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I ASPECTOS GEOPOLITICOS DO BRASIL—1959 1. GEOPOLITICA E “GEISTORIA” OMECEMOS DEFININDO nossa fé geopolitica, carteira de idengj Cc dade a exigir-se sempre, prudentemente, de quem quer se proponha a versar temas de natureza tao controversa ¢, por muitos, imputada de gravissimas Suspeicdes—nao de todo sem raz4o, convenhamos, pois certas correntes geopoliticas Nunca soy. beram livrar-se de um estreito e simplista determinismo Beogrs. fico ou de um rangoso organicismo 8Tosseiro, havendo servido até, submissas ou entusiastas, as loucuras e crimes de alguns im. perialismos megalomaniacos. i Para nds, a Geopolitica nada Mais é que a fundamentacio geogrifica de linhas de aco politicas, quando nao, por iniciativa, a proposicao de diretrizes politicas formuladas a luz dos fata geogrdficos, em particular de uma andlise calcada, sobretudo, nos conceitos basicos de espaco e de posi¢do. Um dos ramos, portanto, da politica, como a imaginara o proprio Kjellén sempre a qua. lificou, entre nés, o mestre Backheuser: “politica feita em decor. réncia das condices geograficas”. Nao seria justo, assim, confundi-la com a Geografia Politica nem Ihe negar o duplo cardter, quase de todo indissocivel, de ciéncia—na conceituacéo e fundamentos—e de arte-na praxis— que a prépria politica admite. E, por isso mesmo, com) inter. pretacdo de uma realidade geogrifica e politica e, principalmente, como projecao de interesses e aspiragées nacionais, s6 velerd para mente brasileira. __Estendé-la ao passado, entretanto, na andlise retrospectiva das importantes correlacdes sempre existentes entre os fatos geogra- ficos e a evolugao politica de um POVO, seria, a nosso ver, extra- Nunca poderiam, alids, Prevalecer as sugestées, j4 de si mes- ituicaéo do termo, cada vez mais con- " ante os fatos, a inspirar-se mui- endé-los” do que “justifica-los”. hasse o nao ser propriamente cientifica € neutral opdsito de “compre nvergon. uma “atitude is no prop’ come * Geopolitica e ume citnciat do a ambigitidade desfavordvel que resultaria de re- e, o titulo de “Geistéria” ao estudo da his- i Terra, de sua evolucio, nao parece se devesse atribuir-lhe Gala 8 ro sentido que nao 0 de um ramo particular da cién- mals wr Oca recisamente aqucle que buscasse por em primeiro Ga histories: dancia a fundamentagao geografica dos fatos hist6- ano a oe isso endossar os exageros desacreditados de um iC Me um Huntington. E nem se diga que viria assim Buc aid com a propria Geografia Historica, pois a esta in- eae re ecial, reconstituir a geografia do passado € estudar eumbe, om Oe ’ s através dos tempos, como nos ensina ortar-se, correntement as modificagoes geografica’ Preston Jena tal “Geistéria” caberia, sem duvida, a andlise da fundamentagio geografica dos fatos politicos—acontecimentos, instituigdes, ideologias—em sua contextura histérica €, pois, 0 exame detido das geopoliticas do passado. io De acordo com essé entendimento que nos parece o unico ra- zoavel, a Geopolitica é sempre atual e visa propriamente ao fu- turo, enquanto essa “Geistoria” se reportaria de todo ao passado; a primeira é, de fato, um ramo importante da Politica, ao passo ue esta seria mera componente da ciéncia histérica, muito mais ampla que aquela no considerar a totalidade dos acontecimentos 4o haveria por que restringi-los apenas aos de natu- sociais que nao a reza politica, nem, muito menos, aos que, de verdade, decorressem de diretrizes conscientemente tracadas para a acao politica do Estado. Nos t6picos que passaremos a tratar, sairemos, portanto, € muitas vezes, do campo propriamente geopolitico para incursdes em setores que melhor pertencem ao que se poderia compreen- der como “Geistéria”, se de todo nao nos repugnar denomina¢ao tGo ambigua e talvez mesmo supérflua. Que tais incursdes serao sempre uteis e até indispensdveis & andlise geopolitica é coisa indiscutivel e que nem merece apologia. E, pois, é bem natural que, ao limiar mesmo de um simples esboco de diretrizes geopo- liticas para o Brasil de hoje, indaguemos de algumas constantes geistéricas” que mais ressaltem de nossos quase cinco séculos de existéncia para o mundo da civilizagéo e da cultura. 2 AS LINHAS TRADICIONAIS ALGUM DA GEOPOLITICA ou DA “GEISTORIA” BRASILEIRAS era o simples espaco bruto, virgem das pegadas paisagem descomunal e variada espraian. dose por todo um vasto planalto See homogéneo e as ‘cies ndo menos amplas que © prolongam de norte a sul, por ‘arco do ocidente. Mas, mesmo nesse espago rarefeitamente onivilizado, selvagem e, portanto, verdadeiro vazio Jhar penetrante do historiador vislumbraria ja formadores de fronteira”. e Cortesao (esquema 11): “Sobre este espago continental, situado nos trépicos tmidos ¢ rodeado insularmente pelo sistema hidrografico platino—amaz6- nico, de tragos muito vigorosos, destacavam-se, envolvendo-o num certas zonas de relevo dspero, declive arco de circulo irregular, abrupto ou profunda depressao, que opunham forte obstdculo a expansio humana [...] Apontemos [...] as mais caracteristicas: ao Norte, a linha de serras que se estende desde a Tumucumaque até A de Parima, passando pela Roraima; a Noroeste, as cachoci- ras do Uaupés € do Japurd; a oeste, 0 trecho encachoeirado do Madeira, as vastas depresses alagadigas da planicie de Santa Cruz de’La Sierra e do Grande Pantanal; finalmente, mais a0 sul, 0 Salto das Sete Quedas sobre o Parana, o Salto do Iguacu ¢ 0 Salto Grande do Uruguai.” Por mais que, em sua incrivel mobilidade de némades superior- Rete em quaisquer rios, os Aruaques e, tam- geogr: fico ¢ de eae fossem capazes, gracas a seu inato senso miidaveis, desbord, ntacdo, de desprezar todos esses marcos for- raculosa ‘conti; dando-os ou transpondo-os mercé de quase mi- Tocca, Cominuidade das bacias hidrogrificas.riquissimas de cuito pelo interior platic verdade é que, completado vasto cit- sraglo de noeiCt platinoamazénico e muito avangada a. mi J4 agora mal ou bem unifice! do litoral atlantico, os aborigines, gua geral” e de cant tnificados pelo poder aglutinante da “lin- de Quinhentos [. ) a preuaranitica, “ao comecar o século sob Torma ondiande re aguravam sobre o territério, ainda que América do Sui cone fundacao colonial dos portugueses, 14 o A unidade fgg, swinala, ainda, o mesmo Cortesio. império lusitang da qyeconomica e humana precedia, assim, ‘radicionais comunica érica, superando, gracas as facilidades ses pelo geossinclinal aberto do inte 66 princiPIo, era 0 A\ do homem politico, te 7 geopolitico, 0 “faixas ou centros to ‘Com a palavra Jaim ESQUEMA 11 FAIXAS OU CENTROS IFORMADORES DE FRONTEIRAS| 5 (Sengundo Jaime Cortesdo) rior, 0 poder de dissociagio com que correntes atlanticas diver- gentes—a do Brasil e a das Guianas—, aliadas 4 vulnerabilidade €xtrema da navegacdo perlongando um litoral constantemente batido pelos entrelopos de todas as origens e por freqiientes naus dos inimigos da Coroa, tendiam a fragmentar o conjunto soberbo em duas nitidas mas truncadas porgdes. O desmembramento tem- Pordrio do Estado do Maranhao e do governo-geral do Parad nao sited em verdade, senio um amoldar-se reticente a essa pressdo “sagregadora, melhor sentida talvez na metropole distante. 67 P tender resumir sequer todo o }, cateriam05 24 Patina afirmacao da consciéncig co - forme territorial, que romperia, ao cabo de séculoy ; nia . minguado carcere do meridiano de Torde. e peripécias mul, mo, condensa ele todo o sentido imanente da silhas. Em st te agreste desse surpreendente Brasil colonial, historia colori one mantido uno € coeso sob as mais Perigo. surpreendentems franceses, ingleses, holandeses e espanhéis—na sas investidas ao sul, no Nordeste, no Norte, ao longo da Bahia € no » 0 su ae Amazonas € a0 arrepio dos formadores do Prata—, e viria cul- maz g minar na magistral | obra politica de Alexandre de Gusmao, pro. ‘depois, até o Brasil reino o Brasil império, Vigo- Jongando, a0 dm que se radicam, afinal, os seculates embarce rosas projego layina, as intermindveis questées do Prats: em torno (a igo esmagamento do Paraguai de Solano Loves nao menos 0 ce Rio Branco, através de uma intransigente E na Repubfice1 defesa do principio do uti possidetis, mesn pear Ponsciéncia vigilante e ativa, num admirdvel testemunho de feliz continuidade histérica. woes .. Melhor que ninguém vem de expor as fases iniciais decisivas desse processo, mestre Cortesao, no ensaio que dedicou a figura excepcional e tdo discutida desse bandeirante portugués, Antéd- nio Raposo Tavares, e onde o mito politico da Ilha-Brasil—o de um Estado perfeitamente delimitado a leste pelo oceano Atlan- tico, desde o delta amazénico ao estudrio platino, e, a oeste, por dois grandes rios nascidos, em oposigao, de um mesmo lago imen- so do interior—ganharia foros de idéia-forca poderosa, expan- sionista e agressiva, a inspirar muitos dos desmesurados feitos do bandeirismo aventureiro e audaz e a sempre presente acao politica, realista, objetiva, incansdvel e por vezes maquiavélica, da metrépole portuguesa. A existéncia de uma grandiosa idéia geopolitica, nio apenas florescente nos conhecidos devaneios do Padre Antonio Vieira, a nortear efetivamente, muito acima de meros exclusivismos de ganancia fiscal, toda a atividade da Coroa, vem a configurd-la também, em relacdo as fronteiras meridionais, documentado estudo do Professor Ferrand de Almeida sobre a diplomacia Portuguesa no Prata, Nao P rocessO tiva dessa Ul im Te significagho geopolitica dese hoje tho melancélico ainda rio Sfio Francisco, articulador natural de todo o promonté- aindjordestino ao centro metropolitan da Guanabara, através Te Minas Gerais, € antigo condensador de populacio € econo- mias florescentes; fn j is importancia das miltiplas ligacdes nordestinas pelo inte rion, a cavalciro de intermindveis chapadées, soldando pelas cor rior. cquremos distantes dos vastos € imbricados arcos costeiros; OF iizacao dos intimeros varadouros ou istmos que interli- in bacias hidrograficas dos mais variados quadrantes, tendo per- Ro do extraordinarios € memordveis périplos fluviais do pla- nalto; . . ne salvaguarda de fronteiras distantes € a afirmacio ai da so- perania territorial, mediante a s4bia disposigio de nucleos defen- sivos, tamponando estrategicamente todas as abertas a penetracao desde o exterior; xe sensibilidade ao valor geopolitico capital das regides inte- rigres do Guaird, do Itatim, de Potosi-Chiquitos—o Oeste para- naense, 0 Sudoeste do Mato Grosso € os contrafortes andinos no Tivomtium aquarum entre o Amazonas ¢ a bacia do Prata—que flanqueiam, do sul para o norte, o planalto—coragao do Brasil e barram o caminho do médio e alto Parana por uma e outra de suas margens ou dominam o talvegue do Guaporé-Mamoré que, cumprido seu papel de diviséria, leva diretamente ao mundo amazonico do Madeira; —o senso de indispensavel plasticidade politica em face do tre- mendo e novo problema criado pela vastidio da imensa_base {isica tropical propiciadora das diferenciagdes regionais ¢ inspi- radora das autonomias locais mais rebeldes, traduzindo-se na pe pétua oscilacao entre a centralizacao € a descentralizagio admi- nistrativas, pelo recurso seja 4 dinamica vinculadora dos trans- portes, seja a expedientes de férmulas politicas compensadoras— tal como o demonstra exemplarmente Oliveira Viana em seu dlssico estudo sobre a Evolugdo do Povo Brasileiro; —o comércio intensivo tanto com o Prata ¢ Tucuma como, a ceste, com as populagoes andinas da Bolivia ¢ do Peru, a despeito mesmo das fortes barreiras opostas por um ciumento e feroz mo- nop6lio da Espanha; —o intercambio nao menos freqiiente € 4 vigilancia sempre constante em relacao ao litoral fronteiro da Africa, onde a pre- senca dos homens do Brasil colonia soube fazer-se to afirmativa, sobretudo nos séculos XVII e XVIII quando Salvador Correia de $4 conduziria a bom termo a expedicao de reconquista da An Rcome nos contam Vivaldo Coaracy € o eminente historiador arles Boxer. Breguemos a isso: 69 algo ainda difusa, de uma comuni, por AiRn vasto Circuito, desde o Rio Grate ‘clos Acores € 0 Portugal peninsular até le tlintico centro-meridional onde ‘T tin Guiné ¢ Ange pocal relevante ponto de apoio entre Rio e Luanda dade, ao sul, ™ sa que dia a dia so faz se afirmar, passados, de —consciéncia eas ressentimentos da propria campanha da hd muito i e as desconfiangas subseqiientes que tanto turya. independ itados anos daquele nosso téo romantico Primeirg jéncia, T ns a oeira, debrus Juso-brasileit a Natale 0 =o sentimento de uma genuina identidade cultural com 9 en . ‘ ‘lo latino e catdlico de além-mar, de que a Franca seria, por lene periodo € até bem poucos anos, 0 paradigma admirdyvel, 0 tudo imitado; . . ; as aban ricanismo, alicergado no reconhecimen. iri -ame! —o espirito do pan-amé al to de at unidade continental que os perigos externos ameaca- dores deste nosso século conturbado poem, cada vez mais, na categoria das realidades indiscutiveis, € sem cessar triunfante, até hoje, de inimeras € graves divergéncias, de agudos choques de interesses e dos receios, nao de todo infundados, por certo, contra interferéncias descabidas e prepotentes dos mais fortes; e teremos, sem dtivida, um quadro, a bem dizer completo, das principais linhas tradicionais, geopoliticas ou simplesmente “ge- istricas”, que devem todas ser ponderadas, em qualquer tenta- tiva de esbogar diretrizes 4 ag4o politica brasileira, no campo interno e na frente internacional. 3 PRINCIPAIS MODIFICACOES ESTRUTURAIS DA SOCIEDADE BRASILEIRA EM FACE DA EVOLUGAO DO AMBIENTE MUNDIAL E, EM PARTICULAR, DO PANORAMA AMERICANO R inatads geet’ 280, R complexidade j4 tantas vezes as- lado, formagées fens Tso brasileiro em que coexistem, lado a muito distinto de evolucie, eee ceurais diversos, em grau uma recapitula do niaeres ao que oferecendo ao observador ‘4 propria seriacio tem a0 largo do espaco territorial imenso, NOs, portanto, as aa desigualmente concluida. E ate- numa *, @ 8r0ss0 modo, peat “s dominantes, capazes de serem Visio simplificadora ‘0 caracteristicas de todo o conjunto, mas, nem por isso, menos elucidativa- 70 ndmico, ultrapassadas, embora nunca de todo formas pré-capitalistas, a partir das mais rudimentares—a caca as Bepesca_ primitivas ‘a simples coleta dos frutos da terra, a la Goura itineramte © predatdria com todo 0 seu complexo da quei mada—, © através do pastoreio extensivo € rude, aos azares de uma smadtea propicia, € que criaria. 10 Nordeste, a singular “civil qacio do couro” ‘de que nos fala Capistrano, e, nas lindas meri- Monais, moldaria a figura bizarra do gaiicho; dos amplos lati- findios dos senhores do Centro-Sul, verdadeiras autarcias onipro- Gutivas instaladas em grandes dominios fazendeiros sob a prote- mde seus clas guerreiros, tal como os descreve Oliveira Viana; ‘ora patriarcal baseada no trabalho servil € que, sob 0 pepolo da casa-grande e da senzala, mereceu de Gilberto Freyre monumental € iefinitivo estudo; da mineracao aventu- Freyre avida que esgotaria, em pouco tempo 0s mais ricos placers, Tob a vigilante cobica de um fisco inexoravel—a sociedade brasi- Jeira vai atingindo agora 0s mais elevados tipos estruturais, pela iigustrializacao intensiva, nao confinada aos meros bens de con- sumo mas alicergada na grande industria de base, com vistas as inegaveis potencialidades amplas de um mercado interno faminto de produtos de toda ordem ¢, nao menos, as possibilidades de uma concorréncia, ‘da muito dificultada de inicio, no proprio campo internacional. Nao mais a exclusiva produgio 3 Peng primarios, de matérias;primas ¢ outros produtos de ex- cao, sujeita a todas as escorchadoras imposigoes do exterior ¢ jungida inteiramente, nos moldes das classicas plantations, 20s interesses imediatistas de empresarios € capitalistas estrangeiros. Nao mais a secular renovagao de ciclos econémicos—o pau-brasil, 0 agucar, 0 OUTO, a borracha, o café agonizante—conduzindo afi- hala estagnacao € ao desalento, apés um periodo, mais ou menos efemero, de euforia e riqueza. E certo que o desenvolvimento econémico acelerado, na Ansia de queimar etapas, pode gerar, Dor si mesmo, as mais sérias cri- ses—de crédito, de divisas, a inflagdo, as sucessivas greves, Imsa~ tisfagdo e motins; agrava, em muitos casos, fundamentais pontos © constante deficit de energia, a No campo econ se bem que ain’ de estrangulamento do sistema— insuficiéncia alarmante de todos os servicos urbanos, a falta de téenicos, a deficiéncia de mao-de-obra capaz; onera, terrivelmente, ipamento de cir- as sempre reduzidas disponibilidades de um ea’ ‘ardo com relacao 4 demanda; culagao constantemente em forte ret aumenta cada vez mais o alarmante descompasso entre uma agtl- cultura atrasada, de rendimento ainda muito baixo, e uma, indus- tia em promissor avanco, a despeito mesmo dos gravames iniciais que lhe tolham a produtividade; aumenta, dramaticamente, © perigoso desnivel entre as varias regides do pais, exacerbando os contrastes e criando zonas marginais ¢ areas-problemas—uma Per contrastes ¢ criando zonas mE em derredor de alguns muclecs 71 vgn de lead mo de expan econ Mas no que mais importa, esse desenvolvimento p\ fetiva i 7a¢40 faz pre nunciar, afinal, uma libertagao ere Seon co ‘agao aos gran. des centros externos, motores do « linamismo econ: mico mundial, e implicara, em beneficio da unidade e€ da coesio Facionais, na articulagao cada vez mais s6lida das diversas porgdes do amplo dominio, mesmo as mais distantes ou mais. excéntricas, a nuicleos radicados no préprio territério e, sobretudo, orien. rr genuinos propdésitos nacionais. oe a polltich, ie de lado a espetacular sucessio de formulas adotadas para as instituicoes, tanto nacionais como lo. cais, até chegar-se a republica federativa e ao regime represen- tativo ¢ presidencial que af temos, 0 que mais vale assinalar—por sob a dinamica partidaria, 0 estilo tao criticado € tao criticdvel da vida publica, o funcionamento precario do sistema opiniao publica-governo-e-propaganda, a ingeréncia tao poderosa e sutil do poderio econémico—é o inegavel processo de maturacdo poli- tica das massas, cada vez mais adensadas nos grandes e médios centros populacionais ¢, dia a dia, gracas & penetracao dos milti- plos meios de comunicacao e difusio de idéias, mais atentas ¢ mais participantes da vida publica. O velho senhor de engenho, patriarca todo-poderoso, jd de hé muito se foi, como vai pas- sando também a historia do passado a figura tradicional do “co- ronel” do interior; as velhas e orgulhosas aristocracias rurais ce- deram inteiramente a dianteira a novas elites—a burguesia co- mercial, os “bacharéis", os bardes industriais—que nem chegam a firmar-se solidamente no usufruto remansoso das posig6es con- quistadas, em face de press6es novas que lhes chegam de baixo, agressivas € arregimentadas, e da sempre crescente infiltracdo nas deve rt elementos estranhos, aspirados pela elevada capi- glentemenn c au a pea, cambiante ao extremo e mesmo fre- Geretenn ne oe lo, admite e propicia. O idedrio poli- de indisfarcdveis ime ae ‘nao menos aceleradamente, ao influxo oso das mutagées ty iced econémicas e sob o estimulo pode largo, tio agitado as « Processam, sem cessar, neste mundo ao gundo uma peace e nico. De qualquer forma, porém, se- ivas freqtientes e lamentavels, Huclqeer doe sect 3s rect © qual se tenham apresentadi Fe ele ine iar nonule 220 7 ‘0 € mantido, o progresso no sentido uma democratizacs i : vel ¢ inegavel. 9° efetiva da vida politica nacional é sensi- No cam i i Aas fe bss Cossocial, a despeito dos enormes tropecos e de ; , a educacdo ganha novos impulsos, vez mais amplo e desviando-se de aoe, plo e desviando. wentasio Para formas mais técnicas e bem an 4s crises intermindveis, econdmi- ‘zar 0 problema social, pela crista- 72 propulsores tizagio de classes bem diferenciadas e cada ver mais conscientes de sua existéncia como grupos em oposicdo ou ferrenha concor- de tia, por outro lado, o sentimento profundo da unidade na- cional, 0 orgulho pela terra € pela gente, um espirito nacionalista cn duvida muito a flor da pele € 0 seu tanto primario, sujeito or isso mesmo a distorgdes bem ou mal inspiradas, séo fatores, entretanto, de um enrijecimento. benéfico da estrutura psicos- crtial da Nac&o. Os padroes sanitérios melhoram, na verdade, embora nunca tanto nem tao rdpida ou seguramente como seria Ge desejar. Enquanto que—para lamentar—o tono de moralidade, Sob a pressio das vivas dificuldades econdmicas, da_competigao Sesenfreada, do ritmo agitado e cansativo da vida e nio menos a0 Ssumulo de muita propaganda perniciosa, decai visivelmente, co- tno alids seria mesmo de esperar em uma sociedade que se carac- teriza pot tio elevado indice de mobilidade social, sob o signo aziago da inflacao. , . No setor demografico, em particular, registra-se um crescimen- to quase explosive da populacao e, a despeito do tumultuar ir- requieto. das migrac6es internas descontroladas e do persistente éxedo rural, avanga para o interior, lenta, desordenada, irregu- lar, mas constantemente, a vaga vitalizadora do povoamento, co- brindo hoje, quase sem grandes lacunas que valham, embora com densidade média ainda bastante fraca, toda uma faixa litoranea de seus 500 quilémetros de largo, do Rio Grande do Sul ao Ma- ranhao. Evoluimos, poise ndo pouco—, da ténue colonizagio periférica que caracterizava ainda o Brasil nos comegos do século XVII, para a ocupacio de ampla base de partida, favoravel & ma- nobra que teremos de realizar, da incorporacao real do imenso dominio do interior, praticamente ainda o desertdo, 4 comuni- dade nacional. Ora, enquanto penosamente progrediamos segundo as linhas gerais que ai ficam grosseiramente apontadas, 0 mundo que nos rodeia sofria o impacto tremendo de duas revolugées industriais que acabariam por alterarthe profundamente todos os padrées iimensionais, a escala toda do espago e do tempo, avizinhando as mais distantes paragens e pondo em intimo contacto as mais apartadas culturas. Submergiram, nos cataclismos de duas guer- ras de projecdes mundiais, as Grandes Poténcias orgulhosas de outrora e os pélos da dinamica econdmica, politica e militar que galvaniza o mundo todo, transferiram-se bruscamente a regioes Novas, inaugurando estilos completamente diversos nas relagdes internacionais. Despertam afinal os povos da Asia de seu contem- Plativo marasmo secular e as populagées milenarmente explora- das da Africa encontram o caminho da redencao na dspera luta contra um colonialismo em franca decomposicéo, mas que se nega, entretanto, a reconhecer a derrota. Mais cerca de nés, os paises da América Latina, através de sé- 73 culos, como os nossos, igualmente dificeis—de provacées, de sa trificios, de lutas ¢ de crises sucessivas—, prosseguem, paratel., mente, na conquista de mais altos padrées culturais ¢ Politicos @ cm busca do revigoramento de suas também débeis estruturss econdmicas. Dissensocs velhas € tradicionais desconfiancas variag esbatemse aos poucos ¢ afirma-se um sentimento de solidariedade continental, sob o calor das praticas de uma “boavizinhancx" compreensiva € sem subterfugios. A América Latina toma cons. ciencia de fato de sua inegdvel expressio geopolitica, niio s6 po. tencial mas jé atual, enquanto que a sombra projetada pelos Estados Unidos da América, elevados estes, agora, a categoria de superpoténcia lider reconhecida do Ocidente e€ de responsabi lidades, portanto, ampliadas a uma escala universal, deixa aos poucos de gerar os mesmos receios que tanto vicejaram em épo- cas anteriores. E ressentimentos—que os ha, e fortes—sao até de outra ordem; reclama-se hoje, neste particular, uma ajuda e uma assisténcia que, em verdade, nem mesmo seriam sequer conside- radas em épocas mais distantes. 4 OBJETIVOS NACIONAIS PERMANENTES DO BRASIL A Luz pas jé assinaladas linhas tradicionais da nossa “geistéria” € consideradas as principais mudangas estuturais da socie- dade brasileira, em face da evolucao do ambiente mundial, sera © caso, agora, de indagar-se como se poderiam definir, sumaria- mente, os Objetivos Nacionais Permanentes que devem inspirat toda a nossa acdo geopolitica, tanto no Ambito interno como no campo internacional. “ Sinceramente nao cremos se possa chegar a outra formulaci0 que divirja, a nao ser em pormenores de pouca monta, da qu¢ em esséncia, alinhe: . ~a salvaguarda intransigente de nossa independéncia politica, admitidas, embora, autolimitagdes, nunca essenciais, da sober ae Facional, em beneficio da cooperacio e da paz internacio cada, Mautencio de um estilo de vida democratico, com bases ae is amplas na participacdo efetiva ¢ conscien| avr Strantia das liberdades regionais (sentido federativo) ¢ 4 tonomia local (municipalismo); fr da unidade do grupo nacional, através de cre justiga sock Social, com fundamentagao nos princip! € da moral crista; 74 _a incorporacio efetiva de todo o territério nacional, humani- Adose e valorizando-se os largos espagos ainda vazios; pep fortalecimento equilibrado da estrutura econdmica, de mo- dos assegurar elevados niveis de bemestar € cultura a todo o 9 a, em todas as regides do pais, € garantindo-se o grau de auto- poeieneia realmente indispensavel ao pleno exercicio da propria soberania nacional; oe a manutencao do status quo territorial na América do Sul, contra quaisquer tendéncias revisionistas ou a formacio de blo- fos regionais, politicos ou simplesmente econémicos, que possam oe a constituir ameaca & propria paz do continente; Ta cobustecimento da solidariedade e cooperacao entre os po- vos da América, para o progresso geral e a defesa continental; * S fortalecimento do prestigio nacional no ambito externo, com base no principio da igualdade juridica dos Estados, ¢ a Comcente projec do pais no exterior com vistas salvaguarda ‘Sficaz de seus proprios interesses e em beneficio também da pré- pria paz internacional. val 5 O BRASIL DE HOJE NO MUNDO CONTEMPORANEO Q" ossrAcutos de monta se apresentam hoje 4 consecucio ou salvaguarda de tais Objetivos? Com que antagonismos, atuais ou simplesmente potenciais, nos havemos de defrontar? Que ameacas se fazem sentir ou se prenunciam? Uma rdpida apreciagao do panorama do Brasil de hoje no mundo contemporaneo permitir-nos-4 distingui-los sem dificul- dades maiores. Detenhamo-nos sucessivamente: numa perspectiva brasileira do mundo; na vizinhanca latino-american: —no “império” brasileiro. a. UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA DO MUNDO Tomemos um mapa do mundo em projecao bem centrada so- bre a regido mais vitalizada e dinamica do Brasil (esquema 12). Sobre uma tal perspectiva—que valoriza 0 eixo Américas—An- tértida—Austrdlia, a separar nitidamente um hemisfério das Aguas Tepresentado pela imensidao imponente do oceano Pacifico € seus 75 ESQUEMA 12 incontaveis arquipélagos, de um lado, e, do outro, 0 hemisféri macigo de terras do Antigo Continente, com suas projeoes taculares em ambos os extremos diametrais; que reduz, as ieee verdadeiras proporcées nada mais que peninsulares, a velha : ropa recortada, ao passo que avulta em plano singular 2 mo 4 compacta da Africa; e que caracteriza o Atlantico como um not : mediterraneo, igualmente cinturado, mais aberto entretant¢ influéncias e ameacas externas em uma de suas extrem f 76 - 0 ECUMENO som temic? 915, sronge GB sre0s Anecuménica EB Zonas de mais de iOns /Kmt ESQUEMA |3 de qualquer forma adequado a escala muito acrescida do atual dinamismo internacional—ajustemos um dispositivo das massas humanas e dos vazios anecuménicos ainda existentes, um esque- mma das principais linhas de relevo e a trama dos grandes troncos la circulacao mundial. Ali (esquema 13), em face da disposicéo quadrangular dos 77 ESQUEMA 14 O RELEVO — Dobramentos raised Populagdo que balizam, muito mais acentuada oe aquam ¢ elect: 9s didmetros das duas bacias aclantict, africano da Nige ™m equador—o brasileiro-platino fronten of te-americana-eae aaa € Costa do Ouro, a plataforma orienta ae Sus prolongammene ens ,delrontando-se com a massa europtr’ £ impressiona sobre Pel? Notte da Africa e pelo Oriente MeOr Sobretudo o vasto e denso arco da humanidade 3 78 ESQUEMA 15 A CIRCULAGAO MUNDIAL (conforme o volume) (contorme o volume) tica que se desdobra continuamente do Japio a Indonésia, avan- cando ao centro o bloco imponente do subcontinente indico. Fora disso, restam nédulos esparsos € pequenos, dissociados pelas gran- des clareiras anecuménicas que circundam os pélos, absorvem quase todo o continente da Australia, delineiam, através da hiléia 79 = = Correntes maritimas —— Correntes oereas | amazonica, do Saara, da penineule ai e€ dos desertos Centro. -asidticos, desmesurado cinturdéo de isolamento e dissociam a Africa pelo menos em duas metades, aad ty Para o mundo atlAntico, a outra estreitamente ae urdsia. Aqui (esquema 14), sobressai, nas lin 1s mals acentuadas do relevo, um dorso americano banhado pelo Pacifico ¢ favorayel. mente protegido, enquanto a Arie onreees do seu lado Oeste, ampla arcada desimpedida bem a frente da projecio nordesting Brasil. oe no esquema circulatério (esquema 15), ressaltam desde logo um vigoroso equador maritimo-aéreo, a importincia ¢ Tiqueza da atual trama norte-atlantica e, nao menos, a alta significacao potencial do Aantico Sul, lago interior ainda seguro que'se afirma como a chave estratégica de todas as ligacdes menos vul. nerdveis a servigo do Ocidente. Resumamos todos esses dados numa visio compésita que, es. quematicamente, ponha em justo relevo a posi¢ao do continente sul-americano e, em particular, do Brasil, nesse mundo contem. plado desde 0 centro de nossa poténcia e de nossa vitalidade econdmicas. Ja 0 fizemos em outra oportunidade com palavras que aqui vamos apenas reproduzir (esquema 16): “Bem protegida a oeste pelo inigualdvel fosso do Pacifico imen- so e, ademais, pela muralha ciclopica dos Andes, a América do Sul volta-se toda para o Atlantico e para o hemisfério terrestre de leste, avancando, em ponta, o promontério nordestino. “Um primeiro hemiciclo interior de terras a circunda, num raio médio de uns 10000 km—a América do Norte, no flanco esquerdo, a Africa em posigao frontal, e a Antdrtida como flan- coguarda dircita. Ao lango desse vastissimo arco, as trés massas circundantes apresentam-se em graus muito dispares de ocupagio efetiva pelo homem e de potencial econdmico e politico—maximo 4 Noroeste, muito incipiente a leste, nulo ao sul. ‘a “Com origem imanente nas terras desse hemiciclo interior nao havera a temer, em Prazo previsivel, por bem longo que seja, qualquer ameaga direta A seguranca da América do Sul e, pols, também do Brasil: de um lado, por auséncia de potencial de agressao, €, do outro, por excesso desproporcionado de um poder, contra o qual nao haveria como opor-se, se antagonismos, muito Tea Staves, no © mantivessem, de fato, empenhado em ae i" omen . atritos € se—fator nao desprezivel, sem davi aa sempre hcl hai de fé democratica € o ideal panama ‘a : aie clamado nao constituissem sufi nte zona psicolog) es tentimenn mento em que se esvaiam, absorvidos, quaisquer Té spaentos mais fortes, a alg do hemiciclo interior—gigante de fato, embora airy Bigantado pela deformagao da projecio azimutal ¢q 80 A AMERICA DO SUL E OS HEMICICLOS INTERIOR E EXTERIOR ened ts ESQUEMA 16 distante—um bloco macico de terras, 4 distancia média de uns 15.000 km, ocupa bem mais de um quadrante, avangando duas pingas até a altura de outra massa secundaria transdrtica, situada também a igual distincia média. E o hemiciclo exterior am- 81 onivel, do ponto de vista das concentra, i decomp‘ ane des de pieiciel demografico e econdmico que apresenta, em quatro ot N08 ; cipais: nucleos Deiat rai médio, avancando até morder levemente o —aquem, na aberta do nordeste, © poderoso niicleo ex ciclo interio! acne ae hemic! incluidas ai grande parte da Russia asiatica e g Tegiao Topeu, Ise infiltra, t¢nue mas profundamente, no dorso caucasiana, 0 qual ontinen| n ee Serépria arco de balizamento dos 15 000 km, duas Mas. sas que se correspondem, uma por tras oo pitica, . outra por detras da Antartida, ambas, por monyes ou aa $s embora, ainda fo suficientemente potentes, mas apresentando perspectivas al. tamente favoraveis: a india, a leste, com seu elevado potencial humano e suas riquezas ainda nao exploradas, a despertar de sey contemplativo sonho milenar; ao sul, a Australia (mais 0 rico apéndice da Nova Zelandia), demograficamente €scassa, ao con- trario, Jutando com um territério nao muito promissor, mas do- tada de uma populacao altamente capacitada e enérgica; —e, finalmente, para 14 ainda do arco demarcador, a trans. bordante humanidade amarela do Japao e da China a prolongar. -se pela Indochina, pela Malisia, pela Indonésia e Filipinas—um impressionante potencial demogratico e de riquezas variadas e imensas, 4 espera de uma organizacao eficiente e ativa que o mo- bilize e impulsione. “Desse hemiciclo exterior, ameagas perigosas podem bem sur- gir, a qualquer tempo, contra o mundo sul-americano, pois de la ja partiram em eras passadas, seja da Alemanha de Guilher- me II—pouco menos definidas—e do grande Reich de Hitler— vigorosas—, seja do império nipénico de Hirohito—mais distantes —€, novamente, hoje se manifestam, com viruléncia excepcional € multiforme, a partir do eixo Moscou—Pequim. “Esse é, pois, o hemiciclo perigoso contra o qual a América do Sul tera de solidamente estruturar a sua propria seguranga. ‘Ora, em face do mesmo, 0 continente sul-americano podera bem se considerar imune contra agdes mais diretas e em forga, énquanto as trés massas cobridoras do hemiciclo interior nao e- eae €m méos de um agressor potencial. Hee sapere etiee baliza, portanto, de fato a fronteira deci- - amponadas ane (esquema 17). da Islandia rest ees de nordeste e sudeste pelas avangadas Once ies adeira—Canarias e de Principe Eduardo ifico, 20 arco. alized Donald; ¢ prolongada a seguranca, no c as da Seca pels ilhas Havai, as Esporades, as neceré quase que inexpu, lade—a fortaleza sul-americana perma: ~colunista, a agressio doe gndvel, se contra a infiltracio quinta- @ Penetracao ideolopics e224 €m subversao insuflada de longe, Bica emoliente e sutil, forem tomadas, com 82 te africano; FORTALEZA AMERICANA Epotindsie Centres o Georgie ¢0 Su ‘Bouvet Secaaes aucuners rea Lsenae ocdond ea / ESQUEMA |7 oportunidade e sabedoria, justas medidas preventivas e, se neces- sario, repressivas. “Empenhar-se a América do Sul e, com ela, 0 Brasil, decidida € perseverantemente, na preservacao, em mios amigas, das terras do hemiciclo interior representa o minimo que podemos, que devemos fazer para seguranga da fortaleza sul-americana, que 83 recisa desenvolver-se € criar riquezas e realizar Plenamente seus destinos, nesta época de vertiginoso progresso das técnicas ¢ das armas, arrasadoras ou insidiosas, de ataques realizade. Bor sobre distancias intercontinentais. ; “A firme conviccéo desse imperativo geopolitico, tracado n, mapa do mundo pela disposi¢ao eterna das massas terrestres que nos circundam, permitira alicercar, em solidos fundamentos, di. retrizes seguras de uma estratégia mundial de perspectivas am. pliadas, de modo que a impulsos emotivos ocasionais nig tenha. mos de ceder, sempre, a primazia, quando da tomada de decisées graves a que nos venha a forcar qualquer evolugio mais sombria da conjuntura internacional. Ora, no momento atual, langa suas sombras Pressagas, sobre o mundo todo, um antagonismo de Proporcées nunca vistas e que arregimenta o Ocidente democratico e o Oriente comunista em dois blocos j4 empenhados em interminavel e porfiosa pen. déncia (esquema 18). ' ' O principal centro agressor radica-se, mais uma vez, no hemi- ciclo exterior que vimos de balizar, dominando a Eurasia desde o Elba € o Artico até o litoral extremo do Pacifico. Entre ele e ° polo oposto (esquema 19-14 e 1B), centrado este na fortaleza. -arsenal dos EUA, dispéem-se circularmente varias dreas-esplana. das (esquema 19-2) apresentando profundidade maior ou menor, potenciais regionais muitissimo diversos, niveis bastante varid. veis de estabilidade permitindo até mesmo, aqui e acold, a exis- téncia perigosa de zonas instaveis, e graus distintos de integragio no sistema periférico de defesa que o Ocidente vem buscando, incansavel e aceleradamente, estruturar—o Artico deserto que as torres de radar hoje pontilham; a Europa da O.T.A.N., jd de todo recuperada do cataclismo da ultima guerra; o Oriente Mé- dio, cada dia mais convulsionado; a India perplexa e sempre sur- preendente em suas decisées politicas; 0 vasto quadrante do Su- doeste asidtico, da Indonésia e da Australia que a O.T.A.S.E. tenta aglutinar a duras penas; enfim, as avangadas insulares do Pacifico imenso, E, nesse conjunto assim nucleado, as diregoes mais ameacadoras, sem duivida alguma, sao: a do Oriente Médio que abriria o caminho para a Africa, possibilitando o desborda- mento pelo sul de todo o importante bastiao europeu; e, bem mais a leste, a de uma penetracao a cavaleiro do arco indonésio, que permitiria o envolvimento amplo de todo o escudo austra- liano. Mais no interior do sistema, melhor protegidas portanto contra assaltos diretos ¢ articuladas entre si pelo mediterraneo do Atlan- ico Sul, as trés massas da América do Sul, da Africa atléntico- acon € da Antartida (esquema 19-3) constituem superior Placa gitatoria de manobra para qualquer estratégia de resisténcia contra-ofensiva em relacao a sempre possiveis e perigosas at 84 ESQUEMA 18 O ANTAGONISMO DOMINANTE [eva = Bess « chine ZArestroiismo Sotéites O Frincpais Zonas de Instabiidade Yugosiéve remetidas, inicialmente vitoriosas que sejam, do expansionismo soviético, E, assim, nao bastar4 nunca porfiemos simplesmente em man- ter o territério nacional e a circunvizinhanca imediata na Amé- tica do Sul, imunes a infiltracio persistente € mistificadora do 85 ESQUEMA 19 CENTROS DE PODER Areas esplanadas e Greas interiores comunismo ou a menos provveis ataques diretos, dificilmente montados em forca ou repetidos no tempo. Importar4 também —e muito—estarmos vigilantes e dispostos a cooperar, se € quando necessdrio, na defesa, a todo custo, dessa Africa de oeste do sul que nos fica fronteira e de onde um inimigo ativo nos poder4 86 diretamente ofender, dominando-nos as comunicagbes vitais do Aulintico centro: meridional. Nada, do que se passe no amplo tridngulo de massas continen- tan que delimita essa bacia, pode nos ser, em momento algum, tait Aente, muito menos na quadra decisiva em que se debate imGtidente e, com cle, nds todos, latino-americanos, que reco- 2° Okemos ¢ proclamamos, com o mais justificado dos orgulhos, mpc thistorica e voluntaria participagao de seus destinos glo- riosos. b, A VIZINHANCA LATINO-AMERICANA parte muitos dos focos de atrito tradi- em épocas passadas € nio muito Gistantes alids, 0 panorama sul-americano €, por vezes, ainda aflo- cee pruscamente & tona em desconfiangas miituas, receios mais Tam nenos infundados € Taros choques esporddicos, prontamente contidos; fortalecido o sentimento de uma natural comunidade Jatino-americana que tera tudo a ganhar de uma unio sincera lativa de energias na luta contra 0 subdesenvolvimento ¢ a fra. queza econémica; vivamente provada a unidade continental em pee e ameacas externas que se manifestam, dia a dia, mais pro- Kimas e mais tremendas—nem por isso perde um sentido objetivo a compartimentacao do continente em areas estratégicas distin- as, antes ganha cada vez maior significagio, entendidas estas, (25 mnente, mais como zonas de integracdo geopolitica com vistas a uma conjungio voluntaria de esforgos nacionais para tarefas construtivas de paz. Na sua imensidao territorial que se desdobra por quase todos os meridianos e paralelos da ‘América do Sul e em virtude mes- mo das responsabilidades de cooperacio internacional a que N10 taberia furtarse, pelo seu potencial muito superior de recursos materiais em mobilizacdo acelerada, o Brasil participa, em ver dade, de todas essas dreas geopoliticas do continente, em cada uma delas integrando porcdes inegavelmente expressivas de seus amplos dominios (esquema 20). O ntcleo central brasileiro, estruturado sobre 0 formidavel triangulo de poténcia Rio—Sio Paulo—Belo Horizonte e que ten- dea expandir-se, como a seguir veremos, para incorporar todo o Estado de Minas Gerais e o Sul de Goids, constitui, em si mesmo, 4rea geopolitica bem individualizada no conjunto continental, com sua caracteristica marcante de verdadeira zona de reserva geral ou plataforma central de manobra. Duas outras grandes dreas geopoliticas terrestres ressaltam aos olhos, a noroeste e ao sul do continente, delimitadas sobre fun- damentos, nao s6 geogrdficos mas também histdricos, que seria 87 Superados em grande Gonais que convulsionaram, ocioso aqui recapitular, de tio conhecidos. Respectivamente abar cam: 1 " —a primeira—o Peru, o Equador, Colémbia e Venezuela, mais as urés Guianas ¢, a grosso modo, a hiléia brasileira representada slo Amazonas, 0 Para, os territérios do Acre, Amapé ¢ Rio Branco® e, ainda, o Norte de Goids; ayy segunda—a Argentina, o Chile, 0 Uruguai e o Brasil platino, integrado este pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Parana. ‘Ag centro, articulando entre si essas duas areas ligando-as, r outro lado, a zona central do nucleo ecuménico brasileiro— uma drea geopolitica de soldadura, caracterizada por seu notorio cariter ambivalente amaz6nico-platino e que abrangeria, a gros- $ modo, a Bolivia € o Paraguai, mais 0 Estado de Mato Grosso to Territério de Guaporé.** Deixando de parte o Pacifico sul-americano, distinguiriamos igualmente, da banda oriental, duas vastas dreas geopoliticas ou estratégicas maritimas, correspondentes ao Atlantico centro-norte e ao Atlntico centro-sul e as quais serviria de soldadura a drea opolitica nordestina, ai incluido, necessariamente, todo o arco ‘ue vai de Sao Luis a Salvador (o chamado Nordeste oriental, 0 Nordeste ocidental ¢, ainda, a Bahia). Eis ai uma imagem ri ticalada no continente sul-americano, a qual, parece-nos, deveria orientar toda a aio geopolitica do Brasil em sua imediata cir- cunvizinhanga politica—imagem simétrica € centripeta, bem ba- lanceada também quanto ao intenso jogo das inter-relagdes mari- timoterrestres e que situa a drea nuclear brasileira em posicao superiormente favoravel no conjunto, assegurando co-participa- cdo expressiva e indispensavel de nosso ectimeno no equaciona- mento e solucéo integrada das varias problematicas regionais, das quais nunca nos poderiamos alhear. c. O “IMPERIO” BRASILEIRO No repisaremos aqui a discussio da realidade brasileira que nos levou a pintar, no estudo anterior, um esquema geopolitico em que (esquema 6): a um nucleo central, ancorado sobre o ja falado tridngulo Rio~Sao Paulo—Belo Horizonte e que, em linhas gerais, abarca todo Sao Paulo, grande parte de (tinas Gerais € do Espirito Santo, todo o Estado do Rio de Janeiro, mais o atual Distrito Fedéral,*** ~articulam-se, por istmos de circulagdo infelizmente ainda pre- carios, trés grandes peninsulas: a nordestina, a do extremo sul e a goiano-mato-grossense; * Roraima—** Rondonia. * Estado da Guanabara. 89 ESQUEMA 21 Zy S eZ LZ AEG: Guy Z ) 0 "IMPERIO" BRASILEIRO Ane —enquanto, mais a noroeste, a hiléia, ainda isolada, tributdria do excéntrico caudal amazénico ¢ nitidamente na dependéncia das ligagdes maritimas, se apresenta como vasta ilha distante cuja conquista nem sequer chegamos a empreender em bases sdlidas. A propria imagem geopolitica do continente sul-americano, que vimos ha pouco de esbocar, incorpora e recapitula, em seus largos tragos, essa mesma disposigdo de areas ecuménicas. Apenas, evoluimos ali de tais dreas—simples traducio de uma realidade mais ou menos delimitavel em termos concretos de ocupacio efe- 90 tiva do territério e circulagao rodo-ferrovidria razoavelmente den- (para zonas geopoliticas, ou mesmo estratégicas, que, como tais, em o dever de projetar o seu tanto no futuro uma concepcio politica coordenadora da propria expansio territorial (esque- mma 21). pieleo central ecuménico do Brasil ampliase para uma 4rea geopolitica de_ reserva geral ou de manobra central, ina orperard necessariamente, em futuro no muito remoto, a totalidade do Estado de Minas Gerais € o restante do Espirito 2 enespraiandose, a0 impulso da interiorizacio da Capital, r todo 0 Sul de Goids, de modo que o tridngulo de poténcia Pe ja se vai alargando firmemente para 0 quadriltero tao bem que Jo de Sao Paulo—Rio—Vitdria—Belo Horizonte acabara por dovagese ainda mais a noroeste para fincar seu vértice interior cairggizo de Brasilia, possibilitando afinal a articulacio que fal- waa com a atual ilha amaz6nica, ao longo do rio Tocantins e Go tracado paralelo da BR-14.* earned Enquanto isso, a peninsula nordestina interioriza-se também, «4 corto area geopolitica, para englobar todo o Nordeste ociden- Fide um lado, a Bahia, do outro, de modo a poder consolidar-se Waharalmente a sua espléndida base diagonal de Salvador a Sao Luis, por Juazeiro—Petrolina, Picos ¢ Teresina, € objetivarse a revitalizagao do tradicional meridiano fluvial do Sa Francisco we) Preto -Panagudé—rio Gurgéia—Parnaiba—ltapicuru. E 0 me- ro istmo de circulacio balizado pela BR-4** eo TPN, de inci- Nencia deseixada para o extremo sudeste da rea, poderd evoluir francamente para a ampla faixa de soldadura da divisa mineira. Por outro lado, a peninsula meridional, comprimida sem re- médios em espaco bem mais reduzido, ganhara apenas maior organicidade em derredor do quadrilatero de articulacao basica, demarcado por Curitiba—Porto Alegre—Santa Maria e Irati. ‘Ao revés, a atual peninsula do Centro-Oeste, amputada da banda oriental, avanga, como drea geopolitica plenamente indi- vidualizada, reorientando-se de sudeste a noroeste para entestar completamente com a Bolivia ¢ 0 Paraguai, de cujo carter inde- ciso e ambivalente participa também, a cavaleiro das duas gran- des bacias hidrograficas do Amazonas € do Prata. Cuiabé, no pro- prio paralelo de eqiiipoténcia das atragdes do Norte ¢ do Sul, esta fadada a ser 0 grande centro de articulacéo de toda a area, cuja potencial base de circunvalacio fronteirica, de Porto Velho a Campo Grande ¢ Ponta Por, acabard se tornando uma rea- lidade concreta na soldadura mais avancada entre o Brasil ama- zénico € o Brasil platino. Quanto a ilha amazénica do atual esquema ecuménico, algo comprimida embora do sul e do leste, continuardé, como drea * Atual BR-15$, Belém-Brasilia—** Atual BR-116, Rio-Bahia. 91 geopolitica, eixada segundo o leito do rio formidavel, onde Ma haus permanecerd o {ulcro do sistema, por mais que 'se articule ¢ adense e vitalize 0 vasto estuario, no tiangulo Belém—Amapi. Santarém. 6 POSS{VEIS DIRETRIZES DE UMA GEOPOLITICA BRASILEIRA D* ANALISE sumdria e investigacio feitas ressaltam, sem diivida, ‘as principais diretrizes de uma geopolitica atenta aos inte: resses brasileiros—aos Objetivos Nacionais Permanentes plena- mente reconhecidos—e calcada de fato na realidade que temos sob olhos de ver. ‘No campo interno, a problematica geopolitica resume-se na incorporacio efetiva ¢ vitalizacio de todo 0 amplo dominio, em grande parte ainda vazio do homem e da civilizagio fecunda- dora. E, para tanto, nZo vemos ainda que acrescentar, nos limites de um simples ensaio exploratério, a idéia de manobra geopoli- tica que j4 haviamos definido no estudo anterior, mediante trés fases, de forma alguma estanques no tempo (esquema 7): 1.4—“articular firmemente a base ecuménica de nossa projecio continental, ligando o Nordeste € 0 Sul ao nucleo central do pais; ao mesmo passo que garantir a inviolabilidade da Vasta extensio despovoada do interior pelo tampona- mento eficaz das possiveis vias de penetracao”; 2.a_“impulsionar o avanco para noroeste da onda colonizado- ra, a partir da plataforma central’—a atual regido nuclear do pais—, “de modo a integrar a peninsula centro-oeste no todo ecuménico brasileiro”; e $.2—“inundar de civilizagdo a Hiléia amazénica, a coberto dos nédulos fronteiricos, partindo de uma base avangada cons- tituida do Centro-Oeste, em acao coordenada com a pro gressio EO. segundo 0 eixo do grande rio”. _ Que ordem de prioridade estabelecer nas diversas agées a rea lizar dentro de um tal esquema de propésitos? Que dosagem de meios atribuir para as diferentes tarefas, sobretudo entre as que visem a importantes objetivos de mais remota repercussio ¢ a que atendam a resultados mais imediatos, entre as que, tirando partido valioso das infra-estruturas j4 existentes e das possibili- dades de economias externas, impulsionem ainda mais 0 cresc mento das zonas por si mesmas em desenvolvimento, € as que, sem rentabilidade nem segura nem préxima, mas calcadas at em principios de justica social e imperativos da integraco 14 92 desviem recursos para o investimento em dreas marginais cional, u : roblemas? Que maiores sacrificios exigir das geracoes pre- e areas‘P r © ates jh tao oneradas, em beneficio de um futuro mais grandioso e melhor?—sao questoes estas, candentes, que escapam, de fato, & imeNssdo geopolitica, por envolverem importantes parimetros Bums dem economica e contetido psicossocial sobre os quais seria oterto, temerario pronunciarse sem uma detida andlise de Por cles e de seu entrelagamento cibernético. E ai é que, afinal, fotencleia a diferenca radical que separa a simples concepcio cavviticauma sugestio oferecida & pragmatica dos estadistas sepP planejamento estratégico e da obra politica, em toda a sua plenitude integradora. Satdmbito externo, o problema fundamental da geopolitica ¢, em primeito plano, de natureza propriamente estratégica e nao poderia deixar de objetivar a salvaguarda da inviolabilidade ter- Povrial, ante ameagas externas de quaisquer origens que sejam, por pouco provaveis mesmo que se Tos afigurem. Ora, ainda sob tal aspecto, avultam de importancia, na frente continental, o Braldcimento de nossa base ecuménica, a exigit uma solida ¢ fente articulaczo de norte a sul, bem assim a integracéo pertentro-Oeste, area de soldadura de inigualavel importincia estratégica no coracao do continente e capaz de permitir reacio ficaz a qualquer aventura expansionista, ostensiva ou mascary da, que venha a surgir por essas bandas, ao influxo mesmo de es- puirias influéncias de além-mar—capaz até de preveni-las. Tudo Foo sem prejuizo, é evidente, de uma adequada estruturacio das trés areas geopoliticas fronteiricas, constituindo-se, em cada uma delas, potenciais regionais de valor proporcional & importancia, periculosidade, grau de urgéncia ¢ de probabilidade das ameagas que se antevejam. Quanto a frente atlantica: “num circulo restrito & circunvizinhanga imedi rados, sobretudo, 0s compromissos reciprocos entre o Brasil € os E.U.A. para a defesa do hemisfério, 0 fortalecimento e articulagio de nossa base ecuménica, extensa charneira anfibia, permanece ainda em primeira urgéncia, acrescendo-se mais ainda, agora, a significagao, dentro dela, da 4rea nordestina de soldadura entre 08 dois amplos setores ocednicos opostos pelo vértice: nas, nem raio bem mais avantajado a que se nao devem furtar, por “avestruzismo” comodista ou displicéncia criminosa, 08 povos que saibam reconhecer suas indeclinaveis responsabi- lidades para com o futuro, devemos impor-nos vigilante obser- vagio do que se processa em toda a fachada arqueada da Africa fronteira, em cuja preservacao contra o dominio pot forgas im- perialistas agressivas nos incumbe, por interesse proprio e até por tradigao, colaborar eficazmente, da forma que afinal se tornar mais conveniente. fiata e conside- 93 litica é, no entanto, muito mais ampla que qu: ecaeet pois nao se limita 4 consideragio de agrestbca et antagonismos existentes ou previsiveis. Ao lado de uma Geopoli. tica para a lula, para a defesa ou para 0 ataque, subsiste e sup, sistira sempre uma Geopolitica da paz, voltada Para os valores snito mait altos € generosos da solidariedade internacional, qa Pmunhao voluntaria dos povos, do progresso incessante da civ, izacdo e da cultura. ; ; eo quadro dessa Geopolitica da paz, criadora e afirmativa © Brasil nao poderd, nos dias de hoje e em face de um planet, tumultuado ainda mais pela miséria € pela fome do que por am. bicdes expansionistas € de dominio que, alids, existem de fato ¢ nao sao, de forma alguma, nem despreziveis nem remotas, negar- -se ao papel que lhe cabe no concerto das nagoes em prol da re. dencio de toda essa periferia econdmico-social de que ainda par- ticipa, € que se estende, tragicamente, desde os contrafortes andi- nos. através da Africa toda, do Oriente Médio, da peninsula in. diana e do Sudeste asidtico, até os confins do mundo indonésico, E cumpre-Ihe, ainda, no Ambito mais circunscrito da América Latina e, em particular, da América do Sul, estreitar os lacos de cooperagio internacional, participando, ativa e generosamente, da solugao dos graves problemas com que se defrontam os povos das diversas 4reas geopoliticas internacionais de que participamos, em todas, com amplas parcelas de nosso territério € signilicativo contingente humano. 7 CONCLUSAO M BRILHANTE ENSAIO critico de filosofia da histéria, tomando como tema vivo o pensamento do Tolstoi de Guerra ¢ Paz © como epigrafe uma frase de Arquiloco, o eminente escritor inglés Isaiah Berlin tracgou notavel paralelo entre os que tudo sabem relacionar a uma visio unitdria do mundo e aqueles que, frente a variedade surpreendente que se lhes desdobra ante os olhos, numa atitude centrifuga e mesmo difusa, nem buscam estabelecer relagdes unificadoras, de integragao € hierarquiza¢a° entre os fins que perseguem, as idéias que defendem, as expet"™ cias que vivem, as cousas que manipulam. . ha “A raposa sabe muitas cousas, mas 0 porco-espinho sabe wl grande cousa”—dissera 0 poeta grego. inho. Pois o verdadeiro geopolitico é, afinal, como 0 porco-espi! : Pode nao saber muito, mas sabe uma cousa importante. _ forca que lhe empresta a Geopolitica, com sua perspecuv4 vig 94 an rosa, parcial sem dhivida, sempre incompleta, esquematica até, veres fandtica, mas afinal unificadora e classificadora de uma realidade cambiante e complexa, em que, a despeito de tudo, é preciso planejar e agir. BIBLIOGRAFIA* Almeida, Prof. Luis Ferrand de, A Diplomacia Portuguesa ¢ os Limites Meridionais do Brasil, Portugal. Berlin, Isaiah, The Hedgehog and the Fox, Mentor Books, E.U.A., 1957. Boxer, Charles A., Salvador de Sd and the Struggle for Brazil and An. gola—1602-1686, University of London, Athlare Press, Londres, 1952 Goaracy, Vivaldo, O Rio de Janeiro no Século XVII, Livraria José’ Olym- pio Editora, Rio, 1944. Cortesio, Jaime, Raposo Tavares ¢ a Formagdo Territorial do Brasil, MEC, Rio, 1958, James, Preston E., verbete “Geography”, na Enciclopédia Britanica, tomo 10. Silva, Golbery do Couto ¢, Planejamento Estratégico, Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1955. Bibliografia brasileira bésica—Calégeras, Oliveira Viana, Gilberto Freyre, Capistrano, Joio Ribeiro, Basilio de Magalhies, P.c Serafim Leite, Caio Prado Junior, Roberto Simonsen, Pedro Calmon, Otavio Tarquinio de Sousa, José Maria Belo, Viana Moog, etc. Raatttirn sam SS APS sate pieces es aw * on TI ASPECTOS GEOPOLITICOS DO BRASIL—1960 OBRE © TEMA—Aspectos Geopoliticos do Brasil—que poderia- mos, agora, acrescer de novo, em substancia? Bem pouca cou- sa, sem duvida, a menos que simples aprofundamentos, aqui € acol4, de antigas idéias, ramificagdes secundarias de conceitos dantes formulados, arabescos apenas, a mais, num desenho ja composto em suas linhas essenciais. O panorama tracado nos estudos anteriores comportaria—disso estamos bem seguro—cor- regées decisivas ¢ importantes acréscimos, reajustamentos talvez de base, uma perspectiva completamente renovada; sentimos nao poder, entretanto, fazé-lo, menos por apego pigmalednico a obra Suposta conclusa e definitiva—antes, humildemente reconhecida incompleta e sem duvida canhestra—do que por incapacidade real de ver com olhos ainda virgens de fato ¢ de criticar sem 0 * Complementar 4 do capitulo anterior (1* parte—t). 95

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