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Marcio Pochmann - Reprimarização Da Economia Brasileira
Marcio Pochmann - Reprimarização Da Economia Brasileira
Neste primeiro quarto do século XXI, contudo, nota-se uma nova dinâmica urbana
em curso no país. De forma concomitante com o esvaziamento da sociedade
industrial, ocorre o fenômeno da desmetropolização, que se expressa pela
estagnação dos grandes centros urbanos, protagonizada pela perda do dinamismo
econômico e populacional.
Para o Brasil como um todo, a economia apresentou, entre 2002 e 2019, a variação
média anual de apenas 2,3%. Das 27 unidades da federação, oito estados registraram
desempenho econômico ainda pior que média nacional no mesmo período de tempo.
A maior parte dos estados com estagnação econômica foram justamente aqueles com
maior peso industrial, cuja produção, em geral, direciona-se para o mercado interno.
Dos estados com pior desempenho econômico no período, destacam-se: Paraná
(2,2% a.a.), São Paulo (2,2% a.a.), Bahia (2,1% a.a.), Minas Gerais (1,9% a.a.), Rio
Grande do Sul (1,7% a.a.) e Rio de Janeiro (1,3% a.a.).
A perda de vigor nas regiões produtoras para o mercado interno seguem a trajetória
da desindustrialização e, por consequência, da desintegração sistêmica da dinâmica
nacional. O Brasil cada vez mais conectado com o mercado externo, pouco contribui
positivamente para o mercado interno, portanto somando pouco para o nível da
produção nacional, para o aumento do emprego e para arrecadação tributária.
OUTRASPALAVRAS
Marcio Pochmann
Publicado em 07/02/2022
Para assumir o centro dinâmico, três são os seus elementos constitutivos: moeda de
curso internacional, poder militar e produção e difusão tecnológica. Uma vez
constituída essa tríade centralizadora, a hierarquia do sistema capitalista se
consolida, sendo atualizada ao longo do tempo a relação direta e indireta com a
periferia de países e regiões do mundo.
O que sobra ao Brasil atual tem sido o avanço do capitalismo de plataforma que ao
destruir o emprego de classe média e do operariado industrial encaminha à
desproletarização a serviço das grandes massas e à situação da mera subsistência.
Nestas condições, o papel do Estado tem se limitado à gestão das emergências,
buscando postergar – como se comprasse tempo – a própria barbárie.
Para tanto, o Estado busca oferecer ao andar “de cima” a valorização financeira do
estoque de sua riqueza velha, enquanto ao andar “de baixo” restam os programas
assistenciais de formação de clientelas. Essa perspectiva não abre a possibilidade de
reversão da trajetória periférica atual que já acumula oito anos de decrescimento
econômico em meio à simultânea consolidação do país como quarto maior
consumidor/importador de bens e serviços digitais e como primeiro exportador de
produtos primários do mundo.
https://outraspalavras.net/crise-brasileira/pochmann-retrato-da-regressao-
brasileira/
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brasil/
MARCIO POCHMANN
Economista, pesquisador e político brasileiro. Professor Titular do Instituto de
Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi presidente da
Fundação Perseu Abramo de 2012 a 2020, presidente do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, entre 2007 e 2012, e secretário municipal de São Paulo de
2001 a 2004.