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Para abordarmos a questão se '' máquinas podem pensar'' e seus desdobramentos em

relação a teoria do funcionalismo computacional, proponho uma breve revisão do que seria
possível extrair desta questão a partir do teste de Turing, no seu sentido frouxo, isso é, que
seria possível para uma máquina simular o pensamento humano e seria esse êxito
suficiente para considerar encerrada a questão, seguindo as consequências das possíveis
conclusões do teste. E a partir disso reconstruir o argumento do quarto chines de Searle
como objeção às conclusões estabelecidas pelo teste de Turing, e explicar o que lhe cabe
para que sejam satisfeitas as condições necessárias para validação da resposta e qual
seria o seu impacto para a discussão sejam expostas.
A teoria computacional da mente apoiada na máquina de Turing como modelo para pensar
nossos processos mentais, afirma justamente que nossos estados mentais poderiam ser
reduzidos a funções computacionais(funcionalismo computacional), em termos de entradas
e saídas, poderiam ser capturadas e organizadas em uma tabela de instrução que configura
uma máquina de turing. Mas será que todos os nossos pensamentos podem ser
compreendidos segundo essa ideia de computação, seria isso preponderante ao pensarmos
nossos estados mentais.
Para lançar luz a essa questão, se máquinas são capazes de simular o pensamento através
do comportamento, Turing propõe então um ajuste no enfoque da questão, ao colocar em
suspensão o entendimento que temos ao que se refere a pensar, justamente pela
imprecisão que temos do que seria isso propriamente. Turing propõe então o ''jogo da
imitação'' que ao seu ver é um modelo de questão menos equívoco, pois o objetivo do jogo
seria justamente identificar a partir da comunicação parcial e isolada, se a máquina é capaz
de enganar o julgamento de um indivíduo que pense de fato.
O jogo da imitação em sua proposta original possui três participantes, sendo eles A, B e C.
Onde C é o Interrogador, A é um homem e B é uma mulher, C então vai fazer perguntas
através de uma tela de computador onde X e Y em cômodos isolados entre si e também
separados do interrogador, que ao final do tempo estabelecido terá que descobrir através
das perguntas feitas no decorrer desse tempo se, X é B ou A, ou se Y é B ou A, faz parte do
objetivo do jogo que A engane o Interrogador ou faz parte do objetivo de B ajudar o
Interrogador.A ideia de Turing é o que acontecerá quando uma máquina toma o lugar de A
nesse jogo, irá o interrogador enganar-se com a mesma frequência como no caso do
Homem e da Mulher, essas perguntas poderiam indicar que ao cumprir com o condição de
passar-se por um ser humano seria respondida de forma afirmativa de que as máquinas
podem pensar, aqui Turing faz uma previsão em relação ao alcance do objetivo do jogo da
imitação: ''...''Creio que dentro de 50 anos será possível programar computadores, com uma
capacidade de memória em cerca de 10º fazê-los jogar o jogo da imitação tão bem que um
interrogador mediano não terá mais do que 70% de probabilidade de fazer a identificação
correta após 5 minutos de questionamento''...''(TURING, 1950, p.11).
A ideia que está sendo explorada é que para produzir um comportamento considerado por
nós como humano, exigiria em grande medida pensar de modo que produza similaridade
relativa aos processos de inferência (que será demonstrado nesse caso a partir das
perguntas feitas, e a credibilidade de suas respostas), especialmente nessa tarefa
desafiadora pensada por Turing, onde ocorre uma conversa e são expostas idéias , que é
bastante característico do pensamento como comunicamos-nós, isto é : consideramos que
quando exprimimos uma sentença o indivíduo que a recebe irá responder a partir de
parâmetros comuns de quem está perguntando, e a partir de um processo interno de
concatenação de informações exprimir uma sequência lógica e inteligível em termos
humanos o que se pergunta. Mas veremos que apesar de todos esforços a pergunta de
Turing ainda permanece sem resposta conclusiva.
A partir disso pode ser feito o seguinte questionamento, ''será que o teste de Turing é bom
para esclarecer essa questão'', seria ele suficiente ou mesmo necessário para a validação
do pensamento, ou ambos. Se considerarmos a complexidade do jogo da imitação, isto é, o
intuito de enganar o interrogador através do diálogo, através da exposição do
''pensamento'', poderíamos dizer que tal exigência é bastante alta considerando por
exemplo: animais que são capazes de exibir inteligência, por exemplo, quando um cão
recusa-se a sair para passear com o dono ele está exprimindo uma resposta coerente com
a pergunta, mas que não a expressam discursivamente em termos comuns ao dono.
Agora devemos examinar se o teste de Turing configura argumento suficiente para
sustentar o ajuste feito na questão, tomemos o exemplo do experimento de pensamento de
ned block, o blockhead, imaginemos uma máquina projetada da seguinte maneira: um
indivíduo é acompanhado desde o início até o fim de sua vida, e monta-se uma estrutura de
dados polarizada, que para cada interação que o indivíduo teve com o mundo, para cada
input, foi registrado também a sua reação de saída, o seu output, e a partir de todas as suas
respostas cria-se também essa estrutura complexa de dados que irá responder, às
questões do teste de Turing apenas selecionando os dados que foram inseridos nela e
dando a resposta adequada, e de forma indistinguível, e assim passando no teste, mas que
apesar disso não parece suficiente para o pensamento. A lógica do experimento de
pensamento de Ned Block coloca uma pressão sobre o entendimento da máquina de Turing
sendo suficiente para o pensamento, pode ser dito de maneira geral que quando um
programador está configurando uma máquina às vezes ele não está tão preocupado em
fazer uma maquinaria que seja minimamente semelhante ao modo que resolvemos
problemas ou que pensamos, sua intenção é que o comportamento parece inteligente e não
que o processo por trás disso. Em algum momento irá se conseguir uma máquina que
passe no teste de Turing, mas por que seu funcionamento está explorando, certos artifícios
da articulação linguística, não porque a máquina estaria dominando os processos
gramaticais, o pensamento e o raciocínio tanto quanto nós os definimos, o teste acaba
então privilegiando o efeito como o experimento Blockhead está explicitando.
O experimento coloca limitações no teste Turing, e o questiona como sendo suficiente para
esclarecer a pergunta '' máquinas pensam'' mas no entanto isso não destitui o interesse no
teste, embora o teste não seja nem necessário nem suficiente para responder tal pergunta,
talvez ele seja um indício razoável de onde podemos localizar o pensamento,
principalmente se isso for feito em paralelo com preocupações, não se simplesmente
construir uma máquina que possa conseguir enganar o interrogador humano com um
comportamento externo, mas também, com interesse aos modos em que se executam
esses comportamentos, ou seja, os seus processos, de maneira que essa máquina não
está projetada apenas para parecer pensante em suas manifestações inferenciais, mas que
a maneira que seus processos estão configurados corresponde ao conhecimentos que se
tem das teorias que até então explicam o do funcionamento da mente, quando isso ocorrer
então pode se ter uma maior proximidade com as condições para se responder a questão; o
teste então pode ser considerado um indício mas que sozinho não é capaz de fornecer a
resposta.

Trata-se de um experimento de pensamento que vai tentar extrair conclusões a partir dessa
situação possível, que a seguinte: Um indivíduo encontra-se sozinho em um quarto, que
não sabendo nada de chines é instruindo a partir de um conjunto de regras a fazer uma
série de operações sobre inscrições do chines, podendo até assumir que o indivíduo nem
sabe que se trata de inscrições do chines, não sendo necessário que ele saiba nada além
do conjunto de regras. E dado a esse conjunto de regras o indivíduo consegue ao seguir as
instruções traduzir esse conjunto de símbolos, o indivíduo que está operando essas
traduções irá receber por uma entrada através de uma caixinha, uma série de inscrições em
uma sequência de símbolos, e após identificar a entrada dos símbolos e quais são as
operações listadas nas regras da transformação, terá executá-las corretamente e
devolvê-las a saída os símbolos que seriam a transcrição da transformação que foi feita
sobre os símbolos de entrada, basicamente ao receber os símbolos XYZ listados nas regras
como correspondientes a ABC, o operador terá que devolver ABC a saída, que é uma
relação muito próxima daquilo que uma máquina de Turing parece fazer.

Searle irá exemplificar da seguinte forma, imagine que essa sala se encontra dentro de
Pequim para que funcione como um terminal, dando a informação para que as pessoas
encontrem a localização de ruas, de instituições, etc. Através da tabela o indivíduo irá
operar baseado no conjunto de regras que constam na tabela de transformação, e vai
responder de acordo, para quem está de fora parece que o autor das respostas demonstra
algum entendimento das perguntas pela assertividade que são dadas, por essa coerência
parece que compreende, mas como foi visto na exposição do experimento do quarto chines
o indivíduo não possui conhecimento algum do que está sendo perguntado, e justamente
por isso é como se fosse a máquina de Turing ou computador que está operando o conjunto
de regras mas que não manifestam compreensão alguma daquilo que está sendo feito''...'O
objetivo do experimento de pensamento é este: se eu não entendo chinês apenas
executando um programa de computador para entender chinês, então esse também é o
caso de qualquer computador digital que execute o mesmo programa. Computadores
digitais somente manipulam símbolos formais de acordo com regras no programa.
O que vale para o chinês também vale para outras formas de cognição''...''(SEARLE, 1990,
pq.234).

Então maquina que estão operando só sobre símbolos, não têm a capacidade de pensar
sobre aquilo que é referido aos símbolos que estão manipulando

O que o argumento de Searle parece estar tentando resgatar, é que computadores não
representam, não pensam. Novamente isso coloca um problema no teste de Turing que
que em última instância pode ser visto como necessário mas não como sendo suficiente
para a conclusão do pensamento. O que se pode concluir a partir disso é que
primeiramente os algoritmos são meramente formais, ou seja, sua função é sintática que
opera apenas sobre símbolos que não contém nenhum significado, reconhece símbolos e
executa as operações programadas a partir desses símbolos. No entanto o que se pode
dizer que a mente humana tem de diferente das máquinas de turing é que a mente humana
opera sobre conteúdos mentais, que trafegam no nível semântico em que símbolos com os
quais nós operamos se referem a alguma coisa, sendo essa reflexão de conteúdo a
concepção característica que temos do funcionamento da mente humana. Com isso se
pode distinguir o nível da sintaxe do nível da semântica, sendo a sintaxe por si mesma não
sendo suficiente para a semântica, dada a essas suposições pode se aferir que programas
algoritmos não são nem constitutivos nem suficientes para a mente, e é isso o que está
mostrando o indivíduo que está operando as regras cegamente, que age em conformidade
com as regras mas que não compreende que são regras que manipulam a língua chinesa
que permite a transformação das inferências, da mesma maneira que uma calculadora não
compreende as operações matemáticas e que executa apenas no nível sintático, faltando a
ela pensar a respeito dessas operações.

Há uma série de respostas que podem ser apresentadas a esse argumento( quarto chines),
e que permitem situar o alcance dessa objeção que coloca alguma dificuldade pelo menos a
abrangência do programa do cognitivismo clássico, ou pelo menos da tese do
computacionalismo, ele sozinho talvez não seja suficiente para dar conta do problema do
pensamento, como a Turing sozinha não é suficiente para emular o pensamento inteligente.
Uma dessas respostas vai dizer que o indivíduo não entende chines, mas o sistema como
um todo, o indivíduo e a sala agindo como um sistema unificado entende chines, embora o
indivíduo dentro da sala isoladamente não entenda, o todo entende. Searle vai rejeitar a
ideia, pois a distinção entre sintaxe e semântica ainda persiste, e não fica explicado como
esse sistema como um todo é capaz de ter pensamento acerca daquilo que é referido na
língua chinesa sobre os símbolos que estão sendo manipulados.

Isso nos leva a pensar que o computacionalismo não é suficiente para o pensamento e que
é necessária também a noção de representação. Aqui podemos retornar as considerações
sobre o teste de Turing e começar a imaginar o que seria necessário para a máquina de
Turing para que ela pudesse se aproximar mais do comportamento inteligente, não só no
sentido de imitá-lo, mas de possuir os processos que produzem um comportamento que
pode ser dito inteligente. Se entendermos o sistema do quarto chines apresentado como um
todo e interagindo com os indivíduos de fora, e talvez tendo a possibilidade de aprender
novas inscrições e impressões a partir dessa interação, se em sua totalidade o sistema tem
essa capacidade e se entre suas regras estão também regras de aprendizagem, assim
como nós humanos, que possuímos um aprendizado estruturado, então ficaria cada vez
mais difícil dizer que esse sistema não entende chines.

Digamos que embutida no sistema como um todo está uma câmera, por onde o indivíduo
consegue identificar o objeto a que se refere a inferência, por exemplo o agente externo que
está interagindo com o sistema insere o comando para que seja identificada a palavra mesa
e em seguida com o auxílio da câmera ele aponta para uma mesa localizada no ambiente,
se o sistema possui regras que permitem incorporar essa nova sentença e associá-la a
imagem que está vindo de fora, então seria possível considerar que esse sistema como um
todo é plenamente capaz de aprender novas expressões, e talvez através das interações
causais que tem com o ambiente e com o agente, estando perceptivelmente dotada com
um mecanismo que permita que ela conheça o seu entorno e com o agente que estará
inserindo novas sentenças e focalizando as relações estabelecidas com o ambiente, esse
sistema como um todo começa a adquirir a capacidade de pensar nas coisas ao seu redor
através desses símbolos que ele manipula. Essa concepção exige compreender que
apenas sintaxe não é suficiente, é preciso imaginar de que forma essa máquina poderia
através de suas interações com o ambiente adquirir a capacidade de referir-se às coisas
que estão no mundo ou pensar sobre as coisas que estão no mundo.

Isso nos leva a concluir que o modo que Turing idealizou o seu teste, baseando-se somente
no jogo de perguntas e respostas, sem qualquer interação com o ambiente, talvez seja dada
razão para Searle no ponto de que não há a possibilidade do pensamento, quando muito
algo que apenas simula o pensamento, mas se imagina essa máquina com a capacidade
interativa, isto é, dotada de sentidos que a possibilitem interagir com o seu externo de
alguma maneira, poderia dar ensejo ao pensamento de que essa outra máquina com esses
equipamentos seja capaz de exibir o pensamento.

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