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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ

SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA, brasileiro, casado, escritor e advogado inscrito na


OAB/RS 33333, inscrito no CPF sob o n. 1111111-11, portador do RG nº 000000, endereço
eletrônico serginhoroots@abl.com.br, residente e domiciliado à Rua dos Cataventos, 10,
Porto Alegre, RS, vem pessoalmente, em causa própria, e respeitosamente perante Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 319 e seguintes do Código de Processo Civil, ajuizar a
presente

AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS EXTRAPATRIMONIAIS CUMULADA COM PEDIDO DE


OBRIGAÇÃO DE NÃO-FAZER
Com Pedido de Tutela de Urgência Antecipada Incidental

em face de SEBASTIÃO SALGADO, brasileiro, casado, fotógrafo, inscrito no CPF sob nº


000.000.000-00, portador do RG nº 333333, endereço eletrônico
clickflash@gmail.com, residente e domiciliado à Rua das Hortênsias, 3, Gramado, RS, pelos
fatos e fundamentos a seguir delineados.

I. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O requerente postula a concessão da gratuidade da justiça com base nos artigos 98 e


seguintes, CPC e Lei 1.060/50, tendo em vista que, apesar de renomado escritor e
sociólogo premiado, o demandante não percebe renda de maneira regular e periódica,
sendo que sua atividade, por não constituir relação de emprego com qualquer empregador
(o autor é profissional liberal), muito embora tenha revertido em considerável patrimônio
ao autor, não lhe traz renda fixa.
Sendo assim, entende o demandante fazer jus ao benefício da gratuidade da justiça, já
que não possui orçamento estável ou previsível em sua atividade profissional. Requer,
portanto, seja dispensado das custas judiciais e das verbas sucumbenciais no presente
feito.

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II. DOS FATOS

O autor é escritor de diversas obras, sendo renomado escritor e sociólogo no cenário


científico brasileiro. Fato notório que publicou a obra denominada “Raízes do Brasil”, onde
relata e analisa as condições culturais brasileiras. O livro é obra conhecida
internacionalmente, sendo implausível que o demandado defenda não conhece-la
detalhadamente.
O réu é fotógrafo também renomado e conhecido internacionalmente, sendo que suas
obras são divulgadas nacional e internacionalmente. Recentemente, o réu publicou e
divulgou conjunto de fotografias de sua autoria, tendo a exposição sido denominada
“Raízes do Brasil”, título da principal obra do demandante. A exposição retrata fotografias
que ilustram exatamente os mesmos períodos históricos descritos no livro do
demandante, praticamente fazendo um relato contado do livro em imagens.
Entretanto, apesar de ter-se utilizado francamente do título, ideia e estrutura da obra
do demandante, não buscou qualquer tipo de autorização quanto ao uso da mesma, muito
menos precaveu-se de qualquer forma para que não praticasse o evidente ato de plágio.
Ainda que as áreas de artes sejam diversas, o plágio é inegável e identificável. O fato
traz prejuízos extrapatrimoniais ao autor, tendo em vista que a associação da exposição de
fotos com a produção de sua propriedade é inevitável, sendo que o demandante não
busca, nem nunca buscou, associação de sua obra com esta forma de expressão de arte ou
com o artista demandado.
Saliente-se que a exposição teve início e segue sendo publicizada, atualmente estando
exibida no Museu de Gramado, RS, onde o demandado reside. Com base nos fundamentos
fáticos ora expostos e jurídicos abaixo desenvolvidos, há de ser determinada quantia
indenizatória em favor do autor, além de deferida a tutela provisória para suspensão da
exibição das fotos, havendo de ser confirmada ao final do feito como obrigação de não-
fazer por parte do réu.

III. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS (DO DIREITO)

De acordo com o art. 186, CC, configurada a prática de ato ilícito, deve o autor do ato
indenizar aquele que restou prejudicado. O artigo 927, CC, por sua vez, determina que o
autor do ilícito deve indenizar a vítima na extensão dos danos causados.
Especificamente em relação à ofensa aos autores de produções artísticas por conta de
prática de plágio e assemelhados, a Lei 9.610/98 tutela os direitos autorais. Nela, entre
outros dispositivos que protegem o autor de obras intelectuais, temos o art. 24, que
elenca:

Art. 24. São direitos morais do autor:


I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra;
II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou
anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra;
III - o de conservar a obra inédita;
IV - o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer
modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam
prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra;
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V - o de modificar a obra, antes ou depois de utilizada;
VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de
utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem
afronta à sua reputação e imagem;
VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre
legitimamente em poder de outrem, para o fim de, por meio de processo
fotográfico ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de
forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em
todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja
causado.

Independentemente do conteúdo e sentido da exposição de fotos veiculada pelo réu,


a verdade é que sua obra foi inspirada e criada com base na obra do autor da presente
demanda sem a devida autorização do mesmo. A imagem do autor, enquanto literato, foi
manipulada e deformada a partir da publicação da obra do réu, o que configura, sim, abalo
à sua esfera extrapatrimonial.
A hipótese se enquadra perfeitamente nos termos da proteção legal mencionada
acima, devendo o autor da demanda ser indenizado nos danos extrapatrimoniais gerados
pelo demandado, que vinculou sua obra indevidamente à produção do demandante.
Além disso, deve-se suspender a manutenção da prática do ilícito, qual seja a
exibição das fotos, com base em obrigação de não fazer, nos termos dos artigos 497 e
seguintes, CPC:

Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não
fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou
determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir
a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção,
é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de
culpa ou dolo.
Art. 498. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao
conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da
obrigação.
Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo
gênero e pela quantidade, o autor individualizá-la-á na petição inicial, se
lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará
individualizada, no prazo fixado pelo juiz.
Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o
autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente.
Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da
multa fixada periodicamente para compelir o réu ao cumprimento
específico da obrigação.
Art. 501. Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de
vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada
em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida.
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Na jurisprudência, cita-se o seguinte precedente:

DIREITO AUTORAL. CONTRAFAÇÃO E PLÁGIO. PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA


EXTRAÍDA DE LIVRO SEM INDICAÇÃO DE FONTE E AUTORIZAÇÃO DO
AUTOR ORIGINÁRIO. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL E
PATRIMONIAL. PROCESSUAL CIVIL. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NÃO
CARACTERIZADA. VERBA HONORÁRIA. MAJORAÇÃO. Não caracteriza
litigância de má-fé o manejo dos meios processuais cabíveis para a parte
ver prevalecer sua tese. Constatada a violação do direito de
propriedade intelectual do Autor, previsto no art. 22 e 28 da lei
9.610/98, a conseqüência é o dever de indenizar moral e
patrimonialmente daquele que causou o dano, e, ainda a divulgação da
identidade do autor, nos termos do arts. 103, 108 e inciso II, da referida
lei. É justo e condizente com a dignidade do advogado e da própria
categoria a que pertence fixar os honorários advocatícios em 20% sobre
o valor atualizado das indenizações, nos termos do art. 21 do CPC,
parágrafo único do CPC, no caso concreto. APELO DO AUTOR
PARCIALMENTE PROVIDO E APELO DOS RÉUS DESPROVIDO. VENCIDA A
REVISORA NO QUANTUM FIXADO. (Apelação Cível Nº 70021330253,
Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dorval
Bráulio Marques, Julgado em 06/12/2007)

Demonstrados os fundamentos jurídicos vinculados à causa de pedir exposta, passa-


se ao derradeiro pedido de tutela provisória, ante a urgência do autor em ver
imediatamente cumprida a obrigação de não fazer.

IV. DO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Os artigos 300 a 302, CPC, dispõem sobre o pedido de tutela de urgência.


Especificamente no caso em questão, trata-se de tutela antecipada, tendo em vista a
necessidade de imposição in limine, ou seja, antes mesmo da citação do réu (inaudita
altera pars), do cumprimento de obrigação de não fazer pelo réu. Deve o demandado
suspender a exposição de fotos, deixando de expô-la em outros locais previstos para os
próximos meses.
A “probabilidade do direito” e o “perigo de dano”, elementos previstos no art. 300,
CPC, como essenciais à concessão da tutela provisória de urgência, estão presentes no
caso em comento: a obra publicada por Sérgio Buarque de Holanda é de sua inegável
autoria e repercussão conhecida. O conteúdo da obra literária é também de conhecimento
notório, sendo que um exemplar é acostado aos autos, na íntegra. Daí que a divulgação
posterior de outra produção intelectual claramente inspirada e em referência à obra
“Raízes do Brasil” dão suporte suficiente à verossimilhança (probabilidade do direito) dos
fatos trazidos pelo demandante no sentido de que a segunda obra certamente configurou
prática de plágio e mácula à produção literária do autor da ação.
Já quanto ao perigo de dano, sabe-se que a reação e efeito da exposição de uma
obra intelectual são imediatos, sendo praticamente vazia a concessão da obrigação de não
fazer (suspensão das exibições das fotos) somente quando da prolação da sentença, após
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longo tempo em que se desenrolaram as fases postulatória, saneadora, instrutória e
decisória. Deve ser, portanto, antecipado o efeito da tutela final para obrigação de não-
fazer imediatamente, evitando a geração do dano imediato ao autor da demanda com a
maculação da sua obra e reputação intelectual.
Atualmente, o réu expõe suas fotos na cidade de Gramado, no Museu Municipal sito
à rua do Caracol, 20, devendo o local e o réu serem notificados para que suspendam a
exibição da obra sob pena de multa diária em quantia a ser fixada por Vossa Excelência,
nos termos dos artigos 497 e seguintes, CPC.

V. DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer a Vossa Excelência:


a) o deferimento dos benefícios da justiça gratuita, nos termos do art. 98 e seguintes
do CPC/2015;
b) liminarmente, a concessão do pedido de tutela provisória de urgência com caráter
antecipado incidental, com o fim de determinar ao réu que se abstenha de prosseguir com
a exposição das fotos na exibição “Raízes do Brasil”, expedindo-se intimação pessoal ao
mesmo no endereço contido na sua qualificação e ofício ao Museu Municipal de Gramado,
RS, no endereço rua do Caracol, 20, Gramado, RS, sob pena de multa diária a ser fixada em
quantia arbitrada por Vossa Excelência;
c) A citação do réu para que, querendo, responda à presente ação sob pena de revelia;
d) ao final, seja dado provimento a presente ação, no intuito de condenar o réu ao
pagamento de indenização por danos extrapatrimoniais ao autor, em quantia a ser
arbitrada por Vossa Excelência, bem como confirmada a obrigação de não-fazer, abstendo-
se o réu definitivamente a realizar a exibição das fotos atinentes à exposição “Raízes do
Brasil”; NECESSIDADE DE ATRIBUIR VALOR AO PEDIDO DE DANO EXTRAPATRIMONIAL (ART. 292, V, CPC)

e) seja o réu condenado ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios;


AUSENTES OS PEDIDOS DE: PROVAS A SEREM PRODUZIDAS E INTERESSE NA AUDIÊNCIA DE MEDIAÇÃO (319, VI E VII, CPC)

VALOR DA CAUSA?
Termos em que pede deferimento.

Porto Alegre, 15 de fevereiro de 2021

Sérgio Buarque de Holanda


SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
OAB/RS 33333

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