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Coagida a fazer algo que ela não queria, por um homem que tinha
acabado de conhecer, o caminho de Cecile Viana, encontra-se com o do
poderoso magnata Andrew Castillo, que a toma como sua propriedade somente
para atingir seu grande inimigo, seu primo Jonas Vitello. No entanto, basta o
toque desse homem sexy e arrogante, para que ela perca toda a razão. Andrew,
desperta em Cecile uma ardente paixão. No início era apenas uma vingança, mas,
se transforma em algo mais, e, nenhum dos dois está disposto a abrir mão.
“Sua vida estava nas mãos de um homem arrogante que ela não ousava
amar... Ou seria o contrário?”
Copyright © Liliene Mira, 2021
Revisão: Rosana Bezerra (Vivart - Criação e Design)
Diagramação: Rosana Bezerra (Vivart - Criação e Design)
Capa e Contracapa: Mirart - Criação e Design)
REFÉM DE UM MAGNATA
LILIENEMIRA
1ª Edição – 2021
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— O que você quer comigo, Jonas? — Pergunto a ele mais uma vez
em italiano, já acomodada no banco do carro.
Confesso que estou bastante preocupada e com medo, não o conheço,
entrei nesse carro contra a minha vontade.
Eu estava na minha, mexendo em meu celular, a boate estava cheia, mas,
eu não estava a fim de dançar.
Foi quando Jonas se aproximou de mim, jogando todo seu charme, tentei
resistir, no entanto, é difícil resistir quando um cara faz você se sentir a mulher
mais linda do mundo.
Pensando bem, só agora notei o quanto estou carente, se eu tivesse
olhado bem pra ele, veria o quão fingindo ele é.
O deixei me guiar entre a multidão, achei que estávamos indo para um
lugar mais reservado.
Eu queria beijar na boca, faz tempo que não sei o que é isso.
Quando notei que tínhamos saído da boate, comecei a ficar em pânico.
— Onde você está me levando? — Pergunto tentando disfarçar o medo
com a raiva.
Naquele momento lembrei-me de minha mãe, ela achava que eu estava
no meu pequeno apartamento estudando.
Quando recebi uma bolsa para estudar administração em Roma, na Itália,
não pensei duas vezes, sempre foi meu sonho e o sonho da minha mãe.
Ela trabalhou duro para que eu estivesse nesse país e sempre quando dá,
ela manda algum dinheiro para mim e eu mando para ela também.
Trabalho como babá temporária, o dinheiro é bom e o melhor, não me
atrapalha nos estudos.
Depois de tanto tempo, hoje, foi à primeira vez desde que cheguei que
saí para me divertir.
— Calm si sarà già sapere (Calma que você já vai saber). — Ele
réplica em italiano, me fazendo ficar com mais medo.
Ele não espera a minha resposta e continua me puxando pela mão, eu
tento resistir, mas nada adianta.
Um carro utilitário preto estaciona e ele literalmente me jogar dentro do
carro. O veículo começa a andar e meu coração parece que vai sair pela boca
de tanto medo que estou.
— Onde você está me levando? — Já acomodada no carro, pergunto a
ele novamente.
— De onde você é? Você não é italiana, isso está bem claro para mim. A
verdade é que seu sotaque te denúncia. — Ele diz com um sorriso zombeteiro.
— Não é da sua conta. — Respondo com raiva.
— Brasileira? Maravilha. — Ele diz, batendo palmas. — Si dice che il
Brasile ha la passione, Verità? (Dizem que as brasileiras têm paixão, verdade?)
— As palavras em italiano sumiam de minha mente, então preferir ficar em
silêncio. — Não vai responder? — Ele pergunta em português, me fazendo ficar
surpresa. — Não fique surpresa minha cara, eu sei falar um pouco do português,
não é dos melhores, mas, eu sei.
— Onde você está me levando? O que você quer comigo? — Ele fica
calado e lança sobre mim um olhar malicioso. — Não faço sexo com alguém
que acabei de conhecer. Digo a ele com raiva.
Na verdade, ainda não fiz com ninguém.
— Não foi o que me pareceu agora a pouco. — Ele diz torcendo a boca
em um sorriso de desprezo.
— Beijar alguém nunca fez mal a ninguém.
— Já que é assim. Ele tira o cinto de segurança dele e avança sobre mim
e me beija.
Um beijo duro, que machuca meus lábios, eu tento resistir, mas a língua
dele é insistente, então deixo sua língua entrar em minha boca.
Na primeira oportunidade mordo a boca dele, o fazendo gemer de dor.
Sinto o gosto do sangue dele e o empurro com toda força, o afastando de
mim. Tudo isso só me fez ficar com mais raiva dele.
— Você se enganou quando disse que beijar não faz mal.
Esse homem tem um senso de humor horrível.
Volto a mim quando ele estaciona o carro em uma praça com pouco
movimento.
Acredito que já passa das três da manhã.
Quando faço que vou sair, ele agarra meu braço, me impedindo de
descer do carro.
— Quero que você leve essa pasta para mim, lá naquele prédio. — Ele
abaixa o vidro do carro e aponta um edifício enorme, mais ou menos uns vinte
metros de distância. Parece um hotel de luxo.
— Eu não vou a lugar nenhum. Leve você mesmo sua pasta. Além do
mais, deve ser mais de três da manhã, não deve ter ninguém. — Digo a ele
cruzando meus braços.
— É um hotel, sempre tem alguém acordado, eu levaria, mas não dá.
Como pensei, um hotel.
— O que eu tenho que ver com isso? Você me sequestrou, ainda quer a
minha ajuda? Deixe-me ir que não irei te denunciar a polícia. — Ele parecia
achar graça de mim. Idiota. — Ainda tenho que estudar para uma prova, Jonas.
Quando faço que vou sair novamente, ele prende uma algema prateada em meu
braço, gelei na hora.
Noto que a algema também está presa á pasta.
Porra, onde foi que eu me meti?
— Como pode fazer isso? Me solte. Ordeno a ele desesperada.
— Você não me deu outra opção. Quando tudo estiver terminado, você
pode ir embora, te dou minha palavra. — Ele pegou um pedaço de papel, não
sei de onde ele tirou, escreveu alguma coisa e colocou dentro da pasta e a
fechou. — Você vai chegar na recepção e dizer que deseja entregar a pasta a
Andrew Castillo, a mando de Jonas Vitello, lá eles dirão o que você deve fazer.
— E a chave da algema? — Pergunto não conseguindo conter as
lágrimas.
— Está com Andrew.
Eu estou com medo, muito medo, mas não posso demonstrar, esse homem
parecia estar brincando com minha cara.
ESSE DESGRAÇADO. Grito em minha mente.
Limpei as lágrimas do meu rosto e saí do carro sem dirigir mais
nenhuma palavra a ele.
Ajeitei minha saia, meu Cropped e caminhei até o prédio.
Visto do carro, o prédio me pareceu muito mais perto, mas, caminhando
em cima de um salto alto, não é nada agradável.
Quando estava me aproximando, olhei para cima e li o nome; Hotel
Andrew Castillo, escrito na fachada do enorme prédio.
Engoli em seco, nunca havia entrado em um lugar tão luxuoso. Um
segurança com a fisionomia carrancuda abre a porta de vidro e eu entro. Esse
hotel só pode ser vinte e quatro horas, uma hora dessas ainda tem recepcionista.
De cara, dá para perceber o quanto esse Andrew é rico.
“Deve ser bilionário ou talvez o primeiro trilionário no mundo todo.
Será?” — Esse pensamento só me deixa mais nervosa ainda.
Na recepção há vários sofás espalhados para conforto das pessoas que
chegam.
Mas naquele momento estava deserto, a não ser pelos seguranças e o
recepcionista.
Caminho a passos lentos até a recepção, tentando disfarçar meu
nervosismo. A face do recepcionista está séria, muito séria, não me ajudava em
nada, minhas mãos tremiam involuntariamente e eu me segurava para não limpá-
las em minha saia.
— Posso ajudar senhorita? — Ele pergunta com cara de nojo.
Tudo bem que minha aparência não está das melhores, por causa das
lágrimas, com toda certeza o lápis de olho ficou borrado, mas, isso não é
motivo para esse cara me olhar desse jeito, o que ele está pensando que eu
sou?
— Estou aqui para fazer uma entrega ao senhor Andrew Castillo. —
Respondo.
— A senhorita marcou horário? — Ele pergunta me olhando estranho.
— Não!
— O senhor Castillo não marcou horário com nenhuma pessoa a essa
hora, muito menos pediu uma prostituta.
— O QUE DISSE? — Digo em um tom alto, perdendo toda calma.
“Questo figlio di puttana. (Esse filho da puta).” — Penso contrariada.
O cara nem me conhece e me destrata assim.
Ele apenas me olhou com desprezo, como se eu o estivesse
importunando.
Quando eu estava para dar uma bofetada na cara dele, apareceu um
homem segurando meus braços. Ele apertava tanto que eu sentia dor.
— O QUE É ISSO? SOLTE-ME SEU BRUTAMONTE DE MERDA,
VOCÊ NÃO PODEM FAZER ISSO, SEI OS MEUS DIREITOS.
Eu gritava, mas nada adiantava.
— Já chega mulher, diga logo o que você quer.
— Em primeiro lugar, não me trate assim, pois, você não me conhece,
em segundo lugar, eu já disse o porquê estou aqui, você não é surdo.
Eu já estava com raiva do que Jonas fez comigo, ainda vem esse cara
me destratar? Fiquei indignada.
Eu só posso ter tombado com o capiroto para ter uma noite de cão
como essa. Não tem como piorar. Pensei.
— A mando de quem você deseja fazer a tal entrega? — Ele pergunta
com ironia.
— A mando de Jonas Vitello.
O recepcionista idiota me olhou estranho novamente. Pegou o ramal,
apertou algum número, passaram-se uns dez segundos, alguém atende do outro
lado.
— Senhor? Há uma mulher precisando falar com o senhor a mando de
Jonas Vitello. — Ele faz uma pausa. — A quem eu anúncio?
— Jonas, ele estar no carro me esperando.
Ele fala ao telefone.
— Qual o seu nome?
— Não, Jonas que me enviou.
— O senhor Castillo quer saber qual é seu nome senhorita? — Ele
pergunta novamente, impaciente.
Agora sou senhorita? A pouco esse fuleiro me chamava de prostituta,
agora tá parecendo uma cadela balançando o rabo para o seu dono.
O brutamonte não largava meu braço, só diminuiu o aperto, mesmo assim
me sentia incomodada.
— Cecile.
— Cecile de quê?
— Apenas Cecile. — Respondo, já ficando preocupada. — Se o senhor
Castillo puder vir rápido, porque tenho... — Ele levanta a mão me impedindo de
completar a frase.
Cazzo (Caralho), nem falar eu posso.
O que deu nesses homens de agir feito uns trogloditas comigo hoje?
— O senhor Castillo, está á caminho. — Saber isso, não me fez respirar
aliviada, só me preocupou mais ainda. — Ele pediu para senhorita aguardar
aqui.
— Posso me sentar ou me encostar em algum canto? — Pergunto, minhas
pernas estão bambas e se tornou uma tarefa difícil disfarçar o medo, fora o salto
scarpin, que em nada facilitava minha vida.
— Não senhorita, o senhor Castillo disse que é para ficar aí, se ele disse
que é para ficar aí, é melhor obedecer a ordem dele.
Eu não disse nada, só fiquei olhando para ele.
Cadela!
Acho que não se passou nem dois minutos, ouço a chegada do elevador,
cinco homens saem de lá, todos mal encarados, caminhando em minha direção.
Olhei assustada, eles pareciam cinco leões querendo abocanhar a sua
presa, nesse caso, eu.
Eu nem tinha notado que o homem que segurava meu abraço tinha se
afastado e os homens que saíram do elevador me cercaram, me pegaram por
meus dois braços e começaram a me arrastar até o elevador.
— O QUE VOCÊS ESTÃO FAZENDO? POR FAVOR, PAREM, EU
NÃO FIZ NADA. — Eu gritava em italiano, mas, eles nem ligavam para mim.
Comecei a tremer, com a pasta pendurada machucando meu pulso.
Chegando ao décimo quinto andar, os homens saem, esperam eu sair
também, mas, eu não faço menção de sair do elevador.
“Onde foi que eu me meti? Pergunto-me novamente.”
Os homens agarraram meus braços novamente, me puxando sem se
importar se está ou não me machucando.
Seguimos por um corredor muito bonito, onde as paredes são feitas com
madeira.
Eles entram em um quarto enorme, vão direto a uma porta de madeira e
me empurram, me fazendo tropeçar. Quando consigo me equilibrar, ainda
tremendo, observo a sala, linda e espaçosa.
Assim que meus olhos caem sobre uma cadeira no canto da sala, noto um
par de olhos verdes me encarando, um olhar mal e avaliativo, que fez meu corpo
todo se arrepiar.
Aquele deve ser o tal Andrew.
Ele estava literalmente jogado na cadeira, observando todos os meus
movimentos, como um predador faz antes de acabar com sua presa.
CAPÍTULO 01
Olhando a mulher assustada a minha frente, não é difícil imaginar o que
Jonas viu nela. Por mais que o seu corpo seja lindo, maravilhoso e suas curvas
tentadoras, são seus olhos que mais me chamaram a atenção, o medo contido
neles é disfarçado pela raiva e algo mais. Ela me avaliou dos pés a cabeça e
suas pupilas dilataram-se involuntariamente, esse algo mais que eu notei em seus
olhos, me remeteu a palavra desejo, porque é isso que eu sinto olhando esse seu
corpo delicioso...
“Pare de pensar dessa forma seu idiota. Eu instruía a minha mente.”
— Aproxime-se! — Ordeno, mas, ela nem se digna a sair do lugar. — Eu
disse para você se aproximar. — Aumento minha voz e ela se encolhe toda, antes
de se aproximar de mim. Não sou de tratar mulher nenhuma mal, mas, não tolero
quem brinca com minha vida e se ela veio a mando de Jonas, não é coisa boa.
Nunca imaginei que poderia odiar tanto uma pessoa, ainda mais essa pessoa
sendo da minha família. — Quem é você?
— Ce... Cecile. — Ela diz gaguejando. Belíssimo nome combina com a
dona. Como é que eu sei isso? Nem conheço essa mulher. Ela não é italiana, seu
sotaque a denuncia.
— Cecile de quê? Não irei perguntar novamente minha cara. — Pergunto
me levantando da cadeira que está no canto da sala. Ela ainda continua agarrada
a pasta, como se isso pudesse protegê-la de mim. Eu nunca fui adapto da
vaidade, mas nesse momento, eu senti uma pitada dela. Se ela me deseja e sente
medo de mim, para começar está de bom tamanho, para o que estou pensando
fazer com ela.
— Cecile Viana! — Ela diz, evidenciando mais sua raiva. Guardo esse
nome em minha mente, pois, pretendo saber tudo sobre essa mulher.
— Sente-se Cecile... — Ela nem sai do lugar. Ou ela está realmente com
medo ou simplesmente é surda. Não gosto de dar medo em mulher nenhuma,
sempre preferi dar prazer, mas, essa mulher terá o que merece.
Chamo dois seguranças e peço para colocá-la sentada em uma cadeira em
frente a minha mesa. Não quero tocá-la, não ainda, saber que Jonas a tocou me
deixa com muita raiva, não entendo o porquê.
— Senhor, é um engano terrível, só vim aqui entregar a pasta. — Ela está
realmente assustada. — Se não tiver a chave, não precisa cortar meu braço,
podemos pensar em outra coisa, outra forma de o senhor ter a sua pasta. — O
que ela pensa que sou? Um assassino? Um esquartejador de pessoas? Eu poderia
estar rindo da situação se não estivesse com tanta raiva agora. — Por favor,
senhor, eu imploro. — Ela voltou a chorar. Mas, imaginar que ela estava a pouco
com Jonas, sabe-se fazendo o quê, isso me incomoda. Puxo uma cadeira e sento
em frente a ela. — Senhor eu não fiz nada, foi um grande engano. — Ela continua
insistindo em dizer isso, mas, eu não quero acreditar nisso.
— O que tem na pasta? — Questiono-a, encostando-me à cadeira.
— Não sei! — Ela diz exasperada, denunciando o seu cansaço. Ela
pronunciou essas palavras em português, mas, acredito que não percebeu.
Maravilha, mais uma brasileira em minha vida, Jonas sabe que não suporto
mulheres brasileiras. — Não sei o que há na pasta, Jonas me entregou e disse
que eu tinha que te entregar. Acha que eu quero estar aqui? Eu fui forçada.
— Isso não importa mais. — Acho que ela não percebia que ela falava a
língua portuguesa e nem que eu a entendia e conversava de igual. Aprendi
português com minha ex-esposa, para alguma coisa aquela mulher maldita serviu.
Levantei-me da cadeira, peguei um papel e uma caneta em cima da mesa e
escrevi três números e entreguei a ela.
— O que é isso?
— O código para abrir a pasta. — Jonas havia me enviado o código há
dez minutos. — Abra a pasta. — Ordeno saindo da sala. Meus seguranças entram
com escudos antibomba e se posicionam em frente a porta do escritório, eu saio
do escritório e fico atrás da parede, a parede é reforçada com aço, que pode
aguentar uma pequena explosão.
— O que há dentro da pasta? — Ela diz interrompendo meus
pensamentos.
— Nada perigoso. — Minto, mas, a verdade é que eu não faço ideia do
que tenha lá dentro e não confio em Jonas.
— Então porque o senhor mesmo não abre? — Garota esperta.
— Não confio em Jonas. — Digo expondo meu pensamento de agora a
pouco.
— Eu também não confio nele. — Ela diz preocupada. — Só o conheci
hoje na boate. — Saber isso não mudou meu temperamento. Como uma mulher
conhece alguém e no mesmo dia já esta fazendo o que ele quer? Jonas deve ser
muito bom no sexo. Por que eu tinha que pensar nisso?
— Abre logo essa pasta! — Grito em italiano. Posso senti-la se encolher.
— Tudo bem! — Foi tudo o que ela disse antes de abrir a pasta. Os
segundos se passaram e todo meu corpo ficou apreensivo. E se ela abrir e
acontecer algo com ela? Vou me sentir mal por isso? Pergunto-me.
— Não irei! — Digo em voz alta. Mas a minha mente teme em me dizer
que sim, teme em dizer que vou me culpar.
— Por favor, Deus, me ajude. — Ela diz, em seguida ouço um estalar de
algo sendo aberto. Tarde demais para impedi-la de abrir. Idiota, você demorou
para impedi-la. Fico me censurando.
— Descreva o conteúdo da pasta para mim Cecile. — Peço a ela ainda
do lado de fora da sala.
— Não tem muita coisa, há somente uma caixa de tamanho mediano,
escrito em sua tampa "te peguei" e um papel dobrado escrito o seu nome nele,
acho que é uma carta. — Eu não sentia mais o medo em sua voz, mas sim uma
raiva contida.
Entrando na sala, noto que seu rosto não transparece nada, nenhuma
emoção. Aproximo-me da pasta e realmente só consta isso e uma chave, acredito
que das algemas, acho que ela não viu. A raiva que sinto de Jonas só faz
aumentar. Pego a chave dentro da pasta e jogo para ela.
— O que é isso? — Ela pergunta voltando a falar em italiano, deve ter
recobrado a calma.
— A chave das algemas. — Respondo tirando a carta de dentro da pasta.
— Mentiroso...
— O que disse? — Questiono olhando para ela.
— Esse Jonas, maldito e mentiroso, filho de uma cadela.
Ela diz gritando e com raiva, voltando a falar português. Não é que ela
está certa, a mãe de Jonas é uma cachorra usurpadora. Pensei gargalhando por
dentro, esse pensamento me fez sentir-me bem, em saber que a sua raiva está
direcionada para Jonas, não para mim. Enquanto ela tira as algemas, começo a
ler a carta.
“Então primo, gostou da "surpresa"? Espero, para o meu prazer que a
resposta seja NÃO. Tome cuidado, da próxima vez pode não ser uma
brincadeira. Ah, gostou da brasileira? Se quiser pode ficar, não me serve
mais.”
Fico agradecido a meu primo pelo presente, em uma coisa esse traste
acertou.
— Parece que você me pertence la mia piccola
(Minha Pequena). — Digo a ela não disfarçando a malícia em minha voz.
— O que disse? — Ela indaga de repente parecendo assustada.
— Eu disse que você é minha! — Respondo virando para encará-la. Não
percebo que ela já tinha se aproximado de mim. Foi tudo muito rápido, senti um
ardor em minha face no lado esquerdo, automaticamente minha mão esquerda
descansou no lugar que ardia. Sua mão vai para bater do outro lado de minha
face, mas, dessa vez, eu sou mais rápido e agarro seu braço esquerdo e o
mantenho suspenso no ar, não sei, passaram-se segundos, minutos, ficamos na
mesma posição, travando uma batalha com nossos olhares, mas, eu não sou um
homem de perder o que quero e nesse momento eu decidi que a quero, além de
esfregar na cara de Jonas que gostei do presente, ainda vou ter esse corpinho
todo para mim.
CAPÍTULO 02
S
— olte-me. — Ordeno a ele, mas de nada adianta.
— E por que eu faria isso? Estou gostando dessa proximidade. — Ele se
aproximava cada vez mais, o cheiro do seu perfume me deixa tonta, eu não
consigo entender como posso me sentir atraída por alguém que ia me machucar,
se é que ainda não vai me machucar. Tento recuar, mas, estava imprensada entre
ele e a mesa.
— Non toccarmi! (Não me toque!)
— Sei bellissimo la mia piccola. (Você é linda minha pequena). — Ele
me acha linda. De alguma forma esse pensamento me alegrou.
— Não sou tão pequena. — Não posso ser fraca e deixar esses homens
fazerem o que querem comigo. Onde está o meu orgulho? — Afaste-se de mim,
senhor.
— Você não manda em mim, ponha-se em seu lugar. — Ele parecia
irritado com meu comportamento. — Eu não lembrava que as brasileiras eram
tão difíceis. — Eu não me surpreendo de ele falar português, nem de saber que
sou brasileira, faz tempo que estou falando português, mas, não tinha notado que
ele me entendia. — Ainda mais uma facile donna. — Ele completa em italiano.
— Eu não sou uma mulher fácil...
— Como não? Meu primo é tão bom de cama que você me rejeita?
Quanto ele te pagou? — Dessa vez ele foi longe demais. Empurro meu joelho
com tudo, o fazendo recuar de dor. Quem ele pensa que é, me ofendendo dessa
forma? Idiota como sou, ainda pensei em ceder as suas investidas.
— Por que fez isso?
— Porque não sou suas vagabundas. Não me toque.
— Você vai se arrepender por ter feito isso. — Senti meu corpo todo se
arrepiar, mas dessa vez de medo. Ele não me parece uma pessoa que faz ameaças
à toa.
— Eu quero ir embora. — Digo me sentindo cansada de repente. Seu
rosto parecia uma máscara sem expressão nenhuma.
— Faça como quiser, mas, não pense que vai se livrar de mim, você
agora me pertence.
— Eu não sou de ninguém, eu sou dona de mim. — Falei assustada.
— Tarde de mais. — Ele diz com ironia. — Quem mandou vir até mim?
— Não tive muita escolha...
— Isso é conversa. — Que homem arrogante, onde fui me meter meu
Deus? Onde fui me meter? Que arrependimento por ter saído à noite passada,
você é uma estúpida Cecile por fazer as vontades de Lívia.
Lívia é a minha melhor amiga, todos os dias conversamos pelo Skype e
noite retrasada, ela me convenceu a sair. Mesmo longe, ela pode ser convincente
quando quer.
— Imagine-se em meu lugar. No momento em que alguém se aproxima,
flertando com você, mas, quando você menos espera esse alguém te empurra
dentro de um carro e te força a entrar em um hotel, onde outro alguém te força a
fazer o que você não quer.
— Eu não forcei você a nada.
— Se dizer isso o faz sentir-se bem quando deita sua cabeça no
travesseiro. Você é igual a Jonas, duas pessoas aproveitadoras.
“Meu Deus, o que me levou a dizer isso? Ainda em voz alta.”
Eu nem conheço esse cara.
“E nem quero conhecer.”
Tudo bem que eu queria ofendê-lo, mas, o que causou foi totalmente o
contrário.
— Abbastanza (Já chega). — Ele grita em italiano me fazendo encolher e
recuar de medo. — Nunca mais me compare a esse homem.
“Acho que fui longe demais.”
— Mattias? — Ele chama alguém. Um homem alto e atraente, de cabelos
castanho claro em um terno preto feito sob medida aparece na sala. — Mattias,
leve essa mulher daqui. — Ele falava como se eu não estivesse aqui e de alguma
forma aquilo me magoou.
— Para onde Andrew? — Ele falava sem formalidades, deve ser alguém
bem intimo.
— Para casa dela. — Eu quase suspirei de alívio. — Agora me deixem
sozinho.
Ele não precisou pedir duas vezes. Saí sem olhar para trás. Uma parte de
mim quer vê-lo novamente, mas, a outra metade, quer que eu fique o mais longe
possível desse homem.
— Mattias, você não parece Italiano. — Digo, já no carro, um utilitário
prateado. Passo meu endereço a ele e vamos embora.
— Sou brasileiro. — Ele afirma me deixando surpresa.
— Eu também sou. — Respondo a ele em português.
— O que me denunciou? — Ele pergunta com um sorriso descontraído.
— Seu sotaque. — Digo retribuindo o sorriso. — De qual parte do Brasil
você é?
— Do Nordeste da Bahia, um interior chamado Retirolândia.
— Eu sou de Salvador, moro em Brotas. Fico feliz por conhecer alguém
do meu estado.
— Eu também. — Ele afirma.
— Como você veio morar na Itália, Mattias?
— Um homem foi até Ritirolândia e atraiu vários jovens, alegando ser de
uma agência de moda, eu nem estava presente no dia. Mas, esse homem me viu
na rua e disse que eu tinha o perfil e convenceu minha família. Eu nem queria
vim, só tinha 16 anos na época, eu pensava em namorar, terminar os estudos e ir
para a faculdade. Mas era tudo mentira da parte dele, no momento em que
chegamos aqui, ele nos forçou a se prostituir. — Fiquei abismada com o que ele
disse.
— Sinto muito Mattias...
— Tudo bem, já é passado. — Ele diz com uma facilidade. — Fiquei
nessa vida por seis meses, consegui fugir e comecei a passar fome, foi quando
conheci Andrew, eu tentei roubá-lo. — Ele diz com um sorriso nos lábios. — Eu
contei tudo a ele, ele me ajudou e ajudou a todos os outros jovens também,
viramos amigos.
— Meu Deus, você passou por tanta coisa. Por que não voltou ao Brasil
depois que ele te ajudou?
— Ele me fez uma proposta.
— Qual?
— Ele me ajudaria a terminar meus estudos e fazer minha faculdade de
administração, em troca trabalharia para ele.
— Como motorista? — Pergunto incrédula.
— Não, sou seu braço direito, assistente executivo, a única pessoa que
ele confia. — Ele completa com orgulho.
— Você falando assim parece até que esse homem é uma boa pessoa.
“Aquele idiota mandão, delicioso.”
Que pensamento foi esse? Pare de pensar nesse cara Cecile, esse homem
a humilhou, te tratou mal.
— Ele não é ruim depois que você o conhece.
— Sei. — Digo não acreditando no que ele diz.
— Ele só está com raiva. — E o que eu tenho a ver com isso? — Você
estava com Jonas, eles dois são inimigos. — Ele faz uma expressão estranha,
acho que ele falou demais.
— Eu não estava com Jonas, não no sentido que ele imagina, Jonas me
sequestrou. Mas nem sequer aquele homem escutou o que eu disse, aquele
troglodita. — Ele apenas sorrir para mim. — Por que o senhor Castillo é inimigo
de Jonas? — Por um instante ele me pareceu desconfortável mais uma vez.
— Isso você terá que perguntar a ele.
— E a sua família Mattias? — Decido voltar ao nosso assunto de antes.
— Eu nunca contei a eles o que se passou comigo, eles iriam sentir-se
culpado. Todo mês mando dinheiro para eles.
— Moram em Retirolândia ainda?
— Sim, não querem sair de lá por nada. — Ele diz sorrindo e eu retribuo
o sorriso. — E você?
— O que tem eu?
— Eu falei muito sobre mim, mas não sei nada sobre você.
— Verdade, agora nem dá mais.
— Por quê? — Ele pergunta não entendo nada.
— Já chegamos.
— Verdade.
— Tome meu whatsapp, vai ser bom ter um amigo aqui. — Tiro um
pedaço de papel e uma caneta dentro de minha bolsa e escrevo meu número, em
seguida entrego a ele. — Agradeço a carona, Mattias. Ele sai, faz à volta no
carro e abre a porta para mim. Dou dois beijos, um de cada lado de sua face e
saio.
Mattias até que é bonito e atraente, mas, aquele homem não sai da minha
mente, me sinto uma idiota.
— Quem ele pensa que é? — Digo em voz alta, entrando e batendo a
porta com força. — Espero nunca mais vê-lo.
Vou até meu quarto, coloco minha bolsa no guarda roupas, meus saltos no
sapateiro e vou até o banheiro, me despindo. Tiro a roupa e jogo no cesto de
roupas sujas. Tomo um banho frio, me sinto cansada, já passa das oito da manhã
e ainda não dormi, daqui a pouco tenho que ir para a faculdade.
Vou estudar um pouco. Assim que termino o banho vou até a sala, ligo
meu notebook, caminho até a cozinha para pegar uma maçã na fruteira e volto
para a sala e começo a estudar.
Foi o pior estudo que tive em minha vida, minha mente não conseguiu
reter nada. Paro de estudar e decido dormir um pouco, aqui no sofá mesmo.
Ponho o alarme do celular para despertar às 13h00min da tarde, já que a prova é
às 15h00min e pego no sono rapidamente.
CAPÍTULO 03
***
E
— u não entendo essa mulher. — Penso vendo-a ir embora.
Faz dois meses que Cecile trabalha para mim.
Dois longos e torturantes meses.
Eu tentei de várias formas fazê-la mudar de ideia, claro que não
diretamente, eram toques prolongados, eu ensinava várias vezes a mesma coisa
para ela, mesmo sabendo que ela já tinha aprendido da primeira vez.
Cecil é bastante inteligente, suas respostas rápidas, seu jeito de falar, seu
jeito de andar, tudo nela me excitava.
É uma sensação horrível, você está tão próximo de alguém que te excita e
não poder fazer nada, isso tem me deixado estressado.
Pior que eu não consigo sentir mais tesão por ninguém, vou as boates
tentar acabar com essa tensão insuportável e nenhuma gostosa atrai meu
interesse.
Só Cecil ocupa toda minha mente, isso me vem a questão que preciso
resolver isso logo.
Eu não gosto da forma que a trato, sempre grosseiro, sempre estressado
com algo, ou com alguém.
Não sei por que ajo assim com ela, eu só sei que não quero amar ninguém
e Cecil parece alguém que facilmente pode ser amada.
Quando o elevador se abriu, e vi Cecil sentada em sua cadeira como de
costume, meu coração perdeu o ritmo e voltou a bater normalmente.
Cecil estava despeça, mas, pude perceber que ela estava com aparência
de cansada e isso me preocupou.
— Ainda aqui Cecil. — Disse não gostando nada da forma que ela me
encarou.
Eu dei um susto nela e me repreendi internamente por isso.
— Andrew, desculpa, não o vi chegar. — Ela falou nervosa.
— É, notei você estava com a mente bem longe, tudo bem?
— Humm, está tudo bem sim. — Mentira.
Mesmo a conhecendo há pouco tempo, estou aprendendo a conhecer suas
manias e quando ela esconde algo, ela mexe no cabelo enrolando na ponta dos
dedos.
Acho que nem ela percebe que faz isso. Pensei resistindo à vontade de
tocar em seu cabelo também.
— Hoje é dia de faculdade, por que não foi? — Perguntei tentando mudar
o rumo de meus pensamentos.
— Estou com um pouco de dor de cabeça. — Outra mentira.
Hoje Cecil está estranha.
— Já tomou algum remédio para dor? — Minha preocupação já estava
aumentando
— Sim. — Poxa, outra mentira.
Não entendo porque ela faz questão de esconder que não está bem.
— Hum, ok, Cecil, pode ir pra casa...
— Não posso, estou terminando um trabalho.
Eu não me lembro de ter pedido nada para ela fazer, não que demorasse
tanto, esse trabalho deve ser para Paulo, eu sei que ela tem ajudado ele em
alguma coisa.
Ele tem mais contato com ela do que eu. Penso com raiva.
— Eu já disse a você para ir para casa Cecil.
Eu não queria falar desse jeito com ela, mas, como sempre isso acontece,
sendo que eu não consigo controlar.
— Termine amanhã Cecil, tenho uma reunião daqui a pouco... — Tento
amenizar a grosseria de antes.
Há um ano, descobri que tenho uma prima por parte de mãe, Alessia
Montanari. Assim como eu, ela também já perdeu os pais. Ela que me
encontrou.
Encontramo-nos algumas vezes e descobri que ela é uma detetive
particular, então decidi pedir a ela que trabalhasse para mim, investigando o
atentado em minha casa. Esse horário é o único horário que eu tinha
disponível e ela aceitou fazer a reunião.
— Reunião? Não vi nada marcado em sua agenda, ainda mais esse
horário. — Ela disse olhando em sua agenda.
Como sempre ela é bem observadora.
— Essa reunião é pessoal. — Não quis entra em detalhes.
— Entendo Sr. Castillo, já estou de saída.
Foi a única coisa que ela me disse em resposta.
Eu pude ver a decepção em sua face e me senti culpado. Não sei por que
ela ficou decepcionada. Será pela forma que eu falei com ela? Ou será porque eu
disse que a reunião é pessoal?
Não consigo imaginar o porquê ela ficaria decepcionada pela segunda
opção, só se ela achar que a reunião é com uma mulher e ficou com ciúmes.
Esse pensamento me alegrou.
Cecile é tão linda, essa calça branca a deixou tão gostosa, difícil olhar e
não imaginar como é por baixo dela.
Ela não está bem Andrew, você sabe. A preocupação me atinge
novamente.
— Acho melhor pedir a Mathew, para levá-la pra casa.
Mando a mensagem para ele e espero a resposta. Assim posso ficar
menos preocupado.
— Andrew? Andrew? — Sinto um toque em meu ombro e desperto de
meus pensamentos.
— Alissa. — Exclamo surpreso. — Não vi você chegar.
Realmente não vi mesmo, eu preciso focar mais.
— Percebi primo, te chamei duas vezes. — Ela responde sorrindo. —
Seus olhos estavam focados naquela bella donna.
— Eu não estava fazendo isso. — Me senti uma criança birrenta, pego
fazendo algo escondido.
— Não acredito que você está apaixonado e nem mesmo sabe disso.
Ela dá uma gargalhada, eu não consegui acompanhá-la, não achei graça
nenhuma, achei foi bem ridículo essa afirmação, não estou apaixonado coisa
nenhuma.
— Vem cá me dammi un abbraccio. — Alissa diz se aproximando de
mim.
Ela me abraça e eu retribuo, só que minha mente está em Cecile e não
escuto o que ela diz em seguida.
— Hã, você disse algo?
— Hoje você não está bem Andrew, vamos marcar para outro dia essa
reunião. Você está tenso. — Completa preocupada.
— Estou bem, Alissa, vamos fazer a reunião hoje mesmo.
— Se é assim que você deseja tudo bem.
— Grazie prima. Vamos fazer a reunião aqui mesmo.
Sento na cadeira de Cecil e aponto a cadeira que fica em frente a mesa
para Alissa sentar.
Era tão bom estar no ambiente dela, sentir seu cheiro. É o mais perto que
cheguei de senti-la. Sem tê-la por perto.
A minha conversa com Alissa foi rápida e direta, não levou nem dez
minutos. Expliquei resumidamente o atentado que aconteceu à minha vida a uns
quatro meses atrás, contei que suspeitava de Jonas, mas, que não tinha como
provar. Basicamente o trabalho dela é achar as provas.
Ela me parece ser uma pessoa eficiente, entendeu e disse que começará
imediatamente a investigação.
Senti-me bem em deixar nas mãos dela esse trabalho, por mais que eu a
conheça há pouco tempo, ela me passa confiança.
Pensei em deixar esse trabalho com Mathew, mas, ele precisa focar em
minha segurança.
Mathew diz que desconfia de um traidor em sua equipe, pedi para ele
resolver isso, então não posso dar mais trabalho para ele fazer.
Eu tinha acabado de levar Alissa até seu carro, quando recebi uma
ligação de Mathew.
Pensando no diabo.
Ele só me liga quando é estritamente importante, em minha mente veio à
imagem de Cecil e logo atendi sua ligação.
Meu coração disparou e um medo se apossou de meu corpo.
— Mathew, o que aconteceu? Onde está Cecile? — Nem me importei em
chamá-la pelo primeiro nome.
Eu estava nervoso e minha voz carregada de preocupação.
— Sr. Castillo, ela desmaiou, a levamos para o hospital.
Meu coração se encheu de medo.
E se for algo grave.
Em minha mente passava várias coisas ao mesmo tempo.
É só preocupação de chefe, nada mais.
— Em qual hospital vocês estão Mathew?
— Estamos no hospital geral San Giovanni Addolorata. Ela foi atendida,
mas ainda não deram nenhuma notícia.
— Estou à caminho.
— Espere senhor, vou pedi a um dos seguranças para ir busca-lo.
— Não precisa Mathew, já estou à caminho.
Não esperei resposta de Mathew, desliguei o celular, como eu já estava
na garagem, corri até meu carro que sempre deixo de reserva para o caso de uma
necessidade como hoje.
As chaves ficam em cima de umas das rodas dianteira, quem sabe isso é
só eu e Mathew.
Já a caminho do hospital, tento correr o máximo que posso.
Por mais que meu carro seja um Porsche Cayenne e possa correr rápido o
suficiente, não me sinto seguro de fazer isso. Estou nervoso e muito preocupado
com Cecil, a última coisa que eu quero é causar um acidente.
Eu sentia o suor em meu corpo, minhas mãos suavam enquanto eu as
apertava ao volante, como se de alguma forma aliviasse a tensão.
Eu sentia medo por Cecil e o medo deixava um gosto amargo em minha
boca, algo que eu nunca havia sentido antes.
Nem mesmo com meu pai, me foi permitido sentir algo. Eu tinha viajado
a trabalho, é só isso que tenho feito. Tenho andado muito frustrado ultimamente.
Eu tinha viajado a trabalho, quando voltei meu pai já tinha morrido e sido
enterrado.
Meu pai sempre me dizia que queria ser enterrado ao lado do túmulo de
minha mãe, e o que Jonas fez? Enterrou ele onde são sepultadas as pessoas
desconhecidas. Aquele figlio di puttana.
Tentei na justiça mudar o túmulo de meu pai para ficar próximo ao de
minha mãe, mas de nada adiantou.
Eu vivo pensado em Cecil, recrio nosso beijo em seu apartamento várias
e várias vezes, fecho os olhos e lembro, lembro-me do seu sorriso, mesmo que
ela nunca tenha me dado um sorriso, já o vi muitas vezes em seus lábios. Ainda
assim, quero estar perto dela, gosto da sensação que ela me traz, quando isso não
acontece, me sinto triste, mas, eu me alegro quando sei que ela está bem. Só que
agora eu não sei se ela está bem e essa sensação é horrível.
— Cecil está bem, Cecil está bem.
Era a prece que passava em minha mente. Quando se acredita
profundamente em algo, é o primeiro passo para fazer esse algo acontecer.
CAPÍTULO 11
C
— oloque-me no chão Andrew, eu sei andar.
Na ida para casa de Andrew, eu acabei cochichando no carro. Eu estava
meio que acordada ainda e, meu corpo instantaneamente (prefiro pensar que
tenha sido assim) se aconchegou mais próximo dele.
Eu senti seus braços me envolverem, isso foi minha perdição. Acabei
dormindo sem nem mesmo sentir o sono vir com tudo sobre mim.
Acordei, eu estava sendo carregada por ele, Andrew subia uma escada,
pedi para ele me colocar no chão, não porque estava ruim a sensação de ter o
corpo dele tão próximo, na verdade é tão maravilhosa que poderia ser viciante.
Não posso pensar isso.
— Da para me colocar no chão?
— Deixe de chatice Cecil, eu posso muito bem te carregar até o quarto.
— A questão não é essa, eu quero que você me coloque no chão.
Eu já estava ficando estressada com ele ficar querendo mandar em mim.
— Eu sou chata e você é mandão demais.
Ele não me respondeu, olhou para mim, deu o seu sorriso cínico e
continuou subindo as escadas.
Chegando ao quarto, ele abriu a porta comigo ainda em seu colo.
Não sei como ele fez isso.
Ele literalmente me jogou em cima da cama.
Idiota.
Não doeu porque a cama é macia.
O quarto é bem lindo e muito grande, maior que minha sala e cozinha
juntas. Amei a decoração rústica, totalmente masculina.
As paredes são pintadas em um tom cinza claro, o guarda roupa tem
portas de correr espelhados, ele é embutido na parede, fazendo o quarto ficar
maior ainda, cada lado da cama tem um criado mudo, com apoio lateral, no chão
tem um tapete cinza escuro, na mesma cor das cortinas. No quarto estavam
espalhados vários quadros, poltronas e luminárias.
Muito lindo mesmo.
— Gostou? — Andrew pergunta.
— Amei, lindo demais. — Respondo ainda olhando todo o quarto.
— Verdade, lindo demais.
Andrew falou de uma forma tão sensual que me fez olhar para ele, mas eu
não sabia que ele estava tão próximo e nossos rostos quase se tocavam.
Minha respiração acelerou e minha boca ficou seca, minhas mãos
coçaram, ansiando tocar em seus cabelos, meus lábios pediam para tocar os
dele, mas, eu precisava resistir.
— Por que você está tão perto Andrew? Preciso me levantar.
Não espero sua resposta e levanto rápido, tentando ficar o mais longe
possível dele.
Em uma poltrona, próximo a janela, tinha uma bolsa, acreditando que
eram minhas coisas, caminhei até ela.
Abri a bolsa e peguei uma blusa longa confortável, na verdade a mesma
blusa que eu vesti quando dei meu primeiro beijo em Andrew. Com ela em mãos,
me virei, mas acabei tombando com Andrew, só não caí porque ele me segurou
pela cintura.
Parece que tudo sumiu ao meu redor e só ele tinha ficado, uma euforia
tomou conta de mim, uma necessidade de tocá-lo. Mas a vergonha bateu em
cheio, eu não conseguia nem olhar em seus olhos.
Tentei sair de seu abraço, o seu aperto era forte, mas, não me machucava.
— O que está fazendo? Solte-me. — Seria uma ordem se eu não pedisse
com tanta insegurança.
— Eu que pergunto. — Ele diz se desvencilhando de mim abruptamente.
— O que você está fazendo?
— Eu não estou fazendo nada.
— Nada? — Ele pergunta com um sorriso irônico. — Você está mentindo
para você mesma.
— O que você quer de mim Andrew? — Fiz a pergunta muito mais alto
do que pretendia.
— Um beijo, Cecil, está na cara que você também quer. O que te
impede? Diz, o que te impede?
Eu não sei o que dizer, fico dividida entre o que eu quero e o que não
posso ter. Eu quero Andrew, quero muito, mas, não posso tê-lo, não da forma
que sonho em ter um homem, “meu príncipe desencantado”, mesmo não
admitindo, ainda sou aquela menina boba esperando seu príncipe.
Eu não entendo o que Andrew viu em mim, ele pode ter quem ele quiser,
mas insiste em querer algo comigo. Um caso de uma noite talvez, eu não quero
isso para mim.
— Você precisa tomar sua decisão Cecil, não espere eu tomar por você,
eu sei o que quero e você?
O foi a última coisa que ele disse antes de sair do quarto e bater a porta
com força.
— Eu sei o que quero, realmente sei o que quero.
Era o que eu dizia em voz alta o tempo todo, tomei banho dizendo isso,
me vestir dizendo isso, penteie meu cabelo dizendo isso. Ainda em frente ao
espelho, estou repetindo isso, mas, ainda não me convenci.
— Eu sei o quero. E o que eu quero? — Questionei. — Eu quero
Andrew, o quero muito. O que eu faço, droga? — Pergunto em voz alta.
Vá até o quarto dele?
— E se ele me expulsar de seu quarto sua mente estúpida?
Vá assim mesmo, essa é a oportunidade que você esperava.
— Verdade, essa é a oportunidade que eu esperava, preciso ariscar, pelo
menos dessa vez vou segui meu coração bobo.
Dou uma última olhada no espelho.
Não estou nada mal, as olheiras sumiram, meu cabelo está cacheado,
mais bonito que o normal, estou com calcinha e minha blusa ia até metade de
minhas coxas.
Ouço uma batida na porta, não sabia se era Andrew, então coloquei o
roupão que usei quando saí do banho. Quando atendi, vi uma mulher aparentando
uns quarenta anos, com cabelos pretos, cortados até o ombro, usando um
conjunto de blazer com saia azul escuro e uma blusa social branca, em seus pés
tinha uma sapatilha preta, deixando o conjunto harmonioso. A mulher começou a
falar com uma linda e melodiosa voz.
— Buona notte, signorina.
— Buona notte, signora. — Retribuo o comprimento.
— Sou Mona, governanta do Sr. Castillo.
— Piacere Mona, Sono Cecile, me chame assim. — Ela sorrir.
— Piacere Cecile. — Retribuo seu sorriso. — A signorina deseja jantar
agora?
— Não, estou sem fome, Mona.
Sem fome de comida, eu só penso em outra coisa.
— Qualquer coisa a signorina me diz. — Balancei a cabeça afirmando.
— O Sr. Castillo também não deseja jantar, ele me parece um pouco estressado.
— Ela completa, mas posso ver pelo seu olhar que se arrependeu por ter dito
aquilo.
Talvez eu tenha deixado ele puto da vida, acho melhor desisti, vou
amanhã. Minha resistencia começou a fraquejar.
Você vai sim, medrosa.
— Mona onde fica o quarto do Sr. Castillo? — Pergunto meio casual.
— No final do corredor. — Ela responde com um sorriso, seu sorriso
dizia: Eu sei o que você vai fazer. Que constrangedor. Dou apenas um sorriso
envergonhado.
Mona se despediu e saiu em seguida, esperei alguns segundos e fechei a
porta, tirei o ropão e o joguei em cima da cama. Sem sandálias, caminhei até a
porta, abri e saí. Naquele momento não pensei em nada, tinha medo de desistir.
Caminhei até o quarto de Andrew, pensei em voltar atrás várias vezes,
até que minha mão direita bateu na porta, foi automático.
— Entre. — Ouço-o dizer.
Agora é tarde.
Entrei e a visão que tive foi algo que nunca vou esquecer.
Andrew estava só com uma toalha em volta do seu quadril, sem camisa,
os cabelos molhados, denunciando que tinha saído a pouco do banho, ele olhava
pela janela, perdido em pensamentos.
— Não vou jantar, Mona, já disse a você que estou sem fome.
E agora, o que eu respondo? Pensa, pensa Cecile.
Mente idiota.
Talvez seja melhor voltar em outro momento.
Medrosa.
Eu sempre faço isso, fico discutindo comigo mesma e perco a noção de
tempo.
Quando voltei a mim, já era tarde.
Andrew me encarava tão surpreso quanto eu.
Não sei quanto tempo ficamos assim, travando uma deliciosa batalha com
nossos olhares.
Quando ele viu que eu não fazia menção em me mexer, estendeu sua mão
direita me chamando. Hesitei por um segundo, mas, as minhas pernas me levaram
até ele.
— O que você quer Cecil. — Ele pergunta pegando em minha mão
direita, ainda olhando em meus olhos.
Suas palavras anteriores vieram a minha mente.
Você precisa tomar sua decisão Cecil, não espere eu tomar por você, eu
sei o que quero, e você?
— Eu... Eu vim te agradecer. — Digo a primeira coisa que passa em
minha mente.
— O que você realmente quer, Cecil?
Ele estava tão próximo, nossas bocas próximas. Não esperei ele
perguntar duas vezes.
Minha boca tocou a dele em um selinho demorado e quando nossas bocas
se separaram, eu suspirei de contentamento.
Ele nada disse, só me encarava. A vergonha queria se apossar de mim,
mas, joguei ela bem no cantinho de meu cérebro.
— Eu quero você.
Falei tão decidida, fiquei orgulhosa de mim por não ter gaguejado. Pude
ver nos olhos de Andrew, uma surpresa, mas não durou muito.
Seus lábios tocaram os meus em um beijo bom e caloroso, que fez todo
meu corpo esquentar em resposta.
Um braço seu entrelaçou minha cintura e sua outra mão agarrava minha
nuca de um jeito bem gostoso, intensificando o nosso beijo. Ele se afastou um
pouco para tirar minha blusa e ficou admirando meu corpo.
— Você é tão linda.
— Grazie. — Digo tímida.
Eu não me sentia confortável em ficar nua na frente de outras pessoas, só
na frente de Livi e de minha mãe. Andrew, já me viu nua duas vezes, fico
envergonhada, mas, ainda assim me sinto a vontade em sua frente.
Que louco.
— Você fica linda corada. — Ele diz colando nossos corpos mais uma
vez.
Ele começou a beijar meu pescoço, passando a mão às vezes em minhas
costas, às vezes em minha cintura, suas mãos não ficavam paradas, estavam
sempre em alguma parte do meu corpo.
Ele me jogou na cama, começou a chupar minha barriga e foi subindo
lentamente.
Andrew, passou a mão em meus seios e deu uma leve apertada, em
seguida sua boca substituiu suas mãos e começou a chupar meu mamilo.
Eu já estava louca de excitação e posso ver pelo volume da toalha, que
ele também estava.
— Eu quero ver você também. — Pedi entre gemidos.
Ele levantou e retirou à toalha, meus olhos passearam por toda extensão
de seu membro.
— Está de seu agrado? — Ele pergunta com um sorriso maroto.
O membro dele era grande e grosso, bem convidativo, minha boca
ansiava chupá-lo. Não que eu tenha chupado algum homem, mas, meu corpo e
minha mente diziam para fazer isso com Andrew naquele momento.
— E como está. — Digo, retribuindo o sorriso. — Deixa eu te tocar?
— Agora não mia bella, se você me tocar, não sei se vou conseguir me
segurar. — Balancei a cabeça afirmando, meus olhos não saiam de seu pau.
Já estávamos loucos de tesão, novamente ele foi descendo a boca pelo
meu corpo e devagar, suas mãos foram tirando minha calcinha, passando as mãos
em minha coxas, usando as duas mãos ele abriu as minhas pernas e sua cabeça
foi direto em minha feminilidade, tentei fechar as pernas, mas, ele não deixou,
com a língua começou a me chupar, eram tantas sensações novas, meu corpo
todo vibrava, era melhor do que me masturbar sozinha.
O jeito que ele me chupava, fazia meus olhos revirarem, tipo os olhos de
Bran quando tinha uma visão em Game Of Thrones.
Eu ia ao paraíso em segundos. Eu já estava delirando e sentia o orgasmo
vindo, eu puxava os cabelos dele louca de tesão e ele continuava a me chupar
com vontade, ficava cada vez melhor.
Quando o orgasmo chegou, todo meu corpo vibrou, tremeu incontrolável,
eu só conseguia gemer e senti cada espasmos dele.
Quando consegui pensar novamente e meus olhos se abriram, vi Andrew
me observando.
— Até gozando você fica linda mia bella.
Apenas sorri em resposta.
— Agora é a sua vez, posso tocar em você agora? — Realmente quero
tocar nele, esperei tanto por isso, sonhei com isso.
— Agora quero está dentro de você, mia bella.
Gemi quando seu pau tocou em minha feminilidade, gemi de
contentamento. Meus gemidos pareciam deixá-lo mais excitado e seu pau parecia
crescer mais ainda.
Ele me beijou novamente, mas, dessa vez, foi um beijo lento, que fazia
nossas línguas dançar em sincronia, em seguida sua boca passou a beijar e a
chupar meu pescoço, dando leves mordidas.
— Eu sou Vir...
— Eu sei mia vita, eu sei.
Eu ia dizer que sou virgem, mas, ele disse que sabia, não quero saber
como, pelo menos não agora.
Ainda colado em meu ouvido, ele disse:
— Relaxa, mia bella.
Como num passe de mágica, todo meu corpo relaxou e eu me senti segura.
Ele levantou um pouco e tirou algo dentro do criado mudo. Deparei-me
com ele colocando a camisinha em seu pau, uma visão excitante, tudo nele é
excitante.
Novamente ele colou os nossos corpos e voltou a me dar selinhos na
boca.
Abri minhas pernas inconscientemente, de uma forma que ele se
encaixasse perfeitamente. De um jeito delicado, ele foi penetrando em mim, após
aquela dorzinha de leve passar, eu senti toda a extensão de seu membro.
Ele começou em um ritmo lento e foi aumentando a velocidade, eu gemia
baixo em seu ouvido, ele parecia se excitar mais ainda. Comecei a falar coisas
sem sentido e ele me chamava de sua bela. Gozamos ao mesmo tempo, me senti
como se estivesse flutuando, todo meu corpo entrou em combustão, foi mil vezes
melhor do que todos os orgasmos que já tive me masturbando. Eu me sentia no
paraíso com ele dentro de mim.
Ele saiu de dentro de mim, tirou a camisinha, amarrou e foi até o
banheiro. Quando ele voltou, deitou ao meu lado e me puxou para deitar minha
cabeça em seu peito.
Ele acariciava meus cabelos, que por sinal estava todo embaraçado. Eu
me sentia adormecer a cada toque de sua mão em minha cabeça.
Eu me via entrelaçada aos seus braços, podia sentir seu calor, escutar sua
respiração, as batidas de seu coração. Eu me senti segura, não havia estresses ou
problemas naquele momento, somente eu e Andrew e tudo o que eu conseguia
pensar, era em tê-lo dentro de mim novamente.
— Você agora é minha mia bella. — Ele diz e beija minha testa.
Foi à última coisa que escutei antes de adormecer por completo.
CAPÍTULO 13
Voltei do banheiro após ter chorado. Eu não entendia porque estava tão
emotiva. Andrew só falou tudo bem, nada mais. Talvez esse seja o problema, eu
esperava mais, sempre estou esperando mais, esse é o meu erro. Ele nunca me
prometeu nada.
Eu tenho um grande problema, penso demais e a maioria desses
pensamentos são sempre negativos.
Coloquei esses pensamentos de lado e foquei minha mente no almoço
com Julieta e Paulo.
Meu objetivo é fazer os dois se conhecerem.
Julieta nutre secretamente uma paixão por Paulo. Ela me confessou um
dia desses, enquanto almoçávamos no shopping. Eu como uma romântica, resolvi
ajudar, hoje é o primeiro passo.
Paulo às vezes era muito lento, pelo menos quando se refere aos assuntos
do coração, não sei como ele não percebia a forma que Julieta falava com ele ao
telefone, tem aquele tom que todo apaixonado faz quando fala com a pessoa que
ocupa todo o tempo seus pensamentos.
Minha mente teima em pensar em Andrew, mas, eu não estou
apaixonada por ele.
Meio dia, mando uma mensagem para Andrew, informando que vou
almoçar, ele não saiu de sua sala para nada. Por um lado eu queria que ele saísse
da sala e arranjasse uma desculpa para me dar um beijo, por outro lado, eu achei
melhor assim, afinal eu não estou apaixonada por Andrew.
Andrew só me mandou um, "CERTO" como resposta e mais uma vez
senti suas palavras distantes.
Ignoro a tristeza que tenta se apossar de meu coração. Minha amiga Juli
precisa de mim.
Encontrei-me com Paulo no elevador, ele usava uma camisa social
branca, uma gravata cinza, um colete preto por cima da camisa, sua calça
também era preta, em seu ombro, ele levava sua bolsa carteira de cor preta, seu
sapato social preto, completava seu look. Já eu, usava uma saia jeans branca de
cintura alta, com uma abertura em que ia de minha coxa ao meu joelho, uma
regata de alça crepe, leve, de cor verde, meus saltos eram um scarpin preto e
minha bolsa de mão preta completava meu look.
Fomos direto ao restaurante Alfredo e Ada, era um restaurante próximo a
empresa, mas, bem aconchegante e a comida era deliciosa. Como é perto, formos
andando mesmo.
— Quem vai almoçar com a gente mesmo? — Paulo pergunta pela
terceira vez.
— Julieta De Luca, uma amiga do trabalho. Não acredito que você nunca
a viu Paulo, ela trabalha na recepção há um ano.
— Quando entro na empresa, ela não está lá, Cecil, é sempre Gyovanni
quem está na recepção. Acho que ela chega mais tarde.
— Sim, sua mãe faleceu ano passado e Julieta precisa cuidar dos irmãos
gêmeos de cinco anos, Alessandro e Nelita, ela os coloca na escola às oito da
manhã e a babá os pega às dezessete horas e fica com eles até Julieta chegar.
— Sério? — Balanço a cabeça afirmando.
— Ela me parece uma pessoa corajosa em enfrentar tudo isso sozinha. —
Paulo parecia impressionado com a história de Julieta.
— Verdade. — Digo orgulhosa. — Ela me disse que explicou ao Sr.
Castillo e ele deu total apoio a ela e a ajuda pagando a escolinha das crianças
também.
Eu nem sabia desse lado generoso dele, e fiquei mais impressionada
ainda com ele.
Impressionada sim, apaixonada não.
Chegamos ao restaurante e Julieta já estava nos esperando, acenei para
ela e, caminhamos ao seu encontro.
Ela se levanta, tentando disfarçar o nervosismo e me dá um abraço.
Como sempre, ela estava linda, usava um vestido curto, ombro a ombro vazado
de cor branca, fazia um contraste belíssimo com sua pele de tom amendoado, seu
blazer preto descansava no encosto de seu assento, seu salto alto scarpin fino de
cor preta, fazia seu look ficar mais ousado, a deixando mais linda, tanto que
Paulo não disfarçava seu olhar pelo corpo de Julieta.
— Estou nervosa, Cecil. — Ela diz em meu ouvido.
— Não fique, seja você mesma. — Sussurro em seu ouvido. — Você está
linda. — Ela apenas se afasta de mim e sorrir.
— Paulo, essa é a minha amiga Julieta De Luca. Julieta, esse é meu
amigo Paulo Lorenzo.
Paulo estende a mão para Julieta e sorrir ao beijar galante sua mão, ela
cora que nem um pimentão.
— Chame-me de Paulo, é um prazer conhecê-la senhorita De Luca.
— O prazer é todo meu Paulo, pode me chamar de Julieta. — Ela diz
tímida.
— Você foi à pessoa que me ligou no dia da entrevista de Cecile?
— Sim, fui eu, por quê?
— Lembrei-me de sua voz.
— Eu sempre liguei para aquele ramal e sempre falei com você. — Boa
amiga, o coloca na parede. Conversávamos a pouco sobre ela trabalhar na
recepção e ele vem com essa conversa.
— Verdade, sempre achei sua voz linda.
— Grazie. — Ela responde.
— Liguei algumas vezes para escutá-la, mas, a senhorita nunca atendia.
Ele não me contou esse detalhe. — Se eu soubesse que a dona da voz é tão linda
quanto assim, já tinha descido para conhecê-la.
Boa, uma resposta e tanto vinda da parte dele, em menos de cinco
minutos, ele já deixou ela corada duas vezes. É visível o interesse dele por ela,
difícil ela não perceber também.
Senti-me sobrando. Fingi olhar alguma coisa em meu celular e volto a
falar com eles quebrando todo clima.
— Miei cari, a conversa está boa, mas acabei de receber uma mensagem
do Sr. Castillo, muito importante.
— Mas ainda nem almoçamos Cecil. — Julieta diz parecendo triste.
— Eu sei amiga, mas, é importante, posso comer alguma coisa no
caminho.
Dou um beijo em sua bochecha me despedindo e me viro para Paulo.
— Cuide de minha amiga, Paulo. — Ele ficou sem entender o meu
pedido, mas, eu apenas pisquei. Nesse momento eu tive certeza que ele entendeu
o motivo do almoço.
— Bem sutil você. — Ele sussurra em meu ouvido ao me abraçar. —
Cuidarei sim, não se preocupe que ela está em boas mãos. — Ele completa,
olhando para ela sério.
O olhar de surpresa dela me fez amar estar presente naquele momento.
Apenas balancei a cabeça sorrindo, joguei um beijo e saí, ainda escutei Paulo
dizer a ela:
— Vamos nos sentar, Julieta?
CAPÍTULO 16
A
— ndrew, por que não me disse que viríamos para minha terra? Minha
linda Salvador? — Ela pergunta emocionada, olhando tudo ao redor, quando
enfim o choro cessa dando lugar a um lindo sorriso.
— Assim não seria mais surpresa, mia bella. — Acaricio a sua face e
sorrio. Ela parecia uma criança que acabou de ganhar seu doce preferido.
— Vamos, quero ver minha mãe, vamos Andrew. — A emoção cedeu seu
lugar à conhecida ansiedade que para mim a deixava mais linda ainda.
Não sei como isso é possível.
— Está muito tarde mia bella, estamos cansados, prometo que vamos
amanhã pela manhã. — Tento persuadi-la.
No dia anterior, logo após falar com Mattias, fiz uma chamada de vídeo
para a amiga dela, Lívia.
Até que nos demos bem, ela é ótima, pude ver o porque Cecil gostava
tanto dela.
Contei a Lívia o que faria, ela amou a ideia e disse que organizaria uma
festa de aniversário, um almoço surpresa e convidaria a família para dar as
boas-vindas. Eu queria ter falado com a mãe de Cecil, mas, ainda não tive
oportunidade.
Ou talvez eu queira adiar esse contato inevitável.
Meu papel nessa história era só trazer Cecil a Salvador e segurá-la até
amanhã. Vai ser difícil. A se vai.
— Mas...
— Por favor, mia bella.
— Tudo bem. — A decepção era nítida em seus olhos. Ela se afasta de
mim. — Vamos? — Ela diz sisuda e direta. Suspiro em resposta a sua reação.
— Também não precisa ficar assim mia bella.
— Assim como, Andrew? Só estou te chamando para ir para o hotel.
— Sei, se você diz... — Faço uma pausa e volto a falar. — Se deseja ir à
casa de sua mãe, então vamos, só estou pensando em você.
Por que não usar um pouco de psicologia reversa? Não faz mal a
ninguém. Mulher teimosa.
— Não, amanhã a gente vai, você está certo. — Ela responde de repente.
È stato veloce (Isso foi rápido). Talvez eu deva usar isso mais vezes.
— Agradeço, encheu meu ego escutar isso de você. — Ela sorrir e vem
até mim, me dá um beijo demorado, mas somos interrompidos por alguém me
chamando, viro-me para ver quem me chama.
— Sr. Castillo?
— Sim, Ruan?
Ruan é meu piloto particular faz uns dois anos, pago muito bem a ele para
trabalhar exclusivamente para mim. Sempre quando preciso, ele está aposto. Na
época, eu pensei duas vezes antes de contratá-lo. Ele tinha sido demitido ao
beber em serviço, como deixar minha vida nas mãos de alguém assim? Ele deu a
sua palavra que não faria isso outra vez, então dei um voto de confiança, afinal
ele tem três filhos e sua esposa para sustentar. Até agora ele tem cumprido o
combinado.
— Senhor, quais suas ordens?
— Fiz uma reserva no hotel para você também Ruan, A reserva está em
seu nome, coloquei um dinheiro para você curtir a cidade, mas, esteja aposto na
segunda feira quando eu te chamar.
— Grazie senhor.
— Você já terminou aí?
— Ainda não.
— Certo, você pega um táxi, o endereço você já sabe. — Tiro um
dinheiro da carteira e dou a ele.
— Não precisa, senhor.
— É dinheiro brasileiro, Ruan, você vai precisar para pegar o táxi. —
Entrego o dinheiro a ele, que agradece e sai.
— Vamos mia bella. — Descemos as escadas de mãos dadas.
— E nós? — Ela pergunta.
— O que tem?
— Como vamos para o hotel?
— O motorista do hotel está a nossa espera.
Chegamos ao hotel era um pouco mais de nove horas, Cecil estava muito
cansada, então a deixei sentada próximo a recepção, enquanto eu ia fazer o check
in.
Daniele achava um absurdo, eu como dono dos hotéis ter que pagar para
ficar neles. Eu não tinha que fazer nada, eu escolhia fazer, algo que ela nunca
entendeu, diferente de Cecil, quando contei o que faria, esperava ao menos algum
protesto da parte dela, mas, às vezes eu esquecia que em nada ela parecia com
Daniele, à única coisa em comum era sua nacionalidade e nada mais. Cecil
apenas sorriu e disse:
— Vai lá, te espero aqui sentada.
Nunca vi problema em pagar minha hospedagem e a hospedagem de meus
funcionários que me acompanhavam em viagens, até sinto prazer em fazer isso,
fico que nem bobo admirando minhas criações.
Queria que meu pai pudesse estar comigo, o quanto eu queria que ele
tivesse comigo, ele ia amar Cecil. Sinto falta de seus sábios conselhos.
Coloco esse pensamento de lado e a tristeza que veio acompanhada com
ele.
Instalei Cecil no quarto e fui à administração do hotel conversar com o
gerente. Ele não estava na sala, entrei e fiquei a sua espera. Quando ele chegou,
eu estava em pé olhando pela janela.
— Sr. Castillo, A cosa devo l'onore? (a que devo a honra?).
— Oi Lucas, dessa vez estou no Brasil para assuntos pessoais, só vim
saber como está o hotel.
— O que deseja saber, senhor?
— Como está a organização de trabalho na recepção? O controle das
acomodações? Relação dos hóspedes com o hotel, muitas reclamações? O
estoque, finanças, essas coisas Lucas. — Completei irônico.
— Mandamos o relatório senhor...
— Nesse mês ainda não recebi nada.
— Hoje ainda é o dia três, pensei em mandar o relatório no dia dez...
— Você não tem que pensar sobre isso Lucas, eu já deixei claro as
minhas ordens, quero o relatório em meu e-mail no dia primeiro de cada mês.
Realmente eu estava stressato, Lucas não estava fazendo um bom
trabalho ultimamente.
— Mandarei o relatório ainda hoje, Sr. Castillo.
— Va bene, agora me diga, que história é essa de você não disponibilizar
um carro para os funcionários que saem tarde?
— Sr. Castillo...
— Não quero desculpas Lucas, quero que você faça seu trabalho e
cumpra as minhas ordens, se não pode fazer isso, me diga que contrato alguém
que possa. — Eu não queria falar dessa forma, mas, Lucas precisava entender e
cumprir suas responsabilidades.
— Eu posso senhor, eu posso. — Ele diz se aproximando de mim.
— Lucas, você sabe que te mantive no cargo por que confio em você, não
é a primeira vez que você falta comigo, não costumo dar segunda, ou terceira
chance. — E não costumo mesmo, as únicas pessoas com quem fiz isso foi com
ele e Ruan.
Espero não me arrepender.
Lucas foi preso há dois anos com porte de drogas, ele disse que a droga
não era dele, não acreditei de imediato, pedi a Mathew para investigar.
realmente a droga não era dele e sim de seu irmão mais novo. Lucas é uma boa
pessoa e um bom profissional, mas, ele não sabe separar as coisas, deixa sua
vida pessoal interferir na profissional. Se as coisas não estão indo bem, é porque
sua vida não está indo bem.
— Eu sei senhor, dou a minha palavra que vou resolver tudo. — Ele me
olhava com um olhar culpado, mas sincero, decidi encerrar o assunto.
— Vá bene, Lucas, você já foi visitar a funcionária que foi baleada?
— Sim, fui visitá-la ontem e hoje.
— Como ela está?
— Bem melhor, senhor. — Ele diz com um breve sorriso. — O médico
deu um mês de atestado a ela, devido ao trauma psicológico que sofreu. O
médico tentou me explicar mais ou menos sobre isso. — Ele faz uma pausa.
— Continue, o que ele disse?
— Ele falou que quando acontecem traumas psicológicos, as sensações e
emoções da pessoa ficam contidas em sua mente, ao se recordar do evento o qual
foi acometida, ela sente-se insegura e desprotegida, incapaz e indefesa. Pode
levar um tempo para se curar.
— O que você acha?
— Um mês é muito pouco.
— Também acredito que um mês não será o suficiente.
— E o que você sugere? — Ele coloca a mão no queixo como se
estivesse pensando, mas, eu sei que ele já deve ter pensado em algo. Sorrio com
esse meu pensamento.
— Pensei em darmos mais tempo a ela, quando sentir-se apta para
trabalhar, ela volta.
— Acha que pode confiar nela?
— Sim, Valbia é uma excelente funcionária.
— Então vou deixar que você resolva isso, cuide para que não falte nada
nem a ela e nem a sua família.
— Certo, senhor.
— Quando ela sairá do hospital?
— Segunda feira.
— Farei uma visita a ela amanhã ou depois.
Quem sabe eu consiga fazer a visita com Cecil amanhã pela manhã,
seria uma forma de dar mais tempo a amiga dela.
Terminei minha conversa com Lucas e voltei para o quarto. Cecil estava
deitada na cama dormindo, me aproximo dela, beijo sua face e caminho até o
banheiro.
Tomo um banho rápido, visto apenas um short folgado e deito ao lado de
Cecil. Coloquei minha cabeça no vão de seu pescoço, seu cheiro, como sempre
era delicioso. Ela se remexe e vira para ficar de frente para mim.
— Senti sua falta. — Ela diz sonolenta.
— Eu também, mia bella, agora se vire, vamos dormir. Ela me dá um
selinho e vira de costa para mim sorrindo. — A propósito, você já comeu
Alguma coisa?
— Já, e você?
— Não, estou sem fome, amanhã pela manhã como algo.
— Você está bem, Andrew? — Ela pergunta com preocupação na voz.
— Estou sim, talvez seja o fuso horário.
— Tem certeza?
— Tenho sim.
Mentira.
Na verdade eu estava bem nervoso, ia conhecer minha suocera (sogra).
Como tenho que agir? O que fazer? Será que ela vai gostar de mim?
Espero que ela goste de mim.
Passaram-se alguns minutos, escuto sua respiração mais leve. Assim que
ela adormece, volto a colocar minha cabeça no vão de seu pescoço. Adormeço
rapidamente sentindo seu cheiro.
CAPÍTULO 22
A
— ndrew, acorda.
— Ainda é cedo, Cecil.
— Já são nove horas.
— O quê?
— Eu disse que são nove horas.
— Eu sei, Cecil, eu escutei da primeira vez. — Digo me levantando e
sentando na cama. — Era só uma pergunta retórica.
Droga, não era para ter dormido tanto.
— Ei, magnata, por que está bravo comigo? — Ela pergunta com uma
sobrancelha erguida.
— Não estou bravo com você mia Bella e sim comigo, eu tinha planos de
ir ao hospital ver a funcionária Valbia, antes de te levar pra ver sua mãe.
Isso era verdade, meia verdade. O problema é que se fosse mais cedo,
ela poderia aceitar e ir comigo.
— Você vai demorar lá?
— O quê? — Pergunto não entendendo a pergunta.
— Só perguntei se você vai demorar lá, se não for demorar, podemos
passar lá rapidinho. — Fiquei surpreso de ela aceitar tão rápido.
— Você faria isso por mim?
— Claro meu magnata gostoso. — Ela diz e senta em meu colo na cama.
— Temos tempo para uma rapidinha? — Pergunto após dar um beijo
nela.
— Não, não temos não, Andrew. — Ela se desvencilha de mim sorrindo.
— Eu já tomei banho, falta você, ande logo, quero que você coma algo antes de
sair, você não comeu nada ontem.
— Depois eu que sou mandão.
— Não está esquecendo algo? — Ela pergunta inocentemente.
— Eu não. — Levanto-me sorrindo.
— Deixa para lá. — Ela vira antes que eu veja alguma emoção em sua
fisionomia e vai até a janela.
Caminho até a jaqueta que eu usava na noite anterior. Ela tirou minhas
roupas de dentro da mala e perdurou no guarda roupa, fiquei feliz de ter deixado
o presente comigo ontem. Pego o presente no bolso de dentro da jaqueta.
Caminho até a janela e a abraço por trás.
— Feliz aniversário, mia bella. — Mostro o presente a ela. Era uma
pequena caixa de veludo, dentro tem um colar de ouro, o pingente é em formato
de um coração que abria com várias pedrinhas de diamante, dentro tem nossa
foto juntos, tiramos a foto depois de um maravilhoso sexo, os olhos delas
estavam sensuais e felizes e eu a olhava com cara de apaixonado.
Sei que o presente é clichê, mas, quando eu o vi, soube que ela ia gostar,
o colar vinha com um chaveiro, então coloquei nossa foto e fiquei para mim,
para me lembrar dela sempre quando olhar nossa foto. Ela me olha com os olhos
brilhando.
— Vamos, abra. — Quero ver a reação dela. As caras que ela faz são
engraçadas e excitantes demais.
Ela abre o presente e um grande "O" Surgi em sua linda boca.
— Amei, Andrew. — Seu sorriso fez a demora valer a pena. Estou
agindo que nem um garoto apaixonado, ridículo isso. Faço uma careta
mentalmente. — Coloca em meu pescoço. — Ela me pede como um largo
sorriso.
Coloco o colar e ela corre até o espelho para ver como ficou.
— Como ficou?
— Lindo, você toda é linda mia bella, o colar é só um acréscimo a sua
beleza.
Ela usava um lindo vestido florido de alça, que ia até a altura do joelho,
deixando suas lindas pernas de fora, sua pele amendoada dava um lindo
contraste e as sandálias havaianas vermelhas deixavam seus lindos dedos
amostras. Aproximo-me dela e agarro sua cintura.
— Tem certeza que não temos tempo para uma sveltina mia bella? —
Faço cara de menino pidão.
— Nada de rapidinha, Andrew, por mais que você esteja merecendo. —
Ela diz sorrindo e piscando para mim, mas seus olhos caem sobre meu pau ereto
e ela fica olhando. — Acho que não faz mal saímos um pouco mais tarde. Vamos,
vou tomar banho com você. — Dou uma gargalhada em resposta. — Não precisa
ser tão rápido assim. — Ela completa.
— A aniversariante é você, hoje é você quem manda, mas só hoje.
— Você que pensa que será só hoje. — Seu sorriso travesso só
aumentava.
Esse seis dias que estamos juntos sinto que está mudando minha vida,
sei que estou apaixonado por ela, acho que faz algum tempo, mas, falar isso
em voz alta é como se tornasse realidade, como se abrisse meu coração para
amá-la, não me sinto preparado para amar ninguém.
Ponho esse pensamento de lado e foco em Cecil.
A ajudei a tirar o vestido e corremos até ao banheiro. O banho não foi
rápido, saímos do hotel era quase dez e meia. Tomamos café em um restaurante
próximo ao hospital, em seguida, compramos flores para senhora Valbia e para
minha sogra Marcela. Para senhora Valbia comprei um lindo lírio rosa plantado
e para minha sogra comprei violetas plantadas, Cecil disse que são as flores
preferidas dela.
Espero que ela goste.
A visita ao hospital durou uma hora, graças un Deus. Cecil não quis vir
logo embora. A senhora Valbia, gostou muito dela, praticamente me excluíram da
conversa, ela amou as flores, agradeceu por tudo, ainda nos convidou para
almoçar em sua casa, prometi que na próxima viagem faremos isso. Mandei uma
mensagem para Lívia, perguntando se já podia levar Cecil, a resposta foi sim.
Despedimo-nos da senhora Valbia e saímos.
Chegamos à casa da mãe de Cecil, pouco mais de meio dia e meia, o
trânsito em Salvador é terrível.
Está aí algo que eu nunca me acostumarei.
A casa se localizava na Rua Perambu, em Brotas. A discreta casa de
paredes amarelas, com pequenos muros e grades vermelhas, se destacava entre
as casas do bairro. O bairro possui mercados, padarias e outros pontos de
comércio, era bem sossegado e tranquilo, não se escutava nenhum barulho. Algo
bem diferente pra mim.
— Como eu estou? — Pergunto assim que saímos do carro. Eu usava uma
calça jeans branca com uma camisa xadrez, nos pés, eu usava um Mocassim
masculino.
— Você está lindo. — Ela me olhava como se quisesse me comer vivo,
um olhar que me excitava. Então acreditei na afirmação.
— E se a sua mãe não gostar de mim? Como estão minhas roupas? As
flores, esquecemos as flores no carro.
Não estou acostumado com esse tipo de nervosismo.
— Calma, Andrew, você está ótimo, a senhora Valbia não parava de te
elogiar, meu chefe é lindo, meu chefe é um ótimo homem, você tem sorte filha. —
Cecil faz uma voz engraçada ao falar, me fazendo rir. — Se ela gostou de você,
imagine minha mãe?
— Não é a mesma coisa Cecil, sua mãe é minha sogra, além do mais, não
me pareceu isso tudo com a senhora Valbia, me senti excluído.
— Como não pareceu? A senhora Valbia ainda disse que te apresentaria
a filha dela, se você não fosse comprometido.
— Está com ciúmes mia bella, não fique, sou todo seu.
— Só por isso eu relevei o que ela disse. Agora pare de se preocupar
com minha mãe, ela é ótima, vai te amar. — Suspirei aliviado, mas, ainda estava
nervoso. — Vamos meu magnata.
— Não me chame assim na frente de sua mãe, Per l'amor di Dio.
— Não prometo nada. — Ela diz e me puxa pela mão.
— Faça um esforço, mia bella. — Ela sorrir em resposta. Mulher
teimosa. Penso frustrado.
Caminhamos de mãos dadas até o portão, ela abre e entramos. Ela toca a
campainha, mas, nenhuma resposta do outro lado, toca mais uma vez e nada. Ela
desiste e tenta abrir a porta e logo consegue, entramos e a sala estava sem
ninguém, achei estranho, esperava o grito de surpresa agora.
— Será que ela não está em casa? — Vamos lá nos fundos, ela pode estar
lá cuidando do jardim.
Ainda de mãos dadas, passamos por uma cozinha americana
aconchegante. Ela estava distraída falando comigo, quando um grande coro
grita.
— Surpresa!
Ela virou em direção ao coro de vozes.
— Ai meu Deussss. — Ela gritou surpresa. — Andrew? Ela olha para
mim.
— Cos'è mia bella? (o que foi minha linda?).
— Você fez isso?
— Com ajuda de sua amiga Lívia. Foi um trabalho e tanto guardar esse
segredo de você, sua ansiedade é extrema.
— Engraçadinho, mas, você tem razão. — Ela me dá um selinho. —
Grazie. — Ela diz e um brilho diferente aparece em seu olhar, mas, o encanto é
quebrado e eu já não sei mais o que aquele olhar quis dizer.
— Filha? — Sua mãe grita ao se aproximar da gente. Então essa é minha
sogra, sai ciò che Dio Vuole. (seja o que Deus quiser).
— Sua mãe é linda. — Sussurro no ouvido dela.
— Você acha que essa beleza veio de quem?
— Ótima observação. — Digo em resposta. Eu sei que ela falou
brincando, mas é bem verdade.
— Mamãe, que saudade, vem cá, me dá um abraço.
Elas ficaram se abraçando, falando palavras uma no ouvido da outra,
começaram a chorar, achei melhor não atrapalhar o momento e me afastei um
pouco.
As duas pareciam ser mais irmãs, Marcela não parecia ter quarenta e seis
anos. Seus cabelos eram castanhos escuros, que passavam do ombro como os de
Cecil, as duas tinham quase a mesma altura. Ela usava um vestido longo
vermelho de alça, seu cabelo estava solto, diferente do de Cecil que estava preso
coda di cavallo ( rabo de cavalo).
— Mamãe, esse é meu namorado e chefe Andrew Castillo. — Ouço-a
falar. É agora.
— È un piacere, signora. (é um prazer senhora). Depois de falar que me
dou conta que falei em italiano. — Desculpe, força do hábito.
— Tudo bem querido, entendi o que você disse, essa daí... — Ela diz
apontando e sorrindo para Cecil. — Ela me fez aprender um pouco e, por favor,
pare de me chamar de senhora, me faz parecer velha, me chame de Marcela.
— Chiaro, Marcela, eu estava dizendo a Cecil que a senhora é muito
linda, parecem mais irmãs.
— Ou assim me fez se senti jovem outra vez. Filha seu namorado é
galante e muito lindo. — Olho para Cecil e ela está me olhando que nem boba.
— Grazie. — Digo envergonhado com tanta atenção. — Aqui, trouxe
essas flores para você.
— Obrigada Andrew, são minhas proferidas, venha aqui de um abraço
em sua sogra. — A abraço e lhe comprimento com dois beijos na bochecha. Ela
coloca as flores em cima da mesa. — Agora vamos, quero mostrar meu genro
lindo para todo mundo.
Ela pegou em minha mão e na mão de Cecil e saiu nos arrastando.
Na parte do fundo tem um jardim, e um espaço coberto com algumas
mesas e cadeira espalhadas pelo ambiente, no canto, uma churrasqueira feita de
tijolos acesa deixava o ar com um cheiro maravilhoso.
Marcela me apresentou a todos, me senti como se estivesse sendo
avaliado, alguns olhares de desejo, outros admirados, alguns homens já me
olharam diferentes, suas mulheres me olhavam com cobiça. Ocasionalmente,
meus olhos caiam sobre Cecil e ela me encarava com aquele olhar ciumento,
dessa vez não podia fazer nada, ser grosseiro com seus avós, tios, primos,
amigos, não sou louco. Por último, conheci Lívia, ela é bem mais linda
pessoalmente, mas, me parecia cansada e um pouco pálida, Cecil também
percebeu porque a olhava sempre com preocupação nos olhos.
O almoço foi anunciado e algumas tias de Cecil, que estavam servindo,
pediram para todos se acomodarem, Cecil pegou em minha mão e na de Lívia e
nos levou até a mesa onde sua mãe estava sentada, nos sentamos e iniciamos uma
conversa sobre as aventuras de Cecil em Roma, sua mãe perguntou como nos
conhecemos, ela me olhou assustada, apenas disse:
— Ela estava no lugar errado e na hora certa. — Sorri para ela e toda
tensão havia sumido de seu corpo.
O ambiente estava tão aconchegante, tão familiar, não lembro se um dia
já tive isso, acho que nunca tive, mas, isso é algo que eu poderia me acostumar
facilmente.
Quando Andrew disse que eu podia visitar minha família, senti uma
grande alegria. Nem consegui pregar o olho de tanta ansiedade. Agora me
encontro quase chegando a Retirolândia. São seis horas de viagem até lá, agora
faltam apenas uma hora, minhas mãos suavam antecipando o encontro com minha
família.
Estou com muitas saudades deles, até dos meus primos e tios chatos.
E como são chatos.
Saudades de minha mãe Maria Conceição e meu pai José Neto. Quantas
saudades meu coração sente de minhas irmãs Luana, Isabella e meu irmão Pedro.
Eles devem estar enormes.
Na ocasião que viajei, Luana estava com cinco anos, Isabella com nove e
Pedro com doze. Eu tinha dezesseis anos na época, hoje estou com vinte e dois.
Ah, como fico feliz de eles não terem passado pelo o que passei.
Não posso me esquecer de Elaine, meu grande amor, por mais que tenha
se passado seis anos, meu coração ainda bate descompassado quando penso
nela.
Será que ela conheceu alguém? Será que ela ainda gosta de mim?
São perguntas que sempre me faço, mas, eu não tenho coragem em
perguntar aos meus pais. Até minhas redes sociais eu excluir, para não saber
sobre a vida dela.
Por mais que meu coração esteja cheio de saudades por eles, o momento
que eu sempre temia está chegando.
À noite, eu não durmo direito, porque acordo no meio da noite gritando,
suando frio, o coração disparado. E choro, choro muito, E sempre anseio o colo
de minha mãe.
Minha mente sempre me lembra do meu passado, como agora. Lembro
como se fosse hoje, quando aquele homem veio ao nosso município.
Retirolândia não é um município tão grande, 15.020 habitantes! Deve ser
isso ainda. O cultivo do sisal é a principal atividade econômica. Na minha época
era assim, Acredito que ainda seja assim.
Aquele homem chegou iludindo a todos, com suas promessas de riquezas
e grandezas. Ele dizia que eu e os outros jovens seriamos modelos famosos.
Pura ilusão.
Eu não queria ir, largar tudo para trás, deixar Elaine, mas os meus pais
insistiram, acreditaram ser o melhor para mim. Eu precisava do dinheiro para
ajudar minha família, então eu concordei em ir.
Cheguei a Roma na segunda semana de fevereiro de 2012. Assim que
desembarquei, me iludi com a beleza do aeroporto, lembro que cheguei a pensar:
“Talvez meus pais tenham razão, Roma é um país de promessas e
oportunidades.”
Quando passei pela imigração, senti-me uma criança ganhando o melhor
presente do mundo. Viver uma nova aventura, em um país fascinante, com suas
belezas naturais, suas histórias, culinárias e lindas mulheres.
Cheguei a lembrar dos filmes de romances que já foram rodados na Roma
e Itália, e que Elaine me forçava a assistir quase todo final de semana. Como
Beleza Roubada,
Malena, Sob o Sol de Toscana, O Turista, comer, Rezar, Amar, esses filmes
melosos, ao qual nunca mais tinha conseguido assistir, porque me lembravam
dela. Confesso que o Meu preferido sempre foi o Turista, ao menos tinha balas
para todo lado, não só a melação.
Elaine sempre foi uma romântica incurável, me dói não saber se ela ainda
é a mesma menina doce e amorosa pela qual me apaixonei.
No portão que desembarcava, havia um rapaz segurando uma placa com
meu nome, achei sensacional e mais uma vez me lembrei dos filmes.
Achei que outras pessoas também iriam e que o tal homem acompanharia
a gente, mas, nos dois pensamentos eu estava equivocado.
O rapaz que segurava a placa sorriu para mim calorosamente. Então não
me preocupei. Ele usava um terno preto, então imaginei que seria meu motorista
particular.
Mas um equívoco meu.
O rapaz disse que se chamava Lito e estava lá para me ajudar a ir até o
hotel que eu ficaria hospedado.
Se eu soubesse o que aconteceria comigo, não tinha entrado no carro
daquele homem.
O hotel que ele me levou parecia uma espelunca, foi muito difícil para
mim. Puseram-me em um quarto por dez dias, sem comer, só bebia água uma vez
por dia, banheiro só pela manhã e a noite, não tinha cobertores, eu dormia no
chão. Mesmo assim, minha ficha não tinha caído ainda.
Como algo que começou bom, virou um pesadelo desse para mim?
A resposta nunca vinha em minha mente. Eu me sentia sozinho,
desamparado e frustrado. E minha maior preocupação era minha família
passando necessidades e sem notícias minhas.
Foi então que o homem que teve em Retirolândia apareceu. Mais tarde
descobri que seu nome era Carlos. Ele entrou no quarto que me trancaram e
ficou me encarando.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei fraco. Achei que ia desmaiar
a qualquer momento.
— Você achou que trabalharia como modelo, mas, você se enganou, você
vai trabalhar para gente, sarà la cagna degli italiani. Eu não sabia falar italiano,
então não tinha entendido o que ele havia falado, ele repetiu em português. —
Você vai ser a puta dos italianos.
Nesse momento eu quis gritar, mas a minha voz não saia.
— Leve ele ao próximo esconderijo, limpe-o e alimente-o, está na hora
de ele trabalhar.
O tal de Carlos ordenava a Lito, que dessa vez vestia uma calça jeans
surrada e uma camisa branca.
Fui levado para vários esconderijos, forçado a me prostituir, transar com
homens, mulheres, jovens ricos querendo perder a virgindade. Fui espancado
muitas e muitas vezes por não fazer o que eles queriam. Isso durou quatro meses
de pura tortura.
Depois, eles se cansaram de minha insubordinação (era assim que Carlos
falava). Ele me vendeu a um casal de italianos, sádicos, que fodiam meu corpo
de tantas maneiras, que minhas forças abandonavam meu corpo, me tratavam
como lixo descartável. Toda vez que eu fazia algo que eles não gostavam, eles
mandavam tirar a roupa e me batiam com um tipo de açoite, eu sangrava e minhas
feridas demoravam em cicatrizar, porque eles faziam sexo comigo ainda
machucado. Enquanto a mulher me forçava a penetrá-la, seu marido forçava seu
membro em minha boca.
Eu, um garoto de apenas dezesseis anos, não aparentava essa idade. Eles
me davam algum tipo de remédio para fazer meu corpo crescer rápido. Agradeço
a Deus por não ter pegado nenhuma doença grave, e nem ficado doente pelas
drogas que eles me davam.
O casal que me comprou, morava em uma casa muito grande, lá tinha um
sótão, foi onde eles me prenderam. Fiquei preso lá por dois meses, dois longos e
torturantes meses. Eu não podia sair e nem olhar pela janela. Eles trancavam o
sótão por fora. Toda noite, eu chorava e pedia a Deus para me ajudar. Eu já não
aguentava mais e, pensar em morrer estava cada vez mais entranhado em minha
mente.
Um dia, não sei, talvez por algum descuido deles, a porta do sótão ficou
destrancada. Era madrugada. Saí do sótão decidido a fazer qualquer coisa para
não me manter naquele lugar. Assim que eu consegui passar pela porta, eu corri,
corri com meus pés descalços, sem olhar para trás. Minha calça era surrada e
minha blusa estava rasgada, suja com meu sangue.
Fiquei catando comida no lixo para sobreviver, água era mais difícil para
conseguir, mas, quando eu conseguia, eu guardava por no máximo dois dias.
Até hoje me lembro do dia sete de agosto, foi à data que minha vida
mudou.
Fazia duas semanas que eu tinha fugido e nesse dia, eu acordei disposto a
roubar pela primeira vez. Não conseguia mais comida e tinham muitos que
mendigavam também.
Decidi fazer minha primeira tentativa na Piazza Navona, pela praça ser
cercada por restaurantes e cafés, ela está sempre lotada de turistas, ou
moradores. Lá também tem a Fonte dos Quatro Rios, eu tomava banho toda noite
nela, para não ficar fedendo, por mais que minhas roupas não ajudavam.
Fiquei horas tentando roubar, mas não vinha a coragem, era quase final
de tarde. Foi quando vi um homem vestido com uma calça jeans e uma camisa
social, ele estava com uma mochila nas costas e em suas mãos vários papéis. Ele
parecia esperar alguém, acho que seu motorista, porque ele tinha grande pinta de
ser rico.
Os papéis caíram de suas mãos, ele colocou a mochila no chão.
Distraído pegando os papéis, aproveitei e peguei sua mochila, saí correndo que
nem doido. Entrei em um beco tentando ordenar minha respiração acelerada. Já
me sentia arrependido por ter feito isso. Virei-me querendo voltar e entregar a
mochila do rapaz, mas, já era tarde, ele estava bem atrás de mim.
— Stai cercando di derubarmi? (você está querendo me roubar?) — Ele
perguntou em Italiano, mas, na época eu não conseguia entender a língua italiana
ainda.
— Eu já estava indo devolver. — Disse desesperado.
— Você acha que engana a quem? Vou chamar a polícia.
— Você fala minha língua. — Quase chorei de emoção, pela primeira vez
tinha alguém que me entendia.
— E o que tem isso?
— Por favor, me ajude?
— Por que eu faria isso? Você acabou de me roubar.
— Eu estou com fome, sei que não justifica, mas, eu não sei mais o que
fazer, ninguém entende minha língua.
Eu comecei a falar tudo de uma só vez, me sentia fraco, me apoiei na
parede do beco, porque tudo girava em minha cabeça.
— Ei garoto? — O homem dizia, mas, eu não conseguia responder,
acabei desmaiando e acordado horas depois em um hospital.
Descobri por uma das enfermeiras, que o nome do rapaz que eu tentei
roubar, era Andrew. Ele prometeu me ajudar, foi com a ajuda dele que o casal foi
preso, foi pela ajuda dele que Carlos, Lito e grande parte dos envolvidos foram
presos. Muitas crianças, jovens e mulheres foram salvos.
Eu devo muito a Andrew, sempre agradeço a Deus por tê-lo colocado em
minha vida.
Meus pensamentos são interrompidos quando entro na cidade de
Retirolândia, que estava um pouco diferente pelas reformas que fizeram nela.
A praça, a farmácia, a padaria, a loja de chip da claro e os poucos
restaurantes estavam reformados, mas, ainda não tinha um shopping, nem um
cinema.
Isso é frustrante.
Sorri com esse pensamento.
Passava pelas ruas e via muitos conhecidos que olhavam estranho para o
carro, um Golf Variant preto, quatro portas com vidros escuros. A casa de meus
pais ainda era em Retirolândia velha, dirigi até lá.
Assim que cheguei, vi Luana e Isabella sentadas na escadinha em frente a
porta. A casa tinha sua fachada simples, pintada de branco, mas, ainda estava do
jeitinho que eu me lembrava.
As meninas estranharam o carro e levantaram para ver quem era. Quando
eu saí, elas ainda não tinham me reconhecido.
— Não lembram mais de seu irmão mais velho? — Sorri para elas ao
perguntar. Como imaginei, elas estão bem crescidas.
— Mattias? — Elas gritam em coro.
— Mainha? — Luana grita. — Corre mainha, é o Mattias. — Elas correm
e me dão um abraço duplo, bem apertado.
— Mattias? — Ouço a voz de minha mãe vinda dentro de casa. Meus
olhos encheram-se de lágrimas. — Mattias, filho. — A emoção era nítida em sua
voz e em sua fisionomia.
As meninas se afastam e minha mãe toma o lugar delas. Ela falava várias
palavras, mas, eu não entendia por que o choro dela se misturou ao meu.
— E meu pai e Pedro? — Pergunto assim que consigo formar alguma
palavra.
— Estão trabalhando na fábrica de sisal, daqui a pouco eles estão aqui.
Vamos entrar. — Responde. — Você veio de vez ou só de passagem? — Ela
pergunta assim que nos acomodamos no sofá. Minha mãe ficou ao meu lado me
abraçando por vários minutos, ou horas, nem sei. Eu senti muito a falta de seus
carinhos
— Vim a trabalho, mas o meu chefe me liberou para passar o final de
semana com vocês.
Ficamos conversando até meu pai e Pedro chegar, assim que eles
chegaram, chorei mais ainda, rimos brincamos, comemos.
Chegou a hora de descansar, fui ao meu antigo quarto, ele ainda era o
mesmo. Meus livros ainda estavam na prateleira improvisada com caixotes que
fiz com a ajuda de Elaine. Senti-me confortavelmente em casa.
Deitei-me para dormir e rapidamente o sono me tomou por completo.
CAPÍTULO 24
O plano é bem arriscado, mas de uma coisa eu tenho certeza, amanhã será
o fim de Andrew e toda sua herança será minha, toda minha.
A
— deus Andrew. — Daniele diz com um sorriso maligno.
Essa mulher às vezes me assusta.
— Como você conseguiu esse controle Daniele? — Pergunto mais uma
vez a ela.
— Eu já disse a você que tenho meus contatos, Jonas. — Suas respostas
não me satisfaziam, mas, por hora deixei para perguntar depois, mais uma vez.
— Vamos Daniele, já acabou, breve esse lugar vai estar rodeado de
polícia. O segurança de Andrew, estava um pouco afastado observando Daniele
com a fisionomia assustada.
Mas também, Daniele estava assustadora.
— Ainda não acabou. — Ela diz e se vira, em uma de suas mãos se
encontrava o controle remoto e na outra uma arma. Eu não conheço armas, então
não sabia dizer qual o tipo e nem me importava isso no momento.
— Para quê essa arma, Daniele? — Pergunto assustado. A cara que ela
fazia era assustadora, muito assustadora.
Será que ela vai atirar em mim?
— Preciso eliminar aqueles que podem me prejudicar.
— Abaixe essa arma, tigresa, não faremos isso, eu te amo.
— Amor, Jonas? Não seja idiota. — Suas palavras eram como sentir uma
faca transpassando meu coração. — Já eu não te amo, pare de me chamar desse
apelido ridículo. — Ela diz com sarcasmo. — Espero que você apodreça no
inferno.
Assim que ela aponta a arma para mim, o segurança que não lembro o
nome, avança sobre ela. Ela deixa o controle cair. Eles brigam pela arma, até
que escuto um tiro. Achei que tinha acertado nela, mas, de repente o homem cai
no chão agonizando. Antes que ela olhasse para mim, comecei a correr. Daniele
atira a primeira vez e a bala atinge a árvore, mas na segunda vez que ela atira, a
bala acerta em minha coxa direita. Caio no chão sentido muita dor, mas me
levanto em seguida e continuo a correr.
Minha coxa latejava de dor e sagrava muito, comecei a sentir tontura e
vontade de vomitar. Achei uns arbustos grandes o suficiente para me esconder.
Olhei para ver se tinha algum rastro de sangue meu, como não tinha, fui me
esconder atrás dos arbustos. Fiquei lá dez ou vinte minutos, nem sei, a dor não
me deixava pensar. De repente, ouço barulho de passos e controlo minha
respiração.
— Devemos voltar. — Escuto uma voz familiar dizer.
— Também acho isso, é muito perigoso, senhor. — A segunda voz
também me é familiar.
— Os tiros foram por esse lado. — Uma terceira voz diz. Não acredito,
Andrew? Passei por tudo isso, perdi a mulher que amo, tomo um tiro, para
Andrew ainda estar vivo? Meu ódio por ele só fez aumentar mais ainda. —
Mathew, você tem uma arma reserva? — Ele pergunta ao seu segurança.
— Tenho, Sr. Castillo.
— Então passe para cá, não sabemos o que vamos encontrar. — Vejo seu
segurança entregar uma pequena arma nas mãos de Andrew e nas mãos do
terceiro homem uma faca. A arma do segurança parecia semiautomática, igual
dos filmes de ação que costumo assistir.
Fiquei num canto, esperando eles passarem. Assim que isso aconteceu,
voltei a correr. Fui parar em uma estrada. Escondi-me, esperando algum carro,
não demorou muito uma caminhonete caindo aos pedaços apareceu. Corri para o
meio da pista e acenei gritando socorro.
— Socorro, socorro... — O carro para e eu vou até a janela do carro.
— Qual foi cara, como é que você para em frente ao carro assim? — Um
jovem aparentando ter uns vinte anos pergunta em um inglês cheio de gírias. Ele
estava sozinho. Dei graças a Deus por isso.
— Eu estava fazendo trilha...
— Assim? — Ele aponta para minha roupa. Eu usava uma calça jeans
branca e uma camisa polo da mesma cor, meu sapato social inadequado para
fazer trilha.
— Disseram que ai é empesteado de mosquitos, tenho alergia. — Minto.
— Mas, isso não vem ao caso. Eu estava fazendo trilha, quando escutei tiros,
corri sem direção, acho que um desses tiros pegou em minha coxa. — Ele olha
para minha coxa cheia de sangue. Sempre fui bom em improvisos, mesmo agora
sentindo dor.
— Devem ser os caçadores. — Seu olhar amedrontado mirava minha
perna cheia de sangue.
— Você pode me levar ao hospital?
— Claro cara, sobe aí. — Suspirei aliviado.
Entrei no carro com dificuldade. Minha perna latejava muito mais e, eu
sentia a fraqueza pela perda de sangue. Eu sabia que tinha que ordenar a minha
mente, saber qual passo seguirei, mas, o meu corpo não contribuía.
— Fique acordado. — O jovem dizia.
— Não consigo...
— Chegamos. — Ouço-o dizer, mas, apaguei antes mesmo de conseguir
proferir: Graças a Deus.
CAPÍTULO 29
C
— ecil? Acorda querida. — Gemi em resposta. Abro meus olhos com
dificuldades e vejo uma Mona com olhos inchados me encarando. Eu havia
esquecido dela, me tranquei em minha própria dor e esqueci Mona.
— Mona, me perdoe, eu não queria te deixar sozinha, não...
— Tudo bem mio caro. (mia querida). Eu sei que você ama fligio mio e
não ter notícias é horrível.
Eu amo Andrew? Eu amo Andrew!
Por que eu não admiti isso logo? Por que eu não disse a ele? Sou
estúpida demais. Foi preciso quase perdê-lo para entender meus sentimentos por
ele. Sou muito idiota.
— Não faça essa cara, quando ele chegar você diz a ele. — Ela sorrir.
— Eu amo o Andrew. — Sento na cama e retribuo o sorriso. — Espera o
que você disse?
— Não faça essa cara?
— Não, a outra parte.
— Eu disse: Quando ele chegar você diz a ele.
— Ele chegar?
— Achei que você não entenderia, minha linda.
— Quando ele chega? Ele está bem? Quero vê-lo. Cadê ele, Mona. —
Levanto-me impaciente da cama.
— Calma Cecil. — Ela diz se levantando também. — Ele só chega
amanhã, não me disseram o horário.
— Onde ele está?
— No hospital, ele...
— Hospital? — Aproximo-me dela alarmada.
— Sim, mas, não se preocupe, todos estão bem. Andrew fraturou as
costelas, por isso vai ter que passar a noite no hospital, ele disse para você não
se preocupar...
— Você falou com ele, Mona? Por que não me chamou?
— Ele mandou te deixar dormir mais.
— Que horas são? Por que você me chamou agora? Eu quero falar com
Andrew. — Minha chateação era visível.
Por que ele não quis falar comigo?
— São dez e meia, querida, ele disse que se você não acordasse por
volta desse horário, então era para te acordar. Ele foi bem direto: Mona, não
deixe mia Bella dormir com fome, isso é uma ordem.
A chateação foi logo embora ao ver a forma engraçada que Mona imitava
Andrew, meu mandão. Eu decidi dizer a ele o que sinto e vai ser amanhã. Eu o
amo, não planejei, mas aconteceu.
— Venha, trouxe sopa para você, Andrew disse que você ama sopa.
— Amo, principalmente sopa de feijão.
— Não é sopa de feijão. — Ela entorta a boca com nojo.
— Ei, não faça essa cara, sopa de feijão é uma delícia e você fazer essa
cara é um sacrilégio. — Digo e me aproximo do prato de sopa, posto
cuidadosamente na mesinha improvisada com o pufe. — A cara está boa, Mona.
— Sorrio com a cara orgulhosa que ela fez.
— Não só está com a cara boa, a sopa está uma delícia. Mona se acha.
— Ela chama-se capelletti in brodo, um prato típico da Itália, uma receita
passada de minha avó para minha mãe, e de minha mãe para mim. — Acomodo-
me no chão junto ao pufe e disparei a comer.
Não é que ela está certa? A sopa está uma delícia.
— Que sopa deliciosa Mona, tem mais?
— Você nem terminou de comer e já quer mais?
— Tem ou não Mona? — Pergunto ainda comendo. A sopa está
maravilhosa.
— Aqui. — Ela aponta para uma pequena vasilha depositada no criado
mudo. — Coma devagar, querida. — Ignoro seu pedido. Não tomo sopa devagar,
tomo rápido e engulo, para mim sopa não se mastiga, independente que seja feita
com macarrão ou não, agora se for sopa de verduras, é outra coisa, só que não
gosto de sopa com verduras, tenho pavor.
Assim que terminei de comer, Mona saii levando o prato e a vasilha com
ela. Sua felicidade era visível e a minha também. Só em saber que Andrew está
bem, me trás um grande alívio. Agradeço por minhas preces terem sido
escutadas.
Tomei um banho rápido, vesti uma camisa de Andrew e uma cueca dele.
Deitei-me na cama abraçada ao seu travesseiro, o cheiro dele é tão gostoso, um
cheiro amadeirado, embriagador, que exala de todo seu corpo, por sua pele, seu
cheiro me relaxa e ao mesmo tempo me excita.
Meu objetivo era ficar acordada até ele chegar. Liguei a TV, que
dificilmente Andrew usava, ela ficava no rack, em frente a cama. Coloquei em
um canal aleatório e fiquei vendo fotos de Andrew em meu celular, a lágrimas
saiam, mas, dessa vez era de agradecimento e de alegria.
O relógio marcava quase meia noite, meus olhos começaram a pesar e
por mais que eu tentasse, não conseguia mantê-los abertos. Acordei sentindo
carícias em meu cabelo e suspirei em resposta. O cheiro de Andrew pareceu
estar mais forte. Meu coração disparou, pois, eu sabia que Andrew estava bem
atrás de mim. Eu o sentia.
— Andrew? — Pergunto com cautela, receando estar imaginando coisas.
— Estou aqui, mia Bella. — Eu sentia saudades de sua voz, de seu cheiro
e só nos afastamos por um dia. — Durma, ainda é cedo.
Dormir?
Eu quero vê-lo, tocar nele.
Virei-me e me deparei com os lindos olhos verdes que me desarma toda
vez que olham para mim. Em sua face, tinha alguns arranhões, sua boca gostosa
continuava intacta, o abraço forte e ele geme de dor.
— Perdoe-me, não quis te machucar.
— Não me machucou, mia Bella, relaxe, minhas costelas que ainda doem
um pouco, mas já estou tomando os remédios.
— Está tomando direitinho?
— Estou sim. — Ele sorrir e me abraça, colocando sua cabeça no vão de
meu pescoço e deposita um beijo demorado. Arrepio-me com o contato de sua
boca. — Senti tanto a sua falta, cheguei a pensar que não ia te ver mais.
— Eu também! Não faz mais isso, por favor? — Nessa altura já estava
chorando outra vez, molhando o ombro de Andrew. — Não me deixa sem
notícias, prometo não reclamar.
— Vou andar com dois celulares de reserva. — Ele diz e sorrir, mas, eu
sabia que ele está falando sério.
— Uma ótima ideia. — Digo ainda chorando.
— Pare de chorar mia Bella, não fique assim, meu coração fica partido
em te ver assim. — Balanço a cabeça e dou um beijo em sua boca. Um beijo
rápido, mas que acendeu todo meu corpo. — Não faz isso comigo não Cecil,
desde que entrei, senti um desejo enorme de fazer amor com você, aquele tolo do
médico proibiu.
— Quanto tempo?
— Uma semana no máximo.
— Tudo isso?
— Não é? — Perguntei a mesma coisa a ele, ele disse que brincadeiras é
o que não falta.
— Que tipo de brincadeiras? — Pergunto curiosa.
— Tipo essa. — Ele diz e põe sua mão em meu sexo. Gemi com o contato
de sua mão. — Está usando o quê por baixo? — Ele levanta sua blusa, que eu
vestia.
— Sua cueca. — Respondo entre gemidos. — Chateado?
— Eu não, estou excitado. — Ele enfia um dedo dentro de mim. Grito
surpresa pela invasão.
— Ai, isso é gostoso. — Meus olhos reviravam de prazer. — Andrew,
não podemos fazer isso, sua costela.
— Estou usando os dedos mia Bella. Agora venha quero sentir o seu
gosto em minha boca.
— Como vou fazer isso? Você não pode, pare de me provocar com seus
dedos.
— Agora não posso, quero vê-la gozando. — Seu tom malicioso arrepiou
todo meu corpo. — Segure-se na cabeceira, faça como se fosse sentar em minha
cabeça. Vamos Cecil, agora.
— Acalme-se magnata, deixe de pressa.
— Não me chame assim. — Ele diz contrariado.
— Eu gosto e você disse que eu posso te chamar assim.
— Eu sei, mas é ridículo.
— Não acho, se for assim você não me chama mais de mia bella.
— Achei que você gostasse.
— Eu amo, mas se você não me deixar te chamar assim, te proíbo de me
chamar de mia bela, só para te deixar chateado.
— Mia bella, pare de agir que nem uma criança mimada e venha logo
aqui.
— Criança? Não vou mais, já que eu sou uma criança.
— Não faça isso, por favor, perdono, uso errado de palavras. Sua
obstinação é um afrodisíaco e tanto.
— Certo, eu te perdoo, seu castigo será me fazer gozar. — Dou uma
gargalhada.
— Eu aceito o castigo. — Seus olhos brilham ao falar isso. — Agora
venha.
Ergo-me, ficando em pé em cima da cama. Tiro a cueca, me apoiando na
cabeceira da cama, faço que vou sentar e deixo sua língua invadir minha boceta.
Meus joelhos estavam apoiados em seu travesseiro. Não sei quando ele o
colocou a li, pois, eu me lembro de dormir abraçada a ele. Eu comecei a gemer,
jogando minha cabeça para trás enquanto ele fazia maravilhas com sua boca em
minha boceta, estimulando meu clitóris.
— Olhe para mim, mia bella, quero ver seus olhos quando você gozar em
minha boca.
Olhei para ele e me perdi em seus neles, eles estavam dilatados, sua
excitação quase palpável.
Andrew me encara e sorrir, em seguida penetra toda sua língua em minha
boceta, se é que isso é possível, e começou a mexer. Gemi e fiz a cara de quem
estava amando todas aquelas sensações. Enlouquecida, comecei a rebolar sem
parar com a boceta na boca dele, ele me olhava fixamente, sua língua parecia ir
cada vez mais fundo. Ele chupava com tanta vontade, estava tão gostoso, ele
passou a chupar meu clitóris com força, sugando com vontade, sempre me
olhando fixo, me hipnotizando com seus olhos. Minha boceta estava toda
inchada, sentia o orgasmo chegando, eu rebolava feito louca, ainda apoiada com
as mãos na cabeceira, parecia que ele ia me engolir com sua boca gostosa. Não
consegui me segurar mais e gozei, gozei tanto que podia sentir sua garganta
mexendo, enquanto ele engolia meu gozo
— Isso foi... — Respiro e com muita dificuldade saio de cima de seu
rosto e volto a me deitar ao seu lado. — Maravilhoso, você faz um sexo oral
inesquecível.
— Fico feliz por você ter gostado. — Ele diz envaidecido.
— Eu não só gostei, eu...
— Amei. — Ele completa. — Senti saudades de seu gosto, achei que
nunca mais sentiria isso que sinto quando estou com você. — Seu olhar
preocupado me fez lembrar que eu quase o perdi.
Preciso contar a ele o que sinto.
Eu queria perguntar o que ele sente quando está comigo, mas não tive
coragem.
— Eu senti saudades de seu gosto também. — Toco em seu membro
ereto, sob sua calça social preta. — Posso?
— Você não precisa pedir, sou todo seu mia bella.
Eu realmente queria que isso fosse verdade.
Coloquei esse pensamento de lado e me debrucei em cima dele, tendo o
cuidado de não o machucar. Eu queria lamber todo seu abdômen, mas, estava
todo enfaixado. Entorto minha boca olhando seu curativo e ele sorri.
— Está rindo de quê? Ainda tem um pedacinho de pele aqui. — Aponto
para um pequeno pedaço de pele descoberto, quase próximo de sua virilha, me
aproximo e lambo, o fazendo gemer em resposta. Ele já estava no limite, um
líquido sai de seu membro, constatando sua total excitação.
Abocanhei seu membro em minha boca e o chupei com gosto. Ele gemia
de prazer e dor.
— Pare de se mexer assim, não quero te machucar.
— Mia bella, por favor, quero...
Eu sabia o que ele queria, mas, a preocupação era tanta.
— Eu sei, mas, eu não quero te machucar. — Volto a dizer.
— Não vai. — Sua firmeza ao falar foi como um incentivo.
Não esperei duas vezes, eu também queria senti-lo dentro de mim.
Passei minhas pernas ao seu redor e com a ajuda de minha mão direita, o
coloquei dentro de mim. Movimentava-me lentamente, um vai e vem gostoso e
ele gemia.
— Mas rápido, mia bella. — Ele ordena.
Apoie meus joelhos e minhas mãos na cama e fiz movimentos rápidos, o
fazendo entrar e sair. Eu já estava gozando novamente, o sentindo crescer e
inchar dentro de mim. Em seguida ele gozou gritando meu nome.
— Você é tão apertada, minha perdição.
— E você é tão gostoso. — Dou-lhe um selinho e volto a deitar ao seu
lado. Pego meu celular no criado mudo e vejo que ainda são cinco e meia.
Coloco o celular de volta ao lugar e encaro Andrew. — Você chegou que horas?
— Quase cinco da manhã. Mandei deixar o jato pronto, assim que o
médico me deu alta, eu vim para cá, eu e Mattias.
— E Mathew? — Minha preocupação não passou despercebida.
— Não se preocupe, ele está bem.
— Por que ele não veio com você?
— Vamos falar de Mathew agora? — Seu tom grosso não me abalava
mais.
— Pare com esse ciúme bobo.
— Não estou com ciúme de Mathew. — Ele diz, parecendo ultrajado.
— Se você diz. Você vai me dizer por que Mathew não veio?
— Descobrimos que Jonas e Daniele, mexeram de alguma forma no
sistema do helicóptero. Eles tentaram me matar. — Sua voz trazia ódio, mas, eu
podia ver em seu olhar a magoa e a decepção. Não sei se pelo primo ou se pela
ex-mulher. Não saber trás uma sensação péssima, não ter coragem de perguntar,
deixa uma sensação pior ainda.
— Já os prendeu? — Eu ia me levantar, mas, ele não deixou. Meu corpo
e minha mente estavam agitados e a preocupação pela segurança de Andrew
voltou com tudo.
— Tire esse olhar preocupado, mia bella. Mathew ficou lá para ver se as
provas que temos contra eles serão o suficientes. Breve os dois serão presos. —
Eu sei que ele não contou toda história, faço uma anotação mental para perguntar
depois a ele.
— As provas são fortes?
— Não sei dizer, mas acredito que é o bastante para polícia ter um
mandado. Espero que eles sejam logo presos. — Ele completa, suspira e me
abraça apertado.
— Também espero. Vamos tomar banho?
— Para quê?
— Estamos sujos, tive dois orgasmos deliciosos, estou toda melada.
— Estou cansado, tomo banho quando acordar, faça o mesmo, tome
banho quando acordar. — Ele me olhou com seu olhar pidão.
— Vá bene. Vou tomar o anticoncepcional.
— Mas tarde você toma. Só fique aqui abraçada a mim.
Confirmo com a cabeça e beijo sua boca, um beijo quente que excitou
todo meu corpo novamente. Andrew geme em minha boca.
— Olha o que você faz comigo mia bella. — Ele diz e leva mia mão ao
seu membro que já estava ereto de novo.
— Olha o que você faz comigo il mio magnate. (meu magnata). —
Coloquei sua mão sobre minha boceta, que já estava encharcada mais uma vez.
— Somos insaciáveis. — Ele enfia seu dedo médio dentro de mim, me
fazendo gemer. Ele tira seu dedo e chupa. — Você é uma delicia mia bella.
— Não podemos...
— Eu sei. — Ele diz insatisfeito. Gostoso. — Vamos dormir um pouco.
— Vamos sim. — Como ele estava deitado de barriga para cima, então
fiquei de lado e coloquei minha cabeça no vão de seu pescoço. Seu cheiro
amadeirado se misturava ao seu cheiro de sexo. Senti seus dedos passarem em
minha boceta mais uma vez.
— Andrew? — Digo em meio ao gemido rouco que saiu de minha
garganta.
— Só mais um pouquinho, você não sabe o quanto eu quero te chupar
outra vez.
— Eu também quero que você me chupe e quero te chupar também, mas
só mais tarde. — Eu poderia rir da cara que ele fez, mas todo meu corpo estava
excitado e minha respiração acelerada.
— Só um pouquinho mais? — Volta a pedir.
— Só um pouquinho mais. — Digo me levantando e encaixando minha
boceta em sua boca outra vez. Gemi sentido o contato de sua boca. Olhei para
ele e tentei passar todo meu amor através de meu olhar. Eu podia ver uma
emoção em seus olhos também, mas não sabia dizer qual.
E no fundo, eu pedia coragem para dizer a ele que o amo, pedia que uma
oportunidade surgisse. Mal Sabia eu que essa oportunidade chegaria e não seria
como eu esperava.
CAPÍTULO 33
F
— alta muito para chegar, Andrew?
— Só um pouco, Cecil. — Olho para ela irritado. A cada dez, quinze
minutos ela pergunta a mesma coisa. Ela começa a rir do nada e eu a olho de
relance. Será que ela ficou doida? — Por que você está rindo?
— Você todo irritadinho. — Ela puxa meu rosto e me dá um beijo na
face. — Aguente minha chatice, quando você fizer surpresas.
— Eu sei. — Suspiro a contra gosto.
— Vai me contar agora? — Ela e sua curiosidade.
— Não! — Pisco para ela e sorrio vitorioso. Ela me dá língua e volta a
se acomodar no assento do carro. Eu estava dirigindo e logo atrás de nosso
carro, um utilitário prateado, os seguranças nos segue com outro utilitário preto.
— Mimada. Sussurro já prevendo a discussão.
— O que disse?
— Nada, mia bella.
— Você me chamou de mimada. Você quer que eu te mostre quem é
mimada? — Sua mão vai direto ao meio de minhas pernas, apertando meu pau
com um pouco de força.
— Para Cecil, Estou dirigindo, eu estava brincando, mia bella.
— Mentira, pode pedir desculpa, não vai ter beijos por uma semana.
— O quê?
— Quer ficar sem sexo também?
Ela só pode estar brincando.
— Você faria isso?
— Ô, se faria. — Ela pisca para mim e sorrir vitoriosa.
— Desculpa, me perdoe mia bella. — Diminuo o carro e beijo sua boca
em um selinho rápido, depois, voltando à velocidade normal. Ela ficou me
encarando por um tempo. Seu olhar divertido. Fico feliz de ela esquecer um
pouco os problemas, o medo, a tristeza, esquecer tudo aquilo que a preocupa
tanto.
— Já estamos chegando? — Ela pergunta, dessa vez tocando em meu
braço com carinho. Olho para ela e lhe dou o meu melhor sorriso.
— Já chegamos! — Ela começa a olhar para todo lado.
Seu olhar repousou sobre a praia, eu não podia ver seu rosto, mas sabia
que ela estava sorrindo.
— Gostou da surpresa? — Prendo minha respiração esperando sua
resposta. Ela olha para mim com seus lindos olhos castanhos, nunca me canso em
olhar para eles, na verdade, nunca me canso em tê-la por perto. Seus olhos
transbordavam emoção e o silêncio dentro do carro nada impedia as palavras
que seu olhar transmitia.
— Eu Amei, Andrew. — Ela beija minha boca e me abraça, o máximo
que o cinto de segurança do carro permitia. — vamos, quero olhar mais de perto.
— Cecil diz ainda abraçada a mim.
Saímos de mãos dadas, enquanto os seguranças nos seguiam. Ela
começou a fazer várias perguntas. Qual o nome da praia, porque ela é tão limpa?
Você já trouxe alguém?
Mia bella de sempre, curiosa e linda.
Escolhi a praia Santa Marinella, porque era onde mio padre me levava
quando criança. Era a praia preferida de mia madre e quando estou aqui, me
lembro dos momentos bons que passei velejando e nadando com meu pai Leonel
Castillo. Na primavera e no verão, eram nossas estações preferidas de ir a praia,
o sol de 40 graus nada influenciava.
As praias não são propriamente em Roma, mas é perto, não muito perto,
mas o suficiente. Santa Marinella é a praia mais longe, no entanto, é a mais
bonita também.
Eu e Cecile nos acomodados em uma tenda improvisada que os
seguranças me ajudaram a armar, eu fiz questão de comprar duas tendas para os
seguranças não ficarem no sol. Eles também ficaram mais a vontade, usando
shorts coloridos e camisas floridas.
Eu e Cecil, passamos algumas horas dentro do mar relaxando. Ela usava
um biquíni dourado, que realçava sua pele amendoada e eu usava uma sunga
preta.
Assim que saímos da água, fomos deitar nas espreguiçadeiras que
alugamos na praia mesmo. Tomamos sol, saboreando um delicioso Spritz.
Comemos várias coisinhas apetitosas, mini bruchetas, pequenas porções de
lulas fritas, bolinhos de queijo, entre outras coisas. Cecil não gostou da Lula frita
e chegou a fazer cara de nojo ao comer, não sei por que, lula frita é uma delícia.
O dia e a tarde passou rápido e o sol já estava quase se pondo. Pedi aos
seguranças que continuassem me esperando no mesmo lugar. Convidei Cecil
para fazer uma caminhada comigo. Levei-a no lugar onde algumas pessoas iam
namorar. Chegamos ao lugar e ela tirou sua saída de praia e a pôs no chão para
sentarmos.
Ficamos os dois em silêncio, observando a cena majestosa a nossa frente.
O sol se escondia cada vez mais atrás das águas do mar, parecia uma cena de
filme, ou poderia facilmente ser uma bela obra de arte. Cecil suspira, sua
expressão sonhadora, relaxada.
— É tudo tão lindo, tão mágico. — Olho para ela compenetrado,
admirando toda a sua beleza.
— Verdade, é tudo tão lindo. — Seus olhos brilham ao olhar para mim.
— Estou falando sério. — Seu sorriso envergonhado a deixava mais
charmosa ainda. — Olha só para isso... — Ela aponta para o sol. — É
magnífico.
— Eu sei que é lindo o pôr do sol, mas, eu prefiro olhar para você. Você
é meu sol, minha lua, você é toda minha, o sol perde para você. — Eu não sei ser
poético, mas as palavras saíram subitamente, até que gostei delas.
— Você está assistindo muito Game Of Thrones. — Ela diz de repente.
Estragando meu momento poético.
— Game Of Thrones? — Eu nem sabia o que significava isso.
— Sim, Jon Snow, Khal Drogo, Daenerys? Ainda continua não
significando nada para mim.
— Quem? — Pergunto com minha fisionomia em confusão, tentando não
esquecer o motivo de estar ali.
— Como é que alguém não conhece GOT? “É só a melhor série de todos
os tempos". Têm de tudo, dragões, reis, rainhas, zumbis de gelo. Livi disse que
fica feio os chamar assim, White Walkers, fica mais bonito...
Eu não entendia nada do que ela falava, então precisei cortá-la antes
que seu discurso continuasse a crescer.
— Cecil?
— Sim? — Ela está nervosa? Será que ela sabe o que vou fazer? Espero
que não.
— Não quero falar dessas coisas, quero falar sobre nós. — Ela fica em
silêncio me observando. Noto que é o sinal para continuar a falar. — Você é a
melhor coisa que aconteceu na minha vida. Sei que não começou muito bem e
sinto muito por isso, pela forma que te tratei mia bela, quando nos conhecemos.
— Ela balançava a cabeça só escutando. — Se eu pudesse voltaria no tempo. —
Em seus olhos havia um brilho de lágrimas não caídas.
Levantei-me, retirando a caixinha e com mãos ágeis, tirei o anel de
dentro. Ajudei a Cecil a se levantar também, peguei em sua mão e me ajoelhei à
sua frente. Cecil parecia assustada, talvez em pânico. Fiquei nervoso em
constatar que poderia ser um erro fazer isso. Tudo bem que eu pedi a mão dela a
sua mãe e ela aceitou, mas talvez eu devesse ter falado antes com Cecil. Meu
corpo começou a suar, eu estava sem camisa, usando só minha bermuda branca
por cima da sunga. Sentia um nervosismo fora do comum, antes de prosseguir,
pensei mais uma vez no que estava por fazer. Não era minha primeira vez, mas
era a primeira vez que eu ansiava por uma resposta positiva. Já havia roído as
unhas de ambas as mãos na noite anterior, sei que preciso continuar, não podia
mais voltar atrás.
Se começou, termine Andrew.
Ansioso, segurei o anel que mandei fazer especialmente para ela. Ele foi
feito em ouro amarelo, em cima é em formato de flor, onde repousava um
diamante. Eu queria algo especial e único.
Olhei para ela e disse:
— Cecile Viana, você quer se casar comigo?
Por que ela não diz nada?
Ela me encarava com seus olhos esbugalhados.
— Andrew? — Sua voz era apenas um sussurro. Sua mão soltou-se da
minha e ela deu um passo para trás. — Eu não posso me casar com você. — Ela
diz jogando um balde de água fria em mim.
O que eu fiz de errado? Por que ela disse não?
Minha mente não conseguia entender. Por vezes escolho me calar, senti o
vento passar e acariciar o meu rosto com leveza, mas, raramente as pedrinhas
trazidas pelo vento me machucam, parece que o vento nunca vai cessar, nesse
momento esforço-me para me proteger de piores machucados que podem surgir,
como agora, não me calei e tomei na cara. Eu não queria admitir para mim
mesmo, mas a rejeição dela me afeta e muito, achei que tinha me preparado o
suficiente, mas olhando para ela, com minha cara de idiota, ainda por cima
envergonhado e com o anel estendido, me sentia péssimo, o pior dos homens.
CAPÍTULO 38
P
— or que Cecil? — Andrew levanta, passando a mão com nervosismo
em seu cabelo. Sua fisionomia era uma mistura de vergonha e confusão.
Tudo o que eu mais queria era dizer sim, mas, eu sempre sonhei em casar
por amor.
— Andrew, você me ama?
Eu preciso saber, sei que atitudes contam mais que palavras, mas, eu
necessito escutar de sua boca.
— O quê? O que amor tem haver com isso, Cecile?
Era o que eu temia.
Sou tão falha, imperfeita, mas não tenho complexo de Cinderela, estou
ciente de que nenhum cavaleiro de armadura virá, mas ainda assim, anseio que
Andrew seja meu cavaleiro.
Sou tão idiota às vezes, ou, sempre.
— O que o amor tem haver com isso? — Eu perguntei mais alto do que
pretendia, Andrew recuou um passo com a sobrancelha erguida. — O amor tem
tudo haver. — Aproximei-me e toquei em seu braço chamando sua atenção para
mim, seus olhos repousaram em seu braço, para em seguida olhar para mim
alarmado. — Eu o amo, Andrew, não sei quando aconteceu, mas sinto isso aqui
dentro. — Aponto para o meu peito. Ele se afasta de meu toque com brusquidão.
Eu não vou chorar na frente dele, não vou chorar. Eu mandava um
comando ao meu celebro.
— Somos tão perfeitos juntos, por que você tinha que falar disso agora?
— Suas palavras me magoavam e eu queria urgentemente sair de lá.
— A gente não escolhe quando ou a quem amar, Andrew. Você acha que
para mim qualquer coisa é tolerável, e até casar sem que haja amor?
— Você não percebe que não precisamos de amor? As pessoas que
amamos nos magoam, nos machucam com suas ações e palavras, amor
enfraquece, Cecile. — Eu sei que ele estava falando de sua ex-mulher e seu pai,
ele me contou sobre eles faz uma semana, achei que ele já estava se abrindo para
a possibilidade de me amar, seu olhar dizia isso.
Talvez ele me ame, só não sabe ainda. É coração, parece que você gosta
de sofrer, só pode ser isso.
— Por que você teme tanto o amor? — Olhei para o mar sabendo que
poderia ser a ultima vez que eu estaria com ele nesse lindo lugar.
— Eu não temo o amor, Cecil, só não quero que ele interfira em nosso
relacionamento. — Sua voz saiu carregada de ironia.
— Minha avó sempre me diz que temer o amor nos priva de viver, se não
"vivemos", por mais que estejamos vivos, por dentro a "morte" é eminente. —
Olhei para ele indignada. — Você não percebe que está comparando nossa
relação com o seu passado?
— Não há comparação, Cecile. — Desde que começamos essa conversa
que ele não me chamou mais de mia bella. Eu já sentia falta de seu olhar
apaixonado e de seus carinhos. — Por favor, Cecil, vamos parar com essa
conversa, se não quer casar, tudo bem, vamos voltar ao que era antes?
— Não há como voltar ao que era antes, Andrew, não há como fingir que
essa conversa não aconteceu. Como vou ficar com o homem que amo, sabendo
que ele não quer me amar?
Eu não vou chorar, eu não vou chorar.
— Cecil? — Sua voz era quase inaudível. Abaixo e pego minha saída de
praia do chão e o encaro antes de falar.
— Sei que nossos corações são traidores, dependentes de afetos
momentâneos, feridos e incompletos. — Chego mais perto dele, tocando em seu
rosto. — Antes de te conhecer, me sentia assim, mas você chegou e mudou tudo,
foi meu primeiro homem, meu primeiro amante, juro a você que tentei não me
apaixonar. Eu pensei: Como vou me apaixonar por um homem arrogante que me
fez senti medo e tesão ao mesmo tempo? — Dou-lhe um sorriso torto. — Mas aí,
além de me apaixonar, descobri que te amo, não escolhi, aconteceu e não me
arrependo.
Juntei nossas bocas em um beijo demorado, talvez seja o nosso último, eu
já não conseguia segurar as lágrimas. Andrew me beijava com desespero e
carinho, tocando meu corpo.
Eu não sabia o que fazer, como dizer a meu coração para deixar de ser
tolo? Para parar de se iludir, Andrew pode me oferecer o mundo inteiro, mas não
aceita me amar, só deixa que caiam as migalhas. Migalhas não saciará minha
fome de amor, talvez por um tempo isso seja o suficiente, no entanto, não
preenche nem um terço, piorou metade. Como dizer ao meu coração para
entender de uma vez por todas...
Não se apegue demais.
Agora vou ficar sofrendo e longe do homem que amo.
Separei nossos lábios e encarei seus lindos olhos verdes.
Eu sei que ele me ama, seus olhos me dizem isso, mas por que ele não
admitiu? É tão ruim assim me amar? Quem sabe seu coração seja de tal
maneira incompleto que ele não saiba ser recíproco. Pensei.
Meu coração se apertava cada vez mais. Separei nossos corpos virando
de costa para ele.
— Você pode me levar para casa? — Peço a ele antes de limpar minha
face que escorria lágrimas sem parar.
— Posso! — Foi tudo o que ele disse antes de começar a andar me
deixando para trás.
Caminhei um pouco atrás, observando seu andar decido e seus ombros
curvados, como se ele carregasse o peso do mundo neles. De súbito ele olha
para sua mão esquerda e meus olhos seguem seu gesto. Entre seus dedos se
encontrava o lindo anel que ele ia me dar. Por um momento achei que ele jogaria
fora, meu coração chega perdeu uma batida imaginando a cena, mas ele o
colocou no bolso de sua bermuda e eu suspirei aliviada.
Passamos do lugar que nossa tenda estava armada, mas os seguranças já
tinham tirado, seguimos direto até o carro, onde os seguranças estavam apostos
nos esperando.
Andrew com toda sua frieza, deu um meneio de cabeça e entrou no carro,
olhei para eles e sorri, mas acho que o sorriso nem chegou aos meus olhos.
Pietro e Antônio se entre olharam desconfiados, eles devem ter notado o
clima estranho.
Entrei no carro onde Andrew estava e ele me olhou surpreso, mas nada
disse. Acomodei-me no banco do carona, coloquei o cinto, peguei meu celular e
botei na reprodução de música, na pasta onde só tinha as músicas de Lucas Luco,
olhei para frente, enquanto ele começou a dirigir.
A viagem de volta foi horrível, o clima dentro do carro pesado demais.
Andrew em nenhum momento olhou para mim, eu nem me importava, olhei para
ele abertamente, gravando seus traços.
Ele estacionou em frente ao prédio que moro, como ele sempre faz, sai e
abre a porta do passageiro para mim quando os seguranças não estão por perto
para fazer.
Ele olhou feio para estrutura do prédio que moro, como ele faz a todo o
momento quando vem a minha casa.
Seus olhos repousaram nos meus, pude ver tristeza e saudade, duas
combinações péssimas. Ele já estava saindo quando o chamei.
— Andrew? — Ele para e vira-se para mim, não havia mais emoções
nenhuma, só o homem frio que conheci naquele hotel. — Talvez você ache que
seja um grande erro de minha parte, mas, eu não encaro com esse olhar. Eu
pensei em fazer de tudo para você me amar, mas o engraçado é que tenho quase
certeza que você me ama. — Não havia emoção nenhuma em seus olhos e mais
uma vez senti uma imensa vontade em chorar. — Mas agora sei que só me resta
um decisivo recurso: não fazer mais nada, a decisão agora é sua, eu disse para
mim mesma que esperarei, mas não demore a tomar sua decisão...
— Que decisão, Cecil? — Sua voz soava confusa, mas em seus olhos
ainda não tinha nada.
— Aceitar que me ama e nos dar uma chance ou não se importar e segui
em frente.
— Hum... — É tudo o que ele diz em resposta.
É um babaca mesmo, mas não posso fazer nada, eu o amo, amo tanto.
Ainda assim preciso ser forte.
— Mas eu não sei se vou esperar por muito tempo, se você não quer me
amar, talvez eu deva procurar mais adiante, com toda certeza alguém vai querer.
Não esperei sua resposta, virei e saí, sem ao menos me despedir. Eu não
queria falar isso, mas agora já saiu. Entrei no elevador chorando e a síndica
estava lá, me olhando curios, doida pra saber o motivo de meu choro
compulsivo.
Bruxa, fifi.
Entrei em meu apartamento as pressas, me joguei no sofá ainda chorando,
minha cabeça doía e meu corpo estava pesado, minha resistência ficando fraca,
mas, eu não podia, se eu quero mais, preciso arriscar.
Toda noite eu dormia com Andrew, ou na minha casa ou na casa dele,
isso só não acontecia quando ele viajava. Mas acabei pegando no sono ali no
sofá mesmo. O sono sem sonhos e uma noite de muitas sem meu Andrew.
CAPÍTULO 39
Já se passaram quase cinco meses que estou longe de Andrew, ele nem
aí para mim. Sempre quando era possível, eu ligava e perguntava sobre ele para
Mona, ela sempre fazia as mesmas reclamações.
— Fligio mio está muito magro, não come direito, vive trabalhando, não
para mais em casa, Cecil, por que você não volta para ele? Ele era mais feliz
quando você estava por perto.
Por mais que eu tente fazer o contrário, sempre me sinto mal, me sinto
culpada por ele viver desse jeito.
Durante esses quatros meses, tivemos dois encontros nada agradáveis.
O primeiro foi quando eu voltei à empresa, três dias depois de nossa
última conversa, com o meu pedido de demissão em mãos.
Primeiro falei com Julieta e Paulo, expliquei o que estava por fazer, eles
de imediato tentaram me persuadir, mas cortei logo, nunca gostei de ninguém me
pressionando. Eles notaram meu desconforto e pararam de insistir. Eles são
ótimos amigos, aprendi a amá-los, só que eu tinha vergonha de ficar conversando
com eles, porque passei a sentir inveja deles e do seu relacionamento está indo
tão bem. Mas, hoje não vejo mais assim, assim como antes, desejo toda
felicidade a eles e ao futuro casamento que já foi marcado.
Após falar com eles, fui direto a sala de Andrew.
Tudo estava em seu devido lugar, a não ser Mathew, que parecia um
poste parado em frente a sala de Andrew. Aquilo para mim era novo.
— Mathew, como você está meu caro? — Disse, me aproximando dele.
Dei-lhe um rápido abraço acompanhado com um sorriso sincero e para minha
surpresa ele retribuiu.
— Estou bem e a senhorita? Temi não vê-la mais.
— Como não? Não é porque não namoro mais com Andrew, que vou
esquecer vocês, eu considero você e Mona amigos...
— Eu também a considero uma amiga, senhorita...
— Não parece Mathew, você ainda me chama de senhorita, que amigo faz
esse tipo de coisa? — Minha indignação não era fingida.
— Desculpe, são ofícios do trabalho.
— Eu autorizo você a me chamar de Cecil e que se dane tanta
formalidade. — Ele sorriu para mim, logo me senti mais relaxada.
— Combinado Cecil. — Retribuí seu sorriso.
— E como vai Alissa? — Seu sorriso foi sumindo e deu lugar a um
Mathew envergonhado. Ele ficou fofo, corado. Mas o meu Andrew, além de ficar
fofo, ele ficava gostoso e me excitava demais.
Mas infelizmente é um gostoso babaca. Pensei desiludida.
— Ela está muito bem.
— Fico feliz por vocês.
— Quem te contou sobre nós? — Ele fez a pergunta parecendo
desconfortado.
— Na verdade ninguém, Andrew fez uma suposição uma vez e quando
perguntei sobre Alissa, você ficou todo envergonhado.
— Estou muito feliz, ela é incrível, eu estou apaixonado, acho até que a
amo.
Vixe, o homem nem parou para respirar.
— Quero muito que vocês sejam felizes, digo de todo coração. — Sorri
para ele, mas o meu sorriso não chegou até meus olhos.
— Grazie Cecil, desejo o mesmo a vocês. Eu sei o que se passou entre
você e o Sr. Castillo, sei que ele te ama, um dia ele verá isso.
— Espero que você esteja certo, Mathew. — Suspirei frustrada e voltei
a sorrir. — Falando nele, será que posso entrar rapidinho? — Ele ficou sério,
passou a mão no queixo nervoso. — O que foi?
— Ele não quer falar com ninguém.
— Nem comigo?
— Principalmente você.
— Por quê? Ainda sou sua secretaria.
— Não sei dizer, Cecil.
— Dê-me licença, Mathew, vou entrar nessa sala você querendo ou não.
— Mas, Cecil, eu não...
— Mathew? — Eu disse em um tom tão sinistro, que até eu me arrepiei.
Eram tantos sentimentos se misturando dentro de mim, mas a raiva era o que mais
prevalecia.
— Va bene, va bene. — Ele levantou as mãos se rendendo e saiu da
frente da porta. — Seja o que Dio quiser.
Entrei na sala toda imponente para receber um olhar frio em resposta.
— O que você está fazendo aqui, Cecile? — A pergunta foi feita com
calma, mas me fez sentir como uma intrusa.
— Eu trabalho aqui, Andrew, não pude vim esses três dias por motivos
de saúde...
— Você não trabalha mais aqui. O que você teve?
O quê? Por que ele disse que não trabalho mais aqui?
— Foi só uma gripe. — Respondi rápido. — Por que você disse que não
trabalho mais aqui?
— Seu contrato acabou e como você não quis renovar, achei melhor
assim. — Fiquei surpresa pela forma que ele estava agindo, fazendo pouco caso
de tudo.
— Então vai ser assim agora? — Perguntei incrédula com toda essa
situação. Acho que o meu arriscar de nada valeu.
Talvez eu não fosse tão importante assim para ele como eu imaginava.
— Você quis assim, Cecile, você fez essa escolha por nós. — Meus olhos
se encheram de lágrimas com suas palavras, mas, eu não daria a ele esse
gostinho de chorar em sua frente.
— Tudo bem, Andrew, acho que esse pedido de demissão de nada vai
adiantar. — Levanto o papel que estava em minhas mãos e mostro a ele. Foi à
vez de ele ficar surpreso, mas, a sua surpresa não durou muito. — Sabe Andrew,
durante toda minha vida, eu aprendi muito observando os relacionamentos das
pessoas...
— Sim? — Ele se recosta na cadeira para me escutar.
— Uma coisa eu aprendi com tantos erros e acertos alheios, é que amores
inteiros são doces; enquanto amores pela metade são amargos. Cabe a você
escolher o que te dá mais prazer... O doce ou amargo? Acho que eu não preciso
dizer a você o que prefiro. — Fui me virando para sair, mas, ele me impediu ao
falar com seu velho e conhecido tom irônico.
— Cecile e suas frases de efeitos.
— Para você pode ser frase de efeito, mas para mim, está se referindo a
minha vida.
— Ok, terminamos aqui. — Ele disse com sua voz imponente, mandão
como sempre.
— Com toda razão. — Rebati com firmeza. — Você é um babaca, sabia?
— Não, mas agora eu sei.
— Acho que vou começar a te chamar assim ao invés de meu magnata,
afinal em minha mente, eu já te chamo faz três dias. — Ele sorriu, achando graça
de meu comentário. — Babaca! — Revirei os olhos para ele.
— Você está muito ousada, vou cortar a sua língua com tanta insolência.
— E o sorriso não saia do rosto dele.
— Se é isso o que você quer, mas saiba que é tudo que você pode sonhar
fazer agora. — Ele voltou a ficar sério, sem tirar os olhos de mim e aquele seu
olhar predador surgia quando ele estava excitado. — Isso mesmo que você está
pensando, não terá mais enquanto não deixar de ser idiota. — Resolvi sair de lá
enquanto estava por cima, mas no Uber de volta para casa, chorei que nem
criança.
Nosso segundo encontro foi dois meses depois, imagina a saudade que
senti dele, que ainda sinto? Após a primeira semana, comecei a imaginar ele com
outras mulheres e esse pensamento acabava comigo.
As mulheres não são cegas, Andrew é um homão da porra, faz qualquer
mulher suspirar excitada, não duvido nada que até homens babem por ele. Sobe-
me um ódio quando penso essas coisas.
Eu estava no supermercado, era quase dez horas da noite quando recebi
uma ligação de Mathew todo animado.
— Mathew, como você está?
— Você sumiu Cecil, olhe que você disse que não se afastaria. —
Ignorando minha pergunta, ele começou a reclamar.
Sempre quando dava, eu conversava com Mathew, Paulo e Julieta pelo
whatsapp, até Alissa conseguiu meu número com Mathew e me chamava sempre
para conversar, dando conselho sobre relacionamento. Confesso que me sentia
desconfortável, com raiva por ela se intrometer em meu relacionamento com
Andrew, mas acabei mudando meu pensamento quando ela demonstrou que
realmente queria ser minha amiga.
Nas últimas semanas me afastei de qualquer rede social, principalmente o
whatsapp. Nos status do whatsapp parecia que todos estavam felizes, menos eu,
para não ficar agourando a felicidade de ninguém, me afastei.
— Desculpa Mathew, só precisei de um tempo para mim, como estou
quase terminando a faculdade, foquei em meu TCC...
— Cecil, você precisa parar de se excluir, isso não vale a pena, ragazza.
— Eu não estou fazendo isso, Mathew...
— Va bene, va bene. — Ele me cortou ao falar, deixando bem claro que
não acreditava em mim. — Vim te fazer um convite, espero não ter recusa.
— Faça o convite. — Disse suspirando. Em minha mente estava
planejando várias desculpas para recusar o convite.
— Eu pedi Alissa em casamento e ela aceitou...
— Casamento? Vocês são tão rápidos. — Eu fiquei pasma com a
revelação dele.
— Nos amamos, isso é um motivo suficiente para nós, sei que ela é rica,
mas, eu trabalho e me orgulho disso.
— Calma, não estou falando disso...
— Eu sei, desculpa. Você não tem nada haver com isso, mas, eu me sinto
tão sufocado, minha mãe acha que não vai dar certo, ela acha que vou ficar mal
falado, vão me acusar de querer dar o golpe na mulher rica.
— E o que Alissa acha disso?
— Ela me lembra você, não mede as palavras, fica revoltada, quando
volta e meia eu volto ao mesmo assunto. — Ele sorriu do outro lado da linha. —
Mathew, se esses bastardos gostam de cuidar de nossa vida, acham que nossa
vida é mais interessante que a deles, deixe que cuidem, enquanto eles fazem isso,
a gente está se amando cada vez mais e transando loucamente. — Eu comecei a
rir do outro lado da linha, fazia tempo que eu não ria. Não acreditei que Mathew
teve coragem em me dizer todas as palavras que Alissa falou, ele é todo
envergonhado quando se trata dela.
— Realmente ela é uma das minhas. — Disse ainda sorrindo. — Mathew,
pare de se preocupar muito com as opiniões alheias, pare de esgotar a energia de
seu relacionamento por causa deles, pense que eles queriam estar em seu lugar,
mas não estão. São somente espectadores querendo cuidar da vida dos outros e
nem cuidam da própria vida. Tenho ranço de pessoas assim...
— Ranço? — Ele perguntou parecendo se divertir, mas sua curiosidade
não me passou despercebida.
— Sim, repulsa, ódio. É só uma gíria usada no Brasil.
Até que cai bem.
— Vocês brasileiros são criativos demais.
— Em algumas coisas sim, mas em outras deixamos a desejar. Enfim... —
Disse mudando de assunto. — Quando será a festa de noivado?
— Sábado...
— Esse sábado? É amanhã Mathew, poxa, em cima da hora, preciso
ajeitar meu cabelo, unha, roupa, meu Deus, nem sei que roupa usar.
— Calma, vai ser à noite.
Homens acham que tudo é fácil, espero achar alguma hora vaga em
algum salão de beleza.
— Pode levar alguém se quiser, vai ser na casa de minha mãe, mando o
endereço pelo whatsapp...
— Não tenho mais whatsapp...
— Baixe novamente, ragazza. — Esses homens são muitos mandões.
— Andrew vai?
— Provavelmente sim, mas, ele não confirmou, está viajando a trabalho,
me deixou aqui para cuidar de Mona e levou Pietro com ele.
— E Antônio?
— Não sei dizer.
— Sei. — Como o chefe de segurança não sabe onde está seu
subordinado?
Aí tem. Eu estava curiosa, mas a ideia de reencontrar Andrew, fez meu
coração acelerar e minha barriga se contrair em completo nervosismo.
Desliguei o celular e voltei a fazer minhas compras, mas sabe como é,
você ficar no automático? Era assim que eu me sentia quando terminei minhas
compras e voltei para casa.
No dia seguinte, cuidei de meu cabelo, das unhas, de minha pele, peguei
uma roupa qualquer no guarda roupa e vesti, mas o meu coração continuava
descontrolado, ansiando por ver Andrew, mas ao mesmo tempo, temendo um
encontro desagradável.
Cheguei à casa da mãe de Mathew, pouco mais das sete e meia. Estava
meia hora atrasada, mas só por causa da demora do Uber. Alissa e Mathew, me
receberam ao chegar.
— Cecil, como você está linda, ragazza. — Alissa disse ao me abraçar.
Eles e essa mania de me chamar de menina.
— O quê? Essa velharia? — Perguntei sorrindo, retribuindo ao seu
abraço.
Eu vestia um macacão bege de manga, com um decote em V que deixava
a curva de meus seios a mostra, coloquei um blazer, que também era bege por
cima do macacão e calcei um salto alto scarpin preto. Fiz um coque baixo em
meu cabelo, a maquiagem foi leve, mas o batom era vermelho bem chamativo.
Quando Livi me deu o conjunto, macacão e blazer, achei tão ousado, que
nunca me imaginei usando, nem sei quanto tempo ele ficou guardado no fundo do
guarda roupa, mas, sem ânimo em ir ao shopping comprar alguma coisa, então
vesti ele mesmo. Meu intuito não era ficar muito tempo, só o suficiente.
— Você que está maravilhosa, Alissa. — Disse com um sorriso sincero.
Alissa usava um vestido longo, branco com a manga igualmente longa,
ele tinha uma fenda que ia de sua coxa aos pés, havia também um decote em V
bordado, que deixava a curva de seu seio também à mostra. Acho que
maravilhosa é pouco, ela estava gata e o olhar admirado de Mathew, não deixava
dúvida sobre o quão linda ela estava.
Eu queria que Andrew me olhasse assim, no entanto, se não for ele essa
pessoa, que um dia alguém o faça.
Ficamos os três jogando conversa fora, até Alissa sair pela festa me
apresentando a todos os seus amigos, conhecidos, seus irmãos adotivos, Carlos,
Fernando e Miguel.
Todos foram bem gentis comigo, mas o único que eu não fui com a cara
foi com o tio de Alissa, Pedro, ele me olhava estranho e descaradamente seus
olhos não saiam de meu decote. Alissa, notando meu desconforto, me levou para
pegar uma bebida em um canto distante. De modo inconsciente, comecei olhar
todos os lados.
— Ele ainda não chegou.
— Ele quem? — A confusão estava estampada em meus olhos.
— Ah Cecil, você sabe de quem estou falando?
— Eu não estou procurando Andrew.
— Va bene, se você diz.
— Não sei se estou preparada. — Confessei a ela, deprimida.
— Preparada para quê?
— Rever Andrew, já faz dois meses que não o vejo.
— Vocês são malucos.
— Andrew que não toma a decisão dele, mas admito a você que a espera
é cansativa e frustrante.
— Eu sei querida, você... — Meus olhos repousaram na porta e eu nem
escutava mais Alissa. Andrew surgia todo elegante em um terno Armani preto,
feito sobre medida, mas o que meus olhos teimavam em olhar, era para mulher
que estava agarrada ao seu braço. Ver aquilo foi como um soco no estômago. —
Cecil você está bem? Ficou pálida de repente. — Seus olhos seguiram os meus e
um disfarçado “O” surgiu em seus lábios. — Quem é aquela piranha?
— Não sei. — Respondi em um sussurro. Pensei em repreender Alissa
por xingar a mulher, mas em minha mente passava vários nomes horríveis que
deixavam o de Alissa no chão, então resolvi não dizer nada a respeito.
Andrew conversou por alguns minutos com Mathew, com a mulher ainda
agarrada a ele. Ele me pareceu procurar alguém, até seus olhos se encontrarem
com os meus, depois foi descendo, avaliando meu corpo, quando voltaram a se
encontrarem com os meus, nele estava contido raiva.
Não aguentando sustentar seu olhar de raiva, pedi licença a Alissa e fui
caminhar no jardim. A casa de dois andares era bem linda e se encontrava em
ótimo estado, o jardim era belíssimo, havia fontes em formatos de pequenos
anjos espalhados pela área, todo lado que eu olhava, tinha rosas plantadas e
bancos dispostos ao redor e um pouco mais distantes havia uma grande árvore e
foi para lá que eu fui. Passaram-se alguns minutos e ouvi passos atrás de mim.
— Não estou a fim de conversar agora, Andrew. — Minha voz séria,
estava carregada de raiva contida.
— Desculpe decepcioná-la querida. — Ouvi a voz arrastada do tio de
Alissa dizer, e todo meu corpo ficou em alerta. Ao me virar, notei que ele estava
perto demais, muito perto, tanto que seu cheiro de bebida impregnava minhas
narinas.
— O que deseja senhor?
— Uso errado de palavras querida.
— O que você quer? A pergunta está mais clara para você? — Ele ficou
me encarando com o olhar divertido, impaciente, tentei passar sem precisar tocar
nele, mas ele foi mais rápido e me puxou pelo braço. — Solte-me, quem disse
que você pode tocar em mim?
— Vamos brincar um pouco querida. — Seu hálito fazia meus olhos
arderem e seu suor impregnava suas roupas. Eu sentia ânsia de vômito.
— Eu já pedi para me soltar, você quer que eu grite?
— Faça isso, a música está alta, não há ninguém além de mim e você no
jardim, seu eu quiser, arrasto você para trás dessa árvore e fodo você gostoso.
Que nojo, homem asqueroso.
— E quem vai te ajudar? Sou maior que você. — Ele tinha razão, ele era
um homem alto e forte, sozinha eu não conseguiria impedi-lo.
— Se afaste agora de minha mulher. — Nunca me senti tão aliviada em
escutar a voz de Andrew, mesmo tão brava com ele. Ele me chamou de sua
mulher e por um momento eu esqueci minha raiva e todos os problemas.
— É o quê cara? A conversa aqui é particular. — O homem cambaleou
ao falar e sua mão pressionava mais forte meu braço.
— Ai, você está me machucando. — Gritei.
— Eu não vou falar outra vez, solte a minha mulher. — Não havendo
resposta da parte do homem, Andrew pôs sua mão sob a dele e com brutalidade
abriu os dedos que estavam em volta de meu pulso, assim o libertando. —
Pietro?
— Chamou Sr. Castillo? — Eu nem tinha visto que Pietro observava a
cena.
— Tire esse homem daqui discretamente. — Ele voltou a olhar para o
homem que trocava suas pernas de bêbado. — Eu só não lhe ensino uma lição,
porque diferente de você, não sou um covarde para bater em um homem em seu
estado.
O homem lançou sobre Andrew um olhar de raiva e saiu cambaleando
com Pietro logo atrás dele.
Só assim pude respirar livremente e dei conta que Andrew estava ali a
minha frente, meu coração começou a disparar, frenético. Quando estamos a sós,
quero abraçá-lo, recostar minha cabeça em seu peito. É uma sensação que me
deixava desnorteada.
— O que você está fazendo? — A pergunta feita de forma tão fria me
deixou em alerta.
— Não estou fazendo nada, Andrew.
— Por que está vestida desse jeito? Seus seios estão quase na rua.
— Poupe-me de suas observações, Andrew. Alissa está com um decote
mais acentuado que o meu e não vi você fazendo nenhuma reclamação.
— Alissa não é minha mulher...
— E nem eu. — Ele por um momento se calou.
— Tem razão, Cecile.
— Ótimo! — Disse com raiva.
— Ótimo! — Ele revidou calmo, me deixando com mais raiva.
— Agora que estamos conversados, pode voltar para aquelazinha lá
dentro.
— Quem? — Ele perguntou confuso.
— A vagabunda que você veio agarrada ao seu braço quando chegou.
— Ah, você está falando de Valentina.
— Não quero saber quem é essa mulher.
— Ela é só uma colega que está me ajudando a fechar um acordo mia
bella.
Mia bella? Agora que ele me chama assim.
— Não me importa quem ela seja Andrew, só consigo pensar que você
escolheu desfilar com ela em um lugar que eu também estaria.
— Eu nem pensei a respeito...
— Agora não importa mais, Andrew, eu não preciso de suas palavras, de
suas desculpas, ou de suas dúvidas, o que eu quero, você já me mostrou que não
é capaz de me dar. Você já tomou sua decisão, não se preocupe que vou respeitá-
la.
Naquele momento eu me senti arrasada, mas ainda assim, saí de lá com a
cabeça erguida.
— Cecile? — O ouvi me chamar.
— Você não merece meu amor, Andrew. — Disse ainda de costa para
ele.
Ela deve ter tentado falar comigo, mas estou sem internet desde a noite
anterior, já falei com a sindica, mas a bruxa não resolve meu problema.
— Mãe?
— Eu estou sem internet, mãe, desculpa, mas por que a senhora andou
chorando? O que aconteceu? Cadê Livi? — Meu coração começou a bater
rápido. Ela ficou em silêncio fazendo meu medo aumentar. — Mãe cadê a Livi?
— Um sentimento de culpa se apossou de mim de repente. Eu fiquei presa em
meu mundo de dor e esqueci as pessoas importantes de minha vida.
— Ela piorou, Cecil, os médicos acreditam que ela não tem muito tempo.
— As lágrimas desciam desenfreadas. Minha Livi, minha amiga e irmã,
precisando de mim e eu me sufocando com minha dor.
Que tipo de pessoa eu sou?
— Livi está chamando por você, venha se despedir dela, querida.
Faltando poucos minutos para rever mia bela, minha ansiedade estava
quase no limite, não sei por que deixei chegar a tanto, não aguento mais ficar
longe dela.
Eu cheguei a imaginar que seria eterno nosso relacionamento, porque eu
consigo me ver assim com Cecile, mas, quando ela se declarou para mim, entrei
em pânico e instantaneamente senti receio que a velha cicatriz de dor se abrisse.
Foi esse receio que me fez perdê-la.
Os nossos dois e breves encontros, durante esses quase cinco meses,
foram uma tortura para mim. Em meu escritório usei da ironia para não ceder a
minha vontade louca de beijá-la, mas na festa de noivado de Mathew e Alissa,
fui despreparado, me arrependo de duas coisas: de ter olhado para Cecil com
raiva e de ter levado a grudenta e intrometida da Valentina comigo.
A raiva não era direcionada a ela, mas a todos os homens que não
tiravam os olhos de Cecil e Alissa. Quem em sã consciência faz um tipo de roupa
que deixa os seios das mulheres quase a mostra? Eu realmente não consigo
entender.
Valentina foi minha pior decisão, ela é a dona do novo terreno que eu ia
comprar, mas depois do que aconteceu na festa, decidi que não vale a pena, ela
insistiu tanto em me acompanhar, com a velha desculpa de estar com tédio, não
pensei a respeito, eu queria ver mia bella, mas essa decisão mal pensada só fez
piorar tudo.
Naquele dia, eu tinha tido uma conversa decisiva com Jonas e sempre
quando me lembro, sinto que deixei para trás situações dolorosas.
Dois dias antes, Jonas havia sido transferido do presídio do México para
o presídio de Roma, chamado “Regina Coeli”. Se fosse por mim, eu iria lá no
mesmo dia que ele foi transferido, mas, ele acabou chegando muito tarde e na
sexta feira, ouve a saudação e os votos do “Santo Padre" o cardeal Agostino
Vallini.
Cancelei toda minha agenda e optei em ir no sábado pela manhã. Cheguei
a achar que a visita não aconteceria.
Para receber visitas, Jonas teria que me registrar na administração do
presídio, na lista de pessoas que ele deseja receber visitas, só que eu não estava
no rol de visitas dele.
Liguei na noite anterior para o meu advogado particular e pedi para saber
se teria algum problema, não foi surpresa quando descobri que teria, mas não sei
dizer como, Mathew junto com meu advogado, conseguiram que a visita
acontecesse.
Assim que cheguei ao presídio, acompanhado de Pietro, me senti
desconfortável, o ambiente é bem opressor, fedia a sangue e sexo.
O agente penitenciário, um homem com mais ou menos minha idade,
altura mediana e a fisionomia bem séria, me olhou de cima abaixo com desprezo
no olhar, eu fingi que nem notei sua hostilidade.
— Bom dia senhor, estou aqui para visitar Jonas Vitello. — Disse assim
que me aproximei do balcão da recepção.
— Documentos! — Ele nem retribuiu o bom dia, ainda assim, continuei
com minha educação.
— Certo! — Tirei todos os documentos necessários de dentro do bolso
de meu terno preto.
Entreguei ao agente penitenciário meu RG, um documento comprovando
meu parentesco com Jonas, antecedentes criminais, meu comprovante de
endereço e duas fotos 3x4. Ele avaliou meu RG, em seguida os outros
documentos, depois colocou um em cima do outro e voltou a olhar para mim.
— Chaves, algum objeto cortante, Sr. Castillo?
— Não.
— Arma de fogo?
— Não, só meu segurança que está portando uma, mas ele tem licença.
— Celular?
— Sim!
— Preciso que me entregue. — Afirmei com a cabeça, tirei o celular do
bolso de minha calça e entreguei a ele.
— Ok, pode entrar no portão á direita.
— Meus documentos?
— Assim como seu celular, serão entregues quando retornar.
— Va bene!
Caminhei em direção ao portão com Pietro logo atrás de mim, mas fomos
barrados pelo agente penitenciário antes mesmo de entrar.
— Perdono Sr. Castillo, mas só o senhor pode entrar.
— Por que isso? Pietro é meu segurança.
— Mas o nome dele não consta na lista. — Pensei em retrucar, mas logo
desisti, olhei para Pietro.
— Aguarde-me aqui, Pietro. — Ele ia reclamar, mas logo o cortei. —
Por favor, não irei me demorar.
— Va bene, senhor. — Ele respondeu relutante.
Entrei pelo portão e fui parar em outra sala, onde outro guarda de
segurança me aguardava. Ele mandou abrir os braços e as pernas e passou um
detector de metal por todo meu corpo.
— Aguarde nessa sala que o prisioneiro já está à caminho.
— Não preciso fazer revista intima?
— Não senhor. — Suspirei aliviado. Isso é muito humilhante, se tivesse,
eu faria, mas fico feliz em não precisar fazer.
Entrei na sala, esperei por alguns minutos, não sei ao certo quanto, sem
relógio e sem celular não tinha como saber.
— O magnata Andrew Castillo. — Ouvi Jonas dizer logo atrás de mim.
Virei e meus olhos se arregalaram de espanto. Jonas estava muito magro, todo
machucado, seu cabelo todo despenteado e sua pele muito pálida.
— Você está horrível. — Disse, ignorando seu tom irônico.
— É o que acontece quando se está na cadeia.
— Você só está preso ao quê? Dois meses? Deu tempo para ficar assim?
— Aponto para ele.
— A comida é horrível demais e alguns presos são terríveis. — Ele
disse parecendo cansado, seu tom irônico sendo substituído por um grande pesar.
— O que você quer Andrew? Veio se vangloriar?
— Não vim fazer nada disso, por favor, acomode-se. — Indiquei a
cadeira à frente da minha.
Um agente penitenciário estava logo atrás dele. Jonas caminhou e se
acomodou na cadeira. O agente tirou as algemas e já estava prendendo seus
pulsos na mesa, mas o interrompi.
— Não precisa disso. — Jonas olhou para mim surpreso com minha
intervenção. O agente olha para mim e depois para Jonas.
— Va bene, mas não banque o engraçadinho. — Jonas levantou as mãos
em rendição.
Assim que o agente se afastou, levando consigo as algemas e se
acomodando de pé em frente a porta de saída, Jonas recostou-se na cadeira,
alisando seus pulsos avermelhados. Ali só tinha uma mesa nos separando.
— Você ainda não me disse o que você quer, Andrew.
— Eu quero saber o porquê...
— O por quê? — Ele perguntou confuso.
— O porque você fez tudo isso.
— Você não sabe? — Ele sorriu sarcasticamente.
— Não sei Jonas, não sei por que você tentou me matar, ou por que me
odeia tanto. Daniele queria meu dinheiro e você?
— Seu pai e sua mãe acabaram com minha família, por causa deles, eu e
minha mãe ficamos na miséria. Seus pais acusaram meu pai de coisas horríveis e
em seu leito de morte, meu pai me fez prometer que me vingaria de vocês por
ele, pela honra de minha família. — O ódio dele poderia ser palpável.
Eu fiquei abismado, escutando as palavras dele.
— Isso é um absurdo, meus pais salvaram sua mãe, o que ela disse a
respeito disso?
— Minha mãe não me disse nada, acha que eu acreditaria? Ela é uma
dissimulada, aproveitadora, uma viciada. Nem sei como seu pai conseguiu casar
com ela.
Nem eu sei. Pensei.
— Deve ter sido por pena, só pode. — Ele completou parecendo
enojado.
— Você está enganado, seu pai te enganou...
— Limpe essa sua boca para falar de meu pai. — Ele se levantou
revoltado.
— Sente-se e se comporte ou eu vou colocar as algemas em você outra
vez. — O agente intervém ameaçando. Jonas senta-se, com raiva no olhar.
— Não estou ofendendo seu pai, Jonas, meu pai me contou toda a
verdade sobre o relacionamento de minha tia com ele. — Esperei ele pronunciar
alguma coisa, mas ele nada disse. — Sua mãe era violentada e humilhada
constantemente por seu pai. Em uma noite, seu pai chegou em casa embriagado e,
mais uma vez, agrediu e violentou sua mãe que estava grávida de você, a
machucando muito. De alguma forma, ela conseguiu pedir ajuda aos meus pais e
eles foram lá com a polícia. Sua mãe deu queixa de seu pai e ele foi preso. —
Fiz uma pausa e voltei a falar novamente. — Foi o seu pai quem levou vocês a
miséria, acabando com o dinheiro em bebidas, drogas e mulheres. Foi a partir
dessa época, que sua mãe começou a beber muito e a usar drogas, ela mudou
totalmente.
— Isso não pode ser verdade. — Jonas disse em um sussurro.
— Essa é a verdade, pergunte a sua mãe, ela vai dizer.
— Minha mãe morreu ano passado de overdose.
Saber aquilo me fez ver o quanto Jonas é desafortunado, viver uma
mentira, se vingar por uma mentira. Eu entendo, sua mãe era ausente, ele achou
que seu pai se importava com ele, para no final, descobrir que só estava sendo
usado.
— Sinto muito por sua mãe. — Disse contrito.
— Não mais do que eu. A negligenciei tanto, a odiei por muito tempo,
agora descubro que minha raiva é direcionada a pessoa errada.
— Eles são seus pais, independente dos erros que cometeram, como
filho, você precisa amá-los, respeitá-los e ajudá-los a seguir o caminho certo
quando eles se desviam, assim como eles fazem por nós. — Falei com
sinceridade, por que é o que eu faria se meu pai ainda vivesse. Eu pediria
perdão por tudo e acima de tudo, eu diria o quanto o amo. Sinto tanta saudade de
mio padre.
— Seu pai te deserdou e te excluiu da vida dele, tudo isso por orgulho e
você ainda o respeita? — Ele perguntou incrédulo. — Achei que você estivesse
magoado com ele.
— Eu também cometi erros ao qual se pudesse, consertaria, por orgulho
me afastei dele também. Estou magoado sim, mas isso não é nada, se eu pudesse
tê-lo de volta, eu queria ter dito o quanto o amo, que segui meus sonhos não foi
uma forma de afrontá-lo. — Limpei uma lágrima solitária que sempre caia
quando me lembrava de meu pai. Não me importei em chorar na frente de Jonas,
desde que conheci Cecile, que aprendi a não ligar para isso.
Agora que a ficha caiu. Eu já perdoei há muito tempo ao meu pai, Daniele
não passava de um borrão em minha vida. Eu amo Cecile, por que não admiti
logo isso a ela? Por que tenho tanta vergonha, ou será medo? Levantei-me às
pressas.
— Preciso ir Jonas, tenho algo muito importante para fazer.
Dizer a Cecil que a amo muito. Completo em pensamento.
— Não, espere. — Jonas disse e eu fiquei todo alarmado com seu tom.
Virei-me cauteloso para ele.
— Sim?
— Tenho algo para te dizer...
— O quê?
— É sobre seu pai.
— Sobre meu pai? O que tem ele? Não me diga que você o matou? —
Caminhei até ele com olhar de raiva.
— Espere Andrew, eu não o matei.
— O que foi então?
— É que... É que, bom...
— Fala Jonas. — Eu já estava preocupado.
— Seu pai não morreu.
— O que disse?
— Seu pai não morreu, eu fingi a morte dele, ele ainda está vivo. — Eu
não sabia explicar qual sentimento era mais predominante dentro de mim.
Dúvidas, esperança, alegria, cautela.
— Não brinque comigo, Jonas. — Repliquei áspero.
— Não estou brincando. Eu precisei fingir a morte dele, porque da
herança.
— Onde ele está? Eu quero vê-lo agora.
— Esse é o problema, dois dias antes de ser preso no México, recebi
uma ligação dizendo que seu pai havia sumido do asilo que eu o tinha colocado.
— Ele está perdido durante esses dois meses, sozinho, com fome?
Porque fez isso com ele, Jonas? — Meu coração estava cheio de raiva, medo de
perdê-lo mais uma vez.
— Sinto muito, eu ia procurar por ele, mas não tive como. Eu sei que fiz
tudo errado, não queria machucar seu pai, ou você...
— Você tentou me matar. — Acusei-o.
— Eu amo Daniele, ela acabou me convencendo a fazer isso...
— Daniele não ama ninguém, ela só faz usar as pessoas.
— Agora eu sei disso.
— Você acha que Daniele pode tê-lo o sequestrado?
— Não, ela não sabe sobre ele, nunca contei e sempre tomei cuidado
para ficar assim. — Achei que ele a amasse e confiasse nela, mas isso demonstra
que a confiança não era tanta assim.
— Eu vou procurá-lo. — Minha determinação sempre foi uma de minhas
qualidades.
— Comece pelo Asilo Nido Pietra Porzia.
— Va bene! — Viro-me novamente para sair.
— Andrew? — Jonas me chamou novamente.
— Sim?
— Espero que um dia você me perdoe.
— Eu não posso te responder isso agora, Jonas, a minha vontade é
quebrar a sua cara por tudo o que você causou ao meu pai e a mim, mas, eu não
farei isso, afinal, você também fez algo bom para mim. — Ele me olhou confuso.
— Você me apresentou a mulher que amo.
— Ah, sim, a gostosa. — Olhei para ele com raiva. — Quero dizer: a
brasileira.
— Sim, se não fosse por sua brincadeira de muito mau gosto, eu não a
teria conhecido.
— Ela me odeia!
— E com razão.
— Eu sei.
— Sabe Jonas, o homem que só segue suas emoções, acaba cometendo
muitos erros, talvez por isso me controlo tanto para não quebrar sua cara. Agora
realmente preciso ir...
— Você vai voltar? — Ele parecia esperançoso. Eu quis dizer não, mas
sabia que independente dos erros dele, ele ainda é parte de minha família.
— Sim, mas não posso por agora, vou procurar meu pai e tenho outras
coisas para resolver.
— Tudo bem, eu entendo. — Ele disse e voltou a se sentar. Acenei para
ele com a cabeça e saí daquela sala como se um grande peso fosse arrancado de
meus ombros.
Assim que saí do presídio, fui ao tal asilo, mas, eles não sabiam dizer
nada sobre o desaparecimento de meu pai, eu fiz um escândalo, ameacei
processá-los por sequestro e cárcere privado. O que eu pensei em fazer com
Jonas, mas acabei desistindo.
Pedi a Pietro para me ajudar nisso e depois Mathew também ajudaria.
Quando fui perceber, já estava bem atrasado para o noivado de Alissa e
Mathew.
Tinha que conversar com Cecil, como ela ia para festa, decidi conversar
com ela lá mesmo, mas, Valentina me pegou desprevenido quando estava saindo
da empresa, quando dei por mim, ela já me acompanhava. E foi a pior decisão de
minha vida.
Quando Cecile disse que eu não merecia seu amor e saiu do jardim,
parecia que eu tinha recebido uma facada no peito e um grande vazio se formou
em mim.
Eu quis correr atrás dela, só que eu pude perceber que mia bella merecia
algo melhor do que eu.
E durante esses meses, foquei em procurar meu pai, Leonel, deixei
Antônio protegendo-a, como não comuniquei a ela minha decisão, sei que vai ter
muita discussão.
Eu estava averiguando uma pista sobre o paradeiro de meu pai no
momento em que Antônio me ligou.
Na ocasião em que ele falou do estado que Cecil se encontrava, eu fiquei
com ódio de mim, prometi estar lá por ela e agora ela precisa de mim e eu não
estava.
Deixei Pietro cuidar de seguir a pista e mudei meu voo para o Brasil.
Cheguei faz uma hora, como o hospital que Lívia está é bem longe do
aeroporto, demorei muito para chegar.
Aproximei-me da recepção e uma jovem de estatura mediana, cabelos
pretos e olhar gentil, se encontrava.
— Boa noite. Estou procurando minha namorada, Cecile Viana, e sua
amiga Lívia Araújo.
Dessa vez eu estava sozinho, sem segurança, Mathew e Alissa, Mona,
Mattias e sua noiva chegam amanhã. Pietro está seguindo a pista e Antônio foi
ajudá-lo.
A recepcionista ainda me encarava, impaciente falei mais brusco do que
pretendia.
— Senhorita? Eu preciso de uma resposta, a senhorita vai poder me dar,
ou eu vou precisar chamar alguém que possa?
— É que... Bom, me perdoe senhor.
— Eu que peço perdão, a senhorita não tem nada haver com meus
problemas. — Ela balança a cabeça afirmando.
— Não estamos no horário de visitas, senhor.
— Eu sei, mas, a amiga de minha namorada está morrendo, cheguei de
viagem agora, vim me despedir dela e consolar minha namorada. — Não sei
porque fico dizendo que Cecil é minha namorada, sendo que nem sei se somos
amigos.
— Oh, sinto muito por isso estar acontecendo. — Ela me pareceu
sincera, então balancei a cabeça afirmando. — Um segundo. — Ela diz e digita
algo no computador. — Lívia Araújo se encontra no quarto trezentos e quinze,
segundo andar.
— Grazie. — Agradeço em italiano, fazendo a mulher corar.
Não sei por que as mulheres brasileiras coram perto de mim, será meu
sotaque?
Deixo a recepcionista ainda me encarando e caminho até o elevador.
Entro e aperto o botão do segundo andar. Ao chegar lá, me direciono ao quarto
trezentos e quinze. A porta está meio aberta, empurro e entro, encontro Cecil
chorando sobre o corpo de Lívia. Doeu-me muito vê-la assim.
— Mia bella? — Ela me encara com o olhar carregado de dor.
— Andrew? — Ela sussurra. Eu não sabia o que fazer, a não ser abrir
meus braços para ela. Ela corre e me abraça apertado.
— Estou aqui mia bella, estarei aqui por você sempre que você quiser.
— Eu disse com meu queixo apoiado em sua cabeça, encharcando seu cabelo
com minhas próprias lágrimas.
CAPÍTULO 41
Esse poema me lembra a minha história com Cecil e dos obstáculos que
causei não declarando o meu amor. Ficamos meses afastados por minha causa.
Sou realmente estúpido.
— Que lindo meu amor. — Cecil exclama bem baixinho. Sobressalto-me
com a voz de mia bella, mas logo em seguida abro um grande sorriso para ela.
— Gostou mesmo? — Ela afirma.
— Fica mais lindo ainda nesse seu sotaque maravilhoso. — Sorrio
constrangido para ela.
— Esse era o poema de William Shaskesppeare, preferido de minha
mãe, lembro que meu pai sempre declamava para mim quando me colocava para
dormir.
— Realmente é um poema lindo e você também, achei que não veria mais
esse sorriso maravilhoso, você tem um sorriso tão lindo, precisa sorrir mais,
magnata. — Ela sorrir, mas logo para com uma careta de dor.
— Tudo bem? Que pergunta idiota, claro que você não está bem. Sente
alguma dor? Vou chamar o médico.
— Andrew?
— Sim?
— Volte aqui, a dor não é muita, devem ter me entupido de mofina. —
Arregalo os olhos preocupados.
— Mofina? Será que é recomendável em seu estado?
— Meu estado? Eu tomei um tiro, claro que é recomendável. — Cocei o
queixo pensando em como contar a ela. Esqueci que ela não sabe que está
grávida. — O que foi Andrew? O que você não está me contando? Ai meu Deus,
eu não vou mais Andar? — Ela supunha assustada.
— Vire essa boca para lá, mia bella, não é nada disso.
— O que é então?
— É que... Como vou dizer isso?
— Oxe, dizendo.
Como se fosse fácil.
Nesses casos sempre acontece o contrário. Nunca me imaginei contando
a uma mulher que ela está grávida de mim.
— Eu fiquei preocupado de dar mofina a você, por que você está
grávida.
Pronto, falei.
— Estou o quê?
— Grávida!
— Eu entendi da primeira vez, Andrew.
— Você perguntou novamente.
Vai entender.
— Pergunta retórica. Como isso foi acontecer?
— Bom, da forma tradicional mia bella.
— Isso eu sei, Andrew. Ajude-me a sentar na cama, por favor.
— Acha uma boa ideia?
— Acho sim. Agora, por favor. — Com relutância, ajudei-a sentar-se.
— Formulei a pergunta errada, eu quis dizer: Quando aconteceu?
— Só pode ter sido em minha última visita ao Brasil. A noite toda
fazendo amor gostoso, não usei proteção, achei que você estava usando pílula
anticoncepcional.
— Coloca maravilhoso nisso. — Mia bella exclama com um sorriso
maroto. — Parei de usar pílula faz três meses, não tinha pensado em uma
possível gravidez.
— Nem eu. — Preocupei-me de ela não querer a gravidez. — Você não
quer a gravidez? — Exponho minha preocupação a ela. — Você não está feliz?
— Estou muito feliz, pode não parecer, mas, eu estou. E você?
— Estou feliz por demais mia bella. — Il mio cuore trabocca. — Eu
nunca me imaginei sendo pai, mas com você, já me imaginei pai, avô, bisavô. Já
me imaginei com um futuro diferente, e é melhor do que o futuro que imaginei
para mim.
— Você é tão lindo, fofo, gostoso.
— Assim vou ficar envergonhado, mia bella.
— Não vou parar coisa nenhuma. Por que não me diz aquilo novamente?
— O quê?
— Aquilo sobre eu aparecer no momento que você mais precisava.
— Nossa, você escutou. — Fiquei surpreso e emocionado ao mesmo
tempo.
Mia Cecil é tão apressada. Sorrio com esse pensamento.
— Sim, escutei tudo o que você disse e me doía não poder dizer o
mesmo.
— Eu amo você mia bella e não me vejo sem você, perdoe-me por ter
demorado tanto em admitir isso. Em pensar que tudo começou tão complicado,
me odeio até hoje por ter causado medo em você, se pudesse mudaria tudo isso.
— Eu também o amo, Andrew e, saber que você também me ama, me faz
sentir completa. Eu não mudaria nada, talvez se fosse diferente, nós não nos
conheceríamos e eu não me vejo sem você e nem poderia.
— Agradeço a Deus por ter me dado você...
— Não sabia que você era um homem religioso.
— E não sou bella, esses últimos dias me ensinaram a ser um homem de
fé e isso confortou meu coração.
— A fé faz isso e muito mais. Vem cá, me dá um beijo, meu amor.
— Achei que você não pediria.
— E preciso? — Ela pergunta sorrindo.
— Não, mas me deixa em uma expectativa tentadora. — Ela ia dizer
alguma coisa, mas, eu não deixei. Colei nossos lábios em uma dose de paixão e a
parti daquele momento, meu corpo não mais me obedecia. Não resisti ao nosso
desejo, ao nosso amor que o beijo transmitia, eu parecia estar nas nuvens. Não
conseguia conter a alegria de beijar a mulher que me fez conhecer o amor, e o
sentimento de me sentir amado. Minhas mãos pressionaram seus seios por cima
da camisola que ela vestia. Constatei seus seios endurecerem por baixo do
tecido e isso fez aumentar mais ainda meu desejo. Gemi em resposta. Minha boca
passou para seu pescoço, mordendo e chupando. Ela gemeu de prazer, para
depois gemer de dor. Foi então que voltei a mim.
— Perdoe-me mia bella, não quis te machucar.
— Não machucou meu amor, mas não poderemos passar dos beijos, ao
menos por enquanto.
— Vai ser uma tortura, mas, eu consigo resistir. — Confessei sério.
— Vai ser uma tortura para mim também, vou ter meu magnata gostoso o
tempo todo por perto e não poder avançar o sinal. Vai ser uma tortura. — Ela
completa, parecendo zangada, mesmo não gostando do apelido de magnata, eu
não posso deixar de sorrir. Mas de repente ela fica séria.
— O que foi?
— Você acha que vou ser uma boa mãe?
— Você vai ser a melhor mãe, Cecil, não há ninguém que te conheça e
não se apaixone por você, com nosso bebê não vai ser diferente.
— A tal da Daniele não se apaixonou.
— Ela não ama ninguém, se duvidar não ama nem ela mesma. Agora
esqueça essa mulher. Falar sobre nós é bem melhor. Quando vamos nos casar?
— Logo, assim que eu sair daqui vamos marcar a data, não quero perder
tempo.
— Nem eu, mia bela.
Recebo uma mensagem no celular e vejo que é meu pai Leonel.
— Quem é? — Ela pergunta receosa. A curiosidade vencendo a
vergonha.
— Meu pai. Você está preparada?
— Para quê?
— Estão todos aí fora querendo te ver, inclusive sua mãe.
— Estou sim, como está minha aparência?
— você está maravilhosa.
— Sei. — Ela entorta a boca.
— Para mim você está sempre linda, gostosa, maravilhosa, a mulher
perfeita para mim.
— Vem cá, me dá outro beijo.
— Acho melhor não bella. — Ela ri em resposta.
— Mande eles entrar então.
É o que eu faço. Eu me sinto tão feliz, parece que meu coração não cabe
dentro de mim. Estou me sentindo completo. Como se eu tivesse morrendo de
amor, mas ao mesmo tempo, me sentisse vivo. O amor me fez ver que nada é
pequeno. Quero que o mundo veja minha felicidade. Senti-me grato não parece o
suficiente. Hoje posso dizer que o amor me mudou por completo.
EPÍLOGO
FIM!
Table of Contents
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
EPÍLOGO