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A IMPORTANCIA DO ESTAGIO SUPERVISIONADO NA FORMACAO DO PROFISSIONAL DE CONTABILIDADE Hamilton Luiz Favero Mestre em Ciéncias Contabeis Docente da UEM e FIAPEC Resumo, Muitos fatores dificultam a colocagao de profissionais qualificados no mercado de trabalho. O Estégio Supervisionado, resultado de um esforgo conjunto da Universidade, do setor produtivo, do Govemo e da comunidade & a melhor solu para superar tais dificuldades. Abstract (sercamasiemense Many factors make the placing of qualified professionals in the market workforce difficult, The Supervised Teaching Stage, a result of joint efforts of the University, of the productive sectors, of the government, and of the community, is the best solution to overcome such difficulties. 1. Consideragdes Gerais meme Cabe a escola parte da responsabilidade pela formagio de profissionais adequados as necessidades do mercado de trabalho. Entretanto, essa ndo é uma tarefa facil, pois envolve uma série de avaliagdes subjetivas de dificil solugao. Como preparar os futuros profissionais? Que parémetros utilizar para definir as caracteristicas que irdo ‘compor o perfil desses profissionais? Como avaliar a sua qualidade? Esses sto alguns questionamentos para os quais tem-se dificuldade em encontrar Octavio Bif ' Especialista em Ciéncias Contabeis Docente da UEM respostas precisas e satisfatérias. Normalmente 0 mercado de trabalho ¢ dindmico, em fungao das mudangas constantes nas areas politicas ¢ econémicas ¢ o ensinamento da escola ¢ estatico, em decorréncia da forma de implementagio dos curriculos e seus conteiidos. E o mercado de trabalho, 0 que espera do profissional? A empresa necesita de profissionais que tenham condigdes de por em pratica a teoria adguirida na escola, e, normalmente, desempenho € competéncia so fatores que irdo decidir sobre a qualidade desse profissional. ‘esse sentido verifica-se anecessidade de encontrar equilibrio entre as exigéncias do mercado de trabalho e as condigdes das instituigdes de ensino para atendé-lo, Cabe & escola, a tarefa de transmitir os conhecimentos necessarios para que os profissionais possam desempenhar adequadamente as suas atividades. Aqui, 0 estagio supervisionado reveste-se de significativa importancia, na medida em que proporciona melhores condigées ao aluno de se iniciar na profissdo. Todavia, é importante salientar que 0 estégio deve superar seu cardter apenas formal que ainda persiste em algumas instituigdes de ensino. AS instituigdes de ensino s6 conseguirao atingir os, seus objetivos se idealizarem todo um processo de formagio de profissionais qualificados e, nesse contexto, oestigio supervisionado deve ser um dos instrumentos que deverao promover a ligacaio da teoria com a pritica. Entretanto, esse processo de aproximago da teoria com a pratica, a nosso ver, nao deve iniciar somente no ultimo periodo do curso, quando o aluno ja estar desenvolvendo 0 estigio. A relagao teoria/pratica deve ocorrer desde © primeiro até o ultimo dia de aula, permitindo, desta forma, que o aluno conhega gradativamente as peculiaridades da profissio e do mercado de trabalho onde ira atuar. 2. O Estégio Supervisionado e 0 Mercado de Trabalho Para que ocorra a interagiio entre os ensinamentos transmitidos na escola ¢ os requisitos do mercado de trabalho, torna-se necesséria a contribuigio de ambas as partes. Normalmente o que temos observado € que boa parte dos empresarios ainda resistem em ceder eespago em suas empresas para que os alunos possam desenvolver 0 estigio. Talvez isso possa ser explicado pelo desconhecimento da real importincia da contabilidade pelos préprios empresarios, ou, ainda, pelo comodismo dos contadores que até 0 ‘momento pouco fizeram para mostrar classe ‘empresarial outras vantagens da contabilidade que niio seja o atendimento aos requisitos do governo, ‘Também é importante lembrar que, se ainda hoje os empresarios resistem em ndo ceder espago para que os alunos de Cigncias Contébeis desenvolvam © estigio, as instituigdes de ensino tém boa parcela de culpa por esse procedimento. Historicamente observa-se que a maioria das instituigdes de ensino apenas tomam conhecimento de que o aluno desenvolve seu estgio em determinada empresa. Nao hé um acompanhamento efetivo pelos supervisores e orientadores. Nao hé contrapartida do estagirio para a empresa. Apenas a empresa cede suas informagies e estruturas para que o aluno possa desenvolver seu trabalho. Para 0 estagiario, a empresa é apenas 0 “laboratério”, e, apés terminado o seu trabalho, ele ndo apresenta, na maioria das vezes, nenhuma sugestio que possa contribuir para a melhoria dos resultados da empresa, Se as instituigdes de ensino pretendem utilizar 0 estigio supervisionado como instrumento para colocar o aluno frente & realidade e a pratica contabil existente na sociedade onde ele ira atuar, elas precisam desenvolver trabalhos de base visando concientizar os empresérios da real importdncia da contabilidade e das vantagens que obterdio contribuindo para a formago de profissionais ‘melhores qualificados. A ética de desenvolvimento do estagio também deve ser mudada. Esses deveriio ser desenvolvidos em situagdes reais, sob a supervisio ¢ orientago de professores no local onde ‘estigio esti sendo desenvolvido, objetivando, além de melhores resultados para 0 aluno, contribuir também para que a empresa possa encontrar solugSes para os problemas diagnosticados durante o desenvolvimento do estigio. 3. O Estagio Supervisionado e as Instit goes de Ensino Cabe as instituigdes de ensino a tarefa de criar condigdes para que os alunos possam desenvolver seus trabalhos ,vivenciando casos reais. Todavia, ¢ importante salientar que nem sempre os alunos encontrardo nas empresas uma pritica contabil saudavel e de acordo com os ensinamentos aprendidos em sala de aula. No Brasil tem-se observado que a maioria das pequenas e médias, empresas, além de nio estarem estruturadas adequadamente, tem sua contabilidade efetuada por profissionais que, na maioria das vezes, executam a contabilidade apenas para atender aos requisitos do governo, o que poderia provocar um enorme viez no aluno que nao estivesse preparado adequadamente. Nesse sentido, verifica-se que colocar um aluno frente ao mercado de trabalho realmente nao é tarefa muito simples. E preciso transmitir conhecimentos com profundidade suficiente para que ele possa entender ndo somente ‘como se faz contabilidade, mas também por que se faz, Desta forma, rapidamente ele compreenderi que a pritica contabil existente na maioria das pequenas e médias empresas brasileiras traz poucos beneficios aos empresarios e demais usuarios, e buscard modelos mais avangados para atender aos requisitos desses usuarios. 4. O Estagio Supervisionado e os Acadé- micos Cestagio supervisionado é 0 controle de qualidade para oaluno que é0 produto em fase de acabamento em que as instituigdes de ensino esto procurando dar 0s retoques finais para colocar no mercado. O estigio deve representar 0 tltimo obsticulo a ser transposto no caminho rumo ao exercicio da profissio. A responsabilidade do aluno nessa fase do curso € enorme, visto que o seu desempenho sera uma das medidas de avaliagao do "produto" que as instituigdes de ensino esto colocando no mercado, ‘Nessa fase, na maioria das vezes ocorrem problemas de relacionamento (aluno-empresa) que comprometem o desempenho dos estagiarios da area contébil. As insttuigdes de ensino normalmente conseguem transmitir aos alunos bons conhecimentos téenicos; falta, contudo, formagao geral e humanistica. Essa caréncia tem repercutido negativamente no momento em que os estagirios, se defrontam com diferengas entre a pratica contabil desenvolvida nas empresas ¢ os ensinamentos apreendidos nas instituigdes de ensino. Falta-lhes profundidade suficiente para perceber qual ¢ 0 caminho certo a seguir e por qué. As dificuldades enfrentadas pelos estagiarios nessa fase do curso so muitas, pois é 0 momento em que a teoria tem que ser colocada em pratica. Nesse sentido, € necessario que haja muita confianga ¢ seguranga em relagiio aos contetidos assimilados para que o aluno tenha condigdes de mostrar aos usuarios da contabilidade as suas condigdes de ser um bom profissional 5.0 Estdgio Supervisionado - Aspecto Legal O Decreto n° 87.497, de 18/08/82, define regras parao desenvolvimento do estagio supervisionado. ‘Abordaremos a seguir os aspectos mais importantes, do referido decreto. ' 1) considera-se estigio curricular as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante pela participac30 tem situagdes reais de vida e trabalho de seu meio, sendo realizada na comunidade em geral ou junto ‘a pessoas juridicas de direito piiblico ou privado, sob responsabilidade e coordenagao da institui- ‘80 de ensino. 2) Oestigio curricular, como procedimento didé- tico-pedagégico, ¢ atividade de competéncia da instituigdo de ensino a quem cabe decisio sobre a matéria. 3) As instituigdes de ensino regulardio a materia sobre estigio curricular, dispondo sobre: a) insereao do estagio curricular na programagao diditico-pedagogica. b) carga horaria, durag3o ¢ jornada de estigio curricular, que nao poderd ser inferior a um semestre letivo. «) condigdes imprescindiveis para caracterizagdo € definigdo dos campos de estigio curricula- res. d)sistematica de organizagiio, orientagao, supervisio ¢ avaliagao de estagio curricular. 4) Para caracterizagiio e definigdo do estagio curricular é necessdria, entre a instituigdo de ensino e pessoas juridicas de direito piblico © privado, a existéncia de instrumento juridico, periodicamente reexaminado, onde estaro acordadas todas as condigdes de realizagio daquele estigio, inclusive transferéncia de recursos & instituigdo de ensino, quando for 0 caso. 5) A realizagdo do estigio curricular por parte do estudante ndo acarretara vinculo empregaticio de qualquer natureza. 6) A instituiglio de ensino poderé recorrer aos servigos de agentes de integragdo piblicos ¢ privados, entre o sistema de ensino e os setores de produgdo, servigos, comunidades e governo, ‘mediante condigdes acordadas em instrumentos juridico adequado. 7) A instituigdo de ensino, diretamente, ou através de atuagao conjunta com agentes de integragio, providenciara seguro de acidentes pessoais em favor do estudante. ara se tingir os objetivos propostos neste trabalho, sugerimos a inclusio do estigio supervisionado ‘como disciplina do Cursos de Cigncias Contabeis, cujo regulamento poderia abordar, dentre outros, 0s seguintes aspectos: 6. Contribuigées para a Elaboragio de Regulamento de Estagio Supervisiona- do 6.1 Finalidade do Estagio ( estigio supervisionado em Ciéncias Contibeis devers proporcionar ao aluno experiéncia no campo da contabilidade, a fim de prepari-lo e habilité-lo para o exercicio da profissio, assim como desenvolver sua capacidade criativa. ‘A finalidade do estgio poderd ser alcangada através de trabalho de pesquisa e/ou de campo, como também em ambiente real de atuagao profissional, com apresentagdo de monografia, que poderia abranger as seguintes éreas, dentre outras: a) Auditoria e Pericia Contabil; ') Contabilidade de Custos; ©) Contabilidade Geral; 4) Contabilidade Gerencial; €) Contabilidade e Orgamento Piblico; e 1) Contabilidade e Orgamento Empresarial. 6.2 Organizacao do estégio Supervisionado O estigio supervisionado de Ciéncias Contibeis compreenderi as seguintes atividades de responsabilidade do Departamento de Ciéncias Contibeis: supervisio, orientagao e avaliagao. A supervisto do estigio devera ser exercida por professor integrante da carreira docente, lotado no Departamento de Ciéncias Contabeis com atribuigao de encargo de ensino. \ Denire outras, a titulo de sugestdo, pode-se atribuir a0 supervisor de estigio as seguintes tarefas: a) programar as atividade a serem desenvolvidas pelos estagidrios regularmente matriculados na disciplina; b) coordenar as atividades dos estagirios; ©) estabelecer contato com instituig8es piblicas ‘ou privadas, no intuito de firmar convénios de estigio; 4) divulgar junto aos alunos do curso de Ciéneias Contabeis as atividades de estégio; ©) apreciar juntamente com os orientadores os planos de estigio; 1) indicar os orientadores dos estagiarios; 2) acompanhar as atividades dos estagiarios, sem, centretanto, interferir na orientaga0. A orientagao dos estagiérios poder ser exercida por professor lotado no departamento de Ciéncias Contabeis, preferencialmente com notério conhecimento da érea do estigio, coma finalidade de levantar problemas, propor altemnativas de solugdes, sem, contudo, interferir na decisdo final que cabe ao estagisrio. Para estigios desenvolvidos fora da instituigdo de ensino, 0 estagiério podera ser, comple- mentarmente, co-orientado por técnicos que as entidades indicarem. Todavia, é conveniente lembrar que em qualquer uma das situagdes 0 estigio deverd ser, preferencialmente, desenvolvido individualmente. Oestigio de Ciéncias Contabeis desenvolver-se-i em ambientes internos ¢ externos. Em ambiente interno poderd ser realizado no escritério-modelo, desde que devidamente equipado. Quando desenvolvido em entidades com co-orientacao ‘técnica, os materiais necessirios & execugdo do trabalho poderdo ficar sob a responsabilidade do aluno. ‘No regulamento de estigio supervisionado poderio ser incluidos, ainda, as disposigbes sobre a responsabilidade dos professores orientadores ¢ técnicos-orientadores, direitos e deveres do aluno, assim como os critérios de avaliagao e demais itens necessérios para assegurar a qualidade do trabalho aser desenvolvido pelo aluno. Conclusao Podemos perceber, entio, as enormes dificuldades para se colocar no mercado de trabalho um profissional bem qualificado. Se de um lado temos ‘as instituigdes de ensino que ainda nao tém delineado 0 perfil do profissional que estdo formando, deixando portanto de informar & sociedade sobre o “produto” que estdo colocando no mercado, de outro, temos os empresiios que ainda nao conhecem exatamente toda a potencialidade da contabilidade, estando, assim, impossibilitados de oferecer contribuigdes mais significativas para o delineamento do profissional desejado. E, em meio a toda essa problemitica esta 6 aluno que acaba sendo parte integrante e vitima de um processo que peca por identificagdes quanto 298 seus objetivos e necessidades. Diante do exposto, verifica-se a necessidade de um esforgo conjunto das instituigdes de ensino, classe empresarial, érgdos de classe, governo ¢ estudantes no sentido de criar condigdes favoraveis para se colocar no mercado de trabalho profissionais ‘competentes e capazes de mostrar caminhos seguros para que as empresas possam trilhar o rumo de seu desenvolvimento. Bibliografia AZEVEDO, L. de - A Dimensio Social e Politica do Estagio Curricular - Uma perspectiva de mu- danga, 1° Encontro Nacional sobre Estégio Cur- ricular, Rio de Janeiro, junho/87. BRASIL, DECRETON-’ 6.494, de 07 de Dezem- bro de 1977. BRASIL, DECRETO N.° 87.497, de 18 de Agos- to de 1982. CORREIA, G. B. O movimento CIEE ¢ 0 Estagio, para Estudantes, 1° Encontro de Estagios do Ensino Superior, Maringé, junho/83. MOLINARI, I. A Extenso Universitaria como campo de Estgio Curricular, 1° Encontro Na- cional sobre Estégio Curricular, Rio de Janeiro, setembro/97.

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