pRASTOTELES 2012 159 Aristoteles afirma a existéncia de varias espécies de amizades e ad- mite que as mesmas estejam relacionadas aos objetos de amor, ou seja, de que amamos 0 que é bom, ou agradavel ou util ¢, portanto a ami- zade vai estar relacionada a isto. E preciso esclarecer que Aristételes concebe 0 homem como algo que realmente € ~ Ato; e algo que tende a ser — Poténcia. Ento, 0 ho- mem por meio de seus atos poderi ou nao realizar o que é em potén- cia, Isto ira ocorrer em busca de sua finalidade ~ a felicidade, Para is so, 0 homem dispoe da razao que lhe serve como guia, orientadora de suas acdes. Por meio da razio o homem ira construir, desenvolver habitos e formas de agir a partir da exceléncia moral, a virtude, que 0 possibilitara fazer as escolhas equilibradas para suas acdes € emogde: Ou seja, buscar a harmonia, Quando Arist6reles fala da amizade, ¢ que a amizade perfeita é a que se da entre pessoas boas, é preciso saber que, para Aristoteles, as Pessoas nao sio boas em si mesmas, mas © bem € a bondade estao | w ona nian em poténcia nas pessoas, que poderdo a partir de suas escolhas, atin- girem ou nao. ‘= pipyFecsmarensisorg Aristoteles pressupoe a existencia da amizade entre os diversos ti- pos de pessoas ¢ diz que demonstra 0 que seja uma pessoa boa ou ma € a exceléncia moral de suas agdes. “A amizade perfeita é a existente entre ais pessoas boas ¢ semelhantes em termos de exceléncia moral” WASTOTELES, 2001, p 156) | Fortne pequenos grupos, converse com seus colegas @ responda as questées a seguir: Em nossas escolas, de um tempo para ca, fala-se em “inclusdo": 1. O.que 0 gupo sabe a respeito da inclusdio? 2. Quem precisa ser incluido, onde, por qué? 3. Quais os tipos de exclusdes existentes em nossa escola e em nossa sociedade? 4. Pode-se dizer que temos ai um santimento de amizade que nos cobram em relacao ao diferente? 5. Que atitudes vocés podem ter enquanto turma em relagdo a acolhida e a inclustio? Apresente as respostas a turma para deb AS regras para o debate encontram-se na introdugao deste livro, te. Amizade ® ft 0 Determinante da Amizade Havendo enléo trés mativos pelos quais as pessoas amam, a palavra ‘amizade" nao se aplica 20 amor &s coisas inanimadas. j& que neste caso no ha reciprocidade de ateigdo, @ taribém nao haveré o desejo pelo bem de um objeto |...] mas em relagdo a um amigo dizemos que deverios de- sajarlhe o que é bor por sua causa, Entretanto, aqueles que desejam o bem desta maneira atriouimos apenas boas intengSes se 0 desejo nao correspondido; quando ha reciprocidade, a boa intengao € a amizade. (AAs: TOTELES 2001, 185) A amizade, segundo Aristételes, press rocidade. E um sentimento especifico para 0s nossos seme s. pois precisamos que nosso sentimento seja correspondido. E por isso que muitos co: | mentadores de Aristoteles € estucliosos do pens grego afirmam que a amizade para os gregos € 0 “(...) que tom © si, semelhan- tes © iguais”. «RN | Entao, segundo Aristoteles, “C..) pay ssi gas deve-se constatar que elas tém boa reciproca ¢ se desejam bem reciprocamente r jo amam um a0 outro ¢ém um do outro. nam por causa do prazer, espintuosas, mas porque e amam as outras por interes- mesmes, e aquelas que amam que ines € agradével, @ néio por- mas porque ela € Util ou agrada- Os amigos cuja afeigao 6 baseada no in por si mesmos, e sim.por causa de algum ‘O mesmo raciocinio se apica aqueles que se 1ndo por seu cardter que gostamos das pe: as achamos agradéveis, Logo, as pessoas ses amam por causa do que 6 bom para por causa do prazer amam por causa que a outra pessoa ¢ a pessoa que am ‘vel. AASTOTELES, 20010. 159, Ha espécies de amizade em q 1 busca pelo itil ou agradavel, algo passageiro, segundo Aristoteles, pois € uma caracteris- | tica do ser, que Aristételes chama de por se tratar de caracte risticas que nao sao permanentes, pois esti sempre em mu- danga, pelo fato de ser o resulta gum bem ou prazer Este tipo de amizade, segundo Aristétales, parece existir principalmente entre as pessoas idosas (nesta idade 2s pessoas buscam nao 0 agradavel, mas © Uti) @, 8m relagdo as pessoas que esto em plenitude Ou 20s jovens, entre agueles que buscam 0 proveito. Entre estas amizades se incluem os lacos de familia e de hospitalidade. @ASTOTEES 2001, 155-156 Aristoteles afirma que entre os jovens o motivo da amizade é o pra zer, por viverem sob a influéncia das emocdes e buscarem o que Ihes é agradvel, porém 0 prazer muda com a idade. Aristoteles faz uma ob- servaciio minuciosa das fases da vida e de como as emogdes € 0 pra- zer sao diferentes em cada uma delas, Nao est, contudo afirmando ou declarando que nao seja possivel outro tipo de amizade nestas fases da vida, mas demonstrando o que lhes € mais comum. Arist6teles apresenta em que consiste uma amizade perfeita. A ami- zade perfeita acontecerd entre pessoas boas e semelhantes em relacao a virtude, ou seja, as que fazem a escolha adequada de suas agdes emogdes € que querem o bem aos amigos por causa deles mesmos, cla propria natureza dos amigos e nao por ser agradavel ou titil. Toda amizade é baseada no bem ou no prazer. Portanto, a baseada no bem. 86 poder ocorrer entre pessoas boas. Quando se fala em bem, considera-se a ética, pois pressupée que 0 homem age sempre em busca de ser feliz. € que conseguira isto se bus- car 6 bem, pois o seu contririo lhe acarretard a infelicidade. As pessoas boas stio aquelas que possuem uma vida orientada pela busca do agit ético, visam 0 equilibrio em suas acdes e emocoes. Aristteles fala da amizade que se da pelo prazer ou interesse ¢ a que se da pelo que as pessoas so em si mesmas. Considera que a que se da por prazer ou interesse poder existir entre as pessoas mas, Mas a amizade perfeita s6 poderd ocorrer entre as pessoas boas € seme- Ihantes pelo fato de que amam a pessoa em si mesma, Vocé jf deve ter ouvido muito 0 ditado popular: “Diga-me com quem andas € te direi quem és”. Esse ditado popular € muito usado indo nos orientam a respeito de nossas amizades, de nossas com- ‘© Coster Bess tind The ( eStLaae, pr genes com 1 Paso Lema (1944-1989, de, Pois, podemos estar andando com pessoas mis sem percebermos que 0 que em nds as atrai nao € o que somos, mas o que lhes oferece- mos, ou temos a oferecer. E por isso que hd tantas decepgdes nas re- lagdes amistos: Bt Amizade e Sociedade Para entender as diversas decepgoes amistosas em nosso dia-a dia é preciso saber como funciona a sociedade, pois sentimen: to que fundamenta as relagdes soviais e todas as n s0 marca das pela “ditadura da utllidade", como afirmava Leminsk plica Leminski © que pensa ser a citadura da utlidade: Leminski discute 0 conceito de utilidade que perpassa a sociedade contemporiinea. E claro que esta discussao precisa ser analisada € nao simplesmente accita como uma verdade pronta € acabada. Basicamen- te a preocupaco de Leminski € a de apresentar que, para a sociedade atual, o mundo da necessidade sobrepoe-se 20 da liberdade, Porém, a vida, ou melhor, o que realmente da sentido a vida, esta relacionado ao mundo da liberdade, Conclui Leminski que isto € uma verdade pa- ra todas as pessoas, ou seja, que todos temos clareza disso. Seri que © poeta estd certo? De fato todos temos consciéncia de que 0 amor, a amizade sao a propria finalidade da vida? Aristoteles nos apresenta como finalidade o bem e, portanto, a fe- licidade, O que nos apresenta a respeito da amizade serve como refe- réncia para as relacdes sociais na sociedade capitalista que vivemos? O que Arist6teles apresenta como amizade perfeita € possivel na socie- dade onde predomina a ditadura da utilidade? © que dif sao inerentes © amor da amizade € 0 fato de que as emocoes a n6s, OU seja, esto em nés €, portanto, apenas se Mani- festam e, inclusive, até mesmo contririas a nossa vontade. Ja a ami de € uma disposicao de cardter, ou seja, algo que nao esti em nds mas que possuimos condigdes para adquirir. E para isso exercitamos nos- capacidade de escolha. A diferenga € no escolho se fico irado ou nao diante de uma dada situacao, mas o poder de controlar tal emo- ¢20, sentindo-a pouco, média ou muito, A disposicao de cardter € es- ta capacidade de escolha Voc? ji deve ter ouvido as pessoas falarem que “os amigos a gente escolhe, jd os parentes nao”. E de fato por ser a amizade uma disposi- Ao de carter, pressupde escolha. E A stoteles nos diz que a amiza- de € igualdade e, sobretudo, pressupde a reciprocidade. Sem recipro- cidade nao ha amizade. mw nnnoet 1m Bryce row ~ Grangas na ral, 1. Entendendo por ética a arte de bem viver, ou seja, a refiexdo que fazemos para agir em busca do bem, visando a felicidade, por que, ou de que forma a amizade 6 um dos caminhos para atingirmos 0. bem e, portanto a feicidade? 2. O fato de vivernos ern uma sociedade capitaista que tem como determinante a citadura da utilida- de, como afima Leminski, permite a amizade perfeita de que nos fala Aristételes? Justifique, aristotéica tem para nés alouma validade? 1. Ac pensarmos nossas relagdes amistosas € as relagdes socials, nossa convivéncia diria, a ética 4. Quais seriam os valores novos que vivenciamos e que podem substituir os propostos por Arstiteles? = 0 Homem: Animal e Racional Na ética Aristoteles, preocupa se em orientar 0 agir em funcao da FAza0, pois por viver em sociedade e em relacio a outros homens, de- senvolve-se por meio da raza a cultura, ou seja, o modo de viver que 2 pautado pela racionalidade A partir do que apresenta Arist6teles sobre a amizade e, obviamen- ©, como componente ético do agir humano, é possivel elencar a se- auinte questo: © homem é resultado daquilo que a natureza ea bio- ogia fizeram dele ou, € um produto do meio social e cultural? Oe) Par a importancia que Aristoteles dedica a amizade, a necessidade de 0 homem desenvolver determinados hibitos para viv sociedade e portanto, poder contribuir com o bem-estar; aprese ajudar na busca de solucdo a esta questo, tendo como foco a discussio do bidlogo Charles Darwin, que trata o homem er ser biol6gi- Co, ou seja, animal, © estudo que Charles Darwin realiza tem como fo- co © desenvolvimento da vida a0 longo do tempo no planeta. Nesta busca, Darwin parte da tese de que as diferentes especies de vida exis- tentes no planeta evoluem Mas ao considerar a evolugao da vida ¢, portanto, das espécies tra- ta o homem também como um ser que sofre os mesmos processos na busca de preservar a vida e a espécie. Esta abordagem considera 0 ho- mem em sua animalidade. E claro que ao fazer isso. Darwin nao quer negar o desenvolvimento da cultura € a influéncia da mesma para a vi da humana Em um dos capitulos de sua obra A origem das Expécies, de 1859. Darwin trata da luta pela existéncia, onde discome sobre como no meio animal as diversas espécies agem em bus intir Sua exis- téncia. Darwin denomina luta por entender q n confit de in- teresses entre as diversas espécies que habil io € que procu- ram em fungao do meio garantir a existéncia Tudo 0 que podemos fazer ¢ ter sempre em mente a idéia de que todos ‘08 Sores vivos paejam por aumentar em proporeao geomética, @ que cada ‘qual, pelo menos em algum periodo de sua vida, ou durante alguma esta- go do ano, seja permanentemente, ou entao de tempos em tempos, tem de lutar por sua sobrevivéncia e esta sujeito 2 softer considervel destrui- (Gfo. Quando reiletimos sobre essa iuta vtal, pdemos consolar-nos com a plena convicgdo de que a guerra que se trava na natureza néo 6 incessan- ‘te, nem produz panico; que a morte geraimente sobrevém de manera ime- diata e que os mais resistentes, os mais fortes, os mais saudaveis ¢ os mais falizes conseguem sobreviver © multipicar-se. OARNA 1904.87) Da sir da série de observagoes que fe natural ocorre constantemente a luta pela sobrevivencia, ¢ isto & visi- >mem no meio. win apresenta uma conclisao a da natureza, O que € bastante de que no reino vel, sobretudo quando se observa a i Destaca-se 0 fato de que, para Danwin mem é um animal € que por mais vantagens que tenha sot sos demais ¢ sobre meio em que vive também ele € mov suas caracteristieas ani- mais, que interferem em sua vida cotici As caracteristicas animais do ser humano estarto sujeitas ou nao a sua racionalidade, Portanto, quando se estuda em Aristoteles que ho: mem é um animal racional, constata-se que a vantagem do homem so bre os demais animais se dé pelo usc 2 da razao. A abordagem do tema amizade se torna desafiadora a0 observar que © mesmo ho- mem que, segundo Arist6teles, por meio do desenvolvimento de sua razao tem o dominio de suas emocoes, sentimentos agdes, ¢ também movidos por sua animalidade, onde predomina scjos e instintos. 10 de um pensamento ético possivel, pautado na racionalidade como quer Aristoteles é possivel ignorar 0 outro lado deste mesmo ser, ou seja, sua animalidade? Pensa-se (©, pois tais preocupacdes deram origem a outras ciéncias que buscam estudar e enten- der como se dé 0 equilibrio entre © que ha em cacla ser humano: 0 animal e o racional Por isso, € bom lembrar que o proprio homem € um ser em evolucao, como afirma Da- win, mas, sobretudo a ser descoberto como se pode constatar com o desenvolvimento de ou- tras ciéncias que 0 tm como seu objeto principal de estudo e pesquisa. Escreva, em seu cademo, um texto discutindo a questéo da amizade e a possibllidade ou nao da ‘mesma entre os seres humanos, haja vista, serem os mesmos animais e racionais I Referéncias ARISTOTELES. Etica a sidade de Br émacos. 4° ed. Tiadkugao de Mério da Gama Kury. Brasilia: Editora Univer- sfia - UNB, 2001 DARWIN, ©. Origem das Espécies. Ris cic Janeiro: Vila Rica, 1994 LEMINSK(, P. Ensaios e Anseios Cripticos, Curtiba: Polo Exitorial do Parana, 1997 ROCHA, R.. BRITO. J. G. de. © rei que ndo sabia de nada. Rio de Janeiro, 2° Ed. Salamanca, 2008. ROOS, Sir D, Aristételes. Lisboa: Publicagdes Dom Quixate, 1987, SAVATER, F Etica para meu filo, So Paulo: Martins Fontes, 2002 UNAMUNO, M. de. © Semethante. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda e RONAI, Paulo. Mar de Histrias. Antologia do conto mundial. Vol 9, 4* ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. MEIRA, A. Sermées. Sao Paulo: Ecitora das Améncas, 1957. V. 6, p. 333-385. VERNANT, J. 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