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Psico-USF, Bragança Paulista, v. 26, n. 2, p. 319-332, abr./jun.

2021 319

Estrutura Interna da Versão Brasileira do Questionário de Estresse Traumático Secundário

Patricia Dalagasperina1
Elisa Kern de Castro2
Roberto de Moraes Cruz1
Artur Pereira3
Bernardo Moreno Jiménez 4
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
1

2
Universidade Lusíada de Lisboa, Lisboa, Portugal
3
Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
4
Universidade de Salamanca, Salamanca, Espanha

Resumo
O Estresse Traumático Secundário caracteriza-se por um conjunto de sintomas e condutas que se manifestam após a exposição
indireta ao trauma. Profissionais que cuidam de pessoas traumatizadas estão susceptíveis ao transtorno. Este estudo examinou a
estrutura interna da versão brasileira do Cuestionario de Estrés Traumático Secundario. Participaram 624 profissionais da saúde, aces-
sados on-line. Para realização das análises fatoriais, a amostra foi dividida em dois grupos. Na análise exploratória, foram retidos
12 componentes, com cargas fatoriais entre 0,312 e 0,999. Os resultados da análise confirmatória revelaram que o modelo de
doze fatores para 50 itens forneceu o melhor ajuste possível para os dados (RMSEA = 0,044; IC = 10%-90%; CFI = 0,949; TLI
= 0,904) e índice de consistência interna geral do modelo foi de 0,91. Esses doze fatores foram distribuídos em quatro escalas
(Antecedentes, Síndrome de Trauma Secundário, Personalidade e Consequências), com índices psicométricos relativamente
baixos e uma nova organização dos itens das escalas do QETS, em contraste com a versão teórica original do instrumento.
Sugere-se que novos estudos psicométricos analisem as escalas do questionário, separadamente, e investiguem outras categorias
profissionais, especialmente na área dos serviços de emergências, além de estudos comparativos com amostras clínicas.
Palavras-chave: estresse, trauma emocional, testes psicológicos, validade

Internal Structure of the Secondary Traumatic Stress Questionnaire in Brazil


Abstract
Secondary Traumatic Stress is characterized by a set of symptoms and behaviors that manifest themselves after the indirect
exposure to the trauma. Professionals caring for traumatized people are susceptible to the disorder. This study examined the
internal structure of the Brazilian version of the Cuestionario de Estrés Traumático Secundario. 624 health professionals participated,
accessing the online questionnaire. To perform the factorial analysis, the sample was divided into two groups. In the explor-
atory analysis, 12 components were retained, with factorial loads between 0.312 and 0.999. The confirmatory analysis revealed
a twelve-factor model for 50 items provided the best possible fit for the data (RMSEA = 0.044; CI = 10% -90%; CFI = 0.949;
TLI = 0.904). However, at the end of the data discussion, 48 items remained in the model, and the overall internal consistency
index of the model was 0.91. These twelve factors were distributed on four scales (Background, Secondary Trauma Syndrome,
Personality and Consequences), with relatively low psychometric indices and a new organization of the items on the QETS
scales in contrast to the theoretical framework in the the original instrument. It is suggested that new psychometric studies ana-
lyze the scales of the questionnaire separately and investigate other professional categories, especially in the area of emergency
services and comparative studies with clinical samples.
Keywords: stress, emotional trauma, psychological tests, validity

Estructura Interna de la Versión Brasileña del Cuestionario de Estrés Traumático Secundario


Resumen
El estrés traumático secundario se caracteriza por un conjunto de síntomas y conductas que se manifiestan después de la
exposición indirecta al trauma. Los profesionales que cuidan a las personas traumatizadas son susceptibles al trastorno. Este
estudio examinó estructura interna de la versión brasileña del Cuestionario de Estrés Traumático Secundario. Participaron 624
profesionales de la salud, accediendo al cuestionario online. Para la realización de los análisis factoriales la muestra fue dividida
en dos grupos. En el análisis exploratorio, se retuvieron 12 componentes, con cargas factoriales entre 0.312 y 0.999. El análisis
confirmatorio reveló que el modelo de doce factores para 50 ítems proporcionó el mejor ajuste posible para los datos (RMSEA
= 0.044; IC = 10% -90%; CFI = 0.949; TLI = 0.904). Sin embargo, al final de la discusión de los datos quedaron 48 ítems en el
modelo. El índice de consistencia interna general del modelo fue de 0,91. Estos doce factores se distribuyeron en cuatro esca-
las (Antecedentes, Síndrome de Trauma Secundario, Personalidad y Consecuencias), con índices psicométricos relativamente
bajos y una nueva organización de los ítems en las escalas QETS, en contraste con la versión teórica original del instrumento.
Se sugiere que nuevos estudios psicométricos analizan las escalas del cuestionario por separado e investiguen otras categorías
profesionales, especialmente en el área de los servicios de emergencias y estudos comparativos con amostras clínicas.
Palabras clave: estrés, trauma emocional, tests psicológicos, validez

Disponível em www.scielo.br http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712021260210


320 Dalagasperina, P. & cols.  Questionário de Estresse Traumático Secundário

Introdução de Burnout (SB) possui algumas semelhanças com o


ETS, conforme Pedras & Pereira (2012). Alguns dos sin-
O termo Estresse Traumático Secundário (ETS) tomas similares encontrados em cada um desses termos
foi proposto, em 1983, por Charles Figley, para desig- têm gerado uma certa confusão na literatura quanto às
nar o sofrimento que está presente no ato de cuidar especificidades de cada construto (Moreno-Jiménez et
de pessoas traumatizadas. Existiria um “custo no cui- al., 2013), ainda que as tentativas de esclarecimento no
dar”, representado por um conjunto de emoções e uso de cada uma das terminologias permaneçam atual
de condutas que se manifestam após a exposição ao (Cieslak, 2014; Newell & MacNeil, 2010).
trauma vivenciado por outra pessoa (Figley, 1983). O No Brasil, estudos que visam identificar o sofri-
termo “secundário” se refere àquelas pessoas que tes- mento dos trabalhadores da saúde ainda são escassos.
temunham um evento traumático, que prestam serviços A produção científica nacional sobre a SB aponta que
ou que convivem com pessoas que foram vítimas de os professores e os profissionais da saúde representam
trauma, ou seja, familiares, cônjuges, amigos e profis- as categorias profissionais mais pesquisadas (Carlotto
sionais que fornecem algum tipo de cuidado às vítimas & Câmara, 2008). O termo “Fadiga de Compaixão” foi
estão em risco de desenvolver ETS (Figley, 1995). citado em apenas quatro publicações no Brasil (Bar-
Ao investigar o ETS em profissionais da saúde bosa, Souza, & Moreira, 2014; Galiana, Arena, Oliver,
entende-se, neste estudo, que a vítima secundária (pro- Sansó, & Benito, 2017). A relação do TEPT com os
fissional da saúde) sofre de ETS, enquanto a vítima profissionais da saúde foi mencionada em um único
primária (paciente) desenvolve o Transtorno de Estresse artigo (Lima & Ávila, 2011). E, por fim, os termos
Pós-Traumático (TEPT) (Moreno-Jiménez, Morante, “Trauma Vicário” e “Estresse Traumático Secundá-
Rodríguez, & Garrosa, 2004a; Pedras & Pereira, 2012). rio”, até o momento, não foram apontados em nenhum
A atual definição do TEPT considera que esse trans- estudo científico brasileiro.
torno pode ocorrer em ambas as formas de exposição A gênese do ETS entre os profissionais da ajuda
ao trauma (primária e secundária), conforme descrito no tem sido explicada por diferentes modelos teóricos.
Critério A1 do TEPT, no DSM-V (APA, 2013). Há que Em 1995, Figley propôs um modelo relacionado aos
considerar, contudo, que a vivência direta ou indireta do profissionais, composto por quatro fatores: a empatia,
trauma pode ter singularidades. O ETS está relacionado o comportamento manifestado pela vítima, as dificul-
ao contexto de trabalho, onde os profissionais prestam dades para distanciar-se do trabalho e o sentimento
cuidados e ajuda às vítimas de traumas (Figley, 1995; de satisfação por oferecer ajuda. O modelo de ETS
Moreno-Jiménez et al., 2004a). Esses profissionais têm proposto por Dutton e Rubistein (1995) engloba: o
clareza que o seu ofício envolve a exposição constante evento traumático, as reações frente a isso, as estraté-
a diferentes eventos traumáticos (Hensel, Ruiz, Finney, gias de enfrentamento e o contexto ambiental e pessoal.
& Dewa, 2015), o que indica a possibilidade de intervir Beaton e Murphy (1995) descreveram um modelo
de forma preventiva. semelhante ao anterior, porém destacaram o papel dos
No TEPT, o evento traumático ocorre de forma fatores organizacionais e de determinadas característi-
súbita e inesperada reduzindo as possibilidades de cas de personalidade, como elementos mediadores, que
ações preventivas. Além disso, o transtorno não se podem potencializar o ETS.
relaciona apenas a populações específicas, como no Entre as medidas psicométricas comumente
caso dos profissionais da saúde, podendo acometer as encontradas na literatura para avaliação do estresse
pessoas em todas as faixas etárias (APA, 2013). Para o traumático em vítimas expostas indiretamente ao
desenvolvimento do TEPT não é necessário possuir trauma estão: Professional Quality of Life Scale (ProQOL)
habilidades empáticas. Já, no ETS, essa habilidade é e Secondary Traumatic Stress Scale (STSS). A ProQOL é
central para o seu surgimento (Figley, 1995; Newell & a mais utilizada para determinar qualidade de vida de
MacNeil, 2010). profissionais dos serviços de cuidados, possuindo mais
Ao longo das investigações sobre o trauma, desde de 200 citações (Perkins & Sprang, 2013). Os 30 itens
a década de 1980, diferentes terminologias foram utili- que a compõem estão divididos em três subescalas que
zadas para se referir ao ETS. Termos como “Fadiga de apresentaram alta confiabilidade: SC (0,88); SB (0,75)
Compaixão” (FC) e “Trauma Vicário” (TV) estão entre e Trauma/FC (0,81). No âmbito nacional, estudos de
eles (Figley, 1995; Moreno-Jiménez, Cobo, & Blanco, validação desse instrumento apontaram estimativas de
2013; Pedras & Pereira, 2012). Além destes, a Síndrome confiabilidade adequadas. A análise de consistência dos
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fatores, investigado em profissionais da saúde, apresen- O instrumento que mensura as variáveis do modelo
tou validade confiável, sendo os valores de alfas: 0,81 processual do ETS, que será analisado neste estudo,
para SB; 0,83, para Trauma/FC e 0,76 para SC (Lago denomina-se Cuestionario de Estrés Traumático Secundario
& Codo, 2013). No estudo transcultural que avaliou as (CETS), formado por quatro escalas: Antecedentes,
propriedades psicométricas do instrumento, nas ver- Trauma Secundário, Personalidade e Consequências.
sões em português (Brasil) e em espanhol (Espanha), A CETS demonstrou propriedades psicométricas
as dimensões SC e o Trauma/FC apresentaram índices satisfatórias, em uma amostra de 204 profissionais de
significativos de confiabilidade. Na amostra de brasilei- emergência e 223 bombeiros no contexto mexicano
ros, os alfas foram 0,85 para SC e 0,77 para o Trauma/ (Lara, Jiménez, Muñoz, Merino, & Chávez, 2011).
FC. Entre os espanhóis, os resultados foram, respecti- Nesse estudo, por meio de análise fatorial explorató-
vamente, 0,77 e 0,78. No entanto, as estimativas para ria (AFE), foi encontrada uma estrutura de três fatores
a dimensão SB indicaram problemas de confiabilidade que corresponderam ao seu fundamento teórico (fadiga
em ambas as amostras, com um alfa de 0,65 na versão emocional, sintomas de trauma secundário e abalo de
portuguesa e de 0,53 na versão espanhola (Galiana et crenças). Além disso, foi realizada uma análise fatorial
al., 2017). confirmatória (AFC) que identificou um modelo de três
A Secondary Traumatic Stress Scale (STSS) foi desen- fatores correlatos à AFE e, nesse caso, a confiabilidade
volvida para mensurar especificamente os sintomas das três dimensões do CETS foi examinada por meio
de trauma secundário em profissionais que fornecem do alfa de Cronbach (> 0,77).
Nesse cenário, o CETS apresenta uma proposta
cuidados. A STSS avalia a frequência de sintomas expe-
diferente ao fornecer a mensuração do processo do
rimentados na última semana, usando um formato de
ETS, capaz de ampliar a compreensão do fenômeno
resposta de tipo Likert de 5 pontos, congruente com
a partir da mensuração dos sintomas e os fatores a
a definição DSM-IV do TEPT. Seus 17 itens dividem-
ele associados. Além dessa vantagem, não há outros
-se nas subescalas Intrusão, Evitação e Excitabilidade.
estudos nacionais que mencionem o uso desse ins-
A STSS apresenta propriedades psicométricas satisfa-
trumento. Com intuito de ampliar a compreensão
tórias que incluem alta confiabilidade interna de 0,93
do ETS entre os profissionais da saúde, este estudo
a 0,95 para a escala geral (Kintzle, Yarvis, & Bride,
se propôs a explorar a estrutura interna do QETS,
2013), validade convergente e discriminante e vali- por meio de um estudo exploratório e confirmatório
dade fatorial e diferentes formas de pontuação (Bride, das propriedades psicométricas do instrumento e do
Radey, & Figley, 2007). Comparativamente, o ProQOL modelo teórico que o sustenta.
mensura a qualidade de vida profissional com base
em três fatores, compreendendo o trauma secundá- Método
rio como uma faceta da FC, enquanto a STSS avalia
somente os sintomas do ETS. Participantes
Praticamente uma década após afirmação de Participaram da pesquisa 624 profissionais da
modelos sobre o Estresse Traumático Secundário em saúde (enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos,
profissionais de cuidado, Moreno-Jiménez, Morante, psicólogos, fisioterapeutas e outros) de diferentes ins-
Rodriguez e Garrosa (2004b) promoveram uma nova tituições do país. O cálculo amostral considerou um
abordagem teórica, denominada de modelo proces- número ideal de dez participantes para cada item da
sual do ETS. Nesse modelo, são consideradas: as escala analisada (63 itens) (Hair, Anderson, Tatham, &
variáveis sociodemográficas; os antecedentes organi- Black 2007). Para a investigação da estrutura interna,
zacionais referentes às dificuldades inerentes à tarefa foram realizadas análises fatoriais exploratória e confir-
e ao nível de satisfação em desempenhá-las; as variá- matória, com a divisão da amostra em dois grupos, com
veis de personalidade, com ênfase na empatia, na 312 participantes cada, respectivamente (Grupo A e B).
compreensão, no desafio e no senso de humor; e as O grupo A, utilizado para a análise fatorial explo-
consequências individuais, sociais ou organizacionais. ratória (AFE), caracterizou-se pela predominância do
Nesse entendimento, considera-se um conjunto de público feminino (88,1%), sendo mais da metade dos
três fatores para caracterizar os sintomas do ETS: a participantes casados ou em união estável (55,1%). A
Fadiga Emocional, a Mudança de Crenças e a Sinto- maioria é composta de técnicos de enfermagem (40,1%),
matologia Traumática Secundária. que atuam na região sul do país (59,9%) e tem vínculo
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empregatício fixo (87,18%). A idade dos participantes do humor, Consequências físicas, Consequências
variou entre 18 e 68 anos, com média de idade de 34,1 sociais e Consequências organizacionais).
(DP = 9,1) e o número de horas trabalhadas alternou
entre 8 e 72 horas, com média de 40 horas semanais. A adaptação do CETS para o contexto brasileiro
Os dados sociodemográficos e laborais do grupo foi realizada por meio da busca da validade baseada
B, no qual empregou-se a análise fatorial confirmatória no conteúdo, com tradução e retrotradução do espa-
(AFC), são similares aos da AFE. A maioria dos profis- nhol para o português e determinação do Coeficiente
sionais é do sexo feminino (91,35%), casada ou em união de Validade de Conteúdo (CVC > 0,92). Posterior-
estável (56,7%) e técnicos de enfermagem (41,0%). Mais mente, foram realizados estudos correlacionais, no
da metade atuam na região sul do país (53,8%) e pos- contexto brasileiro, com profissionais de Psicologia
suem vínculo fixo de trabalho. A média de horas trabalhadas (Castro, Massome, & Dalagasperina, 2018), entre as
semanalmente foi de 39,7 e a média de idade da amostra foi de escalas do questionário (antecedentes, síndrome, perso-
34,4 (DP = 9,13). nalidade e consequências), as dimensões do PCL-C e
as variáveis sociodemográficas e laborais. Verificaram-
Instrumentos -se correlações positivas e moderadas entre a escala de
Foram utilizados os seguintes instrumentos personalidade e a escala de antecedentes (r = 0,520; p
< 0,001) e a escala de sintomas traumáticos (r = 0,673;
a) Questionário de Dados Sociodemográficos e Laborais. p < 0,001), mas correlação negativa e significativa, de
Investigou características, como: faixa etária, grau intensidade fraca, entre a personalidade e a idade dos
de escolaridade, gênero, estado civil, número de psicólogos (r = -0,192; p < 0,05). Na versão adaptada
horas de trabalho semanais, tempo experiência para o português do Brasil, denominou-se de Questio-
na profissão. nário de Estresse Traumático Secundário (QETS).
b) Post Traumatic Stress Disorder – Checklist – Civilian
Version (PCL-C) adaptado para o português do Procedimentos de Coleta de Dados
O acesso aos participantes foi por conveniência.
Brasil (Berger, Mendlowicz, Souza, & Figueira,
O convite aos profissionais da saúde foi divulgado nas
2004). É um instrumento de autorrelato formado
redes sociais (Facebook e Linkedin) e nas listas do correio
por 17 itens, paralelos aos critérios do TEPT esta-
eletrônico dos pesquisadores envolvidos. No convite
belecidos pelo DSM-IV, cujas respostas devem constavam informações sobre o tema da pesquisa, o
ser realizadas em uma escala Likert de 1 (nada) a 5 público-alvo, o tempo gasto para respondê-la (30 minu-
(muito). O indivíduo apresenta indicativo de TEPT tos) e um link para acessar a página da pesquisa onde
se pontuar ao menos um item do critério B (Revi- constavam os instrumentos e o Termo de Consenti-
vência), três do critério C (Evitação) e dois itens mento Livre e Esclarecido (TCLE).
do critério D (Excitabilidade). Considera-se pre-
sente o sintoma quando a resposta pontuar 3 ou Procedimentos de Análise de Dados
mais (ISTSS, 2014). Para validação da estrutura original do QETS
c) Cuestionário de Estrés Traumático Secundario. Origi- empregou-se a AFE baseada no método de Análi-
ses Paralelas. O estudo da adequabilidade do modelo
nalmente formado por 63 itens, foi elaborado na
mensurado ocorreu através da matriz de correlação
Espanha por Moreno et al. (2004a). O questioná-
Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esfericidade de
rio está em formato de respostas tipo Likert com
Bartlett. Foi realizada a AFE para identificar mínimo
quatro alternativas entre: (1) discordo totalmente a (4)
número de fatores necessários para explicar o máximo
concordo totalmente. A avaliação do ETS é mensu- da variância representada pelas variáveis originais. Uti-
rada por meio de quatro escalas (Antecedentes, lizou-se a rotação Oblimin, considerando que há, na
Síndrome de Trauma Secundário, Personalidade literatura, evidências de que os fatores do QETS estão
e Consequências) e 14 subescalas (Carga horária relacionados entre si (Tabachnick & Fidell, 2007). Os
e laboral, Pressão social, Tarefa traumática, Satis- itens com carga fatorial inferior a 0,30 foram excluídos.
fação por ajudar, Fadiga emocional, Mudança de Empregou-se o método da análise paralela (Hayton,
crenças, Sintomatologia traumática secundária, Allen, & Scarpello, 2004) para determinar o número
Compreensibilidade, Desafio, Empatia, Sentido de fatores na análise dos componentes principais. As
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análises estatísticas descritivas e inferenciais bivariadas Por meio do teste ANOVA, identificou-se que o
e multivariadas foram realizadas no programa Statistical modelo de 12 fatores possui maior poder explicativo,
Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0. quando comparado aos demais (13 e14 fatores). Tal
Empregou-se a AFC, com ajuste por meio de modelo sugeriu uma estrutura formada por 50 itens,
estimadores de máxima verossimilhança (MLE), cujos divididos em 12 fatores pertencentes a quatro escalas.
cálculos foram realizados no software R 3.3.1. Foi tes- Após essa etapa, empregou-se a análise fatorial explora-
tado o ajuste do modelo para 12 fatores e 50 itens. As tória, utilizando o mesmo ponto de corte para os itens
estatísticas utilizadas para ajuste ao modelo foram: Root (0,30). Informações detalhadas sobre a fatoração dos
Mean Square Error of Approximation (RMSEA,) Índice itens seguem descritas na Tabela 1 e na Tabela 2.
de Ajuste Comparativo (CFI), Índices de Tucker-Lewis Os resultados da AFE apontam que os valores das
(TLI) e o Teste Qui-quadrado do modelo. cargas fatoriais variaram entre 0,312 e 0,999 e média de
0,620. A menor carga foi representada pelo item S13
Procedimentos Éticos da escala Personalidade e a maior identificada no item
Este estudo teve como base as regras descritas na A14 da escala Antecedentes. O item A12 repetiu-se
Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde em dois fatores da escala Personalidade, apresentando
(Brasil, 2012). A pesquisa foi aprovada sob o número carga positiva (0,385) no fator Tipo de Tarefa e carga
CEP 13/1651, concedido pelo Comitê de Ética em negativa (-0,315) no fator Compreensão. Considerando
Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. a média dos valores por fator, a carga mais elevada foi
Os participantes assinaram eletronicamente o TCLE obtida no fator Consequências Organizacionais (0,797).
Enquanto o índice mais baixo foi observado no fator
ao marcar o item “sim”. Os principais resultados da
Pressão Social (0,406).
pesquisa foram enviados em forma de relatório para
profissionais que registraram seu endereço de e-mail na
página on-line da pesquisa. Análise Fatorial Confirmatória
A AFC revelou que o melhor modelo ajustado
é composto por 12 fatores, recorrente também no
Resultados
estudo de Lara, Jiménez, Muñoz, Merino e Chávez
(2011), embora com indicação de mudanças importan-
Análise Fatorial Exploratória (AFE)
tes na composição das escalas. Neste estudo, o ajuste ao
Para a condução das análises fatoriais, foram modelo por meio da AFC utilizou análises estatísticas
identificadas as medidas de adequação dos dados para para a estimação dos dados e obteve os seguintes resul-
detecção da estrutura fatorial. Tanto o resultado do tados: Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA
teste de KMO = 0,84, (Kaiser-Meyer-Olkin), quanto = 0,044; IC = 10%-90%); Índice de Ajuste Comparativo
o do teste de esfericidade de Bartlett de (χ² = 698,83, (CFI = 0,949); Índices de Tucker-Lewis (TLI = 0,904);
gl = 62 e p < 0,001), indicaram a viabilidade da fato- Teste Qui-quadrado do modelo (7083,49) e Graus de
rabilidade dos dados. O emprego da análise paralela, Liberdade (GL) = 1176; p-valor < 0,0001). Em termos
considerando 0,30 como valor de saturação para os comparativos, é possível identificar diferenças entre os
itens, sugeriu três modelos e extração (com 10 fatores; índices de ajuste encontrados na análise fatorial con-
com 11 e com 12 fatores). firmatória realizados no estudo de validação realizado
Foi realizada uma AFE robusta por meio do por Lara et al. (2011), no contexto mexicano (RMSEA
método de extração Minimum Rank Factor Analysis = 0,043; x2 = 83,3; CFI = 0,96; TLI = 0,90; GL =
(MRFA), com base na matriz de correlações policóri- 58 p < 0,0001). Em ambos, entretanto, foi encontrado
cas dos itens da QETS, visando permitir a extração da um modelo de 12 fatores. Neste estudo, a AFC sugere
proporção da variância comum explicada pelos fatores como melhor ajuste um conjunto de 50 itens distribuí-
retidos. Com a finalidade de evitar a superestimação de dos em doze fatores (Figura 1).
fatores comuns, adotou-se a análise paralela como téc- O modelo ajustado explicou 56% da variância
nica estatística para interpretação dos fatores obtidos na acumulada (Tabela 3), cujo coeficiente de consistência
AFE. Resultados similares foram obtidos entre aqueles interna foi de 0,91 (alfa de Cronbach). No estudo de
produzidos pelo método de extração de componentes Lara et al. (2011), o modelo ajustado representou 62%
principais e a análise paralela, identificando, ao menos, da variância acumulada e 0,78 de índice de consistên-
12 fatores principais. cia interna.
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Tabela 1.
Análise Fatorial Exploratória das Escalas Antecedentes e Trauma Secundário do QETS
Componentes da Matriz Rotacional
Escalas
Itens F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9
A2 0,599
A3 0,639
A4 0,509
A5 0,543
A8 0,412
A9 0,365
C3 0,442
Antecedentes A12 0,385 -0,315
A14 0,999
A15 0,447
A16 0,504
A17 0,510
A18 0,756
A19 0,687
A20 0,730
S3 0,469
S4 0,424
S5 0,650
C2 0,367
C4 0,578
C5 0,759
Trauma
C6 0,472
Secundário
C7 0,483
S6 0,501
S7 0,533
S8 0,696
S11 0,530
S12 0,993

Os fatores do modelo ajustado foram interpre- Pressão Social (F12). Os doze fatores estão distribuí-
tados como: Desafio (F1), Estado de Humor (F2), dos em quatro escalas que mantiveram a nomenclatura
Fadiga de Compaixão e Repercussões Sociais (F3), da versão original: Antecedentes (E1), Síndrome de
Satisfação em Ajudar (F4), Consequências Organiza- Trauma Secundário (E2), Personalidade (E3) e Con-
cionais (F5), Empatia (F6) Carga Horária e Laboral sequências (E 4).
(F7), Trauma Secundário (F8), Compreensão (F9), Em relação ao estudo de validação de Lara et
Tipo de Tarefa (F10), Mudança de Crenças (F11) e al. (2011), o estudo de análise da estrutura interna da
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Tabela 2.
Análise Fatorial Exploratória das Escalas Personalidade e Consequências do QETS
Componentes da Matriz Rotacional
Escalas
Itens F8 F9 F10 F11 F12
S13 0,312
P1 0,498
P2 0,833
P3 0,670
P4 0,577
P5 0,642
P6 0,401
P7 0,616
P8 0,356
Personalidade
P10 0,550
P11 0,694
P12 0,833
P13 0,772
P14 0,705
P15 0,819
P16 0,692
P17 0,71
P18 0,862
C8 0,788
Conse-quências C9 0,804
C10 0,779

QETS revelou que: a escala Antecedentes conservou 14 do item S13 no fator Empatia, reduziu o número de
itens da versão original e adicionou o item C3 no fator itens do modelo para 49.
Pressão Social. Além deste, os outros três fatores com-
põem a escala (Carga Horária e Laboral, Tipo de Tarefa Discussão
e Satisfação em Ajudar). Formada por três fatores, a
escala Síndrome de Trauma Secundário manteve oito O ETS compreende um significativo sofrimento
itens originais e acrescentou no fator Fadiga de Com- que vem sendo identificado nos profissionais da saúde
paixão e Repercussões Sociais cinco itens (C2, C4, C5,
em diferentes países. No Brasil, há uma lacuna na pro-
C6 e C7), oriundos da escala Consequências. Os demais
dução científica acerca do tema, a qual toma maiores
fatores mantiveram a nomenclatura (Mudança de Cren-
proporções se comparada ao crescente número de
ças e Sintomas de ETS).
Após o ajuste do item S13 na escala Personalidade, publicações sobre o ETS na literatura internacional
os fatores Desafio, Satisfação em Ajudar e Compreen- (Dalagasperina, 2017). Dessa forma, o presente estudo
são conservaram a estrutura original. Foram mantidos examinou a estrutura fatorial do QETS, com vistas a
17 itens e acrescido o item S13, da escala Síndrome de utilizá-lo no país. O processo de ajuste ao modelo
Trauma Secundário, no fator Empatia. Por fim, a escala envolveu mudanças tanto na compreensão dos itens,
Consequências passou a ser formada por um fator, quanto dos fatores. O item C3 (Tenho problemas car-
composto pelos itens (C8, C9, C10), denominado Con- díacos) se ajustou ao fator Pressão Social da escala
sequências Organizacionais. Cabe ressaltar que o ajuste Antecedentes. A ausência de congruência teórica para
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Figura 1. Análise fatorial exploratória.

item nessa escala, bem como sua baixa carga fatorial num estudo realizado com bombeiros e paramédicos
(0,442) determinaram a remoção do item. (Meda et al., 2012).
As implicações nos relacionamentos interpes- Em relação as implicações negativas nos relacio-
soais (derivadas da escala Consequências) somadas namentos, níveis mais altos de ETS foram associados
aos itens da Fadiga de Compaixão do Fator Trauma significativamente com: menor satisfação no relaciona-
Secundário, configuraram-se como manifestações da mento conjugal, redução da habilidade de comunicação
Síndrome de Trauma Secundário. Resultado similar foi social, aumento da evitação de pessoas e rupturas nos
observado na correlação entre os três tipos de Conse- relacionamentos interpessoais (Bride, 2007; Dekel,
quências (física, social e organizacional) e a Síndrome Levinstein, Siegel, Fridkin, & Svetlitzky, 2016; Lahav,
de Trauma Secundário, que indicaram associação Stein, & Solomon, 2016; Robinson-Kilig, 2014). Essas
positiva e com alto nível de significância entre as duas, alterações também podem estar associadas ao fato de
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Dalagasperina, P. & cols.  Questionário de Estresse Traumático Secundário 327

Tabela 3.
Variância das Escalas e Subescalas do QETS
% de % de variância Variância
Escalas Subescalas Eigenvalues
variância acumulada acumulada escala
Antecedentes Carga Horária e Laboral 1,8 0,04 0,04 0,15
Pressão Social 1 0,02 0,06
Tipo de Tarefa 1,73 0,04 0,10
Satisfação em Ajudar 2,59 0,05 0,15
Síndrome Fadiga de Compaixão e 3,29 0,07 0,22 0,15
de Trauma Repercussões Sociais
Secundário Mudança de Crenças 1,97 0,04 0,26
Trauma Secundário 1,85 0,04 0,3
Personalidade Empatia 2,55 0,05 0,35 0,21
Compreensão 1,83 0,04 0,39
Desafio 2,78 0,06 0,45
Estado de Humor 2,8 0,06 0,51
Consequências Consequências 2,49 0,05 0,56 0,05
Organizacionais

Tabela 4.
Coeficiente de Correlação de Pearson entre os fatores do QETS e o PCL-C
Síndrome de Trauma Secundário PCL-C PCL-C PCL-C TOTAL
(para validar) Revivência Evitação Excitabilidade PCL-C
Desafio -0,097 -0,034 -0,06 -0,065
Estado de Humor 0,198 0,263 0,272 0,267
Fadiga de Compaixão e Repercussões Sociais 0,68 0,726 0,732 0,773
Satisfação em Ajudar -0,26 -0,304 -0,25 -0,296
Consequências Organizacionais 0,357 0,377 0,355 0,394
Empatia 0,436 0,433 0,467 0,481
Carga horária e Laboral 0,19 0,238 0,277 0,256
Síndrome de Trauma Secundário 0,373 0,349 0,338 0,381
Compreensão 0,507 0,531 0,45 0,538
Tipo de Tarefa 0,341 0,329 0,344 0,365
Mudança de Crenças 0,452 0,539 0,523 0,55
Pressão Social 0,36 0,431 0,328 0,408

que os parceiros conjugais de pessoas acometidas pelo Figley (1995) utilizou o termo para descrever os efeitos
ETS tendem a apresentar maior nível de sofrimento do estresse traumático em profissionais de saúde que
psíquico, caracterizado por sintomas de estresse pós- trabalham com pacientes traumatizados. A Fadiga de
-traumático ansiedade e depressão (Dekel et al., 2016). Compaixão se refere à exaustão física e emocional e é
O entendimento da Fadiga de Compaixão como compreendida como um termo genérico por envolver
manifestação do ETS encontra respaldo na literatura. uma combinação de sintomas do ETS e da SB. (Newell
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& MacNeil, 2010). Manifesta-se comumente entre os removido, e o item A12 (que apresentou sobreposi-
em profissionais de saúde, particularmente naqueles ção) foi ajustado ao fator Tipo de Tarefa.
que cuidam de pacientes crônicos e/ou agudamente Um estudo de validação da escala Síndrome de
doentes (Klein, 2018). Trauma Secundário do QETS, realizado no México
Na escala Personalidade, o item A12 (Fico muito com profissionais de emergências e bombeiros, obteve
aborrecido quando atendo alguém que sofreu maus dados satisfatórios. A escala manteve os itens e sofreu
tratos) concorreu em dois fatores (Tipo de Tarefa apenas uma alteração. O item 3, do fator Trauma
e Compreensão). Os demais itens do Tipo de Tarefa Secundário, apresentou maior congruência teórica no
estão relacionados ao atendimento às vítimas de violên- fator Fadiga de Compaixão (Meda et al., 2011). Tal
cia e ao sofrimento envolvido nesse processo, enquanto resultado distancia-se dos achados deste estudo, no qual
o fator Compreensão corresponde a falta de clareza foram eliminados seis itens da escala original e acresci-
cognitiva na tomada de decisões e nas tarefas a serem dos cinco itens da escala Consequências. Essa distinção
desempenhadas (Moreno et al., 2004a). pode ser atribuída ao fato de que as análises dessa vali-
A pontuação negativa do item A12 no fator Com- dação envolveram todas as escalas do QETS e foram
preensão denota que o profissional não se aborrece realizadas com profissionais de outras categorias.
ao atender pessoas que sofreram maus tratos. Desse Foram identificadas correlações significativas
modo, isso estaria associado a uma distorção cognitiva entre as versões do QETS e do PCL-C que indicam
frente ao sofrimento dos pacientes. Tal vivência é carac- a convergência entre as escalas. Tal resultado sugere
terística da Fadiga de Compaixão que é definida como que ambos os instrumentos mensuram o mesmo traço
uma redução da capacidade ou do interesse do profis- latente (Pasquali, 2003). A pontuação negativa no fator
sional em ser empático ou suportar o sofrimento dos Desafio se deve ao fato de que os itens estão associados
pacientes (Figley, 1995). Frente a esse entendimento, à aspectos positivos, assim como ocorre na Satisfação
optou-se por manter o item em seu fator original (Tipo em Ajudar. A ausência de significância nesse fator pres-
de Tarefa), em função de apresentar maior congruência supõe que encarar o trabalho como um desafio não se
teórica e carga fatorial mais elevada. configura como um fator de proteção ou risco para o
A menor carga fatorial foi observada no item S13 desenvolvimento do ETS, neste estudo.
(Guardo imagens muito reais daqueles acidentes que
mais me afetaram) que migou para o fator Empatia. Considerações Finais
A empatia é o principal recurso utilizado pelos pro-
fissionais para compreender o processo traumático Este estudo examinou a estrutura interna do
vivenciado pelo paciente (Figley, 1995; Moreno-Jiménez Questionário de Estresse Traumático Secundário para
et al., 2004b). Quanto maior for o nível de envolvimento uso no país com profissionais da saúde. Os resultados
afetivo, maior será a probabilidade de desencadear os das análises demostraram índices psicométricos relati-
sintomas do transtorno, como nesse caso, a revivên- vamente baixos e uma nova organização dos itens das
cia (Figley, 1995). Correlações positivas e significativas escalas do QETS, apontando um distanciamento teó-
foram encontradas entre a empatia e as três subescalas rico da versão original do instrumento, diferentemente
da Síndrome de Trauma Secundário em um estudo que do estudo de Lara et al. (2011), que indicou proprie-
correlacionou as quatro escalas do Modelo Processual dades psicométricas satisfatórias da CETS para a
do ETS (Meda, Moreno-Jiménez, Palomera, Arias, & população mexicana. Isso pressupõem que ambos não
Vargas, 2012). mensuram da mesma forma o constructo ETS, baseado
O item com maior carga fatorial (0,999) foi no Modelo Processual.
o A14 (Custa-me esquecer situações que a vítima é Como limitações deste estudo, cabe ressaltar que
menor de idade ou idoso). Esse resultado corrobora os resultados obtidos, embora objetivando a represen-
com estudos internacionais que apontam como fato- tatividade nacional, foram, em sua maioria, fornecidos
res desencadeantes de estresse entre os profissionais por profissionais da região Sul, sendo a quase totalidade
que atuam em emergências e cuidados paliativos, as deles do sexo feminino. Outro limitador refere-se ao
situações de abuso e a idade do paciente (Berg, Har- fato de que a investigação envolveu diferentes catego-
shbarger, Ahlers-Schmidt, & Lippoldt, 2016; West, rias profissionais da área da saúde, sendo que a maioria
2017). Ao final da análise o ajuste ao modelo passa a era da enfermagem. A ausência de estudos de valida-
ser composto por 48 itens, uma vez que o item C3 foi ção realizados com as quatro escalas do CETS limitou a
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Dalagasperina, P. & cols.  Questionário de Estresse Traumático Secundário 329

discussão dos dados. Sugere-se que novos estudos pos- Brasil. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466 de
sam utilizar esse instrumento e ampliar sua validação 12 dezembro de 2012. Diário Oficial da República
para outros tipos de amostras. Além disso, a diferença Federativa do Brasil. Brasil (DF). 12 de dezembro
entre a fatoração dos dados pode estar associada à de 2012.
ausência de estudos quase-experimentais que pudessem
Bride, B. E., Radey, M., & Figley, C. R. (2007). Measu-
identificar o estresse traumático secundário em uma
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amostra clínica.
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Almeja-se que o conhecimento acerca dessa
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forma de adoecer possa ser disseminado, tanto no meio
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332 Dalagasperina, P. & cols.  Questionário de Estresse Traumático Secundário

Sobre os autores:

Patricia Dalagasperina é Graduada em Psicologia pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões, possui Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental pelo Instituto Cognitivo, realizou Mestrado e
Doutorado em Psicologia Clínica na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, fez estágio pós doutoral em Avaliação e
Desenvolvimento na Universidade Federal de Santa Catarina.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8752-3856
E-mail: pati-d@hotmail.com

Elisa Kern de Castro possui graduação em Psicologia, mestrado em Psicologia do Desenvolvimento doutorado em
Psicologia Clínica e da Saúde - Universidad Autónoma de Madrid e estágio pós-doutoral em Psicologia pela Universi-
dad de Salamanca. Foi coordenadora executiva do PPG Psicologia Unisinos. Atualmente é professora na Universidade
Lusíada de Lisboa no Mestrado em Psicologia Clínica. Faz parte do CLISSIS.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1290-7561
E-mail: elisa.kerndecastro@gmail.com

Roberto de Moraes Cruz é Psicólogo, especialista em avaliação psicológica, ergonomia e psicologia ocupacional,
doutor em Engenharia de Produção, pós-doutorado em Métodos e Diagnóstico, Medicina Nuclear e Episemiologia.
Atualmente é professor e pesquisador do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Univer-
sidade Federal de Santa Catarina. Líder do Laboratório Fator Humano (UFSC) e pesquisador do Núcleo de Pesquisa
em Neuropsicologia e Saúde.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4671-3498
E-mail: robertocruzdr@gmail.com

Artur Pereira é Graduado em Economia e Ciência Política pela Universidade de Toronto - Campus St.George. Master
of Business Administration pela Fundação Getúlio Vargas.
ORCID https://orcid.org/0000-0003-4016-3341
E-mail: arturcp@gmail.com

Bernardo Moreno Jiménez é Graduado em Psicologia pela Universidade de Leuven. É Doutor em Psicologia pela
Universidade Autonama de Madrid. Atualmente é professor credenciado em Psicologia da Personalidade, com ênfase
em processos de personalidade, estresse e saúde, e em Psicologia da Saúde Ocupacional, com ênfase em riscos psi-
cossociais e psicopatologia clínica ocupacional. Diretor do Título Próprio Intervenção Psicossocial em Emergências,
crise e catástrofe.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5360-0518
E-mail: bernardo.moreno@uam.es

Contato com os autores:

Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Ciências Humanas, Laboratório Fator Humano
Rua Engenheiro Agronômico Andrei Cristian Ferreira, s/n, Trindade
Florianópolis-SC, Brasil
CEP: 88040-900
Psico-USF, Bragança Paulista, v. 26, n. 2, p. 319-332, abr./jun. 2021

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