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NEUROPSIQUIATRIA GERIÁTRICA
Coordenação – Professor Jerson Laks
Ementa
As aulas abordam os aspectos mais importantes dos trans-
tornos psicológicos e do comportamento em doenças neurológicas e
psiquiátricas que mais afetam às pessoas idosas. Demência, depressão e
psicoses no idoso são síndromes causadas por várias possíveis etiologias,
que para reconhecimento exigem o conhecimento da semiologia e dos
métodos de exames complementares para o exercício dos procedimen-
tos de diagnóstico diferencial. Neste sentido, as aulas aqui resumidas são
fruto do trabalho de equipe que atua tanto no atendimento diário em
um serviço terciário de psiquiatria para idosos como também em pesqui-
sa, com uma série de publicações relevantes e participação em congres-
sos, aqui e no exterior.
Ementas
z Diagnóstico da Doença de Alzheimer – Valeska Marinho e Jerson
Laks
O diagnóstico precoce de demência e de comprometimento cognitivo
leve nem sempre é fácil e envolve uma ampla gama de exames e semiologia
específica. Apresenta-se nesta aula a racional clínica na avaliação das diversas
etiologias de demência, com ênfase na Doença de Alzheimer.
Jerson Laks
O tratamento farmacológico e não-farmacológico das demências,
em especial da Doença de Alzheimer, teve grande avanço nos últimos
anos. A aula destaca todas as formas modernas de cuidados e as perspec-
tivas de tratamento também dos transtornos de comportamento associa-
dos ao declínio cognitivo.
MÓDULO 13 299
AULA 1
DIAGNÓSTICO DA DOENÇA
DE ALZHEIMER
Valeska Marinho e Jerson Laks
de preço.
z Dificuldade de abstração – Controle de finanças, jogos, acompa-
nhar filmes.
z Perda de iniciativa – Abandono de passatempos e atividades so-
portamento inadequado.
z Mudança do humor – Explosões de raiva, crises de tristeza, hu-
mor deprimido.
z Função neurovegetativa – Aumento ou diminuição do sono, in-
MÓDULO 13 301
Exames complementares
A investigação não deve ser padronizada e sim planejada de acordo
com cada paciente. Um roteiro mínimo sugerido pode ser: neuroimagem
por tomografia ou ressonância magnética do crânio, TSH, dosagem de
vitamina B12.
Referências bibliográficas
AULA 2
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
EM IDOSOS
Valeska Marinho
Conceito
A ansiedade normal é uma emoção com função adaptativa
e funciona como um sistema de alerta para eventos nocivos ou perigo
iminente e, portanto, tem função de proteção e preservação. Consti-
tuem manifestações da ansiedade, a diarréia, tonteira, sudorese,
hipereflexia, hipertensão, palpitação, midríase, inquietude, síncope,
taquicardia, tremor, parestesia em extremidades, desconforto gástrico,
aumento na freqüência urinária.
A ansiedade patológica deve ser considerada quando os sintomas
de ansiedade são excessivos ou injustificados e, portanto, mal-adaptativos.
Envolve a presença de uma constelação de sintomas cognitivos, como
medo, preocupação; comportamentais, como inquietude, rituais de ar-
rumação; e fisiológicos, como palpitação, sudorese. Pode estar relacio-
nada com acontecimentos do dia a dia ou com fatos específicos, ter
aparecimento diário ou episódico, começar espontaneamente ou ser
desencadeada por eventos extremos de vida.
Epidemiologia
Sintomas ansiosos são bastante freqüentes em idosos e constituem
uma das desordens psiquiátricas mais comuns nesta faixa etária. O apa-
recimento destes sintomas pela primeira vez em idosos é raro, freqüen-
temente é a continuação em fases tardias da vida de desordens iniciadas
na idade adulta (Beekman et al., 1998; Forsell & Winblad, 1998; Ritchie
et al., 2004; Salzman, 2004).
ção excessiva quase todos os dias por seis meses ou mais; o sujeito tem
dificuldade em controlar a apreensão ou preocupação desencadeada e
relacionada com circunstâncias habituais da vida.
z Distúrbio do pânico – Ataques de pânico recorrentes e inespera-
Fatores de vulnerabilidade
Fatores de risco por ordem de grandeza: sexo feminino, menor
rede de apoio social, perda recente na família, doença física crônica,
níveis mais baixos de escolaridade, experiências de vida extremas.
Co-morbidade
Depressão; doenças físicas; demência – a ocorrência de ansiedade
junto com estas desordens pode agravar o prejuízo nas atividades de vida
diária e agravar a morbidade relacionada às doenças.
Estratégias terapêuticas
z Intervenções não-farmacológicas – Terapia cognitivo-compor-
e persistentes.
Benzodiazepínicos – Preferência por drogas de meia-vida curta;
preferência por substâncias metabolizadas por conjugação como o
lorazepam e oxazepam.
Buspirona – Agonista de receptor serotoninérgico 1A; farmaco-
cinética inalterada nos idosos; bem tolerada, não causa sedação e
lentificação psicomotora; pouca interação medicamentosa.
Antidepressivos – Vários antidepressivos mostraram ser eficazes no
tratamento dos transtornos de ansiedade. Os inibidores seletivos da
recaptação da serotonina (ISRSs) são considerados como primeira esco-
lha pelo melhor perfil de eventos adversos (Flint, 2005; Sadavoy & LeClair,
1997).
Referências bibliográficas
BEEKMAN, A. T. et al. Anxiety disorders in later life: a report from the Longitu-
dinal Aging Study Amsterdam. Int. J. Geriatr. Psychiatry, v. 13, n. 10, p. 717-726,
Oct. 1998.
FLINT, A. J. Generalised anxiety disorder in elderly patients: epidemiology,
diagnosis and treatment options. Drugs Aging, v. 22, n. 2, p. 101-114, 2005.
FORSELL, Y.; WINBLAD, B. Feelings of anxiety and associated variables in a very
elderly population. Int. J. Geriatr. Psychiatry, v. 13, n. 7, p. 454-458, Jul. 1998.
RITCHIE, K. et al. Prevalence of DSM-IV psychiatric disorder in the French elderly
population. Br. J. Psychiatry, v. 184, p. 147-152, Feb. 2004.
SADAVOY, J.; LECLAIR, J. K. Treatment of anxiety disorders in late life. Can. J.
Psychiatry, v. 42, Suppl. 1, p. 28S-34S, Jun. 1997.
SALZMAN, C. Late-life anxiety disorders. Psychopharmacol Bull., v. 38, n. 1, p. 25-30,
Winter 2004.
MÓDULO 13 307
AULA 3
TRANSTORNOS DEPRESSIVOS
EM IDOSOS
Cláudia Débora Silberman
Introdução
Depressão é uma das principais síndromes que acometem
indivíduos idosos. De etiologia multifatorial – fatores biológicos e
psicossociais são fundamentais no aparecimento desse quadro –, a de-
pressão pode não ser reconhecida como doença por familiares e mesmo
por profissionais de Saúde que lidam com idosos. O diagnóstico ade-
quado e precoce é de fundamental importância. Aproximadamente 40%
dos idosos que cometeram suicídio visitaram o médico na última semana
antes da sua morte e 70% no último mês (Conwell, 1994 e 1996).
A apresentação clínica tanto da depressão de início precoce como
de início tardio é semelhante. Assim, a anamnese cuidadosa com o pa-
ciente e seus familiares mais próximos se torna indispensável. A idade de
início da depressão é uma informação valiosa. O transtorno depressivo
teve seu início na idade adulta ou na avançada? Na depressão de início
na vida adulta parece haver um componente genético mais marcado na
etiologia da doença (Mendlewicz, 1976). Por outro lado, na depressão
de início tardio há mais doenças crônicas associadas, o que sugere que
doenças médicas apresentam um papel importante.
A interação entre doença física e depressão é complexa e
bidirecional. O comprometimento físico pode provocar depressão, a qual,
por sua vez, exacerba o grau de incapacidade associado ao comprome-
timento inicial (Prince e cols., 1998).
Estudos de neuroimagem
Tomografia computadorizada
Estudos de tomografia computadorizadas (TC) em pacientes de-
primidos revelaram maior atrofia cerebral (Jacoby e cols., 1983).
Tratamento farmacológico
z A escolha dos antidepressivos deve se basear na história de trata-
res 5-HT2.
z Inibidores seletivos da recaptação de noradrenalina.
Eletroconvulsoterapia – Indicações
z Necessidade de resposta terapêutica rápida.
z Refratariedade a antidepressivos.
z Intolerância a antidepressivos.
Contra-indicações
Não há contra-indicações absolutas de ECT, mesmo em pacientes
muito idosos. Deve-se ter cuidado nos casos de infarto do miocárdio
recente, acidente vascular cerebral, hipertensão grave e lesão expansiva
cerebral.
310 MÓDULO 13
Efeitos colaterais
Confusão mental, alterações mnêmicas, distúrbios cardiorrespira-
tórios e quedas são os principais efeitos colaterais.
Referências bibliográficas
AULA 4
PSICOSES TARDIAS
Ursula Maria Vega
Aspectos epidemiológicos
A prevalência da esquizofrenia em idosos varia entre 0,1%
e 1,7% (Krauss, 1989). Estima-se que a proporção de pacientes com
início da doença após os 40 anos seja de 23,5%. Inicialmente, a
esquizofrenia tardia foi descrita por Kraepelin com o conceito de para-
frenia tardia. Ele descreveu quatro tipos de parafrenia.
z Sistemática ou clássica – Com idéias delirantes de grandeza e
Fatores de risco
Vários fatores de risco têm sido associados aos quadros de
esquizofrenia tardia.
z Sexo
Déficits sensoriais
z
Diagnóstico diferencial
Segundo os critérios diagnósticos atuais (DSM IV), não há especificação
entre esquizofrenia de início precoce (EOS) ou esquizofrenia de início
tardio (LOS). Em relação aos sintomas positivos e à natureza crônica da
doença, as duas síndromes são semelhantes. Porém, encontram-se diferen-
ças em outros aspectos (Harris e cols., 1988; Jeste, 1995). Os pacientes com
quadro de LOS apresentam menos sintomas negativos com afeto embotado
MÓDULO 13 313
z Delirium.
cemia.
z Distúrbios endócrinos – Hipo e hipertireoidismo, Doença de
Cushing.
z Medicamentos – L-Dopa, corticóides, anticolinérgicos.
Achados radiológicos
Anormalidades estruturais como a redução volumétrica do lobo
temporal esquerdo (Howard e cols., 1995) ou giro temporal superior
(Pearlson e cols., 1993) são relatadas e também ocorrem nos pacientes
mais jovens.
Em um estudo de neuroimagem, a análise morfométrica das re-
giões cerebrais foi comparada em sujeitos idosos com esquizofrenia de
início precoce e de início tardio (Corey-Bloom e cols., 1995). Foram
avaliados 16 pacientes com esquizofrenia de início tardio, 14 pacientes
com esquizofrenia de início precoce e 28 sujeitos normais acima de 45
anos. Os pacientes com esquizofrenia de início tardio apresentaram
ventrículos maiores do que os sujeitos normais, o volume talâmico foi
significativamente maior do que nos pacientes esquizofrênicos de início
precoce.
Estudos de neuroimagem funcional demonstram regiões de
hipoperfusão nas áreas frontais e temporais (Miller e cols., 1992), área
314 MÓDULO 13
Referências bibliográficas
AULA 5
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
DAS DEMÊNCIAS
Valeska Marinho e Jerson Laks
Fases da doença
O tratamento farmacológico das síndromes demenciais
deve ser instituído e sua eficácia avaliada ao mesmo tempo em que se
consideram as diferentes fases do processo da doença – leve, moderada,
grave. A sintomatologia cognitiva de cada etapa pode ser descrita como
a seguir.
z Fase inicial – Perda da memória de curto prazo e da memória
Tratamento específico
Demências com déficit colinérgico: Doença de Alzheimer e de-
mência por corpos de Lewy.
Evidências de benefício em demência vascular.
alostérico nicotínico.
Memantina
z Antagonista de receptor NMDA; bloqueia estímulo patológico;
mg 2X ao dia.
Tempo de aumento de doses (sem) = 6.
z Donepezil – 5 mg 1X ao dia, aumentar para 10 mg 1X ao dia.
mg 2X ao dia
MÓDULO 13 317
perda de peso.
z Cardiovasculares: bradicardia, síncope.
vertigem.
z Diversos: aumento da micção, rinite.
Referências bibliográficas