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PM-PR

Soldado de 2ª Classe

1. População e estruturação socioespacial em múltiplas escalas (Paraná, Brasil, Mundo).


1.1. Teorias e conceitos básicos em demografia e políticas demográficas. 1.2. Estrutura
demográfica, distribuição da população e novos arranjos familiares. Movimentos, redes de
migração e impactos econômicos, culturais e sociais dos deslocamentos populacionais.
População, meio ambiente e riscos ambientais ........................................................................ 1
1.3. Transformação das relações de trabalho e economia informal. 1.4. Diversidade étnica e
cultural da população. 1.5. Geografias das diferenças: questões de gênero, sexualidade e
étnico-raciais. 1.6. Espacialidades e identidades territoriais ................................................... 27
2. Estrutura produtiva, economia e regionalização do espaço em múltiplas escalas (Paraná,
Brasil, Mundo). 2.1. O espaço geográfico na formação econômica capitalista. 2.2. Exploração
e uso de recursos naturais. 2.3. Estrutura e dinâmica agrárias. 2.4. Industrialização, complexos
industriais, concentração e desconcentração das atividades industriais. 2.5. Espacialidade do
setor terciário: comércio, sistema financeiro. 2.6. Redes de transporte, energia e
telecomunicações. 2.7. Processos de urbanização, produção, planejamento e estruturação do
espaço urbano e metropolitano. 2.8. As relações rurais-urbanas, novas ruralidades e
problemáticas socioambientais no campo e na cidade. 2.9. Evolução da estrutura fundiária,
estrangeirização de terras, reforma agrária e movimentos sociais no campo. 2.10. Agronegócio:
dinâmica produtiva, econômica e regional .............................................................................. 54
2.11. Povos e comunidades tradicionais e conflitos por terra e território no Brasil. 2.12.
Produção e comercialização de alimentos, segurança, soberania alimentar e agroecologia. 3.
Formação, estrutura e organização política do Brasil e do mundo contemporâneo. 3.1.
Produção histórica e contemporânea do território no Brasil .................................................. 129
3.2. Federalismo, federação e divisão territorial no Brasil. 3.3. Formação e problemática
contemporânea das fronteiras. 3.4. Conflitos geopolíticos emergentes: ambientais, sociais,
religiosos e econômicos ....................................................................................................... 155
3.5. Ordem mundial e territórios supranacionais: blocos e fluxos econômicos e políticos,
alianças militares e movimentos sociais internacionais. 3.6. Regionalização e a organização do
novo sistema mundial. 3.7. Globalização: características, impactos negativos e positivos ... 203
4. A representação do espaço terrestre. 4.1. A evolução das representações cartográficas e
a introdução das novas tecnologias para o mapeamento, através do sensoriamento remoto
(fotografias aéreas e imagens de satélite) e dos Sistemas de Posicionamento Terrestre (GPS).
4.2. As formas básicas de representação do espaço terrestre e das distribuições dos fenômenos
geográficos (mapas, cartas, plantas e cartogramas). 4.3. Escalas, reconhecimento e cálculo.
4.4. Sistema de coordenadas geográficas e a orientação no espaço terrestre. 4.5. Projeções
cartográficas. 4.6. Identificação dos principais elementos de uma representação cartográfica,
leitura e interpretação de tabelas, gráficos, perfis, plantas, cartas, mapas e cartogramas .... 258

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1. População e estruturação socioespacial em múltiplas escalas (Paraná, Brasil,
Mundo). 1.1. Teorias e conceitos básicos em demografia e políticas
demográficas. 1.2. Estrutura demográfica, distribuição da população e novos
arranjos familiares. Movimentos, redes de migração e impactos econômicos,
culturais e sociais dos deslocamentos populacionais. População, meio ambiente
e riscos ambientais

MUDANÇA NO PERFIL DEMOGRÁFICO E JANELA DEMOGRÁFICA1

A Transição Demográfica é um processo natural que recai sobre todas as regiões do mundo, ainda
que sua extensão e velocidade sejam variadas. Em geral, o envelhecimento populacional é um processo
conhecido nos países desenvolvidos, mas relativamente novo nos países em desenvolvimento.
Até a década de 1960, a população brasileira apresentava uma distribuição etária praticamente
constante, de perfil extremamente jovem.
Já no final da década, houve um rápido declínio da fecundidade, de 6,28 filhos por mulher em 1960
para 1,87 em 2010, com projeção de 1,59 para o ano de 2015 (IBGE, 2013).
Com isso, espera-se uma nova distribuição na estrutura etária do País, onde os jovens diminuirão sua
parcela na população de 42% em 1950 para 18% em 2050, enquanto que os idosos, no mesmo período,
aumentarão sua participação de 2,4% para 19%.
Este novo perfil da demografia brasileira implica um novo ambiente econômico e institucional para a
sociedade, em que ocorrerão novas demandas e preocupações socioeconômicas. Em um primeiro
momento, a queda da fecundidade faz com que ocorra um aumento da população em idade ativa (PIA)
em decorrência da queda contínua da população dependente. Com isso, abre-se uma possibilidade de
crescimento da renda, que é denominado de Bônus Demográfico (ou Primeiro Dividendo Demográfico).
Em um segundo momento, associam-se vários desafios econômicos ante ao crescimento acelerado
da proporção de idosos na população. Entre eles, destacam-se as dificuldades quanto ao financiamento
da seguridade social e dos gastos com saúde pública.
Ressalta-se também que as dificuldades na formação de capital físico e humano em uma sociedade
envelhecida são maiores, uma vez que as pessoas tendem a poupar enquanto trabalham e a despoupar
quando idosas, mantendo o padrão de consumo estável.
Apesar das dificuldades apresentadas, acredita-se que é possível mudar o quadro e ter um Segundo
Dividendo Demográfico. Para isso, faz-se necessário ampliar o capital físico e humano, de maneira a
elevar a produtividade e a capacidade de amparo financeiro. O autor destaca ainda que esse momento
exige empenho dos governos, especialmente em formar instituições que possam transformar estas
possibilidades em reais vantagens econômicas e sociais.
A pesquisa tem como objetivo avaliar as mudanças demográficas ocorridas no Brasil e identificar
algumas oportunidades e desafios para o governo e a sociedade. Tendo como objeto de análise um país
em desenvolvimento, o estudo ganha mais relevância, uma vez que existem diversos entraves na gestão
e na qualidade dos serviços públicos disponibilizados, além da dificuldade macroeconômica na formação
de capital.
Portanto, ter a compreensão da influência demográfica sobre a economia é um passo importante para
visualizar as possibilidades e necessidades deste novo percurso.

Aspectos Teóricos e Metodológicos

O Referencial Teórico
Na história mundial, pode-se afirmar que houve pelo menos três grandes regimes populacionais: o
Regime Malthusiano, o Pós-Malthusiano e o Regime de Crescimento Moderno. O primeiro deles sustenta
que a dinâmica de crescimento da população está relacionada a mudanças restritivas e qualitativas no
comportamento das famílias, as quais são determinadas pelo ambiente econômico (produção de
alimentos).
O elemento principal que separa o Regime Malthusiano do Pós-Malthusiano é a aceleração do
progresso tecnológico, e a passagem do regime de crescimento Pós-Malthusiano para o Moderno é a
Transição Demográfica. O Regime de Crescimento Moderno se caracteriza por um rápido crescimento
da renda per capita, devido às inúmeras inovações tecnológicas e aumento do capital humano.

1
REICHERT, Henrique; e MARION FILHO, Pascoal José. O Brasil no bônus demográfico: uma janela de oportunidades e desafios. Rev. Econ. NE, Fortaleza, v.
46, n. 3, p. 171-184, jul. - set., 2015.

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A Transição Demográfica no Regime de Crescimento Moderno resultou da redução nas taxas de
mortalidade e fecundidade, o que gera um envelhecimento da população.
Pode-se definir o envelhecimento populacional como um processo dinâmico. A parcela de jovens na
população depende do número de indivíduos em idade fértil e dos níveis de fecundidade existentes. Já
as taxas de mortalidade determinam a proporção das pessoas que sobrevivem até o grupo de idosos.
Como as taxas de fecundidade e mortalidade estão em declínio, diminui a proporção de jovens
concomitantemente com o aumento do grupo de idosos.
Do ponto de vista econômico, entende-se que jovens e idosos não contribuem produtivamente, embora
mantenham certo padrão de consumo. Esse fato faz com que se mantenha um excedente de renda nas
faixas etárias produtivas, de modo que se consiga abastecer os demais grupos. Ainda que cada
população possa apresentar distintos comportamentos financeiros, tem-se normalmente um padrão de
consumo constante durante toda a vida, que é sustentado por um rendimento do trabalho que se
sobressai apenas no período produtivo.
Para determinar a proporção da população que não contribui produtivamente em relação à população
em idade ativa, utiliza-se a Taxa de Dependência.
Este indicador é o resultado do quociente entre a população dependente, que é igual à soma do
número de crianças (com menos de 15 anos de idade) com o número de pessoas idosas (com idade igual
ou maior que 65 anos), e a população em idade ativa (faixa etária de 15 a 64 anos). Nota-se que esta
relação assume que todas as pessoas com menos de 15 anos e com 65 anos ou mais são improdutivas,
enquanto todas as outras são produtivas, o que pode não ser inteiramente verdade.
O elemento essencial para compreender os níveis de dependência e a distribuição etária na sociedade
é a taxa de fecundidade. Estes autores entendem que, do mesmo modo que uma família com número
elevado de crianças tende a consumir mais e poupar menos, um país caracterizado por altas taxas de
nascimento também desvia parte de seu capital acumulado para gastos assistenciais.
Por outro lado, com a redução da fecundidade haverá queda na proporção de crianças e crescimento
do grupo de adultos, reduzindo o ônus da dependência. Isto ocorre até o momento em que estes adultos
adentram na fase idosa, aumentando novamente a taxa de dependência.
O impacto econômico das mudanças demográficas era geralmente reconhecido como um Bônus
Demográfico, mas passou recentemente a ser apresentado como uma combinação de dois dividendos
demográficos.
Nessa perspectiva, o Primeiro Dividendo Demográfico corresponde a um simples aumento numérico
da proporção de trabalhadores, o qual se refletirá em uma produção per capita mais elevada, caso se
mantenham fixas a produtividade e a taxa de desemprego.
Na medida em que o ciclo de vida de produção e consumo interage com as alterações na estrutura
etária, este dividendo surge e se dissipa.
As mesmas forças que levam ao fim o primeiro estágio, podem também levar a um Segundo Dividendo
Demográfico, diferente do primeiro. Este processo é reflexo do envelhecimento da população, e
caracteriza-se por elevar, novamente, as taxas de dependência.
Ainda que tanto as crianças como os idosos sejam tratados como dependentes, suas participações
econômicas são diferenciadas, o que implica novos padrões de renda e poupança.
O Segundo Dividendo Demográfico pode se apresentar como uma nova oportunidade de geração de
excedente. O desafio-chave para que isso ocorra encontra-se na capacidade de investir em novos nichos
de mercado e acumular capital físico e humano, de forma a elevar a produtividade. Destaca ainda que o
envelhecimento da população não tem natureza transitória, desde que se consiga manter uma dinâmica
econômica favorável com alta participação de idosos. Com isso, tem-se uma posição econômica
permanente e sustentável sobre a formação da renda.
Ainda que estas interações entre ciclo de vida e economia gerem benefícios em termos teóricos,
ressalta-se que tal relação não pode ser considerada determinista. Na ausência de aparatos institucionais
que complementem os dividendos demográficos, os efeitos sobre a economia podem ser variados. Nesse
sentido, no Primeiro Dividendo, o ganho econômico do crescimento da população em idade ativa só
poderá ser realizado se houver disponibilidade de empregos no mesmo montante da expansão da
população disposta a trabalhar.
Já no Segundo Dividendo, o incentivo à poupança dependerá do comportamento dos mercados
financeiros, dos programas de pensões e da seguridade, que dependem da atuação governamental.
Em suma, tem-se a definição de que o Primeiro Dividendo é resultado do crescimento percentual de
pessoas dispostas a trabalhar (ou da redução na Taxa de Dependência) enquanto que o Segundo opera
pelo crescimento da produtividade, o qual é induzido pelo acúmulo de riqueza.
Além disso, destaca-se que alguns efeitos da transição demográfica sobre a economia têm recebido
atenção especial de economistas, tais como o comportamento da previdência e da poupança.

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Aspectos Metodológicos
Para avaliar as mudanças demográficas no Brasil e seus diferenciais regionais e sociais, bem como
as perspectivas demográficas futuras, utilizam-se os censos demográficos e o conjunto de dados e
projeções populacionais divulgadas e revisadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
no ano de 2013. Nessa última versão, a série de projeções é calculada até o ano de 2060 para o Brasil e
2030 para as Unidades da Federação, tendo como base o Censo Demográfico de 2010, o último realizado
no País.
A partir das informações populacionais, calculam-se taxas de dependência total, de jovens e de idosos
para a população brasileira e grandes regiões. Definida como a razão entre população dependente e a
população ativa, as taxas consideram como dependentes jovens o número de pessoas com menos de 15
anos de idade e dependentes idosos as pessoas com 65 anos ou mais. A parcela da população em idade
ativa concentra-se na faixa etária entre 15 a 64 anos.
Após situar a posição do Brasil diante das mudanças demográficas, faz-se uma revisão de literatura a
fim de deduzir as consequências econômicas e sociais da transição demográfica para o País.

Aspectos Demográficos do Brasil

O processo de redução da fecundidade e da mortalidade em alguns países (França e Suécia) ocorre


desde o século XIX e tem se ampliado nas últimas décadas, principalmente nas regiões menos
desenvolvidas.
De acordo com a instituição, as regiões mais avançadas apresentaram declínio da fecundidade de 2,8
em 1950-1955 para 1,6 em 2000-2005, enquanto que nas regiões mais atrasadas a queda neste período
foi de 6,1 filhos para 2,7.
A dinâmica da transição demográfica tem se tornado mais rápida nos países em desenvolvimento. O
tempo necessário para que a proporção de idosos aumentasse de 7% para 14% foi de 115 anos na
França, 85 na Suécia e 69 nos Estados Unidos da América (E.U.A.). No entanto, na China estima-se que
o aumento ocorra em 26 anos, no Brasil 21 e na Colômbia 20 anos.
As mudanças demográficas no Brasil decorrem principalmente da queda no nível de fecundidade, pois
a mesma caiu de seis em 1960-1965 para dois em 2005-2010. A queda da taxa reprodutiva, por sua vez,
encontrou patamar abaixo do nível de reposição em 2005 (com 2,09 filhos por mulher) e deve continuar
declinando até o nível de 1,5 filhos por mulher em 2030. Dessa maneira, o número total de residentes no
País, que ultrapassou a faixa dos 200 milhões de habitantes em 2013, tende a alcançar seu máximo em
2042, com 228,350 milhões de habitantes (IBGE, 2013).
As mudanças produzidas pelo declínio da fecundidade alteram as participações relativas das faixas
etárias, ocasionando uma Transição de Estrutura Etária (TEE). Assim, a divisão etária deixa de apresentar
um formato acentuadamente piramidal, marcado pela significativa presença de jovens, e passa a entrar
em processo de envelhecimento, aumentando a idade média da população.
A ferramenta mais conhecida para avaliação destas distribuições etárias é a Razão de Dependência
Total e suas variações (Razão de Dependência de Jovens e de Idosos). Segundo Brito (2007), a taxa de
dependência total brasileira apresenta valores elevados desde a década de 1950, quando possuía 79
dependentes para cada 100 pessoas ativas, sendo 75 jovens e 4 idosos. Passados dez anos, a
manutenção de elevado nível de fecundidade e a ascensão da proporção de idosos aumentaram esta
relação, que alcançou um auge de 83 dependentes (78 jovens e 5 idosos).
Informações do IBGE (2008, 2013) destacam a longa fase de declínio no número de dependentes,
iniciada pouco antes da década de 1980. Contudo, segundo as projeções do IBGE (2013), este
movimento findará no ano de 2022, quando a relação de dependência total alcançará um mínimo de
43,35. A partir deste ano, a crescente participação de idosos na população torna a dependência total
ascendente (Figura 1).

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Figura 1 – Razão de dependência total, de jovens e de idosos no Brasil (2000-2060)

Fonte: Elaborada pelos autores a partir das Projeções da População do IBGE (2008, 2013).

Ainda que a relação de dependentes aumente a partir de 2022, deve-se atentar que a inserção de
pessoas em idade ativa se perpetua, em ritmo de desaceleração, até o ano de 2033. Projeta-se também
que em 2060 o número de dependentes por 100 pessoas ativas aumente para 66, dos quais 2/3 serão
idosos.
Dadas estas relações entre os três principais grupos etários, não restam dúvidas de que o Brasil se
encontra diante de uma janela de oportunidades, também chamada de Bônus Demográfico.
Contudo, deve-se ressaltar que há diferentes formas de se categorizar a extensão deste período.
Comumente, classifica-se o bônus como o período onde a taxa de dependência total mantém trajetória
decrescente.
No Brasil, este movimento se prolonga até o ano de 2022. Contudo, ainda que esta data represente o
começo de uma nova fase expansiva no número de dependentes e, consequentemente, sinaliza para os
novos desafios socioeconômicos, deve-se atentar que de 2007 até 2040, a relação entre pessoas
dependentes e ativas é de um para dois (50 dependentes para 100 ativos), caracterizando um período
ainda favorável para a produção e organização dos serviços públicos.
Mesmo que aumente a taxa de dependência total a partir da segunda década, deve-se atentar para o
fato de que ela ocorre com maior proporção de idosos, o que pode ser benéfico para a renda familiar,
especialmente nas regiões mais pobres do País.
Ao contrário dos jovens, que raramente têm renda, os idosos são amparados, em sua grande maioria,
pelo sistema previdenciário ou programas assistenciais do governo, o que garante para muitas famílias a
única renda regular. Nas regiões ricas, a população idosa acumula ativos na fase produtiva e pode manter
a sua independência financeira durante a velhice. Além disso, é crescente o número de pessoas que
continuam produzindo após os 65 anos.
A Transição Demográfica é única e múltipla, uma vez que, ao mesmo tempo em que é um processo
global que atinge a sociedade como um todo, ela também se manifesta de várias maneiras diferentes, de
acordo com as diversidades regionais e sociais. A partir de dados acerca da fecundidade, pode-se
verificar que as regiões Norte e Nordeste possuem perfis etários mais joviais que as regiões Sudeste e
Sul. Assim, não surpreende que a Taxa de Dependência da região Norte, em 2010, seja relativamente
alta (57,97) e significativamente composta por dependentes jovens (89,2%), como apresenta a figura 2.

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Figura 2 – Taxas de Dependência nas Grandes Regiões do Brasil (2000-2030)

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Fonte: Elaborada pelos autores a partir das Projeções da População do IBGE (2013).

Pode-se destacar que o Bônus Demográfico desta Região findará mais tardiamente do que no restante
do País, uma vez que até as projeções de 2030 o número de dependentes tem se mostrado
continuamente em declínio. Ainda que de modo menos expressivo, a proporção de jovens no Nordeste
brasileiro também compõe a maior parte dos dependentes em 2010 (81,9%). Nesta Região, a queda da
taxa de dependência total se mantém até o ano de 2027, quando é esperada uma taxa de 43,66.
Já as regiões Sudeste e Sul se encontram em posições mais avançadas na transição etária. Em 2010,
a taxa de dependentes do Sudeste foi de 44,29, sendo 75% composta por dependentes jovens. Ao mesmo
tempo, o Sul tem taxa de 44,34, com 74% de jovens. Outra semelhança entre as regiões está na projeção
do número de dependentes para o ano de 2030, quando a relação de jovens representará 50% do total
de dependentes para a região Sudeste e 49,9% para a Sul. Diferentemente do Norte e Nordeste, projeta-
se uma razão de dependentes ascendente a partir de 2017 no Sul e de 2018 no Sudeste.
Já a região Centro-Oeste tem características peculiares, pois apresenta a menor reposição de crianças
e a mais baixa participação de idosos na população. As projeções indicam que ela pode ser a região que
mais tem a ganhar com o primeiro dividendo demográfico. Estima-se que o movimento de ascensão da
taxa de dependentes tenha início a partir de 2023, ano em que se espera uma taxa de 40,19% de
dependentes, a relação mais baixa entre todas as grandes regiões brasileiras.

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Fonte: Elaborada pelos autores com base no Censo Demográfico do IBGE (2010).
*Devido a restrições nos dados, considera-se como idoso dependente a classe etária com 60 anos ou mais.

Além das diferenças inter-regionais, a relação entre fatores demográficos e indicadores sociais
também apresenta caráter múltiplo sobre a transição demográfica brasileira. A razão de dependência está
altamente correlacionada aos níveis de renda per capita domiciliar, o que torna as diferenças sociais tão
ou mais importantes que as regionais. Isso significa que as famílias pobres têm dupla dificuldade, pois
possuem menor capacidade financeira e os poucos ganhos precisam ser repartidos entre maior
quantidade de pessoas.
Nessa perspectiva, ao se analisar as taxas de dependência por classes de rendimento domiciliar per
capita para o ano de 2010 (Figura 3), não surpreende que a alta dependência de jovens se concentre nas
camadas mais pobres da população brasileira. Entre os extremos, a relação de dependentes jovens cai
de 65,85 para 19,45, menos de um terço do número inicial. O contrário ocorre com a classe de idosos,
que apresenta uma ascensão na medida em que se têm domicílios com maior rendimento per capita.
As oportunidades e desafios impostos pela transição demográfica vão depender significativamente das
peculiaridades regionais e sociais. Neste contexto, para as políticas públicas obterem êxito elas devem
estar atentas não só ao processo global da transição demográfica no Brasil, como também nas suas
diversas facetas regionais e sociais.

Oportunidades e Desafios na Transição Demográfica


O conjunto de informações demográficas referentes ao Brasil indica que o Bônus Demográfico, ou o
Primeiro Dividendo, começou na década de 1980 e se desenrola ao longo de mais de quatro décadas,
quando no final a taxa de dependência total deve alcançar nível mínimo.
Esse bônus somente trará vantagens sobre a renda se a maior oferta de trabalho se transformar em
produção efetiva.
Com a finalidade de averiguar o crescimento induzido na renda pelas mudanças da estrutura etária se
propôs decompor a renda per capita entre ganhos de produtividade e de ocupação.
De forma análoga elabora-se um conjunto de indicadores para interpretar a dinâmica do PIB per capita
(PIB/População) via decomposição em:

i) produtividade do trabalho (PIB/PO), sendo PO = pessoas ocupadas;


ii) taxa de ocupação econômica (PO/PEA), sendo PEA = população economicamente ativa; e,
iii) taxa de participação econômica (PEA/Pop), sendo Pop = população total.

Utilizando-se da decomposição em três elementos e determinando o ano de 1992 como período base
(em função da disponibilidade de dados), é possível ilustrar a aceleração da participação econômica.
Tal como apresentado pelos autores, a elevação da renda per capita na década de 1990 se deve
majoritariamente ao crescimento da produtividade do trabalho (Figura 4).
Já nos anos 2000, a produtividade apresentou desempenho moderado e a taxa de participação
econômica foi a responsável por dar fôlego ao crescimento do produto. Enquanto isso, a taxa de ocupação
econômica se apresentou em níveis abaixo ou próximos do período base.

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Figura 4 – Decomposição e crescimento do PIB per capita brasileiro (1992-2012)

Sendo assim, é possível verificar que a inserção de pessoas aptas ao trabalho, dada pela transição
demográfica, tem sido vantajosa para o crescimento da renda per capita. A taxa de crescimento média
anual da participação econômica nestes 20 anos corresponde a um terço do aumento do produto.
Destaca-se, contudo, que somente a partir de 1999 se conseguiu utilizar de forma clara e efetiva esta
mão de obra disponível em ocupação formal.
De um lado, este fato pode reforçar o argumento que o bônus demográfico não é um processo
determinista, sendo preciso um ambiente econômico favorável para a absorção da mão de obra. Por outro
lado, também se poderia indicar que este atraso na inserção de pessoas no mercado laboral se deve a
um crescente número de anos dedicados aos estudos e à preparação para o trabalho pelos jovens.
Esta tendência atual, especialmente nos países em desenvolvimento, permite questionar o critério de
se utilizar como ativas as pessoas com idade de 15 anos, o que torna o Bônus Demográfico mais precoce
do que realmente ocorre.
Também é importante frisar que a participação econômica mostrou-se declinante após 2009.
Segundo projeções do IBGE (2013), a população em idade ativa é crescente até o ano de 2033 e sua
proporção na população total apresenta taxas positivas até 2022.
Tem-se, portanto, diferenças nas taxas de crescimento da PIA e da PEA sobre a população total. A
explicação deste descolamento pode ser encontrada na definição de cada variável, uma vez que a
população em idade ativa (PIA) mensura todas as pessoas aptas a exercer trabalho e a população
economicamente ativa (PEA) é formada pelos indivíduos que buscam ocupação.
Assim, a diferença nas taxas é causada devido a parte da PIA que não procura ocupação produtiva.
Em suma, visto que o aumento da produção brasileira do início dos anos 2000 se deu via inserção de
pessoas no mercado de trabalho, queda nos níveis de desemprego e manutenção da produtividade, é
possível indicar que a economia nacional foi efetivamente favorecida pelo Bônus Demográfico.
Todavia, verificou-se que a importância da participação econômica sobre a renda declinou a partir de
2009. Deste modo, tem-se, por um lado, que o crescimento brasileiro recente foi beneficiado pela
transição demográfica e que o País ainda se encontra nesta janela de oportunidades.
Por outro lado, ainda que a estimativa demográfica assegure crescimento da PIA até a próxima década,
parte deste grupo em idade ativa retarda a oferta de trabalho, limitando o ganho de renda com a simples
elevação do número de trabalhadores. Por essa razão, não se sabe até que momento será possível
usufruir do processo demográfico como combustível econômico.
Ressalta-se também sobre a importância de aumentar a produtividade, elemento-chave para aliar
maior número de dependentes com crescimento econômico. Além disso, é necessário voltar a atenção
para as demandas de uma sociedade com maior dependência de idosos, tais como a oferta de serviços
públicos na saúde, previdência e assistência social.
As maneiras tradicionais de financiamento da seguridade social não serão suficientes para lidar com
o ritmo crescente da população idosa. As crescentes dificuldades no equacionamento das contas
provavelmente forçarão novas estratégias, tais como incentivos para aposentados permanecerem na
força de trabalho e novos limites de idade.
Para verificar o impacto do envelhecimento populacional sobre as contas do Estado, analisa-se as
transferências governamentais médias sobre oito coortes da população, supondo constante o montante

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de gastos para essas faixas etárias. Após, estima o efeito das alterações de uma nova estrutura etária
sobre os custos governamentais.
De acordo com os cálculos, cada pessoa idosa recebeu em 1996, em média, US$ 4.046 (quatro mil e
quarenta e seis dólares) em transferências governamentais, quase dez vezes mais que as despesas
infantis.
Com estas características, fica claro que o equilíbrio nos gastos teria que ocorrer via maior arrecadação
no segmento da população economicamente ativa, uma vez que os gastos per capita na faixa etária idosa
superam os das demais.
A relação entre receitas e despesas do ano de 2000 se aproxima de um equilíbrio, o que se deve, em
parte, ao baixo nível da taxa de dependência (Tabela 1).
Na medida em que a transição demográfica avança, as estimativas passam a mensurar uma estrutura
etária brasileira mais envelhecida.
Assim, ao supor constante o perfil de transferências do governo por faixa etária, a relação entre as
contas apresenta declínio considerável para os anos de 2025 e 2050.
Neste último ano, a receita representa somente 57,1% da despesa total. A conclusão lógica deste
exercício, encontra-se na necessidade de investir na atual geração de crianças, de modo a qualificar a
força de trabalho futura. Nesse sentido, destacam-se que a continuidade do crescimento da renda per
capita dependerá da capacidade de alcançar aumentos de produtividade e inovação. Para isso, faz-se
necessário a acumulação de capital físico e humano, de modo que cada trabalhador consiga agregar
maior valor aos seus serviços.

Além das já existentes resistências macroeconômicas para formação de capital, a dinâmica do


envelhecimento tende a agravar tais dificuldades. Não bastasse isso, o Brasil tem mostrado uma baixa
capacidade histórica de formar poupança. A poupança doméstica encontra-se em patamares abaixo da
média mundial.
Além disso, quando comparadas as taxas de poupança da América Latina e da Ásia Oriental fica claro
que a baixa acumulação brasileira é parte de um fenômeno latino-americano.
Desde o final da década de 1970, o Brasil enfrenta uma queda expressiva dos níveis de investimento
e poupança agregada, reflexo da evolução do consumo privado.
O boom populacional dos anos de 1970 certamente influenciou no comportamento da acumulação de
capital, pois o forte ritmo no crescimento da população jovem diminuiu a proporção da população em
idade ativa e, por consequência, diminuiu a capacidade de produção da economia.
Além disso, o autor constatou que a mudança de perfil etário brasileiro, de jovem para maduro, deveria
ter conduzido a um aumento na taxa de poupança, o que efetivamente não ocorreu.
A enorme rede de proteção social instalada no Brasil no período pós-redemocratização foi a principal
responsável por contrabalançar a tendência de crescimento da acumulação de capital. Segundo o autor,
isto se deve a uma série de regras institucionais e políticas que produzem um comportamento sobre a
poupança independente do crescimento econômico.
Em outras palavras, o gratuito acesso à saúde, à educação básica e às aposentadorias, além da
disponibilidade de cursos superiores com apoio no financiamento, são elementos que retiram a
importância da poupança para as famílias.
Dessa forma, o autor acredita que o assistencialismo brasileiro e o subsequente envelhecimento
populacional formam uma perspectiva sobre a formação de poupança com notáveis dificuldades.
A baixa perspectiva para a formação de capital brasileira reflete maiores dificuldades para o aumento
da produtividade do trabalho.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Verifica-se que a relação entre Produto Interno Bruto e o número de pessoas ocupadas na economia
brasileira se mantém em ritmo lento de crescimento, com taxa de 1,03% ao ano em mais de quatro
décadas (Figura 5).
Para os países latino-americanos ela é ainda menor, de 0,56% ao ano, ainda que o nível de produção
por trabalhador se apresente acima do brasileiro. Destaca-se ainda o salto de produtividade coreano e
japonês. A Coreia chama atenção pela proximidade à produtividade do Brasil até o início da década de
1980.
O Japão, por sua vez, detém alto nível de produtividade desde 1970 (em função do crescimento
significativo nas décadas anteriores) e continua com forte ritmo expansionista.

Além do capital físico, a produtividade do trabalho vai depender do acúmulo de capital humano.
Este elemento torna o serviço mais eficiente e conduz a um aumento do valor agregado por
trabalhador. Em uma análise conjunta da produtividade e do capital humano brasileiro, concluiu-se que
no intervalo de tempo entre 1992 e 2007, o capital humano mostrou contribuição praticamente nula sobre
a economia.
Para os autores, uma possível explicação para este resultado reside na baixa oferta de trabalho
qualificado, o que indica que se deve implementar políticas de educação.
Ressalta-se que apesar da expansão do ensino no Brasil, as políticas nacionais não tiveram êxito ao
tratar da qualidade do ensino. No entanto, Brito (2007) entende que a educação pode ser melhorada no
País com a ampliação de horas-aula e baixo custo, porque já dispõe de uma capacidade de oferta de
ensino, e a redução da demanda por esse serviço contribui para a universalização e para a qualidade.
Nas avaliações internacionais, o desempenho do ensino brasileiro não é satisfatório, principalmente
em função do alto grau de repetência dos alunos.
Há ainda de se considerar a categoria preocupante de jovens que não estudam e nem procuram
trabalho, ou seja, não exercem qualquer tipo de ocupação.
Os dados do Censo Demográfico de 2010 mostram que do total de pessoas com mais de 25 anos de
idade no Brasil, somente 11,29% possuem diploma de ensino superior e praticamente a metade dessa
população (49,18%) não possui ensino fundamental completo.
Dados da OCDE (2012) apontam que este percentual de brasileiros com nível superior subiu para
12,96%, patamar ainda abaixo da média dos países da OCDE (32,62%) e de países vizinhos, como o
Chile (17,81%) e a Colômbia (19,75%).
Dessa forma, ao mesmo tempo em que houve incentivos para a população prolongar o tempo de
estudo, há ainda várias lacunas na agenda da política educacional que devem ser preenchidas, tais como
maior número de pré-escolas, maior grau de titulação dos professores, mais avaliações e autonomia das
unidades escolares e dos diretores. Além disso, os resultados sinalizam que o desafio de qualidade hoje
não pode ser enfrentado sem alterações profundas na agenda de políticas educacionais.

Constatou-se que a transição demográfica brasileira apresenta heterogeneidade regional e por faixa
de renda, coexistindo perfis mais avançados nas regiões Sul e Sudeste e atrasados nas regiões Norte e
Nordeste.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Já a região Centro-Oeste apresenta desempenho peculiar, pois ao mesmo tempo em que mantém
nível de fecundidade reduzido, a dependência de idosos evolui timidamente.
Em relação às diferenças que permeiam o envelhecimento populacional por faixas de renda, verificou-
se que as famílias de menor rendimento possuem as maiores taxas de dependência de jovens,
exatamente o grupo que necessita de auxílio para estudar e se qualificar, e as menores taxas de idosos,
a parcela da população que precisa de atenção especial, mas que normalmente tem alguns ativos e
amparo pela previdência social.
O contrário ocorre com as famílias que têm renda mais elevada.
O aumento da renda per capita foi favorecido pelo Primeiro Dividendo Demográfico, a partir de 1999,
uma vez que houve maior inserção de pessoas em idade ativa, e os níveis de desemprego e de
produtividade permaneceram favoráveis.
O intervalo temporal entre a identificação do Bônus Demográfico, em 1980, e a efetiva utilização de
mão de obra disponível, nos anos 2000, pode ressaltar o caráter não determinista dos dividendos
demográficos e indicar que existe um tempo maior de qualificação técnica, o que atrasa a entrada de
jovens no mercado de trabalho, e um prolongamento do período ativo dos idosos, ou seja, que continuam
trabalhando a partir dos 65 anos.
Contudo, deve-se atentar para a necessidade do aumento da produtividade, que depende dos esforços
para a acumulação de capital físico e humano, de modo a sustentar crescente parcela de dependentes
idosos e suas novas demandas.
Contrariando as expectativas de crescimento da renda e da poupança pela maior participação de
adultos na economia, a acumulação de capital físico permaneceu em níveis aquém do desejado.
Desse modo, os entraves institucionais brasileiros somam-se ao iminente estado de população
envelhecida, formando expectativas não promissoras dos atuais níveis de poupança interna e de
acumulação de capital físico.
Já o acúmulo de capital humano, por sua vez, não encontra entrave institucional e tampouco é
prejudicado pela dinâmica demográfica. De forma contrária, identificou-se que a trajetória de alteração
etária contribui para o aumento da cobertura e da qualidade da educação pública, já que diminui o número
de jovens.
Assim, pode-se considerar que as políticas voltadas à educação compõem a via mais factível de
agregar valor à produção.
Em suma, averiguou-se, de um lado, que o Brasil se utilizou dos benefícios gerados pela transição
demográfica para aumentar a renda per capita, ainda que em período de tempo relativamente curto. Por
outro lado, esta janela de oportunidades não foi capaz de aumentar o nível de investimento nem a
poupança interna brasileira.
Assim, pode-se considerar que há sérios desafios a serem enfrentados pela sociedade brasileira,
incluindo a melhoria na qualificação da mão de obra, maiores incentivos à acumulação de capital e o
equacionamento das contas financeiras da seguridade social.

POPULAÇÃO MUNDIAL

Crescimento Populacional no Mundo

População é o conjunto de pessoas que reside em determinada área. Ela pode ser caracterizada de
acordo com vários aspectos, como gênero, faixa etária, religião, etnia, idioma, local de moradia, atividade
econômica praticada, entre outros.
As condições de vida e o comportamento da população, no entanto, são retratados por meio de
indicadores sociais, ou seja, taxas de natalidade e mortalidade, expectativa de vida, índices de
analfabetismo, participação na renda, etc.
A dinâmica da população varia bastante entre os países. Nas economias desenvolvidas o crescimento
demográfico é inexpressivo, sendo até mesmo negativo em alguns locais.
Nos países em desenvolvimento e emergentes ocorrem as mais variadas situações: em algumas
nações, o elevado crescimento populacional compromete a busca pelo desenvolvimento sustentável; em
outras, a população tende a se estabilizar nas próximas décadas, como é o caso do Brasil.
Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em 2017, o planeta Terra era habitado
por 7,5 bilhões de pessoas, distribuídas de maneira distinta pelos países e pelas regiões.

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População Mundial
Em 2013, segundo o relatório World Development Indicators 2017, do Banco Mundial,
aproximadamente 11% da população vivia em condições de pobreza extrema. A maior parte estava em
países em desenvolvimento da África subsaariana e da Ásia meridional.
Muitos países apresentaram um expressivo crescimento econômico e as condições de vida de suas
populações melhoraram, principalmente durante a segunda metade do século XX e o início do século
XXI.
De acordo com o Banco Mundial, em 1990 cerca de 1,9 bilhão de pessoas viviam em condições de
pobreza extrema (com menos de US$ 1,90 por dia). Esse número foi reduzido quase pela metade, apesar
do crescimento populacional do período.
No período de 2010 a 2020, segundo o UNFPA, nos países desenvolvidos a esperança de vida média
era de 76 anos para os homens e 82 anos para as mulheres; na América Latina e no Caribe, 72 e 79; e
na África ocidental e na África central, 56 e 58 anos.
Tais diferenças se explicam pela deficiência ou, muitas vezes, pela completa falta de acesso a ´[agua
potável; a coleta e tratamento de esgoto; a alimentação, educação e condições de habitação adequadas
e, principalmente, a bons programas de saúde destinados à população, incluindo campanhas de
vacinação, hospitais e maternidade de qualidade, entre outros.

As Taxas – Fundamentos Básicos para a Leitura dos Dados Demográficos

Taxa de natalidade: número de nascidos vivos em um ano por mil habitantes. É a relação entre os
nascimentos e a população total, expressa por mil habitantes.

Exemplo:
Nascimentos anuais: 775 000;
População total: 55 173 000 habitantes;
Taxa de natalidade: 775 000 x 1000 = 14%
Ou seja, para cada grupo de 1000 habitantes, nasceram 14 crianças vivas num ano.

Taxa de mortalidade: número de óbitos em um ano por mil habitantes. É calculada a partir da relação
entre óbitos anuais, multiplicados por mil, e a população total.

Exemplo:
Óbitos anuais: 335 000;
População total: 55 173 000 habitantes;
Taxa de mortalidade: 335 000 x 1000 = 6%
Ou seja, para cada grupo de 1000 habitantes, morreram 6 pessoas num ano.

Obs.: As taxas de natalidade e de mortalidade também são expressas em porcentagem. Assim,


baseando-se nos dados dos exemplos anteriores: taxa de natalidade, 1,4%; taxa de mortalidade, 0,6%.

Taxa de crescimento vegetativo: diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade.


Conforme os exemplos de taxas de natalidade e mortalidade anteriores:

Taxa de natalidade: 14%;


Taxa de mortalidade: - 6%;
Crescimento vegetativo: 8% ou 0,8%

Obs.: A taxa de crescimento vegetativo é também denominada taxa de crescimento natural.

Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher em idade de procriar, entre 15 e 49 anos.

Taxa de mortalidade infantil: é o número de óbitos de crianças com menos de u mano de vida, a
cada mil nascidas vivas, considerando-se o período de um ano.

A Revolução Industrial e o Crescimento Demográfico

A Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, teve forte repercussão na organização socioespacial.
Passaram a ocorrer um intenso processo de migração do campo para as cidades, mudanças de hábitos

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
e novas relações de trabalho. As condições de vida nas áreas industriais eram inicialmente precárias,
mas aos poucos nas cidades foram ocorrendo melhorias sanitárias significativas e a população urbana
passou a ter maior acesso aos serviços de saúde. A Revolução Industrial, enfim, não foi apenas uma
transformação no modo de produzir mercadorias, mas uma transformação tecnológica e cientifica que
atingiu todas as áreas do conhecimento, entre as quais a medicina.
A solução de problemas sanitários e o avanço na medicina contribuíram para a diminuição da
mortalidade infantil e da mortalidade da população em geral. A elevação da média de vida provocou o
aumento do número de habitantes nos países que primeiramente se industrializaram. A vacina contra a
varíola, entre o final do século XVIII e o início do XIX, foi a descoberta médica mais importante para o
crescimento populacional, já que houve redução das taxas de mortalidade e a natalidade permaneceu
por longo tempo ainda em patamares elevados.
Alguns pesquisadores do período da Revolução Industrial consideram outros fatores também
responsáveis pela elevação do crescimento populacional nos países industrializados do século XIX. Por
exemplo, a utilização generalizada da mão-de-obra infantil nesse período pode ter estimulado o aumento
do número de filhos para ampliar a renda das famílias. Assim, o crescimento populacional teria resultado
não apenas da diminuição da mortalidade, mas também do aumento da natalidade.

Crescimento da População e a Primeira Teoria Populacional – o Malthusianismo


A Grã-Bretanha, pioneira na Revolução Industrial, tinha pouco mais de 5 milhões de habitantes por
volta de 1750. A partir daí o processo de crescimento populacional foi rápido. Em 1840 haviam atingido
mais de 10 milhões de habitantes. Meio século depois passou a marca dos 20 milhões. Essa tendência
generalizou-se nos demais países europeus que acompanharam a primeira fase da Revolução Industrial.
Foi justamente a partir da observação da etapa inicial desse processo que surgiu a primeira e mais
polêmica teoria sobre o crescimento populacional.
Em 1798, Thomas Robert Malthus, um pastor protestante, escreveu a obra Ensaio sobre o Princípio
da População. Malthus acreditava que a população tinha um potencial de crescimento ilimitado enquanto
a natureza tem recursos limitados para alimentar a crescente população. Afirmava que as populações
humanas cresciam em progressão geométrica (2, 4, 16, 32 ...), enquanto a produção de alimentos crescia
em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10 ...).
Colocava-se assim a fatalidade de a humanidade ter que conviver no futuro com subnutrição, fome,
doenças, epidemias, infanticídio, guerras por disputas de terras para ampliar a produção de alimentos e,
consequentemente, com a desestruturação de toda a vida social.
Para evitar a tragédia anunciada, Malthus defendia o “controle moral”. Descartava a utilização de
métodos contraceptivos para limitar o crescimento populacional, conforme a sua formação religiosa. Do
ponto de vista prático, pregava uma série de normas de conduta que incluíam a abstinência sexual e o
adiamento dos casamentos, que só deveriam ser permitidos mediante capacidade comprovada de renda
para sustenta a provável prole. É evidente que tais normas atingiam apenas os pobres, que Malthus
considerava os grandes responsáveis pela própria pobreza, devido à tendência de se casarem cedo e se
reproduzirem em excesso.
A principal refutação às ideias malthusianas foi elaborada por Karl Marx, para quem o grande
responsável pela fome e pela carência da população era o sistema capitalista. As injustiças sociais e a
má distribuição de riquezas entre as classes sociais seriam os verdadeiros responsáveis pela fome e pela
miséria. Argumentava que os empresários capitalistas mantinham estrategicamente certo número de
desempregados (Exército Industrial de Reserva) para manter baixos os salários, e que manipulavam
esses desempregados de acordo com as necessidades do mercado de trabalho.
Para Marx, Malthus subestimava a capacidade da tecnologia em elevar a quantidade de alimentos
produzidos no mundo. De fato, a validade desse argumento foi comprovada pela própria história. A fome,
que condena quase 1 bilhão de seres humanos nos dias atuais, não se deve à incapacidade de produção
de alimentos e sim à má distribuição dos alimentos produzidos, devido às desigualdades sociais e
econômicas.

O Baby Boom
A partir do final da Segunda Guerra Mundial, a população dos países desenvolvidos teve um rápido
surto de crescimento. Esse fenômeno ficou conhecido como Baby Boom e foi o resultado do grande
número de casamentos, adiados durante o período da guerra. Esse fenômeno atingiu principalmente os
países europeus, o Japão, os Estados Unidos e outros diretamente envolvidos no conflito. Depois de dois
ou três anos as taxas de crescimento voltaram a declinar.

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A Estabilização Demográfica no Mundo Desenvolvido
As migrações em massa da população europeia em direção à América e a outros continentes, e a
Revolução Agrícola, que elevou a produção de alimentos, diluíram os efeitos do grande crescimento
populacional na Europa do século XIX.
O estágio de desenvolvimento europeu no final do século XIX e início do XX refletiu na demografia. As
taxas de natalidade e mortalidade começaram a cair devido à urbanização de parcela significativa da
sociedade, ao atendimento médico e hospitalar, ao aumento das possibilidades de acesso à informação
e às mudanças no papel da mulher, que passou a participar ativamente do mercado de Trabalho industrial.
As taxas de crescimento entraram em declínio na Europa e continuaram caindo durante todo o século
XX.
Nos últimos 50 anos, o mundo desenvolvido, em geral – sobretudo os países europeus -, entrou num
processo de crescimento lento, com a efetivação do modo de vida urbano para a maioria de seus
habitantes.
Nas cidades, o custo de criação dos filhos é maior do que no campo; os jovens ingressam mais tarde
no mercado de trabalho; o trabalho feminino extradomiciliar leva à necessidade do cuidado dos filhos por
outras pessoas ou instituições, gerando outros gastos para as famílias. Nesse contexto, a invenção da
pílula anticoncepcional, em 1960, e a consolidação de algumas conquistas femininas – como a ampliação
de sua participação no mercado de trabalho e nas relações familiares – foram fundamentais nesse
processo.
No final do século XX, as duas taxas (mortalidade e natalidade) estavam praticamente em equilíbrio,
determinando taxas de crescimento vegetativo em torno de 0% ao ano e inaugurando uma nova fase,
conhecida como estabilização demográfica. Essa situação também foi denominada por alguns
demógrafos de implosão demográfica.
A partir da década de 1980, vários países do continente europeu registraram, em alguns anos,
crescimento natural negativo, pois as taxas de mortalidade superaram as taxas de natalidade.
Como visto, o processo de urbanização, interligado a outros fatores, como a presença marcante da
mulher no mercado de trabalho, a redefinição de seu papel na família e o modo de vida baseado na
preservação da individualidade são questões incorporadas pela cultura europeia ao longo do tempo.
Muitos filhos significam, nesse sentido, abrir mão dessa individualidade e, no caso das mulheres, podem
constituir uma barreira às suas perspectivas profissionais.

Explosão Demográfica e Novas Teorias Populacionais

A explosão demográfica do século XX foi um fenômeno do mundo subdesenvolvido, que a partir da


década de 1950 passou a registrar elevadas taxas de crescimento demográfico. Alguns países
subdesenvolvidos chegaram a dobrar a sua taxa de crescimento em menos de uma geração.
É importante ressaltar que a expressão explosão demográfica é criticada por alguns demógrafos,
pois sugere um crescimento descontrolado da população, o qual tornaria caótica a vida humana na Terra.
Foram esses países que mais contribuíram para o crescimento da população mundial no século XX.
Atualmente concentram mais de 80% da população do planeta e esse índice tende a ampliar-se.
Muitas doenças infecciosas que assolavam principalmente os países subdesenvolvidos foram
derrotadas com a descoberta de novas vacinas e dos antibióticos. Esses avanços na medicina obtidos
nos países desenvolvidos foram estendidos a várias regiões do mundo e provocaram um declínio
significativo nas taxas de mortalidade, com consequente crescimento da população.
Com o avanço do processo de urbanização em vários países do mundo subdesenvolvido, sobretudo
nos que industrializaram, as taxas de crescimento vegetativo também têm se mostrado declinantes nas
últimas duas décadas.
No continente africano, onde a maioria dos países ainda se verificam índices de população urbana
inferiores a 50%, as taxas de crescimento vegetativo permaneceram superiores a 2% ao ano.
A taxa de fecundidade nos países subdesenvolvidos é praticamente o dobro da registrada nos países
subdesenvolvidos. No entanto, se na África o número médio de filhos por mulher está próximo de 5, na
América Latina, onde a urbanização tem sido intensa, essa taxa é praticamente a metade da africana.

As Teorias Antinatalistas da Segunda Metade do Século XX


O fenômeno da explosão demográfica contribuiu para que surgissem novas teorias relacionadas ao
crescimento populacional. As primeiras teorias associavam o crescimento demográfico à questão do
desenvolvimento e propunham soluções antinatalistas para os problemas econômicos enfrentados pelos
países subdesenvolvidos. Ficaram conhecidas como teorias neomalthusianas, por serem catastrofistas
e por apontarem o controle populacional como única saída. Mas, ao contrário de Malthus, os

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neomalthusianos eram favoráveis ao uso de métodos anticoncepcionais e propunham a sua difusão em
massa nos países do mundo subdesenvolvido.
Argumentavam que os países que mantêm elevadas taxas de crescimento veem-se obrigados a
investir doa parte de seus recursos em educação e saúde, devido à grande porcentagem de jovens que
abrigam. Essas elevadas somas de investimentos poderiam ser aplicadas em atividades produtivas,
ligadas à agricultura, à indústria, aos transportes, etc., que dinamizariam a economia do país.
Os neomalthusianos ressaltavam ainda que o crescimento acelerado da população de um país
acarretava a diminuição da sua renda per capita. Portanto, para aumentar a renda média dos habitantes,
era necessário controlar o crescimento populacional.
Os argumentos convincentes dos neomalthusianos foram desfeitos pela dinâmica demográfica real.
Os países que tiveram quedas acentuadas em suas taxas de natalidade foram aqueles cujas conquistas
econômicas estenderam-se à maioria dos habitantes, na forma de maior renda e melhoria do padrão
cultural. A história comprovou que havia uma inversão no pensamento neomalthusiano. A redução do
crescimento populacional não é o ponto de partida para a conquista do desenvolvimento social e
econômico, mas o ponto de chegada.
Essa dinâmica demográfica já havia sido apontada pelos reformistas, que destacavam as conquistas
socioeconômicas como responsáveis pela redução das taxas de crescimento populacional. Para os
reformistas, uma melhor distribuição de renda e o maior acesso à cultura e à educação podem modificar
os padrões de crescimento e promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Outra visão antinatalistas surgiu com alguns ecologistas já no final da década de 1960, com a
publicação do livro A bomba populacional de Paul Ehrlich. Mas esses ecologistas não se limitaram à
questão demográfica para discutir as ameaças dos problemas ambientais. Ressaltaram o papel negativo
do consumismo da população dos países desenvolvidos e, portanto, a necessidade de transformação do
modelo econômico do mundo atual.

O Método para os Estudos de População


As características de uma determinada população mudam em função de condições socioeconômicas,
políticas e territoriais, submetidas a múltiplas determinações culturais.
A análise da orientação, do ritmo e da natureza do crescimento dessa população, a par dos
deslocamentos, permite entender seu comportamento e fazer projeções para o futuro.
O termo técnico mais comum para designar esse comportamento populacional é dinâmica
demográfica.
Em geral, a análise da dinâmica demográfica considera um período de tempo predeterminado.

Crescimento, Composição Etária e Impactos Sociais


Os padrões demográficos gerais de um país ou região (natalidade, mortalidade, migrações)
determinam a distribuição da população por faixas de idade.
Essa distribuição, ao mesmo tempo que resulta do estágio de desenvolvimento, causa impacto na
economia e na distribuição dos recursos em saúde, educação, formação profissional e outros.
Não existe um único critério para a distribuição da população por faixa etária, mas o mais utilizado e
adotado (inclusive pelo IBGE atualmente) divide a população em jovens (0-14 anos), adultos (15-65 anos)
e idosos (acima de 65 anos).
Essa divisão tem por base a população ligada ao mercado de trabalho (pessoas de 15 a 65 anos),
empregada ou não, e as pessoas que são consideradas fora desse mercado (com menos de 15 anos e
com mais de 65 anos).
É evidente que tal critério não atende ás condições de diversos países em que, entre as camadas
sociais pobres, o trabalho infantil é um fato comum e os idosos veem-se, em muitos casos, obrigados a
trabalhar até morrerem ou se tornarem incapazes de qualquer atividade por motivo de doença ou de
incapacidade física.
Segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), em 2000, quase três milhões de
crianças entre cinco e 14 anos trabalhavam no Brasil.
O subemprego é uma forma precária de complementação de renda para os idosos que não conseguem
reingressar no mercado de trabalho formal.

Fundamentos Básicos para a Análise de um Histograma de Distribuição Etária e Sexual e as


Fases de Crescimento Demográfico
A pirâmide etária é uma representação da população por sexo e idade em um gráfico conhecido como
histograma. Deve ser analisado a partir dos percentuais de homens e mulheres em cada faixa etária com
relação à população total. O tamanho de cada barra corresponde à proporção de cada grupo de idade,

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conforme o sexo: masculino, cujas barras estão no lado esquerdo da pirâmide; ou feminino, cujas barras
estão no lado direito.
No eixo horizontal do gráfico (base) está registrado o percentual da população por sexo. No eixo
vertical estão indicadas as diferentes faixas etárias da população. Por meio das pirâmides etárias é
possível analisar algumas alterações demográficas dos países e as tendências dessas alterações.

Como as barras da base da pirâmide correspondem às faixas de idade, uma pirâmide de base larga
com formato piramidal (triangular) representa um país de população jovem acentuada e menor
expectativa de vida, como os países subdesenvolvidos, que ainda permanecem em fase de crescimento
acelerado, ou na primeira fase da transição demográfica.

As pirâmides que apresentam pequeno estreitamento na base mas o restante da pirâmide triangular,
como as de alguns países subdesenvolvidos industrializados (Brasil, México, Argentina) ou de nível
sociocultural mais elevado (Chile, Uruguai, Costa Rica) estão na segunda fase da transição
demográfica.
As pirâmides com formas irregulares e topo largo correspondem aos países com predomínio de
população adulta e população envelhecida, caso dos países desenvolvidos que atingiram a fase de
estabilização demográfica.

A Questão Etária nos Países Subdesenvolvidos de Elevado Crescimento Demográfico


Nos países subdesenvolvidos que ainda mantêm um elevado padrão de crescimento populacional, o
número de jovens é superior às demais faixas etárias da população. Os custos de manutenção e de
formação da população na faixa etária dos jovens são um sério problema nos países onde o Estado, além
de desprovido dos recursos necessários, está mal estruturado para atender às necessidades de saúde e
educação.
Além disso, o grande número de jovens coloca as populações dos países mais pobres numa situação
desfavorável. A necessidade de sustentar um número maior de filhos limita a formação da poupança
familiar e dificulta oferecer a educação necessária à ascensão social e ao progresso econômico. De um
ponto de vista mais amplo, os países subdesenvolvidos são impedidos de aproveitar seu melhor recurso,
o humano.
No estágio atual da globalização econômica e transformações tecnológicas, os trabalhadores menos
qualificados têm sido os mais afetados pelo desemprego, e a tendência é de que as inovações dos

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processos de produção os afastem ainda mais do mercado de trabalho. O baixo investimento na formação
educacional dos jovens, que ainda por algumas décadas constituirão a parcela maior da população do
planeta, aponta questões difíceis de serem resolvidas a curto e a médio prazos.

A Questão Etária nos Países Desenvolvidos


Nos países desenvolvidos o crescimento da população que não trabalha decorre basicamente do
aumento da população idosa, pois as baixas taxas de fecundidade não contribuem para a formação de
um grupo etário numeroso. Enquanto a média mundial de fecundidade da mulher situa-se em torno de
2,6 filhos, nos países desenvolvidos é de 1,5 e nos países subdesenvolvidos é de 2,8 filhos. Para que um
país mantenha a sua população em volume constante é preciso que a taxa seja de 2 filhos para cada
mulher, necessária para a reposição da população que morre.
O processo de aumento na participação dos idosos no conjunto total da população é denominado
envelhecimento da população, o qual obriga os países desenvolvidos (cuja população com mais de 65
anos, a maioria fora do mercado de trabalho, é superior à 15% da população total) a destinarem um
volume crescente de recursos ao sistema de previdência. No Japão, na Itália, Alemanha e Grécia, por
exemplo, 1 em cada 5 pessoas tem mais de 65 anos de idade.
Nos países classificados pela ONU como “emergentes”, caso do Brasil, a situação também é
preocupante. Nesses países, embora o índice de crescimento populacional venha diminuindo (e,
consequentemente, o número de jovens), o índice da população idosa vem aumentando.

Envelhecimento Populacional e Previdência Social


A questão da previdência social pode, segundo alguns economistas – sobretudo os de orientação
neoliberal -, acarretar consequências negativas para os orçamentos dos governos e ter repercussões
também ruins no mercado financeiro mundial quando o número da população idosa for bem superior ao
de contribuintes inseridos no mercado de trabalho. Esse problema ameaça tanto os países desenvolvidos
quanto os subdesenvolvidos, nos quais é ainda mais grave. É o que ocorreu com o Brasil no começo
deste século. Os países desenvolvidos enriqueceram e depois “envelheceram”, mas alguns países
subdesenvolvidos estão “envelhecendo” antes de enriquecerem.
Se, por um lado, a elevação da expectativa de vida prolongou o tempo de recebimento dos benefícios
da aposentadoria, por outro lado, a redução da fecundidade provocará, a médio e longo prazos, a
diminuição do número de contribuintes ao sistema previdenciário.

Distribuição da População por Sexo


Há pouco mais de um século havia equilíbrio entre o número de homens e o de mulheres na
composição da população mundial.
Porém, desde o final do século XIX, os recenseamentos vêm acusando um aumento progressivo no
número de mulheres.
Ocorre que até o século XIX as principais causas de mortalidade eram as doenças infectocontagiosas,
que atingiam proporcionalmente homens e mulheres.
A partir do século XX, gradativamente, aumenta o número de mortes resultantes de doenças
cardiovasculares, que afetam especialmente os homens.
Assim, há um número um pouco maior de mulheres na faixa etária dos idosos.
Naquela época, o IBGE registrou uma expectativa de média de vida de 71 anos, no Brasil.
Para os homens era de 67,3 anos, enquanto a das mulheres chegava a 74,9.
Atualmente, a média está entre 75,2 anos, no geral.
No caso brasileiro influi significativamente o fato de que os homens são as principais vítimas da
violência.
Os homicídios e acidentes atingem principalmente os homens na faixa de idade entre 15 e 35 anos.
A alteração do papel da mulher na sociedade, ao mesmo tempo que representa uma conquista, tem
elevado a taxa de estresse da população feminina.
São comuns, também, os casos em que mulheres separadas são obrigadas a assumir sozinhas a
responsabilidade de cuidar dos filhos e garantir os custos de subsistência e de formação.
Os países ou regiões que atraem imigrantes apresentam um predomínio da população masculina.
Ocorre o contrário nos países ou regiões de emigração, onde há predomínio de mulheres.
No caso brasileiro, esse fator manifesta-se por um número superior de população feminina e mesmo
de mulheres “chefes de família” na região Nordeste, devido à emigração da população masculina para
outras regiões.

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ASPECTOS DA POPULAÇÃO BRASILEIRA2

A população do Brasil foi formada após a ocupação portuguesa, principalmente de povos nativos ou
indígenas, africanos e europeus. Nesse período, a maior parte dos africanos tinha origem etnolinguística
banto e ioruba, enquanto os europeus eram oriundos especialmente de Portugal, mas, em menor número,
também da França, dos Países Baixos, do Reino Unido, entre outros.
Desde meados do século XIX até os dias atuais, a população brasileira teve influência de variados
povos que imigraram em épocas diferentes para o país em busca de melhores condições de vida. São
exemplos os europeus, como italianos, espanhóis, alemães e poloneses; os asiáticos vindos do Japão,
da Coreia do Sul e de países do Oriente Médio; os latino-americanos vindos principalmente da Bolívia,
do Chile e do Haiti; além dos africanos de distintas nacionalidades, como moçambicanos, guineenses,
angolanos e cabo-verdianos.

Primeiros Habitantes

A quantidade de indígenas que ocupava o que é hoje o território brasileiro antes da chegada dos
portugueses ainda não é consenso entre os pesquisadores. As etnias com maiores populações e que
ocupavam as maiores extensões territoriais eram a jê e a tupi-guarani.
É inquestionável, entretanto, que, de 1500 aos dias atuais, os indígenas sofreram intenso genocídio.
No passado, as causas principais foram as doenças trazidas pelos europeus, para as quais os nativos
não tinham imunidade, e os conflitos com os colonizadores. Havia ainda as guerras entre diferentes
nações indígenas, que se intensificavam quando alguns grupos fugiam das regiões ocupadas pelos
europeus em direção a terras de outros povos, ou quando alguns grupos se aliavam militarmente a
portugueses, franceses e holandeses para lutar contra nações inimigas. Muitos povos também sofreram
etnocídio3, pois passaram a adotar hábitos dos colonizadores, como falar outra língua, professar uma
nova religião e alterar o próprio modo de vida, como a vestimenta e a alimentação.
De acordo com a Funai e o Censo demográfico do IBGE, em 2010, a população de origem indígena
estava reduzida a 817 mil indivíduos (0,4% da população total do país), distribuídos entre 505 terras
indígenas e algumas áreas urbanas e concentrados principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste.
Essas estimativas revelaram também que há pelo menos 107 referências de grupos isolados, isto é, que
não estabeleceram contanto com a sociedade brasileira.
Somente a partir da metade do século passado verificou-se uma tendência de aumento desse
contingente, principalmente em razão da demarcação de terras indígenas que em 2018 ocupavam 12,5%
do território brasileiro.
A Constituição Federal assegura aos indígenas o direito à terra: “Art. 231. São reconhecidos aos índios
sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens”. Apesar disso, a invasão de terras indígenas é uma realidade que esses povos continuam
enfrentando até os dias atuais.
Em 2010, 39% dos indígenas viviam em áreas urbanas e 61%, na zona rural. A taxa de crescimento
da população indígena, de 3,5% ao ano, era bem superior à média da população não indígena, de 0,8%.
Entre as 305 etnias existentes no país, os Yanomami ocupavam a terra indígena mais populosa, com
25,7 mil habitantes, distribuídos entre os estados do Amazonas e de Roraima. A etnia ticuna (AM) é a
mais numerosa, com 46 mil pessoas distribuídas por várias terras esparsas, seguida dos Guarani Kaiowá
(MS), com 43 mil membros. Os grupos indígenas isolados não foram contabilizados no Censo 2010 em
razão da política de preservação cultural.

2
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.
3
Etnocídio é a destruição da cultura de um povo.

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Povos Indígenas: Condições de Vida

Brasil: Terras Indígenas 2017/2018

http://brasildebate.com.br/demarcacao-e-disputa-pelas-terras-indigenas/

A criação de parques e terras indígenas, onde ficam asseguradas as condições de vida em


comunidade dos povos nativos, constitui o reconhecimento do direito de existência de culturas distintas,
com valores e costumes próprios. O princípio que embasa a demarcação dessas terras é o fato de que
os indígenas foram os primeiros habitantes desse território.
Esse tipo de garantia é importante por causa da visão de mundo de diversas nações indígenas. A terra
é considerada a base do grupo por ser o lugar onde reproduzem a cultura, desenvolvem sua organização
social e jazem seus ancestrais.

Formação da População Brasileira

Desde o século XVI, início da colonização, os portugueses foram se fixando no Brasil. Entre 1532 e
1850, os africanos foram trazidos forçadamente para o território brasileiro. Depois de 1870, a imigração
de europeus, asiáticos e latino-americanos foi ampliada e, com isso, o país foi sendo povoado e novas
famílias se formaram. Os descendentes de todos esses povos compõem o povo brasileiro atual.

Como a População Brasileira se Identifica

Segundo o IBGE, o percentual de pessoas que se consideram brancas tem caído e o número das que
se consideram pretas caiu de 1950 a 1980 e voltou a aumentar em 2010. Já a auto identificação como
parda está crescendo desde a década de 1950. Isso pode indicar que o processo de aceitação e de
valorização da identificação afrodescendente da população brasileira tem se ampliado nas últimas
décadas.
Os dados levantados pelo IBGE refletem a forma como as pessoas se identificam. Nem sempre os
pardos se declararam como tal, havendo muitos que se declaravam como brancos. Além disso, o Censo
2010 foi o primeiro a oferecer a opção “indígena” como auto identificador. Existem ainda muitas pessoas
que, por particularidades culturais, não se identificam com nenhuma das cindo opções oferecidas para
enquadramento da resposta (branca, preta, amarela, parda e indígena).
A espécie humana é única, não existem raças. O conceito de raça (além do de cor, que seria expressão
fenotípica de um indivíduo), como aparece nas pesquisas e relatórios do IBGE, não tem embasamento
biológico; ele corresponde a uma construção social ao longo da história.

Imigração Internacional (Forçada e Livre)

Como a Coroa portuguesa não fazia registros oficiais do tráfico de pessoas escravizadas, não existem
dados precisos sobre o número de africanos que ingressaram no Brasil, quais foram os anos de maior
fluxo, por qual porto entraram e de que lugar da África vieram. Segundo estimativas, ingressaram no país
pelo menos 4 milhões de africanos entre 1550 e 1850, a maioria proveniente do golfo de Benin e das

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regiões que atualmente compreendem os territórios de Angola (ao sul do continente, costa ocidental) e
Moçambique (também ao sul, costa oriental).
A participação brasileira no total de escravizados por destino mundial é muito grande, o mesmo
ocorrendo com o Rio de Janeiro e São Paulo em relação à quantidade de escravizados para o Brasil.
Entre as correntes migratórias livres a mais importante foi a portuguesa, que se estendeu até os anos
1980 e voltou a acontecer depois da crise econômica mundial iniciada em 2008, com a vinda de
profissionais qualificados em busca de empego. Além de serem numericamente mais significativos, os
imigrantes portugueses espalharam-se por todo o território nacional.
Até 1883, a segunda maior corrente de imigrantes livres foi a italiana, que nessa época se dirigiu aos
cafezais do Sudeste; a terceira, a alemã, que se concentrou no Sul, em colônias; e a quarta, a espanhola,
que se dirigiu a várias cidades do Sudeste e Sul do país. A partir de 1850, a expansão dos cafezais pelo
Sudeste e a necessidade de efetiva colonização da região Sul levaram o governo brasileiro a criar
medidas de incentivo à vinda de imigrantes europeus para substituir a mão de obra escravizada. Algumas
das medidas adotadas e divulgadas na Europa foram o financiamento da passagem e a suposta garantia
de emprego, com moradia, alimentação e pagamento anual de salários.
Embora atraente, essa propaganda governamental revelou-se enganosa e escondia uma realidade
perversa: a escravidão por dívida. A saída do imigrante da fazenda somente seria permitida quando a
dívida fosse quitada. Como não tinha condições de pagar o que devia, ele ficava aprisionado no latifúndio,
vigiado por capangas. Essa prática, de escravidão por dívida, é comum até hoje em vários estados do
Brasil, sobretudo na região Norte.
Além dos cafezais da região Sudeste, outra grande área de atração de imigrantes europeus, com
destaque para portugueses, italianos e alemães, foi o Sul do país. Nessa região, os imigrantes ganhavam
a propriedade da terra, onde fundaram colônias de povoamento.
Os espanhóis não fundaram colônias; em vez disso espalharam-se pelos grandes centros urbanos de
todo o Centro-Sul brasileiro, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 1908, aportou em Santos a primeira embarcação trazendo colonos japoneses. O destino de quase
todos foram as lavouras de café do oeste do estado de São Paulo e do norte do Paraná; alguns se
instalaram no vale do Ribeira (SP) e ao redor de Belém (PA). Da década de 1980 até 2008/2009, porém,
alguns descendentes de japoneses passaram a fazer o caminho inverso de seus ancestrais, emigrando
em direção ao Japão como trabalhadores, e a ocupar postos de trabalho menos procurados por cidadãos
japoneses, geralmente em linhas de produção industrial. Essas pessoas são conhecidas como
decasséguis (do japonês deru, “sair”, e kasegu, “para trabalhar”). Com a crise econômica mundial que se
iniciou em 2008 e o aumento do desemprego no Japão, esse fluxo se estagnou, e muitos decasséguis
retornaram ao Brasil.
As correntes imigratórias de menor expressão numérica incluem judeus, espalhados pelo Brasil e
oriundos de diversos países, principalmente europeus; árabes, sírios e libaneses, também distribuídos
pelo país; chineses e coreanos, mais concentrados em São Paulo; eslavos, sobretudo poloneses, lituanos
e russos, mais concentrados em Curitiba e outras cidades paranaenses. Há também sul-americanos, com
argentinos, uruguaios, paraguaios, bolivianos, venezuelanos e chilenos, a maioria na Grande São Paulo;
e haitianos e pessoas de vários países africanos, com destaque para Angola, Cabo Verde e Nigéria.

Migração (Movimentos Internos)

Segundo dados do IBGE, em 2015, 38% dos habitantes do Brasil não eram naturais do município em
que moravam, e cerca de 15% deles não eram procedentes da unidade da federação em que viviam.
Esses dados revelam que predominam os movimentos migratórios dentro do estado de origem.
Atualmente há um crescimento dos fluxos urbano-urbano e intrametropolitano, isto é, aumenta o número
de pessoas que migram de uma cidade para outra no mesmo estado ou em determinada região
metropolitana em busca de melhores condições de vida. Analisando a história brasileira, percebemos
que, desde o século XVI, os movimentos migratórios estão associados a fatores econômicos. Quando o
ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste decaiu, por exemplo, se intensificou o do ouro em Minas Gerais, e
muitas pessoas foram atraídas para este estado. Esses grandes deslocamentos provocam um intenso
processo de urbanização na nova centralidade econômica do país.
Mais tarde, com o ciclo do café e o processo de industrialização, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro se
tornou o grande polo de atração de migrantes, que saíam da região de origem em busca de emprego ou
de melhores salários. Somente a partir da década de 1970, por causa do processo de desconcentração
da atividade industrial e da criação de políticas públicas de incentivo à ocupação das regiões Norte e
Centro-Oeste, a migração para o Sudeste começou a apresentar significativa queda.

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Se determinada região do país começa a receber investimentos produtivos, públicos ou privados, que
aumentam a oferta de emprego, em pouco tempo ela se torna polo de atração de pessoas. É o que
acontece atualmente com os municípios de médio porte em vária regiões do país.
Municípios médios e grandes do interior do Estado de São Paulo, como Campinas, Ribeirão Preto,
São José dos Campos, Sorocaba e São José do Rio Preto, e alguns menores apresentam índices de
crescimento econômico maiores do que os da capital, o que gera atração populacional. Isso de deve ao
desenvolvimento dos sistemas de transporte, energia e telecomunicações.

Emigração

Os movimentos de população sempre estão associados a fatores de repulsão e de atração e, muitas


vezes, os emigrantes saem contrariados de seu país de origem. A partir da década de 1980, o fluxo
imigratório do Brasil começou a se tornar negativo, ou seja, o número de emigrantes tornou-se maior do
que o de imigrantes.
Do início da década de 1980 até a crise mundial que começou em 2008, muitos brasileiros se mudaram
para Estados Unidos, Japão e países da Europa (sobretudo Portugal, Reino Unido, Espanha e França),
entre outros destinos, em busca de melhores condições de vida. Os principais motivos para a evasão
eram os salários muito baixos pagos no Brasil, comparados aos desses países, e os índices elevados de
desemprego e subemprego no país.
Enquanto perdurou a crise econômica mundial iniciada em 2008, o Brasil passou a receber muitos
imigrantes de países latino-americanos, com destaque para a Bolívia, Peru e Paraguai. Além disso, muitos
brasileiros que moravam no exterior voltaram para o país. Dessa forma, naqueles anos, o Brasil deixou
de ser um país onde predominava a emigração e passou a receber imigrantes em maior número, mesmo
durante o período recessivo entre 2014 e 2017 e a crise econômica que se seguiu a ele.
Há também um grande número de brasileiros estabelecidos no Paraguai, quase todos produtores
rurais que para ali se dirigiram em busca de terras baratas e de uma carga tributária menor do que a
brasileira.

Aspectos da População Brasileira

Nas últimas décadas o Brasil vem passando por significativas mudanças estruturais em sua
composição demográfica, com uma tendência ao envelhecimento populacional. Isso ocorre, sobretudo,
em razão da redução da taxa de fecundidade e do aumento da expectativa de vida. Essas transformações
que provocam grandes impactos na sociedade e economia.

Crescimento Vegetativo da População Brasileira

A sociedade brasileira vem passando por expressivas mudanças em seu perfil demográfico. Até a
década de 1990, as taxas de fecundidade eram altas, o que contribuía para que a maior parte da
população brasileira fosse jovem. Nos últimos anos, a quantidade de filhos por mulher diminuiu de forma
expressiva gerando reflexos diretos no crescimento populacional.
Segundo os Indicadores de desenvolvimento sustentável 2017 do IBGE, em 2016 a taxa de
fecundidade da mulher brasileira era de 1,7%, inferior aos 2,1% considerados pela ONU como nível de
reposição. Essa é a média de filhos por mulher necessária para manter a população estável.
Essa redução do número de filhos por mulher é consequência de uma série de fatores, como
urbanização, desenvolvimento de métodos contraceptivos, melhoria de índices de educação, adoção de
políticas públicas visando o planejamento familiar, maior ingresso das mulheres no mercado de trabalho,
e mudanças nos valores socioculturais, com destaque para a emancipação feminina.
Entre 1950 e 1980, a população brasileira cresceu em média 2,8% ao ano, índice que projetava sua
duplicação a cada 25 anos. Já de 2010 para 2015, o crescimento populacional caiu para 0,8% ao ano, e
a projeção para a população duplicar aumentou para 87 anos.
Da década de 1940 para a de 2010, o número médio de filhos por mulher diminuiu de 6,2 para 1,8.
Paralelamente à redução acentuada da natalidade, a esperança de vida ao nascer tem aumentado.
Esse aumento se dá em razão da melhoria das condições de vida da população e dos avanços na área
da medicina e da saúde pública. Assim, por causa desse movimento paralelo, o Brasil encontra-se em
um período de transição demográfica, que se intensificou a partir dos anos 1980.
O número de crianças no total da população brasileira tem diminuído, enquanto o de jovens, adultos e
idosos tem aumentado, em consequência da redução da fecundidade e do aumento da esperança de

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vida. Nas próximas décadas, o número de idosos continuará crescendo, enquanto o de crianças e jovens
cairá.
Essas alterações na composição etária da população indicam que o Brasil ingressou num período
especial conhecido como janela ou bônus demográfico.
Ele ocorre quando há predomínio de adultos no conjunto total da população em relação a crianças (0
a 14 anos) e idosos (65 anos ou mais). Isso aumenta o número de pessoas em idade produtiva e diminui
a quantidade de dependentes, favorecendo o desenvolvimento econômico.
Entretanto, o país não está aproveitando esse período de bônus demográfico de forma eficiente.
Setores de saúde pública e educação básica, por exemplo, que poderiam criar condições estruturais
melhores para o crescimento econômico, recebem poucos investimentos. O mesmo ocorre em setores
de infraestrutura, como o de transportes. Estima-se que o percentual de brasileiros em idade produtiva
deva aumentar até por volta de 2020 e depois comece a diminuir.
O crescimento vegetativo no Brasil vem diminuindo, especialmente por causa do menor número de
nascimentos. Em termos percentuais, a taxa de mortalidade brasileira já atingiu um patamar equivalente
ao de países desenvolvidos, próximo a 6‰. Isso significa que seis habitantes morrem a cada grupo de
mil ao ano. Segundo as projeções, a partir de 2042 a população brasileira deverá parar de crescer e
passará a sofrer redução, porque o número de óbitos provavelmente será maior do que o de nascimentos.
Conhecer essas mudanças no comportamento demográfico possibilita aos governos estabelecer
planos de investimentos em áreas essenciais, como educação, saúde e previdência social, adequados
ao perfil populacional. Por exemplo, saber que a população idosa vai aumentar expressivamente em
relação à PEA leva à necessidade de o governo monitorar as regras da previdência social, uma vez que
haverá menos trabalhadores contribuindo e um número maior de pessoas utilizando o sistema
previdenciário (aposentados e pensionista). Além disso, o crescimento da população com idade acima de
60 anos exige, cada vez mais, maiores investimentos no sistema de saúde, pois em geral os idosos
requerem mais cuidados médicos.

Esperança de Vida e Mortalidade Infantil


A esperança de vida ao nascer e a taxa de mortalidade infantil são importantes indicadores da
qualidade de vida da população de um país. Essas taxas podem revelar como está a qualidade do ensino,
do saneamento básico e dos serviços de saúde, como campanhas de vacinação, atenção ao pré-natal,
aleitamento materno e nutrição, entre outros.

Brasil: Esperança de Vida ao Nascer - 2016


Regiões Total (em anos)
Norte 72,2
Nordeste 73,1
Sudeste 77,5
Sul 77,8
Centro-Oeste 75,1
Brasil 75,7

É importante observar que, no Brasil, os contrastes regionais são muito acentuados. Em 2016, na
região Sul, a expectativa de vida ao nascer era 4,7 anos maior do que na região Nordeste. Embora tenha
caído de 115% para 13% entre 1970 e 2016, a mortalidade infantil no Brasil ainda é alta se comparada
com a de outros países com nível de desenvolvimento semelhante. Segundo o Banco Mundial, em 2015,
na Argentina essa taxa era de 11% e no Chile, 7%. Com relação aos países desenvolvidos, a distância é
ainda maior: Luxemburgo e Japão, 2%. Nesses países, os fatores da mortalidade infantil independem de
políticas de infraestrutura social; já no caso do Brasil, o percentual de mortes associadas à carência de
serviços públicos essenciais ainda é elevado.
Apesar da grande queda no índice de mortalidade infantil nas regiões Nordeste e Norte, elas continuam
a apresentar as maiores taxas do país.
Os avanços nos serviços públicos de saúde contribuíram para a diminuição da mortalidade infantil. Um
exemplo disso é a campanha de vacinação contra a poliomielite.

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Estrutura da População Brasileira

O aumento da esperança de vida da população brasileira ao nascer e a queda das taxas de natalidade
e mortalidade vêm provocando mudanças na pirâmide etária. Está ocorrendo um significativo
estreitamento em sua base, que corresponde aos mais jovens, e o alargamento do meio para o topo, por
causa do aumento da participação percentual de adultos e idosos.
Quanto à distribuição da população brasileira por gênero, o país se enquadra nos padrões mundiais,
nascem cerca de 105 homens para cada 100 mulheres. No entanto, a taxa de mortalidade infantil e juvenil
masculina é mais elevada, e a expectativa de vida dos homens é mais baixa do que das mulheres.
Em razão disso, é comum as pirâmides etárias apresentarem uma parcela ligeiramente maior de
população feminina. Segundo o IBGE, em 2015, o Brasil tinha 99,4 milhões de homens (48,5%) e 105,5
milhões de mulheres (51,5%).

Mortalidade de Jovens e Adultos


Um aspecto demográfico da população brasileira que se torna cada vez mais preocupante é o aumento
das mortes de adolescentes e adultos jovens do sexo masculino por causas violentas, como assassinatos
e acidentes automobilísticos decorrentes de excesso de velocidade, imprudência ou uso de drogas. Isso
provoca impactos na distribuição etária da população e na proporção entre os sexos, além de trazer
implicações socioeconômicas, com a diminuição da qualidade de vida da população em geral (em
decorrência da insegurança generalizada) e o aumento de gastos com prevenção e coibição da violência,
vigilância à venda de drogas, entre outros.
Segundo o IBGE, se não ocorressem mortes prematuras da população masculina, a esperança de
vida média dos brasileiros seria maior em dois ou três anos. O predomínio de mulheres na população
total vem aumentado. Em 2000, havia 98,7 homens para cada grupo de 100 mulheres. Em 2010, esse
índice reduziu para 97,9 homens para cada grupo de 100 mulheres.

PEA4 e Distribuição de Renda no Brasil

Relativo à distribuição da população economicamente ativa no Brasil em 2015, observou-se que 13,9%
da PEA trabalha na agropecuária. Embora esse número venha diminuindo em razão da modernização e
da mecanização do campo em algumas localidades, as atividades agrícolas também são praticadas de
forma tradicional e ocupam significativa mão de obra nas regiões mais pobres do país.
O setor industrial brasileiro, incluindo a construção civil, absorve 21,6% da PEA, número comparável
ao de países desenvolvidos. Após a abertura econômica, iniciada na década de 1990, o parque industrial
brasileiro se modernizou e algumas empresas ganharam projeção internacional.
O setor terciário, embora ocupe mais da metade da PEA no Brasil, apresenta os maiores níveis de
subemprego, uma vez que muitos dos trabalhadores exercem atividades informais, sem garantia de
direitos trabalhistas, além de não contribuírem para a previdência social.
No Brasil, 64,5% da PEA exercem atividades terciárias, somando-se serviços, comércio e manutenção.
No setor formal de serviços (como escolas, hospitais, repartições públicas, transportes, etc.), as
condições de trabalho e o nível de renda são muito variáveis: há instituições avançadas administrativa e
tecnologicamente, ao lado de outras bastante tradicionais. Por exemplo, ao compararmos o ensino
oferecido em escolas públicas, percebemos diferenças significativas de qualidade entre as unidades.
Essa discrepância ocorre também no setor da saúde.
O comércio ambulante é uma atividade informal, pois não são recolhidos impostos e os trabalhadores
não usufruem de direitos trabalhistas.

Participação das Mulheres


Quanto à composição da PEA por gênero, é possível notar certa desproporção: em 2015, 43% dos
trabalhadores eram do sexo feminino. Nos países desenvolvidos, essa participação é mais igualitária,
com índices próximos aos 50%.
O aumento da participação feminina na PEA ganhou impulso com os movimentos feministas a partir
da década de 1970, que passaram a reivindicar igualdade de gênero no mercado de trabalho, nas
atividades políticas e em outras esferas da vida social. Além disso, muitas mulheres passaram a prover
o sustento da família, inserindo-se cada vez mais no mercado de trabalho formal.
O percentual de mulheres que são empregadas com baixa remuneração é mais alto do que o de
homens.

4
PEA refere-se à população economicamente ativa.

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Apesar de, no Brasil, as mulheres apresentarem médias mais elevadas de anos de estudo em relação
aos homens, ainda hoje muitas vezes elas recebem salários menores. Em 2015, as trabalhadoras
recebiam, em média, 76,1% dos rendimentos dos trabalhadores do sexo masculino. Além disso, há
predominância feminina em empregos de menor qualificação e salários mais baixos, como o trabalho
doméstico e a operação de telemarketing.
Nas sociedades em que a democracia está mais consolidada, e a cidadania, mais desenvolvida, existe
maior igualdade de oportunidades de trabalho entre homens e mulheres. A redução da discriminação por
gênero é um importante fator de combate à pobreza.

Participação dos Afrodescendentes


Para a avaliação do nível de desenvolvimento de um país, não basta considerar o crescimento
econômico. É fundamental ponderar também como se dá a distribuição das riquezas entre sua população.
Segundo o IBGE, em 2015, as pessoas que se declaravam pretas ou pardas recebiam cerca de 59%
a menos do que aquelas que se classificavam como brancas, revelando uma grave distinção social entre
grupos de cor ou raça no país, além da falta de equidade entre gênero.
Embora as desigualdades entre gêneros e entre cor ou raça tenham sido reduzidas desde a década
de 1970, elas ainda são muito acentuadas, e combatê-las é uma das ações fundamentais para diminuir
a pobreza no país.
A diferença na taxa de frequência escolar dos adolescentes brancos e pretos ou pardos caiu cerca de
6,4% para 3,1% entre 2004 e 2015. E a melhora do índice foi crescente para todas as cores ou raças da
população brasileira.

IDH do Brasil

Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2016, publicado pelo Pnud em 2015, o Brasil
possuía um índice de Desenvolvimento Humano elevado, ocupando a 79ª posição mundial. O país
mantém o nível elevado de desenvolvimento humano desde 2005.
Das três variáveis consideradas no cálculo do IDH (educação, renda e longevidade), a que apresentou
maior contribuição para a melhora do índice brasileiro, nas últimas décadas, foi a educação. Em
contrapartida, a renda foi a variável que menos contribuiu nesse período. No item longevidade, que
permite avaliar as condições gerais de saúde da população, os avanços também foram bastante
significativos.
Apesar de ter apresentado o maior avanço nas últimas décadas, o índice de educação é o mais baixo
dos três, o único que se localiza abaixo de 0,700%. Em 2010, era de 0,637%, na faixa de médio
desenvolvimento humano.

Avanços na Educação
De acordo com os dados do Relatório de Desenvolvimento Humano 2016 em comparação aos dados
de 1990, observa-se que:
→ Entre 1990 e 2015, a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais de idade aumentou
de 82% para 92,6%;
→ No mesmo período, a esperança de vida ao nascer cresceu de 67,6 para 77,5 anos;
→ A renda per capita subiu de US$ (PPC) 7349 para US$ (PPC) 14145;
→ De 1990 a 2015, a taxa de matrícula no Ensino Fundamental de crianças entre 7 e 14 anos
aumentou de 86% para 98%.

Distribuição espacial da população paranaense:

A população do Paraná cresceu 6,9% em cinco anos. Segundo a estimativa populacional, publicada
em Agosto de 2015, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Diário Oficial da União.
O estado é o sexto mais populoso do Brasil com 11,1 milhões de moradores, 5,5% da população
brasileira. No Censo de 2010, o estado já ocupava a mesma posição e tinha 10,4 milhões de habitantes.
A Região Metropolitana de Curitiba (RMC) é a nona mais populosa com 3,5 milhões de pessoas. A
Região Metropolitana de Londrina é a 26.ª, com um pouco mais de 1 milhão de moradores. Ao todo, as
26 regiões metropolitanas com população superior a 1 milhão de habitantes somam 93,2 milhões de
habitantes, representando 45,6% da população total.
O crescimento estadual é um pouco abaixo da média nacional, que foi de 7,1% no mesmo período –
passando de 190,7 milhões para 204,4 milhões de habitantes. O levantamento do IBGE estimou a
população dos 5.570 municípios brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2015.

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Para o diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes),
Julio Suzuki, o crescimento estadual era esperado, pois o Paraná está em um processo de consolidação
demográfica. “O fluxo migratório no estado não é mais tão intenso, o que leva a um crescimento
populacional médio de 0,8% ao ano. A tendência é que dentro de alguns anos o crescimento entre em
estagnação e depois, pelas décadas de 2030 e 2040, seja registrado redução do número de habitantes”,
afirma.
Segundo Suzuki, o principal fator para esse fenômeno é o gradual envelhecimento da população. “A
tendência é que a população passe a ser mais velha e em menor número”, completa. Segundo projeções
do IBGE, a população idosa no Paraná deve corresponder a quase 14% do total – atualmente
corresponde a 7,9%.
A cidade mais populosa do Paraná continua sendo Curitiba com 1,8 milhão de moradores. A capital do
estado registrou um crescimento populacional de 7%, comparada com o Censo de 2010 e segue no posto
de 8.ª cidade com mais habitantes no Brasil. Sukuzi ressalta que o município também tende a registrar
uma queda populacional nos próximos anos. “As razões são as mesmas. Há fluxo migratório menos
intenso e o envelhecimento da população”, diz o diretor-presidente do Ipardes.

Projeção da população total dos municípios do paraná para o período 2016-2030:


A projeção da população dos municípios do Paraná disponibilizada pelo IPARDES em sua base de
dados (BDEweb) utilizou um método matemático que leva em conta a tendência passada das
participações relativas das pequenas áreas (municípios) na área maior (Estado), projetando-as na
hipótese de um comportamento logístico. Esse método requer que já se disponha de resultados de
projeção para a área maior, cobrindo o horizonte temporal pretendido. Nesse caso, o IPARDES adotou
as projeções de população para o Paraná, produzidas pelo IBGE (versão 2013), e considerou o horizonte
de 2016 a 2030.
Os resultados apontam uma população de 11,5 milhões de habitantes para o Estado, em 2020, e 12
milhões em 2030. Com isso, a taxa anual de crescimento para o decênio 2010-2020 alcança 0,74% ao
ano e, no decênio seguinte, 0,43% a.a. Essa tendência de decréscimo no ritmo de incremento
demográfico do Paraná vem ocorrendo desde o início dos anos 2000 e reflete, em grande medida, a
redução da fecundidade e, em segundo plano, um saldo migratório negativo nas trocas interestaduais,
ainda que em patamares bem próximos de zero.
As previsões para os municípios apontam um expressivo aumento das áreas que deverão
experimentar decréscimos populacionais ano a ano. No decênio 2000-2010, 155 municípios
apresentaram taxas negativas de crescimento demográfico e, para 2020-2030, a expectativa é de que
esse número seja da ordem de 240 municípios. Por outro lado, cresce o número de municipalidades com
tendência a experimentar ritmos de incremento populacional superior ao dobro da taxa média estadual:
de 25, na década 2000- 2010, para 43, entre 2020 e 2030. Esses resultados sinalizam um avanço do
processo de concentração da população paranaense.
Essa tendência de concentração manifesta-se em duas dimensões. Em primeiro lugar, observa-se um
reforço do quadro de concentração da população nos municípios de maior tamanho. Se em 2000 o Paraná
contava com doze municípios com mais de 100 mil habitantes, a perspectiva é de que em 2030 existam
23 municípios desse porte – Almirante Tamandaré, Apucarana, Arapongas, Araucária, Cambé, Campo
Largo, Cascavel, Colombo, Curitiba, Fazenda Rio Grande, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Guarapuava,
Londrina, Maringá, Paranaguá, Pinhais, Piraquara, Ponta Grossa, São José dos Pinhais, Sarandi, Toledo
e Umuarama.
Em segundo lugar, permanece o movimento de concentração em áreas já adensadas, fortalecendo a
conformação de grandes aglomerados urbanos. Dos 23 municípios na faixa de 100 mil ou mais habitantes
em 2030, 13 localizam-se nos três principais arranjos populacionais do Estado – Curitiba, Londrina e
Maringá. Em 2030, nestes arranjos residirão 44,2% da população do Estado, participação que era de
38,6% em 2000. Nos 31 municípios que os compõem residirão 5,3 milhões de pessoas, das quais quase
três quartos na Aglomeração Metropolitana de Curitiba. No restante do Estado, eleva-se também a
proporção de pessoas residindo em municípios com mais de 100 mil habitantes: de 12,2% em 2000, para
16,6% do total estadual em 2030.
As principais áreas de esvaziamento continuam sendo as porções do território localizadas no Norte
Pioneiro, na ampla região centro-sul e no Vale do Ribeira. De modo geral, os municípios que atualmente
ainda apresentam proporções mais elevadas de população rural tendem a manter perdas nos próximos
períodos, embora diversos municípios já venham perdendo população urbana há vários anos.
Embora claramente delineadas as tendências de concentração espacial da população, é importante
considerar, sob a ótica do planejamento e da implementação das políticas públicas, que cerca de 20% da
população do Estado, em 2030, ainda residirá nos municípios de menor porte (até 20 mil habitantes)

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localizados fora dos principais arranjos populacionais do Estado. Em termos de estoque, serão
aproximadamente 2,3 milhões de pessoas distribuídas por quase 300 municípios5.

Questões

01. (AFAP – Assistente Administrativo – FCC/2019) Criado pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (Pnud), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é atualizado anualmente, visando
permitir o conhecimento sobre as condições de vida das nações avaliadas. Este índice possui uma
variação de 0 até 1, sendo que quanto mais próximo for de 1 a avaliação do país, melhor classificado ele
será no IDH, ou seja, melhores condições de vida aquela população terá.
Analise o IDH do Brasil mostrado na tabela abaixo.

Os dados apresentados e os conhecimentos sobre o contexto socioeconômico brasileiro indicam


(A) os elevados déficits em setores de importância socioeconômica, como é o caso da Previdência.
(B) que, atualmente, o país tem apresentado significativa redução das desigualdades sociais.
(C) que as condições de vida da população brasileira tiveram reduzida evolução.
(D) o esforço do governo para manter políticas públicas destinadas às crianças e jovens.
(E) a posição do Brasil como o país de maior IDH da América do Sul, superando a Argentina.

02. (ABIN – Oficial de Inteligência – CESPE/2018) Acerca dos movimentos migratórios internos, da
estrutura etária da população brasileira e da evolução de seu crescimento no século XX, julgue o item a
seguir.
A dinâmica da estrutura etária da população brasileira tende ao equilíbrio quanto à quantidade de
crianças, jovens, adultos e idosos: a população de idosos com maior expectativa de vida cresce tanto
quanto a população em idade infantil e jovem.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.C / 02.Errado

Comentários

01. Resposta: C
Apesar de ter apresentado o maior avanço nas últimas décadas, o índice de educação é o mais baixo
dos três, o único que se localiza abaixo de 0,700%. Em 2010, era de 0,637%, na faixa de médio
desenvolvimento humano.

02. Resposta: Errado


Nas próximas décadas, o número de idosos continuará crescendo, enquanto o de crianças e jovens
cairá

5
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/populacao-do-parana-aumenta-69-em-cinco-anos-estima-ibge-2dbj03pdvdfihgqbd6ffm3epn.
http://www.ipardes.pr.gov.br/pdf/indices/projecao_populacao_Parana_2016_2030_set.pdf.

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1.3. Transformação das relações de trabalho e economia informal. 1.4.
Diversidade étnica e cultural da população. 1.5. Geografias das diferenças:
questões de gênero, sexualidade e étnico-raciais. 1.6. Espacialidades e
identidades territoriais

O MUNDO DO TRABALHO6

As Novas Relações de Trabalho – Profissões e Inovações Tecnológicas

Vivemos o período pós-fordista. As relações de são agora "flexíveis". O que significa isso?
O modelo atual exige que os funcionários disponham do seu tempo de acordo com as necessidades
da empresa. Dessa forma, em períodos de grande demanda, os horários serão ampliados e, em períodos
de menor produção, as jornadas serão reduzidas, sem que essa dinâmica implique perdas ou ganhos
salariais.
Os funcionários integram-se à empresa, numa relação de responsabilidade com a produção e os
prazos. A satisfação dos clientes garante a manutenção dos seus empregos.
A flexibilização também se estende para as contratações. Com a anuência do Estado e com o
enfraquecimento dos sindicatos, os contratos de trabalho não obedecem mais às leis trabalhistas.
Segundo os neoliberais, desonerar as empresas de encargos trabalhistas traz benefícios a todos. Mas
quem são todos?
O empregado fica sem nenhuma estabilidade e garantia legal, mas os preços não estão baixando em
decorrência disso. Ao contrário, com o monopólio de mercado, a lei da oferta e da procura é coisa do
passado.
Novamente, observa-se que a flexibilização atende somente aos interesses de maior acumulação de
capital por parte dos grupos empresariais em detrimento da qualidade de vida e bem-estar dos
trabalhadores. E ainda assim, grande parte da população mundial pleiteia esses empregos, porque não
há outra perspectiva, apenas o desemprego e a diminuição das políticas públicas de amparo aos
desempregados.
O método de produção atualmente empregado chama-se toyotismo devido à empresa que o criou e
colocou em prática - a japonesa Toyota.
Para desenvolver um produto dentro do prazo prometido ao cliente, a empresa é obrigada a contar
com a pontualidade dos fornecedores e com a flexibilização dos seus funcionários. Estes são altamente
capacitados e suprem qualquer ausência de um colega; eles têm a noção completa da produção e não
apenas de um segmento do produto.
Com a expansão da rede mundial de computadores, muitas vezes não é preciso nem mesmo se fazer
um novo pedido. À medida que um produto é vendido numa loja, por exemplo, a empresa fornecedora
recebe um relatório e entende que precisa fabricar um novo produto para suprir o que foi comercializado.
Dentro de uma linha de produção, esse sistema é chamado de kanban, palavra japonesa que significa
cartão.
Através desse método, um kanban é criado com a descrição de um determinado número de peças
produzidas. A produção e o kanban são enviados para o próximo setor de montagem. Quando todas as
peças forem utilizadas, o kanban volta para o seu local de origem, indicando que há necessidade de
confecção de novas peças.
Esse sistema evita que determinados componentes sejam fabricados em demasia, o que, por sua vez,
regula os fluxos de estoque.
A tecnologia permite que o cartão kanban seja substituído por controles virtuais. Dentro de uma
empresa de montagem de automóveis, por exemplo, o esquema kanban funciona eletronicamente.

Áreas Industriais e Empregos

Até as primeiras décadas do século XX, os imigrantes saíam da Europa Ocidental em busca de
melhores condições de vida na América, África e Ásia. Aos europeus desprovidos de bens, restava a
emigração, muitas vezes incentivada pelos seus governos como forma de diminuir as tensões sociais da
época.
Esse movimento é considerado como o primeiro grande fluxo migratório da Era Moderna e aconteceu
aproximadamente entre os anos de 1870 a 1920.
6
MARTINI, Alice de. Geografia. /Alice de Martini; Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013. PNLD – 2015 a 2017 – FNDE – Ministério da
Educação.

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Posteriormente, entre a Segunda Grande Guerra e o início dos anos 1970, uma nova onda de
migrações se instalou no mundo, ligada ao trabalho. Os países europeus incentivaram as imigrações
objetivando o preenchimento de vagas de menor qualificação, que não eram ocupadas pelas populações
nativas.
Predominantemente, eram imigrantes que se deslocavam de colônias ou ex-colônias de cada país da
Europa. Tais movimentos se deram em um contexto em que a economia nos países centrais do
capitalismo estava mais estável e existia a presença de um "Estado de Bem-Estar" para uma parte da
população nativa.
Vejamos a seguir alguns exemplos de áreas economicamente importantes e a relação com a mão de
obra empregada.

Vale do Ruhr - Alemanha


As regiões industriais tradicionalmente atraem trabalhadores de diversas regiões e países. À medida
que a política do Welfare State era introduzida nos países desenvolvidos, a política do pleno emprego e
as condições de vida satisfatórias despertaram o interesse de trabalhadores de áreas mais pobres.
A perspectiva de melhoria de vida atraiu multidões, aumentando a oferta de mão de obra e reduzindo
os salários. Uma das regiões europeias da indústria pesada tradicional é o Vale do Ruhr, na Alemanha.
O Vale do Ruhr agrega mineradoras, siderúrgicas, metalúrgicas e indústrias químicas. Diversos
trabalhos braçais mal remunerados eram executados por imigrantes, sobretudo turcos.
A antiga Alemanha Ocidental mantinha uma relação diplomática muito próxima com a Turquia,
facilitando a imigração. Os imigrantes exerciam funções que os alemães não desejavam. Na década de
1980, noticiou-se que, em muitas funções, os trabalhadores imigrantes eram submetidos a situações que
colocavam em risco a sua saúde e a sua vida, como inalação de produtos e resíduos químicos, contato
com substâncias nocivas e até radioatividade em usinas nucleares.

Grandes Lagos - EUA


O Nordeste dos EUA, também conhecido como manufacturing belt, é a mais tradicional área industrial
daquele país. A união do carvão dos Montes Apalaches com o ferro dos Grandes Lagos possibilitou a
formação de uma importante indústria pesada. A mão de obra imigrante, sobretudo da Europa, nos
séculos XVIII e XIX, foi decisiva para o crescimento e desenvolvimento dos EUA.
Os dizeres presentes na Estátua da Liberdade nos reportam àquela época: “Dê-me seus exaustos,
seus pobres; suas massas desordenadas ansiando por respirarem livres ... eu erguerei minha lâmpada
ao lado da porta de ouro”.
Com a consolidação do Nordeste como a principal área econômica dos EUA, as relações de trabalho
também foram se aprimorando na medida em que as leis trabalhistas se aperfeiçoavam e os sindicatos
ficaram mais atuantes.
No século XX, buscando uma nova geografia de expansão econômica, os EUA se voltam também para
a Ásia, a princípio estreitando relações com o Japão e os Tigres Asiáticos e, mais tarde, com a China. A
costa do Pacífico ganha atenção como área de entrada e saída de produtos para o Oriente, fato que se
traduziu no desenvolvimento de um novo parque industrial na Califórnia, o Vale do Silício, especializado
na indústria da informática, de última geração.
As vantagens da costa oeste não paravam aí. Com sindicatos menos atuantes e mão de obra mais
barata, não tardou para que conglomerados do Nordeste se transferissem para lá.
O número estimado de imigrantes nos EUA é de 12 milhões, a maior parte de latino-americanos ilegais.
A fronteira do México com os EUA, particularmente com a Califórnia, é uma das principais rotas de acesso
ilegal aos EUA.
A cidade mexicana de Tijuana encontra-se junto à fronteira, facilitando a passagem para os EUA. Nem
mesmo os desertos, as cercas e o muro ali existente têm conseguido evitar a entrada de milhares de
pessoas aos EUA todos os anos. Os imigrantes anseiam por perspectivas de trabalho, ainda que em
situações precárias.

Austrália
A Austrália é o mais importante país da Oceania, não apenas pela vantagem territorial, mas pelo
desenvolvimento econômico e social.
Embora cerca de 50% do país, a porção oeste, seja ocupado por desertos, a parte leste apresenta um
crescimento contínuo.
Os ramos industriais de destaque são o alimentício, o têxtil, a mineração, a siderurgia, a química e
uma ampla oferta de serviços e comércio.

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Ocupa papel de destaque em IDH e na boa qualidade de vida da população. Esse perfil
socioeconômico atrai trabalhadores de países subdesenvolvidos como Filipinas, Indonésia e mesmo
Vietnã.
Nos últimos anos, o governo australiano tem demonstrado preocupação com o fluxo crescente de
imigrantes clandestinos que se utilizam de embarcações simples para chegar à Austrália.
Em 2005, foi veiculada uma propaganda que alertava para o risco que esses imigrantes corriam ao
tentar, inadvertidamente, alcançar a costa australiana. Segundo ela, diversos imigrantes haviam sido
atacados pelos crocodilos que habitam a costa nordeste e leste. A finalidade disso era exatamente de
intimidar futuras incursões ilegais.

França
A França, outra potência econômica da Europa, possui vários centros econômicos importantes, mas a
capital, Paris, é o maior e o mais dinâmico.
Paris é um centro multicultural. Pela sua condição socioeconômica, atrai pessoas do próprio país, do
Leste Europeu e das ex-colônias francesas na África em busca de trabalho.
Esse movimento populacional contínuo gerou uma estratificação social que também tem origem étnica.
Existem os franceses, os franceses descendentes de imigrantes, os imigrantes legais e ilegais.
A hierarquia social se consolidou pelas oportunidades oferecidas de maneira desigual. Os subúrbios
parisienses contrastam com o "glamour” da área central e turística. Lá, a infraestrutura é precária. Milhares
de famílias vivem à margem do progresso e da Política do Bem-Estar Social, em sua maioria de imigrantes
ou de filhos de imigrantes.
Entre outubro e novembro de 2005, a França viveu uma onda de violência civil. O incidente envolveu
os jovens do subúrbio que são filhos, netos e bisnetos de imigrantes, grande parte de origem africana,
mais precisamente das antigas colônias francesas naquele continente.
Os jovens incendiaram cerca de 9 mil automóveis em 20 dias. Os policiais, mais de 10 mil, não
conseguiam manter a ordem porque as ações ocorriam em vários pontos ao mesmo tempo.
O episódio que desencadeou essas ações foi a morte de dois jovens, filhos de imigrantes que, ao
tentarem fugir da polícia, esconderam-se em uma estação de energia elétrica e morreram eletrocutados.
A violência não foi encarada como um fato específico e isolado. Os distúrbios dos subúrbios
parisienses mostraram os contrastes sociais, o racismo e a xenofobia. Ficou evidente a ação do Estado
como repressor, ineficiente como articulador de políticas públicas que atendam às necessidades de todas
as camadas sociais do país.
A abordagem superficial dos fatos leva a conclusões errôneas e precipitadas. Os jovens dos subúrbios
não fazem parte de organizações criminosas organizadas, eles manifestaram a sua indignação com o
descaso com que são tratados. A maior parte desses jovens está desempregada e sem perspectivas,
vivendo diariamente a realidade do preconceito e sendo tratados como “indesejáveis”.
Os distúrbios não ocorrem devido às diferenças étnicas ou religiosas, mas sim devido ao apartheid
social, presente até nos maiores centros europeus.

As Mulheres no Mercado de Trabalho

“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas;


Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas;
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas”. (BUARQUE, Chico, BOAL, Augusto. Mulheres de Atenas. In: Chico Buarque. Meu Caro Amigo, CD Universal, 1983).

Embora a letra da música retrate o papel subserviente da mulher grega no passado, tem-se notícia da
luta feminina pela igualdade de direitos desde 195 d.C. Foi quando um grupo de mulheres reivindicou,
junto ao Senado Romano, o direito das mulheres de utilizar o transporte público, uma vez que este era
um privilégio masculino.
Muitos séculos se passaram para que as mulheres conseguissem direitos equiparados aos dos
homens. As Revoluções Industriais e as Guerras Mundiais impeliram as mulheres ao mercado de
trabalho, tornando-as arrimos de família. Porém, o trabalho fora de casa não significava que as mulheres

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tivessem equiparação de salários e direitos iguais aos dos homens, pelo contrário, a contratação de
mulheres tinha como objetivo reduzir os custos para o empresariado dos séculos XIX e XX.

Dia 8 de Março: Dia Internacional da Mulher


Em 1857, 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova York, entraram em greve por redução
da jornada de trabalho de aproximadamente 14 horas. O movimento foi duramente reprimido pela polícia,
obrigando essas mulheres a se refugiarem nas dependências da empresa.
No dia 8 de março daquele ano, policiais trancaram as portas e atearam fogo no estabelecimento,
carbonizando todas as operárias.
A partir de 1910, a ativista Clara Zetkin propôs que o dia 8 de março fosse considerado o Dia
Internacional da Mulher em memória das tecelãs e como bandeira de luta pela igualdade de direitos para
todas as mulheres do mundo.

A Posição da Mulher Hoje

Na China
A China tem um contingente masculino superior ao feminino, explicado pela preferência dos casais por
filhos homens. Abortos motivados pelo sexo da criança, infanticídio e abandono de meninas não são
atitudes legalmente admitidas, mas são culturalmente aceitas.
Na faixa etária adulta, já faltam mulheres, o que significa que diversos homens não constituirão uma
família.
O paradoxo é que, mesmo vivenciando tal situação, a mulher chinesa não tem valorização social. É
encarada por muitos como uma serviçal e procriadora. Dentre as muitas histórias individuais sobre as
mulheres chinesas, destacam-se as de estupro na própria família, além de rapto e escravização.

No Brasil
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstra, a partir da sua pesquisa sobre
domicílios, que o papel da mulher no mercado de trabalho está crescendo exponencialmente ao longo
das últimas décadas. Na década de 1970, 18% das mulheres em idade produtiva trabalhavam fora; hoje
esse percentual subiu para 50%.
Em meados da última década do século passado, 20,81% dos lares tinham como chefe uma mulher.
Em 2000, houve o acréscimo desse percentual para 26,55%. Em 2011, a Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílio revelou que esse índice aumentou para 37,4%. Isso indica que em mais de um terço das
famílias brasileiras, as mulheres são as responsáveis pelo orçamento.
Segundo dados da Fundação Carlos Chagas e do IBGE, no início do século XXI, 25 dos chefes de
família brasileiros eram do sexo feminino.

Onde as mulheres brasileiras são chefes de família:


→ A maior taxa encontra-se na região Norte, 28,7%;
→ O estado do Amapá lidera a taxa de mulheres que sustentam as famílias no Brasil, com percentual
de 40,7%;
→ A maioria recebe rendimentos de até 3 salários mínimos;
→ Nos últimos dez anos quadruplicou a proporção de famílias chefiadas por mulheres (em relação aos
casais sem filhos, o índice passou de 4,5% para 18,3% desde o início da primeira década do século XXI,
enquanto entre casais que têm filhos subiu de 3,4% para 18,4%).

Outro dado refere-se à cor das mulheres chefes de família: na maior parte dos estados elas são negras
ou pardas. Com relação aos rendimentos, eles são menores que os masculinos, o que ajuda a manter a
situação de pobreza e desigualdades sociais, especialmente nos países mais pobres ou emergentes.
Em relação à proporção de trabalho, as mulheres estão sujeitas a uma jornada mais longa que os
homens. Isso ocorre pela sobrecarga de trabalho doméstico acumulado ao profissional. Enquanto os
homens gastam, em média, 9,2 horas com trabalhos domésticos, as mulheres dedicam 20,9 horas no
mesmo período.
Relatório divulgado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) em 2010 demonstrou que
permanece no Brasil, a desigualdade de gênero.
De acordo com esse relatório, o desemprego entre as mulheres ainda é superior ao dos homens e, a
despeito de sua escolaridade média ser maior que a dos homens (em média três anos a mais de estudo),
elas encontram maiores dificuldades em conseguir trabalho.

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O mesmo relatório da OIT apontou crescimento do número que mulheres que são chefes de família
(responsáveis pela manutenção de filhos, netos, sobrinhos, pais): de 25,9% em 1998 para 34,9% em
2008.
Associando-se as atividades do trabalho às tarefas domésticas, as mulheres trabalham, em média,
57,1 horas por semana na atualidade.
Políticas de equiparação salarial e de oportunidades de trabalho para homens e mulheres tenderiam
a reduzir a pobreza. Desse modo, a busca pela equidade social de gênero implica não apenas em ganhos
econômicos e sociais, mas também em maior solidariedade e melhoria geral da condição humana para
homens e mulheres.

Trabalho Escravo na Atualidade

Relatório publicado pela OIT em 2005 calculou que, em todo o mundo, cerca de 12,3 milhões de
pessoas estariam submetidas a trabalhos forçados.
A OIT pretendia recuperar, aproximadamente, 6 milhões de pessoas que estão submetidas a trabalho
escravo em todo o mundo, até 2015. Para isso, pretendeu gastar cerca de 25 milhões de dólares em
ações na América Latina, Ásia, África e Oriente Médio, principalmente.
Para atingir esse objetivo, a Organização adotou uma estratégia dividida em três prioridades que vai
da pesquisa e administração do conhecimento sobre o trabalho forçado, passa pela eliminação desse tipo
de trabalho das cadeias produtivas, chegando à implementação de intervenções nacionais.
Os tipos mais comuns de trabalho forçado estão relacionados à exploração econômica, seguida pelo
trabalho compulsório imposto pelo Estado e exploração sexual.
A OIT considera que o trabalho forçado corresponde a "todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa
sob a ameaça de sanção e para o qual ela não tiver se oferecido espontaneamente". Considera ainda
que a escravidão é um tipo de trabalho forçado, que assume diversas formas na atualidade: escravidão
por dívida, rapto ou sequestro, comércio de pessoas, coação psicológica, engano ou falsas promessas
de trabalho, confinamento no local de trabalho, retenção ou não pagamento de salários, retenção de
documentos de identidade, entre outros, praticados por Estados (prisões, por exemplo), por agentes
privados para exploração sexual ou econômica.
São mulheres e crianças as principais vítimas desse tipo de exploração, enquanto mulheres e meninas
representam 40%, de pessoas submetidas a formas de trabalho escravo, no tocante à exploração sexual
esse índice sobe para 98%.
Os casos mais comuns de escravidão são a de mulheres enganadas com promessas de emprego ou
raptadas para servirem à prostituição. As crianças também são alvo fácil. Em países subdesenvolvidos,
elas são retiradas das famílias ou compradas por traficantes, alegando que darão a elas uma vida melhor
e uma profissão.
Normalmente, são levadas para oficinas ou casas de família e submetidas a trabalhos forçados, com
longas jornadas e cerceamento de liberdade. Muitas vezes são, ainda, submetidas à violência física,
psicológica e sexual.
A escravidão do século XXI cresce na proporção da miséria e da impunidade. A seguir apresentamos
alguns países nos quais a prática do trabalho escravo foi detectada no século XXI:

China → Trabalho forçado na indústria de tijolos, minas de carvão e na construção civil;


Índia → Presença de servidão por dívida em olarias, moinhos de arroz e na agricultura;
Suécia → Trabalho forçado de mulheres na prostituição, serviços domésticos, restaurantes, estradas
e jardinagem. País apresenta elevado índice de ameaças e abuso sexual;
Estados Unidos → Trabalho forçado em serviços domésticos, agricultura, indústria e construção civil.
Ocorre recrutamento das vítimas em outros países, principalmente da América Latina;
Mianmar → Trabalho forçado para homens e mulheres da etnia cristã Chin que são usados para limpar
campos minados e construir templos.

Peonagem no Brasil
Peonagem refere-se à uma reedição da "escravidão por dívida" que existiu no século XIX no Brasil,
com os imigrantes que vieram trabalhar nas fazendas de café.
Devido à miséria que assola grande parte da população brasileira e à falta de perspectivas, os
aliciadores de trabalhadores rurais, chamados de "gatos", contratam jovens desempregados de áreas
pobres para serviços temporários em fazendas, sobretudo do Pará e de Mato Grosso.

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Após um período de trabalho, o indivíduo é informado que tem dívidas com o dono da propriedade. As
dívidas referem-se à alimentação e moradia que sempre ultrapassam o valor a ser recebido. Dessa forma,
enquanto a dívida não for quitada, o trabalhador não pode deixar a propriedade.
Os fiscais do Ministério do Trabalho, com ajuda policial, já conseguiram desmantelar dezenas de
propriedades que mantinham trabalho escravo, mas acredita-se que existam outras dezenas ainda
praticando o trabalho escravo.
Como exemplo dessa prática, observemos o caso de Unaí, em Minas Gerais: Em janeiro de 2004, três
fiscais e o motorista da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) foram mortos, em meio a investigações
de denúncias de trabalho escravo na zona rural daquela cidade.

Trabalho Infanto-Juvenil e Políticas Públicas

O trabalho infanto-juvenil (entre 5 e 16 anos), apesar de ser condenado e passível de punição,


representa, de um lado, a possibilidade de sobrevivência para as famílias ou grupos muito pobres; de
outro, mão de obra farta e barata para fazendeiros e empresários.
Historicamente, desde a primeira Revolução Industrial, no século XVIII, utiliza-se trabalho infanto-
juvenil, por ser mais barato, pelo fato de as crianças e jovens serem mais ágeis e por não existir uma
legislação reguladora desse tipo de trabalho até recentemente.
No Brasil, a inserção de crianças e adolescentes no mundo do trabalho é decorrência do baixo
rendimento salarial de seus pais. O trabalho infanto-juvenil, dessa forma, é considerado complemento da
renda familiar.
Desde 1891, existem tentativas de regulamentação do trabalho infanto-juvenil. Em 1927, o primeiro
Código de Menores limitava a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho em 12 anos e proibia
o trabalho noturno para crianças e adolescentes.
Em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) regulamentou as normas especiais de tutela e
proteção do trabalho infanto-juvenil e, em 1969, a Emenda Constitucional número 1 fixou a menoridade
trabalhista de 12 a 18 anos de idade.
Em 1988, a nova Constituição brasileira fixou em 14 anos a idade mínima para ingresso no mercado
de trabalho, exceto na condição de "aprendiz" (que não foi regulamentada nem esclarecida).
Em 1990, com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a lei passou a prever proteção integral às
crianças e adolescentes, inclusive no caso daqueles que estavam ingressando no mercado de trabalho.
Recentemente, o Brasil ratificou acordo internacional junto à OIT, prevendo como idade mínima para
ingresso no mercado de trabalho os 16 anos.
No entanto, por ser uma atividade "invisível", uma vez que a exploração do trabalho infanto-juvenil é
ilegal, e no caso das meninas que trabalham, essa atividade pode ser realizada no lar (o emprego
doméstico), fora da ação de fiscais, os dados sobre trabalho infanto-juvenil não são exatos.
Os dados apontam para um contingente de 3,8 milhões de crianças e adolescentes com idades entre
5 e 16 anos trabalhando no Brasil atualmente. Todavia, esses valores não são exatos e variam conforme
as grandes regiões brasileiras e entre o meio rural e urbano.
O trabalho em idade precoce dificulta o pleno desenvolvimento do ser humano, incidindo sobre sua
escolaridade que, por sua vez, influenciará seus salários. Quanto maior for o nível de escolaridade de
uma pessoa, maiores serão suas chances de ingressar no mercado de trabalho formal e obter bons
ganhos salariais.
Por sua vez, crianças e jovens que começam a trabalhar muito cedo logo abandonam a escola (em
média, os jovens brasileiros possuem 7,4 anos de estudo) e recebem uma baixa remuneração por seu
trabalho (em torno de 1,46 salário mínimo).
Em razão desses problemas, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura) preparou e divulgou em 2007 um relatório sobre o índice de Desenvolvimento da Juventude
(IDJ - que considera jovens na faixa etária dos 15 aos 25 anos), semelhante ao IDH para os estados
brasileiros.
O IDJ varia de O a 1%. Próximo de zero (O) são encontrados os piores resultados, ao passo que,
quanto mais próximo de 1%, melhores são os indicadores sociais para a juventude. Os estados brasileiros
foram classificados, portanto, de acordo com sua melhor posição no ranking (Distrito Federal, Santa
Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul, com os melhores indicadores - entre 0,673 e 0,622%). O tipo
de atividade desenvolvida por crianças e adolescentes também varia conforme a região
De acordo com o Unicef, o trabalho infanto-juvenil prejudica o desenvolvimento físico, intelectual e
emocional desses jovens trabalhadores. Desse contingente de crianças trabalhando, estima-se que 20%
não frequentem escolas e, entre os adolescentes que trabalham, somente 25,5% conseguiram concluir
oito anos de escolaridade.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
No ano de 2007, o IBGE calculou um elevado índice de exploração do trabalho infantil no território
brasileiro, apesar de a legislação brasileira proibir qualquer tipo de trabalho para menores de 14 anos.
A partir de ações associadas à geração de renda e assistência às famílias mais pobres implantadas
pelo Estado brasileiro, o IBGE também avaliou que houve uma queda do trabalho infantil, de 4,5% em
2006, para 4% em 2007. A exploração do trabalho infantil também demonstra as desigualdades do Brasil,
pois o perfil médio do trabalhador mirim é constituído principalmente por crianças oriundas de famílias de
baixa renda (até um salário mínimo).
Muitas dessas crianças e jovens que trabalham, enfrentam, além de irregularidades trabalhistas,
atividades aviltantes: carvoarias, atividades potencialmente mutilantes como quebra de pedras ou corte
de sisal, entre outras, redes de prostituição e tráfico de drogas, semi-escravidão ou escravidão.
E como observado pela análise do IDJ, a entrada precoce no mundo do trabalho pode ser prejudicial
ao desenvolvimento posterior desse contingente populacional, afetando sua escolaridade e sua renda.
Mas segundo resultados do Censo 2010, a exploração do trabalho infanto-juvenil diminuiu em várias
regiões do Brasil.

Trabalho e Lazer

As atividades de lazer com as quais nos envolvemos representam, na atualidade, uma das mais
importantes fontes de geração de emprego e riquezas. A maior "disponibilidade de tempo livre" para
aqueles trabalhadores formalmente inseridos no mercado de trabalho significou, efetivamente, a
transformação desse tempo em fonte de riqueza e consumo.
A discussão sobre trabalho e lazer na contemporaneidade está relacionada à forma como trabalhamos
e produzimos riquezas.
Toda tecnologia é, em si, poupadora de mão de obra. No entanto, historicamente, à medida que
máquinas e equipamentos eram incorporados ao trabalho, houve, inicialmente, um aumento das horas
trabalhadas: com a Revolução Industrial, passou-se a trabalhar 14 a 16 horas nas fábricas. Por isso,
durante a Primeira Revolução Industrial, os trabalhadores ingleses procuraram resistir às mudanças em
seu modo de vida quebrando as máquinas, considerando-as responsáveis pelo desemprego, pelos baixos
salários e pelas péssimas condições de trabalho então vigentes.
Aos poucos, os movimentos organizados dos trabalhadores conquistaram melhores condições de
trabalho, inclusive com redução da jornada para algo entre 10 e 8 horas, que predominou no mundo da
produção até a década de 1970.
Novamente, uma outra revolução tecnológica permitiu aumentar o "tempo livre" a partir da
incorporação da robótica e da cibernética na linha de produção. Porém, ao invés de "tempo livre",
podemos observar o crescimento do desemprego e a captura desse tempo livre: não mais o "ócio criativo",
dedicado ao aprimoramento pessoal ou à convivência, mas um tempo em que também nos inserimos no
consumo: consumo de viagens, de bares e restaurantes da moda, de passeios nos shoppings (eles
mesmos, grandes centros de consumo), de idas e vindas aos teatros, cinemas, etc. Por isso, uma das
indústrias que mais cresce atualmente no mundo é a indústria do entretenimento.
A indústria do entretenimento ocupou o tempo livre duramente conquistado e transformou o lazer em
consumo, envolvendo milhares de empregos no setor terciário: a criação, execução e exibição de filmes,
vídeos, novelas implicam a produção, comercialização e exibição que, por sua vez, implicam o famoso
merchandising, ou seja, a divulgação de marcas e ideias nas películas.
Além da produção associada à imagem (caso do cinema e da televisão), observamos o grande
desenvolvimento da indústria do turismo, que também emprega milhares de trabalhadores e gera bilhões
de dólares em todo o mundo.
O turista, ao viajar, necessita dos meios de transporte e locomoção, de hospedagem para visitar,
fotografar, filmar. Nessa atividade, geradora de empregos e, ao mesmo tempo, transformadora do "tempo
livre" em "tempo de consumo" há o "consumo de paisagens, locais históricos, locais sagrados".
É tão grande a pressão social para que realizemos em nossas "férias" e "feriados" essas atividades
que nossos colegas estranham quando dizemos que não fizemos nada, que optamos por ficar em casa
e conviver com a família, ler um bom livro, ouvir nossas músicas preferidas.
Em outras palavras, nosso tempo não é realmente livre: ou estamos ocupados produzindo, ou estamos
ocupados consumindo e mantendo os mecanismos da produção.
As áreas preferenciais para os turistas são aquelas que detêm maior infraestrutura, localizadas nos
países centrais. Ao mesmo tempo, a porcentagem maior de turistas circulando no mundo também é
oriunda dessas regiões e circula entre elas.

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No entanto, essa "indústria do entretenimento" e o consumo do "tempo livre" somente é possível para
aquelas parcelas populacionais integradas ao mercado consumidor, ou seja, aquelas pessoas
formalmente integradas ao mercado de trabalho.
Como pudemos perceber anteriormente, o aumento do desemprego tem levado, na realidade, ao
aumento das horas de trabalho, à precarização das condições de trabalho e a uma maior concentração
de renda em escala global. Desse modo, ao lado desse crescimento do consumo, observamos,
proporcionalmente, um aumento da miséria e da violência.
Se ser cidadão nessa sociedade do futuro é ser incluído como consumidor e, se para ser consumidor
é necessário ter renda; se, para ter renda, é necessária uma atividade econômica capaz de gerar
excedentes em dinheiro, inclusive pessoais, como é possível aos milhões de desempregados se inserirem
neste contexto? Como é possível aos 550 milhões de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia
se integrar ao "sistema"?
Não é possível. Logo, é provável apontarmos para um aumento da violência global: são hordas de
pessoas desterritorializadas (expatriadas, refugiadas, clandestinas) em todos os países, prontas para
integrarem gangues, grupos terroristas, grupos paramilitares. São grupos de pessoas em busca de uma
identidade, de um grupo, de uma sociedade e sociabilidade que Ihes permita existir.
Ao longo dessa história do trabalho e dos trabalhadores, podemos dizer também que houve uma
dissociação entre trabalho e vida: o trabalho é realizado em um espaço público, fora de casa. A vida -
pessoal, sobretudo, e do âmbito privado.
Mais uma vez, as mudanças no mundo do trabalho vêm modificar um pouco esse quadro: existem
inúmeros trabalhadores que realizam suas atividades produtivas em seu espaço privado, porém sem
conseguir reassociar trabalho e lazer. Todo o tempo disponível é utilizado na produção, ainda que esta
se realize no espaço das próprias residências.
E o "tempo livre" é gasto nas viagens, compras intermináveis, bares, restaurantes da moda, carros etc.
Nesses casos, compramos a ideia de que o produto em si basta.

Trabalho, Consumo e Violência

Para compreendermos essa associação, é preciso considerar um pouco de sua historicidade. Na


década de 1970, no Brasil, havia quase uma associação imediata entre pobreza e violência: as regiões e
populações mais pobres eram consideradas mais violentas, e esta violência era provocada principalmente
pela necessidade de sobrevivência.
Assim, a violência era associada quase que somente a um problema estrutural do capitalismo: por ser
concentrador de renda, impossibilitava o acesso a melhores condições de vida, em alguns casos, impedia
inclusive a sobrevivência, e isto era a causa maior das manifestações violentas. Valia aquela ideia de
que, quanto maior a pobreza, maior a violência.
No entanto, a partir do final da década de 1980, essas ideias passaram a ser muito criticadas, uma vez
que, se por um lado havia trabalhadores super explorados ou desempregados que se tornavam violentos,
de outro, centenas de trabalhadores nas mesmas condições não apelavam para a violência como forma
de sobrevivência. E mais: inúmeras pesquisas constataram a expansão da violência para áreas
consideradas nobres, atingindo populações de maior poder aquisitivo.
Atualmente, acredita-se que as causas do aumento da violência sejam múltiplas: pobreza; maiores
dificuldades de acesso aos bens públicos (saúde, educação, lazer); desemprego e/ou trabalho precário;
características pessoais como necessidade de autoafirmação (para integrar gangues, por exemplo);
necessidade de consumir drogas; problemas psíquicos (como as psicoses e esquizofrenias); necessidade
de atender às demandas do consumo (associado não necessariamente à pobreza, mas à vaidade e à
autoafirmação); participação em grupos ultrarradicais (caso dos skinheads, por exemplo, que praticam
violência gratuita contra grupos raciais ou sexuais).
Porém, uma constatação pode ser feita: a violência é, em geral, maior nas áreas ocupadas por
populações de menor poder aquisitivo e menor acesso aos bens públicos, apesar de ocorrer em todas as
classes sociais.
Outra constatação que pode ser feita, observando a realidade atual, é o aumento da violência
associada aos diversos tipos de tráfico: drogas, armas, pessoas, órgãos humanos. Esse aumento do
tráfico não é um fenômeno isolado, mas está presente em todo o globo. Assim, se falamos de globalização
econômica, é preciso considerar que houve também uma globalização da violência, com difusão global
das máfias (italianas, japonesas, russas etc.).
Um exemplo de violência relacionada à baixa renda é constatado em um estudo que mostra a chance
de sobrevivência de crianças carentes. As crianças que recebem exclusivamente alimentação oferecida
pelos pais de baixa renda têm mais chance de desenvolver qualquer tipo de subnutrição do que aquelas

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que saem das suas casas quando os pais estão trabalhando e pedem esmolas ou alimentos nas ruas.
Estas acabam ingerindo uma quantidade maior de proteínas do que as que se mantiveram em casa.
Em resumo, a precariedade dos baixos salários e o desemprego impelem as crianças para a rua.
Soma-se a isso a violência doméstica, e temos um contingente de crianças e adolescentes vivendo à
margem da sociedade, extremamente suscetíveis ao aliciamento de grupos criminosos.
O consumo também é um gerador de violência na medida em que ele demarca o “status” social do
indivíduo. Quando o consumo ocorre frequentemente num ritmo além da necessidade, ele sinaliza uma
necessidade pessoal de autoafirmação, de sublimação do ego, de relativizar carências pessoais ou,
ainda, da necessidade de se sentir aceito por um determinado grupo ou esfera social. A propaganda
trabalha com esses vínculos para produzir novos consumidores.
Dessa forma, existem violência e auto violência em nome do consumismo.
A sujeição de jovens de todas as classes aos apelos do consumo reflete o poder da mídia e a mudança
de valores. Quando as relações humanas são “coisificadas”, temos uma sociedade doente e insensível a
qualquer tipo de responsabilidade, seja de natureza ambiental ou social.
O grau de individualismo desemboca no "consumo alienado", em que se vislumbra apenas a satisfação
pessoal, ainda que efêmera. Vive-se numa situação de isolamento social, em que nada do que ocorre
fora do círculo individual de relacionamentos interessa. Essa alienação também se constitui numa forma
de violência.
O trabalho alienado, o consumo alienado são traços da globalização econômica, em que tudo é
padronizado e criteriosamente desenvolvido, para que as pessoas com potencial de consumo se sintam
especiais, usando artefatos de massa, que mesmo assim, sejam diferenciadas da massa, não pelo estilo
próprio ou ideias, mas pela marca.
Os efeitos da padronização e da "necessidade" de consumo de bens, que definem o status quo,
atingem todas as classes sociais. Eles são nocivos porque têm o poder de dividir e de discriminar. E uma
sociedade "apartada", com discriminação social, só poderá gerar todo tipo de violência.
Logo, apesar de a violência não poder ser associada exclusivamente à pobreza ou à concentração de
renda, o estímulo ao superconsumo nas sociedades atuais acaba por estimulá-la, principalmente quando
consideramos o aumento global do desemprego.
É preciso considerar que a violência não se refere apenas à agressão física, mas a humilhações,
discriminação (racial, sexual), menosprezo do outro, indiferença. Essas são consideradas formas
"invisíveis" da violência, por isso mesmo, as estatísticas sobre o tema abordam sua manifestação
material: assassinatos, roubos, estupros, sequestros.
A legislação atual tem procurado coibir ações violentas no âmbito doméstico (violência familiar,
geralmente envolta em um manto de silêncio) e mesmo no trabalho (assédio sexual e/ou assédio moral).
No entanto, essas formas de violência, por serem "invisíveis" e constrangedoras, são, muitas vezes,
subdimensionadas.

Assédio Moral

Corresponde a perseguições, pressão psíquica, humilhações a que os trabalhadores podem ser


submetidos em seu trabalho. De difícil detecção, o assédio moral é responsável por crises de depressão,
queda da produtividade, demissão (solicitação própria ou iniciativa da empresa), podendo ser cometida
por um chefe contra seus subordinados e/ou entre colegas de trabalho.
Nessa nova ordem mundial, determinada peça expansão dos negócios em escala global, máfias
recrutam, entre trabalhadores pobres, desempregados e subempregados, mão de obra farta e disponível
para atuarem no mercado ilegal (de drogas, armas, venda de órgãos, crianças, mulheres).
E assim se alimentam as estatísticas e as notícias sobre a violência, miséria, consumo, degradação
ambiental em todo o globo.
Caetano Veloso traduziu ironicamente essas contradições na canção: “Alguma coisa está fora de
ordem, fora da nova ordem mundial”.

Questões

01. (TJ/DFT – Titular de Serviços de Notas e Registros – CESPE/2019) Acerca de aspectos


relacionados ao impacto da tecnologia no mercado de trabalho, julgue os itens que se seguem.
I Os impactos da tecnologia no mundo do trabalho não são necessariamente imediatos, mas, a longo
prazo, podem implicar no desaparecimento de determinadas profissões.
II Projeções sobre o futuro do mercado de trabalho dão destaque às profissões de índole criativa no
mercado de trabalho dominado pela tecnologia.

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III As revoluções tecnológicas demandam capacidade de inovação para estimular a competitividade,
aspecto que tem sido explorado por políticas públicas brasileiras que elevaram a posição do Brasil no
ranking internacional de competitividade.
IV Devido aos impactos resultantes da tecnologia no mercado de trabalho, a maioria das escolas
brasileiras da rede privada e pública já tem em seus currículos disciplinas relacionadas a programação e
robótica.
Estão certos apenas os itens
(A) I e II.
(B) I e IV.
(C) III e IV.
(D) I, II e III.
(E) II, III e IV.

02. (IF/TO – Professor de Geografia – IF/TO/2019) A Revolução Industrial inaugurou um ciclo de


inovações tecnológicas que permeiam as atividades humanas desde o século XVIII. O uso disseminado
das máquinas, advindas dessas inovações, modificou as relações de trabalho, como satirizado na charge
seguinte, ampliou a produção e a produtividade, impulsionou a urbanização e assim reestruturou a
organização do espaço no mundo.

Analise as alternativas seguintes sobre a Revolução Industrial, suas fases e os reflexos econômicos e
sociais no espaço mundial e brasileiro e assinale a correta:
(A) Como estratégia para promover o crescimento econômico e o desenvolvimento industrial, a Grã-
Bretanha, nos primórdios da Revolução Industrial, adotou uma postura protecionista, executando medidas
tanto para impedir transferência de tecnologia para os principais concorrentes, como reduzindo ou
abolindo as tarifas alfandegárias de importação de matérias-primas importantes para sua atividade
industrial, além de conceder subsídios para a exportação de seus produtos industriais. Essa política de
fomento de sua atividade industrial durou até meados do século XIX.
(B) A 2ª Revolução Industrial, iniciada em meados do século XIX, também denominada de Revolução
Técnico-Cientifico-Informacional, ampliou a industrialização para além do continente europeu, abarcando
o continente americano como um todo e parte do continente asiático.
(C) Os fatores locacionais para a instalação de unidades industriais configuram-se como vantagens
competitivas de um lugar em detrimento de outro. Para as indústrias de alta tecnologia, os fatores
locacionais mais importantes são, em ordem decrescente: amplo mercado consumidor, incentivos fiscais,
disponibilidade de matéria-prima e mão de obra altamente qualificada.
(D) A importância alcançada pelas empresas transnacionais no mercado global possibilitou a
descentralização industrial e, por meio da fragmentação do processo produtivo, favoreceu o
desenvolvimento industrial de países não industrializados como o Brasil e a Rússia. Nestes países, desde
o início de seu desenvolvimento industrial, o consumo foi ampliado por meio da obsolescência
programada.

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(E) Na 1ª Revolução Industrial a exploração dos trabalhadores foi intensa. Cargas horárias de trabalho
excessivas, poucos ou nenhum direito trabalhista, baixas remunerações e condições insalubres de
trabalho foram e são enfrentadas por todos os trabalhadores do setor secundário até a atualidade nas
economias emergentes.

03. (Câmara de Petrolina /PE – Agente Administrativo – IDIB/2019) Sobre o tópico “Desemprego”,
assinale a alternativa incorreta:
(A) As inovações tecnológicas introduzidas nas indústrias aumentaram a produtividade; por outro lado,
reduziram os empregos, o que implica em sérias questões sociais.
(B) Os computadores e as novas tecnologias pouco diminuem a participação humana no processo
produtivo.
(C) As inovações tecnológicas do passado acabaram com alguns postos de trabalho, mas deram
origem a outros, em novos setores da economia.
(D) Dentre as principais causas do desemprego podemos apontar o desaquecimento da economia,
que provoca demissões em larga escala.

Gabarito

01.A / 02.A / 03.B

MOVIMENTOS POPULACIONAIS7

Movimentos Migratórios

Movimentos migratórios referem-se aos diversos tipos de migração, a qual, por sua vez, é entendida
como os deslocamentos de determinada população de um lugar para outro. Portanto, qualquer migração
possui dois movimentos: o de saída de um lugar e o de entrada em outro.
As migrações são muito variadas. Podem ocorrer dentro do mesmo território ou de um país para outro.
Quando são realizadas dentro do mesmo país, são chamadas de migrações internas. Quando ocorrem
de um país para outro, são chamadas de migrações externas. Observe a imagem a seguir:

Migrantes nordestinos no Terminal Rodoviário do Tietê. Este é um grande fluxo de migração interna que existe no Brasil. São Paulo, SP, 2010.

As migrações externas são caracterizadas por dois movimentos: emigração e imigração.


O movimento de entrada de estrangeiros em um país é chamado de imigração. O movimento de saída
de indivíduos de um país é chamado de emigração.
Por exemplo, imagine que uma família está se mudando da Colômbia para o Equador. Em seu país de
origem, a Colômbia, eles são considerados emigrantes. Já no país de destino, o Equador, eles são
considerados imigrantes. Observe a imagem a seguir:

7
FURQUIM JUNIOR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.

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Família de imigrantes espanhóis, São Paulo, cerca de 1890.

Por que as Pessoas Migram?


As migrações podem acontecer de forma forçada ou espontânea. A migração forçada é aquela em que
a pessoa não migra por vontade própria, como foi o caso dos africanos que vieram para cá escravizados
durante o período colonial. A ocorrência de fenômenos naturais, como grandes terremotos, tsunamis,
explosões vulcânicas ou inundações, por exemplo, também pode provocar a migração forçada. Grandes
guerras e perseguições políticas ou religiosas também são motivos que levam as pessoas a saírem de
seu lugar de origem.
A migração espontânea ocorre quando as pessoas migram por vontade própria. Ou seja, decidem
deslocar-se de um lugar a outro em busca de melhores condições de vida.
No entanto, devemos perceber que essa migração espontânea está baseada em um movimento de
expulsão e atração. Ou seja, de alguma maneira, as pessoas sentem-se repelidas por um lugar e atraídas
por outro.
As condições econômicas e sociais de um país podem fazer que uma pessoa decida buscar melhores
condições de vida em outro. A falta de emprego, a escassez de terras para os agricultores, a precarização
das condições de trabalho, a mecanização da produção e outros processos similares são fatores que
muitas vezes dificultam a vida do trabalhador, levando-o a se mudar.

Migração Temporária e Migração Pendular


A migração temporária é o deslocamento populacional que ocorre por determinado período. Por
exemplo, no caso da construção de uma grande obra de engenharia, milhares de pessoas são atraídas
para um lugar onde antes não havia oportunidades de emprego. Quando a construção terminar, essas
pessoas retornarão ao seu lugar de origem ou irão procurar emprego em outros lugares.
Outro exemplo de migração temporária é a que acontece em determinados períodos do ano, como na
época da colheita de certos produtos agrícolas, que atrai pessoas de diferentes regiões para trabalhar
durante esse período.
Já a chamada migração pendular consiste no movimento diário da população que se desloca de um
lugar a outro para estudar ou trabalhar. Geralmente, ocorre entre municípios vizinhos.

Imigração no Brasil
Com o processo de colonização, iniciou-se um período de atração de diferentes povos para as novas
terras. Uma boa parte da atual população brasileira é formada por imigrantes e seus descendentes.
Os primeiros a chegar aqui foram os portugueses, seguidos pelos africanos trazidos na condição de
escravos. Séculos depois, com o fim da escravidão, muitos outros imigrantes vindos da Europa e da Ásia
estabeleceram-se no Brasil, principalmente a partir de meados do século XIX, para substituir a mão de
obra escrava.
Estudaremos a seguir alguns dos povos que vieram para o Brasil em períodos específicos. São
milhares de pessoas que saíram de seus países de origem e vieram para cá, influenciando a cultura e os
hábitos do povo brasileiro.
Além deles, muitos outros povos vieram para o Brasil, como os libaneses, os poloneses e os russos,
porém em quantidades menores e durante períodos mais curtos.

Portugueses
Os portugueses foram os colonizadores das terras que vieram a se tornar o Brasil. Sua entrada foi
constante e contínua durante todo o período colonial. A migração dos portugueses trouxe sérios impactos
para os povos indígenas que já habitavam aqui. Eles foram perseguidos, mortos e escravizados. Houve
também uma intensa imigração portuguesa para o Brasil entre os anos de 1881 e 1967.

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Africanos

Gravura que retrata o embarque de escravos em um navio negreiro.


Negros no fundo do porão de navio, Johann Moritz Rugendas, Brasil, séc. XIX.

Entre os séculos XVI e XIX, de 2 a 4 milhões de africanos foram forçados a vir para o Brasil na condição
de escravos. Eles pertenciam a diferentes povos, principalmente da região da África Central, cada um
com costumes, língua e fisionomia diferentes. Contudo, as culturas desses povos não só influenciaram
um a outro, mas também todos os demais que viviam na Colônia, como os próprios portugueses e até os
indígenas.
Todas essas pessoas que vieram para cá sofreram com as duras condições de vida, trabalhando em
situações precárias - isso para dizer o mínimo - e privadas de sua liberdade. Desenvolveram diferentes
tipos de trabalho, ligados principalmente à agricultura.

Alemães

Tradicional festa alemã em Blumenau (SC), 2013

Os alemães começaram a chegar ao Brasil de forma expressiva em meados do século XIX. O primeiro
grupo de imigrantes alemães chegou ao Brasil em 1824, mas o período mais intenso de imigração ocorreu
entre 1848 e 1933.
A grande maioria desses imigrantes estabeleceu-se nas serras dos estados do Sul do Brasil, formando
as chamadas colônias, onde preservavam os hábitos e sua terra natal, inclusive muitas vezes sem falar
o português.
Dedicaram-se principalmente à agricultura e à criação de animais.

Italianos
Os imigrantes italianos chegaram ao Brasil após os alemães. Assim como eles, vieram em busca de
promessas de uma vida melhor, fugindo das duras situações em que viviam na Europa. Dirigiram-se
principalmente para os estados de São Paulo - a fim de trabalhar nas lavouras de café e, posteriormente,
nas indústrias paulistas - e do Rio Grande do Sul, onde também formaram colônias. Observe a imagem
a seguir.

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Embarque de italianos para o Brasil, Itália, 1910

Japoneses
A imigração maciça de japoneses teve início no século XX. Em 1908, aportou em Santos o primeiro
navio de imigrantes japoneses, chamado Kasato Maru. A grande maioria deles estabeleceu-se no estado
de São Paulo, trabalhando nas lavouras de café e, posteriormente, no cultivo de hortaliças e frutas.
Observe a imagem a seguir.

Imagem do Kasato Maru, navio que trouxe os primeiros imigrantes japoneses ao Brasil. Santos, 1908

Migração Interna
No Brasil, há uma grande mobilidade da população de região para região. Isso significa que existem
milhares de pessoas que não moram no lugar em que nasceram. De acordo com dados do Censo de
2010, a cada 100 brasileiros, 37 não nasceram no município onde estão estabelecidos atualmente.

Êxodo Rural
O processo de urbanização no Brasil teve início no século XX, a partir do processo de industrialização,
que atraiu milhares de pessoas da área rural em direção à urbana. Esse deslocamento do campo para a
cidade é chamado de êxodo rural. Atualmente, mais de 80% da população brasileira vive em áreas
urbanas. Observe o gráfico a seguir, que mostra a taxa de urbanização brasileira entre 1940 e 2010.

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E Estatística, [s.d.] apud GOBBI,


Leonardo Delfim. Urbanização brasileira. Globo. com, [s.d.]. Educação. Geografia.

No gráfico acima, podemos observar progressivamente, os anos 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991,
2000, 2010. A parte cinza representa a população urbana, e a parte verde, a população rural.

O êxodo rural está ligado a um movimento tanto de expulsão dessa população do campo quanto de
atração pela cidade. As condições de vida para a população rural tornaram-se cada vez mais difíceis, já

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que muitos trabalhadores perderam seus empregos e suas terras com a modernização da agricultura - a
mão de obra de muitos trabalhadores do campo foi substituída por máquinas e tratores sofisticados.
Por outro lado, as cidades surgem como uma grande oportunidade de melhoria de vida, ainda que
muitas vezes isso não aconteça na prática. Na maioria dos casos, esses migrantes são obrigados a
enfrentar situações muito precárias.

Fluxos Migratórios Inter-Regionais


A migração inter-regional, ou seja, entre as diferentes regiões do Brasil, começou a ser estudada com
mais precisão a partir do estabelecimento da regionalização brasileira, em meados da década de 1930.
A grande disparidade entre as regiões estimulou a continuidade de um fluxo regular de migrantes em
diferentes períodos do século XX.

Décadas de 1930-1940
O principal fluxo inter-regional estabeleceu-se do Nordeste para o Sudeste. Milhares de migrantes
dirigiram-se ao Sudeste em busca de melhores condições de vida, fugindo das secas que assolavam a
região Nordeste.

Décadas de 1950-1970
Nesse período foram realizadas grandes obras de integração regional, como a construção da nova
capital do país, Brasília, inaugurada em 1960 no governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-
1961), e da Rodovia Transamazônica no início da década de 1970 durante o período militar, sob o governo
do general e presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). A construção de Brasília atraiu migrantes
de todas as partes do Brasil para a região Centro-Oeste. A rodovia, por sua vez, estabeleceu um fluxo de
trabalhadores do Nordeste para o Norte que se dirigiram principalmente às áreas de extração do látex
para a fabricação de borracha nos chamados seringais.

Décadas de 1970-1990
O fluxo entre Nordeste e Sudeste se manteve. Além disso, muitos migrantes do Sul dirigiram-se para
outras áreas da região Norte, como o Acre, e também para o Centro-Oeste, graças ao auxílio do governo,
que estimulava esse Fluxo por meio do oferecimento de facilidades, como pequenos lotes de terra. Na
década de 1990 intensificaram-se os fluxos no interior do país e inicia-se uma corrente de migração do
Sudeste para o Nordeste.
Observe abaixo os mapas que demonstram os principais fluxos migratórios entre os períodos de 1950
a 1990.

Fonte: Disponível em: <http://www.padogeo.com/atividade-migracoes.htrnl>

A Migração Atual
Nos últimos anos, houve uma profunda mudança no padrão das migrações internas brasileiras. As
regiões ainda apresentam muita disparidade entre si. No entanto, a saída de migrantes da região Nordeste
em direção ao Sudeste diminuiu significativamente.
Isso se deve principalmente à redução das ofertas de emprego nas indústrias e no setor de serviços
no Sudeste e também à recente industrialização do Nordeste. Além disso, muitos migrantes estão votando
para as suas regiões de origem, em um movimento conhecido como migração de retorno.
Entre os grupos de imigrantes que se dirigem atualmente ao Brasil, podemos destacar os haitianos e
os bolivianos. O Haiti sofre historicamente com a pobreza e a miséria.

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Em 2010, um terremoto dizimou o país, o que afetou a vida de milhões de habitantes e deixou milhares
de mortos. Isso contribuiu para a decisão de vários cidadãos de buscar no Brasil trabalho e melhores
condições de vida. A maioria dos haitianos entra no Brasil pelo estado do Acre, de onde se dirige para as
demais regiões do país.
Os bolivianos, por sua vez, também migram para o Brasil em busca de melhores condições de vida e
ofertas de emprego. Como a Bolívia faz fronteira com o nosso país, o caminho mais comum é entrar pela
cidade de Assis Brasil, também localizada no Acre.
É importante destacar que esses imigrantes muitas vezes entram de foram ilegal no Brasil. Com isso,
acabam tendo maiores dificuldade para arranjar emprego e bons salários, sendo obrigados, muitas vezes,
a trabalhar em troca de salários muito baixos ou até em condições mais precárias, semelhantes à
escravidão.

Questões

01. (DER/CE – Geografia – UECE/CEV) Sobre as migrações internas no Brasil, é correto afirmar que
(A) houve um fluxo de nordestinos para o Sudeste, atraídos pela expansão industrial, e para a
Amazônia, atraídos pelos projetos agropecuários, minerais e industriais.
(B) o maior fluxo migratório interno se deu dos estados da região Norte para a região Sul do Brasil,
devido à expansão da soja e da cana-de-açúcar.
(C) os movimentos migratórios internos ocorreram numa escala muito pequena e de forma isolada nas
regiões metropolitanas das grandes metrópoles do Sudeste.
(D) ocorreram apenas nas décadas de 1940 e 1950 do Nordeste para o Sudeste por causa das secas
que castigavam a região.

02. (IF/SP – Professor de Geografia – FUNDEP) Analise este gráfico:

Brasil e regiões: participação relativa das regiões no total populacional do país


(1960 – 2000)

Considerando-se que, no Brasil, a quase totalidade dos movimentos migratórios ocorridos em sua
história estiveram relacionados com condições socioeconômicas, a região brasileira que tem sido lugar
de partida de grandes movimentos migratórios é
(A) o Centro-Oeste.
(B) o Nordeste.
(C) o Norte.
(D) o Sul.

03. (IBGE – Pesquisa e Mapeamento – CESGRANRIO) No Brasil, durante muito tempo, as migrações
internas, do Norte para o Sul e do mundo rural para as cidades, constituíram uma tentativa de resposta
individual à extrema pobreza de algumas regiões. Fator de diversificação do tecido social e de
desenvolvimento de associações e ONG, essa mobilidade contribuiu para a riqueza do Sul, assim como
para a expansão das favelas urbanas. A esses efeitos devem-se acrescentar, hoje, fluxos populacionais
mais diversificados. DURAND, M-F. et al. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 130. Adaptado.
Na atual realidade brasileira, ocorre um novo e recente fluxo populacional denominado
(A) movimento pendular
(B) êxodo rural
(C) migração de retorno
(D) transumância
(E) transmigração

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Gabarito

01.A / 02.B / 03.C

ASPECTOS ECONÔMICOS, POLÍTICOS E HUMANOS

População: com 210 milhões de habitantes, irregularmente distribuída, predominando etnicamente o


branco e etariamente o adulto. O Brasil tem a quinta maior população do mundo, mas apresenta baixas
densidades populacionais – devido à grande extensão do seu território. Os brasileiros se concentram ao
longo do litoral, principalmente na zona da mata nordestina e na região sudeste. A partir da década de
1940, houve intensa migração para as cidades, gerando crescimento urbano (hoje, a maior parte da
população é urbana) e diminuição das taxas de natalidade e de mortalidade. A maior parte da população
é jovem ou adulta, caminhando para o envelhecimento.

Economia: maior economia da America Latina e uma das dez maiores no mundo. Grande exportador
de produtos agropecuários e minerais, os setores primário e secundário geram a maior parte das riquezas,
mas o terciário é o que mais emprega. No setor primário destacam-se a produção de soja, laranja, cana-
de-açúcar e gado. No setor secundário, chama atenção a produção automotiva, aeronáutica e têxtil, além
da indústria extrativista mineral (com petróleo, ferro, manganês e alumínio). O setor terciário apresenta
grande informalidade, pois a modernização dos outros setores criou contingente de desempregados que
não totalmente absorvidos pelo setor de serviços.

Política: o Brasil é uma república federativa presidencialista com separação entre os três poderes
(executivo, legislativo e judiciário). O mandato presidencial tem quatro anos, com possibilidade de
reeleição. Desde 1988, o país segue a mesma constituição, sua lei máxima, cujo cumprimento é
assegurado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) assegurar seu cumprimento.

CULTURA BRASILEIRA

A Cultura Brasileira é o resultado da miscigenação de diversos grupos étnicos que participaram da


formação da população brasileira.
A diversidade cultural predominante no Brasil é consequência também da grande extensão territorial
e das características geradas em cada região do país.
O indivíduo branco, que participou da formação da cultura brasileira, fazia parte de vários grupos que
chegaram ao país durante a época colonial.
Além dos portugueses, vieram os espanhóis, de 1580 a 1640, durante a União Ibérica (período o qual
Portugal ficou sob o domínio da Espanha).
Durante a ocupação holandesa no nordeste, de 1630 a 1654, vieram flamengos ou holandeses, que
ficaram no país, mesmo depois da retomada da área pelos portugueses. Na colônia, aportaram ainda os
franceses, ingleses e italianos.
Entretanto, foi dos portugueses que recebemos a herança cultural fundamental, onde a história da
imigração portuguesa no Brasil confunde-se com nossa própria história.
Foram eles, os colonizadores, os responsáveis pela formação inicial da população brasileira. Isso
decorreu do processo de miscigenação com índios e negros africanos, de 1500 a 1808. Durante três
séculos, os portugueses eram os únicos europeus que podiam entrar livremente no Brasil.

A Formação da Cultura Brasileira

A formação da cultura brasileira resultou da integração de elementos das culturas indígena, do


português colonizador, do negro africano, como também dos diversos imigrantes.

Cultura Indígena
Foram muitas as contribuições dos índios brasileiros para a nossa formação cultural e social. Do ponto
de vista étnico, contribuíram para o surgimento de um indivíduo tipicamente brasileiro: o caboclo (mestiço
de branco e índio).
Na formação cultural, os índios contribuíram com o vocabulário, o qual possui inúmeros termos de
origem indígena, como pindorama, anhanguera, ibirapitanga, Itamaracá, entre outros. Com o folclore,
permaneceram as lenda como o curupira, o saci-pererê, o boitatá, a iara, dentre outros.

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A influência na culinária se fez mais presente em certas regiões do país onde alguns grupos indígenas
conseguiram se enraizar. É exemplo a região norte, onde os pratos típicos estão presentes, entre eles, o
tucupi, o tacacá e a maniçoba.
Raízes como a mandioca é usada para preparar a farinha, a tapioca e o beiju. Diversos utensílios de
caça e pesca, como a arapuca e o puçá. Por fim, diversos utensílios domésticos, foram deixados como
herança, entre eles, a rede, a cabaça e a gamela.

Cultura Portuguesa
Portugal foi o país europeu que exerceu mais influência na formação da cultura brasileira.
Os portugueses realizaram uma transplantação cultural para a colônia, destacando-se a língua
portuguesa, falada em todo o país, e a religião marcada por festas e procissões.
As instituições administrativas, o tipo de construções dos povoados, vilas e cidades e a agricultura
fazem parte da herança portuguesa.
No folclore brasileiro é evidente o grande número de festas e danças portuguesas que foram
incorporadas ao país. Entre elas, a cavalhada, o fandango, as festas juninas (uma das principais festas
da cultura do nordeste) e a farra do boi.
As lendas do folclore (a cuca e o bicho papão), as cantigas de roda (peixe vivo, o cravo e a rosa, roda
pião etc.) permanecem vivas na cultura brasileira.

Cultura Africana
O negro africano foi trazido para o Brasil para ser empregado como mão de obra escrava. Conforme
as culturas que representavam (ritos religiosos, dialetos, usos e costumes, características físicas etc.)
formavam três grupos principais, os quais apresentavam diferenças acentuadas: os sudaneses, os bantos
e o malês. (sudaneses islamizados).
Salvador, no nordeste do Brasil, foi a cidade que recebeu o maior número de negros, e onde
sobrevivem vários elementos culturais.
São exemplos o “traje de baiana”, com turbante, saias rendadas, braceletes, colares, a capoeira e os
instrumentos de música como o tambor, atabaque, cuíca, berimbau e afoxé.
De modo geral, a contribuição cultural dos negros foi grande:
Na alimentação, vatapá, acarajé, acaçá, cocada, pé de moleque etc;
Nas danças (quilombos, maracatus e aspectos do Bumba meu boi)
Nas manifestações religiosas (o candomblé na Bahia, a macumba no Rio de Janeiro e o xangô em
alguns estados do nordeste).

Cultura dos Imigrantes


Os imigrantes deixaram contribuições importantes na cultura brasileira. A história da imigração no
Brasil começou em 1808, com a abertura dos portos às nações amigas, feita por D. João.
Para povoar o território, vieram famílias portuguesas, açorianas, suíças, prussianas, espanholas,
sírias, libanesas, polonesas, ucranianas e japonesas, as quais se estabeleceram no Rio Grande do Sul.
grande destaque foram os italianos e os alemães, que chegaram em grande quantidade. Eles se
concentraram na região sul e sudeste do país, deixando importantes marcas de suas culturas,
principalmente na arquitetura, na língua, na culinária, nas festas regionais e folclóricas.
A cultura vinícola do sul do Brasil se concentra principalmente na região da serra gaúcha e de
campanha, onde predomina descendentes de italianos e alemães.
Na cidade de São Paulo, o grande fluxo de italianos fez surgir bairros como o Bom Retiro, Brás, Bexiga
e Barra Funda, onde é marcante a presença de italianos. Com eles vieram as massas típicas como a
macarronada, a pizza, a lasanha, o canelone, entre outras.

ETNIA E MODERNIDADE NO MUNDO E NO BRASIL8

Países e Territórios: Diferentes Povos e Nações

Ao analisar o mapa político do mundo, você perceberá que os países do mundo têm tamanhos muito
diferentes. Enquanto China, Rússia, Brasil, Canadá, Austrália e Estados Unidos possuem uma grande
extensão, os países europeus restringem-se, de modo geral, a áreas menores do que a maior parte dos
estados brasileiros.

8
CATELLI Junior, Roberto. Conexão histórica – volume 3. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. 3ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.

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Com exceção da Antártida, os continentes são divididos em países. Cada país é organizado em torno
de um Estado, uma instituição soberana que cria as leis e define as políticas dentro de um limite territorial.
Em outras palavras, um Estado não existe se ele não possuir um território.

Povos sem Estado


Por mais que a existência de um país nos remeta à ideia de que ele representa um único povo ou
nação, é preciso ter cuidado com esse tipo de associação. Em outras palavras, uma população nem
sempre possui vínculos históricos e culturais comuns, que se manifestam geralmente por meio da mesma
língua, etnia e/ou religião.

Geração é um termo com origem no latim (generatĭo) e que tem diversos significados e usos. Pode ser
usado para fazer referência à ação e ao efeito de engendrar (procriar) ou à ação e ao efeito de gerar
(produzir, causar ou criar algo).9

Gênero: pode ser definido como aquilo que identifica e diferencia os homens e as mulheres, ou seja,
o gênero masculino e o gênero feminino.10
De acordo com a definição “tradicional” de gênero, este pode ser usado como sinônimo de “sexo”,
referindo-se ao que é próprio do sexo masculino, assim como do sexo feminino.
No entanto, a partir do ponto de vista das ciências sociais e da psicologia, principalmente, o gênero é
entendido como aquilo que diferencia socialmente as pessoas, levando em consideração os padrões
histórico-culturais atribuídos para os homens e mulheres.
Por ser um papel social, o gênero pode ser construído e desconstruído, ou seja, pode ser entendido
como algo mutável e não limitado, como define as ciências biológicas.
Nos estudos biológicos, o conceito de gênero é um termo utilizado na classificação cientifica e
agrupamento de organismos vivos, que formam um conjunto de espécies com características
morfológicas e funcionais, refletindo a existência de ancestrais comuns e próximos.
Por exemplo, o “homo sapiens” é o nome da espécie humana a qual pertence ao gênero “homo”.

Identidade de Gênero
Consiste no modo como determinado indivíduo se identifica na sociedade, com base no papel social
do gênero e no sentimento individual de identidade da pessoa.
O conceito da identidade de gênero não está relacionado com os fatores biológicos, mas sim com a
identificação do indivíduo com determinado gênero (masculino, feminino ou ambos).
Por exemplo, uma pessoa que biologicamente nasceu com o sexo masculino, mas que se identifica
com o papel social do gênero feminino, deve ser socialmente reconhecida como uma mulher.
Esta pessoa é denominada transgênera, pois possui uma identidade de gênero diferente da biológica.
É incorreto, no entanto, relacionar a identidade de gênero com a orientação sexual. Existem pessoas
transexuais, por exemplo, que podem ser heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, assim como
acontece com as pessoas cisgênero.

Raça é uma categoria das espécies de seres vivos, utilizada pela biologia como forma de classificação.
Em termos sociais, o uso do termo raça é usado enquanto senso comum para determinar grupos étnicos
a partir de suas características genéticas.11

Etnia é o grupo de pessoas que se diferenciam de outros por traços específicos de cultura, hábitos,
religião e língua, entre outros fatores.
Da mesma forma, a delimitação da sua área não respeita necessariamente como critério a área
ocupada por um povo.
Como consequência, existem povos que não possuem Estado e são separados pela fronteira de
diferentes países.
Os curdos, por exemplo, são um povo que vive no Oriente Médio e que totaliza mais de 25 milhões
de habitantes, sendo a maior etnia sem Estado do mundo. A região ocupada por eles é conhecida como
Curdistão.
Ocupando uma área de cerca de 500 mil quilômetros quadrados (um pouco menor do que o Estado
da Bahia), o território curdo abrange quatro países, sendo a maior parte localizada na Turquia. O restante
encontra-se na Síria, na Armênia, no Iraque, na Geórgia e no Irã.

9
http://conceito.de/geracao
10
https://www.significados.com.br/genero/
11
https://www.significados.com.br/raca/

45
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Ao longo do século XX, os curdos foram perseguidos de diferentes formas nos países em que vivem:
proibição do uso do idioma, direitos políticos limitados; impedimento da adoção de nomes de origem
curda; e substituição de nomes de lugares públicos em curdo.
Devido à falta de direitos políticos e culturais nos países onde vivem, os curdos lutam até hoje pela
criação de um Estado próprio. Essa luta resultou em diversos conflitos, principalmente no Iraque e na
Turquia, onde os Estados reprimiram violentamente os movimentos curdos.
O Estado iraquiano, por exemplo, foi responsável pelo assassinato de centenas de milhares de civis
curdos na década de 1980.
Existem outros povos que não possuem um Estado, como o basco e o cigano

Etnicidade é um conceito que se refere a uma cultura e estilo de vida comuns, especialmente da forma
refletida na linguagem, maneiras de agir, formas institucionais religiosas e de outros tipos, na cultura
material, como roupas e alimento, e produtos culturais, como música, literatura e arte. O conjunto de
pessoas que têm em comum a Etnicidade é frequentemente denominado grupo étnico. (JOHNSON, Allan G.
Dicionário de Sociologia. Rio de Janeiro, Zahar, 1997, p. 100).

Os Outros e o Sentimento de Pertencer a um Grupo


Nos meios de comunicação cresce, a cada dia, o número de notícias relacionadas a “conflitos étnicos”,
“discriminação racial”, “preconceito”, “xenofobia”.
Para entendermos a incidência cada vez maior desses conflitos, precisamos questionar a ideia que
alguns povos têm de superioridade em relação a outros. Essa suposta superioridade baseia-se em uma
série de justificativas relacionadas a aspectos religiosos, econômicos, culturais, etc.
E quem são os “outros”?
Para muitos russos, os “outros” são os chechenos; para algum cidadão branco norte-americano, os
“outros” podem ser os negros, os mexicanos, os cubanos; para muitos britânicos, são os irlandeses, os
indianos, os paquistaneses; para alguns franceses, são os argelinos, os marroquinos; para alguns
alemães, os turcos; para muitos judeus, são os palestinos (sendo a recíproca verdadeira); para muitos
brasileiros que habitam na região Sul e Sudeste, por exemplo, “os outros” são os nordestinos ou,
independentemente da região do país, os que moram em favela.

A Diversidade Cultural

Cultura é o conjunto dos padrões de comportamento, das crenças, dos valores morais e materiais,
dos conhecimentos passados de geração em geração ou adquiridos de outros povos. Embora haja grande
diversidade cultural entre os povos, todas as sociedades (ou grupo humano) dispõem de algum
equipamento tecnológico que lhes permite a transformação da natureza, a manutenção de sua
sobrevivência e de um padrão de relações sociais e religiosas.

Cultura Brasileira
A cultura brasileira é muito diversa. As cinco regiões de nosso país são perceptivelmente diferentes
culturalmente. Nossa cultura é influenciada pela herança de índios nativos, por colonizadores portugueses
e também pela tão presente cultura africana advinda da África.

Cultura Material
A cultura material nada mais é que a importância que determinados objetos possuem para determinado
povo e sua cultura. É também através da cultura material que se ajuda a criar uma identidade comum.
Esses objetos fazem parte de um legado de cada sociedade. Cada objeto produzido tem um contexto
específico e faz parte de determinada época da história de um país. A cultura material se aplica a quase
toda produção humana.
Cultura Imaterial
Todo povo possui um patrimônio que vai além do material, de objetos. Esse patrimônio é chamado de
cultura imaterial. Ou seja, cultura imaterial é uma manifestação de elementos representativos, de hábitos,
de práticas e costumes. A transmissão dessa cultura se dá muitas vezes pela tradição. Os maiores
exemplos de cultura imaterial no Brasil são o folclore, a capoeira, etc.
Todos somos parte integrante na cultura de nosso país e por isso devemos respeitar qualquer forma
de manifestação cultural.

Nos primórdios da história da sociedade humana, o indivíduo se identificava basicamente com a


família, o clã e a aldeia. Havia, portanto, uma possibilidade restrita de identificação grupal, além de

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reduzidas chances de conhecer grupos com valores e características diferentes dos seus, dada a pouca
frequência de contato.
O relativo isolamento do ser humano levou cada grupo a criar mecanismos próprios de sobrevivência,
formas específicas de relacionamento, de transformação da natureza e de vivência em comunidade.
Estas condições determinaram que os diversos grupos desenvolvessem diferentes crenças e costumes,
formas de comunicação, idiomas, manifestações artísticas, tipos de alimentos e de métodos e
equipamentos de produção diferentes: enfim, o surgimento de diversas culturas.
Os contatos esporádicos entre os grupos propiciaram contribuições para diversos povos, ocasionando
tanto choques como assimilações culturais. Com o tempo, essas assimilações e choques intensificaram-
se em virtude das migrações, das guerras, do desenvolvimento e do crescimento da atividade comercial.
Esses contatos possibilitaram, ainda, o surgimento de novas culturas, pois certos povos, ao migrarem,
também ocupavam áreas desabitadas.

O Choque Entre Culturas e o Etnocentrismo


Do encontro de uma cultura com outra decorre, de modo geral, a avaliação recíproca, ou seja, traz o
julgamento do valor da cultura do “outro”.
Normalmente esse julgamento é feito a partir da cultura do “eu”. Assim, a análise da outra cultura tende
a considerar a sua própria como a ideal, a perfeita, a mais avançada. Passa-se, então, a desprezar os
valores, o conhecimento, a arte, as formas de comunicação, as técnicas, enfim, a cultura do “outro”, e até
mesmo os atributos físicos desse “outro”, como cor de pele, altura, tipo de cabelo, etc.
Com isso, estão lançadas as bases para o etnocentrismo, ou seja, os outros são julgados baseados
em nossos valores e modelo de vida. Não conseguimos entender as diferenças culturais existentes em
relação a um outro grupo étnico, o que pode provocar sentimentos de medo e de hostilidade. Em casos
extremos de etnocentrismo, cultiva-se a ideia de que o povo do qual se faz parte, aliado à sua cultura
particular, é superior aos “outros”.
O etnocentrismo remonta aos primórdios da história e foi um elemento básico do processo de
identificação de um grupo sociocultural. É um traço natural de todas as culturas e corresponde a uma
forma de legitimação de determinada realidade, a qual é construída socialmente. No entanto, o
etnocentrismo transforma-se em problema quando utilizado para oprimir uma outra comunidade étnica ou
para conquistar povos e territórios.

Relativismo Cultural e Tolerância


No início do século XX, surgiram novas concepções antropológicas que se contrapuseram à questão
da superioridade ou inferioridade dos povos. O alemão Franz Boaz foi o primeiro a ressaltar a importância
do estudo das diversas culturas dentro de seu próprio contexto, a partir das suas peculiaridades, ou seja,
considerando os fatores históricos, naturais e linguísticos que influenciavam o desenvolvimento de cada
uma delas.
Franz Boaz rompeu, assim, com a Teoria Evolucionista. Em seus trabalhos, ele ressaltou não haver
cultura superior ou inferior a outra. Essa concepção abriu caminho para várias vertentes de análise, pelas
quais o estudo das diferentes comunidades étnicas passou a ser feito a partir das características de cada
comunidade. Essa nova visão ficou conhecida por Relativismo Cultural.
As diversas ideias que se apoiaram no conceito do Relativismo Cultural buscavam uma visão imparcial
do mundo, evitando análises preconceituosas. Elas partiam do princípio de que não existem valores
culturais universais. Os valores de uma cultura não podem, portanto, ser julgados externamente, tendo
como referência os valores de outras culturas.

Civilização Ocidental e Modernidade

Contatos entre culturas fazem parte da história da humanidade. O desenvolvimento técnico permitiu
ao ser humano deslocar-se para regiões cada vez mais distantes. Algumas eram geograficamente
favoráveis às trocas culturais entre povos, como o Oriente Médio – rota de passagem entre a Ásia e a
Europa -, e como o mar Mediterrâneo – situado entre os três continentes: Europa, África e Ásia. O
Mediterrâneo foi, ao mesmo tempo, região de disputa pelo controle de rotas comerciais e de intenso
intercâmbio comercial e cultural. Egípcios, gregos, fenícios, romanos e turco-otomanos formaram
importantes civilizações nessa região.
No entanto, nenhuma expansão se iguala, em amplitude e diversidade de contatos, à iniciada pelos
europeus no século XV. Os europeus dominaram povos em todo o mundo e os integraram a um mesmo
sistema econômico – o capitalismo comercial. A partir desse domínio, a cultura europeia, com seus

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valores, suas normas, leis, crenças e sua estrutura de organização social e política, a qual se baseava no
Estado Nacional, foi sendo imposta aos povos da América, África, Ásia e Oceania.

Estado Nacional é a forma de Estado que se estruturou na Europa a partir do final da Idade Média e
que definiu a fisionomia territorial e política das modernas nações europeias. Corresponde ao período de
consolidação do absolutismo monárquico, quando os reis, apoiados pela burguesia, conseguiram firmar
seu poder perante o papado e os senhores feudais. A política econômica dos Estados Nacionais foi o
Mercantilismo, que favoreceu a acumulação primitiva de capitais, posteriormente aplicados na Revolução
Industrial (SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo, Best Seller, 1999, p. 221).

No seio da civilização europeia, num período caracterizado por grandes conquistas e de consolidação
dos Estados Nacionais europeus, encontra-se, de certo modo, a “origem” da civilização ocidental, que
se consolidou com a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, no século XVIII.
A Revolução Industrial deu grande impulso ao desenvolvimento e expansão capitalista, à acumulação
de capital e à difusão das relações de trabalho assalariado; introduziu a produção em massa, a
padronização das mercadorias; expandiu o comércio internacional.
A Revolução Francesa, por sua vez, com a difusão do lema “liberdade, igualdade e fraternidade”,
contribuiu para a generalização dos ideais do Iluminismo e dos valores democráticos de igualdade de
todos os indivíduos perante a lei.

Iluminismo é a doutrina formada por um corpo de ideias que, inicialmente divulgadas na Inglaterra,
no século XVII, tiveram desdobramentos na Europa, na América e em outras regiões do mundo.
Valorizava a razão, baseada na ciência – “a luz” – como forma de conhecimento do mundo. Os iluministas
acreditavam na possiblidade de convivência harmoniosa em sociedade; pregavam a liberdade individual;
negavam o absolutismo monárquico e defendiam a liberdade política, econômica e religiosa.
Com efeito, esses ideais, antes mesmo de eclodir a Revolução Francesa, em 1789, já haviam sido
colocados em prática com a Revolução Americana, que culminou com o processo de independência dos
Estados Unidos, em 1776.
Um dos aspectos marcantes da civilização ocidental é o individualismo, a valorização do indivíduo,
que, de certa forma, nasceu com os ideais da Revolução Francesa. O self-made man (expressão inglesa
que significa “homem que se fez por si”, ou seja, que o seu sucesso é devido a si próprio, é a expressão
mais bem acabada do individualismo, na qual se exalta a figura do homem que venceu na vida graças
aos seus próprios esforços. Um exemplo típico do self-made man é Henry Ford, fundador da Ford e
criador do sistema de produção em série.
Outra importante característica da civilização ocidental é o consumismo, que está, de certa forma,
alicerçado em dois princípios fundamentais da sociedade capitalista: a busca constante pela inovação e
o desejo de acumulação de bens. A sociedade norte-americana levou a noção do consumismo ao
extremo, sendo, por si mesmo, considerada a sociedade de consumo por excelência. Em nenhum outro
país o desejo por bens e serviços é tão voraz.

O shopping center reúne, num só local, os valores típicos da sociedade de consumo. Além de buscar
marcas e modas, o consumidor tem diversas opções de entretenimento e lazer: cinemas, bares,
restaurantes, livrarias, centros de diversões, eventos, entre outras. No shopping, também, a família
ocidental de classe média pode fazer as compras do mês num supermercado, enquanto as crianças vão
ao cinema, jogam vídeo game ou observam as vitrines com os últimos lançamentos.

Nos séculos XIX e XX, principalmente, ocorreu a disseminação, para diversas regiões da Terra, de
instituições, de visões de mundo, de modos de vida e de valores construídos no interior da civilização
ocidental. Assim, sociedades da América, Ásia, África e Oceania passaram a ter formas de governo,
estruturas de organização social e política baseadas em Estados Nacionais; estruturas produtivas,
relações sociais e de trabalho, costumes, hábitos e valores moldados na Europa e nos Estados Unidos.
Sociedades coesas, de cultura milenar, não foram permeáveis às mudanças de valores. No entanto,
assimilaram técnicas, sistemas de produção e de gerenciamento, e inseriram suas economias nos
padrões do mercado mundial, como é o caso do Japão, da China, Coreia do Sul, Índia e de outros países.
Na realidade, o que essas sociedades assimilaram foi a modernidade, ou seja, a estrutura político-
administrativa própria dos Estados-Nações europeu e norte-americano, a sociedade urbano-industrial, a
produção e a geração de serviços em larga escala, os avanços tecnológicos que permitem a comunicação
instantânea, a agilidade dos meios de transportes, a dependência coletiva de algumas fontes energéticas

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inanimadas (carvão mineral, petróleo, urânio e tório), a informação rápida sobre acontecimentos em
qualquer parte do globo, a valorização da posse de bens materiais.

Apesar de países como Coreia do Sul e Espanha terem raízes culturais muito diferentes, resultado de
evoluções históricas praticamente distintas até o final do século XIX, suas estruturas de governo e de
organização político-administrativa são, atualmente, muito parecidas. Essa semelhança é resultado da
capacidade da modernidade em se reproduzir em todo o mundo.

Além disso, há outro aspecto que permite separar os conceitos de civilização ocidental e de
modernidade, e que também reforça o caráter global deste último. É o fato de que várias sociedades se
modernizaram sem abrir mão dos traços culturais que forma a essência de sua cultura.
Dois agentes são responsáveis na difusão e reprodução da modernidade em vários lugares do globo:
as empresas multinacionais e a “indústria cultural” – televisão, cinema, jornais, revistas, rádio, publicidade.
São esses agentes os responsáveis pela mundialização e até padronização de hábitos alimentares,
modos de se vestir, formas de lazer, tipos de música, tipos de construções, etc. As empresas
multinacionais estruturam-se em redes mundiais de produção, distribuição e comercialização de bens e
serviços. A indústria cultural – além de exercer forte influência na opinião pública – é o principal meio de
atuação da publicidade e, consequentemente, da difusão do consumo de massa.

A Questão Étnica no Brasil: os Índios e os Negros

Não é possível falar em civilização e tampouco em etnia brasileira. O Brasil é formado por um mosaico
étnico bastante diferenciado, que teve início com o processo de colonização no século XVI, com a
chegada dos portugueses a um território ocupado por indígenas. A quase totalidade da população que
veio de Portugal era formada por homens, o que possibilitou um intenso processo de miscigenação com
as mulheres indígenas. Desse mosaico étnico constam também os povos africanos (que foram obrigados
a imigrar para o Brasil, com a exploração do trabalho escravo); os outros imigrantes de diversos países
europeus e também os árabes; os japoneses; os judeus e povos de diferentes regiões do mundo.
Assim, o Brasil é formado por grupos étnicos distintos, entre os quais ocorreu um intenso processo de
miscigenação e que, apesar de terem em comum a língua – um vínculo marcante -, não estão todos
ligados às mesmas tradições.

A Situação dos Índios


Dos índios que escaparam da escravidão – milhares deles recusaram o trabalho forçado – muitos
foram exterminados durante o processo de colonização e, posteriormente, em conflitos com fazendeiros,
garimpeiros e outros grupos econômicos que invadiam suas terras. Além das mortes em conflitos, grupos
inteiros de indígenas foram aniquilados ao contraírem doenças trazidas pelo colonizador, como, por
exemplo, a gripe, a catapora e o sarampo. Outros grupos tiveram sua cultura descaracterizada pelos
processos de cristianização e aculturação, pelos quais eram incorporados à sociedade branca.

Aculturação é o processo de assimilação cultural resultante de contato que pode ser ocasionado pela
imigração, por intercâmbios comerciais ou pela dominação de outros povos. Apesar de haver uma troca
de saberes e valores entre os grupos, a cultura que prevalece é a dominante.

Cálculos aproximados indicam que mais de 4 milhões de ameríndios viviam no atual território brasileiro,
cada qual com seus costumes, suas crenças, sua forma de organização social e de sobrevivência.
Atualmente, pouco mais de 300 mil indígenas vivem no país.
Territórios Indígenas
São reconhecidos pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio) 556 territórios indígenas no Brasil, dos
quais cerca de 70% estão localizados na Amazônia – a maior parte deles ainda não foi demarcada. A
demarcação é a única forma de garantir aos povos indígenas a decisão sobre a sua maneira de viver, o
respeito aos seus hábitos e tradições culturais, a defesa contra os invasores. De acordo com a lei, as
terras demarcadas são destinadas para uso exclusivo e posse das populações indígenas, que asseguram
para si o direito exclusivo sobre a exploração de recursos naturais de suas terras.
A Constituição brasileira de 1988 reconheceu os direitos dos povos indígenas como os primeiros
habitantes de suas terras e estabeleceu que estas seriam demarcadas até 1995. Entramos no século XXI
e este processo encontra-se ainda em andamento. Mas, apesar de tudo, o último censo registrou uma
elevação da população indígena, o que muitos atribuem à maior atenção à causa indígena e à
demarcação de algumas terras.

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As terras indígenas são frequentemente invadidas pelas grandes empresas madeireiras, pelo garimpo
do ouro, pelas atividades agropecuárias, entre outras. Essas atividades, mesmo quando praticadas
próximas às terras indígenas, comprometem o meio ambiente e constituem uma ameaça à subsistência
desses povos.
O universo indígena brasileiro é bastante diferenciado. Algumas nações indígenas mantém a sua
identidade e as suas tradições, apesar de terem algum grau de contato com a sociedade. Há nações que
só falam o português e adquiram hábitos de consumo de produtos industrializados.
Estima-se que 50 grupos indígenas mantenham-se isolados em áreas próximas às fronteiras ou de
difícil acesso, sem nenhum contato com outras comunidades – a FUNAI reconhece apenas 12 grupos,
quase todos situados na Amazônia brasileira.

A Situação dos Negros


Os africanos eram trazidos principalmente da África Ocidental e a maioria pertencia a dois grupos
étnicos: os sudaneses e os bantos. No Brasil, trabalharam na lavoura de cana-de-açúcar, de algodão, de
café e na mineração.
No período colonial, o Brasil foi o país que mais recebeu africanos. Calcula-se que mais de 3,5 milhões
imigraram, à força, para realizar trabalho escravo. Foi, também, o último país ocidental a abolir a
escravidão, o que ocorreu há pouco mais de um século, em 1888. Escravos libertos foram deixados à
própria sorte numa época em que o Brasil estimulava a imigração. O grande número de negros que
compunha a população preocupava a elite branca brasileira e a imigração foi a forma encontrada para
“clarear” o país.
Atualmente, o Brasil é o país que abriga a maior população negra fora da África. Em 2000, de acordo
com dados divulgados pelo IBGE, a população brasileira apresentava a seguinte composição: 53,8% era
formada de brancos; 39,1% de pardos (pardo é o termo utilizado pelo IBGE para designar os diversos
grupos que resultaram da miscigenação entre negros e brancos); 6,2% de pretos (preto é o termo
utilizado pelo IBGE em suas classificações e pesquisas); 0,5% de amarelos e 0,4% de indígenas. Os
negros representavam, portanto, mais de 10 milhões de habitantes.

Racismo no Brasil
No Brasil, perdurou por muito tempo a ideia de que o país era o melhor exemplo de democracia racial
e de harmonia entre as raças. No entanto, os indicadores sociais demonstram o contrário. Os negros e
os pardos ganham menos que os brancos e têm menor escolaridade. Além disso, a origem racial dificulta
a colocação do indivíduo no mercado de trabalho. Negros e pardos são os grupos mais atingidos pelo
desemprego; dos que conseguem trabalho, a maioria exerce atividades de baixa qualificação e prestígio
social. Por essa razão, moram em lugares mais pobres e distantes do local de trabalho, não contam com
serviços públicos básicos (saúde, educação, saneamento, etc.) e dispõem de poucas opções de lazer.
Segundo a Constituição brasileira, o racismo é considerado crime, mas a punição às atitudes racistas
depende de testemunho de uma terceira pessoa e registro de ocorrência policial. Todavia, muitas vezes
o racismo não é manifestado abertamente. É difícil, por exemplo, comprovar que um emprego foi negado
a determinada pessoa por ela ser negra ou mestiça.
Ao negro e ao pardo é negado o princípio básico das sociedades democráticas, que é a igualdade de
oportunidades.
Propostas conhecidas por ações afirmativas, as quais foram empregadas na África do Sul pós-
apartheid (Apartheid significa separação. Na África do Sul, o apartheid transformou-se em lei que
segregava oficialmente os brancos dos negros. Os negros tinham que frequentar ambientes e morar em
lugares diferentes. Foram confinados aos bairros mais miseráveis da periferia das grandes cidades. Não
podiam compartilhar dos mesmos serviços públicos. A lei proibia, inclusive, o casamento inter-racial. A lei
do apartheid vigorou na África do Sul, por 40 anos, de 1948 a 1990) e nos Estados Unidos, têm se
mostrado eficientes no combate à discriminação racial e na melhoria das condições de vida da população
negra. Dados recentes comprovam que, nos Estados Unidos, essas ações têm propiciado a ascensão
social da população negra. No Brasil, as ações afirmativas estão sendo discutidas e algumas têm sido
aplicadas lentamente, como, por exemplo, o estabelecimento de cotas para negros nas universidades,
nos serviços públicos, no exercício de cargos de chefia. Essas ações visam também estimular as
empresas particulares a terem maior número de negros em seu quadro de funcionários.

Afro-Brasileiros
Os brasileiros facilmente se reconhecem como herdeiros dos europeus. Primeiro dos portugueses,
depois dos franceses e ingleses. Além disso, com a imigração de europeus, principalmente para o estado

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de São Paulo e o Sul do Brasil, passaram então a se reconhecer como descendentes de alemães,
espanhóis, italianos, etc. Sabemos também que descendemos dos povos indígenas.
E dos africanos? Em que medida a cultura brasileira é, também, uma cultura africana?
É comum, mas errôneo, nos referirmos aos africanos como um todo homogêneo, já que o continente
africano reúne culturas essencialmente diferentes.
O Egito, por exemplo, tem uma cultura muito particular, que não apresenta quase nenhuma relação
com a cultura e história brasileiras.
Então, com que parte da África estamos culturalmente relacionados? Com quais culturas africanas?
Buscaremos abaixo algumas raízes de nossa identidade, que é mais africana do que muitos supõem.
Reconhecer a diversidade cultural de nossa formação pode ser uma maneira de compreender nossa
riqueza cultural.
Contudo não podemos louvar a diversidade sem atentar para os conflitos e preconceitos que possam
surgir, pois esse encontro de culturas nunca se fez de maneira pacífica ou como uma soma de saberes.
Ao contrário, tentou-se eliminar as diferenças ou mostrar a superioridade de uma cultura sobre outra.
Muitas vezes, as relações de poder nasceram do reconhecimento da existência de diferentes culturas.
Para citar um exemplo, no processo de colonização do Brasil, os europeus julgavam possuir uma cultura
superior à dos povos indígenas e africanos. Assim, consideravam que dominar esses povos e impor-lhes
sua cultura e religião era algo nobre, era oferecer a salvação a que indígenas e africanos não teriam
acesso de outro modo.

Os Africanos no Brasil
Sabemos que cerca de 220 povos e 5 milhões de habitantes viviam no atual território brasileiro antes
da chegada dos portugueses em 1500. A partir daí os colonizadores começaram a se apossar das terras
e a escravizar indígenas. Na segunda metade do século XVI, com o desenvolvimento da economia
canavieira, o tráfico de escravos ganhou fôlego e começaram a vir as primeiras levas de africanos para a
colônia. Estima-se que cerca de 50 mil africanos chegaram ao Brasil no século XVI; no século seguinte
teriam sido 550 mil, e, no século XVIII, por volta de 1 milhão e 700 mil africanos. No total, teriam chegado
ao Brasil mais de 4 milhões de africanos, e, na América, mais de 10 milhões de seres humanos vindos
da África foram feitos cativos.
Devemos lembrar que não só a cana-de-açúcar havia começado a se desenvolver no Brasil, mas
também a criação de gado no interior, a extração de drogas do sertão no Norte e a cultura do fumo na
Bahia; enfim, iniciava-se a organização de uma sociedade colonial predominantemente rural, na qual
africanos escravizados e indígenas eram a mão de obra essencial para o funcionamento dessa economia.
Além disso, os escravos eram utilizados para tarefas domésticas e urbanas.
Ao longo do período colonial, a segregação racial foi ganhando contornos mais nítidos e o preconceito
foi se reafirmando a todo momento. Para as pessoas consideradas brancas, o trabalho manual era tarefa
destinada somente aos escravos.
Assim, para as famílias mais abastadas, tarefas como cuidar da casa, cozinhar, cuidar das crianças,
transportar cargas, fazer pequenos consertos ou até mesmo trabalhar como vencedor ambulante eram
destinadas aos escravos. A posse de escravos era um sinal de status, uma demonstração de riqueza.
Sinhás passeavam pelas ruas com várias escravas para acompanha-las. Além de lhes prestarem
serviços, eram a prova viva de sua abastança.
Uma vez no Brasil, os africanos eram genericamente chamados de boçais, termo que remetia à
inferioridade das culturas africanas para os portugueses.
Depois de capturados, eram trazidos nus ou seminus e acorrentados nos porões dos navios.
Muitos morriam nesse percurso. Ao chegarem aqui, eram besuntados com banha para participarem
de leilões de venda de escravos nos marcados de cativos.
Tratados como animais que serviriam como ferramenta de trabalho, toda a sua história anterior era
desconsiderada. Seus proprietários desprezavam a origem, a língua, a religião e a história familiar dos
escravizados.
Quando estes aprendiam a língua portuguesa, os costumes do local e se mostravam obedientes as
senhores, passavam a ser chamados de ladinos. Os que nasciam no Brasil eram chamados de crioulos.
A maior parte dos africanos que vieram para o Brasil era procedente da África Atlântica. No século
XVI, vinham da região do Rio Gâmbia, no Golfo da Guiné, da região do Congo e de Luanda. No século
XVIII, muitos escravos vieram da Costa da Mina, ligada diretamente a comerciantes de Salvador e de
Luanda, que abastecia principalmente o Rio de Janeiro. Podemos considerar, então, que chegaram ao
Brasil mais africanos de origem sudanesa, vindos da região conhecida como Sudão ocidental, a qual
abrigava muitas etnias, dentre elas: os hauçás, os fulanis e inúmeros grupos iorubas.
Além desses, há os vários grupos bantos.

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Com isso, uma variedade de línguas, religiões, enfim, uma variedade de culturas passou a conviver na
colônia.
Os africanos, no entanto, não puderam viver próximos de seus familiares, pois a lógica do comércio
fazia com que as pessoas fossem separadas, não respeitando as culturas locais.
Dessa forma, ao desembarcar no Brasil, o africano chegava a uma terra desconhecida e precisava
aprender a conviver com europeus, indígenas e africanos de outras etnias.
Em alguns casos, escravos de um mesmo senhor poderiam pertencer a povos tradicionalmente
inimigos. Nesses casos, tudo que tinham em comum era a condição de escravo.
No Brasil, os escravos tinham de aprender a língua portuguesa para se comunicar com outros escravos
e os senhores. Ocorria então um novo processo de socialização. Com sua identidade original negada
pelos europeus, eram chamados pelos traficantes conforme sua origem ou ponto de venda da África.
Poderiam ser conhecidos como João Mina, Manoel Benguela ou Maria Angola, por exemplo.
Contudo, os africanos escravizados não perdiam totalmente sua identidade original. Na escolha de
parceiros sexuais, por exemplo, levavam em conta a origem do outro, preferindo companheiros da
comunidade africana a que pertenciam.
A partir das relações de parentesco e de trabalho que iam se formando, foram recriadas comunidades
que mantinham tradições culturais africanas e acrescentavam novas práticas constituídas no Brasil.

A Presença Cultural Africana no Brasil


Podemos facilmente perceber a presença africana na origem da música brasileira e de algumas festas
populares nacionais. O batuque, dança originária do Congo e de Angola, era praticado no Brasil pelos
africanos e consistia em uma roda com uma dançarina ao centro e o acompanhamento de um violeiro.
Daí surgiu a expressão batucada para designar as rodas, que, mais tarde, seriam sinônimo de rodas de
samba. Durante o batuque, para sair da roda, a dançarina deveria encostar o umbigo no umbigo de outro
dançarino que entrava. No idioma banto-quimbundo isso é denominado semba, provável origem da
palavra samba.
Do Congo veio também a congada, dança dramática realizada entre as festas de Natal e de Reis.
Trata-se de uma mistura de ritmos africanos com elementos da cultura católica europeia, pois relaciona-
se com o calendário das festas cristãs.
Algumas congadas representam a luta dos povos negros, mas outras fazem referência às lutas entre
cristãos e mouros na Europa. Outra influência dos bantos de Angola e do Congo é a presença do lundu,
conhecido por ser uma dança sensual. Vale ressaltar que o lundu, de dança considerada indecente, se
transformou, a partir do século XIX, em dança de salão aceita pela população de pessoas livres e pela
elite.
Um caso típico das diferenças entre os grupos de africanos escravizados foi o que ocorreu na Bahia
do século XIX, quando muitos africanos hauçás foram trazidos após serem aprisionados na guerra contra
os iorubas. Esses hauçás, de tradição islâmica, distinguiam-se em muitos aspectos dos africanos de
outras regiões que habitavam a Bahia.
A religião é um exemplo dessas novas relações que foram se constituindo. Africanos capturados como
escravos podiam ser curandeiros, conhecedores de práticas mágicas, de adivinhações e intermediários
entre o mundo divino e dos seres humanos. Mesmo como escravos no Brasil, eles continuavam a realizar
essas tarefas. Jogavam pedras, praticavam danças de significado religioso ao som de tambores e
preparavam compostos para beber ou comer, que incluíam extratos de plantas, dentes e penas de
animais, cabelos e mesmo secreções do corpo. Poderiam ter finalidades variadas, que seriam alcançadas
ao cumprir o ritual. Esses ritos no Brasil eram chamados de calundus, palavra de origem banta.
Os africanos também costumavam criar bolsas de mandinga, comuns ainda em algumas regiões do
Brasil. Elas eram feitas de pequenos sacos de pano ou couro que reuniam objetos variados, papéis com
orações muçulmanas, católicas e dizeres relacionados às culturas africanas. Expressavam a síntese
cultural e acreditava-se que ofereciam proteção aos que as usavam.
O candomblé, relacionado a cultos religiosos de origem ioruba e de Daomé (atual República de Benin),
evocava as entidades sobrenaturais que são os orixás, heróis divinizados em reinos africanos. No entanto,
essa prática religiosa era reprimida na colônia portuguesa, condenada pela Igreja Católica, que a
considera como força diabólica. Era permitido somente cultuar os santos católicos. A religião cristã era
apregoada aos escravos pelos colonizadores. Havia igrejas destinadas somente aos escravos. Nessas,
contudo, os escravos criaram uma correspondência entre os orixás do candomblé e os santos católicos.
Iansã era Santa Bárbara, Xangô era São João Batista, São Jerônimo ou São Judas Tadeu e Iemanjá era
Nossa Senhora da Conceição. Oxalufã era conhecido como o Senhor do Bonfim da Bahia, Oxóssi como
São Jorge (na Bahia) e São Sebastião (no Rio de Janeiro), Oxum como diversas Nossas Senhoras (da

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Conceição, das Candeias, etc.) e Omulu como São Lázaro. Esse é um importante exemplo de como se
foi construindo o sincretismo cultural que deu origem à cultura afro-brasileira.
Deve-se destacar, ainda, a importância das chamadas irmandades de pretos. As irmandades
surgiram originalmente na Europa medieval e foram trazidas ao Brasil pelos colonizadores portugueses.
Como instituição laica, tinha por objetivo difundir o culto aos santos e garantir o esforço de evangelização.
Também havia no Brasil as ordens terceiras, que se submetiam a uma ordem religiosa específica.

Questões

01. (Prefeitura de Exu/PE – Professor – ADVISE) Segundo os estudos sobre a etnia brasileira o
“Cafuzo” corresponde a:
(A) miscigenação de negro com índio;
(B) miscigenação de índio com índio;
(C) miscigenação de negro com branco;
(D) miscigenação de negro com negro;
(E) miscigenação de índio com branco.

Gabarito

01.A /

Comentários

01. Resposta: A
Cafuzo é a denominação dada no Brasil para os indivíduos gerados a partir da miscigenação entre
índios e negros africanos.
Normalmente, os cafuzos são caracterizados pela pigmentação da pele escura, quase negra, os lábios
grossos e carnudos e cabelos lisos.
Existem outras variações do nome cafuzo, que foram criadas durante a colonização do Brasil e
empregada ainda hoje em algumas regiões do país, como caburé, cafuz, carafuz, carafuzo, taioca, cafuçu
e cariboca.
Atualmente no Brasil, os cafuzos estão mais concentrados em regiões que tiveram maior influência da
população indígena e dos negros, como os estados do Maranhão e da Bahia, além de algumas regiões
do Pará e Amapá.
No período da colonização do Brasil, o homem branco estava no topo da cadeia hierárquica, sendo
considerado superior aos indivíduos de pele mais escura. Porém, com a intensa miscigenação entre as
várias etnias (brancos, negros e indígenas, principalmente), nasceu a necessidade de classificar as
pessoas em "sub-etnias", com a finalidade de ordená-las socialmente. Por exemplo, quanto mais aspecto
ou características físicas um mestiço tivesse da etnia caucasiana (os brancos), mais privilégios recebia
perante a sociedade.
As principais "sub-etnias" que surgiram no Brasil foram:
Cafuzos: a miscigenação a partir dos índios com os negros africanos;
Mulatos: o resultado da mistura entre os brancos europeus e negros africanos, na época do Brasil
Colonial;
Mamelucos: mistura de indivíduos brancos com índios.

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2. Estrutura produtiva, economia e regionalização do espaço em múltiplas
escalas (Paraná, Brasil, Mundo). 2.1. O espaço geográfico na formação
econômica capitalista. 2.2. Exploração e uso de recursos naturais. 2.3. Estrutura
e dinâmica agrárias. 2.4. Industrialização, complexos industriais, concentração e
desconcentração das atividades industriais. 2.5. Espacialidade do setor
terciário: comércio, sistema financeiro. 2.6. Redes de transporte, energia e
telecomunicações. 2.7. Processos de urbanização, produção, planejamento e
estruturação do espaço urbano e metropolitano. 2.8. As relações rurais-urbanas,
novas ruralidades e problemáticas socioambientais no campo e na cidade. 2.9.
Evolução da estrutura fundiária, estrangeirização de terras, reforma agrária e
movimentos sociais no campo. 2.10. Agronegócio: dinâmica produtiva,
econômica e regional

Distribuição das atividades econômicas no espaço paranaense:

A economia do Paraná é bastante diversificada e seu alicerce está na agricultura, pecuária, mineração,
extrativismo vegetal e indústria.12
As atividades econômicas do Estado do Paraná são bastante variadas, por causa disso esse consegue
se enquadrar entre os Estados de melhores economias, ou seja, os mais ricos. A economia paranaense
está alicerçada na agricultura, pecuária, mineração, extrativismo vegetal e indústria.

Agricultura
O solo paranaense é fértil, favorecendo a atividade agrícola. O Estado produz uma grande variedade
de culturas, se destaca como importante produtor de trigo, milho, soja, algodão e café.

Pecuária
Na atividade pastoril a criação de bovinos se destaca, contendo um numeroso rebanho, além de ser
um grande produtor de suínos, destaca-se também na produção leiteira, de ovos, de bicho-da-seda, entre
outros.

Mineração
O solo paranaense abriga enormes e diversificadas jazidas de minérios, os principais são: ouro, cobre,
minerais nobres, além de outros como a areia, argila, calcário, caulim, dolomita, talco, granitos, mármore,
chumbo e ferro.

Extrativismo vegetal
Esse tipo de atividade consiste em retirar da natureza itens vegetais com fins econômicos, com isso,
as principais árvores exploradas são os pinheiros paranaenses (Araucária Angustifólia).

Indústria
Curitiba concentra uma cidade industrial que atua na indústria automobilística, metalmecânica,
cimento, cerâmica, montagem de máquinas, tecidos, frigoríficos, além das agroindústrias que
transformam produtos primários, como soja, milho, carne suína e madeira.
O parque industrial paranaense reúne, aproximadamente, 24 mil empresas, que geram resultados que
superam a média nacional no ramo.

Turismo
O potencial turístico do Paraná é grande, embora ainda não seja bem aproveitado. Os principais pontos
turísticos são os seguintes:
- Cataratas do Iguaçu – na cidade de Foz do Iguaçu;
- Usina de Itaipu – maior usina hidrelétrica do mundo;
- Canyon Guartelá – sexto maior do mundo;
- Estrada de ferro da Serra do Mar – Mata Atlântica.
Além destes pontos turísticos, a capital do estado, Curitiba, é famosa por ser uma cidade com
transporte integrado e por realizar a coleta de lixo reciclável a mais de dez anos. Na capital, a visita ao

12
FREITAS, Eduardo De. "Economia do Paraná "; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/brasil/economia-parana.htm>. Acesso em 15 de
fevereiro de 2016.

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Jardim Botânico, a Boca Maldita, aos parques da cidade e ao bairro italiano de Santa Felicidade são
indispensáveis.

Informações da economia do Paraná


Participação no PIB nacional: 6,2%
Composição do PIB estadual:
- agropecuário: 18,4%.
- indústria: 40%.
- prestação de serviços: 41,6%.
- Volume de exportação: 10 bilhões de dólares.

Produtos de exportação
- soja e derivados: 34,2%.
- veículos e peças: 21,4%.
- Madeira: 10%.
- Carne congelada: 8,2%.
- Outros alimentos, como milho, açúcar e café: 8,8%.

ENERGIA MUNDIAL

A Infraestrutura Energética no Mundo13

Um Mundo Carente de Energia


As transformações verificadas no decorrer da Revolução Técnico-científica, ou Terceira Revolução
Industrial, foram acompanhadas por uma demanda acelerada de energia. Além disso, o crescimento
econômico e a urbanização crescente na Ásia e na América Latina ampliaram a necessidade de fontes
energéticas. O crescimento do número de automóveis em circulação, um aspecto marcante das
sociedades que se industrializam, também passou a exigir maior volume de combustíveis fósseis
(originados de restos de seres vivos que habitaram a Terra há milhões de anos. Exemplos: petróleo,
carvão mineral, gás natural, xisto pirobetuminoso), (petróleo e gás natural), apesar de os veículos
produzidos atualmente, consumirem, em média, 50% menos combustível do que os modelos de 30 anos
atrás.
Dessa forma, a ampliação dos recursos energéticos é um dos principais problemas das sociedades
contemporâneas. Mas essa ampliação deve considerar a degradação do ambiente, utilizando fontes
menos poluidoras e renováveis. Trata-se de uma tarefa difícil, considerando que a principal fonte
energética para os transportes no mundo inteiro ainda é petróleo.
Os combustíveis fósseis representam praticamente 85% da matriz energética mundial; ou seja,
considerando-se todas as fontes utilizadas no mundo e todas as modalidades de energia – elétrica,
mecânica, térmica -, o petróleo, o carvão mineral e o gás natural são responsáveis por 85% da energia
gerada.

Energia, Desenvolvimento Econômico e Condições Sociais


O desenvolvimento econômico e social está intimamente ligado ao desenvolvimento das fontes de
energia. Pode-se dizer que há uma interdependência: o progresso econômico e social resulta da ativação
de fontes de energia, que, por sua vez, ocorre em consequência das demandas da economia e da
sociedade.
Assim, os países mais desenvolvidos são grandes consumidores de energia e precisam importar
recursos energéticos para suprir suas necessidades. Em geral, esse alto consumo exige também a
utilização de diversas fontes.

As Fontes de Energia e Suas Origens


As fontes de energia podem ser divididas em renováveis e não-renováveis, primárias e secundárias.
A primeira se relaciona à capacidade da fonte em se recompor ou não. O petróleo, gerado através de
decomposição do material orgânico, ao longo de milhares de anos, é uma fonte não-renovável. A
velocidade com que o combustível é produzido pela natureza não permite recompor as quantidades dele
retiradas pela sociedade contemporânea. O álcool, pelo contrário, é um combustível renovável, pois

13
TAMDJIAM, James Onnig. Geografia Geral e do Brasil: estudos para compreensão do espaço: ensino médio/volume único. James & Mendes. São Paulo: FTD,
2013.

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provém do processamento de matéria orgânica viva, a cana-de-açúcar. O ritmo de crescimento da cana
acompanha o consumo do combustível.
A segunda divisão se refere à utilização das fontes. Ela é primária quando a energia fornecida é usada
diretamente para um trabalho ou geração de calor. O uso da lenha para cozinhar alimentos é um exemplo
de energia primária. Mas se se usa lenha ou carvão para alimentar uma caldeira, que por sua vez gera
energia elétrica, esta última é uma energia secundária.
Há ainda uma terceira divisão: a energia pode ser convencional ou alternativa. São consideradas como
convencionais aquelas usadas em grande quantidade e de forma difundida na sociedade contemporânea.
Por exemplo: o petróleo. São energias alternativas aquelas utilizadas em menor quantidade, e que se
encontram ainda em fase de pesquisas. Por exemplo: a energia solar. (Revista Ecologia e Desenvolvimento, ano 2, nº 31,
setembro de 1993, p.10).

As fontes de energia primária mais utilizadas no mundo atual são, respectivamente, o petróleo, o
carvão mineral, o gás natural, o urânio e a hidráulica (da água). Sendo recursos naturais, as fontes de
energia podem ser classificadas em renováveis, como o sol, a água dos rios, o vento, etc.; e não-
renováveis, como o petróleo, o carvão mineral e o urânio.
As fontes não-renováveis podem se esgotar, ao contrário das fontes renováveis.

Energia Hidrelétrica
A utilização da água como fonte de energia é muito antiga e remonta aos tempos dos moinhos movidos
pelas rodas d’água. Atualmente, o movimento natural das águas é utilizado principalmente para a
produção de energia elétrica, a qual é obtida em usinas hidrelétricas. Essas usinas utilizam basicamente
o mesmo princípio empregado nas antigas rodas d’água.

A Energia das Águas


Barragens para o represamento de água e seu uso na movimentação de rodas que acionam moinhos
datam da Idade Média. Pelo que se sabe através de documentos do geógrafo Estrabão (século I a.C.),
moinhos movidos pela força d’água já existiam, pelo menos, nos anos 60 a. C. Porém, a primeira notícia
de barragem com a finalidade de regularizar as vazões para uma série de moinhos industriais refere-se
a instalações construídas no século XII, no rio Garone, sul da França.
As rodas d’água ainda hoje existem nos engenhos de pequenos sítios por todo o nosso país e
desempenharam importante papel, nos séculos passados, em relação a todos os processos de produção
de farinha e açúcar. Ao girar, pela força d’água, movimentam mós de pedra – conjunto de martelos-pilões
-, para socar o milho ou a mandioca, ou ainda pesados cilindros de ferro para esmagar a cana, extraindo
o precioso caldo açucarado com o qual são fabricados o melado, a rapadura, o açúcar, a aguardente e o
álcool. (BRANCO, Samuel Murgel. Energia e Meio Ambiente. São Paulo, Moderna, 1990, p.37).

A energia hidrelétrica é o resultado de uma série contínua de transformações de energia. A energia


inicial é a força da água em movimento encontrada na própria natureza e conhecida como energia
potencial. Por essa razão, a usina deve ser construída em rios que tenham um determinado volume de
água e apresentem desníveis em seu curso.
A barragem construída para a formação de represa garante maior acúmulo de agua e aumenta o
desnível do rio. Dessa forma, a água entra pelas tubulações da usina com maior velocidade e força, o
que acarretará a movimentação das turbinas. Essa movimentação das turbinas pela água constitui a
primeira etapa de transformação de energia – a energia potencial da água é transformada em energia
mecânica (movimento das turbinas).
As turbinas, por sua vez, estão ligadas a um gerador, que transforma a energia mecânica em energia
elétrica, caracterizando a segunda etapa do processo.
As usinas hidrelétricas suprem 18% das necessidades de energia elétrica do mundo, mas apenas em
pouco mais de vinte países as hidrelétricas são responsáveis pela quase totalidade de eletricidade gerada
(mais de 90%), como é o caso do Brasil.
Os países que possuem grande potencial hidráulico são: Estados Unidos, Canadá, Brasil, Rússia e
China. Os Estados Unidos constituem o país que mais aproveita esse potencial, sendo responsável pela
produção de praticamente 1/5 do total da hidroeletricidade produzida no mundo. Mesmo assim, as usinas
hidrelétricas norte-americanas suprem apenas 5% das necessidades energéticas do país. A China
construiu a maior hidrelétrica do mundo – Três Gargantas, no rio Yang-tsé-kiang, que gerou, em 2009, 18
milhões de kwh, suprindo cerca de 10% das necessidades energéticas dos chineses. A usina de Itaipu,
no Brasil, gera 12,6 milhões de kwh e é, a segunda maior hidrelétrica do mundo.

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O fato de ser renovável e de não poluir a atmosfera, ao contrário do que ocorre com os combustíveis
fósseis (carvão mineral, petróleo e mesmo gás natural), são duas grandes vantagens a utilização de
energia hidrelétrica. Além disso, o tempo de vida das usinas é bastante longo e o custo de manutenção
é relativamente baixo.
Porém, a construção de usinas hidrelétricas costuma causar grande impacto socioambiental. Com o
represamento do rio, as barragens formam um grande lago.
A inundação destrói extensas áreas de vegetação natural, comprometendo a vida animal naquele
habitat modificado pela ação humana. Até mesmo pequenas barragens provocam danos ambientais,
como a destruição das matas ciliares, o desmoronamento das margens e o assoreamento do leito dos
rios. Outra consequência da modificação do ciclo natural da água é o comprometimento da vida aquática
e da reprodução dos peixes.
Uma hidrelétrica também pode afetar a vida das pessoas que moram na região em que a usina for
construída. O represamento da água, que acarreta a formação de imensos lagos artificiais, pode
desabrigar populações ribeirinhas, povos indígenas, pequenos agricultores e inundar completamente
vilas, povoados e até pequenas cidades.

As Fontes Alternativas
A enorme participação das fontes não-renováveis na oferta mundial de energia coloca o mundo diante
de um desafio: a busca por fontes alternativas de energia. E isso é urgente, pois o mundo pode,
literalmente, entrar em colapso se forem mantidos os atuais modelos de desenvolvimento
socioeconômico, com base no consumo de petróleo.
As resoluções estabelecidas pela maioria dos países as conferências sobre o clima do planeta, como
o Protocolo de Kyoto (segundo esse protocolo, que os Estados Unidos se negaram a ratificar, alegando
que isso traria prejuízos para a sua economia, os países industrializados, entre 2008 e 2012, deveriam
reduzir em 5,2% as emissões de gases-estufa, principalmente o dióxido de carbono, em relação ao que
lançavam na atmosfera em 1990), que envolvem questões ligadas ao aumento das temperaturas médias
do ar na Terra, exigem uma nova postura por parte dos governos em relação à produção de energia. Isso
só pode ser conseguido com investimentos em tecnologias para a geração de energia limpa.
É preciso considerar também o fato de que um terço da população mundial não tem acesso à energia
elétrica e que o fornecimento de eletricidade é uma condição básica para a melhoria da qualidade de vida
das pessoas, sobretudo no contexto da Terceira Revolução Industrial, em que a informática dinamizou o
acesso à informação, via Internet, e traz novas exigências para a inserção no mercado de trabalho.
Há diversas fontes alternativas disponíveis, exigindo desenvolvimento tecnológico para que possam
ser rentáveis e, consequentemente, utilizadas em maior escala. Entre elas, destacam-se o sol, o álcool,
o vento, o calor da Terra, o carvão vegetal e o biogás.

O Sol
O aproveitamento da energia solar oferece grandes vantagens: não polui, é renovável e existe em
abundância. Entretanto, pelo fato de a sua utilização em larga escala (grandes usinas) para a geração de
energia elétrica estar em fase relativamente inicial de desenvolvimento tecnológico, a energia solar ainda
não é viável economicamente, ou seja, os custos financeiros para sua obtenção superam os benefícios.
A geração de energia elétrica tendo o sol como fonte pode ser obtida de forma direta ou indireta.
A forma direta de obtenção acontece por meio de células fotovoltaicas (trata-se de dispositivos que
desempenham força eletromotriz pela ação da luz. As células fotovoltaicas só produzem corrente elétrica
quando estão iluminadas), geralmente feitas de silício, um dos elementos mais abundantes na crosta
terrestre. A luz solar, ao atingir as células, é diretamente convertida em eletricidade. Apesar de o preço
dessas células estar caindo nos últimos anos, elas ainda são caras.
Para obter energia elétrica a partir do sol de forma indireta, constroem-se usinas em áreas de grande
insolação (áreas desérticas, por exemplo), onde são instaladas centenas de espelhos côncavos (coletores
solares) direcionados para um determinado local, que pode ser uma tubulação de aço inoxidável, como
ocorre no deserto de Mojave, na Califórnia (EUA), ou um compartimento contendo simplesmente ar, como
ocorre em Israel.
No caso das usinas da Califórnia, pela tubulação de aço inoxidável circula um tipo de óleo, que é
aquecido pelo calor do sol concentrado. O óleo aquece a água que circula em outra tubulação. A água
vira vapor, que irá mover as turbinas e acionar os geradores elétricos.
Na usina de Israel, o calor aquece o ar existente no compartimento até 1300ºC, quando este aciona
uma turbina e gera eletricidade.

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O Álcool
O álcool é produzido principalmente a partir da cana-de-açúcar, do eucalipto e da beterraba. Como
fonte de energia, pode ser utilizado para fazer funcionar motores de veículos (álcool etílico, da cana-de-
açúcar, e da beterraba; e metanol, do eucalipto) ou para produzir energia elétrica.
Como combustível para automóveis, o álcool tem a vantagem de ser uma fonte renovável e menos
poluidora que a gasolina, além de ter possibilitado, no caso brasileiro, o desenvolvimento de uma
tecnologia nacional de produção de motores. Mas o álcool nunca suprirá a necessidade total de
combustível dos veículos automotores. Para se ter ideia, os EUA possuem uma frota de quase 200
milhões de veículos; se quisessem utilizar apenas o álcool para abastece-los, necessitariam de uma área
de plantio de cana-de-açúcar de 1 000 000 km², aproximadamente, o que representaria mais de 10% de
todo o território norte americano.

Energia Eólica
Como o sol e a água, o vento também é um recurso energético abundante na natureza. Quando intenso
e regular, pode ser utilizado para produzir energia a preços relativamente competitivos. Este custo poderá
cair ainda mais quando a energia dos ventos estiver mais difundida.
A tecnologia atualmente empregada na construção dos cata-ventos que geram eletricidade é bastante
sofisticada e consegue explorar a força de ventos que sopram a mais de 10 metros por segundo. As
imensas pás dos rotores, com até 100 metros de comprimento, são agora construídas em fibra de vidro
(as primeiras, de aço, deterioravam rapidamente), giram a frequências que não interferem nas
transmissões de rádio e TV e são controladas por computadores.
Alguns países europeus já projetam rotores com potência e até 4 mil quilowatts, enquanto a NASA,
nos EUA, pensa em atingir a potência de muitos megawatts, em colaboração com o Departamento de
Energia.

O Calor da Terra
Outra fonte alternativa de energia é representada pelas centrais geotérmicas, que transformam o calor
do interior da Terra em fonte de energia.
A principal vantagem da energia geotérmica é a escala de exploração, que pode ser adequada ás
necessidades, permitindo o seu desenvolvimento em etapas, à medida que aumenta a demanda.
Uma vez concluída a instalação, os seus custos de operação são baixos.
Já existem algumas dessas centrais encravadas em zonas de vulcanismo, onde a água quente e o
vapor afloram à superfície ou se encontram a pequena profundidade.
Costa Rica, Guatemala e, principalmente, a Islândia, já utilizam esse tipo de energia.
Atualmente a exploração da energia geotérmica estende-se a outras regiões, além das vulcânicas,
cuja superfície apresenta claros indícios de vapores subterrâneos.

O Biogás
O biogás, constituído principalmente pelo gás metano, é obtido a partir de reações anaeróbicas (sem
oxigênio) da matéria orgânica existente no lixo, que é recolhido nas cidades e depositado nos aterros
sanitários energéticos. Ele tem sido utilizado para gerar gás combustível de uso doméstico ou combustível
de veículos, solucionando ainda um sério problema, especialmente para as metrópoles: a destinação do
lixo.
O biogás também pode ser obtido por meio de aparelhos chamados biodigestores, nos quais se
processa a fermentação de esterco, folhas de árvores e outros compostos orgânicos, constituindo-se uma
excelente alternativa para as áreas rurais.

A Sociedade de Consumo e o Consumismo

O modelo de acumulação capitalista calcado na obtenção de lucros se reproduz, em grande parte, no


aumento crescente dos níveis de produção e de consumo de bens e serviços. Mas essa expansão da
sociedade de consumo em escala também crescente pode ser apontada como uma das causas
estruturais da degradação ambiental contemporânea promovida pelo capitalismo.
A cultura do consumo, que se coloca como condição básica para a manutenção do mercado, depende
do aumento da produção, o que, por sua vez, aumenta a pressão sobre os recursos naturais, acarretando
os mais avariados impactos e problemas ambientais. Embora o consumo seja condição vital para que as
pessoas satisfaçam suas necessidades básicas de sobrevivência (alimentos, roupas, medicamentos,
moradias, escolas, hospitais, etc.), o modelo econômico e a lógica do mercado têm estimulado as pessoas

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a consumir exageradamente, o que nos permite dizer, portanto, que estamos vivendo em um mundo cada
vez mais consumista.
Associado a um conjunto de práticas sociais, culturais e econômicas, esse comportamento consumista
está inserido na lógica mercantil, sendo motivado por causas múltiplas. Na disputa pelo domínio de fatias
cada vez maiores do mercado, os segmentos produtivos utilizam inúmeros mecanismos e estratégias de
venda. Por meio do marketing, por exemplo, anúncios publicitários veiculados na mídia (rádio, televisão,
jornais, revistas, outdoors, etc.) procuram estimular o consumo, despertando nas pessoas o desejo de
adquirir mais e mais produtos).
A rapidez com que as inovações tecnológicas ocorrem também contribui para o aumento do consumo.
Com as empresas lançando produtos cada vez mais sofisticados e avançados do ponto de vista
tecnológico, as pessoas tendem a substituir produtos ainda novos pelos que acabam de chegar às lojas
do comércio. Estrategicamente planejado pelas empresas, o lançamento de novos produtos que inundam
as lojas do comércio aumenta em muito suas vendas gerando, portanto, novos hábitos consumistas.
Mas, para garantir essa expansão do consumo e estimular as pessoas a comprar cada vez mais, o
mercado também se encarregou de criar inúmeras estratégias de venda. Os estabelecimentos
comerciais, sobretudo as grandes redes, apostam na realização de promoções e liquidações e oferecem
formas de pagamento “facilitadas” como crediários, prestações, parcelamento em cartões de crédito, etc.
as instituições financeiras, por outro lado, oferecem linhas de crédito, como financiamento e empréstimos
que permitem a aquisição de produtos sem que o consumidor tenha de fazer o pagamento imediato da
compra. Embora essas opções facilitem o acesso ao consumo, elas induzem ao consumismo,
aumentando também o endividamento individual, uma vez quem muitos consumidores acabam tendo
dificuldades de efetuar o pagamento dos compromissos assumidos no ato da compra.

Desigualdade e Consumo no Mundo


Ainda que o nível de consumo da sociedade contemporânea continue se expandindo, ele ocorre de
maneira bastante desigual entre os países do mundo. Como o consumo de uma população é determinado
em grande parte pelo nível de sua renda, pode-se concluir que existem grandes diferenças de consumo
entre os países ricos e desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Nos países ricos, a renda per capita
anual da população está, em média, em 40 mil dólares, como ocorre nos Estados Unidos, Canadá,
Alemanha, França, Bélgica, Japão e Austrália. Já em países mais pobres, essa mesma renda não chega
a 800 dólares ao ano, caso do Haiti, Bangladesh, Afeganistão, Serra Leoa, Níger e Ruanda.

Recursos Naturais: Escassez e Abundância x Riqueza e Pobreza


Faz-se hoje uma grande comparação entre o crescimento econômico de um país e suas implicações
sobre a oferta de recursos naturais. Não é difícil notar que um país desenvolvido consome muito mais
produtos, inclusive descartáveis, aumentando a pressão sobre os recursos naturais. Vejamos um exemplo
simplificado de um estudo publicado nos Estados Unidos.

Os países desenvolvidos, tendo um maior poder aquisitivo, são os responsáveis pelo maior consumo
no planeta, muitas vezes de maneira impulsiva e desnecessária.
Esse estilo de vida baseado no “consumo como forma de obter felicidade” foi mais uma estratégia
capitalista de ampliação de negócios que, nos Estados Unidos, recebeu o nome de American Way of Life.
Basta mensurar tal comportamento pelo lixo produzido:
. Produção de lixo mundial por dia: 2 milhões de toneladas;
. Média mundial/dia por habitante de áreas urbanas: 700 g;
. Média de produção de lixo por habitante/dia na cidade de Nova York (EUA): 3 KG.

Os países industrializados apresentam menos de 25% da população mundial, mas consomem 75% da
energia global, 80% dos combustíveis comercializados e cerca de 85% dos produtos madeireiros.
Em contrapartida, nos países subdesenvolvidos, a renda média equivale a apenas 5% da obtida em
países industrializados, indicando que o consumo nesses países se restringe ao necessário ou a menos
que isso. Mesmo assim, a pobreza também exerce pressão negativa sobre o meio ambiente, uma vez

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que, em muitos casos, o comportamento de quem vive na miséria e na pobreza é predatório. Poderíamos
citar como exemplos de comportamentos predatórios contra o meio ambiente:
. a coivara – queimada -, técnica primitiva de agricultura;
. o garimpo ilegal e a contaminação de rios com mercúrio;
. a ocupação irregular das margens de mananciais pelas favelas em expansão, nos países pobres.
Mananciais são fontes de água doce, superficiais ou subterrâneas, que podem ser utilizadas para
consumo humano ou desenvolvimento de atividades econômicas. (Fonte: Ministério do Meio Ambiente).

O Despertar da Consciência Ecológica


A preocupação com o agravamento dos problemas ambientais levou, a partir das décadas de 1960 e
1970, ao surgimento de movimentos ambientalistas organizados pela sociedade civil como forma de
protestar, alarmar e cobrar mudanças para reverter o preocupante cenário de degradação da natureza
promovido pela sociedade.
A emergência dos movimentos ambientalistas eclodiu juntamente com um conjunto de outras
manifestações de caráter social, das quais fazem parte o movimento das mulheres, dos negros e dos
pacifistas, por meio de determinados segmentos sociais engajados na luta por melhores condições de
existência e de vida no planeta. Uma característica singular dos movimentos ambientalistas ecológicos,
em comparação com outros movimentos sociais, reside no fato de que, na prática, nenhum outro
movimento passou a questionar, de maneira tão ampla, temas tão distintos quanto aqueles que
perpassam pela questão ambiental.
Os movimentos ambientalistas começaram a se fortalecer primeiro na Europa e nos Estados Unidos a
partir de alguns grandes desastres ambientais ocorridos antes d década de 1970, tais como: a
contaminação do ar nas cidades de Nova York e Londres, entre 1952 e 1960; a intoxicação por mercúrio
nas baías de Minamata e Niigata, entre 1953 e 1965, no Japão; o acidente com o navio superpetroleiro
Torrey Canyon, ocorrido no canal da Mancha, entre a Inglaterra e a França, em 1967; a redução da vida
aquática em alguns dos Grandes Lagos, nos Estados Unidos; a morte de aves causada pelos efeitos de
pesticidas, como o DDT. Nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, esses movimentos chegaram um
pouco mais tarde, já no final da década de 1970 e início dos anos 1980.
Paralelamente a acontecimentos como esses que despertaram a opinião pública, a questão ambiental
também se tornou alvo de maior preocupação da comunidade científica, sobretudo com os avanços da
ecologia e ciências correlatas, como a biologia, por exemplo. Uma nova literatura começou, então, a
questionar os imites da degradação ambiental no planeta, que, no plano político internacional, também
se tornaram alvo de maior preocupação.
Em 1968, especialistas de diversos países se reuniram em Roma, Itália, a fim de formularem projeções
sobre o futuro do planeta, alertando para os riscos ambientais promovidos pelo modelo econômico
vigente, baseado na exploração dos recursos naturais. Esse acontecimento assinalou a fundação do
Clube de Roma que, em 1972, publicou o estudo intitulado Os limites do crescimento. Ao apontar os
limites da exploração do planeta, algo até então inquestionável, esse estudo estimulou a consciência da
sociedade e da tomada de atitude de governos de diferentes países a respeito da problemática ambiental.
Foi nesse contexto que a temática ambiental adquiriu projeção e ganhou espaço nas grandes
discussões internacionais. Ainda em 1972, a ONU realizou em Estocolmo, Suécia, a I Conferência das
Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente. Contando com representantes de mais de 100 países
e outras centenas de instituições governamentais e não governamentais, foram discutidas questões como
o controle da poluição do ar, a proteção dos recursos marinhos, a preservação e o uso dos recursos
naturais, entre outras.
Na década de 1980, a ONU deu continuidade ao debate da questão ambiental com a Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada para estudar a problemática ambiental. Em
1987, esses estudos foram concluídos com a elaboração do documento Our Common Future (Nosso
futuro comum), conhecido como Relatório Brundtland. Como forma de conciliar o crescimento
econômico com a preservação do meio ambiente, o documento trouxe à tona a necessidade de se
promover um novo modelo de crescimento, o chamado “desenvolvimento sustentável”, como sendo
aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem as suas necessidades.
Em 1992, vinte anos após o encontro em Estocolmo, a cidade do Rio de Janeiro sediou a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como Eco-92 ou Rio-92.
Além de reafirmar a importância do desenvolvimento sustentável, como meta para conciliar o crescimento
econômico, com justiça social e conservação ambiental, o encontro contribuiu para ampliar a
conscientização sobre os problemas ambientais, fortalecendo ainda maios os movimentos ambientalistas
e ecológicos.

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Em 1997, na cidade japonesa de Kyoto, foi formalizado um protocolo que instituiu metas para a redução
progressiva na emissão de gases poluentes, sobretudo daqueles que agravam o efeito estufa, como o
dióxido de carbono (CO²). De acordo com esse documento, os países mais ricos e industrializados
deveriam se comprometer a reduzir a emissão desses gases. Embora aceito pela grande maioria dos
países, o protocolo foi recusado pelos Estados Unidos (que respondem por cerca de 25% da emissão
total de CO² na atmosfera) enquanto outros países se opõem a ratificar o tratado que prevê cortes ainda
maiores nas emissões desses gases.
Em 2002, foi realizada em Johanesburgo, na África do Sul, a Conferência da Cúpula Mundial para o
Desenvolvimento Sustentável, a Rio +10, com o objetivo de fazer um balanço das ações realizadas e dos
resultados obtidos com base nos acordos firmados entre os países que participaram da Rio-92. Além das
questões relacionadas à conservação ambienta, também foram discutidas temáticas em âmbito social,
como a meta de redução do número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Nesse encontro,
entretanto, houve pouco comprometimento das nações envolvidas em assumir realmente ações que
tivessem como resultado a melhoria socioambiental, como o cancelamento da dívida externa de países
subdesenvolvidos, a substituição de parte da energia provinda de combustível fóssil por fontes
energéticas renováveis (como a eólica, a solar, etc.).
Em junho de 2012, objetivando um encontro entre representantes do governo, ONGs, empresas
provadas e setores da sociedade civil em geral de grande parte dos países do mundo, foi realizada, no
Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Nesse
encontro, fez-se um balanço do que foi efetivamente realizado nos últimos vinte anos sobre as questões
ambientais, em especial, as estratégias mais eficientes para se promover a sustentabilidade ambiental e
também para se combater e eliminar a pobreza extrema no mundo.

Questões

01. (Transpetro – Economista – CESGRANRIO/2018) A matriz energética de um país, de uma


região, ou mesmo do mundo, mostra a importância relativa das diversas fontes de energia.
O exame das matrizes, brasileira e mundial, sugere que, quantitativamente, a (s)
(A) mais importante fonte de energia no mundo atual é a hidroelétrica.
(B) energia nuclear no mundo é menos importante do que no Brasil.
(C) energia do petróleo é a mais importante fonte no Brasil.
(D) energia do carvão é mais importante no Brasil do que no mundo.
(E) fontes fósseis de energia (petróleo, gás natural e carvão) são mais importantes no Brasil do que no
mundo.

02. (Prefeitura de Venda Nova do Imigrante – ES – Assistente Social – CONSULPLAN) Petróleo,


gás natural e carvão mineral suprem mais de 80% da demanda mundial de energia, mas o
desenvolvimento de novas tecnologias tem ampliado as alternativas de geração energética a partir de
fontes renováveis e menos poluentes. Com base nessas informações, associe corretamente o tipo de
energia à sua fonte geradora.
1. Energia eólica.
2. Energia geotérmica.
3. Energia solar.
4. Energia maremotriz.
( ) Obtida do calor proveniente do interior da Terra.
( ) Do vento.
( ) Do movimento (ondas, marés e correntes).
( ) Do sol.
A sequência está correta em
(A) 2, 3, 4, 1
(B) 2, 1, 4, 3
(C) 2, 1, 3, 4
(D) 2, 4, 1, 3

Gabarito

01.C / 02.B

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INDUSTRIALIZAÇÃO MUNDIAL

Indústria e Transformações no Espaço Geográfico

Não é exagero afirmar que o espaço geográfico contemporâneo é resultado, em boa medida, das
transformações promovidas pela Revolução Industrial em diferentes etapas. E o modo de vida atual é
reflexo, direta ou indiretamente, das inovações da tecnologia industrial.
A atividade industrial manifesta-se não só em sua ocorrência no espaço físico, mas também nos
produtos consumidos pela população local, nos meios de comunicação e nos meios de transporte.
A indústria foi responsável pelas grandes transformações urbanas, pela multiplicação de diversos
ramos de serviços que caracterizam a cidade moderna e pelo desenvolvimento dos meios de transporte
e comunicação que atualmente interligam todo o espaço mundial. Ela também foi responsável pelo
aumento da produção agrícola, graças à mecanização das atividades de criação, plantio e colheita, além
do uso de insumos de origem industrial. Enfim, por causa da indústria criou-se um novo modelo de vida,
com novos hábitos de consumo e novas profissões, ocorreu uma nova estratificação da sociedade e
modificou-se significativamente a relação da sociedade com a natureza.

O que é Indústria?
A indústria consiste em um processo de produção de instalações, a fábrica, usando máquinas e o
trabalho humano, que transforma e combina as matérias-primas para produzir uma mercadoria. Nos dias
atuais a indústria utiliza tecnologias cada vez mais sofisticadas, como robôs (em trabalhos que eram
realizados pelo ser humano) e equipamentos de grande precisão.
As atividades industriais podem ser classificadas em:

1. indústria extrativa – extração de recursos naturais de origens diversas, principalmente de minerais;

2. indústria de transformação – produção de bens a partir da transformação de matérias – primas;


de acordo com o destino desses bens. Podem ser divididas em:

* indústrias de base ou de bens de produção – produzem matérias – primas para outras indústrias,
como alumínio (metalúrgica), aço (siderúrgica), cimento e derivados de petróleo (petroquímica), que serão
utilizadas para fabricação de outros produtos;

* indústrias de bens de capital – produzem máquinas, peças e equipamentos para outras indústrias;

* indústrias de bens de consumo – produzem mercadorias diretamente para o consumidor; os bens


de consumo podem ser duráveis (móveis, aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos, automóveis,
computadores, etc.) e não-duráveis (alimentos, bebidas, cigarros, vestuário, calçados, etc.).
As atividades industriais podem, ainda, ser individualizadas nos seguintes setores:

* indústria da construção civil – construção de edifícios, usinas para produção de energia, pontes,
etc.;

* indústria da construção naval – construção de navios;

* indústria aeronáutica – construção de aviões;

* indústria bélica – produção de armas, tanques, navios e aviões de guerra.

É possível considerar três estágios bem distintos na evolução do processo de modernização da


produção industrial fabril:
* a Primeira Revolução Industrial (1750-1870);
* a Segunda Revolução Industrial (1870-1945);
* a Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-científica (após 1945).

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As Revoluções Industriais e o Perfil do Trabalhador

Com a Primeira Revolução Industrial, em meados do século XVIII na Inglaterra, houve uma
reestruturação da força de trabalho. Os cercamentos levaram à expulsão dos camponeses, que migraram
para as cidades, em busca de trabalho.
As manufaturas ofereciam empregos braçais e repetitivos para operários sem qualificação profissional,
pois nesse processo, os trabalhadores sofreram duas expropriações: do seu conhecimento e, ainda, dos
seus meios de subsistência. Os salários eram baixos e as jornadas de trabalho muito longas, fatos que
impeliam todos os membros da família ao trabalho.
A despeito das lutas dos trabalhadores, a exploração se acentuou com a entrada maciça de mulheres
no mercado de trabalho, que recebiam salários inferiores aos pagos aos homens.
Um século depois, diversas nações europeias e também dos EUA faziam parte da era industrial.
A chamada Primeira Revolução Industrial resultou em várias alterações nas relações sociais de
produção.
Os artesãos perderam autonomia com as primeiras tecnologias e máquinas que apareceram no
processo produtivo. Tais máquinas eram propriedade de um pequeno grupo da burguesia que buscou
extinguir as condições anteriormente existentes de produção, baseadas no artesanato. Essa fase da
Revolução Industrial foi caracterizada também pelos seguintes fatores:
→ invenção do tear mecânico e do descaroçador de algodão, promovendo o desenvolvimento da
indústria têxtil e o aumento da produção de tecidos;
→ invenção da máquina a vapor, em substituição às tradicionais fontes de energia (eólica e hidráulica)
e à tração animal, o que possibilitou a expansão do mercado e das trocas;
→ uso do coque para a fundição do ferro e seu uso, por exemplo, nas estradas de ferro que
dinamizaram o transporte e a distribuição de mercadorias;
→ redefinição da urbanização possibilitando um adensamento da mão de obra nas grandes cidades,
que se consolidaram como o lugar da realização do capital, e ao mesmo tempo, a organização da classe
trabalhadora, que passou a lutar contra a exploração exacerbada da burguesia industrial.

A Primeira Revolução Industrial

A Revolução Industrial introduziu uma forma mais eficiente de produzir mercadorias; maior quantidade
em menor tempo e com menores custos. Isso foi possível com o agrupamento dos trabalhadores nas
fábricas e com a divisão do trabalho, de modo que cada trabalhador realizasse uma etapa do processo
produtivo. Essas mudanças foram introduzidas em meados do século XVIII, na Inglaterra, e logo
difundiram-se para outros países da Europa.
A primeira mudança foi, sem dúvida, a invenção da máquina a vapor, que utilizava a energia produzida
pela queima do carvão mineral, recurso abundante em vários países da Europa.
Com a utilização da máquina a vapor, as fábricas puderam se localizar perto das cidades. Antes, as
pequenas fábricas existentes se encontravam dispersas, pois utilizavam energia hidráulica e precisavam
ser instaladas próximo de rios.
As invenções voltadas para a produção de mercadorias refletiram em todas as instâncias da vida
social. Por exemplo, do ponto de vista das comunicações e transportes, ampliaram as relações entre
regiões distantes. Além disso, intensificaram a urbanização nos países industrializados.
Nas fábricas, os operários eram obrigados a trabalhar no ritmo definido pela necessidade de produção.
Devido à extenuante jornada de trabalho, que chegava a 16 horas por dia, os operários, na maioria das
vezes vindos do campo, preferiram ocupar habitações muito precárias junto das fábricas, formando
bairros miseráveis.
A industrialização ampliou a divisão social do trabalho dentro da unidade de produção (a fábrica) e
no interior da sociedade de cada país.

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Ao mesmo tempo em que ampliou divisão social do trabalho, a Revolução Industrial estabeleceu uma
divisão internacional do trabalho entre os países industriais (que produziam e exportavam manufaturas)
e as regiões fornecedoras de produtos agrícolas e minerais (que produziam e exportavam matérias-
primas e alimentos).
O crescimento da população industrial na Inglaterra e a necessidade de ampliar o mercado para além
das próprias fronteiras deram origem ao liberalismo econômico, uma nova maneira de pensar a economia.
O liberalismo considerava nociva a intervenção do Estado na produção e na distribuição das riquezas e
defendia a livre concorrência entre as empresas e os países. Naquele momento, as ideias liberais
interessavam à Inglaterra, que não encontrava concorrentes devido ao seu avançado estágio de
desenvolvimento tecnológico e a sua grande capacidade de transporte propiciada por sua imensa frota
naval.

A Segunda Revolução Industrial e o Imperialismo

Novas tecnologias, novas fontes de energia e a expansão da atividade industrial marcaram uma nova
etapa do desenvolvimento capitalista, na segunda metade do século XIX. É o início da Segunda
Revolução Industrial. As hidrelétricas e o petróleo ampliaram a capacidade de geração de energia e
acrescentaram novas possibilidades à tecnologia de produção e, portanto, ao aparecimento de novos
produtos. Surgiram as grandes siderúrgicas e as indústrias químicas. A marinha mercante multiplicou a
sua frota em diversos países europeus, nos Estados Unidos e no Japão. As ferrovias se expandiram por
todo o mundo, como meio de transporte e como atividade empresarial. A evolução e a ampliação dos
sistemas de transporte estimularam o desenvolvimento da atividade industrial e criaram novas
possibilidades em relação à localização geográfica de alguns setores industriais.
Nessa fase, a livre concorrência das pequenas e médias empresas da Primeira Revolução Industrial
foi praticamente substituída pelo monopólio praticado por empresas gigantescas, comandadas por
grandes bancos que passaram a investir, também, na produção. O empresário, isolado, não tinha como
realizar investimentos tão elevados.
O domínio econômico das grandes empresas intensificou as disputas comerciais entre os países e
ampliou as disputas territoriais para muito além de suas fronteiras. No final do século XIX, a Inglaterra,
que mantinha o maior império colonial do planeta, não era a única potência industrial. Os países que se
industrializaram nesse período incorporaram as tecnologias mais recentes e modernas, enquanto
algumas indústrias inglesas eram consideradas “velharias” da Primeira Revolução Industrial. Alemanha,
Itália, França, Japão e Estados Unidos competiam em pé de igualdade com a indústria inglesa e, em
diversos setores, até com superioridade. Todos queriam ampliar seus mercados e suas fontes de
matérias-primas.
Os Estados Unidos já exerciam domínio sobre o continente americano. A Itália, a Alemanha e o Japão
não tinham colônias para ampliar a base de sua produção industrial. O mundo industrializado criou um
vasto império colonial que se estendeu por todo o planeta com ocupação direta de territórios, guerras e
acordos econômicos com as elites das novas colônias. É a fase do imperialismo ou neocolonialismo.
A Segunda Revolução Industrial, no século XIX, trouxe novidades tecnológicas também nas relações
de trabalho. O carvão, componente energético da Primeira Revolução Industrial, foi sendo,
paulatinamente, substituído pelos derivados do petróleo. Os motores a explosão levaram ao
desenvolvimento dos automóveis que se tornaram gênero de produção em série.
Diversos postos de trabalho requeriam mão de obra com especialização, muito embora os salários
continuassem baixos.
Foram desenvolvidas as práticas do fordismo e do taylorismo com o objetivo de aumentar a
produtividade e, consequentemente, o lucro empresarial.

Tecnologias de Processo – Fordismo e Taylorismo


A evolução da produtividade não depende apenas das máquinas. Foi o que demonstraram os Estados
Unidos no início do século XX, em plena Segunda Revolução Industrial, com a introdução de novas
técnicas de produção industrial, que possibilitaram uma racionalização extrema no processo do trabalho
no interior da fábrica: o taylorismo e o fordismo.
O taylorismo, idealizado pelo inventor Frederick Winslow Taylor (1856-1915), partia da concepção de
que o trabalho fabril era um conjunto de tarefas totalmente independentes da profissão do trabalhador.
Para Taylor, o melhor operário não é nada mais que um operário. O conhecimento do processo produtivo
era uma tarefa exclusiva do gerente, que deveria determinar e fiscalizar cada etapa dos trabalhos a serem
feitos no menor espaço de tempo e sem perda de qualidade.

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O fordismo foi implantado pelo empresário Henry Ford (1863-1947) na produção de automóveis, no
início do século XX. O modelo de produção fordista associada a linha de montagem às técnicas de
organização do taylorismo. O automóvel, em processo de montagem, deslocava-se no interior da fábrica
para a realização de cada etapa de produção. O trabalhador, especializado, realizava sua tarefa num
tempo determinado e o automóvel continuava a se deslocar até a instalação da última peça, do último
acabamento.
Método de otimização da produção, o fordismo baseava-se na linha de produção em série com os
funcionários desempenhando cada um uma única função em ritmo acelerado.
A produção era verticalizada, contando com uma rígida hierarquia de chefes e subchefes, com ordens
encaminhadas do alto para o baixo escalão.
Ao fordismo foi acoplado o taylorismo, método desenvolvido pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor
em que o tempo de produção das máquinas e dos operários era rigidamente controlado para se obter a
máxima produtividade. O taylorismo era inflexível com horários e metas de produção.

Chaplin em “Tempos modernos”, 1936: uma denúncia da alienação e da violência na produção industrial.

A produtividade aumentou e, com ela, o lucro. Essa equação era muito interessante para os
empresários da época, exceto por um aspecto: o mercado consumidor não acompanhava o ritmo da
produção, o que gerava estoques e capital estagnado.
Ao longo da década de 1920, a crise da superprodução e dos baixos salários gerou falências e
desemprego, fatos que colocaram o sistema capitalista em situação de colapso.
Em 1929, a crise deflagrou a quebra da bolsa de valores de Nova York.
A década de 1930 apresentou uma depressão econômica que motivou fortes insatisfações, que
contribuíram para a erupção da Segunda Guerra Mundial.

A Reestruturação do Sistema Capitalista

Com o final da Segunda Guerra Mundial, as nações europeias criaram o "Estado do Bem-Estar Social",
conhecido como Welfare State, para dar garantias de sobrevivência, moradia, saúde e educação aos
cidadãos de maneira indistinta. O programa do Bem-Estar Social foi se aprimorando ao longo das décadas
do século XX, criando o sistema previdenciário para gerar segurança para a população.
O Welfare State apoiou-se nas ideias do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946).
Para Keynes, o Estado deveria ser o interventor e o articulador da economia. Os investimentos seriam
necessários para tirar os países da crise em que se encontravam e garantir, a longo prazo, a estabilidade
do emprego, o que resultaria na estabilidade da demanda e, consequentemente, evitaria novas crises.
Com mais de 20 milhões de desempregados, sendo 14 milhões nos EUA no pós-guerra, os países
centrais não tinham outra solução a não ser promover uma política de fortalecimento do Estado e das
bases sociais para garantir o funcionamento do próprio sistema.
Com as medidas do Welfare State, as populações da Europa e dos EUA passaram a desfrutar de
avanços sociais significativos. Obviamente, os custos empresariais se elevaram com o aumento dos
salários, as jornadas de trabalho reduzidas e os impostos mais altos.
Para as empresas, os países centrais viraram sinônimos de mercado consumidor e mão de obra
qualificada, pois agora contavam com escolarização, enquanto nos países periféricos, as políticas
públicas de bem-estar social não haviam sido implantadas.
Os países periféricos, dessa forma, tornaram-se interessantes como áreas de exploração da mão de
obra e dos recursos naturais. Mudava-se a concepção da função dos países centrais e periféricos na
chamada DIT (Divisão Internacional do Trabalho e da produção).

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Diversos países periféricos, sobretudo da América Latina (Brasil, Argentina e México) e posteriormente
da Ásia (na época chamados de Tigres e Novos Tigres Asiáticos), industrializaram-se seguindo os
interesses das empresas transnacionais, que ansiavam por lucros mais expressivos.
Os governos dos países periféricos incumbiram-se de criar a infraestrutura necessária para a
implantação das indústrias estrangeiras, recorrendo a empréstimos internacionais.
Sabemos que o preço de um produto é fixado, primeiramente, pelo seu custo e valor agregado. Quanto
maior a tecnologia empregada, maior será o valor final. Dessa forma, o trabalho intelectual, o de criação
tecnológica, tem um valor muito maior do que o de ação mecânica, isto é, o da produção do gênero em
série. Assim, para equilibrar os valores gastos nas importações de tecnologia - produtos de alto valor
agregado e máquinas - os países periféricos são obrigados a produzir gêneros em quantidades cada vez
maiores.
Em última instância, o dinheiro é remetido, por meio do sistema financeiro internacional, para locais
mais seguros ou lucrativos, ou seja, nem sempre quem produziu ficará com o resultado para futuros
investimentos.
É por isso que vemos a situação do PIB (Produto Interno Bruto) dos países de forma tão discrepante
no mundo.
A política do Bem-Estar Social incentivou a qualificação profissional e o desenvolvimento de novas
tecnologias. O mercado de trabalho passou a valorizar indivíduos que têm a noção do todo e não apenas
de uma parte da produção.
Se as condições de vida melhoraram, pode-se dizer o mesmo para a economia dos países centrais. A
nova DIT contribuiu para a acumulação de riquezas, explorando os países periféricos, além de também
ter gerado uma massa de consumidores de elevado poder aquisitivo, principalmente nos países
desenvolvidos.
Contudo, fatores de ordem econômica e tecnológica implicaram uma nova dinâmica de produção e
consumo, nas décadas de 1970 e 1980. Vejamos alguns destaques:
→ As crises do petróleo (1973 e 1979) aumentaram muito os preços dos combustíveis fósseis,
símbolos da Segunda Revolução Industrial;
→ O insucesso norte-americano da Guerra do Vietnã. Apesar dessa derrota, a indústria bélica norte-
americana, em decorrência do conflito, passou por um forte desenvolvimento do Complexo Industrial-
Militar.
A geração de novas tecnologias, sobretudo no campo da informática e da robótica, pelos países
capitalistas, aumentou a eficiência da economia ocidental. Sem essa eficiência, o bloco socialista ficou
em defasagem na produção industrial e militar, o que contribuiu para a sua crise, o desmoronamento e o
fim da Guerra Fria.

A Terceira Revolução Industrial e o Desemprego Estrutural

O fim do bloco socialista, a vitória do capitalismo e a chegada da Nova Ordem Mundial determinaram
o fim da disputa ideológica típica da Guerra Fria. E, sem a necessidade de mostrar o sistema capitalista
como o mais benéfico para os trabalhadores, as grandes empresas ficaram livres para reduzir os seus
custos, principalmente os de mão de obra.
A era da informatização ou Terceira Revolução Industrial trouxe agilidade, interligou o planeta por meio
dos sistemas de comunicação e transportes muito eficientes, incorporou máquinas e robôs na produção.
Postos de trabalho foram eliminados permanentemente, configurando o desemprego estrutural.
Nesse mesmo período, o neoliberalismo ganhou força, defendido, principalmente, pelos governos dos
EUA e da Inglaterra. Para estes, a economia se "autorregula" e, portanto, o Estado não precisa intervir
na economia.
Ora, o fim da "mão protetora do Estado" ficou muito evidente nos antigos países socialistas, quando o
socialismo real ruiu. Os neoliberais queriam mais. Mais abertura econômica e o fim dos benefícios sociais-
conquistados. Seria o fim do Welfare State?
E em países em que ele sequer foi implantado de forma significativa?
No plano da propaganda, o neoliberalismo prega que o bem-estar é uma conquista individual, adquirida
por meio da competência, em vez do paternalismo do Estado.
Dessa forma, o discurso se afasta do campo das "oportunidades" e se finca no aspecto da competência
individual. Assim, a responsabilidade sobre o sucesso ou o fracasso cabe, exclusivamente, ao indivíduo.
Com excesso de mão de obra no mercado, os processos seletivos são cada vez mais rigorosos,
enquanto os salários estão cada vez mais baixos.
O aprimoramento das técnicas e as novas relações de trabalho, avalizadas pelo Estado, trouxeram
uma acumulação de capital como nunca se tinha visto.

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Se o poder econômico interfere no poder político, podemos concluir que os grandes conglomerados
ditam as normas mundiais.
O pensamento do historiador Immanuel Wallerstein resume a atual fase capitalista monopolista e de
concentração pessoal de renda: Acumula-se capital a fim de se acumular mais capital. Os capitalistas são
como camundongos numa roda, correndo sempre mais depressa a fim de correrem ainda mais depressa.

Terceira Revolução Industrial e Tecnopolos


Com a Terceira Revolução Industrial, ocorreu ainda a formação dos tecnopolos, a partir da
necessidade de acumulação capitalista em maior volume. São áreas onde a produção se faz com uso de
tecnologias de ponta e ocorre um controle sobre o trabalho mais eficaz, ora por omissão do Estado ora
por debilidade sindical.
Estes tecnopolos são produzidos em áreas onde podem se associar empregos especializados e
desenvolvimento por pesquisas. Os tecnopolos caracterizam-se por:
→ Uma produção no modelo just-in-time, que produz de acordo com a demanda ou os pedidos.
Associado a isso pode ocorrer o just-in-case, que é a produção mediante existência de estoque mínimo;
→ Uma forte ligação entre fábricas e centros de pesquisa e universidades;
→ Estabelecimento de uma nova relação entre os oligopólios e as pequenas e médias empresas, que
arcam com os riscos e custos de pesquisas tecnológicas para o desenvolvimento das grandes empresas,
gerando uma alta competitividade.
A Terceira Revolução Industrial – ou Revolução Técnico-científica – começou a tomar forma no final
da Segunda Guerra Mundial, mas os seus efeitos têm se manifestado em todo o mundo, de forma mais
intensa, há cerca de duas décadas. Esse processo de desenvolvimento da atividade industrial vem
repercutindo fortemente nos demais setores econômicos, nas relações sociais e nas relações sociedade-
natureza. Uma das suas características mais importantes é a interação entre a informática e as
telecomunicações – a telemática -, mas podemos citar também outros de seus aspectos característicos:
* o avanço nos sistemas de telecomunicações (satélites artificiais, cabos de fibra óptica);
* o desenvolvimento da informática, tanto nos equipamentos (hardware) quanto nos programas e
sistemas operacionais (software);
* o desenvolvimento da microeletrônica, da robótica, da engenharia genética;
* a utilização da energia nuclear.
A Revolução Técnico-científica, ao mesmo tempo em que gera riquezas e amplia as taxas de lucros,
responde também pelo desemprego de milhões de pessoas em todo o mundo, pois vem permitindo
produzir mais mercadorias e gerar mais serviços com menor número de trabalhadores. E isso é válido
para a indústria, a agropecuária, o extrativismo, o comércio e os serviços.
A ciência, no estágio atual, está estreitamente ligada à atividade industrial e às outras atividades
econômicas: agropecuária, comércio, serviços. O desenvolvimento científico e tecnológico é um
componente fundamental para as empresas, pois é convertido em novos produtos e em redução de
custos, permitindo maior capacidade de competição num mercado cada vez mais disputado. As grandes
empresas multinacionais possuem seus próprios centros de pesquisa e tem sido crescente o investimento
na aquisição de novos conhecimentos científicos, em relação ao conjunto da atividade produtiva.
O Estado, por meio de universidades e de instituições de pesquisa, também estimula o
desenvolvimento tecnológico, preparando novos profissionais e capacitando-os para as funções de
pesquisa na área industrial ou agrícola, assim como no desenvolvimento de tecnologias, transferidas ou
adaptadas às novas mercadorias de consumo ou aos novos equipamentos de produção. Nesse sentido,
a pesquisa científica aplicada ao desenvolvimento de novos produtos tornou-se parte do planejamento
estratégico do Estado, visando ao desenvolvimento econômico.
Um exemplo desse apoio estatal ao desenvolvimento de novas tecnologias é o MITI (Ministério da
Indústria e Comércio Exterior), do Japão. Por intermédio do MITI – que recebe verbas das empresas e do
governo japonês -, desenvolvem-se pesquisas que serão aplicadas à criação e ao aperfeiçoamento de
produtos pela indústria. Outro exemplo é o MIT (Massachusetts Institute of Tecnology), situado no
nordeste dos Estados Unidos, considerado um dos principais centros de pesquisa do mundo, mantido
pelo governo norte-americano e por grandes empresas privadas.
Outro exemplo do desenvolvimento de novas tecnologias mediante parcerias entre empresas
industriais e universidades é o caso da Universidade de Stanford, em torno da qual surgiu o Vale do
Silício, onde se concentra o maior conjunto de indústrias de informática de todo o mundo. Nos países
capitalistas, sobretudo nos Estados Unidos, boa parte das conquistas tecnológicas foi adaptada e
estendida à criação de uma infinidade de bens de consumo, mesmo na época da Guerra Fria, quando o
investimento em tecnologia estava voltado para a corrida armamentista ou espacial.

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Com a Revolução Técnico-científica, o tempo entre qualquer inovação e sua difusão, na forma de
mercadorias ou de serviços, é cada vez mais curto. Alguns produtos industriais classificados, em princípio,
como bens de consumo duráveis (especialmente aqueles ligados aos setores de ponta, como a
microeletrônica e informática), são cada vez menos duráveis e tornam-se obsoletos devido à rapidez com
quem são incorporadas novas tecnologias.

Tecnologia de Processo – Toyotismo


Foi no Japão que ocorreu a transformação do processo de produção de mercadorias na Terceira
Revolução Industrial. Por ser um país com um território pequeno, dependente da importação de matérias-
primas e com pouco espaço para estocar os seus produtos, nesse país a produção foi organizada de um
modo diferente do tradicional modelo fordista.
Essa nova organização da produção ficou conhecida pelo nome de just-in-time (literalmente, tempo
justo) e foi implementada pela primeira vez, em meados do século XX, na fábrica de motores da Toyota.
Depois, foi incorporada pelas principais indústrias do mundo.
No interior da fábrica, as diferentes etapas de produção, desde a entrada das matérias-primas até a
saída do produto, são realizadas de forma combinada entre fornecedores, produtores e compradores. A
matéria-prima que entra na fábrica corresponde exatamente à quantidade de mercadorias que serão
produzidas. Essas mercadorias são feitas dentro do prazo estipulado e de acordo com o pedido dos
compradores. Além da eficiência, o sistema just-in-time permite diminuir o custo de estocagem e o volume
da produção fica diretamente relacionado à capacidade do mercado de consumo, evitando-se perdas de
estoque ou diminuição do preço, caso ocorra uma defasagem tecnológica do produto.
O trabalho especializado e rotineiro da linha de montagem do sistema fordista foi substituído por um
sistema flexível, em que o trabalhador pode ser deslocado para realizar diferentes funções, de acordo
com as necessidades da produção em cada momento.
Nesse novo sistema, a modificação e a atualização nos modelos das mercadorias podem ser feitas a
partir de pequenas reestruturações da mesma fábrica, utilizando-se os mesmos equipamentos. Os
recursos da microeletrônica, da robótica e da informática, intensivamente utilizados nesse sistema,
viabilizam essas frequentes mudanças.
Essa flexibilidade industrial tornou-se importante num mundo em que a evolução tecnológica acarreta
constante criação e modificação de produtos, com consequente diminuição da vida útil das mercadorias.
É preciso ressaltar, no entanto, que a difusão do toyotismo trouxe uma ampliação nos fluxos de
mercadorias, inclusive, num ritmo mais acelerado, demandando novas exigências ao setor de transportes.

A Sociedade da Informação
Os computadores invadiram a vida cotidiana. Apesar de não estarem presentes em todas as
residências do mundo, indiretamente atingem todas as pessoas. Eles coletam, armazenam e divulgam
informações de forma maciça e instantânea, ligando o mundo numa grande rede, e estão presentes em
diversos momentos do dia-a-dia. Por exemplo, o ato de usar o caixa eletrônico só é possível mediante
informações transmitidas a um computador central, que autoriza ou não a transação. No supermercado,
um terminal, no caixa, lê o código de barras do produto, informa o preço à máquina registradora, dá baixa
do produto no estoque e encaminha essa informação ao departamento de compras, para a reposição do
estoque.
Em muitas residências, o computador faz parte dos equipamentos básicos do dia-a-dia. Por
computador, usando a Internet, pode-se acessar informações em qualquer parte do mundo para realizar
pesquisas, pagar contas, transferir dinheiro de uma conta de banco para outra, ou comprar mercadorias
e serviços.
Tais atividades, já corriqueiras para uma pequena parcela da população mundial, dependem de um
complexo sistema de infra-estrutura que usa desde satélites artificiais de comunicação em órbita
permanente até fios telefônicos e cabos de fibra óptica que atravessam oceanos. Enfim, trata-se de um
novo modo de vida que combina mercadoria industrial com serviços. Aparelhos diversos – computadores,
telefones e televisores – têm que estar ligados a uma ampla rede de serviços para que possam ser
utilizados.
Foi essa Revolução Técnico-científica, caracterizada também pelo desenvolvimento dos meios de
transporte, que possibilitou a descentralização da produção industrial para os mais distantes recantos do
mundo.

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Trabalho, sua Relação com o Meio Ambiente

O trabalho14 é um elemento transformador, não apenas do homem que trabalha, mas também da
natureza, fonte já não tão inesgotável de recursos, além de modificador também das relações que se
estabelecem na sociedade.
A ampliação do processo do trabalho ensejou que o trabalhador passasse a ter garantido, por meio de
leis e regulamentos, certos direitos frente ao tomador de seus serviços. Todavia, ainda que tenha havido
progressos nesse âmbito, visto que constantemente novos direitos vão sendo incluídos no rol dos já
existentes, nada ou quase nada foi feito para se garantir que os trabalhadores fossem capazes de tomar
ciência dos efeitos de seu trabalho sobre o meio ambiente, assim como pouco tem sido feito no sentido
de se procurar novas alternativas menos agressivas, no sentido de incluir o trabalhador na busca de
desenvolver atividades cada vez menos nocivas à integridade dos recursos naturais.
Primeiramente, porque a eles, na maioria das vezes, não cabe maior poder de decisão sobre a
administração da organização; segundo, porque a busca por novas alternativas demanda, inicialmente,
um dispêndio de valores que nem sempre as corporações estão dispostas a bancar.
Todos os avanços referentes ao trabalho do ser humano demandam uma nova adaptação frente à
degradação ambiental: é preciso uma educação ambiental para que ainda haja tempo de preservar o que
resta da natureza.
Desde a pré-história, o homem subsistia com aquilo que conseguia colher manualmente na natureza,
consumindo, principalmente, frutas, legumes, raízes, além da carne obtida por meio da caça e da pesca.
Sua atividade consistia, basicamente, em procurar e colher tais recursos da natureza, pouco
interferindo no meio ambiente.
Tal atuação não implicava em maior dano aos recursos naturais, visto que eram atividades
desempenhadas estritamente para manutenção do indivíduo, o qual se apossava de recursos renováveis
da natureza, produzidos de forma periódica e em decorrência de seu ciclo normal de reprodução.
Tal fato, no entanto, foi incapaz de garantir recursos suficientes para satisfazer as necessidades
alimentares de uma população que crescia constantemente, forçando, ao final, a busca por novos
recursos.
Aos poucos, o homem passa a desenvolver novas habilidades, tornando-se, então, um produtor de
alimentos e, de certa maneira, interferindo e modificando o meio em que vive. Disso, prosperam novas
alternativas, fazendo com que o processo produtivo acelere, assim como se constituam novas formas de
organização do indivíduo em sociedade.
Os modelos econômicos adotados, feudalista, capitalista, etc., exerceram grande influência nesse
processo, em razão de terem favorecido o aprimoramento do setor produtivo e da organização social.
No entanto, embora esse avanço, num primeiro instante, possa representar melhores condições de
vida para os seres humanos, também tem acarretado graves danos ao meio ambiente, face o aumento
da extração de recursos não renováveis, passível de levar ao seu consequente esgotamento.
Nesse enfoque, destaca-se o modelo capitalista de produção, que, mesmo significando um novo
estímulo à produção de bens e ao progresso econômico, tende a aprofundar ainda mais o fosso formado
entre o desequilíbrio ambiental e a geração e acumulação de riquezas, gerando riscos ao meio ambiente
e desigualdades sócio econômicas.
Esse modelo econômico tem proporcionado, de um lado, uma melhoria da produtividade,
desencadeada, predominantemente, pelos resultados alcançados em pesquisas tecnológicas e
científicas, pela competitividade, pela possibilidade de acumulação de bens materiais e, em alguns casos,
a criação de tipos novos de ocupação; enquanto, por outro lado, tem sido fonte, dentre outras coisas, da
precarização da qualidade de vida de uma parcela significativa da população, gerando mais desemprego,
menos oportunidade de acesso aos benefícios alcançados com o progresso, mais desequilíbrio na
distribuição das riquezas, além de um crescimento exagerado da exploração dos recursos naturais.
Cientes de que o planeta apresenta uma limitação na sua capacidade de gerar recursos, de fornecer
matéria-prima e que a capacidade de reprodução dos seres humanos continua crescendo, acarretando
um aumento da demanda por novos recursos, torna-se imperiosa a busca por alternativas capazes de
conciliar a satisfação dessas necessidades com progresso econômico e preservação ambiental, a fim de
que seja possível ter uma qualidade digna de vida.

Exploração do Trabalho e da Natureza15

14
https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/1010/Dissertacao%20Fabio%20Rodrigues.pdf?sequence=1&isAllowed=y
15
SENE, Eustáquio de. Geografia Geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

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Sendo o toyotismo um sistema de organização voltado para a produção de mercadorias,
paralelamente ao mesmo, se difundiram novas relações de trabalho, caracterizadas pelos salários baixos
e direitos trabalhistas restritos ou inexistentes.
A maioria desses empregos foram criados em países em desenvolvimento, onde ainda em grande
parte se mantinham o método de produção fordista16, baseado na super exploração dos trabalhadores.
No entanto, em muitos deles, como a China, a Índia e o Brasil, também há indústrias modernas e a
introdução do toyotismo.
Também em diversos países desenvolvidos a flexibilização da legislação trabalhista, com a redução
dos salários e dos benefícios sociais e previdenciários, tem levado ao enfraquecimento do movimento
sindical.
Vários fatores contribuem para tal situação: a competição das novas tecnologias e dos novos
processos produtivos, a desconcentração da produção industrial e a concorrência dos trabalhadores mal
remunerados, numerosos nos países em desenvolvimento.
Entretanto, para milhões de trabalhadores da periferia do sistema capitalista, que estavam fora do
processo de produção, as condições de vida melhoraram.
A vida na cidade, em geral, é melhor do que na zona rural. Isso é particularmente verdadeiro na China,
cuja economia atraiu grande volume de investimentos estrangeiros por causa dos baixos custos de sua
mão de obra.
Segundo o Banco Mundial, o número de chineses que viviam na pobreza extrema caiu de 756 milhões
(67% da população total), em 1990, para 19 milhões (1,4% da população), em 2014.
Em menor escala, isso também ocorreu no Brasil, no México, na Índia e em outros países emergentes.
Além de permitir a exploração do trabalhador, durante muito tempo, a legislação ambiental dos países
em desenvolvimento era, em sua maior parte, frágil. Esse fato permitia produzir a custos menores e
contribuía para atrair indústrias poluidoras.
Embora isso ainda aconteça na atualidade, a crescente preocupação mundial com o desenvolvimento
sustentável tem pressionado os dirigentes das fábricas a desenvolver métodos de produção que causem
menos impactos ambientais.
Vem se firmando a ideia de que o desenvolvimento sustentável pode contribuir para aumentar a
produtividade das empresas e, consequentemente, a competividade e os lucros, além de reforçar a
imagem positiva resultante da certificação com um “selo verde”.

QUESTÕES AMBIENTAIS DO PLANETA17

Os Problemas Ambientais: A Degradação Ambiental e seus Impactos

O modelo de desenvolvimento econômico calcado no avanço do industrialismo, no consumismo


desenfreado e na exploração cada vez mais intensa dos recursos naturais do planeta tem levado tanto
ao agravamento quanto ao surgimento de novos problemas ambientais.
Diante dos problemas ambientais existentes no passado, os sintomas da crise ambiental
contemporânea adquiriram proporções jamais alcançadas, atingindo, inclusive, as áreas mais remotas e
inóspitas do planeta, como as regiões polares, que já sofrem os efeitos das alterações climáticas
desencadeadas pela intensa poluição atmosférica.
Esse exemplo do derretimento das geleiras polares no Ártico, decorrente do aquecimento atmosférico
global, nos revela também outra face da problemática ambiental contemporânea, em que os problemas
ambientais deixaram de se restringir no âmbito local ou regional para se tornarem questões de ordem
planetária.

As Origens dos Problemas Ambientais

Desde a Antiguidade, o ambiente é um tema discutido pelas sociedades. Na Grécia antiga, por
exemplo, os filósofos já debatiam sobre qual era a essência de tudo o que existe no mundo, especialmente
da água, da terra, do fogo e do ar.
As poucas, mas significativas, descobertas feitas por eles levaram-nos a acreditar que a Terra era
perfeitamente harmônica, concebida por algo divino e de extrema inteligência.
Aristóteles (c. 485 a.C-420 a.C.), um dos maiores pensadores gregos, defendia que todas as coisas
na Terra, vivas e não vivas (como as rochas), tinham uma profunda ligação entre si e até mesmo uma

16
O Fordismo é um modo de produção em massa baseado na linha de produção idealizada por Henry Ford. Foi fundamental para a racionalização do processo
produtivo e na fabricação de baixo custo e na acumulação de capital.
17
TAMDJIAN, James Onning. Geografia: estudos para compreensão do espaço. 2ª edição. São Paulo: FTD, 2013.

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essência comum, sendo úteis para a sobrevivência. Pouco a pouco se desenvolveu a ideia de que a Terra
é um gigantesco ser vivo.
Na Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), o ambiente passou a ser tratado isoladamente, como
se fosse um conjunto de elementos que não tinham nenhuma relação com a sociedade e existiam apenas
para atender às suas necessidades.
Dentro desse contexto histórico, com suas características sociais, econômicas e políticas, os
interesses econômicos privados tomaram-se explícitos e prevaleceram sobre qualquer alerta de
problemas ambientais que poderiam surgir em longo prazo.
De meados do século XIX até os nossos dias, ocorreu um verdadeiro saque aos recursos naturais e
uma destruição de muitos elementos da natureza.

A Sociedade de Consumo
Vivemos em uma sociedade marcada e dominada pela lógica do consumo. Todos os seus
componentes, jovens, adultos e idosos, sejam eles ricos ou pobres, estão inseridos nesse contexto.
Grande parte dos meios de comunicação faz uma ligação entre o consumo e o prazer. São centenas
de milhares de produtos apresentados como necessários para se alcançar a felicidade.
É cada vez mais comum observarmos que o ato de consumir é colocado como uma das formas que
permite ao cidadão ou ao indivíduo sentir-se inserido na sociedade.
A expansão acelerada do consumismo acarreta alta demanda de energia, minérios, água e tudo o que
é necessário à produção e ao funcionamento dos bens de consumo. Esse padrão vem se difundindo em
todo o globo, por uma espécie de globalização do consumo, que vem crescendo a cada ano.
Extensos estudos feitos pela ONU, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,
alertam para a velocidade de utilização dos recursos naturais, que já é muito maior que a capacidade de
regeneração da natureza, uma vez que a reposição de alguns elementos é impossível, pois a escala de
tempo para a sua formação é milhões de vezes maior que a da vida média dos seres humanos.

O Consumo e seus Impactos no Espaço Urbano


O consumo crescente também altera a paisagem urbana. As melhores áreas e as mais centrais, ou
ainda com melhor acessibilidade, normalmente são dominadas pelo setor comercial, gerando uma
hipervalorizarão dos imóveis em seu entorno.
Essa especulação imobiliária nos grandes centros urbanos empurrou e ainda empurra um grande
número de trabalhadores para locais distantes dos seus postos de trabalho. Quanto maiores forem os
deslocamentos, maiores serão os custos de transporte e a poluição gerada.
Um exemplo disso é a produção de veículos, que por sua vez está atrelada à produção de aço,
petróleo, ferramentas e máquinas. Em uma sociedade de consumo, o investimento em transporte deve
se manter vinculado à produção de mercadorias a serem transportadas. Portanto, mais consumo, maior
produção; maior produção, mais transportes; mais transportes, maior emissão de poluentes.
Por fim, a produção de energia deve também acompanhar o crescimento de todas essas atividades
econômicas, o que demanda também maior produção de equipamentos. Note, portanto, que estamos
praticamente em um ciclo vicioso.

O Desenvolvimento Sustentável

Apesar de relativamente recente, a ideia de desenvolvimento sustentável vem ganhando espaço com
o desenvolvimento das relações internacionais intensificadas pelo aumento das trocas comerciais,
principalmente nos últimos 200 anos.
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é que essas preocupações ganharam relevância.
Uma das principais razões para isso foi a tragédia das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (1945),
que mataram centenas de milhares de pessoas. Ao deixar um rastro de radioatividade, as bombas
ampliaram muito as ocupações ambientais de uma considerável parcela da população mundial.
Com a criação da ONU, em 1945, as relações internacionais passaram por uma mudança que também
atingiu a questão ambiental. Em 1949 ocorreu a conferência das Nações Unidas para a Conservação e
Utilização dos Recursos (Unscur), em Nova York.
Em 1968, intelectuais, empresários e líderes políticos criaram uma organização voltada ao debate
sobre o futuro da humanidade, o chamado Clube de Roma, que financiava pesquisas para publicação de
relatórios importantes.
Em 1972 eles lançaram o relatório Limites do crescimento, em conjunto com cientistas do
Massachusetts Institute of Technology (MIT). Esse relatório gerou muita polêmica, pois basicamente

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afirmava que, se continuassem os ritmos de crescimento da população, da utilização dos recursos
naturais e da poluição, a humanidade correria sérios riscos de sobrevivência no final do século XXI.

Um Novo Patamar de Discussões a partir de 1972


Em 1972, a ONU organizou a Conferência de Estocolmo, conhecida também como a Primeira
Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano.
Já se sabia que a economia do planeta consumia um volume cada vez maior de combustíveis fósseis
e recursos não renováveis, lançando bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, criando
assim, uma grande instabilidade climática.
Era preciso reduzir o impacto das atividades econômicas, mas, para isso, fazia-se necessário reduzir
o consumo e o desperdício. Começava, então, uma corrida para se atingir o desenvolvimento sustentável.
Efetivamente, poucos avanços foram conseguidos ao final desse encontro em 1972. Porém, a
sensibilização das lideranças da comunidade internacional acabou levando a ONU a criar, naquele
período, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, conhecida pela sigla Pnuma.
No entanto, tanto os países em desenvolvimento quanto os muito pobres não estavam interessados
em abrir mão das vantagens do desenvolvimento econômico em nome da preservação ambiental. Assim,
como havia muitas discussões sem solução, foi adotado um primeiro conceito chamado
“ecodesenvolvimento18”.
Somente em 1987 o Pnuma divulgou o relatório Nosso futuro comum, sendo o primeiro grande
documento científico que apresentou com detalhes as causas dos principais problemas ambientais e
ecológicos.
A grande contribuição desse documento foi a popularização do chamado desenvolvimento
sustentável, como um aperfeiçoamento do ecodesenvolvimento.
Para atingir o desenvolvimento sustentável seria necessário:
→ A implantação de projetos econômicos baseados em tecnologias menos agressivas ao ambiente
como uma forma de ajuda ao combate das instabilidades e do subdesenvolvimento, que representavam
um risco para o equilíbrio ecológico, justamente pela falta de recursos para implementar as mudanças
necessárias;
→ O combate da pobreza humana, uma vez que populações desempregadas e desamparadas tendem
a retirar recursos da natureza de forma descontrolada para sua sobrevivência, incluindo assim, o conceito
de desenvolvimento social;
→ A tomada de decisões sobre os caminhos a serem tomados, com ampla participação da sociedade,
para que fossem revertidos em resultados positivos ao equilíbrio ambiental, incluindo assim, a
democracia.
Assim, definiu-se o conceito de desenvolvimento sustentável:
Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.

Eco 92

Em junho de 1992, a ONU organizou na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), que ficou conhecida como Cúpula da Terra ou Eco
92.
Entre os objetivos principais dessa conferência, destacaram-se:
→ Examinar a situação ambiental mundial desde 1972 e suas relações com o estilo de
desenvolvimento vigente;
→ Estabelecer mecanismos de transferência de tecnologias não poluentes aos países
subdesenvolvidos;
→ Incorporar critérios ambientais ao processo de desenvolvimento;
→ Prever ameaças ambientais e prestar socorro em casos emergenciais;
→ Reavaliar os organismos da ONU, eventualmente criando novas instituições para implementar as
decisões da conferência.
Abaixo vamos conhecer algumas resoluções e documentos importantes da ECO-92.

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O ecodesenvolvimento é um conjunto de ideias e procedimentos que dão prioridade ao processo criativo de transformação do meio em que vivemos, porém,
com a ajuda de técnicas ecologicamente corretas e que sejam adequadas a da um dos lugares. São as populações desses lugares que devem se envolver, se
organizar, utilizar os recursos naturais de forma prudente e procurar soluções que em a um futuro digno.

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A Convenção do Clima
A Convenção do Clima atribuiu aos países desenvolvidos a responsabilidade pelas principais emissões
poluentes, dando a eles os encargos mais importantes no combate às mudanças do clima. Aos países
em desenvolvimento, concedeu-se a prioridade do desenvolvimento social e econômico, mantendo,
porém, a tarefa de controlar suas parcelas de emissões de poluentes na medida em que se
industrializassem. As recomendações da convenção foram:
→ Adotar políticas que promovessem eficiência energética e tecnologias mais limpas;
→ Reduzir as emissões do setor agrícola;
→ Desenvolver programas que protegessem os cidadãos e a economia contra possíveis impactos da
mudança do clima;
→ Apoiar pesquisas sobre o sistema climático;
→ Prestar assistência a outros países em necessidade;
→ Promover a conscientização pública sobre essa questão.
Infelizmente os acordos da Eco 92 ficaram apenas no plano das boas intenções.

A Convenção da Biodiversidade
Nessa convenção, estava prevista a transferência de parte dos recursos ou lucros obtidos com a
exploração e comercialização dos recursos naturais para o seu local de origem, que receberia esse
volume de dinheiro para aplicar em programas de preservação e de educação ambiental.
Esse tratado visava a favorecer o diálogo Norte-Sul, ou seja, as relações entre os países desenvolvidos
e as nações em desenvolvimento. Porém, muito pouco foi feito.
A evolução dos estudos genéticos levou a biotecnologia a adquirir a capacidade de alterar e reproduzir
organismos, como plantas e seres vivos em geral. Esse fato dotou os países ricos da possibilidade de
explorar produtos naturais e modificá-los geneticamente, adquirindo o direito de patentear tais espécies.
Isso abriu espaço para a biopirataria.

A Agenda 21
Esse documento, assinado pela comunidade internacional durante a Eco 92, assumiu compromissos
para a mudança do padrão de desenvolvimento no século XXI. Ou seja, a Agenda 21 procurou traduzir
em ações o conceito de desenvolvimento sustentável.
O termo "agenda" teve, nesse caso, o sentido de intenções, isto é, de propostas de mudanças, visando
a criar um modelo de civilização pelo qual sejam possíveis a convivência e a simultaneidade do equilíbrio
ambiental com a justiça social entre as nações.
A Agenda 21 buscava:
→ Geração de emprego e de renda;
→ Diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda;
→ Mudança nos padrões de produção e consumo;
→ Construção de cidades sustentáveis;
→ Adoção de novos modelos e instrumentos de gestão.
No entanto, para alcançar essas metas, era preciso mobilizar, além dos governos, todos os segmentos
da sociedade.

Uma Nova Etapa Pós Eco 92: o Protocolo de Kyoto

Como estava previsto na Convenção do Clima, assinada durante a Eco 92, deveria ocorrer um novo
encontro internacional para se discutir a redução da emissão de gases responsáveis pelo aumento da
temperatura do planeta.
Tal reunião ocorreu em 1997, em Kyoto, no Japão, onde líderes de 160 nações assinaram um
compromisso que ficou conhecido como Protocolo de Kyoto.
Esse documento previa, entre 2008 e 2012, um corte de 5,2% nas emissões dos gases causadores do
efeito estufa, em relação aos níveis de 1990.
Para entrar em vigência, o Protocolo de Kyoto deveria ser ratificado por, no mínimo, 55 governos, que,
se somados, representariam no mínimo 55% das emissões de CO² produzidas pelos países
industrializados. Essa porcentagem foi adotada para que os Estados Unidos, um dos maiores poluidores
do planeta, não pudesse impedir, sozinho, a adoção dessas medidas.

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A Rio+10

Em 2002, mais uma vez a ONU tentou estabelecer ações globais para a melhoria da qualidade de
vida. Tal medida ficou conhecida como Rio+10, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável,
que se realizou em Johanesburgo, na África do Sul. Os principais temas então abordados foram:
Clima e energia: foi estabelecido o uso de energias limpas, mas não foram determinadas as metas.
Por isso, os ambientalistas protestaram, afirmando que o texto permitia a inclusão da energia nuclear, já
que incentivava as energias avançadas;
Subsídio agrícola: segundo muitos críticos, a superficialidade do texto fortaleceu a OMC, controlada
pelos países ricos, e esvaziou o papel mediador da ONU;
Protocolo de Kyoto: desde o protocolo, pouco mudou, pois os países que não haviam assinado até
então, apenas prometeram que estudariam o caso (exceto os Estados Unidos, que até mesmo abandonou
a reunião antes de seu final);
Biodiversidade: decidiu-se reduzir o ritmo de desaparecimento de espécies em extinção e repassar
os recursos obtidos pela exploração de produtos naturais para seus locais de origem;
Água e saneamento: foi decidido que se devia aumentar o número de pessoas com acesso à água
potável. Os críticos afirmaram, porém, que o texto poderia ser mais específico quanto aos procedimentos
conjuntos a serem adotados;
Transgênicos: foram objeto de polêmica, pois as organizações supranacionais recomendaram que
regiões com fome crônica adotassem esses alimentos. Por outro lado, o mesmo documento dizia que os
países teriam o direito de rejeitar os transgênicos até o surgimento de estudos mais conclusivos;
Pesca e oceano: o tema constituiu a maior conquista da reunião, já que previa a criação de áreas de
proteção marinha e a abolição imediata de qualquer subsídio à atividade pesqueira irregular.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)

No fim dos anos 1980, aumentou-se a percepção de que as atividades humanas eram cada vez mais
prejudiciais ao clima do planeta. A ONU convocou cientistas do mundo todo para acompanhar esse
processo e, com a colaboração de 130 governos, criou-se o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC).
O principal papel desse organismo foi o de criar relatórios e documentos para acompanhar a situação
ambiental do planeta e também o de fornecer essas informações para a Convenção do Quadro das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, órgão responsável por essas discussões.
Em 2007, o IPCC recebeu, junto com o ex-vice-presidente estadunidense AI Gore, o prêmio Nobel da
paz, pelo trabalho de divulgação e busca de conscientização sobre os riscos das mudanças climáticas.
Veja os principais alertas do IPCC:
→ A temperatura da Terra deve subir entre 1,8ºC e 4ºC, nas próximas décadas, o que aumentaria a
intensidade de tufões e secas, ameaçaria um terço das espécies do planeta e provocaria epidemias e
desnutrição;
→ O derretimento das camadas polares poderia fazer com que os oceanos se elevassem entre 18 e
58 cm até 2100, fazendo desaparecer pequenas ilhas e, assim, obrigando centenas de milhares de
pessoas a aumentar o fluxo dos chamados "refugiados ambientais".

A Conferência de Copenhague

Em dezembro de 2009, realizou-se em Copenhague, Dinamarca, a Cop-15 (Conferência da ONU sobre


Mudanças do Clima), tendo como princípio norteador, as responsabilidades comuns, porém
diferenciadas. Mas o que seria isso?
Os países industrializados, que historicamente foram os primeiros a lançar uma quantidade maior de
CO² e outros gases de efeito estufa na atmosfera, teriam uma responsabilidade maior no corte de
emissões. Acreditava-se que eles fossem assumir plenamente uma meta de 25 a 40% de redução até
2020. Os países emergentes seguiriam o mesmo caminho, mas com outras metas.

A Rio+20

Em 2012, o Rio de Janeiro foi sede de um evento para marcar o 20º aniversário da Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento do meio Ambiente, realizada em 1992, conhecida como Rio 92.
O encontro foi popularmente chamado de Rio+20.

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A meta principal foi fazer um balanço dos últimos anos na busca de um modelo econômico baseado
no desenvolvimento sustentável. Uma das principais resoluções foi transformar o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência da ONU, como por exemplos, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), o que lhe daria mais poderes
e recursos.
Um exemplo de avanço na Rio+20 foram acordos para a redução da emissões de gases causadores
de efeito estufa.

Os Principais Problemas Ambientais do Planeta

Poluição Atmosférica
A poluição do ar consiste no lançamento e acúmulo de partículas sólidas e gases tóxicos que se
concentram na atmosfera terrestre alterando suas características físico-químicas.
De maneira geral, os poluentes atmosféricos podem ser produzidos por fontes primárias ou
secundárias.
Os poluentes primários são aqueles liberados diretamente das fontes de emissão, como os gases que
provém de queimadas em florestas ou da queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão), lançados
do escapamento dos veículos automotores e também das chaminés das fábricas, entre eles, monóxido
de carbono (CO), dióxido de carbono (CO²), dióxido de enxofre (SO²) e metano (CH4).
Os poluentes secundários, por sua vez, são aqueles formados na atmosfera a partir de reações
químicas entre poluentes primários e componentes naturais da atmosfera, como o ácido sulfúrico
(H²SO4), ácido nítrico (HNO³) e ozônio (O³). A esses poluentes somam-se ainda materiais particulados
que abrangem um grande conjunto de poluentes formados por poeiras, fumaças, materiais sólidos e
líquidos, que se mantêm suspensos na atmosfera.
Desde o início da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, o nível de poluentes na atmosfera
terrestre vem aumentando exponencialmente com o avanço da industrialização, dos meios de transportes
e demais atividades econômicas que se desenvolvem apoiadas na queima de combustíveis fósseis.
Milhares de toneladas de gases poluentes são lançados todos os dias na atmosfera terrestre,
desencadeando uma série de problemas ambientais, com impactos que ocorrem tanto em escalas local
e regional (como o fenômeno das inversões térmicas e das chuvas ácidas) quanto em escala global (como
a diminuição da camada de ozônio e a ocorrência do efeito estufa).
A alta concentração de poluentes no ar forma uma camada de partículas em suspensão, parecida com
uma neblina, conhecida como smog, fazendo com que a visibilidade diminua. Também causa muitos
problemas de saúde, principalmente relacionados ao sistema respiratório e cardiovascular.
Em grandes centros urbanos dos países industrializados, é frequente os níveis de poluição do ar
ultrapassarem os limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esses gases
poluentes são provenientes da queima de florestas e, em especial, de combustíveis fósseis (petróleo e
carvão). Os principais agentes poluidores são os veículos automotores e as indústrias, sobretudo as
termelétricas, siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e refinarias de petróleo.
Um exemplo disso é a população chinesa, que é aconselhada constantemente a usar máscara para
sair às ruas, evitar exercícios ao ar livre e, em dias críticos, é alertada a permanecer no interior de suas
casas, devido aos altos níveis de poluição do ar encontrados em diversas províncias do país. Foram
registradas milhares de mortes, principalmente na última década, decorrentes de problemas respiratórios
e cardiovasculares agravados pela poluição do ar.
Inversão Térmica
Em condições normais, o ar presente na Troposfera19 costuma circular em movimentos ascendentes,
o que ocorre em razão das diferenças de temperatura entre o ar mais aquecido e, portanto, mais leve,
nas camadas mais baixas, e o ar mais frio e mais denso, nas camadas mais elevadas.
Em regiões afetadas por intensa poluição atmosférica, como os grandes centros urbanos, a fuligem e
os gases poluentes lançados pelas chaminés das fábricas e pelo escapamento dos veículos automotores
tendem a se dispersar por meio dessas correntes ascendentes.
Em dias mais frios, com baixas temperaturas e pouco vento, típicos do outono e do inverno, a ausência
de corrente de ar dificulta a dispersão dos poluentes atmosféricos. Nessa situação, o ar em contato com
a superfície mais fria também se resfria, ficando aprisionado pela camada de ar mais quente acima, o que
impede a dispersão dos poluentes atmosféricos.

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A troposfera é a camada mais baixa da atmosfera terrestre, sendo a região em que vivemos e onde ocorrem os fenômenos meteorológicos.

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https://www.todamateria.com.br/inversao-termica/

Tem-se, assim, uma inversão da temperatura do ar atmosférico, a chamada inversão térmica,


fenômeno que pode ser observado na forma de uma faixa cinza-alaranjada no horizonte dos grandes
centros urbanos.

https://www.ecycle.com.br/4175-inversao-termica.html

Com a ausência dos ventos ascendentes, os poluentes atmosféricos deixam de dispersar e


concentram-se próximos à superfície, o que compromete a qualidade do ar e gera problemas de saúde
aos habitantes das grandes cidades.
Quando expostas aos altos índices de poluição, muitas pessoas apresentam sintomas como dores de
cabeça, coceira na garganta e irritação nos olhos, crises alérgicas e pulmonares, problemas que afetam
principalmente crianças e idosos, mais sensíveis à poluição.

As Mudanças Climáticas
A humanidade já passou por períodos mais quentes que o atual e por períodos muito frios também.
Dessa forma, muitos podem afirmar que as preocupações com o aquecimento são exageradas e que
a Terra vai passar por períodos de resfriamento tal qual já ocorreu.
Isso não é verdade. O problema está no fato de que se ampliou muito a emissão de CO² na atmosfera
desde o início da Revolução Industrial.
As fábricas e as indústrias usavam e ainda usam carvão mineral para gerar energia. Com o avanço
das tecnologias, o petróleo passou a ser usado também como matéria-prima e fonte de combustíveis para
muitos sistemas de transporte.
Apesar de a emissão de poluentes não ser igual em todos os países e de os mais industrializados
terem responsabilidade maior nesse processo, hoje já é possível afirmar que se trata de um problema
global.
Grandes quantidades de poluição produzidas em um lugar podem atingir outras localidades do planeta,
em função da circulação das massas de ar que transportam esses rejeitos.

O Desequilíbrio no Efeito Estufa


O principal problema causado pelo CO² e por outros poluentes é o desequilíbrio no efeito estufa.
Efeito estufa é um fenômeno natural, em que alguns gases funcionam como retentores de calor,
condição fundamental para manter a existência de vida no planeta.

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https://www.grupoescolar.com/a/b/A6A65.jpg

As temperaturas médias no mundo subiram muito nos últimos 150 anos, e a explicação está no
acúmulo de gases causadores do efeito estufa.
O metano é outro gás muito agressivo. Sua capacidade de reter calor na atmosfera é 23 vezes maior
que a do gás carbônico. Cerca de 30% das emissões mundiais de metano estão ligadas à pecuária, mas
o metano é liberado também por outras fontes, como a queima de gás natural, de carvão e de material
vegetal e também por campos de arroz inundados, esgotos, aterros e lixões.
Entre os exemplos mais bem-sucedidos de combate à poluição atmosférica podemos citar a
estruturação de áreas urbanas com base na circulação de transporte público e bicicletas ao longo de
corredores e ciclovias, o que contribui para reduzir as emissões provenientes dos automóveis.
Promover o uso de combustíveis alternativos, como o etanol e o biodiesel, que emitem menos gases
poluentes do que a gasolina e o diesel convencional, além do desenvolvimento de carros elétricos,
também podem ser medidas válidas para minimizar a poluição; porém, elas não reduzem a dependência
da população em relação ao automóvel, objetivo que deve estar na agenda de qualquer sociedade
sustentável.

O Buraco na Camada de Ozônio


No final do século XVIII e início do século XIX, o cientista holandês Martin van Marum, descobriu um
gás com cheiro muito forte durante algumas experiências com reações químicas.
Anos depois, o cientista alemão Christian Friedrich Schönbein, chamou esse gás de ozônio, quando
percebeu que ele era liberado nos processos químicos de purificação da água.
Schönbein também notou que esse gás subia pelo ar rapidamente e adquiria uma cor azul bem pálida.
Ele acreditava então que o ozônio existia em grande quantidade nas altas camadas da atmosfera, fato
que veio a ser comprovado por Gordon Miller Bourne Dobson por volta dos anos 1920.
Por meio dessas pesquisas foi possível perceber que a camada de ozônio é um filtro natural para a
Terra. A constituição química do gás detém os raios solares nocivos à saúde humana, portanto, a camada
de ozônio é um dos elementos mais importantes para a manutenção da vida.
A destruição dessa camada tem relação direta com o modo de vida e o modelo produtivo adotado pela
economia mundial nos últimos tempos.
Para refrigerar os alimentos usavam-se, no início do século XX, gases extremamente perigosos, como
a amônia e o enxofre. No final dos anos 1920, Thomas Midgley Jr. descobriu um gás proveniente da
combinação do carbono com o flúor e o cloro, trata-se do clorofluorcarboneto (CFC), depois registrado
pela empresa dona da patente como gás fréon.
Com inúmeras vantagens em relação aos outros gases, o fréon passou a ser usado largamente e
permitiu a popularização das geladeiras domésticas, que eram impensáveis quando se usavam os outros
gases.
As pesquisas também permitiram a fabricação de espumas, produtos de limpeza, sprays e uma
quantidade infinita de derivados desse gás.
Em meados dos anos 1980, descobriu-se a existência de uma falha nessa camada protetora da Terra.
Cientistas britânicos e estadunidenses anunciaram que havia um buraco de milhões de quilômetros
quadrados na atmosfera sobre a Antártida.
As pesquisas apontavam que esse buraco era causado pela emissão de gases fréon, que, quando
sobem às altas camadas, destroem o ozônio e permitem a passagem dos raios solares nocivos à vida. O
problema reside no fato de que esses gases duram na atmosfera entre 20 e 90 anos.

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https://www.bbc.com/portuguese/geral-45558884

Na imagem acima, observa-se a Camada de ozônio sobre o Polo Sul, em setembro de 2018. Em roxo
e azul estão as áreas que têm menos ozônio, enquanto em amarelo e vermelho, as que têm mais.
O buraco está principalmente sobre a Antártica, mas já se notam pequenas falhas também no
Hemisfério Norte. Sabe-se que existe um sistema mundial de circulação de ar que acumula os gases
fréon sobre a Antártica em quantidade máxima justamente nos meses mais frios, quando o ar fica mais
denso e circula somente nas proximidades dessa área. Quando os raios solares mais fortes chegam a
essa região no verão, as reações químicas quebram o ozônio e permitem a passagem dos raios nocivos.
A solução para esse problema está ligada à redução da emissão de gás CFC, fato que já foi registrado
muitas vezes por cientistas credenciados pela ONU. Para se chegar a esse pequeno avanço, foi assinado
em 1987 o Protocolo de Montreal (Canadá), que previa a erradicação gradual da produção de CFC.
Entre 1988 e 1995, o consumo do gás diminuiu quase 80% em escala mundial. Mesmo assim,
especialistas acreditam existir um mercado paralelo e ilegal de CFC que movimenta milhares de toneladas
de gás por ano.
Esse quadro influencia diretamente a saúde humana. Especialistas na área de medicina afirmam que
problemas como casos de catarata e câncer de pele vêm se avolumando em grande escala no planeta.

A Devastação das Florestas


As atividades agropecuárias, a urbanização e a industrialização podem ser caracterizadas de maneira
geral como os processos que iniciaram a devastação das florestas.
Com o desenvolvimento da tecnologia em todos os campos da ação humana, surgiram métodos que
aceleraram o desmatamento e acabaram afetando vastas áreas ricas em biodiversidade.
Como exemplos, podem-se citar extensas áreas florestais da Europa e dos Estados Unidos
praticamente extintas no final do século XIX e início do século XX. Esse processo esteve ligado ao
desenvolvimento e ao avanço das relações capitalistas que se materializavam no território.
Infelizmente esse processo de destruição continua até hoje e de forma cada vez mais preocupante. A
instalação de atividades econômicas sobre áreas praticamente intactas é resultado da expansão da
indústria madeireira, das atividades mineradoras, em especial as ilegais, e da corrida por novas áreas
pela agricultura comercial, fato que ficou conhecido como expansão das fronteiras agrícolas.
A partir dos anos 1980, principalmente, a consciência ecológica levou muitos países, em especial os
mais desenvolvidos, a realizar programas de replantio de espécies nativas, o que possibilitou a
recuperação de antigas áreas devastadas. Em contrapartida, nos países mais pobres e nas nações em
desenvolvimento, essa tragédia natural tem crescido ano a ano.
A atuação de grandes empresas exploradoras que operam em regiões florestais do planeta gera outros
graves problemas. As populações das regiões florestais extremamente pobres viviam dos frutos das
florestas de forma racional, uma vez que o ritmo de exploração das matas permitia a sua regeneração.
Com a chegada das grandes empresas exploradoras, ocorreu uma radical mudança na vida dessas
pessoas.
Desprovidos de áreas para exercer suas atividades, os trabalhadores pobres empregam-se nessas
companhias, recebendo baixíssimos salários. Aqueles que não trabalham nessas empresas acabam
derrubando a mata para vender a madeira de forma ilegal e assim obter recursos para sustentar suas
famílias.
Nos últimos anos as preocupações estão cada vez maiores, pois mapeamentos detalhados mostram
que a devastação põe em risco principalmente as florestas localizadas em regiões úmidas do planeta.

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São áreas de mata inundadas ou saturadas de água, como as várzeas dos rios, manguezais, florestas
em áreas costeiras e próximas de grandes bacias hidrográficas.
Na Ásia, a maior parte das terras úmidas florestadas estão ameaçadas pela expansão da agricultura
comercial do arroz e pela exploração de madeira, como no caso da Indonésia, que já perdeu grande parte
de sua cobertura florestal original.
Todos os relatórios e avisos feitos pelos cientistas alertam que essas áreas úmidas devem ser
preservadas, pois ajudam a regular o fluxo e o abastecimento de depósitos subterrâneos de água. Caso
essas regiões entrem em colapso natural, isso pode gerar um efeito desastroso para a sociedade, que
ficaria sem água.
Uma experiência que merece menção é a da Finlândia. Quase 80% do território finlandês é coberto
por florestas, o que é a maior taxa de ocupação florestal da Europa, em razão de as florestas terem sido
consideradas patrimônio ecológico, social, cultural e econômico do país. Nas últimas décadas, as áreas
plantadas vêm superando as áreas cortadas em 20 a 30% anualmente.
Um dos grandes segredos desse sucesso está no replantio de espécies nativas; na Finlândia somente
podem ser replantadas madeiras originais daquela região. Isso permite uma atividade econômica mais
sustentável e não tão agressiva ao solo, ao clima e aos animais que habitam essas matas.
Os defensores da silvicultura (atividade que se dedica ao manejo e estudo de florestas plantadas)
finlandesa afirmam que a estrutura do replantio é semelhante à das florestas naturais e que os seres
humanos a exploram desde sempre.
Dessa forma, a indústria florestal é um dos maiores setores da economia do país, e a comercialização
de madeira, papel, polpa de papel e outros derivados da celulose chega a representar cerca de 30% de
suas exportações.
Para combater o mercado clandestino de madeira e o desmatamento em todo o mundo, foi criada a
certificação florestal pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC), uma entidade ambientalista mundial.
Esse certificado garante ao consumidor final de madeira e de seus derivados que aquele produto é
fruto de um reflorestamento não agressivo ou mesmo de uma exploração sustentável, que preserva e
respeita o ritmo de regeneração da natureza. Já existem milhares de itens e produtos que contam com
essa certificação. Portas, pisos, móveis e até mesmo papel higiênico são certificados para comprovar que
não vieram de uma matéria-prima fruto da devastação.

A Destruição dos Recursos Hídricos


O modelo econômico que vigora em nossos dias é marcado por um consumo crescente de mercadorias
das mais variadas. No entanto, para se produzir nessa larga escala, estamos assistindo a um desenfreado
consumo de água.
Em função desse modelo econômico, o processo de industrialização e de urbanização dá origem a um
volume cada vez maior de esgotos domiciliares, lixo e outros resíduos, que são lançados nos rios e mares
cotidianamente. Isso afeta qualidade das águas, tanto as superficiais quanto as dos aquíferos, em vários
pontos do planeta.

Escassez de Água: Uma Crise Anunciada


Os rios e os lagos, que formam os ecossistemas de água doce, são considerados o meio de vida
natural mais ameaçado do planeta.
Embora ocupem apenas 1% da superfície terrestre, os ecossistemas de água doce abrigam cerca de
40% das espécies de peixes e 12% dos demais animais.
Para se ter uma ideia da diversidade desses ecossistemas, o Rio Amazonas, sozinho, possuiu mais
de 3 mil espécies de peixe.
Todos os estudos feitos recentemente apontam que 34% das espécies de peixes de água doce
encontradas em todo o mundo correm o risco de extinção, ameaçadas, principalmente, pela construção
de represas, canalização dos rios e poluição.
Entre 1950 e os nossos dias atuais, o número de grandes barragens no mundo passou de 5.750 para
mais de 41 mil, fato que alterou radicalmente a dinâmica da vida aquática.
Esse cenário alarmante é agravado pela pequena disponibilidade de água para o consumo humano.
Embora 75% da superfície terrestre seja recoberta por água, os seres humanos só podem usar uma
pequena porção desse volume, porque nem sempre ela é adequada ao consumo.
É o caso da água salgada dos mares e oceanos, que representa cerca de 97% da quantidade total de
água disponível na Terra.
Dos cerca de 3% restantes, apenas um terço é acessível, em rios, lagos, lençóis freáticos superficiais
e na atmosfera. Os outros dois terços são encontrados nas geleiras, calotas polares e lençóis freáticos
muito profundos.

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Além de ser um recurso finito, a água é cada vez mais consumida no mundo todo. Ao longo do século
XX, por exemplo, a população mundial cresceu três vezes, enquanto as superfícies irrigadas cresceram
seis vezes e o consumo global, sete vezes.
Esse aumento exponencial do consumo mundial de água está gerando um fenômeno conhecido como
estresse hídrico, isto é, carência de água. Segundo o Banco Mundial, essa situação ocorre quando a
disponibilidade de água não chega a 1.000 metros cúbicos anuais por habitante.

O Mal Uso da Água e a Salinização dos Solos


São consideradas regiões que sofrem com a salinização aquelas que perdem seu rendimento
econômico na agricultura.
Salinização é a concentração de sais, provocada pela evapotranspiração máxima ou intensa,
principalmente em locais de climas tropicais áridos ou semiáridos, onde normalmente existe drenagem
ineficiente.
Os solos apresentam sais em níveis diferenciados. Quando este nível se eleva, chegando a uma
concentração muito alta, pode prejudicar o desenvolvimento de algumas plantas mais sensíveis, ou
mesmo impedir o desenvolvimento de praticamente todas as espécies.
A salinização do solo pode ser causada pelo mau manejo da irrigação em regiões áridas e semiáridas,
caracterizadas pelos baixos índices pluviométricos e intensa evapotranspiração.
A baixa eficiência da irrigação e a drenagem insuficiente nessas áreas contribuem para a aceleração
do processo de salinização, tornando-as improdutivas em curto espaço de tempo.
Os solos mais sujeitos a esse problema são os que estão em regiões mais secas. Neles, qualquer tipo
de irrigação mal conduzida pode gerar uma forte salinização se não estiver presente um adequado
sistema de drenagem.
Abaixo seguem dois exemplos de solos salinizados.

https://alunosonline.uol.com.br/geografia/salinizacao-solo.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Saliniza%C3%A7%C3%A3o
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e agricultura estima que, dos 250 milhões de
hectares irrigados em todo o planeta, cerca de metade já tem problemas de salinização, e uma grande
parte é abandonada todo ano por esse motivo. Por isso, a irrigação precisa ser feita com muito cuidado.
Entendemos que a água está cada vez mais escassa em todo o globo. A combinação de fatores
naturais e socioeconômicos como pressão demográfica e uso irracional gera desertificação, salinização
e poluição desenfreada.
O aumento do estresse hídrico já reduziu de forma considerável as reservas hídricas disponíveis no
planeta. Em quase metade das localidades habitadas, já existem problemas de escassez, e cerca de 20
a 30% da população mundial não têm acesso a redes satisfatórias de água e esgoto. Esse quadro fica
ainda mais grave uma vez que a escassez desse recurso se soma a problemas políticos entre povos e
nações.
No Oriente Médio, por exemplo, há inúmeras disputas pela posse da água que se misturam a
rivalidades criadas por décadas de conflitos.

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Israelenses e palestinos têm na água um dos maiores pontos de discórdia. Eles disputam as águas
oriundas da nascente do Rio Jordão e do Lago Tiberíades nas proximidades das Colinas de Golã. Além
disso, 90% dos canais de abastecimento de água são controlados por Israel.
Organismos internacionais afirmam que a disponibilidade per capita de água é quatro vezes maior em
Israel do que nos territórios palestinos, fato que potencializa epidemias, queda da produtividade agrícola
e tantos outros problemas.
Outro exemplo de tensão em razão da disputa pela água ocorre entre Síria, Turquia e Iraque. A Turquia
tem um plano de desenvolvimento que inclui a construção de mais de 20 barragens ao longo dos rios
Tigre e Eufrates.
Essas obras de grande porte alteram radicalmente a vazão de água dos rios e ameaçam o
abastecimento de grandes áreas em países vizinhos, como o Iraque e a Síria. Esses países discutem
hoje um estatuto comum para a administração desses rios, visto que não foram poucas as vezes que eles
entraram em alerta para uma possível guerra: um temendo perder o enorme volume de água, fundamental
para seu povo, outro temendo perder as barragens, fundamentais para seu desenvolvimento.

A Destruição dos Oceanos


A intensificação do comércio internacional nas últimas décadas tem deixado marcas negativas nos
oceanos.
Nos mares de quase todas as regiões do planeta existem gigantescas manchas de petróleo. Em parte,
essas manchas ocorrem por descaso e pelo uso de equipamentos obsoletos que causam vazamentos.
Além disso, muitos navios petroleiros chegam a lavar seus reservatórios nas costas de países pobres,
especialmente africanos, que não têm sistemas de vigilância eficientes para evitar esse crime.
Outro grave problema é a pesca predatória, que também contribui para o esgotamento dos estoques
de pescados oceânicos. Cerca de 90% das espécies comerciais, ou seja, pescadas, processadas e
vendidas, correm risco iminente de destruição em razão da pesca predatória.
Grandes grupos econômicos ligados direta e indiretamente ao setor alimentício são os responsáveis
por essa destruição. Eles permitem a prática da pesca predatória, que, na busca do lucro imediato, não
respeita, em muitos casos, o período de reprodução das espécies, fato que minimamente garantiria a
reposição dos estoques.
O mar também sofre a partir das terras costeiras. Grupos imobiliários promovem a ocupação irregular
de áreas litorâneas pela construção de casas, condomínios e hotéis em áreas de manguezal, alterando
o equilíbrio ambiental.
É importante lembrar que os oceanos são fundamentais para o equilíbrio ecológico de todo o planeta.
Eles concentram 97% das águas e produzem cerca de um sexto do oxigênio da atmosfera, além de serem
os principais responsáveis pela recomposição dos estoques de água doce, graças à umidade que geram.
Por todos esses fatores, os oceanos são fundamentais para a manutenção das características climáticas
do planeta.

A Degradação dos Solos (Desertificação)


A degradação do solo geralmente é causada pela associação de situações climáticas extremas, como
exemplos, a seca ou o excesso de chuvas, práticas predatórias, como o desmatamento de áreas
florestais, expansão das pastagens, utilização intensiva de agrotóxicos e a mineração descontrolada.
Essas atividades alteram e destroem a cobertura vegetal natural do solo, deixando-o exposto à ação
de ventos e chuvas, que gradualmente desgastam o solo desnudo de vegetação.
Esse processo erosivo pode evoluir, e a rocha bruta, base do solo, chegar a ficar exposta. Quando
isso ocorre, está se iniciando o processo de desertificação.
O manejo agrícola inadequado é um dos grandes responsáveis pela degradação dos solos. Quase
metade das áreas agrícolas do planeta tem algum problema que afeta a sua produção de alimentos.
Esse problema está longe de ser somente ambiental. Ele tem profunda relação com a sociedade e a
economia, uma vez que a perda de grãos com a desertificação chega a mais de 20 milhões de toneladas,
cifra suficientemente grande para atenuar o problema da fome no mundo.
As consequências nefastas da degradação do solo afligem também grandes contingentes
populacionais. Calcula-se que 30 milhões de pessoas morreram, nas últimas décadas, de fome,
ocasionada pelo esgotamento de suas áreas naturais, e mais de 120 milhões realizaram o êxodo rural
nos últimos 50 anos.
As soluções para esse problema passam sempre pela alteração do modelo produtivo ou pela aplicação
de enormes recursos financeiros na recuperação de áreas.
Em 1994 foi assinada a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. A principal
decisão foi a aplicação de vastos recursos financeiros para promover a educação ambiental,

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principalmente em sociedades agrárias, para que estas sejam reprodutoras das práticas e dos
conhecimentos voltados à conservação dos solos.

Resíduos Sólidos: Recurso e Problema


Diariamente milhões de toneladas de resíduos sólidos são lançadas no ambiente. A prática de
depositar resíduos ao ar livre, lançá-los na água, descartá-los em terrenos baldios e queimar os restos
inaproveitáveis teve início nas civilizações antigas, em que os métodos de lidar com os descartes
consistiam em depositá-los bem longe das moradias.
Essa solução vigorou durante muito tempo e se incorporou à cultura cotidiana de muitas populações.
Hoje é evidente que o crescimento populacional e o aumento do consumo levaram a humanidade a uma
enorme produção de resíduos, que causam graves problemas quando manipulados e depositados de
forma inadequada.
Após a década de 1950, iniciou-se uma mudança de mentalidade em relação ao resíduo sólido, a
princípio nos países mais ricos. Antes visto como desprezível e problemático, gradualmente ele passou
a ser encarado como energia, matéria prima e parte da solução para alguns problemas.
Atualmente, processos como a reciclagem reduzem o volume de resíduos sólidos descartado e
interferem no processo produtivo, economizando energia, água e matéria-prima, além de reduzir
sensivelmente a poluição da água, do ar e do solo. Mesmo assim, a quantidade de lixo reciclada é muito
pequena perante a total.
Uma das soluções que podem ajudar a solucionar esse problema é a coleta seletiva de lixo, ou seja,
o processo pelo qual se separam os materiais encontrados no lixo. Essa separação é fundamental para
o reaproveitamento dos resíduos, pois a coleta potencializa o reaproveitamento dos materiais. A
reciclagem passou a ser uma obrigação em função do enorme volume de resíduos que a sociedade
produz.

As Consequências das Mudanças Climáticas e Ambientais

A Chuva Ácida
A atmosfera, como vimos, vem sendo contaminada por compostos químicos como o enxofre e o
nitrogênio, que vão se concentrando no vapor de água e, consequentemente, nas nuvens. Estas, quando
muito carregadas, despejam uma chuva extremamente ácida.
Até a década de 1990, a chuva ácida era comum apenas nos países de industrialização mais antiga,
mas depois, com a expansão mundial do processo industrial, ela passou a ocorrer em grande quantidade
também na Ásia, em países como China, Índia, Tailândia e Coreia do Sul, que hoje são os grandes
responsáveis pela emissão de óxido nitroso (NO) e dióxido de enxofre (SO²).
Grande parte desse problema foi surgindo conforme a produção industrial se expandia. Isso significou
maior uso de termelétricas que geram energia por meio do carvão e do petróleo (combustíveis altamente
poluentes), maior circulação de carros e outros meios de transportes.
Nos últimos anos há incidência de chuva ácida praticamente em todo o mundo. Em alguns lugares
onde não existem atividades industriais poluentes, ela ocorre em razão do deslocamento das massas de
ar vindas de países emissores de poluição.

https://escolakids.uol.com.br/geografia/chuva-acida.htm

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Entre as consequências da chuva ácida, destacam-se:
→ Alteração da composição do solo e das águas, tanto dos rios quanto dos lençóis freáticos;
→ Destruição da cobertura florestal (No Brasil, isso é visível por exemplo, em trechos das encostas da
Serra do Mar nas proximidades de Cubatão, no litoral de São Paulo, importante polo industrial
petroquímico que já foi conhecido mundialmente pela péssima qualidade do ar);
→ Contaminação das lavouras;
→ Corrosão de edifícios, estátuas e monumentos históricos.
Abaixo, uma imagem de um grande impacto ambiental, com destruição dos galhos e folhas de árvores
de montanhas polonesas, causado pela chuva ácida.

https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/quimica/o-que-e-chuva-acida.htm

Poluição Atmosférica e Aquecimento Global: O Aumento da Temperatura do Planeta


As razões do aumento da temperatura do planeta ainda geram muitos debates entre os cientistas.
Causas naturais e provocadas pelos seres humanos têm sido propostas para explicar o fenômeno.
A principal evidência do aquecimento vem das medidas de temperatura de estações meteorológicas
em todo o globo desde 1860. Os dados mostram que houve um aumento médio da temperatura durante
o século XX.
Para explicar essas mudanças, os cientistas usam ainda evidências secundárias, como a variação da
cobertura de gelo e neve em certas áreas, o aumento do nível dos mares e das quantidades de chuvas,
entre outras.
Diversas montanhas já perderam enormes áreas geladas e nevadas, e a cobertura de gelo no
Hemisfério Norte na primavera e no verão também diminuiu drasticamente.
O aumento da temperatura global pode levar um ecossistema a graves mudanças, forçando algumas
espécies a sair de seus habitats, invadindo outros ecossistemas, ou potencializando a extinção.
Outra situação que causa grande preocupação é o aumento do nível do mar, de 20 a 30 cm por década.
Algumas ilhas no Oceano Pacífico já sofrem com esse problema.
Deve-se lembrar que a subida dos mares ocorre principalmente por causa da expansão térmica da
água dos oceanos, ou seja, as águas dilatam. No entanto, as preocupações com o futuro incluem também
o derretimento das calotas polares e dos glaciares, que guardam enormes quantidades de água na forma
de gelo. Alguns cientistas afirmam que as mudanças podem ocorrer de forma sutil e mesmo imperceptível.
Na imagem abaixo, um urso polar sofre com o derretimento das calotas polares.

http://meioambiente.culturamix.com/recursos-naturais/derretimento-das-calotas-polares

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Tudo isso leva a uma situação preocupante. Previsões feitas pela ONU alertam que entre 50 e 100
milhões de pessoas podem abandonar suas casas temporária ou definitivamente por problemas
relacionados a questões ambientais nas próximas décadas, tornando-se refugiados ambientais.
Nesses números estão incluídos grupos humanos, comunidades inteiras que serão levadas a migrar
em razão da poluição das águas, de enchentes, do desgaste dos solos, do fim da disponibilidade de
peixes e da subida do nível dos oceanos.
É certo que essa situação exigirá uma legislação internacional, uma vez que países e regiões inteiras
vão ser evacuados, e os refugiados poderão ser levados em circunstâncias emergenciais a outros países.

Sustentabilidade20

A qualidade de vida das gerações atuais e futuras começou a se tornar preocupante, tendo em vista o
estilo de vida e a relação que temos com o meio ambiente, provedor de matérias-primas para a nossa
sobrevivência. Por causa disso, a sustentabilidade hoje é um tema bastante discutido em escolas,
universidades, redes sociais e países de modo geral.

O que é uma Sociedade Sustentável?


A defesa de uma sociedade sustentável baseia-se na ideia de o ser humano estabelecer uma relação
com o espaço que o rodeia de modo que seu estilo de vida não prejudique as futuras gerações. Ou seja,
a sustentabilidade tem como premissa uma exploração do meio ambiente que respeite os limites do
planeta e minimize os efeitos da ação do ser humano.
Atualmente, pensar sobre esses limites é uma tarefa cada vez mais importante e emergencial, pois se
o nível de consumo mundial dos recursos naturais continuar no mesmo patamar, será insustentável sua
manutenção para, consequentemente, usufruto das gerações futuras.
Mesmo garantindo nossa própria sobrevivência, a qualidade de vida de toda a população também deve
ser um motivo de preocupação. Nesse sentido, a própria desigualdade social pode ser considerada
insustentável, pois favorece uns em detrimento de outros.

As Construções Alternativas
As paisagens urbanas têm cada vez mais se distanciado da forma original da natureza, de modo que
não proporciona um vínculo entre a dinâmica das cidades e o meio ambiente. Atualmente, 60% dos
resíduos sólidos urbanos provêm da construção civil, o que também provoca grande demanda de
madeira, contribuindo para o desmatamento de áreas de floresta.
Inseridas no pensamento sustentável, as construções alternativas começam a ser disseminadas com
o intuito de minimizar a desarmonia entre o ambiente natural e o construído, reduzindo os impactos
ambientais envolvidos na construção civil.
Essas construções são baseadas em uma arquitetura que considera a necessidade de transformar
sem agredir o ambiente, promovendo a utilização de matérias-primas biodegradáveis e de maneira
proveniente de reservas extrativistas sustentáveis, além do emprego de tecnologias que reduzam o
desperdício de água e energia e que facilitem a reutilização.
Para que essas construções atendam a esses objetivos, os elementos do clima local devem ser sempre
considerados; assim, é possível executar um planejamento voltado à iluminação e ao aquecimento
natural, por exemplo.
A aplicação de coberturas verdes e o uso da energia solar, captada por painéis fotovoltaicos, são
exemplos que se encaixam na construção sustentável. No entanto, pelo fato de exigirem maior
investimento, essas construções não são tão comuns quanto deveriam.

Questões

01. (Transpetro – Técnico Ambiental Júnior – CESGRANRIO/2018) Conforme o Painel


Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mais conhecido pelas iniciais em inglês — IPCC, o
aumento da temperatura média global nos últimos anos deve-se principalmente às emissões de Gases
do Efeito Estufa (GEEs), provocadas pelo homem.
A esse aquecimento é dado o nome de
(A) aquecimento global antropogênico
(B) aquecimento global dos mares
(C) aquecimento global primário

20
FURQUIM JR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição: São Paulo, editora AJS, 2015.

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(D) aquecimento global devido à variabilidade natural
(E) potencial de aquecimento global

02. (Câmara de Natividade/RJ – Analista Legislativo – IDECAN) “_________________ é aquele


que considera a preservação de recursos naturais e dos ecossistemas, bem como o bem-estar e a
melhoria da qualidade de vida da sociedade em geral, a longo prazo.” Assinale a alternativa que completa
corretamente a afirmativa anterior.
(A) Impacto ambiental
(B) Aquecimento global
(C) Novo código florestal
(D) Desenvolvimento sustentável

03. (PC/RO – Delegado de Polícia Civil – FUNCAB) Em setembro de 2013, os cientistas do Painel
Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU divulgaram novo relatório sobre
aquecimento global. De acordo com esse relatório:
(A) o aquecimento global retrocedeu significativamente na última década, devido à maior absorção do
calor pelas águas dos oceanos.
(B) os países emergentes, como China e índia, são os mais afetados no mundo pelo aquecimento
global, e, portanto, os principais interessados em reverter esse processo.
(C) o aumento do aquecimento global é um processo natural, que não está relacionado às ações
humanas.
(D) o desmatamento das áreas de floresta, especialmente no Brasil, é a principal causa do
aquecimento global.
(E) as ações humanas estariam intensificando o efeito estufa e provocando aumento do aquecimento
global.

Gabarito

01.A / 02.D / 03.E

Comentários

01. Resposta: A
Aquecimento global é o processo de aumento da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da
Terra causado por massivas emissões de gases que intensificam o efeito estufa, originados de uma série
de atividades humanas (daí o termo antropogênico), especialmente a queima de combustíveis fósseis e
mudanças no uso da terra, como o desmatamento, bem como de várias outras fontes secundárias.

02. Resposta: D
Desenvolvimento sustentável significa obter crescimento econômico necessário, garantindo a
preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social para o presente e gerações futuras.

03. Resposta: E
No fim dos anos 1980, aumentou-se a percepção de que as atividades humanas eram cada vez mais
prejudiciais ao clima do planeta. A ONU convocou cientistas do mundo todo para acompanhar esse
processo e, com a colaboração de 130 governos, criou-se o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC).

O ESPAÇO COMO PRODUTO DO HOMEM21

Da mesma maneira que as outras ciências sociais “a sociedade é o tema verdadeiro da geografia [...]”
(MOREIRA, 1984, p. 68). Entretanto, a geografia possui um modo particular de estudar a sociedade
(CORRÊA, 1986), visto que a reprodução da sociedade é analisada pela ciência geografia por meio de
suas categorias de análise que são: espaço, paisagem, lugar, região e território. Neste sentido, alguns
pesquisadores da geografia entendem o território como tema central da investigação geográfica, como é
o caso de Oliveira (2004, p. 40) que segue autores como Lefebvre, Raffestin, Quaini, Lacoste, entre
outros.

21
Entre Lugar, Dourados, MS, ano 1, n. 1, p. 73-98, 1º semestre de 2010.

85
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Diferentemente de alguns geógrafos, Raffestin faz distinção entre o que é o espaço e o que é o território
explicando que: “espaço e território não são termos equivalentes. Por tê-los usados sem critério, os
geógrafos criaram grandes confusões em suas análises, ao mesmo tempo em que, justamente por isso,
se privavam de distinções úteis e necessárias [...]”. (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
Segundo Raffestin (1993) o espaço antecede ao território. É a partir do espaço que o território é
produzido, ou seja, o espaço se transforma em território na medida em que ocorre a apropriação (material
e/ou simbólica) do espaço pelos sujeitos. Este processo pode ser denominado de territorialização do
espaço. Neste caso, para Raffestin a humanização da natureza não cria um espaço geográfico/ social ou
uma organização espacial e, sim, um território. Vejamos em suas palavras:
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do
espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa)
em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela
representação), o ator “territorializa” o espaço. [...]. (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
Para Lefebvre (apud RAFFESTIN, 1993), a territorialização do espaço ocorre na medida em que esse
espaço é humanizado/ historicizado, ou seja, é modificado pelas relações de trabalho e contém, por isso,
relações de poder. Isto significa que as instalações dos fixos e fluxos no espaço, bem como todas as
modificações no processo de organização espacial como a agricultura, pecuária, indústrias, rodovias, etc.,
são produções do trabalho humano que transformam o espaço em território.
[...] Lefebvre mostra muito bem como é o mecanismo para passar do espaço ao território: “A produção
de um espaço, o território nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas redes,
circuitos e fluxos aí se instalam: rodovias, canais, estradas de ferro, circuitos comerciais e bancários,
auto-estradas e rotas aéreas etc.”. O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um
trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. [...].
(RAFFESTIN, 1993, p. 144).
O espaço no entendimento de Raffestin (1993) é como se fosse a natureza primitiva/natural, de que
nos fala Marx. Essa natureza ao entrar em contato com o ser humano, por meio das relações de trabalho,
transforma-se de natureza ou espaço natural em sociedade que, por sua vez, ao se apropriar deste
espaço o transforma em território. Neste caso, o território é o processo de espacialização da sociedade.
Vejamos suas explicações:
Para um marxista, o espaço não tem valor de troca, mas somente valor de uso, uma utilidade. O espaço
é, portanto, anterior, preexistente a qualquer ação.
O espaço é, de certa forma, “dado” como se fosse uma matéria-prima. Preexiste a qualquer ação.
“Local” de possibilidades é a realidade material preexistente a qualquer conhecimento e a qualquer prática
dos quais será o objeto a partir do momento em que um ator manifeste a intenção de dele se apoderar.
Evidentemente, o território se apoia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção, a partir do espaço.
[...]. (RAFFESTIN, 1993, p. 144).
De forma geral, podemos dizer que “[...] o território é entendido como um espaço constituído de um
conjunto de relações entre os homens e entre os homens e seu ambiente material [...]” (CREVOISIER,
2003).
Portanto, podemos dizer que todas as relações humanas acontecem no território, por isso entendemos
a territorialização como uma relação inerente ao ser humano. Ou seja, à dimensão espacial e a
territorialidade são componentes indissociáveis da condição humana (HAESBAERT, 2006, p. 16).
Isso quer dizer que “[...] o território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de
coisas superpostas [...]” (SANTOS, [199?], p. 9). Para Santos, o território é o espaço onde todas as ações
humanas acontecem, ou seja, é o espaço onde ocorre a reprodução material e simbólica do ser humano.
Dessa forma, “[...] o Território é o lugar em que se desembocam todas as ações, todas as paixões, todos
os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza
a partir das manifestações da sua existência. [...]” (SANTOS, [199?], p. 9). Sendo assim, é o espaço de
todas as produções humanas, é o lugar de todos os homens, de todas as empresas e de todas as
instituições (SANTOS, [199?]).
Nesta concepção, o território é entendido em todas as suas dimensões que envolvem desde a
materialidade à subjetividade humana. Pensando a partir desta concepção o território passa a ser uma
categoria geográfica que representa a totalidade, por isso as concepções acerca do território devem
sempre ser integradoras, tentando “[...] buscar superar a dicotomia material/ideal, o território envolvendo,
ao mesmo tempo, a dimensão espacial material das relações sociais e o conjunto de representações
sobre o espaço ou o ‘imaginário geográfico’ que não apenas move como integra ou é parte indissociável
destas relações” (HAESBAERT, 2006, p. 42).
Neste sentido, todas as relações humanas fazem parte do território porque todos nós necessitamos
nos territorializar, pois este processo envolve desde o domínio político-econômico à apropriação

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
simbólico--cultural do espaço pelos sujeitos. Por isso, segundo Haesbaert (2006, p. 16), podemos
conceber a territorialização...
[...] como o processo de domínio (político-econômico) e/ou de apropriação (simbólico-cultural) do
espaço pelos grupos humanos. Cada um de nós necessita, como um “recurso” básico, territorializarse.
Não nos moldes de um “espaço vital” darwinistaratzeliano, que impõe o solo como um determinante da
vida humana, mas num sentido muito mais múltiplo e relacional, mergulhado na diversidade e na dinâmica
temporal do mundo.
Dessa forma, concebemos que não existe sociedade sem território, pois o ser humano,
necessariamente, vive em um território onde realiza todas as suas relações, por isso a sociedade está
inserida em um território. Sendo assim, fundamentalmente, o conceito de sociedade implica em
espacialização ou territorialização. Logo, espaço social e sociedade formam uma totalidade indissociável,
tendo as mesmas características/qualidades, pois são frutos da mesma construção histórica.
Sendo ao mesmo tempo a condição que possibilita essa construção e o resultado dessa construção.
Nas palavras de Haesbaert (2006, p. 20):
A começar pelo simples fato de que o próprio conceito de sociedade implica, de qualquer modo, sua
espacialização ou, num sentido mais restrito, sua territorialização. Sociedade e espaço social são
dimensões gêmeas. Não há como definir o indivíduo, o grupo, a comunidade, a sociedade, sem ao mesmo
tempo inseri-los num determinado contexto geográfico, “territorial”.
Pensando o território nessa concepção, não devemos negligenciar a importância dos sujeitos que o
produzem, ou seja, “[...] homens concretos (os homens em suas conformações de classe social) travando
relações concretas (contradições de classes)” (MOREIRA, 1985, p. 70). Dessa forma, a construção do
território se faz, em nosso período histórico, por uma sociedade sob o modo de produção capitalista.
Logo, sociedade “[...] não é uma sociedade de homens iguais: é uma sociedade de classes sociais”.
(MOREIRA, 1985, p. 68).
Sendo assim, inerentes ao processo de territorialização está à sociedade de classes. Sociedade esta
marcada pela luta de classes, ou seja, uma sociedade estratificada/classista formada de quatro classes
fundamentais: de um lado proletariado e campesinato, do outro lado, burguesia e proprietários de terra.
Cujo produto dessa sociedade é um território construído, conflituosamente, nessa luta mediada por um
Estado capitalista. Neste sentido, o território é uma totalidade dinâmica/contraditória produzida no
processo material de produção/ reprodução do capital mediada pela superestrutura, ou seja, os poderes
simbólicos, políticos, ideológicos, jurídicos etc. Sendo assim, ao reproduzir sua existência material, por
meio das relações de trabalho, a humanidade produz a sociedade. A sociedade classista ao reproduzir-
se, produz o território. Nas palavras de Oliveira (2004, p. 40):
[...] o território deve ser apreendido como síntese contraditória, como totalidade concreta do modo de
produção/distribuição/circulação/consumo e suas articulações e mediações supra-estruturais (políticas,
ideológicas, simbólicas etc.), em que o Estado desempenha a função de regulação. O território é, assim,
efeito material da luta de classes travadas pela sociedade na produção de sua existência. Sociedade
capitalista que está assentada em três classes sociais fundamentais: proletariado, burguesia e
proprietários de terra. (grifo nosso).
Dessa maneira, o território não existe “em si”, mas ele é produzido historicamente pelas relações
sociais de produção no interior da lógica, dinâmica e contraditória, do modo de produção vigente.
Por isso, concordamos com Oliveira (2004, p. 40) que: “[...] são as relações sociais de produção e a
lógica contínua/contraditória de desenvolvimento das forças produtivas que dão a configuração histórica
específica ao território. Logo, o território não é um prius ou um a priori, mas a contínua luta da socialização
contínua da natureza”.
Dessa forma, passam a ser características inerentes ao território os processos dinâmicos/dialéticos
simultâneos de “[...] construção/destruição/manutenção/transformação [...]”(OLIVEIRA, 2004, p. 40). Por
conseguinte, o território tem por característica essencial ser dinâmico e contraditório e, logo, em constante
movimento. Sendo assim, podemos sintetizar o território como “[...] a unidade dialética, portanto
contraditória, da espacialidade que a sociedade tem e desenvolve [...]” (OLIVEIRA, 2004, p. 40, grifo
nosso).
Podemos dizer, ainda, que o território configura-se como produto e condição da reprodução da
sociedade, que sob o modo de produção capitalista pode significar reprodução ampliada do capital e da
força de trabalho, bem como reprodução simbólica da cultura dos povos inserida na sua territorialidade.
Visto que não existe subjetividade separada da materialidade, o território é, pois, formado por essa
totalidade de relações humanas.
Entendemos, então, o espaço geográfico numa perspectiva territorial, como um produto relacional, ou
seja, construído na totalidade das relações sociais que envolvem múltiplas formas de poder.

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Porém, de forma geral, há um predomínio do poder econômico e político como “motor” condicionante
principal dessas relações. Dessa maneira, apesar de sabermos que o poder está impregnado no tecido
social, perpassando todas as relações humanas, a conexão entre o poder econômico e o político é a
essência da produção territorial sob o modo de produção capitalista. Nas palavras de Damiani (2002, p.
19):
Dividir o significado do poder pode significar diluí-lo. Sabemos da importância de toda e qualquer
vontade de poder; sabemos da existência de uma multiplicidade de poderes - econômicos, políticos,
sociais, que definem territorialidades. Mas a essência do processo, que demarca todas as demais
circunstâncias, é o atrelamento entre o político e o econômico [...].
Independente das categorias de análise geográfica que vamos privilegiar em nossa análise da
realidade, espaço ou território, não devemos nos esquecer que sua produção deve ser entendida como
uma construção histórica por meio de uma sociedade de classes subordinada ao modo de produção
capitalista.
A alienação, a coisificação, a desumanização, a desigualdade social, a violência, a depredação
ambiental, a destruição da sociobiodiversidade etc., causados por efeito, direto ou indireto, do processo
de acumulação e concentração do capital, demonstram a clara necessidade de construção de uma outra
realidade onde a relação sociedade e natureza não sejam mais sujeitadas ao capital.
E, consequentemente, a produção do território se faça de maneira a privilegiar o ser humano e não
mais o mercado. Que o mundo dos homens seja mais valorizado que o mundo das coisas. E, neste
sentido, que o processo de produção territorial seja inerente ao processo de humanização.
O processo de subordinação das relações sociais e, consequentemente, do trabalho e da produção do
espaço e do território ao capital, não é uma relação fatalista, infinita ou estável, pois as relações sociais
são dinâmicas e mutáveis. Como afirma Santos (2001): a realidade é constituída não só do que existe
hoje, mas do que pode vir a existir concretamente aqui, ali ou em qualquer parte.
Por isso, partindo do princípio de que o processo de construção do conhecimento (a educação, a
ciência, a arte, a teologia, a filosofia etc.) não é neutro devemos demonstrar a nossa posição frente à
realidade contraditória e desigual capitalista, ou seja, temos que definir nossa opção política em nossa
atuação intelectual. E nesse caso entendemos, assim como Oliveira (1999), que o conhecimento deve
estar a serviço da justiça social. Neste sentido, nossa intenção é de colaborar não só com o debate para
auxiliar no desenvolvimento do conhecimento científico geográfico, mas de estar contribuindo, também,
para a construção de um outro projeto civilizacional, de um outro modelo socioeconômico e de uma outra
lógica globalizante para a produção de um território emancipado do capital.
A atuação dos movimentos sociais, em geral, e, mais especificamente, a construção da espacialização
e da territorialização do MST (FERNANDES, 2000), demonstram a nítida possibilidade de construção de
uma outra realidade tendo em vista que os sujeitos são capazes de produzirem suas parcelas territoriais,
mesmo que ainda subordina dos ao capital, mas com a sua identidade. Sendo capazes de
produzirem/reproduzirem suas terriorialidades na medida em que se reproduzem, material e
simbolicamente, como sujeitos da mudança.

PLANEJAMENTO URBANO E QUALIDADE DA VIDA NAS CIDADES22

A discussão sobre a qualidade de vida nas cidades tem inúmeras abordagens possíveis.
Em primeiro lugar, é importante lembrar que um elemento fundamental na discussão sobre o conceito
de qualidade de vida é o dimensionamento da equidade na distribuição espacial e no acesso social a
determinados serviços e recursos urbanos, ou seja, é necessário ter em conta a equidade (ou o seu
contrário, o grau de desigualdade) na oferta e também no acesso aos recursos urbanos. Pode-se, aqui,
utilizar o conceito de renda real, de Harvey, que engloba o acesso a recursos – “o controle dos recursos,
que é nossa definição geral da renda real, está em função da acessibilidade e proximidade da
localização”.
Como “o poder sobre os recursos escassos de uma sociedade não pode ser determinado sem levar
em conta a acessibilidade e o preço de tais recursos”, aspectos como a relação entre a distribuição
territorial da população e a distribuição dos recursos, bem como a distribuição de renda apresentam-se
como importantes componentes na avaliação da qualidade de vida nas cidades.
Desse modo, na construção de indicadores de qualidade de vida urbana, é estreita a relação entre a
medição da oferta de serviços e recursos urbanos e a medição do efetivo acesso da população às
dimensões de cidadania.

22
MENDONÇA, Jupira Gomes de. Planejamento e medição da qualidade de vida urbana. Cadernos metrópole 15 pp. 13-24 1º sem. 2006.

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Não há como dissociar ambos os aspectos: a oferta é esvaziada se não há possibilidade de efetivo
acesso (ou é injusta se este é desigual), e o acesso só é pertinente na hipótese da existência da oferta.
Ambos compõem o que pode ser denominado “sistema para mensuração da qualidade de vida urbana”.
Em segundo lugar, é importante considerar a questão regional na avaliação da qualidade de vida
urbana. Em cidades que representam centralidade no espaço regional, polarizando regiões, é mais
importante a presença de determinados serviços urbanos de suporte ao desenvolvimento econômico
regional – e aqui se trata de qualidade de vida na medida em que significa distribuição regional de
oportunidades de emprego e renda.
Além disto, em especial nas regiões de baixa renda e baixa variação do PIB, a presença de – e o
acesso a – determinados serviços de educação e saúde terão maior peso na qualidade de vida, não só
urbana, como também regional, na medida em que se trata de recursos que são mais escassos do que
nas regiões de maior dinamismo e maior renda, onde uma rede urbana mais densa significa mais opções
de acesso.
Assim, a questão regional interfere na avaliação da qualidade de vida, no que diz respeito ao acesso
espacial a recursos e serviços urbanos.
Por fim, é importante considerar, na avaliação da qualidade de vida urbana, a centralidade da
habitação: a inserção cidadã (a inclusão, o direito à cidade) pressupõe um endereço. Mas o endereço
com o significado de inclusão, por sua vez, pressupõe três condições: em primeiro lugar, que não implique
a estigmatização negativa; em segundo lugar, que signifique acessibilidade a trabalho e renda.
Em terceiro lugar, que signifique moradia servida de saneamento básico, acesso a equipamentos
urbanos e controle ambiental.

Habitação, Infraestrutura e Mobilidade Urbana

Assim, um primeiro agrupamento temático já se faz presente, para pensar a qualidade de vida urbana:
habitação, infraestrutura urbana e transporte e trânsito. Entende-se aqui por infraestrutura urbana o
conjunto de redes e serviços que compõem a moradia, além da edificação residencial: saneamento
básico, drenagem, coleta e disposição de resíduos sólidos, energia elétrica, telefonia e telecomunicações.
Vejamos os aspectos mais importantes a serem abordados na avaliação de cada um desses
componentes.

Habitação
Dois aspectos devem balizar a avaliação da qualidade de vida, do ponto de vista da habitação: o déficit
habitacional (quantitativo e qualitativo) e a presença de terras ociosas em boas condições de ocupação.
O tamanho do déficit habitacional, comparativamente ao número total de domicílios, indica o grau de
precariedade das condições de vida urbana na localidade.
Além disso, o conjunto de glebas e lotes ociosos localizados no interior da malha urbana, com
acessibilidade e infraestrutura, é indicativo da retenção especulativa de terras e da ausência do controle
público sobre esse processo.
O confronto entre o tamanho do déficit habitacional e das terras ociosas ou subtilizadas mostra, ao
mesmo tempo, o grau de desigualdade habitacional presente no município e o grau de injustiça na
distribuição dos recursos urbanos, bem como dos custos da urbanização.
Alguns aspectos indicarão, stricto sensu, a qualidade de vida do ponto de vista da edificação
residencial, particularmente o padrão da edificação, as condições naturais da sua localização e a situação
fundiária.
Em primeiro lugar, a avaliação do padrão da edificação abrange os aspectos considerados no que
chamamos de déficit qualitativo. Interessa, neste caso, não apenas a avaliação do padrão físico (materiais
utilizados e existência de banheiro interno, por exemplo), mas também aspectos relativos ao conforto:
adensamento domiciliar, especialmente em relação ao número de dormitórios, e adequação climática.
Em segundo lugar, a avaliação da moradia, do ponto de vista do lugar onde ela se situa, tem
implicações que vão além das questões relativas à presença de infraestrutura ou acessibilidade a serviços
públicos e oportunidades de trabalho.
A proximidade de externalidades negativas e de externalidades positivas dá ao lugar possibilidades
concretas de conforto ou desconforto (proximidades de fontes poluidoras ou, ao contrário, proximidade
de áreas verdes exuberantes, por exemplo) e também um (re)conhecimento social – posição de prestígio
ou, ao contrário, estigma.
Além disso, a presença de moradias em áreas de risco, seja de inundação ou de deslizamento, em
áreas alagadas e outros tipos de áreas inadequadas à ocupação é representativa de baixa qualidade de
vida urbana.

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Por último, mas não menos importante, é relevante a avaliação da situação fundiária na avaliação da
qualidade de vida urbana, sob o aspecto da habitação, uma vez que a posse ou o uso legalizado do
imóvel residencial (seja qual for o tipo de reconhecimento) implica segurança, muitas vezes lastro que
permite capacidade de endividamento, outras vezes signo de mobilidade social ascendente.

Infraestrutura e Serviços Urbanos


Superar as carências em abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos
e de águas pluviais é um requisito fundamental para a saúde e a qualidade de vida das pessoas.
Mas, do ponto de vista da infraestrutura e dos serviços urbanos, é importante avaliar, além dos
aspectos referentes ao saneamento básico (água, esgoto, lixo e drenagem), também aqueles referentes
aos demais serviços de limpeza urbana, controle de vetores e reservatórios de doenças, e, ainda, os
serviços de telefonia, energia elétrica e telecomunicações.
Esse conjunto de serviços urbanos compõe as condições de habitabilidade e, portanto, permite medir
a qualidade da moradia em seu sentido amplo.
Do ponto de vista do saneamento básico, obviamente, é importante medir, não apenas a extensão dos
serviços, relativamente ao tamanho da população e do perímetro urbano, mas também a qualidade dos
serviços. Além disso, pode-se verificar a relação entre o custo dos serviços e a renda da população
(verificada a sua distribuição), de modo a examinar as reais possibilidades de acesso.
Particularmente, é preciso avaliar, no caso do abastecimento de água, sua extensão (extensão da
rede; frequência do abastecimento; quantidade de domicílios com canalização interna, em relação ao total
de domicílios; existência de fonte pública de água potável em áreas com baixo acesso à rede) e a
qualidade da água (condições de proteção do manancial de captação; tratamento da água).
Com relação ao esgotamento sanitário, é necessário avaliar, de um lado, a cobertura do sistema
(extensão da extensão da rede; quantidade de domicílios com canalização interna em relação ao total de
domicílios e quantidade de domicílios com lançamento através de fossa negra diretamente nos cursos
d’água ou na superfície do terreno) e, de outro, a qualidade ambiental resultante (destino dos esgotos –
tratamento ou lançamento in natura; existência e extensão relativa de interceptores de esgotos).
O componente limpeza urbana também deve ser avaliado na sua extensão (área abrangida pela coleta
de lixo doméstico; abrangência de varrição e de capina) e pela qualidade ambiental resultante (disposição
do lixo doméstico – “lixão” a céu aberto versus aterro sanitário; segurança e adequação do transporte;
presença de lixo em cursos d’água ou em áreas costeiras; tratamento de esgoto industrial; coleta
específica de lixo hospitalar; existência e quantidade relativa de coleta seletiva e reciclagem).
A drenagem requer tanto a avaliação da qualificação da macrodrenagem (tipo de tratamento dos
fundos de vale – canalização versus preservação do leito e de vegetação marginal; presença de
assoreamentos; presença de voçorocas) quanto a qualificação da microdrenagem (presença de esgotos
domésticos na rede pluvial).
Do ponto de vista do controle de vetores e reservatórios de doenças, a avaliação do grau de controle
poderia ser medido pela existência de políticas públicas de combate a vetores, legislação pertinente
(código sanitário), fiscalização, etc. No entanto, a eficácia da política e, portanto, o grau de controle são
avaliados com maior precisão a partir da observação da presença de doenças transmissíveis por vetores
e da quantidade de indivíduos doentes em relação à população total.
Com relação aos demais serviços urbanos – telefonia, energia elétrica e telecomunicações – mantém-
se o critério de avaliar quantitativa e qualitativamente, isto é, a extensão dos serviços e a sua qualidade
e custo, além das possibilidades de acesso: quantidade de domicílios atendidos em relação ao total de
domicílios; continuidade no funcionamento do serviço; abrangência das redes de telefones públicos e de
iluminação pública.
Com relação às telecomunicações, é importante, ainda, ante a necessidade de democratização da
informação, avaliar o grau de universalização do acesso à Internet internamente às residências e o acesso
público a ela.
Por fim, ainda que o controle ambiental não constitua um serviço ou infraestrutura urbana, é importante,
nesta seção, lembrar que o controle de emissão de poluentes é também aspecto fundamental a ser
medido na avaliação da qualidade de vida urbana.
Os aspectos de poluição do solo na área urbana, bem como de recursos hídricos, são observados na
avaliação do saneamento básico, particularmente no que se refere à coleta, disposição e tratamento dos
esgotos domésticos e industriais, bem como dos resíduos sólidos.
É importante ainda considerar os aspectos referentes à poluição do ar (tanto por emissores de origem
industrial como por veículos automotores) e à poluição sonora (presença de agentes poluidores;
existência de canais de denúncia e fiscalização).

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Mobilidade Urbana, Transporte e Trânsito
A avaliação da qualidade de vida urbana, do ponto de vista da mobilidade, deve partir do princípio da
Mobilidade Urbana Sustentável, entendida como um conjunto de políticas de transporte e circulação que
visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos
não-motorizados e coletivos de transporte, de forma efetiva, que não gere segregações espaciais,
socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável baseado nas pessoas e não nos veículos.
Desse modo, o primeiro aspecto a ser avaliado é a facilidade com que os habitantes da cidade
acessam os locais onde se concentram as oportunidades de trabalho, bem como as redes públicas de
saúde e de educação. Quanto menor o tempo de acesso, por meios não-motorizados ou por sistema de
transporte coletivo, melhor o nível da mobilidade.
O segundo aspecto diz respeito às condições para a mobilidade através de meios não-motorizados
(bicicleta, charrete, carroça, cavalo, canoa), em especial segurança e infraestrutura de apoio.
A existência de boas condições, neste caso, é indicativo de melhor qualidade da mobilidade dos mais
pobres, além de denotar aspecto favorecedor de melhores condições ambientais, na medida em que se
trata de modalidades não poluentes.
No caso das ciclovias, principalmente em localidades com grande frequência no uso da bicicleta, é
importante avaliar a qualidade do pavimento e da sinalização, verificar a existência de separação das
pistas de circulação de veículos motorizados e a extensão das vias em relação ao sistema de circulação
de veículos motorizados.
Nos demais casos, as condições dizem respeito, principalmente, à sinalização e aos equipamentos de
apoio, em especial em pontos de embarque e desembarque, por exemplo.
O terceiro aspecto é relativo às condições de circulação de pedestres: as condições dos passeios
públicos; área de vias exclusivas de pedestre, principalmente nos espaços comerciais centrais, em
relação às vias destinadas a veículos automotores; condições da sinalização viária; existência de
equipamentos e dispositivos para garantir a mobilidade de pessoas com restrição de mobilidade, incluindo
idosos, pessoas com deficiência e portadores de necessidades especiais, de modo seguro e confortável.
Além disso, o percentual de pessoas que se locomovem a pé para vencer grandes distâncias pode ser
indicativo do alto custo do transporte coletivo e, por consequência, da falta efetiva de acesso aos sistemas
existentes ou, ainda, da ineficiência do transporte (itinerários inadequados, baixa frequência, insegurança,
falta de integração entre diversos modos de transporte, entre outros). Dessa forma, a modalidade de
transporte tem uma relação com as distâncias a serem percorridas.
Com relação ao sistema de transporte coletivo, há dois grandes fatores que limitam a sua utilização e,
portanto, colocam obstáculos à acessibilidade como fator de inclusão social: em primeiro lugar, o custo,
vale dizer, o percentual de comprometimento da renda com transporte.
Em segundo lugar, a inexistência de integração multimodal torna ainda mais onerosa a utilização do
sistema e implica maior tempo de deslocamento.
Nas grandes cidades, é fator de qualidade de vida a existência de uma rede estrutural integrada de
média e alta capacidade. As redes serão tanto mais eficazes quando compatibilizadas com as estratégias
desenvolvimento urbano e as políticas de uso do solo.
A informalidade no transporte coletivo, qual seja, a existência de transporte não regulamentado, é
perniciosa para o funcionamento do sistema.
A informalidade inicia a desregulamentação do setor de transporte coletivo, baseada na disputa pelo
passageiro nas ruas e na sua auto-regulamentação, através das associações ou cooperativas,
substituindo o Estado na organização do Transporte Público. Com o passar do tempo, os operadores
evitam a queda de tarifa, estabelecem reserva de mercado, demarcam seus pontos de parada, criam
terminais particulares e evitam a entrada de novos operadores.
Por fim, alguns aspectos relativos especificamente ao trânsito devem ser objeto de avaliação:
percentual de vias pavimentadas, principalmente aquelas que compõem os itinerários de ônibus, e
sinalização adequada.
A relação de mortes decorrentes de acidentes de trânsito em relação ao número total de óbitos é
indicativo da qualidade do trânsito. Contribuem, ainda, políticas de educação para o trânsito, as quais
podem ser implementadas no nível municipal.
Fator indicativo da qualidade e gestão do trânsito é também o tempo médio de locomoção: tempos
muito baixos são produto de congestionamentos viários, os quais têm impactos negativos também sobre
a economia local.

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Formas de Organização - Urbana e Ambiental

Algumas questões decorrem do primeiro agrupamento temático acima desenvolvido: em que medida
os governos locais estão aparelhados para alterar a qualidade de vida urbana? Que tipo de políticas
públicas estão sendo implementadas nas cidades? Que instrumentos de controle urbano e gestão da
cidade estão sendo utilizados?
As respostas a essas questões ensejam dois outros conjuntos de temas: de um lado, a organização
político-institucional, o controle urbano e ambiental e a capacidade de investimento público municipal e,
de outro, as formas de organização urbana e ambiental resultantes das políticas públicas.

Uso do Solo
A análise da estrutura urbana resultante do processo de formação e crescimento de uma cidade
permite identificar o grau de desigualdade socioespacial presente nessa estrutura. Nesse sentido, dois
aspectos podem ser avaliados: em primeiro lugar, o grau de concentração ou, o seu contrário, de mescla
de grupos sociais no território urbano.
Este aspecto é importante, na medida em que alguns grupos sociais têm maior poder de pressão, não
só econômico-financeira, como também política, na distribuição dos recursos.
O segundo aspecto a ser avaliado é o grau de concentração e de centralização do uso do solo.
Excetuando-se a concentração do uso industrial, que se justifica pelos impactos ambientais negativos,
particularmente sobre o uso residencial , a concentração de usos residenciais ou de usos comerciais e
de serviços tem resultados negativos para a qualidade de vida urbana: no último caso, vai representar
ociosidade de infraestrutura em períodos fora do horário comercial; no primeiro caso, em geral, é
indicativo de auto segregação de grupos sociais elitizados, que buscam, no uso exclusivamente
residencial, o controle da utilização do seu espaço de moradia por pessoas “de fora”.
Ademais, a mescla de usos no território da cidade favorece maior proximidade na relação trabalho/
moradia, com consequências favoráveis, como a locomoção a pé e por outros modos não-motorizados.
Essas considerações não eliminam a possibilidade das concentrações comerciais e de serviços,
desejáveis na medida em que permitem a competitividade e a complementaridade de atividades
econômicas. No entanto, essas concentrações, não necessariamente, são expulsoras do uso residencial.
Além disso, em cidades médias e grandes, é desejável ainda a descentralização dos núcleos
comerciais e de serviços, de modo a aproximar esse tipo de concentração das áreas mais residenciais,
com impactos positivos no desenvolvimento econômico das diversas regiões da cidade e na mobilidade
urbana.

Espaços Públicos e Equipamentos Culturais


A existência e distribuição equitativa de espaços públicos e de equipamentos culturais é outro aspecto
importante a ser abordado na avaliação da qualidade de vida urbana.
Espaços públicos configuram conjuntos de áreas públicas de lazer, de prática esportiva, de encontro
e de descanso, incluindo praças, áreas verdes, calçadões e centros esportivos.
Os equipamentos culturais são edificações e espaços públicos especificamente voltados para
programa governamentais e para manifestações públicas culturais e de identidades locais (desde
bibliotecas, museus e centros culturais até sedes de associações e grupos culturais).
É importante avaliar: o seu tamanho, perante a população moradora dos bairros dentro do seu raio de
abrangência; a diversidade de usos propiciados, em relação às diversas faixas etárias; o estado de
conservação; a acessibilidade a pessoas com restrições de mobilidade e a pluralidade social na sua
utilização.

Capacidade de Gestão Pública


O terceiro grupo de temas diz respeito à gestão pública, em especial capacidade de planejamento,
ação e financiamento, além da democratização dos processos decisórios, nos diversos aspectos relativos
à gestão da cidade.
A qualidade de vida urbana depende muito da capacidade do governo local de exercer o planejamento
e o controle do território da cidade, da sua estruturação, para implementar políticas e fiscalizar o
cumprimento da regulação urbana e sua capacidade de investimento em equipamentos, serviços e
infraestrutura urbana.

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Controle Urbano e Ambiental
O controle urbano e o controle ambiental, no nível local, constituem ações públicas que permitem
orientar o processo de expansão urbana de forma racional e ecologicamente equilibrada, bem como
promover a justa distribuição dos recursos urbanos.
Não basta identificar, no entanto, a existência de processos de controle e regulação (ainda que estes
sejam aspectos a serem abordados): é necessário qualificar o tipo de controle.
Dessa forma, é importante avaliar: existência de legislação de controle do uso e ocupação do solo e
de legislação ambiental no nível municipal; presença na legislação municipal e utilização efetiva de
instrumentos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade; aparato administrativo para
licenciamento e fiscalização (corpo técnico, estrutura organizacional); grau de articulação entre as
políticas urbanas e as políticas sociais; capacidade administrativa e institucional para gestão
intermunicipal compartilhada, particularmente nos municípios situados em aglomerações urbanas e
regiões metropolitanas.

Democratização da Gestão
Não há dúvidas de que a gestão democrática da cidade resulta em melhor distribuição 21 dos recursos
e, portanto, em melhor qualidade de vida urbana. Sob esse aspecto, é importante avaliar, em primeiro
lugar, a quantidade e os tipos de mecanismos de gestão participativa: conselhos municipais (caráter
deliberativo ou não; paridade; autonomia de escolha da representação; frequência de reuniões); comitês
gestores de programas públicos (grau de participação das comunidades locais; grau de autonomia e
poder de deliberação); orçamento participativo (avaliação qualitativa do grau de autonomia e da
capacidade de decisão real sobre os investimentos).
Em segundo lugar, é preciso avaliar o grau de democratização da informação: as formas de divulgação
das contas públicas e a existência, frequência e abrangência de programas de capacitação.

Estrutura de Apoio à Cidadania


O que chamamos aqui de estrutura de apoio à cidadania é um conjunto de mecanismos e ações
voltados para a organização da vida cotidiana na cidade, e que também deve ser avaliado no
dimensionamento da qualidade de vida urbana: aparato de assistência técnica e jurídica de apoio à
habitação; política de educação para o trânsito; programas de capacitação de lideranças populares.

Capacidade de Investimento
A capacidade de investimento mostra as condições locais para intervenções e o potencial de melhoria
da qualidade de vida.
É necessário medir: o tamanho das receitas próprias (captação pelo próprio Poder Público local) em
relação ao total da receita; o grau de comprometimento das receitas com o custeio da máquina pública
(pessoal, gastos administrativos e gastos com manutenção de equipamentos, serviços e infraestrutura
urbana) e a consequente disponibilidade de receita para investimento urbano; a capacidade de
endividamento.
A medição e a avaliação da qualidade de vida urbana podem constituir importante instrumento para o
planejamento e a gestão urbana, na medida em que auxiliam no monitoramento da ação pública,
permitem observar a desigualdade socioespacial e sua evolução e podem ser utilizadas como parâmetro
para distribuição territorial de recursos, contribuindo, enfim, para os processos de tomada de decisão.
As reflexões aqui apresentadas buscaram sistematizar as variáveis urbanísticas a serem consideradas
em trabalhos dessa natureza. Obviamente, outras dimensões da vida urbana são também objeto de
medição e análise.
No entanto, no âmbito do planejamento urbano, a estrutura socioespacial e as formas de gestão de
sua produção constituem o cerne da ação pública. Dessa maneira, dimensionar a equidade na distribuição
espacial e no acesso social a recursos urbanos implica, fundamentalmente, medir os aspectos
constitutivos da estrutura urbana.

URBANIZAÇÃO MUNDIAL23

Espaço Geográfico e Urbanização

A cidade é a mais impressionante forma de transformação do espaço geográfico realizada pelo ser
humano. Hoje é muito difícil imaginar a vida fora da cidade ou mesmo fugir da influência urbana.

23
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco; Cláudio Mendonça. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2015.

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O processo de urbanização – que atingiu, em níveis diferentes, praticamente todos os países do mundo
– é um fato relativamente novo na história da humanidade. Tornou-se um fenômeno mundial a partir da
Revolução Industrial, no século XIX, e as cidades transformaram-se no principal centro produtivo,
tecnológico, cultural e de irradiação da modernidade. As grandes cidades dos países desenvolvidos
concentram os centros de pesquisas e as sedes das multinacionais, e delas são comandados os fluxos
financeiros nacionais e internacionais.
Para o geógrafo Milton Santos, “a cidade (principalmente a grande) é o lugar ideal, porque é o lugar
onde todo mundo se comunica mais do que em outra parte. A cidade grande é o lugar da sociodiversidade.
E quanto mais sociodiversidade, mais riqueza”.
É importante observar que a diversidade social e cultural se enriquece quando a interdependência
entre as pessoas não é pautada pela intolerância e pelas grandes desigualdades sociais.
De forma contínua e acelerada, o espaço das grandes cidades sofre transformações diversas,
promovidas por aqueles que nela atuam: o poder público, as empresas de construção, as imobiliárias e a
sociedade civil. As diferenças sociais refletem-se nas moradias, na localização dos serviços públicos e
privados e na disputa pela ocupação do solo urbano.
No Brasil, a desigualdade no espaço urbano é marcada pela marginalização espacial dos mais pobres,
verificando-se grandes distâncias da moradia em relação aos diversos serviços públicos básicos, aos
locais de trabalho, de consumo e de lazer. Além disso, a mobilidade da população é dificultada pela
situação precário dos meios de transporte coletivo.
O contraste na paisagem urbana não pode ser reduzido apenas à questão da moradia. Os jardins,
passeios públicos, centros culturais, teatros, cinemas, parques, estão situados próximos às regiões
centrais. A periferia torna-se basicamente local de moradia; as modalidades de lazer são criadas, muitas
vezes, pela ação da própria comunidade, raramente contando com apoio governamental. O direito ao
exercício da cidadania é podado pela própria configuração espacial das grandes cidades.

A Urbanização Mundial
A cidade é uma forma organização sócio espacial complexa; seu desenvolvimento depende de
infraestrutura tecnológica, cultural e administrativa.
As experiências de cada indivíduo em relação aos diversos espaços da cidade resultam de uma série
de fatores, incluindo sua condição sócio econômica.
Os espaços urbanos ou rurais vivenciados por nós acabam tendo um significado especial, pois neles
moramos, nos relacionamos com outras pessoas, trocamos experiências, estudamos, trabalhamos, nos
divertimos – enfim, desenvolvemos nosso cotidiano. Cada um desses espaços que vivenciamos
concretamente é denominado lugar. O mesmo lugar pode ter um significado diverso para diferentes
pessoas, de grupos sociais distintos. Uma rua, por exemplo: para uma pessoa que simplesmente a
percorre de carro, é vivida de uma forma; para as crianças que nela brincam, é vivida de outra maneira.
O vendedor ambulante que trabalha num parque público percebe esse lugar de modo distinto das pessoas
que o frequentam para lazer. O shopping center pode ser um lugar de compras para os clientes e de
trabalho para os funcionários das lojas. Os exemplos são muitos, e estão relacionados à questão da
cidadania: por direito, podemos usar os espaços públicos e temos o dever de lutar para a ampliação, a
conservação e o uso democrático desses espaços.
Num sentido amplo, o pleno exercício da cidadania diz respeito ao conjunto de direitos e deveres
políticos, sociais e econômicos de cada pessoa na sociedade. Assim, votar, eleger-se, expressar
livremente suas ideias, adquirir conhecimento, trabalhar, morar, dispor de assistência médica, locomover-
se livremente pelo país, conservar os espaços públicos, fazem parte desse conjunto.

Cidade e Cidadania
Cidade, cidadão e cidadania têm o mesmo radical latino: civitas, o lugar em que os homens vivem em
conglomerados urbanos, tendo certo direitos e deveres mutuamente respeitados. Para Lúcio Costa, o
urbanista que desenhou o Plano Piloto de Brasília, a cidade é a “expressão palpável da necessidade
humana de contato, comunicação, organização e troca – numa determinada circunstância físico-social e
num contexto histórico”.
Na versão mais simples da palavra, cidadão refere-se ao habitante da cidade. Na Antiguidade
Clássica, o conceito de cidadão tinha como foco principal o direito de participação política nos negócios
da polis (vocabulário grego que significa cidade). Era o que Benjamin Constant chamava de “liberdade
antiga”. No século 19, o foco passou a ser a proteção dos indivíduos contra o poder arbitrário do Estado,
e com isso os direitos civis passaram a predominar sobre os direitos políticos – era a “liberdade moderna”,
também segundo Constant. Em seu sentido integral, que é o vigente hoje, a cidadania inclui os dois focos,
o democrático e o liberal, a autodeterminação exercida na polis pelo povo soberano e as disposições que

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garantem a segurança e a integridade dos indivíduos. A cidadania é, por um lado, a capacidade de intervir
no Estado e, por outro, o poder de exigir do Estado o respeito e a plena concretização dos direitos
individuais. (FREITAG, Barbara. Correio Brasiliense, 16/06/2002).

A Cidade e a Revolução Industrial

A cidade surgiu com as primeiras civilizações da Antiguidade, mas foi a partir da Revolução Industrial,
no século XIX, que ocorreu o maior desenvolvimento urbano de toda a história. Desde então, as cidades
consolidaram o papel de comando na economia e sociedade europeias e no desenvolvimento capitalista.
Assim, grande parte dos estudos de Geografia urbana analisa a industrialização e a urbanização com
processos que caminham paralelamente.
Apesar de ser um espaço típico da produção industrial, a cidade também centralizou e comercializou
a produção do campo. As novas oportunidades de trabalho na zona urbana atraíram pessoas que haviam
perdido terras e emprego no campo, com a introdução das novas tecnologias para produção agrícola.
Neste novo contexto, a população urbana passou a ter crescimento superior ao da população rural;
formaram-se grandes aglomerações e novas formas de administração do território foram articuladas. A
cidade torna-se “poderosa”: nela se viabilizam, com maior facilidade, as articulações políticas, a
organização da produção e o consumo.

Urbanização e Crescimento Urbano


A urbanização não corresponde ao crescimento das cidades em consequência do crescimento natural
ou vegetativo da população urbana. Ela ocorre a partir da migração rural-urbana, que faz com que a
cidade passe a ter um crescimento maior do que o campo. Quando a população urbana e a rural crescem
em igual proporção ocorre o crescimento urbano.
O crescimento populacional das cidades teoricamente não tem limites, ao contrário do que ocorre com
a urbanização, que corresponde a um aspecto espacial ou territorial proveniente de modificações sócio
econômicas. A Revolução Industrial, por exemplo, provocou profundas alterações espaciais e
econômicas, acelerando o processo de urbanização: o meio urbano cresceu e passou a comandar o meio
rural.

Urbanismo e Planejamento Urbano


A industrialização e a urbanização tornaram-se um fenômeno mundial na segunda metade do século
XIX; a partir de então, o debate sobre os problemas urbanos nos países industrializados se intensificou.
Sobre esses países pairava uma constatação: o crescimento econômico conquistado com a
industrialização não havia levado à melhoria da qualidade de vida da população urbana.
A miséria e as condições insalubres de moradia do proletariado urbano constituíam ameaças
permanentes de convulsões sociais e revoltas populares. Nas cidades industriais europeias do século
XIX, um número crescente de trabalhadores vivia em habitações deterioradas, em locais sem saneamento
básico nem serviço de coleta de lixo. Nessa época, os socialistas acreditavam que a insatisfação latente
das camadas populares em relação aos problemas sociais levaria à Revolução Socialista. Diante da
situação, o Estado adotou o planejamento urbano para resolver os problemas sociais causados pelo
desenvolvimento do capitalismo industrial: procurou reorganizar as cidades para estabelecer uma relação
mais equilibrada entre o espaço urbano e a sociedade.
As intervenções urbanas no século XIX, que marcaram a origem do urbanismo, não tiveram objetivos
e concepções idênticos. Algumas não partiram de uma perspectiva progressista e reformista, e não tinham
a preocupação em resolver de fato os problemas da miséria e das grandes disparidades existentes entre
as camadas sociais.
A remodelação de cidades como Viena, Londres, Florença e Paris atendeu a problemas comuns: a
melhoria sanitária, a criação e preservação de espaços públicos, o alargamento de ruas e avenidas. Mas
cada cidade tinha seus aspectos peculiares e visões distintas de como reorganizar sua estrutura e o modo
de vida urbana.
Um exemplo ilustrativo de intervenção urbana nesse período foi o projeto de remodelação de Paris,
concretizado pelo Prefeito George Eugène Haussmann (1809-1891). A abertura de largas avenidas
(bulevares) na cidade teve função estratégica: conter as convulsões sociais. O sistema viário dos
bulevares facilitava o rápido deslocamento das tropas de cavalaria e artilharia, além de impossibilitar a
formação de barricadas pelo movimento operário em confrontos com a polícia.
O austríaco Camillo Sitte (1843-1903), um dos percursores do urbanismo, ressaltava a importância do
espaço público (praças, monumentos e edificações históricas) para a vida do homem urbano. Apontava
a influência positiva que o meio externo poderia trazer ao espírito humano. Suas ideias humanistas – que

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precederam o chamado urbanismo culturalista – influenciaram vários projetos no mundo inteiro,
inclusive nas cidades do Rio de Janeiro, Santos e São Paulo, no início do século XX.
No Reino Unido, o modelo de planejamento urbano conhecido como cidades-jardins (Garden cities)
marca até hoje a paisagem. As habitações foram erguidas com um generoso espaço verde as separando.
Esse modelo, adotado também nos Estados Unidos, ressaltava a interação do urbano com a natureza.

Urbanismo no Século XX

No século XX, o urbanismo utilizou os avanços tecnológicos da Segunda Revolução Industrial. O


concreto armado, o ferro, o aço, o alumínio, o vidro e outros materiais foram incorporados às obras
arquitetônicas e criaram novas possibilidades de instalações urbanas e de moradia. O arranha-céu gerou
o crescimento verticalizado e ampliou o adensamento populacional.
O urbanismo da primeira metade do século XX foi marcado pelo funcionalismo ou racionalismo, isto
é, o planejamento urbano e o projeto arquitetônico passaram a ser vistos com finalidade funcional
(utilitária) e racional (prática). A estética devia estar a serviço das necessidades básicas e da vida social
do ser humano; as novas conquistas tecnológicas deviam ser incorporadas na construção dos edifícios e
das cidades, em perfeita harmonia com a vida cotidiana.
A sintonia do movimento racionalista com a vida moderna e a era da máquina pode ser observada na
frase “A casa é uma máquina de morar”, expressa pelo arquiteto suíço Le Corbusier – o mais famoso
urbanista do século XX. Nesse sentido, a moradia deveria ser produzida em série, como os automóveis
e outros objetos industriais.
Le Corbusier também destacava que “a finalidade do urbanismo não é outra que satisfazer as quatro
necessidades urbanas de caráter primordial: habitar, trabalhar, recrear o corpo e o espírito e circular”. A
partis destes quatro princípios elementares, defendia “a necessidade de assegurar aos habitantes da
cidade alojamentos sãos, minimamente ensolarados (não menos de duas horas diárias) e rodeados de
espaços verdes. Tais alojamentos deveriam estar convenientemente equipados, tendo ao seu redor os
serviços indispensáveis à satisfação das necessidades cotidianas da população urbana”. (LE CORBUSIER.
Princípios de urbanismo. Barcelona, Planeta-Agostin, 1986, p. VI).
O exemplo mais importante da influência do urbanismo racionalista no Brasil é a cidade de Brasília,
projetada no final da década de 1950 pelo urbanista Lúcio Costa (projeto da cidade – plano-piloto) e pelo
arquiteto Oscar Niemeyer (projeto dos prédios públicos e dos blocos residenciais). O projeto de Brasília
acrescentou aos princípios do urbanismo moderno aspectos próprios da conjuntura econômica da época,
marcada pela instalação da indústria automobilística no país. Além do traçado arrojado de suas ruas e
avenidas, da configuração de sua estrutura urbana e de seus edifícios – adaptados a uma estética
funcional e rodeados de áreas verdes -, Brasília é o grande símbolo do espaço do automóvel. Apesar das
críticas que pesam sobre essa cidade e dos objetivos que nortearam sua construção, ela se transformou
num símbolo mundial do urbanismo racionalista e da arquitetura moderna.
O planejamento urbano do século XX não ficou restrito às concepções do urbanismo racionalista, mas
nenhuma outra corrente teve a mesma difusão e influência mundiais.

A Urbanização Atual

Em 1975, a taxa de urbanização mundial era de apenas 37%. Em 2001, aproximadamente metade da
população já vivia em áreas urbanas, e calcula-se que essa proporção atingirá 60% em 2025. A
intensidade da urbanização explica-se principalmente pelo aspecto qualitativo: muitos aspectos da vida
urbana estenderam-se à vida do campo, como o acesso ao saneamento básico e à energia elétrica, a
presença de hospitais e escolas. As telecomunicações (como TV, rádio, telefone e, em alguns casos, até
Internet) integram atualmente os habitantes do campo e da cidade numa mesma rede de informação.
Assim, os limites territoriais das cidades não são mais os limites do modo de vida urbano.

As Cidades e a Urbanização no Mundo Desenvolvido - Desmetropolização


No mundo desenvolvido, a população urbana ultrapassa, em média, os 75%, e em muitos países já se
verifica uma estabilidade da porcentagem da população urbana em relação ao total da população.
A partir do final do século XIX, houve nos países desenvolvidos um processo de suburbanização ou
desmetropolização da população de maior poder aquisitivo, que procurava distanciar-se das
concentrações populacionais e industriais e dos problemas ambientais dos centros urbanos. Esse
processo mostrou-se mais intensa na segunda metade do século XX, graças ao incremento dos meios
de transporte e de comunicação; isso também possibilitou a descentralização das atividades econômicas,
que passaram a ocupar a periferia das grandes cidades e outras de menor tamanho.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Em alguns países, como os Estados Unidos, esse processo de suburbanização e a expansão das
grandes cidades levaram à ampliação da mancha urbana, caracterizada pela presença de algumas
metrópoles e diversas cidades. Formou-se a megalópole: um imenso aglomerado urbano, praticamente
contínuo, com algumas poucas áreas rurais.
Nos países europeus, o crescimento urbano ocorreu sem que a mancha urbana preexistente se
estendesse de modo significativo. Com exceção de cidades como Paris, Londres, Milão e Moscou, as
cidades europeias são pouco populosas, apesar de a grande maioria da população habitar em áreas
urbanas.
Nas grandes cidades do mundo desenvolvido, a preservação do espaço público e do patrimônio
histórico e as especificações de novas edificações (como localização, altura e recuo) são criteriosamente
regulamentadas e fiscalizadas pelo governo. Muitas intervenções realizadas nas cidades marcam
decisivamente determinados períodos e aspectos da paisagem urbana.

As Cidades e a Urbanização no Mundo Subdesenvolvido


No mundo subdesenvolvido, grupos de países apresentam diferenças no que se refere à urbanização.
Os maiores índices da população urbana nesse conjunto verificam-se na América Latina: em média, entre
65 e 70 % dos habitantes vivem em cidades. Os mais baixos ocorrem na África e na Ásia: entre 35 e 40%,
em média. Em virtude da intensidade do processo de urbanização nos países subdesenvolvidos, esses
índices devem aumentaram rapidamente.
Nesses grupos, as possibilidades econômicas estão concentradas nas grandes cidades, que
constituem “ilhas” de progresso. Em alguns países, especialmente da América Latina, a população, a
renda, os investimentos econômicos e a participação na pauta de exportações de uma única cidade
chegam a atingir cifras correspondeste à metade do total do país.
Em 1950, havia oito aglomerações urbanas com mais de 5 milhões de habitantes, e apenas duas se
encontravam em países desenvolvidos. Já em 2000, das 37 aglomerações com esse número de
habitantes no mundo, 27 se localizavam em países subdesenvolvidos, e várias superavam os 10 milhões
de habitantes.

Urbanização e Planejamento nos Países Subdesenvolvidos


A partir da década de 1950, houve uma ampliação considerável da superfície ocupada pelas cidades
nos países subdesenvolvidos, num ritmo muito mais acentuado do que o verificado nos países onde a
urbanização acontecera há mais tempo.
De modo geral, a expansão das cidades nos países subdesenvolvidos deu-se praticamente sem
orientação ou planejamento, agravando o quadro de exclusão social no espaço urbano. Na periferia das
cidades, vários terrenos e loteamentos – a maioria clandestinos e desprovidos de infraestrutura – foram
ocupados pela população mais carente para estabelecer sua moradia.
Esse fenômeno é comum a várias cidades, apesar das diferenças existentes na organização espacial
e no grau da ocupação da superfície de cada uma delas. Na Cidade do México, em Lima e em São Paulo,
por exemplo, a expansão da superfície construída aconteceu em ritmo mais intenso que o próprio
crescimento da população.
Apesar do crescimento populacional elevado, em alguns períodos não se verificou um aumento na
densidade demográfica em algumas cidades mais pobres. Isso se deve ao fato de elas apresentarem
uma expansão desordenada e um crescimento “horizontalizado”. Esse crescimento horizontal cria
grandes dificuldades para a implantação de infraestrutura adequada (como transporte, coleta de lixo e
saneamento básico) em lugares mais distantes.

A Rede Hierárquica de Cidades - Metropolização

As cidades estão ligadas entre si por uma estrutura de transportes e de meios de comunicação,
formando uma rede urbana onde se estabelecem fluxos de mercadorias, pessoas e informações. As
relações nessa rede urbana são hierárquicas, pois algumas cidades exercem papel de comando, estando
no topo da hierarquia urbana: são as cidades globais e as metrópoles.

As Cidades Globais
As cidades globais são aquelas que concentram a movimentação financeira, as sedes de grandes
empresas ou escritórios filiais de multinacionais, importantes centros de pesquisas e as principais
universidades. São dotadas de infraestrutura necessária para a realização de negócios nacionais e
internacionais: aeroportos e portos, bolsa de valores e sistemas de telecomunicações, além de uma ampla

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rede de hotéis, centros de convenções e eventos, bancos e comércio. Possuem serviços bastante
diversificados, como jornais, tetros, cinemas, editoras, agências de publicidade, etc.

A Cidade Global
O processo atual de modernização leva a que todos os lugares se globalizem, graças à difusão
generalizada das técnicas e da informação.
Criam-se, assim, lugares globais simples e lugares globais complexos. Esses são, geralmente, as
metrópoles, em que um grande número de variáveis típicas de nossa época se combina.
Mas as metrópoles se caracterizam não apenas por esse lado moderno de sua realidade atual, mas
também pelo fato de que guardam numerosos aspectos herdados de épocas anteriores, em virtude da
resistência da paisagem metropolitana às mudanças gerais. É um equívoco considerar as metrópoles
como se fossem inteiramente modernizadas e globalizadas. Aliás, o seu cosmopolitismo (qualidade do
que é cosmopolita – que apresenta características sociais, econômicas e culturais de vários países),
apenas é garantido pelo fato de que esses lugares complexos contêm elementos com diversas origens e
idades que lhes asseguram o enriquecimento da variedade e da multiplicidade, o que inclui a possibilidade
de abrigarmos mais diversos tipos de capital, trabalho e cultura.
Uma classificação rigorosa levará a incluir entre as metrópoles globais apenas algumas poucas: Nova
York, Los Angeles, Tóquio, Londres, Paris..., capazes de exercer um papel de comando efetivo e de
regulação sobre o qual se faz nas outras cidades e no resto do mundo. Pode-se incluir também nesse rol,
ainda que num segundo nível, localidades como São Paulo, Cidade do México, Johanesburgo, cujo papel
reitor apenas se impõe a áreas menores e mais delimitadas do planeta.
Desse modo, pode-se considerar que as cidades globais são aquelas que dispõem, dos instrumentos
de comando da economia e sociedade em escala mundial (....). (SANTOS, Milton. Folha de São Paulo, 13/04/1997, Mais!, p. 5-
9).

As Metrópoles
As metrópoles são cidades populosas, adaptadas à economia globalizada, mas não necessariamente
formam uma megacidade. Em geral, preservam suas tradições, sua arquitetura e seu patrimônio histórico,
como é o caso principalmente das cidades europeias. Constituem grandes polos de atração de
investimentos e estão articuladas com as cidades globais – em alguns casos, podem ser classificadas
como tais. No entanto, sua importância e capacidade de comando geralmente estão restritas ao território
nacional.
Par alguns estudiosos do urbanismo, também deveriam estar associadas ao conceito de metrópole
características como direitos humanos e de cidadania (o direito à moradia, à educação, à saúde, ao
emprego, à segurança, etc.), o que limitaria este conceito a algumas cidades do mundo desenvolvido.

A Metrópole na Visão de um Importante Geógrafo


A ideia de metrópole nos remete a uma outra ideia, a de hierarquia. Como na história política dos
povos, onde algumas nações comandam as outras, com suas peculiaridades políticas, econômicas e
culturais, as metrópoles também disporiam do papel de comando em relação ao conjunto de cidades. As
metrópoles seriam as entidades mais altas na hierarquia, em virtude de deterem as melhores condições
econômicas, sociais, culturais e políticas: daí sua posição de comando.
A história nos fez juntar a ideia de metrópole à ideia de tamanho. Mas não seria apenas quantitativo,
mas também qualitativo – a grande cidade se torna metrópole por reunir condições, fruto em parte de seu
tamanho e da sua força reunida. É por isso que as metrópoles aparecem como lugar onde é possível
conviver com a sofisticação. (...). É o que distinguiria as nossas metrópoles das do norte, porque nas
nossas metrópoles a sofisticação não está ao alcance senão de uma parte muito pequena da população.
Entraríamos, portanto, em uma outra forma de distinguir as metrópoles, a qual limitaria a definição de São
Paulo como metrópole, porque poucas pessoas têm acesso ao que há aqui de sofisticado, diferentemente
de uma cidade como Paris, Londres ou Nova York, ou mesmo como Viena, que não é tão grande. (Santos,
Milton. Revista Caramelo. São Paulo, Grêmio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, 1994, nº 7, p. 62).

Especulação Imobiliária24

Especulação imobiliária é a compra ou aquisição de bens imóveis com a finalidade de vendê-los ou


alugá-los posteriormente, na expectativa de que seu valor de mercado aumente durante o lapso de tempo
decorrido.

24
http://www.ufjf.br/pa8/files/2015/03/7B1_ESPECULA%C3%87%C3%83O-IMOBILI%C3%81RIA.pdf

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Se uma pessoa, empresa, ou grupo de pessoas ou empresas compra imóveis, em grandes áreas ou
quantidades e numa mesma região, isto eleva a demanda de imóveis no lugar, e, por consequência, há
um aumento artificial dos preços de todos os imóveis daquela região (segundo a lei de oferta e procura).
A expressão tem conotação pejorativa, por deixar implícito que o comprador do imóvel não irá utilizá-
lo para fins produtivos ou habitacionais, e ainda retira de outras pessoas, de menor poder aquisitivo e,
portanto, mais necessitadas, a possibilidade de fazê-lo.
No Brasil, o Estatuto das cidades pretende regular a especulação imobiliária. Aqui, as capitais
nordestinas são as que mais sofrem com a especulação imobiliária.

O que é Especulação Imobiliária?


Este é um termo muito utilizado em praticamente todas as considerações sobre os problemas das
cidades atualmente.
No entanto, tenho percebido que não são muitas as pessoas que conseguem definir com clareza o
que seja especulação imobiliária.
Na maioria dos casos, elas associam o termo à construção de prédios em altura e, mais
especificamente, a uma intensa ocupação do solo urbano.
Mas será que é isso que significa especulação imobiliária?
Campos Filho (2001, p. 48) define especulação imobiliária, em termos gerais, como [...] uma forma
pela qual os proprietários de terra recebem uma renda transferida dos outros setores produtivos da
economia, especialmente através de investimentos públicos na infraestrutura e serviços urbanos[...].
A especulação imobiliária, portanto, caracteriza-se pela distribuição coletiva dos custos de melhoria
das localizações, ao mesmo tempo em que há uma apropriação privada dos lucros provenientes dessas
melhorias.

A Forma Básica da Especulação


Mas o que isso quer dizer? Como é possível “melhorar” uma localização se ela não pode ser mudada?
Afinal de contas, um terreno é um bem imóvel. Essas melhorias que acabam valorizando os terrenos
podem dar-se de muitas formas; as mais comuns referem-se à provisão de infraestrutura (água, esgoto,
energia), serviços urbanos (creches, escolas, grandes equipamentos urbanos) e às melhorias realizadas
nas condições de acessibilidade (abertura de vias, pavimentação, sistema de transporte, etc.).
Tais melhorias, quando realizadas no entorno de um terreno, acabam agregando-lhe maior valor.
Terrenos com boa infraestrutura são mais caros que terrenos sem nenhuma infraestrutura. O mesmo vale
para a pavimentação das vias. Outro caso relativamente comum é o de terrenos que não são muito bem
localizados, até que uma nova avenida ou rua importante é aberta, melhorando suas condições de
acessibilidade. Seu preço, por consequência, acaba aumentando quase que instantaneamente.
Outra forma de melhoria da localização acontece pelo simples acréscimo de novas edificações no seu
entorno, o que por si só torna sua acessibilidade melhor em relação ao conjunto da cidade. Em outras
palavras, a ocupação por atividades (residenciais, comerciais, etc.) ao redor de um terreno torna-o mais
próximo – e portanto com maior acessibilidade – a uma nova gama de possibilidades de interação com o
resto da cidade.
Essa possibilidade de interação, por sua vez, é um aspecto valorizado pelas pessoas no momento de
escolher um determinado local e, por isso, acaba também contribuindo para o aumento do preço do solo.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Por que a Especulação Imobiliária é Injusta?
Como vimos, o que se chama de “melhoria” de uma localização é o processo através do qual a
qualidade da localização de um terreno em relação à disponibilidade de infraestrutura e a outros terrenos
(e portanto a outras atividades e centros de interesse) é aumentada. Dessa forma, os terrenos chamados
“de engorda” ficam vazios, à espera de que o desenvolvimento da cidade se encarregue de valorizá-los,
sem que nenhum investimento tenha sido feito pelo proprietário (a não ser, é claro, o IPTU, que no entanto
é irrisório comparado à valorização da terra). Todo o investimento foi feito pelo Poder Publico,
principalmente no caso das infraestruturas, e por outros proprietários privados.
Muitos contribuem para a valorização, mas poucos ficam com os lucros.
Para entender esse ponto de vista, é interessante fazer uma comparação: imagine um empreendedor
qualquer, que queira ter lucro através da realização de uma determinada atividade. Para conseguir isso,
ele tem que investir uma certa quantia de capital e correr um risco, proporcional à probabilidade de o
negócio dar certo ou não. Os ganhos, por sua vez, também serão proporcionais ao risco corrido. Ele
presta um serviço que, de uma maneira ou de outra, é útil à coletividade e, em troca desse serviço
prestado, recebe sua compensação financeira. Nesse processo, ele gera empregos e movimenta a
economia.
Por outro lado, o especulador imobiliário que investir a mesma quantia de capital em um terreno ocioso
não está contribuindo em nada para a sociedade. Não gera empregos, não presta nenhum tipo de serviço,
e pior: ainda traz inúmeros prejuízos para a coletividade, conforme será visto mais adiante. Ainda assim,
por causa da valorização imobiliária conseguida através de investimentos feitos por outros setores da
sociedade, alcança lucros muitas vezes bastante grandes.

A Dispersão Urbana e a Especulação


Outra maneira de “melhorar” a localização de uma área é melhorar a qualidade dessa localização em
relação ao resto das áreas disponíveis no mercado, através do acréscimo de novas áreas que sejam
piores que elas. Assim, às vezes o preço de um determinado terreno sobe sem que haja nenhuma
modificação no seu entorno. Isso acontece porque loteamentos são criados nas piores localizações,
normalmente na periferia, isolados do tecido urbano e em condições precárias de infraestrutura.
Entretanto, mesmo esses loteamentos têm que, no mínimo, cobrir seus gastos de produção e conferir
algum lucro ao empreendedor, definindo, portanto, os menores preços do mercado de terras.
Com isso, o “ranking” de localizações é rearranjado, pela introdução, na sua base, de uma nova “pior”
localização. As outras localizações, por consequência, passam a ser mais valorizadas, por estarem agora
mais “distantes” da pior localização e mais próximas das áreas mais interessantes da cidade, ao menos
em comparação com essas novas áreas que agora passaram a fazer parte do tecido urbano. Quando um
terreno deixa de ser uma das piores localizações, pela adição de novas piores localizações, seu preço
sobe automaticamente.
Na maioria das vezes, esse mecanismo está associado também à forma mais básica da especulação
imobiliária, uma vez que deve ser feita provisão de infraestrutura para atender a essas piores localizações,
e que essa infraestrutura acaba passando pelos terrenos mais bem localizados, valorizando-os ainda
mais.

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Os Problemas Urbanos Gerados pela Especulação Imobiliária
Apesar de gerar lucro para alguns poucos investidores, a prática da especulação imobiliária é
extremamente prejudicial para as cidades. Por causa dela, os tecidos urbanos tendem a ficar
excessivamente rarefeitos em alguns locais e densificados em outros, gerando custos financeiros e
sociais.
A infraestrutura, por exemplo, é sobrecarregada em algumas áreas e subutilizada em outras, tornando-
se, em ambos os casos, mais cara em relação ao número de pessoas atendidas.
A especulação gera maiores distâncias a serem percorridas, subutilização da infraestrutura e aumento
artificial do preço da terra.
As dificuldades de deslocamento da população de mais baixa renda, especialmente nas grandes
cidades, também é, em grande parte, decorrente dessa lógica especulativa, que aumenta as distâncias
entre habitação e empregos. A urbanização de “piores” localizações empurra a ocupação para lugares
cada vez mais distantes, e com isso as distâncias que os novos moradores têm que percorrer acabam
aumentando.
Outra possível consequência da retenção especulativa de imóveis é a dificuldade de deslocamento
gerada pela escassez de vias e de possíveis caminhos para quem se desloca. Isso acontece quando os
terrenos ociosos são grandes, e impedem o surgimento de conexões entre áreas da cidade pelo fato de
não estarem parcelados. Todo o fluxo, portanto, precisa desviar-se dessas glebas, causando
estrangulamento em alguns pontos e concentração excessiva de tráfego em algumas poucas ruas.

Possíveis Soluções
Diante da constatação desse problemas advindos da especulação imobiliária, alguns instrumentos
urbanísticos vêm sendo utilizados para tentar coibi-la, com destaque especial para aqueles
regulamentados pelo Estatuto da Cidade.
O IPTU progressivo no tempo, por exemplo, permite ao poder público sobretaxar aqueles imóveis que
não estiverem cumprindo sua função social, isto é, que estiverem sendo subaproveitados em áreas que
possuam infraestrutura.
A outorga onerosa do direito de construir busca recuperar parte dos investimentos do poder público
em infraestrutura decorrentes do aumento de densidade acarretado por aquelas edificações cuja área
ultrapasse a área do terreno (coeficiente 1).
A contribuição de melhoria permite que o poder público cobre dos proprietários beneficiados por obras
de melhoria urbana o valor do investimento.
Entretanto, a aplicação de tais instrumentos nem sempre são implementadas, mesmo com a nova leva
de planos diretores participativos, principalmente por causa de hábitos e crenças há muito tempo
arraigados na cultura do brasileiro. Como explicar a alguém que sempre viu seus pais e avós segurando
a venda de terras para esperar os melhores preços que agora ele não poderá mais fazer isso, sob pena
de pagar mais impostos? Tarefa difícil, mas que deve ser levada a cabo paulatina e constantemente, para
que seja possível modificar essa mentalidade e criar cidades mais justas para todos.

Questões

01. (SEDF – Estudantes Universitários – CESPE) Com relação à geografia urbana no Brasil, julgue
o item que se seguem.
Os fatores que propiciam o crescimento populacional no interior do Brasil incluem a atração de
indústrias para as cidades de médio porte.
(....) Certo (....) Errado

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02. (SEDF – Estudantes Universitários – CESPE) Com relação à geografia urbana no Brasil, julgue
o item que se seguem.
O processo de industrialização foi o fator responsável pelo desenvolvimento das cidades brasileiras,
cujos territórios se transformaram devido ao aumento da atividade produtiva no campo.
(....) Certo (....) Errado

03. (IBGE – Tecnologista/Geografia – FGV) Na organização do espaço urbano brasileiro na


contemporaneidade, observa-se uma expansão impulsionada por duas lógicas, a da localização dos
empregos nos núcleos das aglomerações e a da localização das moradias nas áreas periféricas. A
incorporação de novas áreas residenciais, o aumento da mobilidade e a oferta de transporte eficiente
favorecem a formação de arranjos populacionais de diferentes magnitudes que aglutinam diferentes
unidades espaciais. Adaptado de: IBGE. Arranjos populacionais e concentrações urbanas no Brasil. Rio
de Janeiro: IBGE, 2015. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou 294 arranjos
populacionais no País, formados por 938 municípios e que representam 55,9% da população residente
no Brasil em 2010.
Os critérios utilizados na identificação dos arranjos populacionais empregam a noção de integração,
medida:
(A) pelos movimentos pendulares para trabalho e estudo e/ou pela contiguidade urbana;
(B) pelas funções urbanas e/ou pelo rendimento dos responsáveis por domicílio;
(C) pelos fluxos telefônicos e/ou pelas unidades locais das empresas de serviços à produção;
(D) pela densidade demográfica e/ou pela estrutura da População Economicamente Ativa;
(E) pelo tamanho populacional e/ou pelo fluxo de bens, mercadorias, informações e capitais.

Gabarito

01.Certo / 02.Errado / 03.A

Comentários

01. Resposta: Certo.


Um assunto que tem estado bastante em voga na economia brasileira desde o final do século XX é a
descentralização de indústrias, processo que, de acordo com o geógrafo Paulo Inácio Vieira Carvalho,
“tem início na década de 1980, quando as fábricas começam a deixar as regiões metropolitanas em
direção a municípios do interior”.
Inicialmente, as indústrias se retiraram das capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo visando
estabelecer-se em cidades do interior desses estados, mas, posteriormente, o projeto estendeu-se
também para estados menos industrializados do país.

02. Resposta: Errado.


Os territórios se transformaram devido ao aumento da atividade produtiva NAS CIDADES e não no
campo, além disso, o processo de industrialização foi um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento
das cidades brasileiras, porém, não o único.

03. Resposta: A.
Os movimentos pendulares são cada vez mais importantes para o entendimento da dinâmica urbana.
São utilizados para estudar a organização funcional dos espaços regionais e delimitar regiões
metropolitanas; dimensionar e caracterizar os fluxos gerados para o estudo e para o trabalho; para o
planejamento urbano, em especial o de transportes, entre outros (MOURA, CASTELLO BRANCO; FIRKOWSKI, 2005;
CASTELLO BRANCO, 2006).

A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA25

No início do século XX era necessária uma grande quantidade de trabalhadores nas linhas de produção
e as indústrias impulsionaram grandes transformações no espaço geográfico. Como por exemplo, o
aumento dos fluxos migratórios, de produtos e de serviços, a construção de moradias, o surgimento de
novos bairros, o investimento em transportes coletivos, etc.
Para entendermos o atual estágio de desenvolvimento econômico brasileiro, é necessário conhecer o
contexto histórico do processo de industrialização e de desenvolvimento das atividades terciárias no país.
25
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

102
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Desde o período colonial, o desenvolvimento econômico brasileiro, e consequentemente a
industrialização, foram comandados por grupos e setores que pressionaram os governos a atender a seus
interesses políticos e econômicos.
Assim, só é possível entender as etapas da industrialização brasileira se for analisada a conjuntura
econômica (brasileira e mundial) e política de cada momento histórico.
Como exemplo, podemos citar os investimentos em infraestrutura de energia, transportes e
comunicações, que impulsionaram diversos setores da economia. Entretanto, a construção de grandes
usinas hidrelétricas sempre envolve questões socioambientais, como inundações de pequeno ou grande
porte e deslocamento de povos indígenas e de moradores locais.

Origens da Industrialização

A industrialização brasileira teve início, embora de forma incipiente, na segunda metade do século XIX,
período em que se destacaram importantes empreendedores, como o barão de Mauá, no eixo São Paulo-
Rio de Janeiro, e Delmiro Gouveia, em Pernambuco.
Foi principalmente a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que o país passou por um
significativo desenvolvimento industrial e maior diversificação do parque fabril, pois, em virtude do conflito
na Europa, houve redução da entrada de mercadorias estrangeiras no Brasil. Observe a tabela abaixo.

Brasil: estabelecimentos industriais existentes em 1920, de acordo com a data de fundação


das empresas
Data de fundação Número de estabelecimentos Valor da produção (%)
Até 1884 388 8,7
1885-1889 248 8,3
1890-1894 452 9,3
1895-1899 472 4,7
1900-1904 1080 7,5
1905-1909 1358 12,3
1910-1914 3135 21,3
1915-1919 5936 26,3
Data desconhecida* 267 1,6
*Corresponde a estabelecimentos industriais existentes em 1920 cuja data de fundação era desconhecida ou não informada.

Em 1919, período posterior à Primeira Guerra Mundial, as fábricas brasileiras eram responsáveis por
70% da população industrial nacional e produziam tecidos, roupas, alimentos e bebidas (indústrias de
bens de consumo não duráveis, com predomínio de investimentos de capital privado nacional). No início
da Segunda Guerra Mundial (1939), essa porcentagem caiu para 58%, porque houve ingresso de
empresas estrangeiras em setores como aço, máquinas e material elétrico.
Apesar da importância dos setores industrial e agrícola na economia brasileira, as atividades terciárias
(como o comércio e os serviços) apresentavam índices de crescimento econômico superiores. Isso
porque é no comércio e nos serviços que circula toda a produção agrária e industrial.
A agricultura cafeeira, principal atividade econômica nacional até então, exigia a construção de uma
eficiente rede de transportes. Assim, as ferrovias foram se desenvolvendo no país para escoar a produção
do interior para os portos. Também se estabeleceram s]um sistema bancário integrado à economia
mundial e um comércio para atender às crescentes necessidades nas cidades.
Nessa época, as indústrias utilizavam muitos trabalhadores nas linhas de produção e impulsionaram
importantes transformações, como o desenvolvimento de transportes coletivos.
Embora tenha passado por importantes períodos de crescimento, como o da Primeira Guerra, a
industrialização brasileira sofreu seu maior impulso apenas a partir de 1929, com a crise econômica
mundial decorrente da quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Na região Sudeste do Brasil,
principalmente, essa crise se refletiu na redução do volume de exportações de café e na perda da
importância dessa atividade no cenário econômico, contribuindo para a diversificação da produção
agrícola brasileira.
Outro acontecimento que contribuiu para o desenvolvimento industrial brasileiro foi a Revolução de
1930, que tirou a oligarquia26 agroexportadora paulista do poder e criou novas possibilidades político-
administrativas em favor da industrialização, ema vez que o grupo que tomou o poder com Getúlio Vargas

26
Oligarquia é um regime político sob o controle de um pequeno grupo de pessoas pertencentes a um partido, classe ou família. O poder é exercido somente
por pessoas desse pequeno grupo.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
era nacionalista e favorável a tornar o Brasil um país industrial. Apesar disso, a agricultura continuou
responsável pela maior parte das exportações brasileiras até a década de 1970.
A partir da crise de 1929, as atividades industriais passaram a apresentar índices de crescimento
superiores aos das atividades agrícolas. O colapso econômico mundial diminuiu a entrada de mercadorias
estrangeiras que poderiam competir com as nacionais incentivando o desenvolvimento industrial nacional.
É importante destacar que o cultivo do café permitiu o acúmulo de capitais que serviram para dinamizar
e impulsionar a atividade industrial. Os barões do café, que residiam nos centros urbanos, sobretudo na
cidade de São Paulo, aplicavam enorme quantidade de capital no sistema financeiro, para cuidar da
comercialização da produção nos bancos e investir na Bolsa de Valores. Parte desse capital aplicado
ficou disponível para montar indústrias e investir em infraestrutura. Todas as ferrovias, construídas, com
a finalidade principal de escoar a produção cafeeira para o porto de Santos, interligavam-se na capital
paulista e constituíam um eficiente sistema de transporte. Havia também grande disponibilidade de mão
de obra imigrante que foi liberada dos cafezais pela crise ou que já residia nas cidades, além de
significativa produção de energia elétrica.
A associação desses fatores favoreceu o processo de industrialização, que passou a crescer
notadamente na cidade de São Paulo, onde havia maior disponibilidade de capitais, trabalhadores
qualificados e uma infraestrutura básica, mas também em algumas regiões dos estados do Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Na instalação de novas indústrias predominava, com raras exceções, o capital de origem nacional,
acumulado em atividades agroexportadoras. A política industrial comandada pelo governo federal era a
de substituir as importações, visando à obtenção de um superávit cada vez maior na balança comercial
e no balanço de pagamentos, para permitir um aumento nos investimentos nos setores de energia e
transportes.

O Governo Vargas e a Política de “Substituição de Importações”

Getúlio Vargas governou o país pela primeira vez de 1930 a 1945. Tomou posse com a Revolução de
1930, caracterizada pelo aspecto modernizador. Até então, o mundo capitalista acreditava no liberalismo
econômico, ou seja, que as forças do mercado deveriam agir livremente para promover maior
desenvolvimento e crescimento econômico. Com a crise, iniciou-se um período em que o Estado passou
a intervir diretamente na economia para evitar novos sobressaltos do mercado.
De 1930 a 1956, a industrialização no país caracterizou-se por uma estratégia governamental de
criação de indústrias estatais nos setores de bens intermediários e de infraestrutura de transportes e
energia. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi uma das importantes indústrias que se destacaram
no período, na extração de minerais. Outras de grande destaque foram a Petrobras, para extração de
petróleo e petroquímica; a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); a Fábrica Nacional de Motores (FNM),
que, além de caminhões e automóveis, fabricava máquinas e motores; e também a Companha
Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), para produção de energia hidrelétrica.
Foi necessário um investimento inicial muito elevado para o desenvolvimento desses setores
industriais e para a infraestrutura estratégica. Entretanto, por dar retorno a logo prazo, esse investimento
não interessava ao capital privado, seja nacional, seja estrangeiro. Por isso, o próprio governo o assumiu.
A ação do Estado foi decisiva para impulsionar e diversificar os investimentos no parque industrial do
país, combatendo os principais obstáculos ao crescimento econômico e fornecendo, a preços mais
baixos, os bens intermediários e os serviços de que os industriais privados necessitavam. Era uma política
de caráter nacionalista.
Embora a expressão substituição de importações possa ser utilizada desde que a primeira fábrica
foi instalada no país, foi o governo de Getúlio Vargas que iniciou a adoção de medidas cambiais e fiscais
que caracterizaram uma política industrial voltada à produção interna de mercadorias.
As duas principais medidas adotadas foram a desvalorização da moeda nacional (réis até 1942 e, em
seguida, cruzeiro) em relação ao dólar, o que tornava o produto importado mais caro (desestimulando as
importações), e a introdução de leis e tributos que restringiam, e às vezes proibiam, a importação de bens
de consumo e de produção que pudessem ser fabricados internamente.
Em 1934, Getúlio Vargas promulgou uma nova Constituição, que incluiu a regulamentação das
relações de trabalho, como a criação do salário mínimo, as férias anuais e o descanso semanal
remunerado, o que garantiu o apoio da classe trabalhadora. Com base no apoio popular, Vargas aprovou
uma nova Constituição em 1937, que o manteve no poder como ditador até ser deposto, ao fim da
Segunda Guerra, em 1945, período que ficou conhecido como Estado Novo.
A intervenção do Estado possibilitou um forte crescimento da produção industrial, com exceção do
período da Segunda Guerra. Durante os seis anos desse conflito, em razão da carência de indústrias de

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base e das dificuldades de importação, o crescimento industrial brasileiro foi de 5,4%, uma média inferior
a 1% ao ano. Veja a tabela abaixo.

Brasil: taxas de crescimento da produção industrial (em %) – 1939/1945


Metalúrgicas 9,1
Material de transporte -11,0
Óleos vegetais 6,7
Têxteis 6,2
Calçados 7,8
Bebida e fumo 7,6
Total 5,4

Observe que houve um significativo crescimento na produção interna em diversos setores que
sofreram restrições durante a guerra, mas o setor de transportes, cuja expansão não poderia ocorrer sem
a importação de veículos, máquinas e equipamentos, sofreu forte redução.

Política Econômica e Industrialização Brasileira do Pós-Guerra à Ditadura Militar

O final da Segunda Guerra levou muitos países ao enfrentamento dos problemas que aconteceram
durante os anos do conflito e que prejudicaram o desenvolvimento de muitas atividades econômicas.
No caso brasileiro, entre o final da Segunda Guerra e o início da ditadura militar (1946-1964), houve
alternância de diretrizes na política econômica e de estratégias de desenvolvimento ao longo dos
governos que se sucederam nesse período: Dutra, retorno de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio
Quadros e João Goulart.

Políticas Econômicas

O Governo Dutra (1946-1951)


O general Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em 1946 e instituiu o Plano Salte,
destinando investimentos ao setores de saúde, alimentação, transportes, energia e educação.
No decorrer do governo Dutra, as reservas de capital acumuladas durante a Segunda Guerra
foram utilizadas com:
a) importação de máquinas e equipamentos para as indústrias têxteis e mecânicas;
b) reequipamento do sistema de transportes;
c) incremento da extração de minerais metálicos, não metálicos e energéticos.
Houve também abertura à importação de bens de consumo, o que contrariava os interesses da
indústria nacional.
Os empresários nacionais defendiam a reserva de mercado.

O Retorno de Getúlio e da Política Nacionalista (1951-1954)


Em 1951, Getúlio Vargas retornou à presidência eleito pelo povo e retomou seu projeto
nacionalista:
a) investiu em setores que impulsionaram o crescimento econômico, como sistemas de
transportes, comunicações, produção de energia elétrica e petróleo, e restringiu a importação de bens
de consumo;
b) dedicou-se à criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES
(1952) e da Petrobras (1953).
O projeto nacionalista de Getúlio acabou sendo derrotado pelos liberais, que argumentavam que:
a) com a economia fechada ao capital estrangeiro, a modernização e a expansão do parque
industrial nacional tornavam-se dependentes do resultado da exportação de produtos primários;
b) qualquer crise ou queda de preço desses produtos, particularmente do café, resultava em crise
na modernização e na expansão do parque industrial.
Em 1954, em meio à séria crise política, Vargas suicidou-se. Café Filho, seu vice-presidente,
assumiu o poder, permanecendo até 1956.

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Juscelino Kubitschek e o Plano de Metas (1956-1961)
Durante o governo de JK foi implantado o Plano de Metas, com as seguintes estratégias:
a) investir em agricultura, saúde, educação, energia, transportes, mineração e construção civil para
atrair investimentos estrangeiros;
b) fazer o país crescer “50 anos em 5”;
c) transferir a capital federal do Rio de Janeiro (litoral) para Brasília (centro do país), buscando
promover a ocupação do interior do território;
d) direcionar 73% dos investimentos aos setores de energia e transportes;
e) facilitar o ingresso de capital estrangeiro, principalmente nos setores automobilístico, químico-
farmacêutico e de eletrodomésticos.
O parque industrial brasileiro passou a contar com significativa produção de bens de consumo
duráveis, o que deu continuidade à política de substituição de importações.
Ao longo do governo JK consolidou-se o tripé da produção industrial nacional, formado pelas
indústrias:
a) de bens de consumo não duráveis, com amplo predomínio do capital privado nacional;
b) de bens intermediários e bens de capital, que contaram com investimento estatal nos governos
de Getúlio Vargas;
c) de bens de consumo duráveis, com forte participação de capital estrangeiro.
Com a concentração do parque industrial no Sudeste, as migrações internas intensificaram-se e os
maiores centros urbanos registram crescimento desordenado.
O crescimento econômico acelerado e o aumento da dívida externa provocaram o aumento da
inflação.
A partir de 1959 foram criados diversos órgãos de planejamento com a estratégia de descentralizar
investimentos produtivos por todas as regiões do país.

O Governo João Goulart e a Tentativa de Reformas (1961-1964)


João Goulart, conhecido como Jango, então vice-presidente, assumiu a Presidência do Brasil após
a renúncia do presidente Jânio Quadros, empossado poucos meses antes.
A renúncia de Jânio agravou os problemas econômicos herdados do governo JK, como a elevada
dívida externa e a inflação.
A posse de Jango, em 7 de setembro de 1961, ocorreu após a instauração do parlamentarismo,
que reduziu os poderes do chefe do Executivo (presidente).
Durante o período parlamentarista do governo João Goulart (até início de 1963), a inflação e o
desemprego aumentaram, e as taxas de crescimento reduziram-se.
Em 6 de janeiro de 1963 houve o retorno ao presidencialismo e foram encaminhadas as reformas
de base, com as seguintes diretrizes:
a) reforma dos sistemas tributário, bancário eleitoral;
b) regulamentação dos investimentos estrangeiros e da remessa de lucros ao exterior;
c) reforma agrária;
d) maiores investimentos em educação e saúde.
Tal política foi tachada de comunista pelos setores mais conservadores da sociedade civil e militar,
criando as condições para o golpe de 31 de março de 1964.

O Período Militar

Em 1º de abril de 1964, após um golpe de Estado que tirou João Goulart do poder, teve início no país
o regime militar, com uma estrutura de governo ditatorial. O Brasil apresentava o 43º PIB do mundo
capitalista e uma dívida externa de 3,7 bilhões de dólares. Em 1985, ao término do regime, o Brasil
apresentava o 9º PIB do mundo capitalista e sua dívida externa era de aproximadamente 95 bilhões de
dólares, ou seja, o país cresceu muito, mas à custa de um pesado endividamento.
O parque industrial se desenvolveu de uma forma bastante significativa, e a infraestrutura nos setores
de energia, transportes e telecomunicações se modernizou. No entanto, embora os indicadores
econômicos tenham evoluído positivamente, a desigualdade social aprofundou-se muito nesse período,
concentrando a renda nos estratos mais ricos da sociedade. Segundo o IBGE e o Banco Mundial, em
1960 os 20% mais ricos da sociedade brasileira dispunham de 54% da renda nacional; em 1970 passaram
a contar com 62% e em 1989, com 67,5%.
Entre 1968 e 1973, período conhecido como “milagre econômico”, a economia brasileira desenvolveu-
se em ritmo acelerado.

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Houve um crescimento acelerado anual do PIB brasileiro entre 1967 e 1975. Esse ritmo de crescimento
foi sustentado por investimentos governamentais em infraestrutura, como energia, transporte e
telecomunicações. No entanto, várias obras tinham necessidade, rentabilidade ou eficiência
questionáveis, como as rodovias Transamazônica e Perimetral Norte e o acordo nuclear entre Brasil e
Alemanha. Além disso, muitos investimentos foram feitos graças à captação de recursos no exterior, com
taxa de juros flutuantes, o que levou a dívida externa.
Quanto à construção da rodovia Transamazônica, a mesma foi construída numa época em que não
existia preocupação com a sustentabilidade ambiental e sem planejamento eficiente para a promoção do
crescimento econômico com justiça social, um dos eixos do desenvolvimento sustentável.
O capital estrangeiro entrou em setores como o de telecomunicações, a extração de minerais metálicos
(projetos Carajás, Trombetas e Jari), a expansão das áreas agrícolas (monoculturas de exportação), as
indústrias química e farmacêutica e a fabricação de bens de capital (máquinas e equipamentos) utilizados
pelas indústrias de bens de consumo.
Como o aumento dos preços dos produtos (inflação) não era integralmente repassado aos salários, a
taxa de lucro dos empresários foi ampliada com a diminuição do poder aquisitivo dos trabalhadores.
Aumentava-se, assim, a taxa de reinvestimento dos lucros em setores que gerariam empregos,
principalmente para os trabalhadores qualificados, mas as pessoas pobres eram excluídas, o que deu
continuidade ao processo histórico de concentração da renda nacional.
Nesse contexto, pessoas de classe média com qualificação profissional viram seu poder de compra
ampliado, quer pela elevação dos salários em cargos que exigiam formação técnica e superior, quer pela
ampliação do sistema de crédito bancário, permitindo maior financiamento de consumo. Enquanto isso,
trabalhadores sem qualificação tiveram seu poder de compra diminuído e ainda foram prejudicados com
a degradação dos serviços públicos, sobretudo os de educação e saúde.
No final da década de 1970, os Estados Unidos promoveram a elevação das taxas de juros no mercado
internacional, reduzindo os investimentos destinados aos países em desenvolvimento. Além de sofrer
essa redução, a economia brasileira teve de arcar com o pagamento crescente dos juros da dívida
externa.
Diante dessa nova realidade, a saída encontrada pelo governo para honrar os compromissos da dívida
pode ser sintetizada na frase: “Exportar é o que importa”. Porém, em um país em desenvolvimento como
o Brasil, que quase não investia em tecnologia, era muito difícil tornar seus produtos internacionalmente
competitivos.
A frase do então ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto, em resposta à inquietação dos
trabalhadores ao ver seus salários arrochados, ficou famosa: “É necessário fazer o bolo crescer para
depois reparti-lo”. O bolo (a economia) cresceu, o Brasil chegou a ser a 9ª maior economia do mundo
capitalista no início da década de 1980. No entanto, a renda permaneceu muito concentrada. Segundo o
Censo Demográfico de 1980, naquele ano 33,3% da população recebia até 1 salário mínimo e detinha
7,1% da renda nacional, enquanto 1,7% ganhava mais de 10 salários mínimos e detinha 34,3% da renda.
As soluções encontradas, apesar de favorecerem a venda de produtos no mercado externo, foram
desastrosas para o mercado interno:
→ Redução do poder de compra dos assalariados, conhecida como “arrocho salarial”, para combater
o aumento dos preços;
→ Subsídios fiscais para exportação (cobrava-se menos imposto por um produto exportado do que por
um similar vendido no mercado interno);
→ Negligência com o ambiente, levando a diversas agressões ao meio natural;
→ Desvalorização cambial, ou seja, a valorização do dólar em relação ao cruzeiro (moeda da época)
facilitava as exportações e dificultava as importações.
Assim se explica o aparente paradoxo: a economia cresce, mas o povo empobrece.
Na busca de um maior superávit na balança comercial, o governo aumentou os impostos de importação
não apenas para bens de consumo, como também para os bens de capital e intermediários. A
consequência dessa medida foi a redução da competitividade do parque industrial brasileiro diante do
exterior ao longo dos anos 1980. Os industriais não tinham como importar novas máquinas, pois eram
caras, o que afetou a produtividade e a qualidade dos produtos. Com isso, as indústrias, com raras
exceções, foram perdendo competitividade no mercado internacional e as mercadorias comercializadas
internamente tornaram-se caras e tecnologicamente defasadas em relação às estrangeiras.
Os efeitos negativos dessa política se agravaram com a crise mundial, iniciada em 1979. As taxas de
juros da dívida externa atingiram, em 1982, o recorde histórico de14% ao ano. Durante toda a década de
1980 e início da de 1990, a economia brasileira passou por um período em que se alternavam anos de
recessão e outros de baixo crescimento, conhecido como ciranda financeira, na qual o governo imitia
títulos públicos para captar o dinheiro depositado pela população nos bancos. Como as taxas de juros

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oferecidas internamente eram muito altas, muitos empresários deixavam de investir no setor produtivo, o
que geraria empregos e estimularia a economia aumentado o PIB, para investir no mercado financeiro.
Na época, essa “ciranda” criava a necessidade de emissão de moeda em excesso, o que levou os índices
de inflação.
O período dos governos militares no Brasil caracterizou-se pela apropriação do poder público por
agentes que desviaram os interesses do Estado para as necessidades empresariais. As carências da
população ficaram em segundo plano; as prioridades foram o crescimento do PIB e do superávit da
balança comercial. O objetivo de qualquer governo é aumentar a produção econômica; o problema é
saber como atingi-lo sem comprometer os investimentos em serviços públicos, que possibilitam a
melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Apesar do exposto, durante esse período, o processo de industrialização e de urbanização continuou
avançando, resultando em significativa melhora nos índices de natalidade, mortalidade e expectativa de
vida. Esse fato deve-se, sobretudo, ao intenso êxodo rural, já que nas cidades havia mais acesso a
saneamento básico, a atendimento médico-hospitalar, a remédios e a programas de vacinação em postos
de saúde, o que garantiu uma melhora da qualidade de vida de muitas pessoas que migraram para os
centros urbanos.
Em 1984, a campanha por eleições diretas para presidente contou com a realização de comícios
simultâneos em todas as capitais e grandes cidades brasileiras, reunindo milhões de pessoas.
O fim do período militar ocorreu em 1985, depois de várias manifestações populares a favor das
eleições diretas para presidente da República. Os problemas econômicos herdados do regime militar
foram agravados no governo que se seguiu, o de José Sarney, e só foram enfrentados efetivamente nos
anos de 1990.

Questão

01. (Enem) Os textos abaixo relacionam-se a momentos distintos da nossa história.


“A integração regional é um instrumento fundamental para que um número cada vez maior de países
possa melhorar a sua inserção num mundo globalizado, já que eleva o seu nível de competitividade,
aumenta as trocas comerciais, permite o aumento da produtividade, cria condições para um maior
crescimento econômico e favorece o aprofundamento dos processos democráticos. A integração regional
e a globalização surgem assim como processos complementares e vantajosos.” (Declaração de Porto, VIII Cimeira
Ibero-Americana, Porto, Portugal, 17 e 18 de outubro de 1998)
“Um considerável número de mercadorias passou a ser produzido no Brasil, substituindo o que não
era possível ou era muito caro importar. Foi assim que a crise econômica mundial e o encarecimento das
importações levaram o governo Vargas a criar as bases para o crescimento industrial brasileiro.” (POMAR,
Wladimir. Era Vargas – a modernização conservadora)
É correto afirmar que as políticas econômicas mencionadas nos textos são:
(A) opostas, pois, no primeiro texto, o centro das preocupações são as exportações e, no segundo, as
importações.
(B) semelhantes, uma vez que ambos demonstram uma tendência protecionista.
(C) diferentes, porque, para o primeiro texto, a questão central é a integração regional e, para o
segundo, a política de substituição de importações.
(D) semelhantes, porque consideram a integração regional necessária ao desenvolvimento econômico.
(E) opostas, pois, para o primeiro texto, a globalização impede o aprofundamento democrático e, para
o segundo, a globalização é geradora da crise econômica.

Gabarito

01.C

Comentário

01. Resposta: C
O primeiro texto destaca a importância da integração regional entre os países e a globalização como
processos complementares e vantajosos, que criam condições para um crescimento econômico mais
intenso e valorização da democracia. Já o segundo texto destaca a importância da política de substituição
de importações para dinamizar o processo de industrialização brasileira, no contexto da crise econômica
que se iniciou em 1929.

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CIDADES E URBANIZAÇÃO BRASILEIRA27

A fundação de Brasília, em 1960, e a abertura de rodovias integrando a nova capital ao restante do


país provocaram significativas alterações nos fluxos migratórios e na urbanização brasileira. Os
municípios já existentes cresceram, outros foram inaugurados e, consequentemente, houve reflexos na
malha municipal brasileira.

O que consideramos Cidade?

No mundo, atualmente, há cidades de diferentes tamanhos, densidades demográficas e condições


socioeconômicas. Em algumas, apenas uma função urbana recebe destaque, enquanto em outras são
desenvolvidas múltiplas atividades. Muitas se estruturaram há séculos, outras começaram a se
desenvolver há poucos anos ou décadas. Há ainda cidades que apresentam grande desigualdade social
e aquelas nas quais as desigualdades são menos acentuadas. Todos esses aspectos se refletem na
organização do espaço e são visíveis nas paisagens urbanas.
Dependendo do país ou da região em que se localiza, uma pequena aglomeração de alguns milhares
de habitantes pode apresentar grande diversidade de funções urbanas ou, simplesmente, constituir uma
concentração de residências rurais. Por exemplo, na Amazônia, onde a densidade demográfica é muito
baixa, um pequeno povoado pode contar com diversos serviços, como posto de saúde, escola e serviço
bancário, enquanto no inteiro do Estado de São Paulo, onde a rede urbana é bastante densa, o distrito
de um município de pequeno porte pode se constituir apenas como local de moradia de trabalhadores
rurais, com comércio de produtos básicos, sem apresentar outras funções urbanas. Quanto à população,
uma cidade localizada em regiões pioneiras pode ter muito menos habitantes que uma vila rural de um
município muito populoso localizado em uma região de ocupação mais antiga.
Na maioria dos países, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, a classificação de uma
aglomeração humana como zona urbana ou cidade costuma considerar algumas variáveis básicas:
densidade demográfica, número de habitantes, localização e existência de equipamentos urbanos, como
comércio variado, escolas, atendimento médico, correio e serviços bancários. No Brasil, o IBGE considera
população urbana as pessoas que residem no interior do perímetro urbano de cada município, e
população rural as que residem fora desse perímetro.
Entretanto, as autoridades administrativas de alguns municípios utilizam as atribuições que a lei lhes
garante e determinam um perímetro urbano bem mais amplo do que a área efetivamente urbanizada.
Dessa forma, muitas chácaras, sítios ou fazendas, inegavelmente áreas rurais, acabam registradas como
parte do perímetro urbano e são taxados com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e não com o
Imposto Territorial Rural (ITR). Com o IPTU, o governo dos municípios obtém ima arrecadação muito
superior à que obteria com o ITR.
Em 2017, 94,5% dos municípios brasileiros tinham até 100 mil habitantes e abrigavam 43,5% da
população do país; neles, as diversas atividade rurais ocupavam grande parte dos trabalhadores e
comandavam o modo de vida das pessoas.
Já que todos os municípios, independente de sua extensão territorial e população, têm,
obrigatoriamente, uma zona estabelecida como urbana, algumas aglomerações cercadas por florestas,
pastagens e áreas de cultivo são classificadas como áreas “urbanas”. Segundo esse critério, o estado do
Amapá e de Mato Grosso têm índices de urbanização equivalentes ao da região Sudeste. Portanto, como
não há um critério uniforme, a comparação dos dados estatísticos de população urbana e rural entre o
Brasil e outros países fica comprometida.
Alguns estados com grau de urbanização maior (acima de 70%) localizam-se em regiões de floresta,
de expansão agrícola ou reservas indígenas e ecológicas (principalmente na região Norte do país), nas
quais as atividades rurais, como agropecuária e extrativismo, são dominantes. Por exemplo, segundo o
IBGE, o Amapá, que em 2017 possuía apenas 797 mil habitantes distribuídos em 16 municípios, sendo
474 mil habitantes em Macapá, apresenta índices de urbanização igual ao de outros estados do Centro-
Sul.

População Urbana e Rural

A metodologia utilizada na definição das populações urbana e rural resulta em distorções. É


inquestionável, entretanto, que os índices de população urbana tenham aumentado em quase todo o país

27
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

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em razão da migração rural-urbana, embora atualmente ela seja menos intensa do que nas décadas
anteriores.
Até meados dos anos 1960, a população brasileira era predominantemente rural. Entre as décadas de
1950 e 1980, milhões de pessoas migraram para as regiões metropolitanas e capitais de estados. Esse
processo provocou crescimento desordenado, segregação espacial e aumento das desigualdades nas
grandes cidades, mas também melhoria em vários indicadores sociais, como a redução da natalidade e
dos índices de mortalidade infantil, além do aumento na expectativa de vida e nas taxas de escolarização.
Veja a tabela a seguir.

Brasil: Índice de Urbanização por Região (%)


Região 1950 1970 2015
Sudeste 44,5 72,7 93,1
Centro-Oeste 24,4 48,0 89,8
Sul 29,5 44,3 85,6
Norte 31,5 45,1 75,0
Nordeste 26,4 41,8 73,1
Brasil 36,2 55,9 84,7

Observe que o Centro-Oeste apresenta o segundo maior índice de urbanização entre as regiões
brasileiras. Isso se explica por dois fatores: toda a população do Distrito Federal (cerca de 3 milhões de
habitantes em 2017) mora dentro do perímetro urbano de Brasília, que é o único aglomerado urbano
dessa unidade da Federação; e houve a abertura de rodovias e a expansão das fronteiras agrícolas com
pecuária e a agricultura mecanizada (que usam pouca mão de obra), o que promoveu o crescimento
urbano nas cidades já existentes e o surgimento de outras.
Atualmente, a distinção entre população urbana e rural torou-se mais complexa, pois é considerável o
número de pessoas que trabalham em atividades rurais e residem nas cidades, assim como moradores
da área rural que trabalham no meio urbano.
São inúmeras as cidades que surgiram e cresceram em regiões do país que têm a agroindústria como
propulsora das atividades econômicas secundárias e terciárias. Ao mesmo tempo, vem aumentando e se
diversificando o número de atividades econômicas secundárias e terciárias instaladas na zona rural, que,
assim, se torna cada vez mais integrada à cidade.

A Rede Urbana Brasileira

Nas primeiras décadas da colonização foram fundadas várias vilas no Brasil. Em 1549, foi fundada
Salvador, a capital do Brasil até 1763, quando a sede foi transferida para o Rio de Janeiro. As demais
vilas da Colônia, assim que atingiam certo nível de desenvolvimento, recebiam título de cidade. A partir
da República, as vilas passaram a ser chamadas de cidades, e seu território (perímetro urbano e zona
rural) passou a ser designado município.
Ao longo da história da ocupação do território brasileiro, houve grande concentração de cidades na
faixa litorânea, em razão do processo de colonização do tipo agrário-exportador.
Durante o auge da atividade mineradora, ocorreu um intenso processo de urbanização e uma
efervescência cultural em Minas Gerais, além da ocupação de Goiás e Mato Grosso. Mas, com a
decadência da mineração, essas regiões, mais distantes do litoral, perderam população. A forte migração
para a então província de São Paulo, onde se iniciava a cafeicultura, possibilitou o desenvolvimento de
várias cidades, como Taubaté, Bragança Paulista e Campinas.
Além da cidade, os municípios podem conter outros núcleos urbanos, chamados distritos, que são
subdivisões administrativas. Em alguns casos, esses distritos crescem e se tornam maiores que a cidade,
incentivando movimentos de emancipação. Entretanto, muitos desses novos municípios não têm
arrecadação suficiente para manter as despesas inerentes, como Prefeitura, Câmara Municipal e serviços
públicos.
Considerando a viabilidade financeira dos novos municípios, ou seja, a relação entre receitas e
despesas, conclui-se que nem sempre há condições para sua autonomia econômica. Assim, muitos
municípios acabam deficitários, dependentes do auxílio estadual e federal.
Porém, para a população local, a criação de um novo município costuma parecer uma grande
conquista, pois, em geral, sente-se marginalizada e reivindica mais atenção e investimentos. A partir de
2001, essas emancipações diminuíram muito porque a Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleceu certa

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
autonomia econômica aos distritos e regulamentou as condições de repasse de verbas entre as esferas
de governo.
O Brasil tinha em 1960, 2766 municípios; em 1980, 3991; em 2000, 5507; em 2010, 5565 e em 2017,
5570.
O processo de urbanização e estruturação da rede urbana brasileira pode ser dividido em quatro
etapas.

Brasil: Integração Regional


Até a década de 1930 as migrações e o processo de urbanização se organizavam predominantemente
em escala regional, com as respectivas metrópoles funcionando como polos de atividades secundárias e
terciárias. As atividades econômicas, que impulsionam a urbanização, desenvolviam-se de forma
independente e esparsa pelo território nacional. A integração econômica entre São Paulo (região
cafeeira), Zona da Mata nordestina (cana-de-açúcar, cacau e tabaco), Meio-Norte (algodão, pecuária e
extrativismo vegetal) e região Sul (pecuária e policultura) era muito restrita. Com a modernização da
economia, as regiões Sul e Sudeste formaram um mercado único que, posteriormente, incorporou o
Nordeste e, mais arde, o Norte e o Centro-Oeste.
A partir da década de 1930, à medida que a infraestrutura de transportes e telecomunicações se
expandia pelo país, o mercado se unificava, mas a tendência à concentração das atividades urbano-
industriais na região Sudeste fez com que a atração populacional ultrapassasse a escala regional,
alcançando o país como um todo. Os dois grandes polos industriais do Sudeste, São Paulo e Rio de
Janeiro, passaram a atrair um enorme contingente de mão de obra das regiões que não acompanharam
o mesmo ritmo de crescimento econômico e se tornaram metrópoles nacionais. Foi particularmente
intenso o afluxo de mineiros e nordestinos para as duas metrópoles, que, por não atenderem às
demandas de investimento em infraestrutura, tornaram-se centros urbanos com diversos problemas em
setores como moradia e transportes.
Entre as décadas de 1950 e 1980 ocorreram intenso êxodo rural e migração inter-regional, com forte
aumento da população metropolitana no Sudeste, Nordeste e Sul. Nesse período, o aspecto mais
marcante da estruturação da rede urbana brasileira foi a concentração progressiva e acentuada da
população em grades cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais que cresciam
velozmente.
Da década de 1980 aos dias atuais observa-se que o maior crescimento tende a ocorrer nas
metrópoles regionais e cidades médias, com predomínio da migração urbana-urbana-deslocamento de
população das cidades pequenas para as médias e retorno de moradores das cidades de São Paulo e
Rio de Janeiro para as cidades médias, tanto da região metropolitana quanto para outras mais distantes,
até de outros estados.

A Integração Econômica

A mudança na direção dos fluxos migratórios e na estrutura da rede urbana é resultado de uma
contínua e crescente reestruturação e integração dos espaços urbano e rural. Isso resulta da dispersão
espacial das atividades econômicas, intensificada a partir dos anos 1980, e da formação de novos centros
regionais, que alteraram o padrão hegemônico das metrópoles na rede urbana do país. As metrópoles
não perderam a sua primazia, mas os centros urbanos regionais não metropolitanos assumiram algumas
funções até então desempenhadas apenas por elas.
Com novas funções, muitos desses centros urbanos geraram vários dos problemas da maioria das
grandes cidades que cresceram sem planejamento.

Principais Problemas Urbanos


Moradia
A especulação imobiliária tem tornado o solo urbano cada vez mais caro, excluindo a população de
baixa renda das áreas com melhor infraestrutura, porque são as mais valorizadas. Assim, grande parte
da população se instala em assentamentos irregulares, como encostas de morros e várzeas de rios,
muitos deles consideradas áreas de risco para estabelecer moradia.

Trânsito
A necessidade de percorrer grandes distâncias diariamente no percurso casa-trabalho-casa, em
função da distribuição desigual de empregos pela cidade, e a falta de um transporte público eficiente

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geram um número elevado de automóveis particulares nas vias públicas. Além disso, a verticalização28
característica dos grandes centros urbanos, alternativa encontrada para o adensamento29, quando feita
sem planejamento, influencia diretamente o aumento do transito de automóveis.
O aumento da concentração de poluentes na atmosfera nos centros urbanos é causado pelo
lançamento de partículas geradas, sobretudo, pela queima dos combustíveis dos veículos. Doenças
cardíacas e respiratórias têm sido associadas à presença de partículas poluentes nos pulmões e na
corrente sanguínea dos habitantes dos grandes centros urbanos, segundo a Organização Mundial da
Saúde.

Violência
A violência em geral é maior nos grandes centros urbanos, onde a desigualdade social é mais
acentuada.
Na tentativa de diminuir a sensação de insegurança, proliferam os condomínios residenciais fechados
e o setor privado de segurança. Fora dos condomínios residenciais, a busca por segurança incentiva a
procura por prédios para moradia, o que contribui para a verticalização dos grandes centros urbanos.
O crescimento do número de shopping centers nos grandes centros materializa o desejo de espaços
mais seguros para o lazer e as compras.

As Regiões Metropolitanas Brasileiras

As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei aprovada no Congresso Nacional em 1973,
que as definiu como “um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma
cidade central, com serviços públicos e infraestrutura comum”, que deveriam ser reconhecidas pelo IBGE.
A Constituição de 1988 permitiu a estadualização do reconhecimento legal das metrópoles, conforme
o artigo 25, §3º: “Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para
integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”.

As Regiões Integradas de Desenvolvimento (Rides) também são regiões metropolitanas, mas os


municípios que as integram situam-se em mais de uma unidade da Federação e, por causa disso, são
criadas por lei federal.
Em 2017, de acordo com a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), havia 74
regiões metropolitanas no país, abrigando 115,9 milhões de pessoas, 55,9% da população brasileira.
Veja a tabela a seguir, na qual estão listadas as quinze maiores regiões metropolitanas (incluída a
Ride do Distrito Federal).

Brasil: Maiores Regiões Metropolitanas e Rides - 2017


Região Metropolitana População
São Paulo 21.391.624
Rio de Janeiro 12.377.305
Belo Horizonte 5.314.930
Ride DF e entorno 4.373.841
Porto Alegre 4.293.050
Fortaleza 4.051.744
Salvador 4.015.205
Recife 3.965.699
Curitiba 3.572.326
Campinas 3.168.019
Vale do Paraíba e Litoral 2.497.857
Norte
Goiânia 2.493.792
Manaus 2.488.336
Belém 2.441.761
Sorocaba 2.088.321

28
Verticalização é um processo urbanístico que ocorre em metrópoles e consiste na construção de grandes e inúmeros edifícios, o que acaba, inevitavelmente,
dificultando a circulação de ar, devido à diminuição do espaço físico plano para construção. Ademais, é decorrente a formação de ilhas de calor nesses locais.
29
Fenômeno associado ao crescimento populacional das cidades, que resulta no uso intensivo do espaço urbano. Aglomeração de pessoas em um espaço
pequeno.

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Na tabela acima estão listadas regiões metropolitanas reconhecidas por lei estadual que trata-se do
reconhecimento legal como conjunto de cidades conturbadas com infraestrutura comum.
À medida que as cidades vão se expandindo horizontalmente, ocorre a conturbação, ou seja, elas se
tornam contínuas e integradas. Embora com administrações diferentes, espacialmente é como se fossem
uma única cidade. Portanto, os problemas de infraestrutura urbana passam a ser comuns ao conjunto de
municípios que formam a região metropolitana.
Das 74 regiões metropolitanas existentes em 2017, duas, São Paulo e Ri ode Janeiro, são
consideradas metrópoles nacionais, pelo fato de polarizarem o país inteiro. Ambas também são
consideradas cidades globais por estarem mais fortemente integradas aos fluxos mundiais. É nessas
cidades, sobretudo em São Paulo, que estão as sedes dos grandes bancos e das indústrias do país,
alguns dos centros de pesquisa mais avançados, as Bolsas de Valores e mercadorias, os grandes grupos
de comunicação, os hospitais de referência, etc.
A conturbação entre duas ou mais metrópoles não significa que as malhas urbanas sejam contínuas;
ela envolve plena integração socioeconômica, com intensidade de fluxos entre os municípios, mesmo
com a presença de zona rural entre eles.

Hierarquia e Influência dos Centros Urbanos no Brasil - Mobilidade

Dentro da rede urbana, as cidades são os nós dos sistemas de produção e distribuição de mercadorias
e da prestação de serviços diversos, que se organizam segundo níveis hierárquicos distribuídos de forma
desigual pelo território.
Por exemplo, o Centro-Sul do país possui uma rede urbana com grande número de metrópoles,
capitais regionais e centros sub-regionais bastante articulados entre si. Já na Amazônia, as cidades são
esparsas e bem menos articuladas, o que leva centros menores a exercerem o mesmo nível de
importância na hierarquia urbana regional que outros maiores localizados no Centro-Sul.
Outro fator importante que devemos considerar ao analisar os fluxos no interior de uma rede urbana é
a condição de acesso proporcionada pelos diferentes níveis de renda da população. Um morador rico de
uma cidade pequena consegue estabelecer muito mais conexões econômicas e socioculturais que um
morador pobre de uma grande metrópole. A mobilidade das pessoas entre as cidades da rede urbana
depende de seu nível de renda.
Segundo o IBGE, as regiões de influência das cidades brasileiras são delimitadas principalmente pelo
fluxo de consumidores que utilizam o comércio e os serviços públicos e privados no interior da rede
urbana. Ao realizar o levantamento para a elaboração do mapa da rede urbana, investigou-se a
organização dos meios de transporte entre os municípios e os principais destinos das pessoas que
buscam produtos e serviços.
O IBGE classificou as cidades em cinco níveis:

Metrópoles – os doze principais centros urbanos do país, divididos em três subníveis, segundo o
tamanho e o poder de polarização:
a) Grande metrópole nacional – São Paulo, a maior metrópole do país (21,2 milhões de habitantes,
em 2016), com poder de polarização em escala nacional;
b) Metrópole nacional – Rio de Janeiro e Brasília (12,3 milhões e 4,3 milhões de habitantes,
respectivamente, em 2016), que também estendem seu poder de polarização em escala nacional, mas
com um nível de influência menor que o de São Paulo;
c) Metrópole – Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Salvador, Recife, Curitiba, Campinas e
Manaus, com população variando de 2,6 (Manaus) a 5,9 milhões de habitantes (Belo Horizonte), são
regiões metropolitanas que têm poder de polarização em escala regional.

Capital regional – Neste nível de polarização existem setenta municípios com influência regional. É
subdividido em três níveis:
a) Capital regional A – engloba 11 cidades, com média de 955 mil habitantes;
b) Capital regional B – 20 cidades, com média de 435 mil habitantes;
c) Capital regional C – 39 cidades, com média de 250 mil habitantes.

Centro sub-regional – Engloba 169 municípios com serviços menos complexos e área de polarização
mais reduzida. É subdividido em:
a) Centro sub-regional A – 85 cidades, com média de 95 mil habitantes;
b) Centro sub-regional B – 79 cidades, com média de 71 mil habitantes.

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Centro de zona – São 556 cidades de menor porte que dispõem apenas de serviços elementares e
estendem seu poder de polarização somente às cidades vizinhas. Subdivide-se em:
a) Centro de zona A – 192 cidades, com média de 45 mil habitantes;
b) Centro de zona B – 364 cidades, com média de 23 mil habitantes.

Centro local – as demais 4.473 cidades brasileiras, com média de 8.133 habitantes e cujos serviços
atendem somente à população local, não polarizam nenhum município, sendo apenas polarizadas por
outros.

Plano Diretor e Estatuto da Cidade

Em 10 de julho de 2001, foi sancionado o Estatuto da Cidade, documento que regulamentou itens de
política urbana que constam da Constituição de 1988. O estatuto fornece as principais diretrizes a serem
aplicadas nos municípios, por exemplo: regularização da posse dos terrenos e imóveis, sobretudo em
áreas de risco que tiverem ocupação irregular; organização das relações entre a cidade e o campo;
garantia de preservação e recuperação ambiental, entre outras.
Segundo o Estatuto da Cidade, é obrigatório que determinados municípios elaborem um Plano
Diretor, que é um conjunto de leis que estabelecem as diretrizes para o desenvolvimento socioeconômico
e a preservação ambiental, regulamentando o uso e a ocupação do território municipal, especialmente o
solo urbano. O Plano Diretor é obrigatório para municípios que apresentam uma ou mais das seguintes
características:
Abriga mais de 20 mil habitantes;
Integra regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
Integra áreas de especial interesse turístico;
Insere-se na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental
de âmbito regional ou nacional;
É um local onde o poder público municipal quer exigir o aproveitamento adequado do solo urbano sob
pena de parcelamento, desapropriação ou progressividade do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
Os planos são elaborados pelo governo municipal – por uma equipe de profissionais qualificados, como
geógrafos, arquitetos, urbanistas, engenheiros, advogados e outros. Geralmente se iniciam com um perfil
geográfico e socioeconômico do município. Em seguida, apresenta-se uma proposta de desenvolvimento,
com atenção especial para o meio ambiente.
A parte final, e mais extensa, detalha as diretrizes definidas para cada setor da administração púbica,
ou seja, habitação, transporte, educação, saúde, saneamento básico, etc., assim como as normas
técnicas para ocupação e uso do solo, conhecidas como Lei de Zoneamento.
Assim, o Plano Diretor pode alterar ou manter a forma dominante de organização espacial e, portanto,
interfere no dia a dia de todos os cidadãos. Por exemplo, uma alteração na Lei de Zoneamento pode
valorizar ou desvalorizar os imóveis e alterar a qualidade de vida em determinado bairro.
Outro exemplo prático de planejamento urbano constante no Plano Diretor é o controle dos polos
geradores de tráfego, uma vez que os congestionamentos são um sério problema para os moradores das
grandes e médias cidades. Para isso, tem colaborado bastante a difusão dos Sistemas de Informações
Geográficas (SIGs).
Os SIGs permitem coletar, armazenar e processar, com grande rapidez, uma infinidade de dados
georreferenciados fundamentais e mostrá-los por meio de plantas e mapas, gráficos e tabelas, o que
facilita muito a intervenção dos profissionais envolvidos com o planejamento urbano.
Antes de ser elaborado pela Prefeitura (Poder Executivo) e aprovado pela Câmara Municipal (Poder
Legislativo), o Plano Diretor deve contar com a “cooperação das associações representativas no
planejamento municipal”. A participação da comunidade na elaboração desse documento passou a ser
uma exigência constitucional que prevê, ainda, projetos de iniciativa popular (geralmente na forma de
abaixo-assinado), que podem ser apresentados desde que contem com participação de 5% do eleitorado,
conforme inciso XIII do artigo 29 da Constituição.
Além de um Plano Diretor bem-estruturado, é importante que o poder público e os cidadãos respeitem
as regras estabelecidas, colaborando, assim, para que os problemas das cidades sejam minimizados.
Entretanto, o planejamento das ações governamentais e a sua execução demandam um processo
composto de várias fases, e algumas (como preparar uma licitação ou aprovar o orçamento no Legislativo)
dificilmente podem ser organizadas pela população.
Como o encaminhamento dessas fases exige uma ação administrativa complexa, na prática a
participação popular no planejamento e na execução de intervenções urbanas só se concretiza quando a
pressão popular e a vontade dos governantes convergem nessa direção.

114
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Aplicações do Plano Diretor
Cada Plano Diretor trata de realidades particulares dos diversos municípios, mas maioria deles
apresenta as seguintes aplicações práticas:

Lei do Perímetro Urbano – Estabelece os limites da área considerada perímetro urbano, em cujo
interior é arrecadado o IPTU.

Lei do Parcelamento do Solo Urbano – A principal atribuição dessa lei é estabelecer o tamanho
mínimo dos lotes urbanos, o que acaba determinado o grau de adensamento de um bairro ou zona da
cidade. Por exemplo, num bairro onde o lote mínimo tenha área de 200 m², a ocupação será mais densa
que em outro onde ele tenha 500 m².

Lei de Zoneamento (uso e ocupação do solo urbano) – Estabelece as zonas do município nas quais
a ocupação será estritamente residencial ou mista (residencial e comercial), as áreas em que ficará o
distrito industrial, quais serão as condições de funcionamento de bares e casas noturnas e muitas outras
especificações que podem manter ou alterar profundamente as características dos bairros.

Código de Edificações – Estabelece as áreas de recuo nos terrenos (quantos metros do terreno
deverão ficar desocupados na sua parte frontal, nos fundos e nas laterais), normas de segurança (contra
incêndio, largura das escadarias, etc.) e outras regulamentações criadas por tipo de construção e
finalidade de uso, como escola, estádio, residência, comércio, etc.

Leis Ambientais – Regulamentam a forma de coleta e destino final do lixo residencial, industrial e
hospitalar e a preservação das áreas verdes: controlam a emissão de poluentes atmosféricos, normatizam
ações voltadas para a preservação ambiental;

Plano do Sistema Viário e dos Transportes Coletivos – Regulamenta o trajeto das linhas de ônibus
e estabelece estratégias que facilitem ao máximo o fluxo de pessoas pela cidade por meio da abertura de
novas avenidas, corredores de ônibus, investimentos em trens urbanos e metrô, etc.

Questões

01. (Enem) Subindo morros, margeando córregos ou penduradas em palafitas, as favelas fazem parte
da paisagem de um terço dos municípios do país, abrigando mais de 10 milhões de pessoas, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). MARTINS, A. R. A favela como um espaço da cidade. Disponível
em: http://www.revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 31 jul. 2010.
A situação das favelas no país reporta a graves problemas de desordenamento territorial. Nesse
sentido, uma característica comum a esses espaços tem sido
(A) o planejamento para a implantação de infraestruturas urbanas necessárias para atender as
necessidades básicas dos moradores.
(B) a organização de associações de moradores interessadas na melhoria do espaço urbano e
financiadas pelo poder público.
(C) a presença de ações referentes à educação ambiental com consequente preservação dos espaços
naturais circundantes.
(D) a ocupação de áreas de risco suscetíveis a enchentes ou desmoronamentos com consequentes
perdas materiais e humanas.
(E) o isolamento socioeconômico dos moradores ocupantes desses espaços com a resultante
multiplicação de políticas que tentam reverter esse quadro.

02. (Enem) Em um debate sobre o futuro do setor de transporte de uma grande cidade brasileira com
trânsito intenso, foi apresentado um conjunto de propostas. Entre as propostas reproduzidas a seguir,
aquela que atende, ao mesmo tempo, à implicações sociais e ambientais presentes nesse setor é
(A) proibir o uso de combustíveis produzidos a partir de recursos naturais.
(B) promover a substituição de veículos a diesel por veículos a gasolina.
(C) incentivar a substituição do transporte individual por transportes coletivos.
(D) aumentar a importação de diesel para substituir os veículos a álcool.
(E) diminuir o uso de combustíveis voláteis devido ao perigo que representam.

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Gabarito

01.D / 02.C

Comentários

01. Resposta: D
As aglomerações de moradias subnormais são construídas em terrenos públicos e particulares
invadidos. Como as áreas de risco suscetíveis a enchentes e a desmoronamentos geralmente estão
desocupadas, tornam-se alvo de invasão e construção de moradias para a população que não tem acesso
aos programas habitacionais do poder público.

02. Resposta: C
A substituição do transporte individual por coletivo reduz a quantidade de veículos em circulação e,
portanto, reduz os congestionamentos.

ESTRUTURAS DOS TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES30

Os Transportes no Brasil

O desenvolvimento econômico dos países relaciona-se ao seu sistema de transportes. Quanto mais
desenvolvido, diversificado e eficiente o sistema de transportes, maiores são as possibilidades de
circulação rápida de pessoas e mercadorias, o que implica maiores ganhos para produtores e
consumidores. Por outro lado, um sistema de transportes pouco eficiente acaba por dificultar a circulação
de pessoas e mercadorias em países mais pobres, que, por sua vez, incide e aumenta suas dificuldades
econômicas.

Brasil – Redes de Transportes – IBGE/2014

http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_redes_de_transporte.pdf.

30
MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini; Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013.

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http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_redes_de_transporte.pdf.

Tipos de Transportes Utilizados no Brasil

Brasil – Evolução das Redes Ferroviária e Rodoviária - IBGE

http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_evolucao_das_redes_ferroviaria_e_rodoviaria.pdf.

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Transporte Ferroviário

O transporte ferroviário no Brasil começou a se expandir durante o Segundo Império, no final do século
XIX, associado à expansão do café. Esse tipo de transporte é, em geral, 50% mais barato que o transporte
rodoviário.
Uma característica importante da malha ferroviária brasileira é sua pequena conectividade, ou seja,
em geral, as ferrovias brasileiras foram construídas interligando as áreas produtoras aos portos, para
facilitar a exportação das mercadorias.
O maior adensamento dessa rede dessa rede de transporte também coincide com a principal região
brasileira produtora de café no início do século XX: o estado de São Paulo.
Mesmo ferrovias construídas recentemente mantêm essa característica de não se integrarem umas às
outras, lingando apenas as áreas produtoras aos portos.
A partir de 1996, as ferrovias brasileiras, sob o controle da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), foram
privatizadas.

Transporte Rodoviário

As rodovias constituem o principal meio de transporte utilizado no Brasil, correspondendo a 60,5% de


toda movimentação de cargas, apesar de seus elevados custos de manutenção.
A implantação das rodovias teve por objetivo integrar rapidamente o vasto território brasileiro, com o
intuito de consolidar o mercado consumidor interno, base para o modelo de industrialização adotado em
nosso país (substituição de importações).
Atualmente, são inúmeros os problemas enfrentados pelos trabalhadores do transporte rodoviário:
roubos constantes de carga, violência, estradas mal conservadas e mal sinalizadas, baixo preço do frete,
etc.
Os prejuízos, às vezes, também são elevados e estão associados às longas distâncias a serem
percorridas, ao péssimo estado de conservação das vias que, por sua vez, geram aumento do consumo
de óleo diesel, gastos com consertos dos veículos danificados em função de buracos e elevado número
de acidentes.
De acordo com o DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, a situação da malha
rodoviária federal brasileira em relação ao seu estado de conservação, em abril de 2003, era a seguinte:

A partir da década de 1990, o governo federal começou a fazer uma série de licitações com o objetivo
de estabelecer concessões para que a iniciativa privada explorasse e mantivesse as rodovias federais.

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A segunda etapa de concessões abrangeu 680,6 Km, composto de um lote:

Transporte Hidroviário

Brasil – Principais Hidrovias

O transporte hidroviário é o que apresenta menores custos, desde que existam condições favoráveis
à sua implantação, como rios potencialmente navegáveis, relevo mais ou menos plano e condições de
navegabilidade nos rios. Caso essas condições não existam, é possível estabelecer a navegação a partir
da construção de eclusas, como em Jupiá (SP) e Bom Retiro (RS).
O Brasil possui cerca de 42.000 Km de rios navegáveis, localizados, sobretudo, na Região Norte.
São vantagens do transporte hidroviário: transportar grandes volumes a grandes distâncias; preservar
o meio ambiente; implantação e frete mais baratos que os de outros meios de transportes.

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Bacias Hidrográficas Brasileiras

Principais Hidrovias Brasileiras

Hidrovia do Madeira
Localizada no Corredor Oeste-Norte, é navegável numa extensão de aproximadamente 1.056 Km,
entre Porto Velho e sua foz, no Rio Amazonas, permitindo, mesmo na época de estiagem, a navegação
de grandes comboios, com até 28.000 toneladas. Atualmente transporta cerca de 2 milhões de toneladas
ao ano.

Hidrovia do Guamá-Capim
Localizada no Corredor Araguaia-Tocantins, transportando principalmente minérios. Hoje observa-se
a formação de relevantes polos agropecuários, especialmente na região de Paragominas.

Hidrovia do São Francisco


Localizada no Corredor São Francisco, o Rio São Francisco é totalmente navegável em 1.371 Km,
entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA) / Petrolina (PE), para a profundidade de projeto de 1,5 m, quando da
ocorrência do período crítico de estiagem (agosto a novembro). A partir da implantação do sistema
multimodal, o escoamento da produção agrícola do oeste da Bahia, com foco na cidade de Barreiras,
banhada por um dos seus principais afluentes, o Rio Grande, é realizado por rodovia até a cidade de
Ibotirama, na margem do São Francisco, descendo o rio pelo transporte hidroviário até Juazeiro/Petrolina,
e deste, por ferrovia, para o Porto de Aratu (BA). No quilômetro 42 acima de Juazeiro/Petrolina situa-se
a barragem de Sobradinho, cuja transposição é realizada através de eclusa. A movimentação anual fica
em torno de 60.000 toneladas por ano.

Hidrovia Tietê-Paraná
Localizada nos Corredores Transmetropolitano do Mercosul e do Sudoeste, a hidrovia Tietê-Paraná
permite a navegação numa extensão de1.100 Km entre Conchas, no rio Tietê (SP), e São Simão (GO),
no rio Paranaíba, até Itaipu, atingindo 2.400 Km de via navegável. Ela já movimenta mais de um milhão
de toneladas de grãos/ano, a uma distância média de 700 Km. Se computarmos as cargas de pequena
distância como areia, cascalho e cana-de-açúcar, a movimentação no rio Tietê aproxima-se de dois
milhões de toneladas.

Hidrovia do Paraguai
Localizada no Corredor do Sudoeste, essa hidrovia compõe um sistema de transporte fluvial de
utilização tradicional, em condições naturais, que conecta o interior da América do Sul com os portos de
águas profundas no curso inferior do Rio Paraná e no Rio da Prata. Com 3.442 Km de extensão, desde
Cáceres até o seu final, no estuário do rio da Prata, proporciona acesso e serve como artéria de transporte
para grandes áreas no interior do continente. As principais cargas transportadas no trecho brasileiro são:
minério de ferro, minério de manganês e soja. Os fluxos de carga na hidrovia vêm crescendo nos últimos
anos, respondendo à expectativa de interação comercial na região. No território brasileiro, a hidrovia
percorre 1.278 Km e tem como principais portos: Cáceres, Corumbá e Ladário, além de três terminais
privados com expressiva movimentação de carga. Entre 1998 e 2000, foram movimentadas mais de seis
milhões de toneladas de cargas no trecho brasileiro.

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Fazem parte das Hidrovias do Sul as Lagoas dos Patos e Mirim, o canal de São Gonçalo, que liga o
Rio Jacuí a seu afluente, o Taquari e uma série de rios menores, como Caí, Sinos e Gravataí, que
constituem o estuário do Guaíba. O Rio Jacuí foi canalizado com a construção das barragens eclusadas,
compreendo uma extensão de300 Km, para calados de 2,5 m. No rio Taquari foi implantada a barragem
eclusada de Bom Retiro do Sul, que vence um desnível máximo de 12,50 m, dando acesso ao Porto
Fluvial de estrela, para embarcações de 2,5 m de calado.

Hidrovias do Tocantins-Araguaia e do Tapajós


Importantíssimas para a viabilização da produção agrícola da região Centro-oeste, que será
encaminhada aos portos do Norte do país, com grandes reduções de custos.

As hidrovias, apesar de apresentarem um impacto ambiental menor que outros meios de transporte,
também afetam o meio ambiente.
Os principais impactos ambientais das hidrovias são de três ordens: impactos gerados a partir da
implantação das obras, impactos resultantes das operações e impactos nas áreas de influência
indireta (sobretudo nas áreas de mananciais).
Impactos Quando da Implantação das Obras Necessárias
A área de influência direta é, de fato, o próprio leito do rio, que é o local onde se efetuam as principais
intervenções necessárias. Uma pequena faixa de margem é utilizada para implantação da sinalização, de
forma pontual. As principais obras e de maior impacto são as dragagens de implantação e os
derrocamentos.

Impactos quando da operação

1. Dragagem de manutenção: feita com menores volumes e monitorada ambientalmente;

2. Risco de acidentes com cargas perigosas: exigência de casco duplo para embarcações, para
aprimorar as possibilidades de derramamento e aplicação de planos de emergência;

3. Contaminação de águas por lançamento de dejetos: programas de educação ambiental e


controle sanitário do sistema de coleta das embarcações.

Impactos na área de influência indireta


O impacto na área de influência indireta de uma infraestrutura de transporte é preocupação que
inquieta a maioria dos ambientalistas. Estudos já comprovaram que o grande degradador dos recursos
d’água é o mau uso da área de bacia de contribuição de manancial e não o seu uso como hidrovia. O
controle é de responsabilidade da implantação de uma Política Institucional de Racionamento e
Gerenciamento do Uso da Água. A dragagem tem por objetivo garantir uma profundidade mínima, para
que as embarcações possam circular sem agarrar no fundo do canal. Essa via imaginária possui uma
largura que varia de acordo com o tamanho da embarcação, e situa-se normalmente nos locais onde o
rio é mais fundo, pois quase sempre coincide com seu canal natural.

Sobre a hidrovia do Paraguai, há uma grande polêmica, uma vez que a realização de obras como o
aprofundamento do leito dos rios poderia afetar o Rio Paraguai e seus afluentes, alterando as condições
ecológicas do Pantanal Mato-grossense, considerado patrimônio ecológico da humanidade.
Apesar de os rios dessa bacia serem de planície e naturalmente navegáveis, há ao longo de seus
leitos bancos de areia e rochas, que tornam a navegação perigosa e atrasam a movimentação das cargas.
O projeto de aprofundamento do leito dos rios previa a dragagem dos bancos de areia e a detonação das
rochas, desimpedindo o fluxo das águas e aumento sua velocidade de escoamento.
Porém, muitos grupos ambientalistas posicionaram-se contrariamente ao projeto, pois isso significaria
a drenagem do Pantanal e o comprometimento do seu ecossistema.

Corredores de Exportação

Corredores de exportação são sistemas de circulação de mercadorias que integram hidrovias,


rodovias e principalmente ferrovias e portos equiparados para exportação de determinados produtos.

No início do século XXI, o Brasil se estabeleceu como um dos maiores provedores de soja do mundo.
Em plena região amazônica, o arco do desmatamento funcionou como uma frente de expansão agrícola

121
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
em que milhares de quilômetros quadrados de florestas e cerrados deram lugar ás pastagens e à cultura
da soja. Desse modo, o Brasil entrou no segundo milênio incorporando vastas extensões de terras ao
imenso espaço econômico internacional, mantendo um modelo econômico agrário-exportador que, acima
de tudo, sustentou os pagamentos da dívida externa aos credores internacionais.
O intenso desmatamento da Amazônia foi concentrado em dois estados: Mato Grosso e Rondônia. No
primeiro, a área plantada de soja cresceu em 400% nos últimos dez anos.

O crescimento dessas novas regiões produtoras está apenas no seu início, pois, justamente nos
últimos anos, a iniciativa provada, juntamente com o Estado brasileiro, tem criado condições para o
escoamento dessas imensas safras agrícolas. O estabelecimento do corredor de exportação Madeira-
Amazonas, baseado no transporte dos grãos pelos citados rios amazônicos, proporcionou aos
agricultores do Norte e do Centro-Oeste do Brasil uma diminuição do custo do frete que se aproxima dos
50%. E, com o custo de transporte reduzido quase pela metade, a soja das novas regiões produtoras do
Brasil se tornou altamente competitiva (mais barata) no mercado internacional.
Uma das razões do baixo custo e eficiência do corredor Madeira-Amazonas é justamente o
aproveitamento do transporte fluvial, o mais competitivo que se conhece atualmente. Nesse contexto, os
produtos agrícolas de grande parte do Mato Grosso, estado do Tocantins e Rondônia, são transportados
por via terrestre até Porto Velho (RO), seguindo daí por embarcações até o porto flutuante de Itacoatiara
(AM) e, daí, para o mercado internacional.
A existência de portos bem equiparados e especializados é uma das características fundamentais da
implementação dos chamados corredores de exportação. Abaixo, veremos a relação dos principais
corredores de exportação do Brasil, juntamente com os principais produtos vendidos.
Entre todos esses corredores de exportação, o ligado ao porto de Santos é o que teve um grande papel
histórico vinculado tanto ao ciclo do café como ao processo de industrialização da década de 1950
(implantação da indústria automobilística na atual região metropolitana de São Paulo).
Na década de 1970, com um forte investimento do Estado, surgiram e se desenvolveram outros
corredores de exportação, ligados ao comércio de produtos agrários (porto de Paranaguá) ou de minérios
brutos e semi-industrilizados, como no caso do porto de Tubarão, no Espírito Santo.
O estabelecimento do porto de Itaqui, também como um exportador de produtos agrários, bem como
a instalação do porto flutuante de Itacoatiara, estão ligados à recente expansão do agronegócio em novas
áreas do Norte e Centro-oeste do Brasil.

Corredor de exportação/ Principais produtos escoados

122
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Transporte Aéreo31

Implantado no Brasil em 1927, o transporte aéreo é realizado por companhias particulares sob o
controle do Ministério da Aeronáutica no que diz respeito ao equipamento utilizado, abertura de novas
linhas, etc.
A rede brasileira, que cresceu muito até a década de 1980, sofreu as consequências da crise mundial
que afetou o setor nos primeiros anos da década de 1990.
Há dez anos, o Brasil vive uma verdadeira revolução no setor da aviação. Antes privilégio de poucos,
voar hoje é uma realidade para a grande maioria da população. Prova disso é que entre 2004 e 2014, o
desenvolvimento expressivo do transporte aéreo no país levou à redução de 48% do custo da passagem
aérea doméstica. A média anual de crescimento do setor foi três vezes o crescimento médio do PIB –
Produto Interno Bruto – para o mesmo período (3,4%). Paralelamente, o número de passageiros cresceu
170%, alcançando 117 milhões em 2014.
E a qualidade do serviço também melhorou. O índice de atrasos nos aeroportos brasileiros, por
exemplo, caiu 62% de 2007 a 2014, passando de 29,84% para 11,3%. Nesse mesmo período, a demanda
de passageiros cresceu 88%.
Nessa democratização do transporte aéreo, três fatores passaram a influenciar na escolha da forma
de viajar dos brasileiros: custo, tempo e conforto.
A infraestrutura aeroportuária também está passando por melhorias significativas. Entre 2011 e 2015,
foram investidos R$ 15,6 bilhões no setor.

Questões

01. (TRT/8R – Analista – CESPE) A respeito da infraestrutura rodoviária brasileira e suas implicações
para o setor rodoviário nacional, assinale a opção correta.
(A) A flexibilização das rotas e a possibilidade de movimentação de pequenos volumes são algumas
das vantagens apresentadas pelo transporte de cargas rodoviário, se comparado aos demais tipos de
transporte de carga.
(B) A utilização do transporte rodoviário como meio de transporte complementar é inviabilizada devido
ao elevado custo de transposição de carga que o transporte rodoviário apresenta.
(C) O estado de conservação do pavimento das rodovias gera pouco impacto no custo total do
transporte de cargas rodoviário.
(D) O Brasil possui uma das malhas rodoviárias mais extensas do mundo, sendo grande parte dela
pavimentada.
(E) Em comparação com as rodovias de pavimento flexível, as rodovias de pavimento rígido acarretam
maior custo de manutenção, menor segurança e maior consumo de combustível pelos veículos.

02. (IPEA – Técnico – CESPE) Com relação à matriz brasileira de transportes e aos sistemas de
transporte, julgue os próximos itens.
Na competição entre os sistemas rodoviário e ferroviário de transportes, a ferrovia no Brasil perde
espaço no transporte a longas distâncias, mesmo apresentando condições econômicas mais
competitivas.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.A / 02.Certo

Comentários
01. Resposta: A
As principais vantagens do modal de transporte rodoviário:
Acessibilidade, pois conseguem chegar em quase todos os lugares do território brasileiro;
Facilidade para contratar ou organizar o transporte;
Flexibilidade em organizar a rota;
Pouca burocracia quanto à documentação necessária para o transporte;
Maior investimento do governo na infraestrutura das rodovias se comparada aos outros modais.

31
http://www.aviacao.gov.br/obrasilquevoa/cenario-da-aviacao-brasileira.php.

123
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
As principais desvantagens do modal de transporte rodoviário:
Alto custo de frete, por causa do impacto direto que pedágios e alto valor do combustível geram;
Baixa capacidade de carga;
Menor distância alcançada com relação ao tempo utilizado para o transporte;
Maiores chances da carga ser extraviada, por causa de roubos e acidentes.

02. Resposta: Certo


Apesar de o transporte ferroviário possuir custo variável baixo (Lembrando custo fixo é o referente à
implantação → este é elevado; No entanto, para o transporte de mercadorias, importa o custo variável →
este é baixo, de fato), o transporte rodoviário é o mais utilizado, pelo fato de ter maior flexibilidade.

PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA32

O crescimento populacional, o desenvolvimento de novas tecnologias e a elevação do padrão de


consumo têm levado a uma maior demanda por energia e à consequente necessidade de aumentar sua
produção mundial.
Isso agrava alguns impactos ambientais, como poluição, chuva ácida, mudanças climáticas globais,
desmatamento e deslocamento ou extinção de diversas espécies de seres vivos.
Essas questões têm gerado uma maior discussão sobre a imperativa busca de novas fontes de energia
que atendam tanto às necessidades econômicas quanto às sociais e ambientais.
O Brasil se destaca no cenário mundial por apresentar importante participação das fontes renováveis
em sua matriz energética.

Panorama do Setor Energético no Brasil

O potencial energético no Brasil é privilegiado se comparado ao de muitos outros países. A utilização


de fontes renováveis, como o aproveitamento hidrelétrico, e a obtenção de energia a partir da biomassa
são expressivas. Além disso, a produção de petróleo e gás natural, fontes não renováveis, tem aumentado
gradualmente.
Entretanto, o país ainda importa energia. Para que o Brasil atinja a autossuficiência energética, são
necessários investimentos na produção, na transmissão e na distribuição de energia, além da
modernização industrial e dos sistemas de transporte, urbano e de cargas, visando a diminuição de
consumo de energia nesses setores.
Em 2016, 41,5% do consumo total da energia gerada no Brasil foi obtido de fontes renováveis:
hidráulica, lenha, carvão vegetal, produtos da cana-de-açúcar, além de outras, como gás obtido em
aterros sanitários, subprodutos de plantações diversas, eólica, solar, etc.

Combustíveis Fósseis

Petróleo e Gás Natural


Somente dez anos após a formação do cartel das “sete irmãs”, em 1938, foi perfurado o primeiro poço
de petróleo em território brasileiro, no bairro de Lobato, em Salvador (BA).
Esse fato motivou o governo de Getúlio Vargas a criar o Conselho Nacional de Petróleo (CNP) para
planejar, organizar e fiscalizar o setor petrolífero.
Em 1953, apoiado por um grande movimento popular e com o slogan “O petróleo é nosso”, Varas criou
a Petrobras e instituiu o monopólio estatal na extração, no transporte e no refino de petróleo no Brasil.
Em virtude da crise do petróleo de 1973, foi necessário aumentar a produção nacional, que, naquela
época, era de apenas 14%do consumo, para diminuir a quantidade do recurso importado e a
vulnerabilidade do país em relação às oscilações internacionais do preço do barril.
Com a intenção de aumentar a produção, o governo brasileiro firmou contratos de risco com grupos
privados, autorizando que realizassem prospecções no território nacional. Inicialmente, foram
selecionadas e abertas para exploração dez áreas nas quais poderia haver petróleo. Caso a empresa
incumbida da prospecção encontrasse o recurso, os investimentos feitos seriam reembolsados e ela se
tornaria sócia da Petrobras naquela área. Caso não encontrasse, a empresa arcaria com os prejuízos da
prospecção. Com a promulgação da Constituição de 1988, esses contratos foram proibidos, e a Petrobras
voltou a exercer o monopólio de extração até 1995.

32
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

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Além disso, nas décadas de 1970 e 1980, o governo passou a incentivar, por meio de vultosos
empréstimos a juros subsidiados, indústrias que substituíssem o petróleo por energia elétrica. A
participação percentual do petróleo na matriz energética nacional diminuiu de 1979 a 1984, mas depois
voltou a apresentar crescimento. Em 2006, a produção brasileira de petróleo (1,8 milhão de barris por dia,
naquele ano) passou a abastecer 100% das necessidades nacionais de consumo, em meados de 2017,
a produção diária média foi de 2,6 milhões de barris.
A revisão constitucional de 1995 fez romper o monopólio da Petrobras na extração, no transporte, no
refine e na importação de petróleo e seus derivados. O Estado passou a ter o direito de realizar leilões e
de contratar empresas privadas ou estatais, nacionais ou estrangeiras, que quisessem atuar no setor.
Em 1977, foi criada a Agência Nacional do Petróleo (ANP), uma autarquia33 vinculada ao Ministério de
Minas e Energia com a atribuição de regular, contratar e fiscalizar as atividades ligadas ao petróleo e ao
gás natural no Brasil. Licitações, exploração, importação, exportação, transporte, refino, política de
preços, reajustes e controle de qualidade, entre outras atribuições, passaram a ser conduzidas pela ANP,
cujo presidente é indicado pelo ministro de Minas e Energia e empossado após seu nome ser aprovado
pelo Congresso Nacional.
Para economizar em gastos com o transporte, o petróleo é refinado preferencialmente próximo dos
centros industriais e grandes polos consumidores. Isso explica a concentração de refinarias no Centro-
Sul (mais de 80% da capacidade de refino do país, que em 2017 era de 2,2 milhões de barris por dia).
Embora abrigue importantes centros industriais, até o início de 2017, no Nordeste, havia uma única
grande refinaria, localizada na região metropolitana de Salvador (BA). Naquele ano, porém, a Petrobras
estava construindo uma em Suape (PE) e ampliando a capacidade de outra menor, no Polo Industrial de
Guamaré (RN).
O aumento da produção interna nas últimas décadas, se deve à descoberta de uma importante bacia
petrolífera, na plataforma continental de Campos, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro, que
começou a ser explorada em 1976.
Até por volta de 1999, o Brasil apresentou grande dependência do petróleo importado, em razão do
aumento do consumo, apesar da crescente produção. Como já mencionado, em 2006 a produção superou
o consumo, por causa do crescimento da população interna.
No Brasil, predomina a produção na plataforma continental, sob as águas do oceano Atlântico, apesar
de essa extração representar mais custos. No continente, destaca-se a extração em Mossoró (RN),
seguida do Recôncavo Baiano. Em 1986, foi descoberta uma pequena jazida continental em Urucu (AM),
a sudoeste de Manaus, onde há grandes reservas de gás natural. O gás se tronou importante fonte de
energia para o parque industrial da Zona Franca de Manaus.
Em 2008, dirigentes da Petrobras anunciaram a descoberta de enormes reservas de petróleo e gás
natural a mais de 5 quilômetros de profundidade e a 300 quilômetros da costa, na camada pré-sal da
bacia de Santos (SP). Segundo estimativas, essa camada pode conter mais de 30 bilhões de barris,
atribuindo ao país a posição de detentor de uma das maiores reservas mundiais de petróleo de boa
qualidade. A patamar dos grandes produtores mundiais.
O forte crescimento da produção nessa região colocou o Brasil na 13ª posição mundial de nações
produtoras. O Rio de Janeiro se destaca como o estado de maior produção (bacia de Campos).
A camada pré-sal é uma formação geológica de aproximadamente 150 milhões de anos, que se
constituiu com a separação dos continentes africano e sul-americano ao longo das bacias de Santos,
Campos e Espírito Santo. As maiores reservas petrolíferas conhecidas em área pré-sal no mundo ocorrem
no litoral brasileiro, onde passaram e a ser conhecidas como “petróleo do pré-sal”.
O gás natural é a fonte de energia que vem apresentando grande taxa de crescimento na participação
da matriz energética brasileira. O Rio de Janeiro é o maior produtor, seguido por São Paulo e Amazonas,
e há uma parcela variável que é importada, principalmente da Bolívia.

Carvão Mineral
A queima do carvão mineral enriquecido aquece os altos-fornos onde ocorre a depuração do minério
de ferro. Nessa etapa, se produz o ferro-gusa, matéria-prima a partir da qual se fabricam o ferro fundido
e o aço.
Até 1990, as companhias siderúrgicas brasileiras eram legalmente obrigadas a utilizar uma mistura de
50% de carvão nacional com 50% de carvão importado. Com a renovação dessa obrigação, as empresas
passaram a consumir somente o carvão importado, cuja qualidade é superior, e desde 2010 não há mais
produção nacional de carvão metalúrgico.

33
Autarquia é a empresa criada pelo governo para exercer alguma atividade pública.

125
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
A oferta de energia elétrica por carvão mineral e derivados no Brasil representa apenas pouco mais de
4% do total. Em 2016, 58% do carvão térmico (usado em usinas termelétricas) e 100% do carvão
metalúrgico consumidos no país eram importados. Da produção nacional, 33% são consumidos em
usinas termelétricas, e o restante em indústrias de celulose, cerâmica, cimento e carboquímicas.
A região Sul do Brasil responde por 100% da produção nacional desse recurso energético por
apresentar jazidas com viabilidade econômica, sendo Rio Grande do Sul e Santa Catarina os maiores
produtores.

Combustíveis Renováveis

Os biocombustíveis são derivados de biomassa, como cana-de-açúcar, oleaginosas, madeira e outras


matérias orgânicas. Os mais comuns são o etanol (álcool de cana, no caso brasileiro) e o biodiesel
(oleaginosas), que podem ser usados puros ou adicionados aos derivados de petróleo, como gasolina e
óleo diesel.
Os biocombustíveis apresentam vantagens em relação aos combustíveis fósseis no que diz respeito à
sustentabilidade econômica, social e ambiental. O aumento de sua produção reduz o consumo de
derivados de petróleo e consequentemente a poluição atmosférica, gera novos empregos em toda a
cadeia produtiva, promove a fixação de famílias no campo, aumenta a participação de fontes renováveis
na matriz energética brasileira e ainda pode se tornar importante produto da pauta de exportações do
país.
O crescimento da demanda por biocombustíveis no mercado mundial e a expansão da área cultivada
no Brasil e em outros países, entretanto, têm gerado preocupação. Especula-se que, com o aumento das
áreas de monocultura de vegetais para a produção de biocombustíveis, haveria diminuição do cultivo de
alimentos e o consequente aumento nos preços. Além disso, critica-se o fato de ocorrer maior
desmatamento de vegetação nativa, o que traria grandes prejuízos socioambientais.
Em 2016, a biomassa (principalmente derivados da cana-de-açúcar e lenha) foi a segunda fonte de
energia mais consumida no Brasil, com participação de cerca de 25% na nossa matriz energética,
superada apenas por petróleo, com 42,6%. O Brasil apresenta condições muito favoráveis para a
produção de etanol e biodiesel, pois tem grande extensão de áreas agricultáveis, com solo e clima
favoráveis ao cultivo de oleaginosas e cana.

Biodiesel
O Brasil cultiva várias espécies de plantas oleaginosas que podem ser usadas na produção de
biodiesel, com destaque para mamona, palma (dendê), girassol, babaçu, soja e algodão, além de ser o
segundo maior produtor mundial de etanol. Nos Estados Unidos, maior produtor mundial desse
combustível, utiliza-se o milho na produção a um custo superior ao da cana no Brasil.
A utilização de biodiesel no mercado brasileiro foi regulamentada pela lei nº 11.097, de 2005, que
instituiu a obrigatoriedade da mistura do produto ao diesel de petróleo em percentuais crescentes. Em
2013, 5% (meta alcançada já em 2009); 6% em julho de 2014; 7% em novembro do mesmo ano; e, em
março de 2018, foi sancionada nova lei que elevou a mistura para 10%. Por causa dessa lei, a produção
de biodiesel tem aumentado em ritmo acelerado.
Também foi criado o Selo Combustível Social, um programa de transferência de renda para a
agricultura familiar dedicada ao biodiesel, com incentivos fiscais e subsídios para pequenas propriedades
familiares do Norte e Nordeste, principalmente na região do Semiárido.
Entretanto, até 2017, ainda era limitada a possibilidade de a produção de biodiesel colaborar para a
melhoria das condições de vida dos agricultores familiares. Naquele ano, 72% do biodiesel produzido no
Brasil foi obtido da soja, e 12%, da gordura animal.
Além de abastecer o mercado interno, parte da produção nacional de biodiesel é exportada,
principalmente para a União Europeia.

Etanol (Álcool)
O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi criado em 1974 como uma tentativa de amenizar a
dependência do Brasil em relação ao petróleo. A partir de fins do século XX, o álcool combustível passou
a ganhar destaque também por causa de seus benefícios ambientais.
O Proálcool levou a alterações na organização espacial do campo, agravando os problemas
relacionados à concentração de terras, como o aumento do número de trabalhadores diaristas, o incentivo
à monocultura e o êxodo rural. Embora o etanol seja uma fonte de energia eficiente, o programa foi
implantado, em escala nacional, em uma época em que a produção e o consumo apresentavam custos
maiores o que os da produção da gasolina, por isso houve a necessidade de subsídios.

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A partir de 1989, o governo reduziu os subsídios para a produção, e o consumo de álcool combustível
diminuiu, levando o setor a uma crise. A falta de álcool no mercado levou à consequente perda de
confiança dos consumidores, que deixaram de comprar veículos com motor a álcool (em 2002, menos de
1% dos veículos fabricados eram movidos a álcool, enquanto em 1982 esse percentual chegou a 90%).
Após o grande desenvolvimento tecnológico obtido no setor e os diversos aumentos no preço do barril
de petróleo a partir de 1997, o álcool tornou-se economicamente viável. Depois de 2003, com o
lançamento de veículos bicombustíveis, ou flex, que funcionam tanto com etanol como com gasolina, ou
com ambos misturados, houve novo impulso à produção desse biocombustível no país. A adição de etanol
à gasolina também levou a uma maior demanda do produto.
A produção de veículos bicombustíveis contribuiu muito para o aumento do consumo de etanol. Em
2017, 95% dos carros zero-quilômetro vendidos no mercado nacional eram flex.
Em 2018, por determinação do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), o etanol é
misturado à gasolina na proporção de 20% a 27%, o que garante a manutenção de sua produção. Se
esse procedimento não fosse adotado, a qualidade do ar nos grandes centros urbanos pioraria muito.
Energia Elétrica

Produção de Energia e Regulação Estatal


Segundo o banco de informações de geração de energia da Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel), em maio de 2018 o Brasil apresentava 6674 usinas para produção de energia elétrica em
operação, com capacidade de 158956 MW. Desse total, 1320 eram hidrelétricas de diversos tamanhos;
3008 eram térmicas que utilizavam gás natural, biomassa, óleo diesel e carvão mineral; 522 eram eólicas;
1881 eram solares; e duas, nucleares.
Desde o início desta década o Brasil está passando por um lento, mas contínuo crescimento da
produção de energia eólica, com destaque para o Ceará e o Rio Grande do Norte. Em 2018, as usinas
eólicas do Brasil respondiam por 8% (12790 MW) da eletricidade produzida no país.
Entretanto, o uso de fontes de energia limpa e renovável tende a crescer: no início daquele ano, havia
115 usinas eólicas em construção no país, com potência total de 2596 MW.
As usinas hidrelétricas, que têm a maior capacidade instalada de produção no país, produzem energia
mais barata e com menos impactos ambientais, quando comparadas às usinas termelétricas e
termonucleares.
Até o fim da década de 1980, as hidrelétricas produziam aproximadamente 90% da eletricidade
consumida no país, mas em 2018 essa participação tinha recuado para cerca de 63%, principalmente por
causa da construção de usinas termelétricas movidas a gás natural e biomassa.
O marco potencial hidrelétrico brasileiro está na bacia do rio Paraná, da qual, em 2018, cerca de 70%
da disponibilidade já havia sido aproveitada. Já nas bacias do Amazonas, somente 1% é aproveitado. Em
Rondônia, no rio Madeira, duas usinas de médio porte estavam em construção em 2018: Santo Antônio
(licitada em 2007) e Jirau (licitada em 2008), cada uma com cerca de 3 mil MW de potência. Nesse mesmo
ano estava sendo construída a usina de Belo Monte, no rio Xingu, a maior delas, com potência de 11233
MW (cerca de 2/3 da capacidade de Itaipu).
O setor elétrico brasileiro (envolvendo geração, transmissão e distribuição de eletricidade), que era
quase totalmente controlado por empresas estatais federais e estaduais, começou a ser privatizado a
partir de 1995. Naquele ano, o Governo Federal iniciou a privatização de parte das empresas controladas
pela Eletrobrás por intermédio do Programa Nacional de Desestatização, criado em 1990. Em 1996 foi
criada a Aneel, órgão regulador e fiscalizador do setor. Após o processo de privatização, as empresas de
energia elétrica, incluindo algumas estatais não privatizadas, como a Cemig (cujo sócio majoritário é o
governo de Minas Gerais), competem entre si para vender a energia produzida.

Diversificação da Matriz Energética


A instalação de termelétricas visa diversificar a matriz energética brasileira e evitar novas crises, como
as que ocorreram em 2001, 2009, 2011 e 2013, que provocaram diversos “apagões” em várias regiões
do país. As usinas hidrelétricas, que produzem energia mais barata e menos poluente, permanecem
prioritárias no abastecimento, mas as termelétricas podem ser acionadas em períodos de pico no
consumo ou quando é necessário preservar o nível de água nas represas.
A instalação de usinas termelétricas ocorre principalmente próximo a gasodutos.
A opção pela diversificação da matriz energética que priorizava as usinas menores difere bastante da
política adotada durante a década de 1970 e o início da de 1980, quando foi dado um grande impulso ao
setor energético por meio da construção de grandes usinas. Depois das crises do petróleo de 1973 e
1979, a produção de hidroeletricidade passou a receber numerosos investimentos, por se tratar de uma
fonte mais barata e que provoca menor impacto ambiental que o petróleo.

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Na década de 1970, o governo estabeleceu como prioridade a construção de usinas com grandes
represas, pois à época não era exigida a aprovação dos projetos pelos órgãos ambientais, o que passou
a existir somente a partir de 1986. É o caso de Itaipu, a maior usina hidrelétrica brasileira, no rio Paraná
(localizada na fronteira do Paraná com o Paraguai). No Norte, as principais usinas são Tucuruí, no rio
Tocantins, e Balbina, no rio Uatumã, ao norte de Manaus. No Nordeste, merecem destaque Sobradinho
e Xingó, no rio São Francisco.
A construção dessas hidrelétricas apresenta aspectos técnicos questionáveis, porque exigiu que
grandes áreas fossem alagadas, o que causou danos sociais e ambientais irreversíveis, como extinção
de espécies endêmicas (que são nativas de áreas específicas), inundação de sítios arqueológicos,
alteração da dinâmica de erosão e sedimentação do solo, desalojamento de populações que vivem em
cidades, em reservas indígenas ou em comunidades quilombolas, entre outros.
Atualmente, as grandes hidrelétricas em construção na Amazônia (Jirau, Santo Antônio e Belo Monte,
em 2018) utilizam tecnologia em suas estruturas que dispensa a construção de grandes barragens e,
consequentemente, há redução de área inundada. São conhecidas como usinas a fio d’água. Entretanto,
como a quantidade de água represada é pequena, a produção de energia nessas usinas pode ficar
comprometida em caso de período prolongado de seca.
O provável esgotamento das possibilidades de construção de grandes usinas hidrelétricas na região
Sudeste e os investimentos feitos no Sistema Interligado Nacional levaram à descentralização da geração
de energia para regiões que estiveram marginalizadas ao longo do século XX. Esse fato tem favorecido
o investimento em novas fontes de energia e o desenvolvimento das atividades econômicas em regiões
historicamente desprovidas de infraestrutura básica. Está ocorrendo uma desconcentração do parque
industrial, principalmente em direção às regiões Sul, Nordeste e Norte.

Questões

01. (Prefeitura de Divinópolis/MG – Técnico de Enfermagem – IBFC/2018) Brasil, nos últimos anos,
vem se destacando na produção de energias renováveis, dentre elas a energia eólica, estando entre os
maiores produtores no ranking mundial de capacidade instalada de energia eólica. A região brasileira que
é a maior produtora de energia eólica no país é a região:
(A) Sudeste
(B) Nordeste
(C) Centro Oeste
(D) Norte

02. (DEMAE/GO – Técnico Operacional – CS/UFG/2017) A produção de energia é fundamental para


o desenvolvimento e crescimento econômico de um país ou região. Atualmente, a principal matriz
energética brasileira, em produção total de eletricidade, é a
(A) eólica.
(B) solar.
(C) hidráulica.
(D) térmica.

Gabarito

01.B / 02.C

Comentários

01. Resposta: B
O Nordeste é a região do País com a maior incidência de vento. Os pontos mais favorecidos ficam no
Ceará e Rio Grande do Norte.

02. Resposta: C
A principal fonte de energia elétrica do Brasil é a energia hidráulica. Ela é bastante utilizada na geração
de eletricidade.

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2.11. Povos e comunidades tradicionais e conflitos por terra e território no
Brasil. 2.12. Produção e comercialização de alimentos, segurança, soberania
alimentar e agroecologia. 3. Formação, estrutura e organização política do Brasil
e do mundo contemporâneo. 3.1. Produção histórica e contemporânea do
território no Brasil

AGROPECUÁRIA34

Agropecuária é a denominação dada para as atividades que usam o solo com fins econômicos e que
são voltadas à produção agrícola associada à criação de animais.

Distribuição e Função Social da Terra no Brasil

No Brasil, a distribuição de terras é considerada historicamente desigual. Uma das características mais
marcantes das áreas de produção agropecuária é a concentração da propriedade de terras, também
chamada de concentração fundiária. Isso significa que há grandes propriedades de terra, conhecidas
como latifúndios, concentradas nas mãos de poucos indivíduos.
As propriedades rurais brasileiras apresentam não só tamanhos diferentes, mas também distintas
formas de organização do trabalho. Como a agricultura familiar, aquela em que a mão de obra
predominante é composta por integrantes da família proprietária da terra. Geralmente trata-se de
pequenas propriedades onde é praticado o policultivo, ou seja, o cultivo de diferentes espécies.
Já nas grandes propriedades, onde se pratica o agronegócio35, a mão de obra é contratada, e a
produção, altamente mecanizada. Além disso, uma característica marcante é o monocultivo, ou seja, o
cultivo de uma única espécie.
Embora as propriedades sejam menores, em termos gerais, na agricultura familiar trabalham mais
pessoas do que na agricultura não familiar.
Existem estabelecimentos rurais de propriedade familiar que vendem sua produção para grandes
empresas agrícolas. No entanto, é a agricultura familiar que produz uma parcela significativa dos
alimentos consumidos no Brasil.
Pode-se dizer que a agricultura familiar garante o abastecimento de produtos básicos. Estes, porém,
não geram muita renda aos produtores, motivo pelo qual não são cultivados pelos empresários do
agronegócio.
Os grandes latifúndios são destinados à produção em larga escala de mercadorias destinadas
principalmente ao mercado externo, como soja, algodão, milho e cana-de-açúcar.

Condições de Trabalho no Campo

Estrutura Agrária Brasileira


A propriedade de terras é uma questão importante no Brasil desde o período colonial. Devido ao papel
da agricultura em nossa economia, é por meio da terra que historicamente se produziu e acumulou
riquezas no país. Até hoje, é da agricultura e da pecuária que vem grande parte de nosso Produto Interno
Bruto (PIB).

Sesmarias no Período Colonial


O primeiro mecanismo oficial de distribuição de terras no território brasileiro foi o sistema de doação
de sesmarias, enormes parcelas de terra que eram concedidas pela Coroa Portuguesa ou pelo
governador-geral, visando promover a colonização de terras e implantar o sistema de plantation na
colônia. As sesmarias vigoraram no Brasil até 1822, ano de sua independência.
Obviamente, essa concessão de terras abrangia apenas as pessoas nobres ou ricas – que possuíam
algum tipo de relação com a Coroa portuguesa e teriam condições de desenvolver economicamente suas
propriedades. Nesse caso, as doações de sesmarias correspondiam às áreas produtivas e já exploradas
no litoral ou próximas dessa região.
Ao receber uma sesmaria na Colônia e produzir em suas terras, o proprietário tinha o direito de posse
por toda a vida, repassando-as para seus herdeiros depois da sua morte. Nesse contexto, a Colônia

34
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.
35
Agronegócio é a denominação das atividades comerciais e industriais que envolvem a produção de alimentos em larga escala, desde o cultivo na propriedade
rural até a chegada aos consumidores.

129
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
assistia à formação de uma elite, composta por famílias que concentravam em suas mãos as maiores
terras e, consequentemente, a riqueza local oriunda da exportação do açúcar que produziam.
Apesar da necessidade de concessão por parte da Coroa ou do governador-geral para obtenção de
sesmarias, essa não era a única forma de se conseguir a posse de terras na Colônia. Devido à abundância
de áreas inexploradas no território e ao baixo número de habitantes europeus na Colônia, as terras do
interior não possuíam valor comercial.
Outro aspecto referente à propriedade de terras nesse período diz respeito à mão de obra disponível.
Para produzir em grande escala, era necessário o uso intenso de trabalhadores – os africanos
escravizados. Os maiores proprietários rurais eram aqueles que possuíam maior número de escravos.
Por isso, na condição de mais ricos da colônia, os maiores proprietários de terra eram aqueles que podiam
comprar mais escravos.
As pessoas que penetravam no interior do território e se mostravam dispostas a enfrentar indígenas e
a desbravar as áreas virgens podiam ocupar um pedaço de terra, no qual podiam produzir a fim de
conseguir a sua posse. Mesmo assim, apesar de ter a posse não contestada da terra, esses colonos não
possuíam a propriedade legal, uma vez que ela só era obtida por meio de uma concessão oficial.
A partir daí, surgiu no Brasil a figura do posseiro – pessoa que ocupa uma área territorial para obter a
sua posse, mas sem ter a sua propriedade. Geralmente, os posseiros eram colonos que não possuíam
capital para comprar escravos e, por isso, tinham uma produção de pequena escala voltada para a
subsistência ou para o abastecimento do mercado interno. Dessa forma, no período colonial, coexistiam
grandes latifúndios de famílias ricas ligadas ao poder local e pequenas propriedades pertencentes aos
camponeses locais.

Surgimento do Trabalho Assalariado e a Lei de Terras


No dia 4 de setembro de 1850 foi assinada a Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de escravos
no Brasil. Apesar de não ter surtido efeito prático imediato, a Lei Eusébio de Queirós foi um marco no
processo de abolição da escravidão no país. Ao criar uma perspectiva de término desse tipo de relação
de trabalho, ela estimulou o surgimento do trabalho assalariado no território brasileiro.
Nesse contexto, a Lei de Terras foi assinada no mesmo mês. Mesmo com a independência do Brasil
e a formação do Estado brasileiro, em 1822, não houve nenhuma política de regulamentação das
propriedades rurais até a criação da Lei de Terras em 1850. Até então, deu-se continuidade ao processo
de obtenção de terras por meio da posse, sem a sua devida documentação.
Além de propor a regularização das propriedades não documentadas no país, a Lei de Terras buscou
criar uma política para regulamentar a apropriação das terras não exploradas. Com ela, estabeleceu-se
que as terras não exploradas passariam a pertencer ao Estado e só poderiam ser adquiridas por meio da
compra – e não mais pela ocupação e exploração do território.
Segundo a Lei de Terras, para realizar esse processo, os posseiros deveriam legalizar as suas terras
em cartórios localizados nas cidades, os quais, na época, eram de difícil acesso para a população rural,
pois não havia facilidades de deslocamentos como hoje em dia. Além disso, a maioria deles não possuía
recursos para pagar taxas de registro e oficializar sua propriedade.
Os proprietários não legalizados (os posseiros) deveriam registra-las em cartórios para regularizar a
sua documentação. Caso contrário, a propriedade da terra não seria reconhecida. Ao definir a compra
como a única forma de obtenção de terras, o Estado excluiu a possibilidade da população pobre como
posseiros, ex. escravos, tornar-se proprietário rural.
Em contrapartida, favorecia a minoria rica do país, que se via em condições de adquirir as maiores e
melhores terras. Isso resultou no monopólio das terras nas mãos de uma minoria a abundância de
trabalhadores livres necessária para substituir futuramente os escravos.
Além de alto número de terras ocupadas sem registro legal, suas demarcações eram feitas de modo
impreciso. Os limites das propriedades, eram, muitas vezes, vagamente definidos por elementos naturais
como rios, quedas d’agua ou morros. Esse cenário foi agravado pelo início de um intenso processo de
apropriação ilegal de terras no país denominado grilagem de terra.
Muitos apropriaram-se das facilidades políticas e dos conhecimentos legais que possuíam para
registrar terras que não lhes pertenciam – fossem elas ocupadas por posseiros, indígenas ou de
propriedade do Estado. Em um contexto no qual a grande maioria da população era analfabeta, os únicos
aptos a produzir tais documentos eram os integrantes da minoria letrada do país.
Em muitos casos, essas terras não foram incorporadas com fins produtivos. Ao se apropriarem delas,
os grileiros tinham como objetivo esperar a sua valorização para, posteriormente, vendê-las a um preço
alto. Devido ao seu caráter excludente com relação à distribuição de terras, a Lei de Terras resultou em
uma estrutura fundiária extremamente desigual e que se perpetua até os dias de hoje no Brasil.

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Movimentos Sociais e a Reforma Agrária

A má distribuição de terras foi responsável por uma série de problemas nas zonas rurais brasileiras. A
difusão do processo de grilagem resultou na expulsão forçada de diversos posseiros de suas terras.
Naturalmente, os posseiros não costumavam aceitar passivamente a expulsão das terras que
ocupavam há anos, ou mesmo há gerações. Os conflitos envolvendo a disputa por terras costumavam
ser resolvidos por meio da intimidação e, principalmente, da violência física.
Outro aspecto relacionado à concentração fundiária no Brasil diz respeito à pobreza no campo. Esse
fenômeno é consequência da existência de uma massa de trabalhadores rurais conhecidos como sem-
terra, que, para sobreviver, dependem de trabalhos com salários significativamente baixos.
Além desse fator, as condições de vida do trabalhador rural são agravadas pelo desenvolvimento
tecnológico no campo. O uso cada vez maior de máquinas reduz a necessidade de contratação de muitos
trabalhadores, o que aumenta o desemprego no campo.

Debate sobre a reforma agrária no Brasil


Os problemas envolvendo a má distribuição de terras motivaram o debate sobre a necessidade ou não
de se fazer uma reforma agrária no país.

Reforma agrária consiste em uma proposta de mudança na política de distribuição de terras, feita
com o objetivo de diminuir ou acabar com a concentração fundiária – e assim reduzir os impactos sociais
negativos acarretados por ela.

A questão da reforma agrária é abordada na atual Constituição brasileira, de 1988. Nela, afirma-se que
as propriedades rurais que não cumprem sua função social, por serem improdutivas, devem ser
desapropriadas pelo Estado e distribuídas para trabalhadores sem-terra.
Com isso espera-se que haja diminuição da desigualdade social no campo e o aumento da
produtividade agrícola no país.
De fato, a concentração de terras pode acarretar em uma menor produtividade, já que, devido às suas
condições econômicas e ao tamanho de suas terras, os pequenos agricultores veem-se obrigados a
produzir o máximo em suas propriedades de modo a garantir a maior renda possível. Em contrapartida,
muitos dos grandes produtores se dão ao luxo de não produzir em toda a área de suas propriedades.
Devido ao caráter mercadológico que a propriedade fundiária adquiriu após a Lei de Terras,
desenvolveu-se no país uma prática de especulação, por meio da qual grandes proprietários mantêm
vastas áreas improdutivas, com o intuito de revende-las quando estiverem valorizadas.
Ao garantir maior produtividade agrícola, a reforma agrária também implicaria no aumento da oferta de
alimentos no país e, com isso, poderia provocar uma diminuição do preço desses produtos. Enquanto a
produção dos latifúndios é voltada para o mercado externo, são os pequenos produtores os responsáveis
pela maior parte do abastecimento de alimentos no mercado interno nacional.

Polêmicas da Reforma Agrária


A vida e a economia no campo brasileiro carregam uma série de contradições. Por um lado, a produção
agrícola para exportação apresenta um alto grau de desenvolvimento tecnológico e uso de mecanização.
Essa atividade também possui grande participação na economia brasileira, sendo responsável por boa
parte das exportações.
Porém, é nas zonas rurais que se encontram as regiões mais pobres do país, onde as condições de
trabalho são as piores. Da mesma forma, existem muitos pequenos produtores que não têm condições
financeiras de desfrutar do desenvolvimento tecnológico nas suas produções, contrastando com os
grandes produtores.
A proposta de reforma agrária implica uma distribuição mais justa das terras que, espera-se, resultar
em um número maior de pessoas empregadas no campo. Como consequência, haveria uma diminuição
significativa do êxodo rural36.
Mesmo assim, apesar do alto número de terras improdutivas no país, pouco se fez pela reforma agrária
ao longo da História brasileira. Obviamente, mesmo com os benefícios sociais que seriam alcançados, as
políticas de distribuição de terras prejudicariam os interesses econômicos de diversos grupos.
Não se pode esquecer de que a exportação agrícola baseada no cultivo em latifúndios ainda é
responsável pela maior parte da economia brasileira. Por isso, alguns grupos defendem que a distribuição

36
Êxodo rural é o termo pelo qual se designa a migração do campo por seus habitantes, que, em busca de melhores condições de vida, se transferem de
regiões consideradas de menos condições de sustentabilidade a outras, podendo ocorrer de áreas rurais para centros urbanos.

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de terras seria prejudicial ao país, pois diminuiria a arrecadação obtida por meio da economia
agroexportadora.
Outra questão polêmica envolvendo a reforma agrária diz respeito aos critérios de classificação do que
seriam terras improdutivas ou que produzem abaixo de sua capacidade. No caso da pecuária, por
exemplo, os defensores da reforma agrária argumentam que existem muitas terras subaproveitadas. De
fato, existe no Brasil um número alto de fazendas em que uma cabeça de gado ocupa, em média, uma
área maior do que um minifúndio ou uma pequena propriedade. Por outro lado, os proprietários alegam
que estão produzindo no local e, por isso, não deveriam perder sua terra.
No Brasil, a desigualdade social no campo está diretamente relacionada à concentração fundiária e,
assim como em outros lugares do mundo, tal desigualdade provocou uma série de mobilizações sociais.
O principal movimento social organizado de camponeses no mundo é a Via Campesina. Essa
organização internacional, criada em 1993, é composta por mais de 170 movimentos sociais ligados à
terra de países da América, Ásia, Europa e África. Entre os seus integrantes estão milhões de
trabalhadores rurais sem-terra, pequenos e médios proprietários, indígenas e migrantes que se opõem
ao agronegócio vigente em muitos países pobres ou emergentes.
Eles defendem o incentivo ao pequeno produtor e a distribuição de terras, de modo a atingir um modelo
de produção socialmente mais justo e menos impactante ao meio ambiente.
No Brasil, os movimentos sociais de luta pela terra foram historicamente combatidos tanto pelo Estado
como pelos grandes proprietários de terra. Esses movimentos abrangem tanto comunidades indígenas
como posseiros e trabalhadores rurais sem terra. Ao longo da história, as disputas por terra no país foram
marcadas pela violência e pela apropriação à força dos territórios.
Alguns dos primeiros expoentes dessa luta no Brasil foram as Ligas Camponesas, criadas pelo Partido
Comunista Brasileiro (PCB). Elas tiveram uma atuação política intensa ao Nordeste durante as décadas
de 1950 e 1960, período em que muitas de suas lideranças foram assassinadas. Com o governo militar
(1964 -1985) a perseguição contra as Ligas Camponesas se intensificou e suas atividades rapidamente
se extinguiram.
Porém, apesar do fim das Ligas Camponesas, a luta pela terra continuou durante o período da ditadura
militar. Nos anos 1970, os principais conflitos ocorreram na Amazônia, entre posseiros, indígenas e
grileiros. Eles se deram, em grande parte, devido às políticas do Estado brasileiro de incentivo ao
desenvolvimento da agropecuária na região, o que motivou o interesse de grandes empreendedores
sobre as terras locais.
Nessa época foram criadas importantes organizações sociais vinculadas à Igreja Católica, como a
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) – a primeira ligada aos
colonos e posseiros, e a segunda, aos indígenas.
Hoje em dia, a principal organização de camponeses do Brasil é o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST). Esse movimento social foi criado na década de 1980 e tem como principal
bandeira a luta pela reforma agrária no país.
A principal forma de ação do MST é a ocupação de terras. Essa prática costuma ocorrer em latifúndios
considerados improdutivos ou com histórico de grilagem. Por isso, essas práticas costumam ser mais
intensas na região Norte do país, onde os índices de grilagem e terras improdutivas são maiores.
Ao ocupar as terras, os integrantes do MST constroem acampamentos nas propriedades, podendo se
estabelecer lá por anos até conseguirem sua posse por meio do Estado ou serem expulsos pelos
proprietários.
Além das ocupações, o MST promove outros tipos de ações, como marchas, ocupações de prédios
públicos, acampamentos em cidades e manifestações. Por ser a sede do poder político brasileiro, Brasília
é geralmente escolhida para sediar esses atos.
As ações políticas do MST são alvo de muitas críticas por parte de diversos setores da sociedade
brasileira. A maior parte delas diz respeito às ocupações de terras que o movimento alega serem
improdutivas, condição tal negada pelos proprietários. Por isso, é comum os opositores do movimento
chamarem esses atos de invasões e não de ocupações.
A maior parte dos conflitos relacionados ao MST envolve os proprietários que tiveram suas terras
ocupadas, ou invadidas, e o Estado na busca da garantia e da defesa do direito à propriedade provada.
Esses conflitos costumam ser violentos e muitas vezes resultam em mortes.
Se, por um lado, os movimentos sociais estruturam organizações para reivindicarem seus direitos,
assim o fazem também os fazendeiros, chamados de ruralistas. Desde 1985 eles organizam-se na União
Democrática Ruralista (UDR), associação de fazendeiros que luta pelos direitos da propriedade privada
no campo. As entidades dos movimentos sociais e a UDR opõem-se declaradamente, pois seus objetivos
são conflitantes.

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Interdependência entre Campo e Cidade

Muitas vezes, cidade e campo são concebidos como lugares opostos. Assim, a cidade seria o espaço
do desenvolvimento, das tecnologias e da modernização, onde se encontram as infraestruturas mais
modernas e as condições de vida são melhores. Em contrapartida, o campo muitas vezes é idealizado
como um lugar pouco desenvolvido, onde as infraestruturas e as tecnologias são menos avançadas e as
condições de vida são piores.
Porém, no campo, coexistem a riqueza e a pobreza, bem como a modernização associada ao
desenvolvimento tecnológico. O mesmo ocorre nas cidades, onde é possível notar uma grande
desigualdade social que se reflete nas condições de vida da população e nos tipos de serviços acessíveis
a ela.
Historicamente, zonas urbanas e zonas rurais sempre se relacionaram de alguma forma. Por serem
locais de prática do comércio, é nas cidades que se comercializa a produção agrícola do campo. Por outro
lado, elas dependem das regiões rurais para abastece-las com alimentos e outros tipos de produtos
agrícolas indispensáveis à vida e ao dia a dia das pessoas. Das zonas rurais são obtidas as matérias-
primas utilizadas na fabricação de produtos que são consumidos principalmente pela população urbana.

Áreas Produtivas e as Questões Ambientais

Se, por um lado, a estrutura da produção agropecuária moderna envolve o uso de máquinas e técnicas
com avançadas tecnologias, por outro implica em sérias questões ambientais. O modelo atual explora os
recursos naturais de tal forma que muitas vezes leva-os ao esgotamento.
O desmatamento é uma prática muito comum para a realização da agropecuária. A retirada da
cobertura vegetal resulta em inúmeras consequências: redução da biodiversidade, erosão e redução dos
nutrientes do solo, assoreamento dos corpos hídricos, entre outros.
No caso da pecuária, além da retirada da cobertura vegetal e de sua substituição por pastagens, o
pisoteio do rebanho de animais provoca a compactação dos solos, o que dificulta a infiltração de água no
terreno.
Além do desmatamento, em algumas áreas também é comum a utilização de queimadas, o que pode
trazer inúmeros danos, como a perda de fertilidade do solo.
Outro agravante muito discutido é a utilização de insumos químicos – fertilizantes, inseticidas e
herbicidas, conhecidos como agrotóxicos -, que causam contaminação do solo e das águas.
Os insumos são conduzidos pelas águas da chuva: uma parte penetra no solo, atinge o lençol freático
e o contamina, e outra parte é levada até os mananciais.
Desde 2008, o Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no planeta.

Sistemas Agroflorestais
Com o crescimento dos danos ambientais provocados pelo modelo agrícola atual, muitas pessoas vêm
buscando criar e resgatar alternativas de produção de alimentos de forma a gerar menos impactos ao
meio ambiente. Uma dessas alternativas é chamada de agroflorestal.
Um Sistema Agroflorestal, também chamado de SAF, é um tipo de uso da terra no qual se resgata a
forma ancestral de cultivo, combinando árvores com cultivos agrícolas e/ou animais.
A agrofloresta busca utilizar ao máximo todos os recursos naturais disponíveis no local, sem recorrer
a agentes externos, como insumos químicos. Assim, torna-se um sistema extremamente benéfico ao meio
ambiente, além de muito mais barato para o agricultor, já que elimina os gastos com insumos químicos.

Expansão da Fronteira Agrícola


O conceito de fronteira agrícola é utilizado para designar as áreas limítrofes entre o chamado meio
natural e o local onde se praticam atividades agropecuárias.
A tendência dessas áreas é a de se expandir constantemente, acompanhando o ritmo da produção
agrícola.
A expansão da fronteira agrícola traz uma série de mudanças no espaço geográfico, implicando uma
nova organização espacial. São ampliadas infraestruturas de transporte, comunicação e geração de
energia, o que eleva a concentração populacional e impulsiona o desenvolvimento econômico das regiões
em questão.
No Brasil, a partir da década de 1960, houve o avanço da fronteira agrícola para a Região Centro-
Oeste, estimulados pelos projetos do governo federal de ocupação e desenvolvimento do interior do país.
Nesse período, foram oferecidos diversos incentivos, como créditos agrícolas e vendas de lotes de
terra a preços baixos, com o objetivo de atrair agricultores do Sul, Sudeste e Nordeste para a região.

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Atualmente, a fronteira agrícola expande-se em direção à Amazônia.
A expansão traz sérios danos ambientais, como o desmatamento e poluição dos solos e dos rios. Além
disso, como a expansão da fronteira agrícola geralmente é baseada na mecanização e na utilização de
insumos químicos, o que agrava o problema da questão fundiária, já que pequenos proprietários rurais
são obrigados a vender suas terras por não terem condições de arcar com os custos da produção.

Revolução Verde
A partir dos anos 1960, o espaço agrícola brasileiro passou por intensas mudanças, ligadas
principalmente à implantação de novas tecnologias na agropecuária. Essas transformações estão ligadas
a um processo mundial, conhecido como Revolução Verde.
A Revolução Verde iniciou-se na década de 1950, nos Estados Unidos, e consistia na aplicação da
ciência ao desenvolvimento de técnicas agrícolas com o objetivo de aumentar a produtividade da
agricultura e da pecuária.
Nas décadas seguintes, esse conjunto de mudanças foi implantado em vários países, inclusive no
Brasil, com o objetivo de erradicar a fome por meio do aumento na produção de alimentos.
A indústria química desenvolveu os agrotóxicos. Os laboratórios de genética criaram sementes
padronizadas e mais resistentes a doenças, pragas e aos próprios agrotóxicos. A indústria mecânica
desenvolveu tratores, colheitadeiras e outros equipamentos para o plantio, a colheita e a criação de
animais.
Esse conjunto de transformações tinha como objetivo aproximar a agricultura de um padrão industrial
de produção. Portanto, uma das propostas da Revolução Verde era a adoção do mesmo padrão de cultivo
em todos os lugares do mundo, desconsiderando as variações locais das condições naturais, como o
clima ou a fertilidade natural do solo, e as necessidades e possibilidades dos agricultores.
A adoção de monoculturas, largas propriedades de terra destinadas ao cultivo de uma única espécie,
foi outra medida imposta pela Revolução Verde, já que a eficiência dos insumos químicos e do maquinário
dependia da uniformidade do cultivo.
No Brasil, a implantação da Revolução Verde foi estimulada por meio de políticas públicas que
promoviam o financiamento e a assistência técnica aos produtores rurais, oferecendo créditos e
subsídios. Houve um significativo aumento na produção, maior até que o aumento na área plantada. Isso
porque os cultivos tornaram-se mais produtivos.
No entanto, tal processo foi feito às custas de danos ao meio ambiente e de aumento de desemprego
no campo, já que muitos trabalhadores foram substituídos por máquinas.
Esse processo de modernização da agricultura não se deu de forma uniforme e igualitária ao longo do
território brasileiro. Além disso, gerou desemprego e concentração de renda, beneficiando somente os
grandes produtores.

Transgênicos, biotecnologia e agroindústria


Nas áreas onde se implantaram as técnicas agrícolas consideradas modernas, observou-se a
concentração de indústrias de equipamentos agrícolas e de agrotóxicos e também de estabelecimentos
comerciais. Além disso, houve a rápida instalação e expansão das chamadas agroindústrias, que têm
como objetivo transformar gêneros agrícolas e pecuários em produtos industrializados. Por isso,
geralmente, estão localizadas nas proximidades dos lugares onde se produz tais gêneros, o que reduz
significativamente o custo com transporte da matéria-prima.
Com o desenvolvimento e avanço da ciência, novas técnicas foram criadas e incorporadas às práticas
agrícolas. Uma das mais polêmicas é a biotecnologia, o desenvolvimento de técnicas voltadas à
adaptação ou ao aprimoramento de características de organismos vivos, animais e vegetais, visando
torna-los mais produtivos.
Por meio dessas técnicas é possível, por exemplo, cultivar plantas de clima temperado em lugares de
clima tropical, acelerar o ritmo de crescimento de plantas e animais, aumentar o tempo entre o
amadurecimento e a deterioração das frutas, entre tantas outras mudanças.
Em meados da década de 1990, surgiu um novo ramo dentro da biotecnologia, ligado à pesquisa dos
genes dos organismos, o qual gerou um dos campos mais controversos da agricultura moderna: a
produção e manipulação de transgênicos.
Eles são gerados por meio de técnicas que possibilitam a introdução de um gene ou de um grupo de
genes em um organismo. Esses genes podem ser de outra variedade, espécie, gênero, ou até mesmo de
até mesmo de outro reino.
Como por exemplo, a utilização de sementes transgênicas que está atrelada a um pacote tecnológico
que envolve a utilização de maquinários, agroquímicos e monocultura associada a grandes propriedades.

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Os agricultores ficam condenados a utilizar esse pacote tecnológico no momento em que adquirem a
semente transgênica, justamente para garantir a sua produtividade.
Essas sementes modificadas são programadas para não se reproduzirem depois de determinada
geração, o que obriga o produtor a adquiri novas sementes constantemente. Além disso, os laboratórios
que desenvolvem tais técnicas fazem parte de grandes conglomerados agroindustriais que se fortalecem
a cada dia. Muitas vezes, os fabricantes de sementes transgênicas são os mesmos que fabricam
agrotóxicos e fertilizantes.
Não existem estudos conclusivos sobre os impactos dos transgênicos na saúde humana. Depois de
fortes pressões exercidas por movimentos sociais que lutam contra a difusão dos transgênicos, o governo
federal criou uma lei que obriga as agroindústrias a identificar as embalagens dos alimentos que contêm
transgênicos com um símbolo.

Questões

01. (IPERON/RO – Tecnologia da Informação – UERR/2018) O processo denominado de expansão


da fronteira agrícola possui diferentes fases históricas de ocorrência. Atualmente, a expansão da fronteira
agrícola promove diversas consequências, com maior ou menor impacto. Entre as alternativas a seguir,
a que melhor apresenta a principal consequência da expansão da fronteira agrícola é:
(A) ampliação das unidades de conservação ambiental para mais de 70% do território.
(B) diminuição das áreas agrícolas e aumento das áreas urbano-industriais.
(C) degradação ambiental com desmatamento das vegetações naturais.
(D) manutenção permanente das paisagens naturais da floresta amazônica.
(E) substituição da floresta amazônica pelas espécies típicas do cerrado.

02. (IF/MT – Professor de Geografia – UFMT) Sobre a Geografia Agrária, assinale a afirmativa
INCORRETA.
(A) Dentre os agentes que compõem a questão agrária no Brasil, estão os latifundiários, os agricultores
familiares/camponeses.
(B) A Lei de Terras de 1850 possibilitou que o processo de acesso à terra no Brasil fosse facilitado
para os nativos do país.
(C) Dentro dos estudos da geografia agrária na geografia brasileira, muitos se concentram no
Paradigma da Questão Agrária (PQA) e no Paradigma do Capitalismo Agrário (PCA).
(D) A política fundiária brasileira assume que a função social da terra é produzir, portanto, se um
estabelecimento não cumprir essa função, poderá ser desapropriado.

03. (UNESP – Assistente em Engenharia Ambiental – VUNESP) O uso de agrotóxicos, sem dúvida,
foi um dos fatores que contribuiu para o aumento da produção agropecuária por meio do controle de
pragas e doenças. Hoje, porém, discute-se como aumentar a produção agropecuária orgânica, pois o uso
de agrotóxicos
(A) é uma tecnologia ultrapassada, somente utilizada em países subdesenvolvidos.
(B) sempre intoxica os seres humanos que utilizam produtos dessa cadeia alimentar.
(C) pode contribuir para contaminação ambiental em larga escala.
(D) estimula o desenvolvimento de outras metodologias mais caras para produção de alimentos.
(E) melhora a qualidade do solo e garante o aumento no número de empregos nas áreas rurais.

Gabarito

01.C / 02.B / 03.C

Comentários

01. Resposta: C
A expansão traz sérios danos ambientais, como o desmatamento e poluição dos solos e dos rios.

02. Resposta: B
Através da Lei de Terras a terra se transformava em uma mercadoria de alto custo, acessível a uma
pequena parte da população brasileira. Com isso, pessoas com condição financeira inferior, como ex
escravos, imigrantes e trabalhadores livres, tinham grandes dificuldades em obter um lote, legitimando o
desmando e a ampliação de terras dos grandes proprietários.

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03. Resposta: C
Um agravante muito discutido é a utilização de agrotóxicos, que causam contaminação do solo e das
águas. Os mesmos são conduzidos pelas águas da chuva: uma parte penetra no solo, atinge o lençol
freático e o contamina, e outra parte é levada até os mananciais.

QUAL É A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DO ESTADO BRASILEIRO?

Estado e Governo

É comum e indevido confundir o Estado com o governo. O Estado é toda a sociedade política, incluindo
o governo. O governo é principalmente identificado pelo grupo político que está no comando de um
Estado. O Estado possui as funções executiva, legislativa e judiciária. O governo, dentro da função
executiva, se ocupa em gerir os interesses sociais e econômicos da sociedade, e de acordo com sua
orientação ideológica, estabelece níveis maiores ou menores de intervenção. Assim, governo também
não se confunde com o poder executivo, este é composto pelo governo, responsável pela direção política
do Estado, e pela administração, como conjunto técnico e burocrático que auxilia o governo e faz funcionar
a máquina pública.
A diferença entre Estado e governo é atualmente mais acentuada com a personalização jurídica do
Estado, porque o Estado como pessoa tem vontade própria, distinta da vontade individual do governante.
No Estado Democrático e de Direito há a perspectiva de reduzir a participação do governo ao máximo
possível. Fazem parte deste Estado e não fazem parte do seu governo a Constituição, o conjunto de
servidores públicos estáveis, o patrimônio público, a máquina burocrática pública, as forças públicas, etc.
Isto porque a sociedade precisa que estas instituições sejam estáveis e impessoais, que não estejam
sujeitas às mudanças de governo no processo eleitoral e que sejam republicanas – pertencente ao
conjunto da sociedade e não aos interesses de quem está no poder. Isto é uma peculiaridade da
democracia constitucional, nos regimes autoritários a ausência de limites aos governos os levam absorver
ao máximo o Estado. O princípio republicano de responsabilidade política dos governos está presente
nas constituições modernas das democracias e das monarquias, como limite ao poder e como
identificação da coisa pública distinta do governo.
A personalização jurídica do Estado é a sua identificação como pessoa, com vontade própria,
caracterizada nos princípios de sua constituição. Um governo de um Estado que se legitima pelos
princípios desse Estado terá uma margem de discricionariedade menor, sempre dentro destes princípios.
Excepcionalmente e geralmente em momentos de crise, os governos buscam legitimação no carisma de
seus líderes e de seus programas, mas é a legalidade conferida na ordem pública estatal a principal fonte
de legitimidade moderna. Também o processo eleitoral de composição dos governos, com a distinção
entre situação e oposição legitimando-se reciprocamente, contribui para a separação entre o Estado e o
governo e para a sua legitimação.
O governo antecede ao Estado, pois é toda forma de organização do poder para a orientação de uma
sociedade. Ainda que ocupe parte da estrutura do poder executivo, o governo é mais do que o executivo,
pois se caracteriza por se estabilizar institucionalmente no Estado e assumir a responsabilidade da
orientação política geral.

Funções do Estado e o Governo


As funções do Estado se confundem com os seus poderes, porque o Estado se legitima pela sua
utilidade. Ao assumir um poder específico o associa a uma respectiva função social, ou seja, à ideia de
que aquela capacidade é útil e necessária. Mas aqui não será identificado como poder, e sim por essa
utilidade e necessidade.
O Estado é um conjunto de órgãos responsáveis pelo desempenho de suas funções. Os órgãos do
Estado fazem o que é do seu interesse, pois exercem o poder do Estado, não possuem vontade própria,
por isso são órgãos.
As funções são a executiva, a legislativa e a judiciária. A função executiva é composta pela
administração pública, como organização da burocracia estatal, e pelo governo, como conjunto de órgãos
decisórios. O governo possui a discricionariedade, que é a liberdade de ação e de escolha nos limites da
legalidade, mas o Estado possui princípios que limitam a opção ideológica dos governos. As opções
ideológicas dos governos correspondem à fonte soberana do poder, que nas democracias é expressa
pelo voto popular, mas é definida por um conjunto complexo de forças sociais que compõe uma elite
efetivamente poderosa. Por isso o executivo não é um mero executor das decisões legislativas.
A função legislativa é a essência do poder. É a fonte última das decisões e por isso se confunde com
o poder soberano. Nas democracias que justificam o poder na vontade popular afirma-se que o legislador

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é o representante do povo. A prática tem demonstrado que o poder executivo é muito mais influente. O
exercício do poder legislativo é geralmente atribuído a colegiados, para se obter uma maior distribuição
da representatividade e para obter soluções mais discutidas e amadurecidas.
A função judiciária é de controle. Controle sobre os atos públicos e privados para a garantia da
legalidade. Pela teoria de freios de contrapesos de Montesquieu, os atos judiciários são atos especiais
como os atos do executivo. Eles estão na mesma categoria de identificação da lei com a realidade. Mas
o judiciário não se limita à identificação da legalidade na sociedade, a produção de jurisprudência no
preenchimento das lacunas da lei é uma verdadeira ação decisória.
No Estado de Direito as funções do Estado, caracterizadas na forma de poder, devem ser separadas
para não caracterizar o benefício do poder para o indivíduo que a ocupa, segundo a teoria de freios e
contrapesos. É neste sentido que as funções do Estado não devem também se confundir com os
ocupantes do governo.

Separação de Poderes e as Implicações no Estado e no Governo


A Democracia Moderna, fundada no Estado de Direito e no constitucionalismo, se utiliza da Separação
de Poderes e da garantia dos Direitos fundamentais do homem. Junto com o seu presidencialismo, os
EUA simbolizam o modelo de democracia que combina a separação de poderes em executivo, legislativo
e judiciário com a responsabilidade política republicana de uma Constituição material, acima da vontade
arbitrária dos governantes.
A separação formal dos poderes é uma característica de alguns Estados Democráticos e de Direito
para a realização desta condição. De regra, os Estados antigos centralizaram as decisões das funções
públicas. Em parte, isto é decorrência do modelo de Estado Democrático e de Direito, mas em parte
contribuiu o rol restrito de funções públicas, além de sociedades menores e menos burocratizadas. Para
ocorrer a separação, a cada poder foi atribuído órgãos respectivos, com personalidade jurídica e
independência, a ponto de muitas vezes se confundir o órgão com o poder. Entretanto a doutrina nos
ensina que órgão público é um espaço dentro da administração, destinado a um fim. O órgão se
caracteriza pela estrutura de organização, com os seus critérios de preenchimento, funcionamento e
execução da finalidade, combinados com esta finalidade. Entretanto um órgão pode ser substituído por
outro diferentemente caracterizado, permanecendo a finalidade. A função legislativa é comumente
desempenhada por colegiados em órgãos como Assembleias, Câmaras, Congressos, Parlamentos, etc.,
a função executiva é comumente desempenhada por órgãos como presidências, gabinetes, prefeituras,
etc. e a função judiciária possui órgãos como tribunais, varas, fórum, etc. Em alguns Estados a Separação
de Poderes é ainda maior, com órgãos com um grau de autonomia em relação aos demais a ponto de
politicamente serem reconhecidos como um novo poder. É o que ocorre com o Ministério Público no
Brasil, ainda que a Constituição não indique assim expressamente.
Assim, a Separação de Poderes não é apenas a divisão de funções, ainda que esta pareça lógica e
eficiente. É, na verdade, um mecanismo de autocontrole do Estado, com independência e atribuição de
fiscalização recíproca entre os poderes. É inspirada na Teoria de Freios e Contrapesos de Montesquieu,
segundo o qual os atos do Estado podem ser divididos em atos gerais e atos especiais. Os primeiros se
caracterizam por serem indistintos, impessoais, e destinam-se a estabelecer regras gerais para a
sociedade, é a ação de legislar, e os segundos se caracterizam por serem concretos, individualizados, e
identificam os atos gerais com o comportamento das pessoas em sociedade, é a ação executiva. Para
ocorrer a separação de poderes, que garante o autocontrole do Estado, é imperioso que os responsáveis
pelos atos gerais não tenham controle e conhecimento sobre os destinatários destes atos, bem como os
responsáveis sobre os atos especiais não tenham participação exclusiva na elaboração dos atos gerais
e sejam apenas aplicadores da lei. Este mecanismo garante hipoteticamente que o indivíduo responsável
pelo ato público não se beneficie individualmente da sua atribuição pública.

Separação de Poderes e a Pós-modernidade


Este modelo que garante a democracia e o Estado de Direito com a imposição de uma separação de
poderes é aplicável e própria da modernidade. Na pós-modernidade o Estado perde a sua capacidade de
articulação das funções, que estão engessadas, burocratizadas e sobrecarregadas. Gradativamente os
Estados que adotaram a separação de poderes estão criando normas que implicam na ingerência de um
poder no outro. E a razão é muito simples: na pós-modernidade o fundamento moderno de legitimidade
produzido por legalidade é substituído pelo fundamento da eficiência produzida pela operatividade. A
atual crise do Estado afeta indistintamente todas as suas instituições. As funções do Estado continuam
as mesmas, até mesmo o pragmatismo de sua separação é aceito, entretanto no limite de sua eficiência,
e não na necessidade de garantir um Estado Democrático e de Direito. A democracia e o Estado de
Direito, por consequência também estão afetados, não somente pela inviabilidade da absoluta separação

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de poderes, mas porque a pós-modernidade está produzindo outros parâmetros para a política. Quando
o indivíduo abandona o sentido de cidadania como uma ação para a realização de interesses públicos
comuns e o substitui por uma cidadania de ação pública de realização de interesses privados a
democracia tal qual como foi idealizada para a modernidade já não faz mais sentido. Isto atinge todas as
suas instituições, não somente a separação de poderes, mas também tudo que implica na relação entre
Estado e governo. O governo será muito mais um gestor das tensões produzidas pelo individualismo e a
serviço de um ideal de eficiência tipicamente privado, do que uma equipe promotora dos ideais ideológicos
de um grupo, segmento ou classe social37.

Sistemas de Governo

O sistema de governo identifica os mecanismos de distribuição horizontal do poder político e,


consequentemente, o modo como se articulam os Poderes do Estado, notadamente o Executivo e o
Legislativo. Como se sabe, são dois os modelos dominantes no mundo: o parlamentarismo e o
presidencialismo. Mais recentemente, consolidou-se em alguns países uma fórmula híbrida, que combina
elementos dos dois sistemas clássicos. Trata-se do semipresidencialismo, modelo que apresenta duas
particularidades: os poderes do Parlamento são limitados e o chefe de Estado não desempenha apenas
funções cerimoniais ou simbólicas, titularizando poderes próprios e efetivos. Em meio a outros aspectos,
o sempresidencialismo conjuga a especial legitimação que caracteriza a eleição direta do chefe de Estado
com mecanismos de responsabilização política do chefe de Governo.
A seguir, serão apresentadas, de maneira objetiva, as principais características de cada um dos dois
sistema puros. No tópico subsequente, far-se-á uma apreciação do sistema semipresidencialista, com
ênfase em algumas peculiaridades dos modelos que vigem em Portugal e na França. Como se observará,
o semipresidencialismo representou para aqueles países o termo final de um longo e tortuoso processo
de maturação institucional, propiciando uma equação mais equilibrada entre os Poderes Executivo e
Legislativo. Em desfecho, serão expostas as razões pelas quais se sustenta que esta fórmula engenhosa
de combinação das virtudes dos sistema clássicos é adequada para o Brasil, sendo mais conveniente
que o presidencialismo puro de nossa tradição republicana. Pretende-se com a proposta neutralizar
alguns problemas que vêm de longe e são recorrentes, como (i) a superconcentração de poderes no
Executivo, sem mecanismos adequados de controle e responsabilização política; (ii) a refuncionalização
da atividade legislativa, pela atuação concertada de Governo e Parlamento.

Parlamentarismo
O parlamentarismo tem como característica fundamental a divisão do Poder Executivo entre um chefe
de Estado e um chefe de Governo. Este último é normalmente denominado Primeiro-Ministro, sendo
escolhido pelo Parlamento. O Primeiro-Ministro depende, para a estabilidade de seu governo, da
manutenção do apoio parlamentar. Esta dualidade no Executivo e a responsabilização do chefe de
Governo perante o Poder Legislativo são os traços fundamentais do sistema parlamentarista. A estrutura
do poder segue a repartição tripartite, mas a separação entre os Poderes Executivo e Legislativo não é
rígida. O chefe de Estado, por sua vez, exerce funções predominantemente protocolares, de
representação simbólica do Estado. Não é por outra razão que, em pleno século XXI, o posto continua a
ser exercido por Monarcas em diversos países caracterizados por elevados índices de desenvolvimento
econômico e social, como Reino Unido, Dinamarca e Holanda, em meio a outros.
Várias vantagens são atribuídas a esse sistema de governo. A principal delas é tornar a relação entre
Executivo e Legislativo mais harmoniosa e articulada. O chefe de Governo é, em regra, oriundo dos
quadros do Legislativo, sendo indicado pelo partido que obteve maioria nas eleições parlamentares. Esse
apoio da maioria facilita a atuação político-administrativa. No entanto, não é incomum que a maioria do
Parlamento retire seu apoio ao Governo, embora isto se dê apenas em face de graves divergências.
Nesse caso, ocorre a aprovação de um voto de desconfiança e o Governo é substituído. Em seu lugar,
passa a governar um novo Gabinete, que tenha obtido apoio parlamentar. É possível, inclusive, que em
uma mesma legislatura o Governo seja substituído várias vezes, sem que, para isso, sejam feitas novas
eleições parlamentares. Não há, portanto, a hipótese de um Governo que não seja apoiado pela maioria
do Parlamento. Isso permite, em tese, uma maior eficiência do Governo, que não tem a sua ação
obstruída por um Legislativo hostil.
Por conta dessa possibilidade de substituição facilitada do Gabinete governamental, o sistema se torna
mais propício à superação de crises políticas. Se o Governo não possui mais o apoio do Parlamento, este
pode aprovar uma moção de desconfiança, o que leva à queda do Gabinete. Observe-se que isso pode
37
Fonte: ROCHA, M. I. C.).

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se dar por razões políticas, e não apenas por razões éticas. Se o Governo enfrenta uma crise grave, não
só por conta de algum procedimento reputado ilegal ou ilegítimo, mas também em razão de uma decisão
política que tomou, ele é substituído imediatamente, sem que seja necessária a instauração de um
processo complexo e frequentemente conturbado como o de impeachment. O Governo não possui
mandato. Ele governa apenas pelo período em que goze de apoio parlamentar.
Por outro lado, o Governo terá também mecanismos para evitar a obstrução contínua por parte do
Parlamento, solicitando ao Presidente a dissolução da legislatura.
Pode-se objetar que essa virtude do parlamentarismo tem o seu reverso: nem sempre haverá concerto
entre o Legislativo e o Executivo, o que provocará instabilidade, com sucessivas trocas de Gabinete. A
constatação, de fato, se confirma na história. É comum que alguns países parlamentaristas passem por
períodos de sucessivas trocas de gabinete. Em 54 anos de pós-guerra, a Itália já havia conhecido 58
gabinetes. Mas o inverso também se verifica. Há casos em que um mesmo gabinete governa por diversas
legislaturas. Lembre-se, por exemplo, do que tem ocorrido na Inglaterra, país em que o Partido
Conservador governou por diversas legislaturas (18 anos), sendo em seguida substituído pelo Partido
Trabalhista, que governa desde 19979. O sistema, portanto, nem sempre é capaz de prevenir crises, mas
oferece mecanismos mais céleres e menos traumáticos para sua superação.
Alega-se, em relação ao parlamentarismo, que o sistema depende de um ambiente no qual o quadro
partidário seja dotado de racionalidade e não seja excessivamente fragmentado. De fato, a funcionalidade
do modelo diminui em situações nas quais sejam necessárias coalizões complexas, que são menos
estáveis e supervalorizam o papel de pequenos partidos, quando necessários à composição da maioria
parlamentar. Portanto, como regra, o argumento é procedente. Ele desconsidera, no entanto, que o
próprio parlamentarismo tende a conformar um sistema partidário mais depurado. De fato, nesse sistema
a atividade parlamentar torna-se mais centrada na atuação dos partidos, já que são eles que indicam os
Governos. Para mudar o Governo, o povo deverá votar de modo a alterar a composição partidária do
Parlamento.
No Brasil, a percepção geral é de que o Presidente da República é escolhido pelo povo de modo mais
atento e cuidadoso que os parlamentares. De fato, a população se mobiliza muito mais para a escolha do
chefe do Executivo do que para a dos Deputados. Nos países em que a eleição do chefe de Governo
depende do partido ao qual a maioria dos parlamentares pertence, essa atenção especial se transfere,
pelo menos em parte, para as eleições parlamentares. Considere-se, sobretudo, que durante o processo
eleitoral os partidos já apresentam o quadro partidário que ocupará, em caso de vitória, a função de
Primeiro-Ministro. Para utilizar um termo usado por Ackerman em outro contexto, há uma
“institucionalização do carisma”, o que certamente exerce um importante papel no fortalecimento dos
partidos.

Presidencialismo
No sistema presidencialista, os poderes da chefia de Estado e de Governo se concentram no
Presidente da República. O Presidente governa auxiliado por seus ministros, que são, em regra,
demissíveis ad nutum. O Presidente não é politicamente responsável perante o Parlamento. O programa
de governo pode ser completamente divergente das concepções compartilhadas pela maioria
parlamentar. O presidencialismo possibilita, por exemplo, a coexistência entre um Presidente socialista e
um Parlamento de maioria liberal. Uma vez eleito, o Presidente deverá cumprir um mandato. Enquanto
durar o mandato, o Presidente não poderá ser substituído – salvo procedimentos excepcionais, como o
impeachment e o recall –, mesmo que seu governo deixe de contar com o apoio da maioria dos
parlamentares e, até mesmo, da maioria do povo.
O sistema presidencialista apresenta algumas virtudes destacáveis. A primeira delas diz respeito à
legitimidade do chefe do Executivo. Na maioria dos países que adotam esse sistema, a eleição para
Presidente da República se faz de forma direta. Por isso, o eleito goza de grande legitimidade, sobretudo
nos momentos posteriores aos pleitos eleitorais. O fato de ter sido o próprio povo que o escolheu torna-o
mais habilitado a tomar decisões polêmicas. O presidencialismo, por essa razão, seria um sistema mais
aberto a permitir transformações profundas na sociedade. É por esse motivo que grande parte da
esquerda brasileira, ao contrário do que costuma ocorrer no plano internacional, tem defendido o
presidencialismo como sistema de governo adequado ao Brasil.
Além disso, o presidencialismo garantiria maior estabilidade administrativa, por conta de os mandatos
serem exercidos durante um período pré-determinado. No Brasil, o Presidente da República é eleito para
cumprir o mandato e, no curso desse período, não pode ser substituído, a não ser por razões
excepcionais, subsumidas às hipóteses de crime de responsabilidade, apuradas em processo de
impeachment. Como acima consignado, passa-se diferentemente no parlamentarismo, sistema no qual o
chefe de Governo pode ser substituído a qualquer tempo, mesmo que por razões políticas. Por isso, no

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presidencialismo, o mandato presidencial permitiria que o programa de governo fosse formulado
considerando um prazo maior para sua implementação, com ganhos em estabilidade administrativa e
previsibilidade da atuação estatal.
Entretanto, a despeito dessas vantagens, o presidencialismo também não está isento de críticas
importantes. A primeira delas refere-se à forte concentração de poder numa só figura, o que potencializa
o risco de autoritarismo. Na história constitucional brasileira, a emergência de governos autoritários
sempre se deu através do fortalecimento do Executivo em detrimento do Legislativo. Foi o que ocorreu
tanto na ditadura do Estado Novo quanto no regime militar de 1964. Mesmo em momentos de normalidade
democrática, a presença de um Executivo excessivamente forte tem aberto espaço a certas práticas
arbitrárias. No Brasil, essa crítica tem sido recentemente desenvolvida a propósito do uso excessivo de
medidas provisórias no período pós-88. De fato, a ausência da responsabilidade política incrementa em
demasia a liberdade de ação do governante. Essas ponderações são procedentes. No entanto, duas
observações devem ser feitas.
Em primeiro lugar, as decisões do Executivo são, em regra, controláveis pelo Poder Judiciário, o qual
utilizará, como parâmetros, tanto as leis quanto a Constituição. Na verdade, a atuação judicial costuma
ser mais incisiva no presidencialismo que no parlamentarismo. Não se pode perder de vista o fato de que
o próprio controle de constitucionalidade tem sua origem no sistema político norte-americano, que é
também a matriz do modelo presidencialista de separação de poderes. Embora possam ser identificadas
importantes exceções em países que adotam o parlamentarismo, em regra, é seguro afirmar que, diante
das decisões do Parlamento, os juízes costumam ser mais cautelosos que perante as decisões do
Executivo.
Em segundo lugar, tanto regimes presidencialistas quanto parlamentaristas estão expostos a
degenerações autoritárias. E há Estados presidencialistas que não são autoritários. É o que se verifica
historicamente. Na América Latina, as ditaduras não se implantaram propriamente por conta do
presidencialismo, mas em razão da ruptura, pela via dos golpes militares, da ordem constitucional. Por
outro lado, a ascensão dos regimes totalitários na primeira metade do século, tanto na Alemanha quanto
na Itália, se deu através do sistema parlamentarista. Não foram os chefes de Estado que levaram à
instauração daqueles regimes de força e iniquidade, mas Primeiros-Ministros.
Outra desvantagem do presidencialismo – e esta sim tem gerado graves problemas na vida política
brasileira – é a possibilidade de crises institucionais graves causadas pelo desacordo entre o Executivo
e o Legislativo. No presidencialismo, de fato, não existem instrumentos hábeis para a solução rápida e
normal de crises políticas, tal como ocorre no parlamentarismo. Ademais, na hipótese de o Presidente
não conseguir compor maioria no Parlamento, a execução dos programas de governo e das políticas
públicas em geral fica substancialmente prejudicada. No parlamentarismo, se ocorre uma
incompatibilidade fundamental entre o Parlamento e o Governo, este cai, e forma-se um novo Governo,
com apoio parlamentar. Por outro lado, se o Parlamento não consegue formar um novo Governo, ou se
é o Parlamento que está em desacordo com a vontade popular, há mecanismos que permitem a
convocação de novas eleições parlamentares.
No presidencialismo, essas possibilidades inexistem, e o Governo acaba se prolongando até o final do
mandato sem sustentação congressual e sem condições de implementar seu plano de ação. O país fica
sujeito, então, a anos de paralisia e de indefinição política, o que pode gerar sérios problemas econômicos
e sociais, ou pelo menos, deixá-los sem solução imediata. Além disso, a pré-fixação do mandato
presidencial pode manter no poder um governante que tenha perdido inteiramente o apoio popular. A
destituição de um Presidente somente se dará na hipótese de crime de responsabilidade, pela complexa
via do impeachment, ou por outra medida excepcional, que é o recall, em que o eleitorado é convocado
diretamente para se pronunciar acerca da permanência ou não de um governante no poder. Ambos são
procedimentos custosos e traumáticos.

Sistema Semipresidencialista
Sem embargo de suas virtudes, os dois modelos clássicos – parlamentarismo e presidencialismo –
apresentam disfunções importantes. Esses problemas se manifestam tanto no plano da instauração de
regimes verdadeiramente democráticos, quanto no que diz respeito à governabilidade, à eficiência e à
capacidade estrutural de superar crises políticas. O modelo semipresidencialista surge como uma
alternativa que busca reunir as qualidades desses sistemas puros, sem incidir em algumas de suas
vicissitudes. Ressalte-se, desde logo, não se tratar de um modelo híbrido desprovido de unidade e
coerência, um agregado de elementos estanques. Pelo contrário, trata-se de uma fórmula dotada de
identidade própria, capaz de oferecer solução adequada para alguns dos principais problemas da vida
política brasileira.

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No semipresidencialismo, o Presidente da República é o chefe de Estado, eleito pelo voto direto do
povo, e o Primeiro-Ministro o chefe de Governo, nomeado pelo Presidente e chancelado pela maioria do
Parlamento. Assim como no parlamentarismo, no semipresidencialismo também tem lugar a dualidade
do Executivo, que se divide entre as chefias de Estado e de Governo. Contudo, enquanto no
parlamentarismo a chefia de Estado tem funções meramente formais (como as de representação
internacional, assinatura de tratados, geralmente a pedido do Primeiro-Ministro), no semipresidencialismo
lhe são atribuídas algumas importantes funções políticas. Dentre essas se destacam, de modo geral, as
seguintes: nomear o Primeiro-Ministro; dissolver o Parlamento; propor projetos de lei; conduzir a política
externa; exercer poderes especiais em momentos de crise; submeter leis à Corte Constitucional; exercer
o comando das Forças Armadas; nomear alguns funcionários de alto-escalão; convocar referendos. A
nota distintiva dos países que adotam o semipresidencialismo situa-se na maior ou menor atuação do
Presidente na vida política.
A principal vantagem que o semipresidencialismo herda do parlamentarismo repousa nos mecanismos
céleres para a substituição do Governo, sem que com isso se provoquem crises institucionais de maior
gravidade. O Primeiro-Ministro pode ser substituído sem que tenha de se submeter aos complexos e
demorados mecanismos do impeachment e do recall. Por outro lado, se quem está em desacordo com a
vontade popular não é o Primeiro-Ministro (ou não é apenas ele), mas o próprio Parlamento cabe ao
Presidente dissolvê-lo e convocar novas eleições. Do presidencialismo, o sistema semipresidencialista
mantém, especialmente, a eleição do Presidente da República e parte de suas competências. A eleição
direta garante especial legitimidade ao mandatário, dando sentido político consistente a sua atuação
institucional. O ponto merece um comentário adicional.
No semipresidencialismo, as funções do chefe de Estado se aproximam daquelas atribuídas ao Poder
Moderador por Benjamin Constant. O Presidente da República se situa em uma posição de superioridade
institucional em relação à chefia de Governo e ao Parlamento, mas esse papel especial não se legitima
no exercício da política ordinária, mas na atuação equilibrada na superação de crises políticas e na
recomposição dos órgãos do Estado. Embora o semipresidencialismo esteja necessariamente vinculado
à forma republicana, o fato de a chefia de Estado ser exercida por um Presidente eleito não é suficiente
para caracterizá-lo. É possível conceber um sistema parlamentarista em que o chefe de Estado também
seja um Presidente eleito. O fundamental, no particular, é que seja titular de competências políticas
significativas.
O semipresidencialismo é adotado em diversos países (como Colômbia, Finlândia, França, Polônia,
Portugal e Romênia). A seguir serão examinados dois exemplos: o português e o francês, enfatizando-se
como o sistema logrou dar cabo de longos períodos de instabilidade institucional, equilibrando a relação
entre os Poderes. Em seguida, serão apresentadas as razões pelas quais o sistema também pode
fornecer ao Brasil maior estabilidade política, ostentando sensível vocação para se consolidar também
como o sistema de nossa maturidade institucional38.

Organização dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário

Poder Legislativo
É o encarregado de exercer a função legislativa do estado, que consiste em regular as relações dos
indivíduos entre si e com o próprio Estado, mediante a elaboração de leis.
No Brasil, o Poder Legislativo é organizado em um sistema bicameral e exercido pelo Congresso
Nacional que é composto pela Câmara dos Deputados, como representante do povo, e pelo Senado
Federal, representante das Unidades da Federação. Esse modelo bicameral confere às duas Casas
autonomia, poderes, prerrogativas e imunidades referentes à sua organização e funcionamento em
relação ao exercício de suas funções.
A Câmara dos Deputados é composta, atualmente, por 513 membros eleitos pelo sistema proporcional
à população de cada Estado e do Distrito Federal, com mandato de quatro anos. O número de deputados
eleitos pode variar de uma eleição para outra em razão de sua proporcionalidade à população de cada
Estado e do Distrito Federal. No caso de criação de Territórios, cada um deles elegerá quatro
representantes. A Constituição Federal de 1988 fixou que nenhuma unidade federativa poderá ter menos
de oito ou mais de 70 representantes.
Já no Senado Federal, os 81 membros eleitos pelo sistema majoritário (3 para cada Estado e para o
Distrito Federal) têm mandato de oito anos, renovando-se a cada quatro anos, 1/3 e 2/3 alternadamente.
Nas eleições de 1998 foram renovados 1/3 dos senadores e nas eleições de 2002, 2/3 dos membros.

38
Fonte: Instituto Ideias.

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Uma vez eleitos, os deputados e senadores passam a integrar a bancada do partido ao qual
pertencem. Cabe às bancadas partidárias escolher, dentre seus membros, um líder para representá-los.
Assim, para orientar essas bancadas durante os trabalhos legislativos, há a figura do líder partidário e
suas respectivas estruturas administrativas. O governo também possui líderes, na Câmara, no Senado e
no Congresso, que o representa nas atividades legislativas.
O Congresso Nacional e suas Casas funcionam de forma organizada, tendo os seus trabalhos
coordenados pelas respectivas Mesas. Em geral, a Mesa da Câmara dos Deputados e a do Senado
Federal são presididas por um representante do partido majoritário em cada Casa, com mandato de dois
anos. Além do presidente, a Mesa é composta por dois vice-presidentes e quatro secretários.
A Mesa do Congresso Nacional é presidida pelo presidente do Senado Federal e os demais cargos
ocupados, alternadamente, pelos respectivos membros das Mesas das duas Casas.
Compõem ainda a estrutura de cada Casa as comissões, que têm por finalidade apreciar assuntos
submetidos ao seu exame e sobre eles deliberar. Na constituição de cada comissão é assegurada, tanto
quanto possível, a representação proporcional dos partidos e dos blocos parlamentares que integram a
Casa.
Na Câmara dos Deputados há dezoito comissões permanentes em funcionamento e no Senado
Federal, sete. As comissões podem ser ainda, temporárias, quando criadas para apreciar determinado
assunto e por prazo limitado. As comissões parlamentares de inquérito (CPIs), as comissões externas e
as especiais são exemplos de comissões temporárias.
No Congresso Nacional as comissões são integradas por deputados e senadores. A única comissão
mista permanente é a de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização. Contudo, existe também a
Representação Brasileira de Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul. Já as comissões temporárias
obedecem aos mesmos critérios de criação e funcionamento adotados pela Câmara e pelo Senado.
O processo legislativo compreende a elaboração de emendas à Constituição, leis complementares,
leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. Todos estes
instrumentos legais tramitam no Congresso Nacional e em suas Casas segundo procedimentos próprios
previamente definidos em regimentos internos.
Apesar de o Congresso Nacional ser um órgão legislativo, sua competência não se resume à
elaboração de leis. Além das atribuições legislativas, o Congresso dispõe de atribuições deliberativas; de
fiscalização e controle; de julgamento de crimes de responsabilidade; além de outras privativas de cada
Casa, conforme disposto na Constituição Federal de 1988.
O Congresso está localizado na área central de Brasília, próximo aos órgãos representativos dos
Poderes Executivo e Judiciário, formando a praça dos Três Poderes. Internamente, o Congresso é uma
verdadeira "cidade" contando com bibliotecas, livrarias, bancas de revistas e jornais, barbearias, bancos,
restaurantes, dentre outros serviços.

Poder Executivo
O Poder Executivo Federal é exercido, no sistema presidencialista, pelo Presidente da República
auxiliado pelos Ministros de Estado.
O Presidente da República, juntamente com o Vice-Presidente, são eleitos pelo voto direto e secreto
para um período de quatro anos.
Em 1997, através de Emenda Constitucional nº 16, foi permitida a reeleição, para um único mandato
subsequente, do Presidente da República, dos Governadores e dos Prefeitos. Dessa forma, o Presidente
Fernando Henrique Cardoso iniciou, em 1º de janeiro de 1999, seu segundo mandato para o qual foi
reeleito em 1º turno nas eleições de outubro de 1998, se tornando o primeiro Presidente da República a
ser reeleito.
Em caso de impedimento do Presidente da República, ou vacância do respectivo cargo, serão
chamados sucessivamente para exercer o cargo, o Vice-Presidente, o Presidente da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal.
Compete ao Presidente da República entre outros, chefiar o governo; administrar a coisa pública;
aplicar as leis; iniciar o processo legislativo; vetar, total ou parcialmente projetos de lei; declarar guerra;
prover e extinguir cargos públicos federais; e editar medidas provisórias com força de lei.
Aos Ministros de Estado compete exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e
entidades na área de sua competência e referendar os atos assinados pelo Presidente da República e
expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos.
A indicação de ministros é feita pelo Presidente da República com base em critérios políticos, de modo
a fazer acomodações na base de sustentação do governo. Entretanto, isso não exclui a possibilidade de,
em alguns momentos, ser utilizado um critério exclusivamente técnico para a escolha do ministro.
O exercício das funções relativas ao Poder Executivo é feito através da Administração Direta e Indireta.

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Poder Judiciário
A função do Poder Judiciário, no âmbito do Estado democrático, consiste em aplicar a lei a casos
concretos, para assegurar a soberania da justiça e a realização dos direitos individuais nas relações
sociais.
A estrutura do Poder Judiciário é baseada na hierarquia dos órgãos que o compõem, formando assim
as instâncias. A primeira instância corresponde ao órgão que irá primeiramente analisar e julgar a ação
apresentada ao Poder Judiciário. As demais instâncias apreciam as decisões proferidas pela instância
inferior a ela, e sempre o fazem em órgãos colegiados, ou seja, por um grupo de juízes que participam
do julgamento.
Devido ao princípio do duplo grau de jurisdição, as decisões proferidas em primeira instância poderão
ser submetidas à apreciação da instância superior, dando oportunidade às partes conflitantes de obterem
o reexame da matéria.
Às instâncias superiores, cabe, também, em decorrência de sua competência originária, apreciar
determinadas ações que, em razão da matéria, lhes são apresentadas diretamente, sem que tenham sido
submetidas, anteriormente, à apreciação do juízo inferior. A competência originária dos tribunais está
disposta na Constituição Federal.
A organização do Poder Judiciário está fundamentada na divisão da competência entre os vários
órgãos que o integram nos âmbitos estadual e federal.
À Justiça Estadual cabe o julgamento das ações não compreendidas na competência da Justiça
Federal comum ou especializada.
A Justiça Federal comum é aquela composta pelos tribunais e juízes federais, e responsável pelo
julgamento de ações em que a União, as autarquias ou as empresas públicas federais forem interessadas;
e a especializada, aquela composta pelas Justiças do Trabalho, Eleitoral e Militar.
No que se refere à competência da Justiça Federal especializada, tem-se que à Justiça do Trabalho
compete conciliar e julgar os conflitos individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores. É
formado por Juntas de Conciliação e Julgamento, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, composto por
juízes nomeados pelo Presidente da República, e pelo Tribunal Superior do Trabalho, composto por vinte
e sete ministros, nomeados pelo Presidente da República, após aprovação pelo Senado Federal.
À Justiça Eleitoral compete, principalmente, a organização, a fiscalização e a apuração das eleições
que ocorrem no país, bem como a diplomação dos eleitos. É formada pelas Juntas Eleitorais, pelos
Tribunais Regionais Eleitorais, compostos por sete juízes e pelo Tribunal Superior Eleitoral, também
composto por sete ministros.
E, à Justiça Militar, compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. É composta pelos
juízes-auditores e seus substitutos, pelos Conselhos de Justiça, especiais ou permanentes, integrados
pelos juízes-auditores e pelo Superior Tribunal Militar, que possui quinze ministros nomeados pelo
Presidente da República, após aprovação do Senado Federal.

- São órgãos do Poder Judiciário:


- Supremo Tribunal Federal, que é o órgão máximo do Poder Judiciário, tendo como competência
precípua a guarda da Constituição Federal. É composto por 11 ministros nomeados pelo Presidente da
República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal. Aprecia, além da matéria atinente a sua
competência originária, recursos extraordinários cabíveis em razão de desobediência à Constituição
Federal.
- Superior Tribunal de Justiça, ao qual cabe a guarda do direito nacional infraconstitucional mediante
harmonização das decisões proferidas pelos tribunais regionais federais e pelos tribunais estaduais de
segunda instância. Compõe-se de, no mínimo, 33 ministros nomeados pelo Presidente da República.
Aprecia, além da matéria referente a sua competência originária, recursos especiais cabíveis quando
contrariadas leis federais.
- Tribunais Regionais, que julgam ações provenientes de vários estados do país, divididos por regiões.
São eles: os Tribunais Regionais Federais (divididos em 5 regiões), os Tribunais Regionais do Trabalho
(divididos em 24 regiões) e os Tribunais Regionais Eleitorais (divididos em 27 regiões).
- Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal e de Alçada, organizados de acordo com os
princípios e normas da constituição Estadual e do Estatuto da Magistratura. Apreciam, em grau de recurso
ou em razão de sua competência originária, as matérias comuns que não se encaixam na competência
das justiças federais especializadas.

143
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
- Juízos de primeira instância são onde se iniciam, na maioria das vezes, as ações judiciais estaduais
e federais (comuns e especializadas). Compreende os juízes estaduais e os federais comuns e da justiça
especializada (juízes do trabalho, eleitorais, militares)39.

RELAÇÕES ESTADOS E POVOS

O Estado40

A Origem da Personalidade Jurídica do Estado


Como se sabe, a natureza jurídica do Estado é, obviamente, de pessoa jurídica de direito público.
Lobriga-se que a aludida concepção de Estado teve origem nos contratualistas, os quais
estabeleceram a ideia de coletividade ou povo como uma unidade.
A explicação acerca da atribuição de personalidade jurídica ao Estado se subdivide entre as Teorias
Ficcionistas e as Realistas, sendo certo que as primeiras buscam conceber o Estado como uma ficção,
por razões utilitárias, objetivando-se, pois, tão só conferir-lhe capacidade.
Entende Savigny que a atribuição de personalidade ao Estado seria uma ficção em razão de os sujeitos
de direitos serem apenas aqueles dotados de consciência e vontade.
Já os Realistas têm uma concepção científica de Estado.
Entende Georg Jellinek, adepto da concepção Realista, que sujeito, sob a ótica jurídica, é uma
verdadeira capacidade, cuja gênese se encontra na ordem jurídica, sendo o homem um pressuposto da
capacidade jurídica, porquanto o direito se consubstancia em uma relação existente entre seres humanos.
Portanto, não há, para ele, qualquer óbice em ser atribuída a qualidade de sujeito de direito à unidade
coletiva em que se consubstancia o Estado.
É curial destacar, ainda, que, segundo o citado doutrinador:
Se o Estado é uma unidade coletiva, uma associação, e esta unidade não é uma ficção, mas uma
forma necessária de síntese de nossa consciência que, como todos os fatos desta, forma a base de
nossas instituições, então tais unidades coletivas não são menos capazes de adquirir subjetividade
jurídica que os indivíduos humanos. (GEORG JELLINEK,2002, p.379).

Conceito de Nação e Distinção de Estado


O termo nação possui um forte conteúdo emocional e teve origem no momento em que os povos
europeus almejavam a formação de unidades políticas dotadas de solidez e estabilidade, possibilitando
a cessação do constante estado de guerra que vigia.
De fato, o artifício de se empregar o termo Nação, que deflagra reações emocionais no povo, objetivava
afastar do poder os monarcas, responsáveis diretos pelas guerras intermináveis e, por outro lado,
possibilitar que a burguesia conquistasse o poder político.
Contudo, não há qualquer significação jurídica possível para a expressão em análise, porquanto não
noticia a existência de um qualquer vínculo jurídico entre os seus membros.
Ferdinad Tönies diferencia Estado e Nação no sentido de que aquele estaria associado à ideia de
sociedade, tendo, pois, as seguintes peculiaridades: surgimento por atos de vontade; a busca de um
objetivo; o fato de os seus membros se ligarem através de um vínculo jurídico e o poder social ser
reconhecido pela ordem jurídica.
A Nação estaria, ao contrário, relacionada à ideia de comunidade, cujas características assim se
delineiam: existência independente da vontade; inexistência de objetivo (há somente um sentimento de
preservação); ausência de vínculos jurídicos (existência só de sentimentos comuns) e inexistência de
poder.
Aduz-se, por derradeiro, que no século XVIII usou-se, de forma imprecisa, o termo Nação para designar
o povo, isto na tentativa de expressá-lo como uma unidade homogênea.
Enfim, estabelecidas as distinções necessárias entre Estado e Nação não há, pois, como confundi-los.

A Soberania

A soberania, segundo Jellinek, traz em sua origem uma concepção política, tendo sido atribuída
somente mais tarde uma conotação jurídica.
Aduz-se que a soberania é, sem dúvida, a base da ideia de Estado Moderno.

39
Fonte: WESSLER, D. R.
40
BAALBAKI, Sérgio. O Estado, o povo e a soberania. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 3, no 138. https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/artigo/746/o-
estado-povo-soberania

144
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Aristóteles caracterizava a cidade - Estado em razão de a mesma ser dotada de autarquia, ou seja, ter
aptidão para atender as suas próprias necessidades, o que não se aproximava, contudo, do conceito de
soberania.
Não havia na Antiguidade o ambiente propício para o desenvolvimento do conceito de soberania pelo
fato de não existir ainda o antagonismo do poder do Estado a outros poderes.
No fim da Idade Média o monarca detinha supremacia, não sofrendo o seu poder qualquer limitação,
sendo tal momento propício, então, para o desenvolvimento teórico do conceito de soberania.
Jean Bodin é considerado por muitos como o primeiro teórico a desenvolver o conceito de soberania,
em 1576, através de sua obra intitulada Les Six Livres de la République.
Ele a define, pois, como um poder absoluto e perpétuo de uma República.
É relevante destacar, porém, que a primeira utilização da palavra soberania remonta à “Carta de
Libertação dos Burgos Europeus”, os quais se libertaram do jugo dos senhores da terra, sendo certo que
à Bodin se deve a popularização de tal termo.
Rosseau é considerado o teórico responsável pela transferência da titularidade da soberania do
monarca para o povo.
Divergem os teóricos quanto ao fato de ser a soberania um poder do Estado ou uma sua qualidade,
sendo certo asseverar, contudo, que a noção de soberania está associada à ideia de poder.
Distingue-se a soberania como um poder político, que, sob este aspecto, tem a característica de um
poder de fato, incontrastável, absoluto, de uma concepção jurídica, consubstanciada esta em um poder
de decidir sobre a regra jurídica aplicável por determinado Estado.
É relevante destacar, ainda, quanto à titularidade da soberania, que existem duas teorias básicas,
quais sejam, as Teorias Teocráticas, segundo as quais todo poder vem de Deus e que, em última análise,
o titular da soberania é a pessoa do monarca, uma vez que Deus teria concedido o seu poder a este e as
Teorias Democráticas, segundo as quais, a soberania teria origem no povo, passando a referida teoria
por três fases distintas: na 1ª surge como titular da soberania o povo, não sendo, todavia, integrante do
Estado; na 2ª a titularidade é atribuída à Nação e na última fase afirma-se que o titular da soberania é o
Estado, levando em consideração que o povo participa da formação da vontade daquele, restando
preservado, pois, o fundamento democrático desta afirmação teórica.
Assinala Fábio Konder Comparato, que: “A primeira utilização consequente do conceito de povo como
titular da soberania democrática, nos tempos modernos, aparece com os norte-americanos.”.
Para ele, a inexistência na sociedade norte-americana de uma fragmentação consubstanciada em
classes sociais, propiciava mais facilmente a aceitação do povo como titular da soberania.
Hodiernamente a soberania está, indubitavelmente, relativizada, estando mitigada, portanto, aquela
concepção segundo a qual seria ela um poder absoluto.
Vale destacar, nessa linha de raciocínio, que, após o advento da Emenda Constitucional nº 45, os atos
internacionais relativos a direitos humanos passaram a ser reconhecidos como normas de status
constitucional, desde que observado o processo legislativo para a elaboração da espécie normativa
Emenda Constitucional.
Por fim, aduz o Professor Rogério Bento que a Soberania ainda se afigura útil atualmente,
especialmente com o escopo de servir como um instrumento civilizador.

O Povo

O uso indiscriminado da expressão povo, bem como a carga emocional que a impregna costuma
provocar uma distorção de seu sentido.
É unânime a necessidade do povo como elemento para a constituição e existência do Estado, sendo
certo afirmar, por isso mesmo, que não é possível a existência do Estado sem ele, notadamente porque,
em última análise, é para ele que o Estado se forma.
Na Grécia antiga o povo era entendido como o membro ativo da sociedade política, ou seja, os
cidadãos dotados de direitos políticos.
Em Roma deu-se à expressão povo, inicialmente, a conotação idêntica àquela da Grécia, mas,
posteriormente, conferiu-se a mesma um elastério de seu significado com o escopo de designar o Estado
Romano.
Estava, portanto, sendo delineada, nessa época, a significação jurídica próxima a que é dada hoje,
uma vez que aos cidadãos eram atribuídos direitos públicos.
Com o advento da revolução do século XVIII, momento em que a burguesia estava em plena ascensão,
os textos constitucionais passaram a designar povo livre de qualquer noção de classe, almejando-se
implementar a igualdade e, por outro lado, eliminar a discriminação então vigente, notadamente através
da implementação do princípio do sufrágio universal.

145
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Iniciou-se, doravante, em âmbito doutrinário, o anseio de promover a plena extensão da cidadania.
Para tanto, foi de curial importância a contribuição da doutrina alemã do século XIX, especialmente a
dogmática dos direitos públicos subjetivos, tendo Georg Jellinek, em meados do ano 1900, lançado uma
obra que delineou a noção jurídica de povo, bem como disciplinou a sua participação jurídica no Estado.
Ressalta-se que a Teoria delineada por Rousseau é de fundamental importância para que seja
estabelecida a distinção entre povo sob a ótica de sujeito em contraposição à ideia de povo como objeto.

Distinção de População
Não há como ser confundido o conceito de povo com o de população, uma vez que este designa uma
mera expressão numérica, demográfica ou econômica, a qual compreende o conjunto de pessoas que
vivem no território de um Estado ou que estejam temporariamente nele.
Portanto, não basta que uma pessoa esteja no território de um determinado Estado para se subsumir
na condição de povo, eis que é imprescindível, para tanto, que haja um vínculo jurídico especial entre
esta pessoa e o Estado.

Rosseau: A Liberdade, O Povo e O Contrato Social

Jean-Jacques Rousseau tem como base do seu raciocínio a noção de liberdade, compreendida ela
como um direito e um dever simultaneamente.
Para ele a liberdade é tida como um verdadeiro princípio, sendo, por isso mesmo, inalienável e a
considera, ainda, como essência da natureza espiritual do homem.
A efetivação da vontade geral se viabiliza, segundo ele, através de um contrato social, isto é, mediante
uma livre associação de seres humanos inteligentes, os quais resolvem formar um tipo de sociedade, a
qual passam a prestar obediência. Dessa forma, o contrato social seria a base legítima para uma
comunidade que deseja viver de acordo com os pressupostos da liberdade humana.
O raciocínio de Rousseau é simples: propõe ele uma forma de associação na qual cada um unindo-se
a todos obedece, porém, a si mesmo e permanece livre.
Então, a ideia acima exposta se resume na seguinte passagem do Livro I, do capítulo VI, denominado
“do pacto social” do livro “Do Contrato Social” (2004, pág 26) “Achar uma forma de sociedade que defenda
e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de cada sócio, e pela qual, unido - se cada um a
todos, não obedeça todavia senão a si mesmo e fique tão livre como antes”.

Immanuel Kant assinala, na mesma linha de raciocínio, que:

O ato pela qual um povo se constitui num Estado é o contrato original. A se expressar rigorosamente,
o contrato original é somente a ideia desse ato, com referência ao qual exclusivamente podemos pensar
na legitimidade de um Estado. De acordo com o contrato original, todos (omnes et singuli) no seio de um
povo renunciam à sua liberdade externa para reassumi-la imediatamente como membros de uma coisa
pública, ou seja, de um povo considerado como um Estado (universi). E não se pode dizer: o ser humano
num Estado sacrificou uma parte de sua liberdade externa inata a favor de um fim, mas, ao contrário, que
ele renunciou inteiramente à sua liberdade selvagem e sem lei para se ver com sua liberdade toda não
reduzida numa dependência às leis, ou seja, numa condição jurídica, uma vez que esta dependência
surge de sua própria vontade legisladora. (IMMANUEL KANT, pág.158).

Assim, aceitando-se a autoridade da vontade geral, o cidadão não só passa a pertencer a um corpo
moral coletivo, bem como adquire liberdade obedecendo a uma lei que prescreve para si mesmo.
Nessa linha, pelo contrato social o homem deixa de ter a liberdade natural, que se consubstancia em
um direito sem limites, de cunho instintivo, que o subsume em um verdadeiro estado natural, para ganhar
a liberdade civil, a qual tem como limitação a vontade geral, tornando-se, pois, um ser racional, moral etc.
Rousseau propugna, ainda, que o homem não detém poder natural sobre seus iguais, partindo da
premissa que a força não produz direito.
Portanto, segundo o referido pensador, somente as convenções seriam o fundamento de toda
autoridade legítima entre os homens.
Ainda de acordo com as ideias do mencionado teórico, a liberdade seria irrenunciável, pois tal ato,
caso fosse possível, implicaria na renúncia da própria condição de homem e uma convenção que previsse
tal possibilidade seria nula, eis que inviável seria estipular de uma parte a autoridade absoluta e de outra
uma não-limitada obediência.
Portanto, não há possibilidade de uma convenção legítima a ponto de fundamentar a subserviência do
povo.

146
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Aspectos Subjetivo o Objetivo de Povo – Distinção e Harmonização Necessárias
A Teoria da Soberania do Povo, delineada por Rousseau, atribui uma dupla qualidade a todo indivíduo,
quais sejam: a de citoyen isto é, cidadão ativo que participa da formação da vontade comum e a de sujet,
vale dizer, alguém submetido à vontade do Estado.
A referida Teoria possibilitou a distinção entre as qualidades subjetiva e objetiva de povo, tendo
definido Jellinek povo, em sentido subjetivo, como um elemento de associação estatal a formar parte
desta, enquanto o Estado é o sujeito do poder público e em sentido objetivo enquanto objeto da atividade
do Estado.
Nessa linha de raciocínio, os indivíduos, enquanto objeto do poder do Estado, são sujeitos de deveres
e enquanto membros do Estado são sujeitos de direitos.
Assinala o referido doutrinador que povo, enquanto conjunto dos membros do Estado, possui
significado jurídico e que, enquanto designação da totalidade dos súditos em oposição ao soberano,
oferece um sentido político.
Assim, conclui-se que povo em sentido subjetivo possui significado jurídico e em sentido objetivo
possui significado político.
É de extrema relevância destacar que uma pluralidade de homens submetidos a uma autoridade
comum, que não possuísse a qualidade subjetiva de um povo, não seria um Estado, pois a todos lhes
faltaria esse momento que faz da pluralidade uma unidade.
Reside neste aspecto, portanto, a imprescindível harmonização das concepções subjetiva e objetiva
de povo, porquanto o isolamento dessas definições é um verdadeiro equívoco que não pode ser admitido,
sob pena de desvirtuamento da verdadeira concepção do que vem a ser o povo em sua essência e, por
via de consequência, o próprio Estado, sendo certo asseverar, pois, que o povo é, simultaneamente,
membro da formação da vontade estatal e destinatário dessa mesma vontade estatal.
De fato, tal distinção é possível apenas no plano hipotético.
Ressalta-se que a subjetividade se afirma em oposição ao Estado e se exterioriza através do
reconhecimento que faz o Estado ao indivíduo como membro de uma comunidade popular, o que implica
no seu reconhecimento como pessoa, isto é, como um indivíduo detentor de uma esfera de direito público,
sendo este, pois, o fundamento do caráter corporativo do Estado.
Destaca-se que todo direito público se referia aos poderes do Estado, cujas funções foram concebidas
como direito de soberania e, pois, os poderes do Estado se opunham aos súditos e aos Estados
estrangeiros como uma soma de direitos.
Aristóteles (1998 apud DALLARI p.103) afirmava que somente entre homens livres seria possível um
direito em sentido político e que sem este direito não haveria Estado.
Locke (1998 apud DALLARI p.15) postulou, partindo da ideia do caráter inseparável que tem a
liberdade com relação à essência do homem, as limitações que deveriam ser exigidas do poder do Estado,
cujos fins consistiriam na proteção da vida, da liberdade e da propriedade.
Posteriormente, Blackstone (1998 apud DALLARI p.109 - 114) transforma os princípios limitativos do
poder do Estado em fórmulas jurídicas objetivas e os considera como direitos absolutos de todos os
ingleses, os quais eram derivados do direito natural.
Ressalta-se que toda exigência de direito público nasce de uma determinada posição da pessoa com
relação ao Estado, a qual se denomina status. Assim, o reconhecimento do indivíduo como pessoa é o
fundamento de todas as relações jurídicas, pois mediante esse reconhecimento o indivíduo se torna
membro do povo, considerado em seu aspecto subjetivo.
Segundo Jellinek, o corolário do reconhecimento do vínculo jurídico existente entre o Estado e o povo
faz surgir exigências de três diferentes categorias, quais sejam: exigências negativas, a qual significa que
o indivíduo enquanto pessoa está submetido a um poder limitado do Estado através do direito; exigências
positivas, que são aquelas que impõem ações positivas do Estado em respeito aos direitos individuais e
atitudes de reconhecimento, as quais noticiam que em determinadas circunstâncias há indivíduos que
atuam no interesse do Estado, sendo que este deve reconhecê-lo como órgãos seus. Tal fato se traduz
no reconhecimento de alguém como cidadão ativo.
É relevante destacar, contudo, que devem ser separadas a exigência individual e a atividade de um
órgão, porque esta última pertence exclusivamente ao Estado, de forma que a exigência do indivíduo só
pode consistir em propor que se admita a agir como órgão. Ex: a elaboração de uma lei não é um ato
individual e sim um ato superior do Estado.
Destaca-se, por oportuno, que pairam controvérsias acerca da noção do termo cidadania, sendo
encarado por alguns – como Ricardo Lobo Torres - como um vínculo existente entre os indivíduos e o
Estado ou, também, entre indivíduos; como direito ou, também, deveres.
Aduz-se que a ideia de contrato já foi mais usual para expressá-la, sendo a noção de status a mais
adequada hodiernamente.

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Ressalta-se que Friedrich Müller, assinala o povo em três aspectos distintos: como “povo ativo”, como
“instância global de atribuição de legitimidade” e como “destinatário de prestações civilizatórias do
Estado”.
O citado autor entende ser o povo ativo a totalidade dos eleitores e os elegíveis; povo como instância
global de atribuição de legitimidade são os cidadãos do país, os titulares da nacionalidade, os
destinatários dos textos normativos oriundos da atuação do povo ativo ao eleger os seus representantes
e povo como destinatário de prestações civilizatórias do Estado são os habitantes de um território do
Estado, mesmo que sejam estrangeiros ou apátridas, não havendo exclusão de ninguém.
Assinala Friederich Müller que: “Na tradição histórica e política do emprego do conceito, o termo povo
não se reveste de traços inocentes, neutros, objetivos, mas decisivamente seletivos.”.
É importante destacar que Canotilho caracteriza o povo como uma “grandeza pluralística”, entendendo
estar o seu conceito deveras distanciado do sentido de cidadão ativo.
Para ele o povo deve ser concebido em sentido político, ou seja, como grupos de pessoas que agem
segundo ideias, interesses e representações de natureza política.

ATIVIDADES ECONÔMICAS41

A Ocupação do Território Brasileiro por Meio das Atividades Econômicas

Nos primeiros 30 anos depois da chegada dos portugueses ao território brasileiro, Portugal não deu
grande atenção a essas terras.
Na época era prioritário o comércio com o Oriente, cujas especiarias propiciavam lucros muito
elevados. Mesmo assim, nesse período, foram enviadas ao Brasil algumas expedições de
reconhecimento e de defesa: era preciso garantir as novas terras ante a cobiça de outras nações
europeias.

A Exploração do Pau-Brasil
Como os portugueses não encontraram nos primórdios da colonização os tão desejados metais
preciosos, pois as reservas de ouro e de prata estavam longe do mar e dos olhos dos conquistadores –
ao contrário do que ocorreu nas possessões espanholas -, estes decidiram explorar de imediato o que
fosse mais fácil. Começaram, então, a extrair pau-brasil – árvore abundante no litoral, cujo extrato era
usado, na forma de pó, como corante para tecidos.
No entanto, o processo de exploração do pau-brasil mostrou-se extremamente nocivo, uma vez que,
além de não estimular a ocupação efetiva do território, acarretou rápida devastação da Mata Atlântica.

A Produção de Cana-de-Açúcar
Ainda no século XVI, o comércio com o Oriente deixou de oferecer os lucros desejados. Isso estimulou
os governantes portugueses a explorar economicamente as terras do Brasil, cultivando algum produto
que alcançasse grande valor no mercado europeu.
O primeiro produto escolhido para a produção foi o açúcar. Portanto, foi iniciado o plantio de cana-de-
açúcar, produto bastante conhecido dos portugueses, uma vez que já era cultivada por Portugal em
algumas ilhas do Atlântico.
Para viabilizar essa atividade econômica, a partir de 1532, a monarquia portuguesa começou a
procurar investidores que se comprometessem a ocupar as terras brasileiras e torná-las produtivas.
Observe, no mapa a seguir, a distribuição das atividades econômicas no Brasil do século XVI e
compare com o mapa das capitanias hereditárias.
As capitanias, entre 1534 e 1536, foram doadas em sua maior parte para fidalgos e comerciantes
portugueses, que deviam arcar com a maior parte dos gastos da ocupação.

41
TAMDJIAN, James Onnig. Geografia: estudos para compreensão do espaço. James Onnig Tamdjian; Ivan Lazzari Mendes. 2ª edição. São Paulo: FTD, 2013.

148
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Brasil: Economia (século XVI)

Fonte: https://fichasmarra.files.wordpress.com/2010/03/1.jpg.

As capitanias hereditárias estendiam-se do litoral até a linha limítrofe do Tratado de Tordesilhas. Cabia
aos donatários povoá-las, atraindo outros colonizadores.
Capitanias Hereditárias

Fonte: https://2.bp.blogspot.com/-7vjyDBxKj7s/V8ygfZs3uKI/AAAAAAAA12I/XIrdbYZq
6tIRUsjwAXfjaW6woZH4REKxwCLcB/s1600/mapa%2Bcapitanias.gif.

No entanto, o comércio do açúcar promoveu o progresso de poucas capitanias. Muitas delas não
conseguiram resolver os problemas com nações indígenas, que lutavam por suas terras e sua cultura, o
que afastava possíveis colonizadores.
Outras não tinham solos nem climas apropriados ao plantio da cana-de-açúcar, e algumas não
chegaram sequer a despertar o interesse de seus próprios donatários.
As únicas capitanias que tiveram grande desenvolvimento em razão da produção do açúcar foram as
de São Vicente e Pernambuco. A de São Vicente já contava com uma vila (fundada em 1532) e pôde
desenvolver a criação de gado e o plantio de cana. Na capitania de Pernambuco, o plantio de cana-de-
açúcar foi mais rentável por causa de dois fatores: a maior proximidade com a Europa, o que agilizava e
barateava o transporte, e a existência, na Zona da Mata, de largas extensões de terra com solo massapé,
extremamente fértil.
Foi nessa época que começou a imigração forçada e violenta de trabalhadores negros africanos,
escravizados, que serviam no cultivo da terra e no trabalho dos engenhos, e, assim, propiciavam os
lucros exigidos pela economia europeia.

149
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Pode-se afirmar que as capitanias hereditárias tiveram um resultado abaixo da expectativa de Portugal,
pois continuaram a existir imensas áreas do território brasileiro sem a presença de um único colonizador
europeu. Dessa maneira, para atender aos interesses de Portugal, era necessário providenciar outra
forma de ocupação humana e econômica do território.
O predomínio da economia açucareira no Brasil só chegaria ao fim por volta de 1680. Nessa época, o
preço do açúcar caiu muito na Europa, afetando diretamente todo o processo colonial brasileiro.

As Bandeiras Interiorizam a Colonização

Brasil: principais Bandeiras

Fonte: https://santarosadeviterbo.files.wordpress.com/2013/03/entradas-e-bandeiras.jpg.

O dinamismo econômico no Nordeste, decorrente da atividade açucareira, não se reproduziu com a


mesma intensidade na capitania de São Vicente. Ao contrário, após breve período de sucesso nessa
capitania, a economia com base na cana-de-açúcar entrou em declínio, e sua população teve de procurar
outras atividades econômicas.
A alternativa que ofereceu melhores resultados foi a das Bandeiras, denominação dada às expedições
que buscavam riquezas em lugares distantes do litoral. O apresamento de indígenas e a busca de metais
e pedras preciosas eram os principais objetivos das Bandeiras.
Os bandeirantes provocaram, num primeiro momento, o despovoamento de várias regiões do território,
massacrando e escravizando os indígenas. Além disso, disseminaram doenças que causaram grandes
epidemias, dizimando povos indígenas inteiros.
Em contrapartida, as Bandeiras ultrapassaram a linha do Tratado de Tordesilhas, deslocando as
fronteiras dos domínios portugueses no sentido oeste em relação ao antigo acordo.
Foram também os bandeirantes, no fim do século XVII, que descobriram as riquezas minerais –
especialmente o ouro, em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso -, que seriam responsáveis pelo novo rumo
da economia colonial no século XVIII.

A Pecuária no Nordeste
No Nordeste, durante o século XVII, paralelamente ao desenvolvimento dos engenhos de cana-de-
açúcar, surgiram outras atividades econômicas de grande importância.
Na Bahia, por exemplo, as plantações de fumo contribuíram para a ocupação e o adensamento
populacional do território.
Além disso, o fumo era usado pelos fazendeiros como produto de troca para obtenção de escravos.
Em alguns trechos do Sertão, surgiram lavouras de algodão, matéria-prima usada pelas pequenas
manufaturas de tecidos, fios e linhas, que surgiram no Nordeste para atender às necessidades dos
engenhos.
Outra relevante atividade econômica desenvolvida no Nordeste nessa época foi a criação de gado,
que contribuiu decisivamente para a interiorização do povoamento do Brasil colônia.
O crescimento dos rebanhos, principalmente bovinos, exigia muitas pastagens, fazendo com que o
gado se espalhasse pelo Sertão, ficando a Zona da Mata voltada, exclusivamente, para o cultivo da cana-
de-açúcar. Houve inclusive uma lei portuguesa de 1710 que proibia a criação de gado a menos de 10

150
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léguas (60 quilômetros) do litoral. Dessa maneira, a pecuária complementou a economia açucareira e
iniciou a penetração território adentro, a conquista e o povoamento efetivos na colônia.
No século XVIII, no Sertão, os rebanhos se espalharam a partir das margens dos rios, principalmente
do Parnaíba e do São Francisco, o qual, por essa razão, ficou conhecido como “Rio dos Currais”. Curral
era o nome genérico dado às terras destinadas ao gado (observe no mapa abaixo as áreas de
desenvolvimento da pecuária).
Como os produtores da pecuária se destinavam ao mercado interno, principalmente aos engenhos, as
feiras de gado tornaram-se o elo entre os interesses de criadores e os senhores de engenho.

As Drogas do Sertão na Amazônia


Enquanto no Nordeste a economia açucareira prosperava, no Norte o foco econômico eram os
produtos extraídos da floresta. Chamadas de “Drogas do Sertão”, essas mercadorias eram basicamente
especiarias, como urucum, cravo, baunilha, canela e guaraná, mas também cascas, folhas e raízes com
propriedades medicinais, além de cacau, castanha-do-pará e madeiras valiosas.
As Drogas do Sertão constituíram a base da economia regional. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a
coleta desses produtos foi o principal estímulo para a ocupação da Amazônia. Em consequência, a região
amazônica foi incorporada à colonização portuguesa – com a criação da província do Grão-Pará e
Maranhão – e passou a abrigar vários fortes – bases militares portuguesas construídas para proteger a
região de invasores estrangeiros.
Esses lugares serviram como pontos de apoio para caçadores de índios, sertanistas que buscavam as
Drogas do Sertão, e jesuítas empenhados em catequizar os indígenas. Como os bandeirantes, esses
grupos também avançaram muito além do limite de Tordesilhas e conquistaram uma área que, por esse
tratado, pertencia, até então, à Espanha.

Brasil: atividades econômicas (século XVIII)

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_q1UTQKTEGpo/S7kV1n0m0kI/AAAAAAAAAO0/uoBf4FRgFLM/s1600/Imagem2.jpg.

O Ouro em Minas Gerais


No fim do século XVII, difundiu-se a notícia da descoberta de ouro em Minas Gerais (mapa abaixo),
que passou, então, a atrair muitos aventureiros. Os bandeirantes conheceram, por meio dos indígenas,
histórias que confirmavam a existência de pedras preciosas no leito dos rios.
Isso alarmou a monarquia portuguesa, que resolveu militarizar a área, temendo perder as riquezas lá
encontradas.
Em pouco tempo, milhares de pessoas já estavam explorando a região. Houve conflitos entre os
indígenas e os primeiros exploradores, que resultaram em mortes. Foi usada cada vez mais a violência
para expulsar os indígenas de suas terras, que guardavam enormes riquezas minerais.
No início, ouro e esmeralda eram encontrados em abundância nos leitos dos rios. Quando essas
riquezas se esgotaram nos leitos dos rios, os exploradores passaram a cavar a base das montanhas,
onde também encontraram muito ouro.
Esse tipo de exploração fez surgir minas profundas em inúmeros lugares que, em consequência,
passaram a concentrar importantes contingentes populacionais. Surgiram, assim, as primeiras vilas.

151
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Esses pequenos povoados tinham uma grande variedade de prestadores de serviços e de comerciantes,
como ferreiros, marceneiros, pedreiros, trabalhadores braçais em geral.
Ao mesmo tempo, foram abertas estradas para permitir o escoamento dessas riquezas até os portos
de embarque do Rio de Janeiro e de Parati (RJ).

Brasil colônia: Rotas de abastecimento para as minas

Fonte: http://www.klepsidra.net/klepsidra4/tr-mapa.jpg.

A Pecuária no Sul
As grandes oportunidades de enriquecimento no Brasil colônia atraíram um número cada vez maior de
portugueses, fato que estimulava novas expansões territoriais.
No século XVII, por exemplo, os bandeirantes fizeram violentas incursões pelo sul do Brasil,
expulsando jesuítas e soldados espanhóis, aprisionando e matando milhares de indígenas.
Os jesuítas estavam na região para catequizar os indígenas. Para conseguir isso, os jesuítas
organizaram as missões. Também conhecidas como reduções, essas missões consistiam em
agrupamentos de moradias indígenas em torno de igrejas. Nelas, os indígenas cultivavam produtos
agrícolas e desempenhavam outras atividades econômicas. Além disso, obtinham formação religiosa.
Depois da expulsão dos jesuítas, em meados do século XVIII, a Coroa portuguesa acelerou o
povoamento da região. O primeiro passo foi estabelecer uma colônia de portugueses, sobretudo
açorianos, nos litorais dos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Posteriormente, foram trazidas outras levas de imigrantes para ocupar gradualmente regiões mais
interioranas do território. A criação de gado, inicialmente despretensiosa, prosperou rapidamente no
extremo sul, região dominada pelos Pampas gaúchos, ricas pastagens naturais que recobrem um relevo
suavemente ondulado (pequenas colinas denominadas coxilhas).
Desse modo, nos Pampas gaúchos, principalmente, prosperaram fazendas de criação de gado, as
estâncias, que mais tarde passaram a abastecer as cidades que se desenvolveram em Minas Gerais em
função da mineração do ouro.
Incursões territoriais como essas foram recorrentes durante o período colonial, fato que levou ao
rompimento definitivo do Tratado de Tordesilhas.

O Café no Sudeste
O principal responsável pelas transformações econômicas, sociais e políticas ocorridas no Brasil na
segunda metade do século XIX foi outro produto agrícola de exportação: o café. Graças a ele, a economia
brasileira reintegrou-se nos mercados internacionais.
O café contribuiu também para o incremento das relações assalariadas de produção e possibilitou a
acumulação de capital, que foi aplicado em sua própria expansão e em alguns setores urbanos, como a
indústria, por exemplo.

152
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
O cultivo e o comércio do café foram também responsáveis pela inversão na balança comercial
brasileira. Depois de uma história de constantes déficits, a balança comercial passou a apresentar
resultados positivos (superávits) entre 1861 e 1885.
O superávit desse período facilitou a obtenção de novos empréstimos, até então usados quase
exclusivamente para cobrir despesas do governo. A partir de 1861, os empréstimos passaram a ser
utilizados também no desenvolvimento interno do país, na construção de estradas e em outas obras
públicas.

A Borracha na Amazônia
Na virada do século XIX para o XX, o Brasil já se encontrava inserido na economia internacional como
grande fornecedor de matérias-primas.
Desenrolava-se a Segunda Revolução Industrial, quando os inúmeros avanços técnicos ocorridos no
âmbito das grandes potências europeias demandavam enormes quantidades de matérias-primas.
Uma dessas mercadorias era a borracha, utilizada para abastecer a nascente indústria automobilística,
que necessitava de pneus, entre outras aplicações.
Sabe-se que o látex – matéria-prima para a fabricação da borracha – é extraído da seringueira, espécie
vegetal abundante na região amazônica. À medida que crescia a procura internacional por esse recurso,
mais e mais trabalhadores braçais eram atraídos para a Floresta.
Chegavam de toda parte, aos milhares, mas a maioria vinha do Nordeste, em busca de trabalho no
processo de extração do látex.
Seguindo o mesmo caminho dos primeiros exploradores, que buscavam as Drogas do Sertão, esses
trabalhadores – os seringueiros – avançaram para o oeste, sempre em busca de grandes seringueiras.
Assim, em 1877, chegaram ao território boliviano em grande número. Aproximadamente duas décadas
mais tarde, em 1899, os trabalhadores brasileiros foram violentamente repelidos pelas forças armadas
bolivianas.
Seguiram-se quatro anos de conflitos, que resultaram em muitas mortes dos seringueiros brasileiros e
de soldados bolivianos.
As hostilidades somente terminaram em 17 de novembro de 1903, com a assinatura do Tratado de
Petrópolis, pelo qual o Brasil adquiriu o estado do Acre.
O Acre foi uma das últimas grandes aquisições territoriais do nosso país. No início do século XX, o
Brasil já possuía as dimensões que tem hoje.

O Espaço Geográfico Brasileiro


Espaço geográfico é todo meio, natural ou não, modificado pela ação humana pelo uso de técnicas.
Ao longo do tempo, as técnicas de modificação da natureza foram desenvolvidas e difundidas pelas
diversas sociedades humanas. Em consequência, praticamente toda a superfície terrestre transformou-
se em um único espaço geográfico.
Em geral, o espaço geográfico é construído com base nas atividades econômicas exercidas pela
sociedade. Assim, o espaço do Brasil pré-colonial estava adequado à organização indígena.
A aldeia era uma das representações dessa sociedade e o extrativismo era a principal atividade
econômica.
Com o passar do tempo, os europeus, especialmente os portugueses, desenvolveram novas formas
de ocupação do espaço, afetando a antiga organização socioeconômica dos indígenas.
A partir da segunda metade do século XVI, surgiram, na Zona da Mata, as pequenas vilas, que eram
aglomerações urbanas iniciais, os canaviais e os engenhos, fábricas de açúcar que funcionavam graças
à mão-de-obra dos escravizados.
Quanto mais a economia e a sociedade se desenvolviam, mais formas variadas de ocupação surgiam.
É o caso das fazendas de gado (chamadas genericamente de currais), que acompanhavam o curso do
Rio São Francisco, e, no século XVII, das missões ou reduções, que agrupavam os indígenas para
catequese no Sul.
No Sul, as estâncias de criação de gado garantiram a posse do território para os portugueses e foram
importantes para firmar os contornos atuais das fronteiras brasileiras.
No Norte, a construção dos fortes no Pará e no Maranhão, por sua vez, serviu de base para os
exploradores da Amazônia.
Essas diferentes formas de ocupação e suas dinâmicas socioeconômicas determinaram as dimensões
territoriais do Brasil, servindo de apoio à interiorização do povoamento.
É importante preservar construções históricas como fortes, missões e casarões seculares, pois, além
de serem traços marcantes da identidade cultural brasileira, elas ajudam a manter viva a memória da
formação de nosso espaço geográfico.

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Questões

01. (EsSA – Sargento – Exército) No tocante as primeiras atividades econômicas desenvolvidas pelos
portugueses na colônia do Brasil, entre os anos 1501 a 1530, é correto afirmar que se destacaram como
atividade (s) principal (is)
(A) a exploração de ouro e pedras preciosas.
(B) a escravização do indígena.
(C) a extração das chamadas drogas do sertão e criação de gado.
(D) a extração e comercialização do pau-brasil.
(E) o cultivo de fumo e do café.

02. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Escravidão negra, latifúndio e monocultura. No
início da década de 60 do século XX, afirmava-se ser esse o conjunto de fatores em que se assentara a
economia brasileira do século XVI ao XIX, como resultado da sua forma de integração ao mercado
mundial na qualidade de área subsidiária da Europa, como produtora de artigos tropicais e,
posteriormente, de metais preciosos. Essa visão, excessivamente reducionista, com frequência,
associava-se à atualmente criticada concepção dos ciclos econômicos. Não se negava, mas
minimizavam-se, em forma decisiva, a presença e a importância de outras relações de produção que não
a escravidão de africanos e de seus descendentes. Era uma historiografia que não vislumbrava a
considerável complexidade econômico-social brasileira.
Se considerarmos somente as partes do Brasil que, em cada época, concentram principalmente a
população e as produções coloniais, tornar-se-á possível perceber quatro fases no que concerne à história
do trabalho:
1) 1500-1532: período chamado pré-colonial, caracterizado poruma economia extrativista baseada no
escambo com os índios;
2) 1532-1600: época de predomínio da escravidão indígena;
3) 1600-1700: fase de instalação do escravismo colonial de plantation em sua forma clássica;
4) 1700-1822: anos de diversificação das atividades, em razão da mineração, do surgimento de uma
rede urbana, e de posterior importância da manufatura — embora sempre sob o signo da escravidão
dominante. (Ciro Flamarion Santana Cardoso. O Trabalho na colônia. In: Maria Yedda Linhares (org.). História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1996,
p. 78-9 (com adaptações)).
Considerando o texto acima como referência inicial, julgue os itens seguintes, relativos ao contexto
colonial brasileiro.
A leitura atenta do texto permite concluir que a mineração do século XVIII, embora tenha estimulado o
processo de interiorização da colônia, não foi capaz de promover o aparecimento de outras atividades
econômicas e nem mesmo o de uma sociedade menos ruralizada do que a existente no Nordeste
açucareiro.
(....) Certo (....) Errado

03. (SEE/MG – Professor – FCC) Leia o texto abaixo.


O nobre metal (...) provocou um afluxo formidável de gente, não só da metrópole como das capitanias
vizinhas. (...) Em 1709, era 30 mil o número das pessoas ocupadas em atividades mineradoras, agrícolas
e comerciais, sem falar nos escravos vindos da África e das zonas açucareiras em retração.
Com os olhos voltados para o ouro, (...) pode-se imaginar a fome que assolou essa população. (Laura de
Mello e Souza. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 2004. p. 41-42)
Segundo o texto, está correto afirmar que a sociedade mineradora
(A) assemelhava-se à sociedade formada em torno da produção do açúcar, ambas marcadas pela
diversidade das atividades econômicas e intensa mobilidade social.
(B) caracterizou-se pela ausência de dinamismo e poucos conflitos entre os colonos e o governo
português, desinteressado por esse tipo de atividade econômica.
(C) provocou intenso deslocamento populacional, motivado pelo ouro de aluvião e atividades
econômicas paralelas à mineração, como a agricultura e o comércio.
(D) contou com uma produção artística precária, desprovida de religiosidade e marcada por valores e
princípios tradicionais da cultura portuguesa

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Gabarito

01.D / 02.Errado / 03.C

Comentários

01. Resposta: D.
A extração e comercialização de pau-brasil, pelo sistema de “estanco”, foi a primeira atividade
econômica desenvolvida pelos portugueses na colônia do Brasil entre os anos 1504-1530.

02. Resposta: Errado.


Os pequenos povoados surgidos em decorrência da mineração tinham uma grande variedade de
prestadores de serviços e de comerciantes, como ferreiros, marceneiros, pedreiros, trabalhadores braçais
em geral.

03. Resposta: C.
A mineração fez surgir minas profundas em inúmeros lugares que, em consequência, passaram a
concentrar importantes contingentes populacionais. Surgiram, assim, as primeiras vilas.

3.2. Federalismo, federação e divisão territorial no Brasil. 3.3. Formação e


problemática contemporânea das fronteiras. 3.4. Conflitos geopolíticos
emergentes: ambientais, sociais, religiosos e econômicos

AS REGIONALIZAÇÕES DO TERRITÓRIO BRASILEIRO42

A regionalização pode ser entendida como a divisão de um território em áreas que apresentam
características semelhantes, de acordo com um critério preestabelecido pelo grupo de pessoas
responsáveis por tal definição: aspectos naturais, econômicos, políticos e culturais, entre tantos outros.
Portanto, regionalizar significa identificar determinado espaço como uma unidade que o distingue dos
demais lugares o seu redor.
A divisão de um território em regiões auxilia no planejamento das atividades do poder público, tanto
nas questões sociais quanto econômicas, já que permite conhecer melhor aquela porção territorial.
O governo e as entidades privadas podem executar projetos regionais, considerando o número de
habitantes de cada região, as condições de vida de sua população, as áreas com infraestrutura precária
de abastecimento de água, esgoto tratado, energia elétrica, entre outros.

Os Critérios de Divisão Regional do Território

O Brasil é um país muito extenso e variado. Cada lugar apresenta suas particularidades e existem
muitos contrastes sociais, naturais e econômicos.
Como cada região diferencia-se das demais com base em suas características próprias, a escolha do
critério de regionalização é muito importante.
Um dos critérios utilizados para regionalizar o espaço pode ser relacionado a aspectos naturais, como
clima, relevo, hidrografia, vegetação, etc.
A regionalização também pode ser feita com base em aspectos sociais, econômicos ou culturais. Cada
um apresenta uma série de possibilidades: regiões demográficas, uso do solo e regiões industrializadas,
entre outras.

As Regiões Geoeconômicas
A fim de compreender melhor as diferenças econômicas e sociais do território brasileiro, na década de
1960, surgiu uma proposta de regionalização que dividiu o espaço em regiões geoeconômicas, criada
pelo geógrafo Pedro Geiger.
Nessa regionalização, o critério utilizado foi o nível de desenvolvimento, características semelhantes
foram agrupadas dentro da mesma região. De acordo com esse critério, o Brasil está dividido em três
grandes regiões: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul, como pode observar-se no mapa a seguir.

42
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.
TERRA, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil – Lygia Terra; Regina Araújo; Raul Borges Guimarães. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2013.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Brasil: regiões geoeconômicas

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/normal_brasilgeoeconomico.jpg

Os limites da Amazônia correspondem à área de cobertura original da Floresta Amazônica. Essa


região é caracterizada pelo baixo índice de ocupação humana e pelo extrativismo vegetal e mineral.
Nas últimas décadas, a Amazônia vem sofrendo com o desmatamento de boa parte de sua cobertura
original para a implantação de atividades agropecuárias, como o cultivo de soja e a criação de gado.
A região Nordeste é tradicionalmente caracterizada pela grande desigualdade socioeconômica.
Historicamente, essa região é marcada pela presença de uma forte elite composta basicamente por
grandes proprietários de terra, que dominam também o cenário político local.

A região Centro-Sul é marcada pela concentração industrial e urbana. Além disso, apresenta elevada
concentração populacional e a maior quantidade e diversidade de atividades econômicas.

Essa proposta de divisão possibilita a identificação de desigualdades socioeconômicas e de diferentes


graus de desenvolvimento econômico do território nacional.
Seus limites territoriais não coincidem com os dos estados. Assim, partes do mesmo estado que
apresentam distintos graus de desenvolvimento podem ser colocadas em regiões diferentes. Porém,
esses limites não são imutáveis: caso as atividades econômicas, as quais influenciam as áreas do
território, passem por alguma modificação, a configuração geoeconômica também pode mudar.

Outras Propostas de Regionalização

Regionalização do Brasil por Roberto Lobato Corrêa

http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/Apoio/Apoio_Rita/flg386/2s2016/Regionalizacoes_do_Brasil.pdf

156
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Outro geógrafo, chamado Roberto Lobato Corrêa, também fez uma proposta de regionalização que
dividia o território em três: Amazônia, Centro-Sul e Nordeste.
No entanto, em sua proposta ele respeitava os limites territoriais dos estados, diferentemente da
proposta das regiões geoeconômicas que acabamos de observar acima.

Regionalização do Brasil por Milton Santos

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1551&evento=5
Os geógrafos Milton Santos e Maria Laura Silveira propuseram outra regionalização para o Brasil, que
divide o território em quatro regiões: Amazônia, Nordeste, Centro-Oeste e Concentrada.
Essa divisão foi feita com base no grau de desenvolvimento científico, técnico e informacional de cada
lugar e sua influência na desigualdade territorial do país.
A região Concentrada apresenta os níveis mais altos de concentração de técnicas, meios de
comunicação e população, além de altos índices produtivos.
Já a região Centro-Oeste caracteriza-se pela agricultura moderna, com elevado consumo de insumos
químicos e utilização de tecnologia agrícola de ponta.
A região Nordeste apresenta uma área de povoamento antigo, agricultura com baixos níveis de
mecanização e núcleos urbanos menos desenvolvidos do que no restante do país. Por fim, a Amazônia,
que foi a última região a ampliar suas vias de comunicação e acesso, possui algumas áreas de agricultura
moderna.

As Regiões do Brasil ao Longo do Tempo

Os estudos da Divisão Regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) tiveram início
em 1941. O objetivo principal deste trabalho foi o de sistematizar as várias divisões regionais que vinham
sendo propostas, de forma que fosse organizada uma única divisão regional do Brasil para a divulgação
das estatísticas brasileiras.
A proposta de regionalização de 1940 apresentava o território dividido em cinco grandes regiões:
Norte, Nordeste, Este (Leste), Sul e Centro. Essa divisão era baseada em critérios tanto físicos como
socioeconômicos.

157
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Regionalização do Brasil → década de 1940

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1557&evento=5

IBGE e a Proposta de Regionalização


O IBGE surgiu em 1934 com a função de auxiliar o planejamento territorial e a integração nacional do
país. Consequentemente, a proposta de regionalização criada pelo IBGE baseava-se na assistência à
elaboração de políticas públicas e na tomada de decisões no que se refere ao planejamento territorial,
por meio do estudo das estruturas espaciais presentes no território brasileiro. Observe a regionalização
do IBGE de 1940 no mapa acima.

Regionalização do Brasil → década de 1950

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1558&evento=5

Na década de 1950, uma nova regionalização foi proposta, a qual levava em consideração as
mudanças no território brasileiro durante aqueles anos.
Foram criados os territórios federais de Fernando de Noronha, Amapá, Rio Branco, Guaporé, Ponta
Porã e Iguaçu – esses dois últimos posteriormente extintos.
Note também que a denominação das regiões foi alterada e que alguns estados, como Minas Gerais,
mudaram de região.

158
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Regionalização do Brasil → década de 1960

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1560&evento=5

Na década de 1960, houve a inauguração da nova capital federal, Brasília. Além disso, o Território de
Guaporé passou a se chamar Território de Rondônia e foi criado o estado da Guanabara. Observe o mapa
a seguir.

Regionalização do Brasil → década de 1970

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1561&evento=5

Na década de 1970, o Brasil ganha o desenho regional atual. É criada a região Sudeste, que abriga
os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
O Acre é elevado à categoria de estado e o Território Federal do Rio Branco recebe o nome de
Território Federal de Roraima.

A regionalização da década de 1980 mantém os mesmos limites regionais. No entanto, ocorre a fusão
dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro e a criação do estado do Mato Grosso do Sul.
A mudança nas regionalizações ao longo dos anos é fruto do processo de transformação espacial
como resultado das ações do ser humano na natureza.
Assim, reflete a organização da produção em função do desenvolvimento industrial.

159
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Regionalização do Brasil → década de 1980

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1562&evento=5

A Regionalização Oficial do Brasil Atual

A regionalização oficial do Brasil é a de 1990 e apresenta as modificações instituídas com a criação


da Constituição de 1988.
Os territórios de Roraima e Amapá são elevados à categoria de estado (o território de Rondônia já
havia sofrido essa mudança em 1981); é criado o estado de Tocantins; e é extinto o Território Federal de
Fernando de Noronha, que passa a ser incorporado ao estado de Pernambuco.
Regionalização oficial do Brasil atual

http://alunosonline.uol.com.br/geografia/regionalizacao-brasil.html

É importante refletir sobre a regionalização atual proposta pelo IBGE, já que ela não apresenta uma
solução definitiva para a compreensão dos fenômenos do território brasileiro.
A produção do espaço é um processo complexo, resultado da interação de diferentes fatores e não
pode ser encaixada dentro de uma categoria única e específica.
A atual divisão regional obedece aos limites dos estados brasileiros, mas não necessariamente aos
limites naturais e humanos das paisagens, os quais, muitas vezes, não são tão evidentes.
É o caso, por exemplo, do Maranhão. Grande parte de seu território apresenta características naturais
comuns à região Norte, principalmente devido à presença da Floresta Amazônica. Além disso, o estado
apresenta fortes marcas culturais que também remetem ao Norte, como a tradicional festa do Boi-Bumbá.
No entanto, segundo a regionalização oficial, o Maranhão faz parte da região Nordeste.

160
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Região e Planejamento

A divisão do território brasileiro em regiões definidas pelo IBGE teve como objetivo facilitar a
implantação de políticas públicas que estimulassem o desenvolvimento de cada região.
Um dos aspectos marcantes do espaço geográfico brasileiro é a disparidade regional. Isso significa
que as diferentes regiões possuem níveis distintos de desenvolvimento. Uma das principais causas dessa
disparidade é a concentração da industrialização no Centro-Sul do país.
Para promover o desenvolvimento de regiões consideradas socioeconomicamente estagnadas, o
governo brasileiro empreendeu um programa federal baseado na criação de instituições locais fincadas
nesse objetivo, como é o caso da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da
Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
É o que veremos abaixo.

O Estado Brasileiro e o Planejamento Regional


No século XX, a concentração espacial das indústrias na região Sudeste impactou de maneira negativa
as estruturas produtivas de outras regiões brasileiras.
Para promover a desconcentração da economia, foram criadas políticas de integração e de
desenvolvimento regional.

Território e Políticas Públicas

Por meio das políticas de desenvolvimento regional, propunha-se a implantação de infraestruturas nas
regiões menos desenvolvidas, com a finalidade de atrair investimentos e aumentar a oferta de empregos.

O desenvolvimento industrial iniciado na década de 1930 transformou, ao mesmo tempo, a economia


e a geografia do Brasil.
No plano da economia, o modelo agroexportador foi, aos poucos, sendo substituído pelo modelo
urbano e industrial que vigora no país até hoje. No plano da geografia, as diferentes regiões brasileiras
passaram a se articular de maneira cada vez mais intensa, de forma a prover tanto a matéria-prima quanto
a força de trabalho necessárias à produção industrial fortemente concentrada na Região Sudeste.
Esse novo contexto de industrialização e de integração nacional tornou, evidente a desigualdade de
desenvolvimento entre as regiões brasileiras. O crescimento da economia da Região Sudeste contrastava
vivamente com a estagnação da economia nordestina. No Nordeste, diante do desemprego resultante do
declínio das atividades nas lavouras de cana-de-açúcar e nas indústrias têxteis, dos baixos salários e da
concentração de terras nas mãos de poucos, muitos optaram por tentar a vida em outras regiões do país.
A Região Nordeste transformou-se em grande fornecedora de mão de obra para os principais centros
urbanos e industriais do país. São Paulo tornou-se o principal destino dos migrantes nordestinos: na
década de 1940, eles foram responsáveis por cerca de 60 do incremento populacional ocorrido na cidade.
Para combater a desigualdade, o governo federal lançou políticas de desenvolvimento regional. Por
meio delas, esperava-se promover a desconcentração da economia, atraindo investimentos e ampliando
a oferta de empregos nas regiões menos desenvolvidas. As regiões selecionadas receberiam
infraestrutura (energia, estradas, portos) e incentivos fiscais, ou seja, o governo passaria a isentar ou
cobrar menos impostos dos empresários que lá implantassem novos negócios.
Em meados da década de 1950, começaram a ser implementadas as agências de desenvolvimento
regional, órgãos federais que tinham o objetivo de centralizar e implementar essas políticas. A
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a primeira delas, entrou em funcionamento
em 1959. A Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) foi criada em 1966. Sudene e
Sudam foram as mais importantes agências implantadas no Brasil.

O Estado e a Valorização da Amazônia

Para a valorização da economia regional da Amazônia e sua conexão aos centros mais dinâmicos do
território brasileiro, o governo federal priorizou a construção de estradas e a implantação de projetos
industriais (zona franca), minerais e de colonização.

A Integração Nacional
O propósito de integrar a Amazônia ao conjunto da economia nacional já estava na agenda do governo
federal na década de 1940, mas foi apenas na década de 1950 que as políticas de planejamento
começaram a atuar de fato na região.

161
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Em 1953, nasceu a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA),
um órgão federal encarregado de valorizar a economia regional e conectá-la aos centros mais dinâmicos
do território brasileiro. A área de atuação da SPVEA recebeu o nome de Amazônia Brasileira, uma região
de planejamento.
Na época, o processo de industrialização demandava a criação de um mercado interno de dimensões
nacionais, o que exigia grandes transformações no território. A construção de estradas que
possibilitassem o intercâmbio de mercadorias e pessoas entre as diversas regiões brasileiras era
considerada uma tarefa prioritária para o governo federal. Uma nova capital, Brasília, estava sendo
construída em um planalto situado no Brasil central, até então pouco integrado.
Por meio de Brasília, pretendia-se integrar não apenas o Centro-Oeste mas também a Amazônia,
escassamente povoada e detentora de imensos potenciais. O planejamento e a execução da Rodovia
Belém-Brasília, por meio da qual o sistema viário brasileiro alcançou a Amazônia pela primeira vez, contou
com a colaboração da SPVEA.

Sudam: A Devastação Planejada


A política de planejamento regional voltada para a Amazônia ganhou novos contornos após o golpe
de 1960, quando os destinos do país passaram a ser comandados pela ditadura militar. Em 1966, a
SPVEA foi extinta e substituída por outro órgão, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(Sudam), cuja área de atuação recebeu o nome de Amazônia Legal. No ano seguinte, foi criada a
Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).

A Indústria na Amazônia
A implantação de complexos industriais figurava entre as prioridades do projeto de valorização
econômica da Amazônia concebido pelos militares.
Como vimos, a Sudam foi criada em 1966. No ano seguinte, seria a vez da Superintendência da Zona
Franca de Manaus (Suframa). Com ela, Manaus foi transformada em zona franca. Essa nova condição
significou para Manaus a isenção de taxas de importação das máquinas e matérias-primas necessárias
à produção industrial, bem como dos impostos de exportação das mercadorias industrializadas. Com
esses incentivos, indústrias transnacionais e nacionais foram atraídas para a cidade, e Manaus
transformou-se em um polo industrial importante, principalmente no setor de bens de consumo duráveis
(televisores, aparelhos portáteis e eletrodomésticos).
Atualmente, o polo industrial instalado em Manaus dinamiza boa parte da economia regional e
emprega diretamente cerca de 85 mil pessoas. A indústria local, no entanto, depende da manutenção da
zona franca. As mercadorias produzidas em Manaus viajam milhares de quilômetros até chegar aos
principais centros de consumo do país e incorporam em seu custo o preço desse transporte.
Na década de 1970, teve início o processo de crescimento industrial de Belém. Nesse caso,
predominam as indústrias de transformação mineral, em especial a siderurgia do ferro e do alumínio,
atraídas pela presença de matérias-primas e da energia proveniente da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.
Uma das siderúrgicas mais importantes do setor de produção de alumínio está instalada no Porto de
Barcarena, situado nos arredores de Belém.

A Amazônia Legal

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Na visão dos militares, a Amazônia era um imenso vazio demográfico que precisava ser conquistado
e explorado, de forma a transformar seu enorme potencial natural em riquezas que iriam financiar o
desenvolvimento do país. Para isso, eles propunham integrar a Amazônia implantando grandes projetos
minerais, industriais e agropecuários.
A população local, em grande parte concentrada nas margens dos rios e dos igarapés e vivendo do
cultivo de pequenos lotes de terra, foi praticamente desconsiderada nos novos planos do governo para a
região.
A Sudam foi criada para ser uma espécie de intermediária entre o governo e os empresários no
processo de valorização econômica da Amazônia. Além disso, o órgão também deveria formular projetos
de atração de migrantes, para promover o povoamento e consolidar um mercado de trabalho regional.
Muitos desses migrantes, a maior parte de origem nordestina, acabaram por se fixar nas periferias das
cidades amazônicas, que conheceram um crescimento explosivo a partir da década de 1870.
A Transamazônica, rodovia que corta a região no sentido latitudinal, foi planejada para ligar o
Amazonas à Paraíba e viabilizar o assentamento dos migrantes recém-chegados e representar uma rota
para os novos investimentos - ou, nas palavras do próprio governo, “a pista da mina de ouro”.
A Transamazônica não cumpriu o papel almejado por seus planejadores. Encravada no meio da
floresta e desconectada da rede viária nacional, a estrada não foi capaz de dinamizar os fluxos regionais
e acabou por se tornar um imenso atoleiro.

Nessas condições, os dois mais importantes eixos de penetração para a Amazônia passaram a ser as
rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre. Em suas margens, foi implantada a maior parte dos projetos
minerais e agropecuários incentivados pela Sudam. Não por acaso, esses eixos apresentam a maior taxa
de desmatamento e de degradação ambiental. Além disso, também são palcos de violentos conflitos, já
que posseiros, fazendeiros e madeireiros disputam a posse da terra valorizada pela presença das
estradas.
O eixo da Belém-Brasília se estende até a Serra dos Carajás, onde se encontra a maior reserva de
minério de ferro do mundo. O ferro de Carajás, em exploração desde a década de 1970 pela Companhia
Vale do Rio Doce (privatizada em 1997), é escoado pela Estrada de Ferro Carajás, até o Complexo
Portuário de São Luís, no Maranhão. Nas margens da rodovia e da ferrovia, a floresta equatorial já foi
quase toda derrubada. Em seu lugar, surgiram núcleos urbanos e os mais diversos empreendimentos.

No outro extremo da Amazônia, o principal eixo de ocupação foi a Rodovia Brasília-Acre. O estado de
Rondônia, atravessado por esse eixo, foi alvo de um grande projeto de colonização e recebeu milhares
de migrantes, vindos especialmente das regiões Nordeste e Sul. Atualmente, Rondônia figura entre os
estados mais devastados da região.
A herança da Sudam permanece na realidade amazônica: está presente tanto na destruição do modo
de vida tradicional das populações ribeirinhas e indígenas quanto na grande mancha de devastação
ambiental produzida pelos empreendimentos aprovados pelo órgão. Definitivamente, esse modo
predatório de ocupação está em descompasso com os parâmetros atuais de valorização do patrimônio
ambiental amazônico, sobretudo no que se refere à enorme biodiversidade da formação florestal e à
presença de imensos reservatórios de água doce.

Planejamento Estatal e a Economia Nordestina

As políticas públicas para o desenvolvimento do Nordeste, implantadas pela Sudene, consideraram o


seu conjunto e não suas sub-regiões separadamente.
Garantiram a disponibilidade de energia e realizaram investimentos industriais, em especial no setor
petroquímico.

As Sub-Regiões Nordestinas
O Nordeste pode ser dividido em quatro sub-regiões: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-
Norte. Cada uma delas apresenta características naturais e econômicas particulares.

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A Zona da Mata, quente e úmida, foi transformada pela implantação de grandes propriedades
produtoras de cana-de-açúcar, ainda nos primeiros tempos de colonização. Os senhores de engenho,
também conhecidos como barões do açúcar, continuaram a dominar a economia e a política após a
independência. Em meados do século XIX, a economia açucareira entrou em crise, devido à concorrência
exercida pelo açúcar produzido nas Antilhas. Mais tarde, a produção de açúcar com técnicas mais
modernas na Região Sudeste, em especial no estado de São Paulo, deu continuidade ao longo período
de crise econômica no Nordeste. Atualmente, a Zona da Mata é uma região de economia dinâmica,
concentrando grande parte da população e os maiores polos industriais do Nordeste;

O Agreste, situado entre a Zona da Mata úmida e o Sertão semiárido, é tradicionalmente ocupado por
pequenas propriedades, dedicadas ao cultivo de subsistência e ao abastecimento alimentar dos
engenhos e cidades da Zona da Mata. Nessa sub-região, o padrão técnico rudimentar que caracteriza a
maior parte dos estabelecimentos agrícolas resulta em baixa produtividade e em expressiva pobreza rural;

O Sertão, dominado pelo clima semiárido, conheceu um primeiro movimento de valorização ainda
durante a colonização, quando se transformou em espaço da pecuária extensiva, produzindo carne para
os mercados da Zona da Mata. Depois, grandes latifúndios, de propriedade dos coronéis do sertão (nome
pelo qual ficaram conhecidos os proprietários das grandes fazendas sertanejas), passaram a dominar a
paisagem. Em meados do século XIX, o cultivo de algodão tornou-se uma atividade econômica de
importância significativa no Sertão, em grande parte devido à crise na produção algodoeira dos Estados
Unidos decorrente da Guerra de Secessão. Durante muito tempo, o gado e o algodão iriam dividir o
espaço sertanejo;

O Meio-Norte, situado na transição entre o Sertão semiárido e a Amazônia equatorial, foi durante a
maior parte de sua história uma sub-região praticamente marginal no contexto da economia nordestina.
A pecuária extensiva, prolongamento da criação de gado sertaneja, e o extrativismo, em especial das
palmeiras babaçu e carnaúba, eram as atividades de maior destaque no Meio-Norte.
Em momentos históricos diferentes, duas sub-regiões nordestinas - Sertão e Zona da Mata - já haviam
sido objeto de programas governamentais de ajuda e de incentivo econômico muito antes da existência
da Sudene. Em ambos os casos, porém, as elites sub-regionais foram as principais beneficiadas.

Programas Pioneiros: Sertão


No caso do Sertão, desde o período imperial existiram políticas de combate à seca e, principalmente,
aos seus efeitos. Em 1881, após um período de estiagem que causou a morte de milhares de pessoas e
de uma parcela considerável do gado, o imperador mandou construir um grande açude em Quixadá, no
Ceará, visando reservar água e evitar futuras catástrofes.
Nos primeiros decênios da República, essas políticas cresceram e tornaram-se institucionais. Em
1909, foi criada uma Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs), com o objetivo de espalhar
açudes em todo o Sertão, além de construir estradas para facilitar o escoamento e a comercialização dos
produtos sertanejos.
Em 1945, a Ifocs passou a se chamar Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs),
mas sua linha de atuação continuou a mesma. Entretanto, além dos açudes, das barragens e das
estradas, o Dnocs passou a organizar também frentes de trabalho. Quando ocorriam as secas, a
população carente era recrutada para trabalhar nas obras federais, e, assim, ganhava um meio de
sobrevivência, mesmo que muito precário.

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Na maior parte dos casos, os açudes e as estradas construídos pelos sertanejos pobres acabavam
por tornar ainda mais valiosas as terras dos coronéis, nas quais (ou nas proximidades delas) as obras
eram realizadas. Além disso, os coronéis não precisavam se preocupar com a sobrevivência de seus
trabalhadores durante a estiagem, já que o Estado cuidava disso. Quando as chuvas voltavam, era só
aproveitar as melhorias de suas terras e recrutar de volta os trabalhadores. Desse modo, o governo
ajudava a enriquecer os que já eram ricos e mantinha os pobres - a maioria da população - no limite da
sobrevivência.

Programas Pioneiros: Zona da Mata


Os “barões do açúcar” da Zona da Mata também receberam auxílio do governo, ainda que de forma
indireta. Na década de 1930, a agricultura canavieira paulista começou a se modernizar, ampliando sua
base técnica, e passou a ameaçar a economia açucareira nordestina.
Nesse contexto, o governo criou o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), com o objetivo de
estabelecer cotas de produção de açúcar entre os estados brasileiros e garantir um preço mínimo para o
produto. Assim, o IAA reservava uma parcela do mercado açucareiro aos produtores da Zona da Mata
nordestina, além de garantir preços compatíveis com seus custos de produção relativamente elevados.
Durante longos decênios, o IAA ajudou a garantir a presença do açúcar nordestino no mercado
brasileiro, fornecendo-lhe condições de sobrevivência. Em longo prazo, porém, a estratégia revelou-se
ineficiente: protegidos pelas cotas e pelos preços governamentais, os produtores nordestinos investiram
pouco em modernização, e desde 1990, quando o IAA foi extinto, vêm perdendo parcelas crescentes do
mercado para os produtores paulistas.

A Sudene e a Industrialização do Nordeste


A criação da Sudene modificou inteiramente a direção das políticas públicas de desenvolvimento do
Nordeste. Em primeiro lugar, essas políticas ganharam uma nova dimensão: não era uma ou outra sub-
região, mas o conjunto do Nordeste que seria alvo do planejamento estatal. A lei que criou a Sudene
delimitou também a área de atuação do órgão, que não coincide exatamente com a Região Nordeste
definida pelo IBGE, já que incluiu o norte de Minas Gerais. Em 1998, parte do Espírito Santo também
entrou para essa “região de planejamento”.
Em segundo lugar, por estarem baseados em uma nova visão acerca dos problemas regionais, os
planos da Sudene foram orientados para outra direção.
Já estudamos que, até então, a intervenção governamental nos assuntos nordestinos tinha se
destinado, sobretudo, a solucionar os problemas do campo, beneficiando os grandes proprietários da
terra e reforçando a concentração fundiária tanto no Sertão quanto na Zona da Mata. A Sudene trouxe
uma nova prioridade: de acordo com o diagnóstico de seus fundadores, o maior problema do Nordeste
não era a falta de chuvas ou a baixa competitividade da produção açucareira, mas a falta de indústrias
modernas, capazes de dinamizar a economia como um todo. A solução, portanto, estava no incentivo à
industrialização.
Para tanto, era preciso primeiro garantir a disponibilidade de energia. Essa tarefa ficou a cargo das
Centrais Hidrelétricas do Rio São Francisco (Chesf), que transformou a Bacia do São Francisco em
uma importante produtora de energia de origem hídrica.
O governo federal também tomou para si a tarefa de realizar investimentos industriais, em especial no
setor petroquímico. A criação do Polo Petroquímico de Camaçari, o principal complexo industrial
nordestino, nasceu das políticas levadas a efeito pela Sudene. A Refinaria Landulfo Alves, de
propriedade da Petrobras, abastece as empresas públicas e privadas que operam no polo.
Além disso, foram concedidos financiamentos públicos e incentivos fiscais aos conglomerados
industriais que implantassem fábricas na região. O setor de bens intermediários (tais como produtos
químicos e metalúrgicos) foi o principal beneficiário, pois acreditava-se que ele seria capaz de dinamizar
a economia regional e gerar mercado para o setor de bens de consumo (tais como alimentos e
vestuário). Desse modo, esse setor também acabaria por implantar-se no Nordeste. Devido aos
incentivos, diversos grupos empresariais inauguraram unidades produtivas no Nordeste.
Com a Sudene, a economia industrial chegou às capitais nordestinas, em especial a Recife e Salvador.
Mas sabe-se hoje que isso não bastou para eliminar as desigualdades entre o Nordeste e o Sudeste e/ou
para melhorar a qualidade de vida da população regional. O Nordeste brasileiro ainda espera por políticas
capazes de gerar crescimento econômico com inclusão social.

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Questões

01. (SEDF – Professor de Geografia – CESPE/2017) No atual período histórico, caracterizado pela
forte internacionalização do modo de produção capitalista, importantes transformações de ordem técnica,
política e econômica têm promovido intensa reestruturação produtiva e regional do Brasil e do mundo. A
intensificação do poder das empresas transnacionais sobre o espaço mundial é uma dessas
manifestações. Iná Elias de Castro. Política pública e conflito no espaço urbano. In: GEOgraphia, ano 18, n.º 36, 2016 (com adaptações).
Considerando esse texto, julgue o item a seguir.
A divisão regional do Brasil em cinco macrorregiões de planejamento é uma referência para o ensino
de geografia atualmente. Entretanto, para a compreensão das dinâmicas atuais de uso e reorganização
do território nacional, é necessário abordar as novas regionalizações, como a divisão por complexos
regionais (Amazônia, Nordeste e Centro-Sul) e a divisão em quatro regiões (Concentrada, Centro-Oeste,
Amazônia e Nordeste).
(....) Certo (....) Errado

02. (Prefeitura de Sobral/CE – Agente Administrativo – UVA/2017) Entre as últimas alterações da


divisão regional oficial do Brasil, podem-se destacar:
(A) a extinção dos territórios federais e a criação do Distrito Federal.
(B) a criação de Fernando de Noronha e a do território de Roraima.
(C) a extinção do Distrito Federal e a criação do território federal de Tocantins.
(D) a extinção dos territórios e a criação do Estado de Tocantins.

03. (SEDF – Professor de Geografia – CESPE/2017) Com relação aos processos de regionalização
no Brasil e no mundo, julgue o item subsequente.
Décadas depois da implementação do primeiro órgão responsável pelos estudos de planejamento
macrorregional no Brasil, a SUDENE, os principais problemas e disparidades regionais do país persistem.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.Certo / 02.D / 03.Certo

Comentários

01. Resposta: Certo


A atual divisão regional obedece aos limites dos estados brasileiros, mas não necessariamente aos
limites naturais e humanos das paisagens, os quais, muitas vezes, não são tão evidentes.

02. Resposta: D
Com as mudanças da Constituição de 1988, ficou definida a divisão brasileira que permanece até os
dias atuais. O estado do Tocantins foi criado a partir da divisão de Goiás e incorporado à região Norte;
Roraima, Amapá e Rondônia tornaram-se estados autônomos; Fernando de Noronha deixou de ser
federal e foi incorporado a Pernambuco.

03. Resposta: Certo


Um dos aspectos marcantes do espaço geográfico brasileiro é a disparidade regional. Isso significa
que as diferentes regiões ainda possuem níveis distintos de desenvolvimento. Uma das principais causas
dessa disparidade é a persistente concentração da industrialização no Centro-Sul do país.

REGIÕES BRASILEIRAS43

Introdução

O que é Região?
Provavelmente, você já ouviu alguém referir-se a algum lugar como região. Esse termo aparece
bastante em nosso cotidiano.
Para a Geografia, região é um conceito muito importante e que vem sendo debatido há muitos anos.

43
TERRA, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil – Lygia Terra; Regina Araújo; Raul Borges Guimarães. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2013.

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Podemos entender região como uma área de determinado território onde se localizam lugares com
características semelhantes, levando em consideração a combinação entre elementos naturais, a
economia e aspectos sociais.
Abaixo seguem as 5 regiões brasileiras e seus principais aspectos:

Região Nordeste

O Nordeste apresenta pontos de elevado dinamismo econômico, tanto no campo quanto nas cidades.
Porém, a elevada concentração fundiária e a persistência de graves problemas sociais representam um
entrave ao desenvolvimento regional.

Obstáculos e Perspectivas
Apesar de não se destacar em grande parte dos indicadores econômicos e sociais, a Região Nordeste
passa por um processo de integração econômica com as outras regiões do país e com o mundo,
apresentando alternativas para o desenvolvimento em diferentes setores.
Se comparados o índice de desenvolvimento humano do Brasil com o dos estados do Nordeste,
observamos que todos eles, apresentam IDH menor que a média nacional, o que evidencia a defasagem
social dessa região em relação ao Brasil.
Entre os estados nordestinos, a Bahia conta com a maior participação no PIB brasileiro. Sua economia
é diversificada e produz riqueza com atividades da agropecuária, da indústria e de serviços.

Ocupação Territorial
A ocupação do Nordeste ocorreu paralelamente à implantação de atividades econômicas, como a
produção de cana-de-açúcar nas áreas litorâneas e, posteriormente, a agricultura de subsistência no
Agreste e a pecuária do Sertão.
A Região Nordeste é formada por nove estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco (incluindo o Distrito Estadual de Fernando de Noronha), Alagoas, Sergipe e Bahia.
Com área de 1.554.257 km², equivalente a 18,25% do país, concentrava, em 2011, 27,77 da população
brasileira, ou seja, 54.226.000 habitantes à época.
Durante os séculos XVI e XVII, a produção de açúcar para exportação sustentou a economia colonial,
baseada no latifúndio monocultor e no sistema escravista. A cana-de-açúcar desenvolveu-se bem nos
solos de massapé presentes no litoral dos atuais estados de Pernambuco e Bahia.
Entre as atividades complementares implementadas na América portuguesa estavam os cultivos de
subsistência e a pecuária. A criação de gado, inicialmente feita na Zona da Mata (litoral), foi empurrada
para o interior (Sertão) de Pernambuco, para o Vale do Rio São Francisco e para os estados do Piauí, do
Ceará e do Maranhão, promovendo a ocupação efetiva dessas áreas.
Nos séculos XVIII e XIX, a descoberta de minerais preciosos no interior do país e a transferência da
capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763), entre outros fatores, acentuaram o declínio da produção
de açúcar e aumentaram os problemas econômicos e sociais da região.
As grandes propriedades rurais sempre foram controladas por latifundiários ou coronéis, como ficaram
conhecidos os grandes fazendeiros nordestinos. Ainda no século XX, a débil economia regional sob o
domínio do coronelismo acentuou a extrema pobreza da população nordestina, em especial a do
sertanejo, habitante das vastas áreas de caatinga. Para a maioria dessa população, castigada pelo
precário desenvolvimento econômico, não restou outra opção senão migrar para outras regiões do país.

O Nordeste Atual: Economia, Recursos Naturais e População


A implantação de polos industriais e de agricultura modernizada vem transformando a economia
nordestina. Porém, apesar dos avanços econômicos, o Nordeste ainda figura abaixo da média nacional
no que diz respeito ao desenvolvimento humano e à qualidade de vida.
A economia nordestina mostrou-se mais dinâmica desde as últimas décadas do século XX. Entre as
razões desse dinamismo estão o desenvolvimento industrial e o avanço dos setores agrário e de serviços.
Com a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em 1959, o setor
secundário ou industrial do Nordeste recebeu a maior parte dos investimentos. Como consequência,
houve a montagem de importantes e modernos centros industriais. No entanto, apenas uma parcela muito
reduzida da população nordestina foi beneficiada, já que as indústrias se concentraram principalmente
em três estados (Bahia, Pernambuco e Ceará), particularmente nas capitais, com destaque para as de
transformação e de confecções.
Com a política de desconcentração industrial, a partir da década de 1990, os governos estaduais da
Região Nordeste têm investido em infraestrutura e oferecido vantagens, como incentivos fiscais visando

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atrair indústrias para seus territórios. Entretanto, a implantação de uma indústria, em geral bastante
automatizada, abre poucos postos de trabalho, quase sempre mais qualificados, além de contribuir com
impostos reduzidos. Assim, apenas algumas empresas transnacionais ou de capital nacional acabam
sendo as mais beneficiadas.
Quanto ao setor agrícola, destacam-se duas importantes monoculturas cultivadas na Zona da Mata;
a cana-de-açúcar, especialmente em Alagoas e Pernambuco, e o cacau, no sul da Bahia.
No Meio-Norte, além da agricultura tradicional (cana, soja, mandioca, arroz) e do extrativismo
vegetal (babaçu, carnaúba), têm crescido as plantações de soja no sul dos estados do Maranhão e do
Piauí – cultivo que se estende até o sertão, chegando ao oeste da Bahia.
No Sertão, caracterizado pelo clima semiárido, solos pedregosos e vegetação de caatinga, subsiste a
agricultura tradicional cultivada nos vales mais úmidos e nas encostas e pés de serras. Milho, arroz, feijão,
mandioca, algodão e cana-de-açúcar são as principais culturas.
A fruticultura irrigada do Nordeste adquire cada vez mais importância não apenas no mercado
interno, mas também para a exportação. É desenvolvida no Vale do Rio São Francisco (uva, manga), no
Vale do Rio Açu no Rio Grande do Norte (melão, manga) e no Sertão do Ceará (acerola, melão). A maior
região produtora de melão no país localiza-se no polo Açu/Mossoró, no Rio Grande do Norte, e o polo
Petrolina/Juazeiro firmou-se como grande exportador de manga, banana, coco, uva, goiaba, melão e
pinha.
Mão de obra barata e disponível, preços atrativos das terras e a localização da Região Nordeste em
relação à Europa e aos Estados Unidos (reduzindo o tempo e o custo de transporte) conferem vantagens
à fruticultura na região. O desenvolvimento de tecnologias (criação de variedades de frutas, produção
integrada, produção de mudas sadias, entre outras) e o aperfeiçoamento de técnicas de irrigação foram
essenciais para o crescimento da atividade.
Na pecuária predomina a criação de animais de pequeno porte como asininos (jumentos, mulas e
burros), caprinos (cabras), ovinos (ovelhas) e suínos (porcos). A criação de bovinos (bois),
tradicionalmente desenvolvida no Sertão de forma extensiva, vem crescendo também em áreas do
Agreste próximas ao Sertão, com solos de baixa fertilidade e pouca umidade, e em áreas do Maranhão.
A pecuária leiteira, na modalidade extensiva e voltada para o abastecimento da Zona da Mata, é praticada
no Agreste.
No Agreste ainda se desenvolve a policultura comercial para o abastecimento da Zona da Mata, em
médias e pequenas propriedades. É praticada em solos férteis com boas condições de umidade, na
fronteira com a Zona da Mata.
O turismo desenvolvido a partir das potencialidades naturais é outra atividade econômica de grande
importância para a região.

Turismo Garante Expansão Regional


“No ranking das dez cidades mais visitadas do Brasil por estrangeiros em 2008, o Nordeste emplacou
três capitais. Salvador, Recife e Fortaleza ocuparam o terceiro, o sexto e sétimo postos, respectivamente,
na escolha dos visitantes internacionais. À sua maneira, com sol, praias e características culturais
diferenciadas, a região contribuiu para que o país se tornasse o sétimo maior destino mundial dos turistas
estrangeiros no ano de 2012 – e o mais movimentado ponto de desembarque de visitantes com origem
na América Latina, desbancando o México. [...] A multiplicação dos voos regulares entre capitais como
Salvador e Recife – no ano 2000 havia apenas uma linha regular – e diferentes pontos da Europa e dos
Estados Unidos contribuiu de maneira decisiva para o incremento do fluxo de turistas estrangeiros. Os
desembarques internacionais na região cresceram 11,9% em 2008 em relação ao ano anterior. O maior
volume de chegadas de estrangeiros teve um reflexo direto na elevação das taxas de emprego no setor
de turismo na região, com um aumento de 5,7% no mesmo período”. (ROCHA, M.; DAMIANI, M. Turismo garante expansão
regional. O Estado de São Paulo, São Paulo, 10 dezembro 2009).

O Nordeste conta com diversos parques nacionais, entre eles o da Serra da Capivara (PI), com grande
concentração de sítios arqueológicos e pinturas rupestres, o Parque Nacional Marinho de Fernando de
Noronha (Distrito Estadual de Pernambuco) e o Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA). Entre os
eventos culturais que atraem turistas estão o carnaval (com destaque para Salvador, Olinda e Recife), as
festas juninas (Caruaru, Campina Grande, etc.), as danças e comidas típicas e o artesanato (rendas,
cerâmicas) da região.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), ligada à ONU,
instituiu uma lista de sítios e monumentos de valor excepcional e de interesse universal, que integram o
Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Humanidade. O objetivo é a preservação desses sítios para
as gerações futuras. A Região Nordeste abriga grande número de Patrimônios Culturais e Naturais da

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Humanidade, como o centro histórico de Olinda (PE), de São Luís (MA) e de Salvador (BA), com o
Pelourinho, além dos sítios arqueológicos de São Raimundo Nonato no Parque Nacional da Capivara
(PI).
Em relação aos recursos naturais, o Rio Grande do Norte se sobressai como o maior produtor de sal
marinho do país. Destacam-se também o petróleo e o gás natural, extraídos no Ceará, Sergipe, Rio
Grande do Norte e na Bahia.

Indicadores Sociais e Urbanização


A Região Nordeste ainda responde pelos índices de qualidade de vida mais baixos do país. Problemas
sociais como elevadas taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo, baixos salários, grande
concentração de renda e terras também alcançaram números que superam os de outras regiões.
Em 2009, 6,8% das crianças de 7 a 14 anos de idade não sabiam ler e escrever no país. No Nordeste,
esse percentual chegava a 11,8%. A média de anos de estudo da população de 15 anos ou mais de
idade, naquele mesmo ano, era mais baixa no Nordeste, de 6,3 anos, enquanto no Sudeste chegava a
8,2 anos. Cerca de 36,3% dos núcleos familiares nordestinos tinham rendimento de até meio salário
mínimo per capita, contra apenas 12,2% no Sudeste.
De povoamento antigo, a Zona da Mata continua sendo a sub-região mais importante do Nordeste,
concentrando seis capitais e a maior parte da população. Salvador e Recife são as principais cidades,
destacando-se ainda como áreas industriais.

As Sub-Regiões Geoeconômicas
Considerando os aspectos econômicos, é possível identificar sete sub-regiões no Nordeste brasileiro.
Em cada uma delas, existem polos de intensa modernização, que convivem com as atividades
econômicas tradicionais:

Litoral - concentra cerca da metade da maior parte da população e abriga os três maiores polos
urbano-industriais nordestinos: Salvador, Recife e Fortaleza. Na Grande Salvador, o destaque é o Polo
Petroquímico de Camaçari, principal complexo industrial do Nordeste, que integra o refino de petróleo, a
petroquímica básica e intermediária e a produção de resinas. A Grande Recife, por sua vez, abriga o
Porto Digital, principal polo tecnológico do Nordeste, e o Complexo Industrial-Portuário de Suape,
instalado na década de 1970, com cerca de 100 empresas e no qual se encontram em implantação uma
refinaria de petróleo, uma siderúrgica e um grande estaleiro. Em Fortaleza, destacam-se as indústrias
intensivas em mão de obra, tais como a têxtil e a de calçados, e o Complexo Industrial e Portuário do
Pecém, inaugurado em 2002 e concebido para receber indústrias de base tais como a Companhia
Siderúrgica do Pecém, um consórcio entre a brasileira Vale e duas empresas coreanas, em implantação.

Pré-Amazônia - inserida apenas no Maranhão, essa região geoeconômica apresenta predomínio de


atividades agrícolas tradicionais, marcadas pela baixa produtividade. Entretanto, nos últimos anos, a
região vem registrando aumento da área dedicada ao cultivo de grãos, em especial soja e milho, bem
como uma intensa atividade de exploração madeireira.

Parnaíba - abriga o polo de Teresina, maior aglomeração industrial interiorizada do Nordeste, com
destaque para as indústrias têxtil, de alimentos, de cerâmica e madeireira.

Sertão - embora haja a predominância da pecuária e da agricultura tradicionais, abriga polos industriais
modernos, tais como o setor calçadista em Sobral e Crato, no Sertão cearense, e o polo gesseiro do
Araripe, no Sertão pernambucano.

Agreste - o dinamismo econômico da sub-região vem crescendo com a implantação de indústrias


têxteis, de calçados e de confecções, especialmente em Campina Grande (PB), Caruaru (PE) e Feira de
Santana (BA), e pelo aumento da produtividade das bacias leiteiras, instaladas em Pernambuco e
Alagoas.

São Francisco - destaque para as práticas de fruticultura irrigada, especialmente nos polos geminados
de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).

Cerrado - sub-região de intenso crescimento econômico, devido à implantação da agroindústria da


soja, do milho e do algodão. Alguns de seus centros urbanos, tais como Barreiras (BA), Luis Eduardo
Magalhães (BA) e Balsas (MA), vêm apresentando grande crescimento econômico, graças à instalação

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de modernas indústrias de beneficiamento, produzindo principalmente óleo e farelo. A maior parte da
produção destina-se à exportação e é escoada pelas ferrovias Norte-Sul e Carajás até o porto de Itaqui
(MA).

Nordeste: sub-regiões geoeconômicas

Região Sudeste

Grande parte do território da Região Sudeste é dominada por formações planálticas, com destaque
para os Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste, constituídos pelos cinturões orogênicos, e
os Planaltos da Bacia Sedimentar no Paraná.
O surguimento da Placa Tectônica Sul-Americana, entre o final do Período Cretáceo e o início do
Paleógeno, movimentou antigas linhas de falha e provocou a formação de escarpas acentuadas com
elevadas altitudes, como as da Serra da Mantiqueira e da Serra do Mar. Assim, com exceção dos picos
do Maciço das Guianas, no extremo norte do país, é no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais
que se encontram os pontos mais altos do Brasil. Em 2004, o IBGE, em parceria com o Instituto Militar de
Engenharia (IME), revisou as altitudes desses pontos, utilizando recursos mais modernos de sistema de
navegação e posicionamento por satélites.
A Serra do Espinhaço corta Minas Gerais desde as proximidades de Belo Horizonte até o Vale do
Rio São Francisco, podendo ser subdividida em dois compartimentos de planaltos: o planalto meridional
e o planalto setentrional, ricos em minérios (ferro, bauxita, ouro). Em 2005, a Unesco reconheceu esse
conjunto de planaltos da Serra do Espinhaço como Reserva da Biosfera, pela diversidade ambienta e
histórica do local. Além de integrar pontos culturais importantes como Congonhas, Ouro Preto e
Diamantina, é o divisor de águas entre as bacias hidrográficas do São Francisco, Doce e Jequitinhonha,
e apresenta a biodiversidade florística mas risca dos campos rupestres do planeta.
A superfície do Planalto Atlântico foi bastante desgastada pelos processos erosivos, formando um
relevo dominante de morros com topos convexos, denominados mares de morros. Entre os Planaltos e
as Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto Atlântico, encontram-se as depressões
periféricas, superfícies bastante erodidas entre o Paleógeno e o Quaternário (há cerca de 70 milhões de
anos). Nesses compartimentos do relevo da Região Sudeste, os terrenos apresentam altitudes menores,
sendo delimitados pelos Planaltos Sedimentares da Bacia do Paraná por escarpas denominadas frentes
de cuestas.
Do norte do Espírito Santo ao sul do Estado de São Paulo, há um conjunto diversificado de ambientes
costeiros. Nesse trecho do litoral brasileiro, de formação cenozoica, existem inúmeras restingas, baías
e ilhas costeiras. Entre as primeiras, destacam-se as de Marambaia e Cabo Frio, ambas localizadas no
litoral do Rio de Janeiro. Entre as baías, as mais conhecidas são as de Guanabara (RJ), Parati (RJ),
Vitória (ES), Angra dos Reis (RJ) e Santos (SP).
O clima tropical predomina na Região Sudeste. No oeste paulista, parte do Triângulo Mineiro e na
porção centro-norte de Minas Gerais, o padrão climático tropical apresenta duas estações bem

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demarcadas, com o verão muito chuvoso e o inverno seco. Na faixa litorânea, o volume e a frequência
das chuvas são maiores. Ao contrário, no norte de Minas Gerais, as chuvas são escassas e irregulares.
O clima tropical de altitude abrange as regiões serranas de São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas
Gerais. Por fim, o clima subtropical ocorre no extremo meridional do território paulista, ao sul do Trópico
de Capricórnio.
Originalmente, a mata tropical era a cobertura de vegetação dominante no Sudeste, refletindo o
padrão climático regional. Na depressão periférica e nas regiões mineiras com a estação seca mais
acentuada, predominavam os cerrados. Tanto a Mata Atlântica como o Cerrado foram amplamente
devastados no processo de formação territorial da Região Sudeste.

População e Dinâmica Espacial


O Sudeste é a região mais populosa do Brasil. Em 2011, contava com mais de 82 milhões de
habitantes, o que representava 42% do total da população brasileira. No entanto, esse contingente
populacional está desigualmente distribuído pelo território. São Paulo concentrava 41,3 milhões, Minas
Gerais, 19,6 milhões e o Rio de Janeiro, quase 16 milhões de pessoas. Entre esses estados mais
populosos, o Rio de Janeiro possuía a maior densidade demográfica (365,23 hab./km²), seguido por São
Paulo (166,25 hab./km²). Ainda que a densidade demográfica média, na época, era de apenas 86,92
habitantes por km², as regiões litorâneas são mais densamente povoadas, podendo atingir 10 mil
habitantes por km² nas maiores cidades.
A partir de 1940, São Paulo tornou-se o estado mais povoado do Brasil. Esse crescimento foi povoado
pelos fluxos internos de migrantes em busca de trabalho, sobretudo do Nordeste. Na década de 1970,
os migrantes foram responsáveis por mais de 40% do crescimento demográfico do estado.
Além disso, houve também grande mobilidade populacional entre os estados da própria região. Entre
2005 e 2010, mais de 500 mil pessoas de Minas Gerais se deslocaram em direção a São Paulo, um
contingente superior aos migrantes da Bahia, que representaram 21% dos fluxos de chegada, cerca de
230 mil pessoas. Apesar do registro de fluxos de regresso de São Paulo para os estados de origem, entre
2005 e 2010 São Paulo registrou saldo migratório positivo, indicando que o território paulista ainda exerce
atração da população migrante. Nesse intervalo, São Paulo foi o Estado que recebeu o maior número de
migrantes (1,1 milhão), seguido do Rio de Janeiro (270 mil). Entretanto, a participação no componente
migratório no crescimento da população do estado vem perdendo intensidade desde a década de 2000.
Entre as regiões brasileiras, a Sudeste foi a primeira a se tornar majoritariamente urbana e é também
a que apresenta a maior taxa de urbanização. Enquanto o cruzamento das curvas de crescimento das
populações rural e urbana no Brasil ocorreu na década de 1960, essa reversão de proporcionalidade no
Sudeste ocorreu já nos anos 1950.

Região Norte

Desafios Estratégicos
O desenvolvimento socioeconômico da Região Norte é uma questão nacional estratégica que se
relaciona com a exploração dos recursos da Amazônia brasileira. A região, que conta com mais de 15,8
milhões de habitantes, que produzem 5,3% do PIB brasileiro, ainda é defasada em muitos indicadores
sociais.
Referente ao conflito entre o modelo de desenvolvimento econômico da Região Norte e a preservação
ambiental, observa-se que ao mesmo tempo que as atividades agropecuária e mineradora contribuem
para a geração de riqueza na Amazônia, causam degradação ambiental de grandes áreas de floresta.
Quanto à distribuição da população da Região Norte, ela se concentra, sobretudo, nas capitais dos
dois maiores estados da região: Belém e Manaus. A ocupação mais efetiva de Rondônia, de Tocantins e
da porção leste do Pará denota o avanço da atividade agropecuária sobre a Floresta Amazônica.
A região amazônica pertence a sete países, além do Brasil. A construção de diversos eixos rodoviários
garantiu a articulação da região ao território nacional.

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Evolução do desmatamento na Amazônia Legal (1988-2016)

http://www.inpe.br/noticias/arquivos/imagens/img02_291116.jpg.

A Conquista da Amazônia
Colonizada inicialmente pelos espanhóis e cobiçada por ingleses, franceses e holandeses, a bacia
amazônica foi ocupada pelos portugueses, o que garantiu a posse ao Império brasileiro.

Com cerca de 7,8 milhões de km² que abrangem oito países - Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia,
Venezuela, Guiana e Suriname - e a Guiana Francesa, a Amazônia Internacional é uma região natural
formada pela floresta equatorial e por seus ecossistemas associados. A maior parte dessa área, marcada
pelos climas quentes e úmidos, está assentada no interior da bacia fluvial amazônica.
Com exceção da Guiana Francesa, departamento da França, os outros países firmaram em 1978 o
Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), cujas metas são a cooperação científica, a preservação
ambiental, o uso racional dos recursos hídricos e o desenvolvimento regional. O Brasil ocupa um papel
de destaque nas políticas do TCA, pois abriga mais de 64% região.
No sentido político, porém, a Amazônia começou a se configurar antes mesmo da independência
desses países, quando a região passou a ser explorada pelas Coroas de Espanha e de Portugal.

Amazônia Internacional

http://2.bp.blogspot.com/-pqRZs_1PEjo/VqZlvt5749I/AAAAAAAACnI/acPXCXEwenE/s1600/amazonia-legal-brasileira-regiao-norte-2.jpg.

Na Amazônia Internacional há outros países com percentual maior de superfície territorial coberta pela
Floresta Amazônica, como o Peru, a Guiana e o Suriname. Porém, o Brasil detém a maior parte do bioma
amazônico.

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A Amazônia Internacional – Porção do bioma amazônico em cada país (% da superfície)

A Amazônia Internacional – Repartição do bioma amazônico entre os países (em %)

A Ocupação Portuguesa
Nos termos do Tratado de Tordesilhas (1494), grande parte da Bacia Amazônica pertencia à Coroa
espanhola. Em 1541, uma expedição comandada pelo espanhol Gonzalo Pizarro, irmão do conquistador
do Império Inca, Francisco Pizarro, partiu de Quito em busca dos lugares lendários que supostamente
havia nessas terras florestadas: o "País da Canela", onde a especiaria brotava em abundância, e o "EI
Dorado", com suas enormes jazidas de ouro.
Ninguém sabe ao certo quantas pessoas integraram essa expedição, mas estima-se que ela contava
com algumas centenas de soldados espanhóis e milhares de indígenas, muitos dos quais padeceram de
fome e de frio na travessia da Cordilheira dos Andes.
Em algum ponto da viagem, quando os expedicionários já estavam bastante debilitados, Gonzalo
encarregou um grupo, liderado por seu primo Francisco de Orellana, de seguir pelo rio em busca de
alimentos.
Entretanto, em vez de retornar com as provisões, o grupo de Orellana prosseguiu no curso do rio que
hoje chamamos de Amazonas, viajando nove meses até alcançar a foz, em agosto de 1542.
O diário de viagem do frei Gaspar de Carvajal, um dos integrantes do grupo, é o primeiro relato de uma
jornada completa pelo Rio Amazonas, dos Andes até o Oceano Atlântico. Apesar de seu valor histórico,
o diário não é um documento confiável, já que o frei se esforça em ressaltar os percalços enfrentados
durante a viagem para justificar o descumprimento da ordem de regressar o mais rápido possível, levando
alimentos para a expedição de Pizarro. A descrição do terrível combate travado com as guerreiras
amazonas, que lutavam com a força comparada à de muitos homens e exerciam o poder sobre diversas
tribos indígenas, reforça o caráter fantasioso do documento.
Nos anos seguintes, diversas outras expedições comandadas pelos espanhóis percorreram trechos
da Bacia Amazônica, sempre animadas pela busca de tesouros. Porém, o interesse pela região logo seria
ofuscado pela descoberta das imensas jazidas de prata na região de Potosí (atual Bolívia), que atraiu
grande parte dos exploradores e aventureiros espanhóis.
Enquanto isso, franceses, ingleses e holandeses, inimigos tradicionais dos espanhóis, estabeleciam
feitorias no baixo curso do Rio Amazonas.
Durante a União Ibérica (1580-1640), período no qual Portugal e Espanha formaram uma única
monarquia, os portugueses começaram a se estabelecer na foz do Amazonas. No início do século XVII,
as expedições pelo Amazonas tornaram-se oficiais. Partiam da foz e eram organizadas para expulsar
holandeses e ingleses, senhores de muitas feitorias ao longo do curso dos rios, e impedir o contrabando
de produtos nativos, como madeira e pescado.
Com o fim da União Ibérica, a Coroa portuguesa intensificou a ocupação militarizada da região,
erguendo uma rede de fortificações lusitanas ao longo da calha central do Rio Amazonas. Entre eles,
destaca-se o Forte de São José do Rio Negro, criado em 1668, em torno do qual surgiu o arraial de Lugar
da Barra, mais tarde elevado à categoria de vila e, depois, de cidade, com o nome de Barra do Rio Negro.

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Em 1856, a cidade foi rebatizada e passou a se chamar Manaus, em homenagem aos índios da etnia
manaó.
Para preservar a hegemonia na região, a Coroa ainda estimulou a ação das missões religiosas, que
utilizavam a mão de obra indígena na coleta das "drogas do sertão" e na produção de alimentos.
No entanto, foi em meados do século XVIII que o Império Português de fato consolidou sua soberania
na área, criando o estado do Grão-Pará, com capital em Belém. Na nova estrutura política e
administrativa, o Grão-Pará, marcado pelas baixas densidades demográficas e pelo extrativismo, passou
a ser uma unidade distinta de Estado do Brasil.
Com a independência do Brasil em 1822, o estado do Grão-Pará foi dissolvido e tornou-se parte do
Império Brasileiro, cujo poder administrativo concentrava-se no Rio de Janeiro. No entanto, dada a
precariedade das suas redes de transporte e comunicações, a região permaneceu durante muito tempo
isolada do centro político e econômico do país.

A Conquista da Fronteira Interna


O empreendimento de conquista e incorporação efetiva da vasta porção setentrional do Brasil teve
início após a Revolução de 1930, marcada pela centralização do poder, e prosseguiu nas décadas
seguintes, quando a Amazônia Legal se tornou uma região de planejamento.
As políticas que orientaram essa conquista geraram um conflito entre dois tipos de ocupação do espaço
regional. O povoamento tradicional, em grande parte herdeiro das atividades missionárias, marcado
pelo extrativismo e pela agricultura de excedente, consistiu numa ocupação linear e ribeirinha, assentada
na circulação fluvial e na rede natural de rios e igarapés: a "Amazônia dos rios". O novo povoamento
seguia a trajetória dos eixos de circulação viária, na qual eram implantados núcleos urbanos e projetos
florestais, agropecuários e minerais; é a chamada "Amazônia das estradas".
O conflito entre o modo de ocupação tradicional e o moderno, representado pelos eixos viários,
expressou-se na tensão social que envolveu índios, posseiros e grileiros. Até os dias atuais, as disputas
por terra configuram um "arco de violência" nos municípios da Amazônia Legal.
De outro lado, a conquista da Amazônia resultou na modificação antrópica das paisagens e na
degradação progressiva dos ecossistemas naturais. Um "arco da devastação" demarca as áreas de
ocupação recente do Grande Norte. Nos estados de Tocantins, Pará e Maranhão, a devastação antrópica
atinge formações do Cerrado, da Floresta Amazônica e da Mata dos Cocais. No Mato Grosso e Rondônia,
manifesta-se com intensidade no Cerrado, na Floresta Amazônica e nas largas faixas de transição entre
esses domínios.

Focos de calor na Amazônia – 2000/2010

Os focos de calor marcam a ocorrência das queimadas que abrem os terrenos para as atividades
agropastoris ou minerais, resultando em um arco de devastação dos ecossistemas amazônicos.

Os Novos Eixos de Integração e a Ocupação do Espaço Amazônico


A construção de rodovias foi fundamental para a inserção da região amazônica nos fluxos e circuitos
econômicos nacionais. Belém e Manaus são os dois centros urbanos que polarizam a rede urbana
regional.

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As políticas voltadas para a conquista integraram a Amazônia às dinâmicas territoriais nacionais. Esse
processo se realizou por meio de dois vetores.
Um primeiro vetor estruturou-se originalmente na década de 1960, em torno do eixo viário da Belém-
Brasília. Nas décadas seguintes, a exploração dos minérios da Serra de Carajás, a implantação da E. F.
Carajás e do Porto de Itaqui e a construção da hidrelétrica de Tucuruí reforçaram esse vetor, estendendo-
o até São Luís (MA).
Uma vasta mancha de povoamento, nucleada por áreas de intensa modificação das paisagens
naturais, desdobrou-se de sul a norte no estado de Tocantins e avançou pelas porções meridional e
oriental do Pará e por todo o oeste maranhense.
Um segundo vetor estruturou-se a partir da década de 1970, em torno do segmento sul da Cuiabá-
Santarém (BR-163) e da Brasília-Acre (BR-364). Portanto, a integração viária com o Centro-Oeste
ocorre através de Rondônia, até Rio Branco, no Acre. Ao longo desse eixo aparecem as principais áreas
de desflorestamento, associadas à expansão da fronteira agrícola.
No norte de Mato Grosso e em Rondônia, a colonização agrícola impulsionada por migrantes do
Centro-Sul originou dezenas de novos núcleos urbanos. Ao mesmo tempo, a criação e consolidação da
Zona Franca de Manaus (ZFM) transformava a capital amazonense em importante centro industrial e
reforçava seus vínculos externos com os capitais e mercados do Centro-Sul.

Os Novos Caminhos para Manaus


Na década de 1980, a ocupação intensiva de Roraima foi facilitada pela pavimentação da rodovia
Manaus-Boa Vista (BR-174), que atravessa a fronteira setentrional do país, interligando-se às rodovias
da Venezuela. Ao longo do seu eixo, na porção central de Roraima e nas proximidades de Manaus,
surgiram em poucos anos largas faixas de devastação. A construção dessa estrada e a concomitante
implantação do imenso reservatório da hidrelétrica de Balbina desfiguraram a reserva indígena Waimiri-
Atroari, localizada no vale do Rio Jauaperi, a oriente do Rio Branco. A BR-174 foi a primeira rodovia
pavimentada a alcançar Manaus, que até então só podia ser atingida por via fluvial ou aérea.
O novo eixo destina-se a projetar a influência da ZFM para os países vizinhos. A produção industrial
do enclave amazonense é parcialmente responsável pelo superávit do Brasil nas trocas comerciais
realizadas com a Venezuela e pode impulsionar os fluxos de comércio do país com as economias centro-
americanas.
No entanto, o isolamento físico do enclave de Manaus está sendo rompido em outra direção. O projeto
de pavimentação da Porto Velho-Manaus (BR-319) pretende conectar a metrópole da Amazônia
Ocidental e o vetor de ocupação estabelecido em Rondônia. Com a Hidrovia do Madeira, essa estrada
tem como objetivo consolidar um corredor de exportação para os produtos agrícolas de Rondônia e Mato
Grosso, através do Rio Amazonas.
O eixo em implantação pode acarretar, porém, nova frente de devastação da Floresta Amazônica. A
fronteira agrícola de Rondônia já se moveu até Humaitá, no sudoeste do Amazonas, primeira cidade
alcançada pela pavimentação da BR-319. Em torno da cidade, uma larga mancha de desflorestamento
assinala a abertura da floresta para a exploração da madeira, acompanhada pelo avanço da
agropecuária.

Os Impactos da BR-319
"Se por um lado a construção e a pavimentação de estradas na Amazônia geram benefícios na forma
de redução de custos de transportes, por outro lado impulsionam o desmatamento, os conflitos sociais e
a ilegalidade. A eficiência econômica e os efeitos diversos dos projetos precisam ser identificados e
instrumentos que garantam uma distribuição mais equânime de custos e benefícios entre os atores
afetados precisam ser implantados.
Neste estudo, utilizamos a análise custo-benefício para avaliar a eficiência econômica do projeto de
recuperação do principal segmento da Rodovia BR-319, localizado entre os quilômetros 250,00 e 655,70,
no estado do Amazonas, de forma a contribuir com a discussão dessas questões. Este trecho encontra-
se fortemente deteriorado e virtualmente intransitável desde 1986.
Planeja-se sua recuperação dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo
Federal.
[...] As obras aqui analisadas, com custo de implantação de cerca de 557 milhões de reais, incluem a
recuperação e a pavimentação da rodovia e a construção de quatro novas pontes entre Manaus e Porto
Velho, o que viabilizará o tráfego continuado entre Manaus e o resto do país.
A análise [...] demonstra que o projeto é inviável economicamente, gerando prejuízos de cerca de 316
milhões de reais, ou 33 centavos de benefícios para cada real de custos, em valores atuais. Isso significa

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que para que o projeto alcance viabilidade econômica, os benefícios brutos estimados teriam de ser
multiplicados por três. [...]
Modelagens recentes indicam que o projeto provocará forte desmatamento no Interflúvio Madeira-
Purus, com a perda de importantes recursos naturais ainda em excelente estado de conservação, caso
políticas eficazes de contenção do desmatamento não sejam implantadas. Estimamos que o custo
econômico parcial do desmatamento [...] poderia alcançar aproximadamente 1,9 bilhão de reais, em
valores atuais. Destes, 1,4 bilhão corresponderia ao efeito negativo do projeto sobre as mudanças
climáticas globais, valor muito superior aos benefícios brutos gerados pelo projeto, de 153 milhões de
reais." FLECK. Leonardo C. Eficiência econômica, riscos e custos ambientais da reconstrução da rodovia BR-319. Lagoa Santa: Conservação Estratégica, 2009.
p. 19-20.

Redes Urbanas Regionais


Enquanto a Amazônia se integrava ao Centro-Sul, a rede urbana regional tornava-se mais complexa
e diferenciada. Nesse processo, a influência vasta e difusa de Belém sobre todo o espaço amazônico
desvanecia-se, em razão da emergência de Manaus.
Na última década, configurou-se uma situação de dupla polarização, na qual se desenham esferas
de influência distintas das metrópoles do Amazonas.
Durante a década de 1970, com a fronteira agrícola avançando em Mato Grosso e em Rondônia,
ocorreu o acelerado desenvolvimento de Porto Velho e, em grau menor, dos núcleos instalados junto à
rodovia, como Vilhena, Cacoal, Ji-Paraná e Ariquemes.
Na década seguinte, a fronteira agrícola moveu-se até o sul do Acre, acompanhando o trecho
pavimentado da BR-364. Nas áreas das cidades de Xapuri e Brasileia, as atividades madeireiras
avançaram sobre os seringais, provocando conflitos e impulsionando a organização dos seringueiros.

Cenários Futuros: Entre a Devastação e a Tecnologia


Para romper o ciclo de devastação e desigualdade social será preciso o desenvolvimento de políticas
territoriais que valorizem as comunidades locais e a preservação da biodiversidade.
As políticas territoriais amazônicas implementadas pela ditadura militar nortearam-se pela meta
geopolítica de “conquista” da Amazônia. O planejamento regional elaborado nesse contexto
fundamentou-se num conceito distorcido de desenvolvimento, que estimula a acumulação de capital por
grandes empresas e o uso predatório dos recursos naturais. Os largos e extensos corredores de
devastação ambiental e as vastas manchas de desflorestamento, assim como a poluição de rios e
igarapés pelos subprodutos do garimpo, são resultado das opções de planejamento adotadas nesse
período.
As políticas amazônicas dissociaram a noção de desenvolvimento de seu conteúdo social. A abertura
de rodovias de integração e a implantação de grandes projetos geraram intensos fluxos migratórios para
a Amazônia, além do esvaziamento demográfico de várzeas e igarapés. A exclusão social se materializa
nas periferias das cidades médias, nos povoados miseráveis nascidos junto a empreendimentos minerais
e florestais e no surgimento de populações itinerantes, que vagueiam à procura de escassas
oportunidades de trabalho.
O novo ciclo de obras rodoviárias na Amazônia, especialmente a Cuiabá-Santarém (BR-163) e a
Porto Velho-Manaus (BR-319), visa estabelecer a ligação entre Manaus e Porto Velho, mas ameaçava
reproduzir, em escala ampliada, os desastres sociais e ambientais do ciclo anterior. A alternativa consistia
em redefinir o sentido do planejamento regional, priorizando o desenvolvimento social e a valorização dos
ecossistemas naturais. A geração de empregos e a exploração sustentável dos recursos naturais são as
metas a serem perseguidas por um planejamento regional renovado.

Um Zoneamento Econômico e Ecológico


O planejamento regional da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) baseou-
se em estudos de pequena escala, inadequados para a definição das realidades sociais e vocações
ecológicas de áreas de médias e pequenas dimensões. Contudo, um planejamento regional voltado para
o desenvolvimento sustentável não pode abrir mão do reconhecimento dessas áreas e suas
peculiaridades. Atualmente, as imagens de satélite e as técnicas de cartografia computadorizada
fornecem os meios necessários para a elaboração de estudos em média e grande escala, produzindo um
zoneamento econômico e ecológico do imenso espaço amazônico.
A "conquista" da Amazônia deixou como herança um mosaico complexo, no qual vastas áreas de
paisagens naturais quase intactas intercalam-se com zonas de garimpo, grandes projetos e corredores
de devastação. Um zoneamento econômico e ecológico destina-se a elucidar a organização desse
mosaico, criando bases para a seleção de políticas específicas para cada área.

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Um passo inicial consistiria em distinguir os espaços de preservação (reservas indígenas e unidades
de proteção ambiental) dos espaços disponíveis para a valorização econômica, e cartografá-Ios nas
escalas adequadas. Um segundo passo consistiria no planejamento das modalidades de uso do solo, das
instalações de infraestrutura viária e energética e no desenvolvimento urbano dos espaços disponíveis.
O incentivo ao aproveitamento econômico da biodiversidade também pode proporcionar vantagens
econômicas. Os produtos naturais da floresta encontraram novas e sofisticadas aplicações nas indústrias
farmacêutica, de cosméticos e de alimentos. Além disso, as universidades e os institutos científicos da
Amazônia pesquisam técnicas adequadas para o cultivo de espécies como a seringueira e a castanheira.
Esses projetos experimentais sugerem caminhos para a elaboração de modelos agrícolas a serem
implantados em áreas degradadas dos corredores de ocupação.

Desmatamento causado pelo garimpo de diamantes na reserva indígena Roosevelt, em Vilhena (RO, 2007)

Transporte de carga na BR-155, no trecho que liga Marabá e Eldorado dos Carajás (PA, 2013)

Região Sul

Herdeira de uma padrão de colonização baseado em pequenas propriedades voltadas para os


mercados internos, a Região Sul atualmente se destaca na produção industrial e agrícola e apresenta
indicadores sociais acima da média nacional.
Quanto à distribuição populacional, a Região Sul é a mais homogênea do país devido à área reduzida
dessa região e à sua ocupação em pequenas propriedades com produções diversificadas, o que pode
ser relacionado com o processo de ocupação e desenvolvimento de núcleos populacionais no interior dos
estados.
Referente à distribuição de renda, a Região Sul apresenta uma distribuição menos desigual que a
média do Brasil. Enquanto a parcela da população com rendimento mensal de até um salário mínimo é
5,8% menor que a nacional, os percentuais das outras classes de rendimento dessa região são maiores
do que os brasileiros.

Diversificação Econômica
A diversificação em diferentes setores econômicos acarretou transformações sociais na Região Sul. A
modernização da agricultura e o fortalecimento da agroindústria aceleraram o êxodo rural, aumentando a
migração para outros estrados e a ocupação de áreas urbanas.
Por ser a população bem distribuída no território, a estrutura fundiária é a menos desigual do pais. As
terras parceladas em pequenas propriedades são características da agricultura familiar.
Em 2011, mais de 2,7 milhões de pessoas trabalhavam na indústria, compondo na Região Sul o maior
percentual regional de trabalhadores nessa atividade.

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Embora se destaquem as indústrias têxtil e alimentícia na Região Sul, o segundo maior polo industrial
automobilístico brasileiro foi implantado na década de 1990 na Região Metropolitana de Curitiba.

Região Sul: Domínios Naturais


Entre os aspectos naturais da Região Sul destacam-se o clima subtropical, o relevo
predominantemente planáltico e a presença de formações vegetais características, como a Mata das
Araucárias e as pradarias.
A Região Sul é formada pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A região faz
fronteira com três países sul-americanos: a oeste com Paraguai e Argentina, e ao sul com Uruguai. Em
2011, a população da região chegava a 27.875.000 habitantes, ou seja, 14,27% da população do país.
O clima subtropical predomina na região. No inverno, as baixas temperaturas que ocorrem
principalmente nas áreas serranas e planálticas provocam geadas e até neve. Regiões litorâneas e com
menores altitudes, como os vales dos rios Paraná e Uruguai, apresentam temperaturas elevadas no
verão. No norte do Paraná aparece o clima tropical.
Nos três estados da Região Sul predominam os planaltos recobertos originalmente pela Mata das
Araucárias. Os Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná se estendem a oeste do Paraná até o Rio
Grande do Sul, os Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste, a leste, e o Planalto Sul-Rio-
Grandense, no extremo sul. No centro, aparece a Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do
Paraná, e mais ao sul a Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense. No litoral do Rio Grande do Sul
predomina a Planície da Lagoa dos Patos e Mirim.
Ao longo do litoral, os planaltos da Região Sul apresentam escarpas de altitudes mais elevadas: a
Serra do Mar e a Serra Geral. No sudoeste do Rio Grande do Sul destaca-se a Campanha Gaúcha, com
relevo de coxilhas (levemente ondulado) coberto por campos limpos. Essa unidade de relevo é parte
brasileira da vasta planície platina, o Pampa, que abrange também o Uruguai e a Argentina. Nessas
áreas, aprecem os banhados, ecossistemas úmidos ricos em espécies animais e vegetais.

Região Sul – unidades da federação

http://files.planetagaia.webnode.com/200000586-08de109d58/mapa-regiao-sul.jpg.

Grande parte dos rios da Região Sul pertence à Bacia Platina, formada pelos rios Paraná, Paraguai
e Uruguai e afluentes. O Rio Uruguai nasce em território brasileiro, da fusão dos rios Canoas (SC) e
Pelotas (RS), e serve de divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Brasil e Argentina, e Uruguai
e Argentina, desaguando no Estuário do Prata. O Rio Paraná, segunda maior bacia fluvial em área e
potencial hidrelétrico do Brasil, oferece condições de navegabilidade. A Hidrovia Tietê-Paraná tornou-se
um importante sistema de transporte, aproximando o Brasil dos seus parceiros do Mercosul.
Outro problema ambiental que ocorre em áreas do sudoeste do Rio Grande do Sul é o processo de
arenização dos solos, ou seja, o aumento dos depósitos arenosos, dificultando a fixação da vegetação.
Em área subtropical úmida, onde o processo ocorre, a água e os ventos têm importante papel na
mobilidade dos sedimentos.
As enxurradas provocam erosão e os ventos dispersam a areia, formando dunas e expandindo o
processo.
A substituição da vegetação nativa dos pampas e pela pecuária extensiva ou agricultura comercial
explica a degradação dos solos na região. A arenização atinge quase 4 mil hectares, em áreas dos
municípios de Alegrete, São Francisco de Assis, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Uruguaiana,
Quaraí, Santiago, Itaqui, Maçambará, Manoel Viana, São Borja, Unistalda e Cacequi.
No oeste do estado do Paraná, na fronteira com a Argentina, o Parque Nacional do Iguaçu, criado
em 1934 e tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade em 1986. Constitui uma grande reserva

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florestal e inclui parte da cabia hidrográfica do Rio Iguaçu, que percorre todo o estado do Paraná, e as
Cataratas do Iguaçu.

Ocupação Territorial
Iniciada pelos portugueses no século XVII, a colonização da Região Sul ganhou impulso no século
XIX, quando de estabeleceram os principais núcleos de povoamento fundados pr imigrantes europeus.
O território que hoje pertence aos estados da Região Sul inicialmente não fazia parte da América
portuguesa, tendo ficado fora dos limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas. Expedições
exploradoras haviam percorrido a costa no século XVI, mas somente no século XVII começaram as
atividades colonizadoras na região.
Com o domínio espanhol sobre Portugal (1580-1640), o Tratado de Tordesilhas perdeu sua validade,
uma vez que todas as terras pertenciam ao monarca espanhol. Colonos portugueses então se
estabeleceram em territórios espanhóis, adquirindo para Portugal soberania sobre essas áreas. Jesuítas
ultrapassaram a linha de Tordesilhas ao sul, fundando missões em áreas da campanha gaúcha, onde
índios aldeados criavam gado - trazido dos territórios que formaram o Uruguai e a Argentina - e plantavam
erva-mate. Outros povoados também foram fundados, como o de Nossa Senhora do Desterro, atual
Florianópolis.
Ainda no século XVII, os bandeirantes pau listas iniciaram o apresamento dos índios aldeados nas
missões - que se destinavam à sua proteção e catequese - para vendê-las às capitanias luso-espanholas,
produtoras de açúcar.
Com a expulsão dos holandeses do Nordeste (1654), o tráfico negreiro voltou a abastecer os
engenhos. No entanto, quando o domínio espanhol chegou ao fim, as missões estavam praticamente
destruí das; o gado, solto, começou a se reproduzir nos campos do sul. Tropeiros paulistas, índios
aldeados e pessoas errantes passaram então a se dedicar à caça do gado selvagem e ao comércio de
couro.
Com a descoberta de ouro e o desenvolvimento das minas gerais durante o século XVIII, os tropeiros
desenvolveram um novo negócio: caçavam os animais, reuniam estes em currais e os transportavam até
as áreas mineradoras.
À Coroa portuguesa, porém, interessava garantir a posse das terras do sul. Para isso, na metade do
século XVIII, Portugal enviou casais de açorianos ao território do atual Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina, especialmente para a faixa litorânea, com o objetivo de povoar a região. Lotes de terras também
foram doados a tropeiros, que, além de se fixar na área, deram início à criação do gado em grandes
estâncias - atividade que se transformaria numa das mais importantes do atual Rio Grande do Sul.
No século XIX, surgiram diversos núcleos de povoamento na Região Sul. Em 1808, famílias de
açorianos fundaram a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Os primeiros imigrantes alemães se
dirigiram para a atual cidade de São Leopoldo, no vale do Rio dos Sinos, em 1824. Os italianos chegaram
a partir de 1875 e foram assentados em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi.
Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, os alemães formaram colônias de povoamento baseadas
no cultivo de trigo e da policultura, ao passo que os italianos dedicaram-se ao cultivo da uva. No Paraná,
imigrantes eslavos voltaram-se para o extrativismo de madeira. Estavam lançadas as raízes de uma
economia rural diversificada, baseada na policultura e no trabalho familiar.

Região Sul: Dinâmicas Econômicas


Na Região Sul, os ramos industriais que mais se desenvolveram utilizam como matéria-prima os
produtos da agropecuária. Porto Alegre e Curitiba, porém, destacam-se pela diversidade de seus parques
industriais, que incluem também os setores metalúrgico e automobilístico.
No século XVIII, teve início uma das primeiras e mais importantes atividades econômicas da Região
Sul- a pecuária. Preocupada em garantir a posse das terras na área, evitando o avanço espanhol, a Coroa
portuguesa passou a distribuir lotes de terras aos tropeiros, permitindo que os rebanhos soltos, quase
dizimados pela caça e venda na região mineradora, passassem a ser criados em grandes estâncias, de
forma extensiva, espalhando-se pelo território do atual Rio Grande do Sul. Formava-se, assim, uma classe
de grandes pecuaristas, que comercializavam charque ou carne-seca.
Na região do atual Paraná, a extração das folhas dos arbustos de erva-mate teve início ainda no século
XVII, e aos poucos se transformou em uma das principais atividades econômicas da Região Sul. Na
segunda metade do século XIX, foi a vez do café. As primeiras fazendas já ocupavam o norte paranaense
quando agricultores mineiros e paulistas levaram mudas para a região.
No século XX, a Região Sul modernizou-se seguindo o contexto brasileiro e mundial, mas de acordo
com características próprias resultantes da base econômica, social e cultural construída durante os
períodos colonial, imperial e republicano, com importantes contribuições dos imigrantes. Nas áreas

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urbanas o artesanato familiar evoluiu para a moderna e diversificada atividade industrial. Nas áreas rurais,
as pequenas e médias propriedades familiares se expandiram. Como resultado, a Região Sul apresenta
indicadores sociais favoráveis em relação a outras regiões brasileiras. Em 2010, dados do IBGE
indicavam menor taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais (5,5%), as menores taxas de
mortalidade infantil (15,10%) e a mais alta esperança de vida ao nascer (75,2 anos). Observe a tabela.

Agropecuária
Em 2012, o Paraná respondia por 19.1 da produção agrícola nacional; o Rio Grande do Sul estava em
terceiro lugar, com 12.1, e Santa Catarina, em nono lugar, com 3,6. No que diz respeito à produção de
cereais, leguminosas e oleaginosas, o Sul perde apenas para o Centro-Oeste.
Na Região Sul, a produção agropecuária pode estar associada à indústria: é o caso da cultura da uva
à fabricação de vinhos, do cultivo do milho à criação de frangos e porcos ou da pecuária leiteira às usinas
de leite e fábricas de laticínios.
A modernização da agropecuária tem provocado mudanças na estrutura agrária em toda a Região Sul,
com o aumento da concentração fundiária e dos movimentos de luta pela terra, a partir da década de
1980. Pequenos proprietários e trabalhadores rurais perderam suas terras e trabalho, tendo como
consequência o aumento de boias-frias e de migrações para as cidades, para outras regiões ou mesmo
para outros países, como o Paraguai.
Nas pastagens naturais da Região Sul desenvolve-se a pecuária extensiva de corte, geralmente em
grandes propriedades e com poucos trabalhadores.

Indústria e Tecnologia
Os ramos industriais na Região Sul evoluíram inicialmente graças às matérias-primas fornecidas pela
agropecuária - couro e calçados (pecuária), móveis (pinho), têxteis (algodão) e bebidas (uva, mate).
O maior centro industrial da Região Sul é Porto Alegre. Bastante diversificado, conta com indústrias
alimentícias, de fiação e tecelagem, de produtos minerais não metálicos, siderúrgicas, mecânicas, de
material eletrônico, químicas, de couros e de bebidas. Rio Grande, Pelotas e Caxias do Sul destacam-se
nos setores de alimentos, tecidos, móveis e calçados. O complexo metal mecânico desenvolveu-se em
Gravataí, Canoas, Guaíba e Cachoeirinha. São Leopoldo e Novo Hamburgo são importantes pelos da
cadeia produtiva de artigos de couro. Em São Leopoldo está se formando um importante polo de
informática. A indústria automobilística ganhou força com a instalação de uma grande fábrica em Gravataí,
na Grande Porto Alegre, em 2000.
No Rio Grande do Sul, as aglomerações industriais se caracterizam por empresas que inovam e
diferenciam produtos, ou seja, a dinâmica industrial nessa região é influenciada por empresas de maior
conteúdo tecnológico.
Pequenas e médias empresas têm se destacado na busca de alternativas competitivas.
O setor industrial de Santa Catarina também é muito importante; porém, ao contrário das outras
capitais de estado no Brasil, a cidade de Florianópolis não ocupa o primeiro lugar na economia do estado.
Essa posição cabe a Joinville, município mais populoso no norte catarinense, importante polo metal
mecânico, além de centro de serviços. Com grandes empresas dos setores metal mecânico, químico,
plástico e têxtil, tornou-se um dos mais dinâmicos polos industriais do sul do país.
No Vale do Itajaí, onde se situam as cidades de Brusque, Blumenau, Pomerode, entre outras,
estabeleceu-se um dos mais importantes parques têxteis do país, a partir de pequenas unidades fabris
dos imigrantes europeus, sobretudo alemães. Blumenau destaca-se também por desenvolver um polo
tecnológico. No eixo Chapecó-Seara-Concórdia, a produção industrial voltou-se para o setor alimentício
de processamento de produtos suínos e avícolas.

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Apresentam ainda índice de industrialização alto os municípios de Criciúma, Lages e Joaçaba. A
estrutura portuária concentra-se nos portos de Itajaí, Imbituba e São Francisco do Sul.
Curitiba é o segundo maior centro industrial da Região Sul, com destaque para os estabelecimentos
do setor mecânico e, mais recentemente, para as indústrias de ponta geradoras de maior valor agregado.
Em 1999, uma importante montadora de carros alemã instalou-se na região de São José dos Pinhais
(área metropolitana de Curitiba); em seguida, estabeleceram-se uma americana e outra francesa,
consolidando um polo automobilístico na região.

Turismo e Integração
Com paisagens variadas e os invernos mais rigorosos do país, a Região Sul atrai grande número de
turistas. Cidades com características europeias, como Canela e Gramado, ou centros produtores de
vinho, como Bento 'Gonçalves e Caxias do Sul, são lugares procurados pela culinária e atrativos culturais
no Rio Grande do Sul.
Durante o verão, os litorais de Santa Catarina e do Paraná recebem muitos turistas estrangeiros.
Tradições e festas típicas são eventos que tornam concorridos lugares como Blumenau, onde se realiza,
em outubro, a festa da cerveja, chamada Oktoberfest, de origem alemã.
No Rio Grande do Sul, as ruínas das povoações jesuítas do século XVII, em São Borja e São Migue
das Missões, foram transformadas pela Unesco em patrimônio da humanidade. Em Ponta Grossa, no
Paraná, o Parque Estadual de Vila Velha apresenta interessantes formações rochosas esculpidas pela
erosão causada pelas chuvas e pelos ventos.
Todos os estados da Região Sul contam com zonas de fronteira, ou seja, faixas territoriais localizadas
de cada lado de um limite internacional. Nas zonas de fronteira desenvolveram-se diversas cidades
cortadas por limites internacionais. Essas cidades-gêmeas geralmente apresentam grande fluxo de
pessoas e mercadorias e integração econômica e cultural.

Oktoberfest em Blumenau (SC, 2010). A festa teve origem em Munique (Alemanha) no início do século XIX, e hoje é celebrada também em diversos
municípios de Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

Região Centro-Oeste

O Meio Natural e os Impactos Ambientais


A Região Centro-oeste é formada pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás e pelo
Distrito Federal, ocupando cerca de 18% do território e abrigando pouco mais que 7% da população do
país.
O clima tropical é predominante na Região Centro-oeste, caracterizado por estação bem seca no
inverno e outra chuvosa no verão. O norte da região está’ sob influência do clima equatorial úmido e da
massa equatorial continental.
No extremo sul da região as frentes frias da massa polar atlântica causam instabilidades no inverno e
queda da temperatura, ocasionando as friagens, quando a temperatura pode cair bastante. No verão, as
temperaturas são mais elevadas, com máximas oscilando entre 30ºC e 40ºC.
O Cerrado predomina na Região Centro-Oeste. Em seu limite oeste, localiza-se o Pantanal, enquanto
o limite norte caracteriza-se pela presença da Floresta Amazônica; ao sul ocorrem remanescentes da
Mata Atlântica.
O Cerrado apresenta grande biodiversidade. Na vegetação, encontram-se formações florestais (mata
ciliar, mata seca e cerradão), formações savânicas (cerrado no sentido restrito, arque de cerrado,
palmeiral e vereda) e campestres (campo sujo, campo limpo e campo rupestre).
Variações do tipo de solo e nas formas de relevo explicam essas diferenças: a mata galeria, por
exemplo, formada por espécies arbóreas, ocorre nas margens de rios, em vales úmidos.

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Nas últimas décadas, a expansão rápida e intensiva da agropecuária tem provocado a destruição de
matas ciliares e de reservas permanentes do Cerrado. Na região das nascentes do Rio Araguaia, por
exemplo, a erosão provoca voçorocas (erosões profundas que atingem o lençol freático). O
assoreamento dos rios e a poluição dos aquíferos também são problemas comuns no Cerrado.
Iniciativas importantes do Governo Federal, como o Programa Nacional de Conservação e Uso
Sustentável do Bioma Cerrado e o Programa Cerrado Sustentável buscam promover a conservação,
a recuperação e o manejo sustentável desse bioma, além de incentivar a valorização e o reconhecimento
das populações tradicionais. Entretanto, isso não tem sido suficientes para conter a devastação.
Quatro bacias hidrográficas drenam a Região Centro-oeste: Amazônica (Rio Xingu e afluentes do
Amazonas), do Paraguai, do Tocantins-Araguaia e Platina (rios Paraná e Uruguai).
O relevo do Centro-Oeste é predominantemente planáltico.
Nele, destacam-se os Planaltos e Serras de Goiás-Minas, os Planaltos e Chapadas dos Parecis, os
Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná e as Serras Residuais do Alto Paraguai. Entre os Planaltos,
estão encaixadas depressões como a Marginal sul-amazônica, e do Alto Paraguai-Guaporé e a do
Araguaia.

O Pantanal
A planície do Pantanal Mato-Grossense e a do Rio Guaporé localizam-se a oeste da região. O
Pantanal é uma planícies sujeita a inundações sazonais, em decorrência da pequena declividade de seu
relevo e do padrão de drenagem da bacia do Rio Paraguai. A vegetação é mista (cerrados, florestas,
campos, charcos inundáveis e ambientes aquáticos), e mais de mil espécies animais, incluindo cerca de
650 tipos de aves aquáticas, vivem na região.
No Pantanal, a expansão da agropecuária e as queimadas acarretaram a supressão de parte da
vegetação e a contaminação dos corpos d’água por agrotóxicos. Além disso, o pantanal recebe os rejeitos
da atividade mineradora de exploração de diamantes e de ouro, especialmente o mercúrio, altamente
poluente. Diversos programas e políticas ambientais têm sido desenvolvidos pelo governo federal para
proteger o bioma, prevendo o manejo correto de bacias hidrográficas, saneamento e apoio ao produtor.
A Floresta Amazônica se estende pela metade norte do estado do Mato Grosso, e se encontra bastante
ameaçada por desmatamentos e queimadas. A expansão da fronteira agropecuária nessa área, para
plantio ou criação de gado, atinge áreas de conservação ambiental e provoca erosão e assoreamento
nos rios.

Ocupação Territorial e Dinâmicas Econômicas


Originalmente, os territórios que hoje compõem a Região Centro-Oeste eram habitados por diversos
agrupamentos indígenas, especialmente os bororo. Nos termos do Tratado de Tordesilhas, assinado
em 1494, essas terras pertenceriam à América espanhola. Entretanto, a partir do século XVI, sucessivas
ondas de bandeirantes paulistas se dirigiram para a região com a finalidade de aprisionar e escravizar
indígenas, desbravando o interior do Brasil.
No final do século XVII, estimulados pela descoberta de ouro em Minas Gerais, os bandeirantes
passaram a se aventurar em terras cada vez mais distantes. Subindo o Rio Cuiabá e alcançando o
território bororo, os bandeirantes encontraram ouro e iniciaram a conquista do território que atualmente
corresponde ao Mato Grosso. Enquanto isso, expedições pelo sertão descobriam minas de ouro no
território que hoje compreende o estado de Goiás, onde foi fundada a Vila Boa, embrião da atual cidade
de Goiás.
Em 1726, Rodrigo César de Meneses, capitão-geral de São Paulo, chegou às minas chamadas de
Cuiabá, fundando, no ano seguinte, a Vila Real do Bom Jesus, que já contava com dois portos fluviais.
Deles, partiam as expedições que visavam ao apresamento de indígenas no Pantanal.
A cidade de Goiás, conhecida como Goiás Velho, foi fundada em 1726 pelo filho do bandeirante
Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Em 2001 foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio
Cultural da Humanidade.
Em 1748, preocupada com a posse dessas terras, a Coroa portuguesa criou a capitania de Mato
Grosso, com sede em Vila Bela da Santíssima Trindade, fundada pelo mineradores às margens do Rio
Guaporé. Posteriormente, a sede da capitania foi transferida para a Vila de Cuiabá. A Capitania de Goiás,
com sede em Vila Bela, também foi criada em 1748.
Em 1750, a assinatura do Tratado de Madri entre Portugal e Espanha legalizou a posse efetiva da
região pelos portugueses. Porém, com a anulação desse tratado, ocorrida em 1761, a Coroa portuguesa
passou a implantar uma rede de fortificações para garantir a posse da margem direta do Rio Guaporé: o
Forte de Conceição foi erguido em 1762 e o Forte de Príncipe da Beira, em 1776. O Tratado de Santo

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Idelfonso, firmado pelas coroas ibéricas em 1777, finalmente ratificou a soberania portuguesa sobre o
território das duas capitanias ocidentais.
A partir de então, o povoamento luso-brasileiro passou a avançar na direção do Rio Tocantins,
dizimando os índios caiapó de Goiás, os xavante do Araguaia e, mais tarde, os canoeiro do Tocantins.
Do século XIX em diante, com o declínio da mineração, as províncias de Mato Grosso e de Goiás
conheceram um longo período de decadência econômica e de isolamento. Apenas as atividades agrícolas
de subsistência, como a extração da borracha, a criação de gado e a exploração de erva-mate,
sobreviveram na região.

A Ocupação Moderna do Centro-Oeste


Ao longo do século XX, porém, o isolamento da região foi sendo vencido gradativamente com a
transformação dos estados do Centro-Oeste em área de atração populacional.
A inauguração de Goiânia, em 1933, a Marcha para o Oeste, iniciada por Getúlio Vargas na década
de 1940, a construção de Brasília, assim como as políticas de integração nacional consolidadas pela
ditadura militar na década de 1970, incentivaram a migração para o Centro-Oeste, contribuindo para
acelerar o povoamento da região.
No início do século XX, a abertura da Estrada de Ferro Noroeste Brasil (Bauru-Corumbá) ajudou a
intensificar os fluxos entre o Sudeste e o Centro-Oeste. A ferrovia abriu a fronteira para a pecuária do
Mato Grosso, permitindo o transporte do gado vivo até os frigoríficos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A partir da década de 1960, rodovias como a Belém-Brasília, a Cuiabá-Porto Velho e a Brasília-Acre
transformaram-se em plataforma para a conquista da Amazônia.
Em 1977 o estado de Mato Grosso foi desmembrado, e dois anos depois oficializou-se a criação do
estado de Mato Grosso do Sul.
Goiás, por sua vez, foi desmembrado em 1988, quando se criou o estado de Tocantins, que atualmente
pertence à Região Norte. Em ambos os casos, as justificativas utilizadas para o desmembramento foram
a grande extensão desses estados, as dificuldades de planejamento e de administração.

Cenário Econômico Recente


Na década de 1970, teve início um período de intenso desenvolvimento econômico nos estados do
Centro-Oeste, motivado principalmente pela modernização da agricultura. A mecanização, a
introdução de novas culturas e o desenvolvimento de tecnologias e técnicas como a adubação e correção
dos solos de cerrados impulsionaram a produtividade da agricultura regional, que se tornou altamente
competitiva nos mercados internacionais.
No entanto, essa modernização tem sido responsável por diferentes impactos ambientais, em especial
o desmatamento.
Desde a década de 1980, o incremento da produção agropecuária e os incentivos fiscais atraem
para o Centro-Oeste indústrias ligadas à transformação de matérias-primas de origem animal ou vegetal.
É o caso dos frigoríficos, das empresas de avicultura, do setor sucroalcooleiro e das indústrias que
processam os grãos de soja. Instaladas próximos aos polos produtores, essas indústrias lucraram com a
redução de despesas com fretes.
Sendo assim, o panorama industrial da região é pouco diversificado.
A exceção fica por conta de alguns polos produtivos instalados no eixo Brasília-Goiânia, em especial
em Anápolis, que concentra empresas do setor farmoquímico e farmacêutico.
Nas últimas décadas, o Mato Grosso do Sul foi o estado da região que apresentou maior crescimento
econômico. A agricultura, praticada principalmente na porção leste do estado, beneficiou-se da
proximidade com os grandes mercados consumidores do Sul e do Sudeste. Dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística indicam que somente no estado de Mato Grosso, o crescimento da área
plantada de soja foi de 28,7% entre os anos de 2008 e 2011.
A expansão dos canaviais para o Centro-Oeste também é fato recente. Os maiores índices de
crescimento da produção de cana-de-açúcar são encontrados em Goiás e Mato Grosso do Sul.
Além do aumento da área cultivada, destaca-se a instalação de usinas na região, o que fortalece a
cadeia agroindustrial sucroalcooleira.
A indústria do turismo também tem apresentado rápido crescimento na Região Centro-Oeste. O
pantanal é a área mais visitada, embora os parques nacionais da Chapada dos Guimarães, em Mato
Grosso, da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e das Esmas, no sudeste goiano, também contribuam
para o aumento do número de turistas, atraídos pelas chapadas, cânions, quedas-d’água, cavernas e
diversos sítios arqueológicos.
No Rio Araguaia, na época da estiagem (junho a setembro), o nível das águas cai formando praias,
tornando a região uma atração turística.

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Cidades históricas como Pirenópolis e Goiás, antiga capital goiana, atraem visitantes pelos sobrados
coloniais preservados e pelas igrejas de arquitetura barroca.
Em direção ao sul do estado, a cidade de Caldas Novas recebe em média um milhão de turistas por
ano, em busca de suas fontes de água quente.
Brasília apresenta arquitetura moderna e é considerada Patrimônio da Humanidade.

Os Centros Urbanos
A rede urbana do Centro-Oeste desenvolveu-se de maneira linear, seguindo as rodovias de integração
e as ferrovias que ligam à Região Sudeste.
Brasília, metrópole nacional, Goiânia, metrópole, assim como Campo Grande e Cuiabá, capitais
regionais, situam-se sobre os grandes eixos viários. As cidades que exibem forte crescimento – como
Dourados (MS), Rondonópolis (MT) e Anápolis (GO) – estão também situadas nesses eixos.

A Cidade-Capital
Brasília representa um caso especial, entre as grandes cidades brasileiras. Não simplesmente por ser
uma cidade planejada: Belo Horizonte, fundada em 1897, e Goiânia, fundada em 1933, constituem outros
exemplos de cidades planejadas no Brasil. A singularidade de Brasília reside na finalidade específica que
orientou seu planejamento urbano – a criação de uma cidade-capital, condição que determinou a
expansão demográfica e econômica da região.
O Plano Piloto constitui o cerne da nova capital. É ele que está submetido ao plano urbanístico, com
seu rígido sistema de aprovação de plantas destinado a conservar as características originais da cidade.
Ideologicamente, esse plano, de autoria de Lúcio Costa, vinculava-se à tradição de pensamento
urbanístico do francês Le Corbusier e da escola arquitetônica da Carta de Atenas, cujos princípios
remontam ao IV Congresso de Arquitetura Moderna, realizado em 1933. A cidade deveria ser, a um só
tempo, funcional e harmônica: uma engrenagem de residências, consumo e trabalho. Para isso, os
planejadores deveriam dispor da capacidade de organizar o espaço de forma absoluta, excluindo as
incertezas e os conflitos inerentes ao desenvolvimento espontâneo das aglomerações urbanas. A ordem
seria um produto da autoridade e do saber urbanístico.
A base espacial do plano urbanístico reside na segregação funcional. No interior do Plano Piloto,
definiram-se as áreas reservadas às diferentes funções urbanas – administração pública, residências,
comércio local e central, etc.
Um eixo viário retilíneo, chamado Eixo Monumental, foi implantado e reservado aos palácios e edifícios
destinados aos órgãos de poder político, à administração e às embaixadas. Esse eixo é cortado por um
outro, arqueado, chamado Eixo Rodoviário, destinado à circulação expressa. Com 13 quilômetros de
extensão e cinco pistas sem cruzamentos, ele separa a circulação municipal da circulação local. Juntos,
os dois eixos têm o formato de asas de avião.
Ao longo do Eixo Rodoviário alinham-se as superquadras, destinadas à moradia. Nessas áreas
encontram-se escolas, igrejas e espaços de comércio local. Esses serviços localizam-se no interior dos
conjuntos de superquadras, direcionado a circulação de pessoas para dentro e não para as ruas. O
comércio de grande porte foi alocado em uma zona separada, no cruzamento entre os dois grandes eixos
da cidade. Todo o sistema de zoneamento e circulação da cidade prioriza o automóvel, a circulação
expressa.
Concebida por Oscar Niemeyer, a arquitetura da capital é coerente com o plano urbanístico, visando
reforçar simbolicamente a função de sede dos órgãos de poder político, que constitui a razão de ser de
Brasília.

A Cidade Polinucleada
O plano urbanístico não eliminou a clássica estruturação espacial das grandes cidades brasileiras: o
contraste entre as áreas centrais reservada às classes médias e às elites, de um lado, e as periferias
populares, de outro. No entanto, operou uma transformação radical nesse esquema, abrindo um espaço
vazio entre a área central (o Plano Piloto) e a periferia (as cidades-satélite). O elevado preço dos
terrenos no Plano Piloto empurrou os mais pobres para os núcleos urbanos satélites, que cresceram
como verdadeiras cidades-dormitório.
Embora não estivessem formalmente previstas no plano, as cidades-satélite desenvolveram-se para,
de certa forma, protege-lo, evitando a concentração da pobreza. Dessa maneira, a capital cresceu como
cidade polinucleada: uma única aglomeração urbana dispersa territorialmente em diversos núcleos
separados. Esses núcleos são chamados de regiões administrativas, já que a Constituição impede a
formação de municípios autônomos no Distrito Federal.

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A maioria da população ativa que reside nas cidades-satélite trabalha no Plano Piloto e consome horas
diárias em deslocamentos entre o local de moradia e o local de emprego.
A concentração de recursos financeiros no Plano Piloto – que abriga uma elite de políticos, burocratas
da administração pública e diplomatas estrangeiros – dinamiza a economia do Distrito Federal, atraindo
migrantes para as cidades-satélite. Assim, o crescimento demográfico dos núcleos urbanos ao redor é
muito superior ao da área central: em 1960, o Plano Piloto concentrava cerca de metade da população
do Distrito Federal; atualmente essa proporção é inferior a 15%.
Questões

01. (PGE/RO – Técnico da Procuradoria – FGV) O desenvolvimento econômico da região norte pode
ser entendido a partir da criação de um projeto ferroviário para interligar a região amazônica entre o final
do século XIX e a primeira metade do século XX. No entanto, com o advento do regime militar brasileiro,
nos anos 60 do século XX, o projeto ferroviário foi abandonado em razão da prioridade dada pelo regime
militar ao transporte:
(A) pluvial na região norte;
(B) naval pelo litoral da região norte;
(C) aéreo na região norte;
(D) misto aéreo e pluvial da região norte;
(E) rodoviário da região norte.

02. (PGE/RO – Técnico da Procuradoria – FGV) “A sensação térmica pode chegar a 38º C neste
sábado (5) na capital de Rondônia. De acordo com o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), o tempo
deve ser firme em todo o estado no final de semana”.
A previsão é de céu claro sem chuvas em todo o centro sul. Já nas demais regiões, incluindo Porto
Velho, céu claro a parcialmente nublado com pancadas de chuvas e trovoadas em áreas isoladas,
podendo ser acompanhada de rajadas de ventos no período da tarde e noite. (Fonte: http://g1.globo.com/, 05/09/2015.
Acesso em 20/09/2015).
A descrição do tempo apresentada na notícia revela características de temperatura e pluviosidade
comuns na região norte do Brasil, onde predomina o clima:
(A) equatorial, com baixa amplitude térmica anual e estações bem diferenciadas em termos de
precipitação;
(B) tropical úmido, mesotérmico em termos de temperatura e de pluviosidade irregular;
(C) tropical semiúmido, de baixa amplitude térmica anual e duas estações pluviométricas bem
definidas;
(D) equatorial, com pequena variação de temperatura ao longo do ano e total pluviométrico anual
elevado;
(E) tropical, com temperaturas médias elevadas ao longo do ano e precipitação distribuída de forma
irregular ao longo do ano.

03. (Prefeitura de Santana do Jacaré/MG – Psicólogo – Reis & Reis) O Brasil segue, atualmente,
a divisão regional estabelecida em 1970, em quantas regiões se divide o território brasileiro?
(A) 06 regiões;
(B) 05 regiões;
(C) 04 regiões;
(D) 01 região.

04. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/GO) A região Centro-Oeste é uma das cinco regiões do
Brasil definidas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Sobre ela, é correto afirmar:
(A) É a primeira região do país em superfície territorial.
(B) É formada pelos Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso.
(C) É formada somente pelos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
(D) É formada pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e pelo Distrito Federal.
(E) É formada pelos Estados de Goiás, Tocantins, Minas Gerais e pelo Distrito Federal.

05. (CODAR – Motorista – EXATUS/PR) O Brasil é dividido em 5 Regiões Geográficas, estas abrigam
26 Estados e 1 Distrito Federal. Dadas estas informações, assinale a alternativa que apresenta as
Regiões Geográficas Brasileiras que são formadas por apenas 3 Estados?
(A) Apenas, Centro-Oeste.
(B) Centro-Oeste e Sul.

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(C) Sul, apenas.
(D) Nenhuma alternativa responde corretamente ao enunciado da questão.

Gabarito

01.E / 02.D / 03.B / 04.D / 05.B

GEOGRAFIA POLÍTICA: AS FRONTEIRAS E AS FORMAS DE APROPRIAÇÃO POLÍTICA DO


ESPAÇO44

A Geografia Política: Possibilidades e Conexões Escolares

Para a efetivação de estudos e análises no campo da Geografia Política é indispensável recorrer a


seus clássicos. A partir desses será possibilitado realizar conexões dessa disciplina da Geografia, em
várias escalas: local, regional, nacional e internacional.
De acordo com Lacoste. (1988, p. 216)
O raciocínio no âmbito mundial se torna, sem dúvida, cada vez mais indispensável, mas para ser
eficiente, ele deve ser combinado com a observação em outros níveis da análise espacial. Os fenômenos
de “planetarização” não fazem desaparecer, o que quer que possam dizer alguns, aquilo que se passa
em níveis local, regional e nacional.
Este autor, ao comentar os argumentos amplamente utilizados pela Geografia Política, mais
especificamente a francesa, que, prioritariamente, não apresenta o(s) fenômeno(s) com sua
espacialidade, é enfático ao afirmar que essa não pode ser desconsiderada na compreensão e análise
dos fenômenos políticos. Nas palavras do autor:
Esse argumento, que geralmente deriva de regras não ditas, mas não menos poderosas, da
corporação, não é sério, na medida em que um bom número de fenômenos políticos essenciais são,
eminentemente, espaciais e cartografáveis, tais como o Estado, suas fronteiras, suas subdivisões
territoriais e sua estrutura urbana. (LACOSTE, 1988, p. 217).
Ainda de acordo com o autor, os estudos efetivados no campo da Geografia devem considerar as
dimensões físicas e humanas que propiciam a ocorrência de determinado fenômeno desde que essas
possam ser cartografáveis, ou seja, espaciliazadas na superfície do globo. Desse modo, a Geografia
privilegia as configurações espaciais particulares de todas as espécies de fenômenos. Nesta perspectiva
Lacoste (1988, p. 217) acrescenta:
“não se pode encontrar justificativa teórica para a exclusão, do campo da geograficidade, da categoria
de fenômenos políticos que são cartografáveis (sobretudo dos relacionados as fronteiras) e cuja
importância social é, quer queira, quer não, também indiscutível”.
Neste contexto chama-se a atenção, como o faz o autor, para o fato da Geografia não poder
desconsiderar a sua importância política e, muito menos, a relevância da política para os estudos
geográficos. Continuando a sua análise sobre a atuação do geógrafo Lacoste (1988, p. 216) afirma:
“Mas para isso é preciso formar geógrafos eficientes que tenham gosto e o senso da ação. É preciso
também que eles estejam conscientes do procedimento, da importância dos fenômenos que advém do
político.” Assim, as contribuições desse autor são imprescindíveis para a formação de geógrafos e,
também, para a efetivação de estudos principalmente em Geografia Política, pois não se pode negar que
as ações humanas, em todos os âmbitos, são essencialmente políticas e, portanto, de poder.
O poder é parte intrínseca de toda relação, seja no nível econômico, social, político, cultural,
administrativo, religioso, espacial, etc. Desta forma, se situa em todos os lugares, mesmo que não seja
percebido de modo claro pelos atores sociais reais e concretos. Como esses ocupam áreas e a ocupação
dessas não se dá homogeneamente tem-se aqui um foco de conflito, pois a própria apropriação desigual
do espaço entre os indivíduos/grupos sociais é inegavelmente fonte de tensão e, por extensão, de conflito.
Desse modo, o poder está vinculado permanentemente à Geografia Política. De acordo com a literatura
sobre o tema, o poder se concretiza nas mais variadas formas e em todas as relações vivenciadas nas
sociedades capitalistas que tem a competição como processo social mais explícito (HORTON e
HORTON, 1975).
Buscando definir o poder, Foucault (1979) faz uma série de proposições. A partir dessas, além de
esclarecer a natureza do poder, o apresenta como um fenômeno multidimensional. Para este autor, a
intencionalidade do ato é reveladora da importância das finalidades que os caracteriza, pois o poder visa
o controle e a dominação dos homens por outros homens e desses sobre as coisas. (Foucault, 1979).

44
https://online.unisc.br/seer/index.php/agora/article/download/5799/4345

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Nesse sentido, Arendt (1985, p. 24) citada por Souza (1995, p. 80) afirma:
O poder jamais é propriedade de um indivíduo; pertence ele a um grupo e existe apenas enquanto o
grupo se mantiver unido.
No momento em que o grupo, de onde se originaram o poder, desaparece, o seu poder também
desaparece. (...) Sem um povo ou um grupo não há poder.
Nessa esfera insere-se a Geografia Política que possibilita efetivar análises em diferentes escalas,
desde a tradicional, que tem como seu objeto a Nação (Estado Nacional), ou seja, população, território e
seus recursos. A população, nesta perspectiva, vem em primeiro lugar, porque está, segundo seus
defensores, na origem de todo poder, pois consideram que nela reside a capacidade de transformação.
O território, como categoria de análise geográfica, é, também para esses, indispensável porque é o lócus
onde se concretiza o poder e objeto de disputa entre as nações. Por fim, tem-se os recursos, que são, via
de regra, o motivo pelo qual ocorre disputa por determinada área.
Lacoste (1988, p. 131) declara: “É cada vez mais necessário que os geógrafos se preocupem com os
problemas políticos e militares e reencontrem, assim, aquilo que foi, durante séculos, uma das razões de
ser fundamentais do seu saber.” Becker (1995, p. 271) ressalta que na atualidade há uma retomada de
interesse pela Geopolítica. De acordo com a autora:
A retomada de interesse pela Geopolítica é patente. Grupos de trabalho, livros, artigos sucedem
relevando a revalorização das relações entre poder, ou mais precisamente a prática do poder, e o espaço
geográfico, relação que constitui a preocupação central da disciplina.
Importante colocar também as palavras de Lacoste (1988) no que se refere a importância da Geografia
Política que representa umas das razões do saber do Geógrafo.
(...) estabelecidas em escalas diferentes, permitam agir a superposição dos problemas e das relações
de forças em função de territórios de extensão maior, ou menor.
Nesse domínio, o saber pensar o espaço dos geógrafos aparece com toda a sua eficácia.
Não se trata evidentemente de reduzir a Geografia ao raciocínio Geopolítico, mas este foi durante tanto
tempo excluído das preocupações dos geógrafos, e tão poucos se preocupam ainda hoje com ele, que é
preciso destacar sua importância e seu interesse (LACOSTE, 1988, p.220).
Neste contexto Horta (2006) aponta algumas questões que são frequentemente colocadas,
principalmente no meio acadêmico com o objetivo de elucidar os termos em que se dá o debate e a real
importância/significância do mesmo. Dentre as questões colocadas pelo autor, salientamos a pertinência
para este trabalho da problemática levantada sobre a redução da Geografia Política e da Geopolítica
apenas a escala dos Estados Nacionais.
Para Horta (2006), como consequência, ocorre uma descontextualização conceitual que, por sua vez,
restringe o olhar de muitos pesquisadores diante das relações que envolvem território e política.
(...) as relações entre espaço e poder transcendem a ação dos Estados, porém, os trabalhos de
geografia política e geopolítica, de um modo geral, não vêm acompanhando, satisfatoriamente, os mais
recentes movimentos politicamente organizados que atuam contra e/ou independentemente do Estado.
(HORTA, 2006, p.51).
Para Horta (2006) a Geografia Política é a consciência geográfica do território, provocando a colocação
original de Haushofer que defendia que a Geografia Política deveria ser a “consciência geográfica do
Estado”, prevalecendo uma concepção, segundo o autor, equivocada de que essa disciplina da Geografia
forma um conjunto de conhecimentos vinculados, tão somente, ao poder e a ação dos Estados Nacionais.
Ainda segundo o autor, essa visão restritiva do campo de ação da Geopolítica e da Geografia Política
tem, provavelmente, relação com o contexto de formação e/ou expansão dos Estados Nacionais.
Segundo Costa (1992), citado por Horta (2006):
(...) o surgimento da geografia política e, sobretudo, da geopolítica são um produto do contexto europeu
(...) com Ratzel e R. Kjélen
(...) o interesse pelos fatos referentes à relação entre espaço e poder, também manifestava um
momento histórico (...) caracterizado pela emergência das potências mundiais (...). (COSTA, 1992, p.58-
59)
Porém, não se trata de um objeto restrito, ressalta ainda, Costa (1992) apud Horta (2006). Pois os
estudos que envolvem o Estado, a sociedade e o território, por exemplo, são demasiadamente complexos.
O que se questiona é a “exclusividade” do Estado diante de outras formas de poder institucional e
territorial. Para Raffestin (1993) essa restrição, ainda persistente, pode ter correlação com a produção
original de Ratzel: “Para Ratzel, tudo se desenvolve como se o Estado fosse o único núcleo de poder (...)
a geografia política de Ratzel é uma geografia do Estado”. (Visentini, 1987, p.32, apud Horta, 2006, p.62).
Claval (1979) citado por Horta (2006) em sua análise sobre o papel da Geografia Política e da Geopolítica
apresenta que a visão tradicional dessa área da Ciência Geográfica negligenciou, devido ao fato de se

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
restringir aos estudos/análises de fenômenos na escala dos Estados Nacionais, as relações de poder
exercidas no interior dos Estados Nacionais. De acordo com o autor:
as dimensões espaciais dos fatos de poder foram negligenciadas. A geografia política voltou-se
prematuramente para a análise do Estado e não soube dissecar as engrenagens dos governos e sua
articulação sobre a sociedade civil. O problema do poder é, em primeiro lugar, o da transmissão do fluxo
de informações, o acesso a ideias novas, o controle da terra, o controle da mão-de-obra e etc. (CLAVAL,
1979, p. 215)
Para Becker (1995, p.303), citada por Horta (2006, p.61), “(...) o Estado certamente não é a unidade
única representativa do político nem o território nacional a única escala do poder.” Nesse sentido, pode-
se afirmar que a Geografia Política não está restrita as ações do Estado Nacional, podendo ser aplicada
para estudar, compreender, analisar e explicar relações políticas em outras escalas territoriais,
especialmente nas microescalas onde indivíduos e/ou grupos sociais atuam de modo decisivo em suas
vidas reais e concretas. Conforme aponta Horta (2006),
(...) vale reforçar que o foco territorial deve também, extrapolar a escala nacional. Desta forma, temas
que tratem, por exemplo, das relações de poder num minifúndio, em um pequeno município brasileiro,
numa micro bacia hidrográfica, etc., merecem ser estudados (...) outras instâncias do poder, outras
territorialidades e diferentes formas de gestão da sociedade – e que em muitos casos estão, inclusive,
conectados aos aparelhos de Estado – constituem “objetos” de investigação que podem ser abordados
em geopolítica ou em geografia política. (p. 62-63).
Ainda de acordo com Becker (1995, p.274) “Centrar o foco no Estado-nação é tratá-lo como unidade
exclusiva de poder e assumir que os conflitos se dão apenas entre Estados”. Chama-se a atenção para
o fato de, além de reduzir as possibilidades de análise, a relação espaço-poder, muitas vezes, transcende
o Estado.
A geógrafa Berta Becker ainda ressalta que as novas territorialidades desenvolvem-se acima e abaixo
da escala do Estado e desafiam os fundamentos do poder nacional e a possibilidade de desenvolvimento.
Nesse contexto, Horta (2006) também aponta que as pesquisas em geografia política destinadas a tratar
dos Estados nacionais permanecem muito relevantes, ainda mais quando consideradas as
transformações atuais em sua conformação política e territorial. Porém, em razões dessas mudanças que
outras organizações de poder e outras territorialidades devem compor, com maior vigor, objetos de
interpretação em Geografia Política e Geopolítica.
De acordo com esse autor, a Geografia Política configura para muito além dos Estados nacionais.
Horta (2006) ainda salienta que, delegar estratégias de organização política do espaço somente aos
Estados significa, de fato, reduzir as relações entre o espaço geográfico e a política a um determinado
contexto histórico geográfico. Segundo ele, há um vasto campo de análise que supera as pesquisas
destinadas às “geopolíticas estatais”. Nesse sentido apresenta algumas das inúmeras possibilidades de
estudos/análises em Geografia Política e Geopolítica sobre outros fenômenos que envolvem relações de
poder e espaço. Ressalta-se que essas análises, de acordo com Horta (2006), devem ter na
interdisciplinaridade a sua base teórico-conceitual.
(...) outras conexões poderiam ser realizadas mais solidamente: a geografia urbana com a geografia
política, essa última com a geografia agrária, etc. Geopolíticas que se manifestam predominantemente
em escala local permitem a análise, por exemplo, da organização política de um assentamento rural (...)
articulações que não se limitam às ramificações da Geografia, pois a geografia urbana, por exemplo,
“comunica-se” com a sociologia urbana, com a antropologia, com o urbanismo e etc.; portanto são
inúmeras as possibilidades de conexões da geopolítica ou da geografia política com áreas e subáreas do
conhecimento acadêmico. (HORTA, 2006, p.64-65).
Portanto, outras organizações de poder e outras territorialidades, independentemente de suas
variações e conexões escalares, acima e/ou abaixo da escala dos Estados Nacionais merecem e podem
ser efetivadas no âmbito dos trabalhos em Geografia Política e Geopolítica. Ainda no sentido de
demonstrar o quanto os estudos/análises em Geografia Política e Geopolítica podem ser ampliados, a
seguir, trataremos de um conceito chave no âmbito dessas, ou seja, o território.

O Território na Geografia Política

A palavra território faz pensar o Estado, pois evoca o território nacional, porém, o território não deve
ser reduzido a essa escala ou associado apenas com a figura do Estado. Assim como a Geografia Política,
o território trás, historicamente, consigo uma carga ideológica na literatura científica da área, pois nessa
é concebido tão somente como território nacional. Caminhando no sentido mais amplo dessa categoria
geográfica e palavra-chave da Geografia Política, através da literatura a partir da década de 1970 em
diante, amplia-se a visão do conceito de território nas mais variadas dimensões. Nas palavras de Souza

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(1995, p.81), os territórios existem e são construídos e descontruídos nas mais diversas escalas, da mais
acanhada (uma rua, por exemplo) à internacional. Territórios podem ter um caráter permanente, mas
também podem ter uma existência periódica, cíclica.
O território surge na Geografia Política como espaço concreto em si, tanto com atributos naturais como
os socialmente construídos. A ocupação de determinado espaço gera raízes e identidade, provocando a
ideia de que quem (indivíduo/grupo) se apropria de um espaço, impõe a sua identidade socioeconômica
e cultural ao espaço concreto. Nesse sentido Souza aponta que:
(...) os limites do território não seriam, a bem da verdade, imutáveis (...) fronteiras podem ser alteradas
comumente pela força bruta – mais cada espaço seria, enquanto território, território durante todo o tempo,
pois apenas a durabilidade poderia, é claro, ser geradora de identidade sócio espacial, identidade na
verdade não apenas com o espaço físico, concreto, mas com o território e, por tabela, com o poder
controlador desse território. (SOUZA, 1995, p.84)
O território é, por excelência, um espaço político, o campo de ação dos sujeitos sociais. Deve se ter
claro que espaço e território não são conceitos equivalentes e para a distinção dos mesmos torna-se
essencial defini-los indicando as suas características fundamentais, suas possibilidades e limites teórico
conceituais. Uma das distinções importantes a se salientar é citada por Raffestin (1993), trazendo a ideia
de que o espaço está mais próximo de uma “noção” e o território de um “conceito”. Ainda segundo
Raffestin, citado por Haesbaert (2010), espaço e território não se equivalem, sendo o espaço antecedente
ao território. Nesse sentido tem-se que o território resulta de “uma ação conduzida por um ator
sintagmático (que realiza um programa) em qualquer nível.” (RAFFESTIN, 1993, p.143), não sendo,
portanto, somente no nível do Estatal Nacional.
Importante colocar que o espaço, conforme Soja (1971) e Clark (1985), é uma arena onde as classes
sociais travam suas lutas cotidianas. Também é o lócus dos embates entre os detentores de poder, em
especial, entre estados-nações e, no âmbito desses, entre os seus membros (estados, provinciais,
municípios e grupos sociais de interesses variados).
Deve ser ressaltado que mesmo no interior de um município ocorre conflito territorial entre
agrupamentos humanos que se apropriam de espaços, impedindo que outros (não pertencentes ao
grupo) partilhem esses espaços. Neste sentido o território se forma a partir do espaço e no espaço, sendo
o resultado de ações conduzidas por atores sociais em diversos níveis. Ao se apropriar de um espaço
concreta ou abstratamente, o ator “territorializa” o espaço (RAFFESTIN, 1980, p.143). Todo espaço
definido e delimitado por e a partir das relações de poder, é um território, do quarteirão aterrorizado por
uma gangue de jovens até o bloco constituído pelos países membros da OTAN. (SOUZA, 1995, p. 111).
Nesse sentido, não cabe procurar a distinção evidente e clara entre espaço e território, sendo que o
território não existe sem o espaço. Embora demonstrado pelos autores que eles não se equivalem.
Haesbaert (2010, p.166), afirma que
ao território cabe a focalização na espacialidade das relações de poder. O território se define mais
estritamente a partir de uma abordagem sobre o espaço que prioriza ou que coloca seu foco, no interior
dessa dimensão espacial, (...) nas problemáticas de caráter político ou que envolvem a
manifestação/realização das relações de poder, em suas múltiplas esferas.
Continuando sua análise sobre território, Haesbaert (2004, p.79) acrescenta: “(...) o território pode ser
concebido a partir da imbricação de múltiplas relações de poder, do poder mais material das relações
econômico-políticas ao poder mais simbólico das relações de ordem mais estritamente cultural.
Lefebvre (1978, p. 259) afirma que “A produção de um espaço, o território [...], espaço físico, balizado,
modificado, transformado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas de
ferro, circuitos comerciais e bancários, autoestradas e rotas aéreas, etc.” (1978, p. 259) O território nessa
perspectiva, é um espaço onde se projeta um trabalho, seja ele energia e/ou informação, e que, por
consequência, revela relações marcadas pelo poder. “O espaço é a ‘prisão original’, o território é a prisão
que os homens constroem para si”. (RAFFESTIN, 1980, p. 144)
No sistema territorial, os indivíduos e/ou grupos ocupam pontos do espaço e se distribuem de acordo
com os modelos que podem ser aleatórios, regulares ou concentrados. Segundo Raffestin (1980), na
análise dos territórios deve-se ter em conta que esses são, em grande parte, respostas possíveis a dois
fatores fundamentais para os seres humanos, ou seja, à distância e à acessibilidade.
Com relação à distância é importante apontar que esta pode ser apreendida em termos espaciais
(distância física ou geográfica), temporais, econômicas, sociais, psicológicas, políticas, culturais, dentre
outras. A distância se refere à disposição em determinada hierarquia. Por ser resultante de interação
entre os sujeitos sociais localizados em pontos distintos da estrutura hierárquica, como, por exemplo,
administrativa, cultural, econômica, espacial, política, religiosa, social, etc., traz, em si, a desigualdade
como pressuposto. Ressalta-se que, como consequência das relações de oferta e de procura por parte
dos indivíduos e/ou dos grupos, a distância não se efetiva somente através da diferenciação funcional,

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mas, fundamentalmente, por e a partir da desigualdade decorrente da hierarquização, onde há superiores
e inferiores.
Esses sistemas de tessituras, de nós e de redes organizadas hierarquicamente permitem assegurar o
controle sobre aquilo que pode ser distribuído, alocado e/ou possuído. Permitem impor e manter uma ou
várias ordens, além de assegurar a dominação de um determinado grupo sobre o espaço, formando,
assim, os territórios. Desses e nesses sistemas se originam as relações de poder.
A acessibilidade, por sua vez, está direta e indiretamente relacionada à possibilidade de indivíduos
e/ou grupos partilharem as mesmas áreas/locais. Como os territórios, através de suas barreiras físicas
e/ou simbólicas (DAMATTA, 1985) são capazes de informar quem é de dentro e quem é de fora fica
evidenciado que a sua demarcação é suficiente para indicar quais indivíduos e/ou grupos dele fazem
parte. O acesso ou o não acesso é apresentado através da própria identidade que indivíduos e/ou grupos
que se apropriaram do lugar impuseram a ele. Tem-se, então, que o território, independente de sua escala
(micro ou macro) é portador da identidade de seus ocupantes, (GIDDENS, 1989), estando o acesso
condicionado ao compartilhamento com os valores, as visões de mundo, interesses, etc. com os que nele
atuam.
Nesse sentido, Liberato (2007, p. 65) ainda acrescenta que:
A constituição de territórios se dá através da construção e a apropriação do espaço, sendo uma ação
eminentemente política. Sendo assim, constituem-se prioritariamente em locais de identidade, de
resistência, onde a história do local se confunde com a de seus habitantes. Conforma uma paisagem
única na medida em que as configurações do local, a sua representação e, também, a sua imagem detêm
traços que marcam a especificidade local que, por mais que possa, à primeira vista, ser parecida com
outro, mantém a sua individualidade.
É através de suas especificidades que os espaços podem e devem ser analisados. Portanto, o território
não é apenas um local onde se encontra recursos naturais e população, devendo ser compreendido a
partir das suas características intrínsecas, prioritariamente pelos os processos de identidade que o
formaliza, física ou simbolicamente.
Também não podem ser negligenciadas as modificações sócio espaciais através dos processos
mutáveis de duração variada, pois a temporalidade é um elemento central na constituição dos territórios
na medida em que esses podem ser efêmeros ou duradouros, transitórios ou definitivos dependendo da
escala temporal que se emprega na análise. Fica evidenciado que as mudanças/alterações são bastantes
frequentes dependendo da forma de apropriação e da quantidade de poder dos que apropriam detém.
Assim, são possibilitadas configurações espaciais/territoriais diferentes. Giddens (1989, p. 304) apud
Liberato (2007, p.65) esclarece essa questão ao afirmar que “uma região física envolvida como parte do
cenário de interação, tendo fronteiras definidas que ajudam a concentrar a ação num sentido ou noutro,
não podendo ser entendida como sendo apenas um ponto no espaço, pois se constitui topos privilegiado.
Desse modo, o local é, fundamentalmente, um território.”
A noção de território tem como premissa que o espaço é multifacetado, fragmentado, com inúmeras
possibilidades de recortes, de uso, de significados e de configurações distintas, podendo essas ser, até
mesmo, contraditórias. O espaço (...) enquanto fenômeno de análise recobre-se de significados e
significantes. Dialeticamente pode-se afirmar que o mesmo é construtor e construção de indivíduos que
são por ele condicionados ao mesmo tempo em que, através de suas intervenções, o condicionam.
Dessa forma, tem-se que a cada espaço há correspondentes modos de vida, concepções de mundo e
de relações sociais, todos esses reflexos e refletores de atividades e atitudes dos indivíduos que por ele
transitam. Enfim, mais que um “lugar” qualquer, o espaço, enquanto permeado de significados e
significantes, se configura, antes de qualquer coisa, em um território. (LIBERATO, 2000. p. 33)
Portanto, o território deve ser analisado a partir das suas delimitações e composição cultural, social,
política, econômica, étnica e efetivamente a partir das suas relações de poder, pois “O território é
essencialmente um instrumento de exercício de poder: quem domina ou influencia quem nesse espaço,
e como?” (SOUZA,1995, p.79)
Nessa perspectiva, Liberato (2007) ainda complementa que o conceito de território, assim
compreendido, aponta para uma direção que nos parece mais segura, pois indica, não somente, que este
detém limites que demarcam – possibilitando ou impossibilitando – relações entre os de dentro (insiders)
e os de fora (outsiders), como, também, encerra uma materialidade que permite a identificação cultural
dos grupos sociais e os limites de atuação desses.” (2007, p. 68-69)
Haesbaert (1995) usa o termo desterritorialização para tratar a dimensão espacial da sociedade
capitalista em que vivemos, onde a desterritorialização seria a tentativa da superação de distâncias e
limites impostos por “obstáculos geográficos” o que esse autor denomina como “entraves espaciais”, isto
posto, segundo Haesbaert (1995, p. 168), “trata-se de uma definição que relaciona a uma visão parcial
do que se entende por território.“. Em seguida discorre sobre o território e suas especificidades. Para o

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autor, a desterritorialização não se restringe apenas e tão somente ao desenraizamento decorrente do
fim das fronteiras, pois
Se tomarmos a abordagem que eu denominaria de “funcional estratégica” de território, temos este
como um espaço sobre o qual se exerce um domínio político e, como tal, um controle de acesso.
Entretanto, se ampliarmos, essa definição, incorporando à dominação política uma apropriação simbólico-
cultural, veremos que a desterritorialização não deve ser vista apenas como desenraizamento no sentido
de uma destruição física de fronteiras e um aumento da mobilidade em um sentido concreto.
(HAESBAERT, 1995. p. 168)
Na visão de Lefèbvre e Harvey a territorialização deve compreender a distinção entre domínio e
apropriação do espaço. Segundo Harvey (1992, p.202) apud Haesbaert (1995, p.169) “o domínio do
espaço reflete o modo como indivíduos ou grupos poderosos dominam a organização e a produção do
espaço mediante recursos legais ou extralegais. A fim de exercer um maior grau de controle”.
o espaço dominado é geralmente fechado, esterilizado, esvaziado. Seu conceito não adquire seu
sentido a não ser por oposição ao conceito inseparável de apropriação. Sobre um espaço natural
modificado para servir às necessidades e às possibilidades de um grupo, pode-se dizer que este grupo
se apropria (...). Relacionada ao espaço de vivência cotidiana, a apropriação não pode ser compreendida
sem o tempo, os ritmos de vida. (LEFÈBVRE 1986, p. 191 – 193 apudHAESBARERT,1995, p. 169)
Portanto, de acordo com Haesbaert (1995), quando nos referimos a desterritorialização devemos ter
clareza das suas duas dimensões. A primeira política, mais concreta, e a segunda cultural, de caráter
mais simbólico. Deve estar claro a dimensão de cada uma no papel de formação dos territórios. De acordo
com o autor: “Embora fronteiras de domínio político possam corroborar e mesmo criar uma identidade
cultural, como foi o caso de muitos Estados-Nações, nem toda fronteira de apropriação territorial no
sentido cultural coincide com e/ou proporciona uma fronteira política concreta. (HAESBARERT 1995, p.
169)
A produção do espaço envolve a mesmo tempo territorialização e desterritorialização. Nesse sentido
Barel (1986, p.139) apud Haesbaert (1995, p. 170) afirma que:
“(...) seria interessante se representar a mudança social (e seu contrário, o bloqueio) sob uma forma
de uma dinâmica territorial, pois a mudança social é em parte esta: a vida e morte dos territórios. A
mudança social é vista aqui como um movimento de territorialização – desterritorialização –
reterritorialização (...)”.
Para ficar clara a concepção de território e rede, Haesbaert, através das concepções de Levy, Guattari,
Baudrillard, Berque e Augé, correlacionou a territorialização e a desterritorialização e classificou utilizando
as seguintes variáveis: dimensões sociais fundamentais, dimensões de elementos espaciais, noções
correlatas, tendências gerais e dilemas principais.
Considerando as dimensões sociais, a territorialização ocorre a partir das dimensões política e cultural,
já a desterritorialização se concretiza com interferências econômicas e políticas. Em relação aos
elementos espaciais a territorialização é horizontalmente formada, de acordo com a área/superfície e o
limite/fronteira, formando efetivamente o território. Já a desterritorialização é formada verticalmente,
através de pontos e linhas, polos e fluxos, limiar/hierarquia, o que caracteriza uma rede. A territorialização
pode ser correlacionada com o espaço físico concreto e a paisagem, porém a desterritorialização está
ligada diretamente com o meio, o não-lugar.
Desse modo, têm-se então as características gerais que distinguem claramente e forma a oposição
dos processos de territorialização e desterritorialização. Enquanto a primeira qualifica, distingue e
identifica (diferença e alteridade) gerando raízes de identidade, enraizamento e controle, a segunda, no
entanto, quantifica, homogeneíza, gera desigualdade, distinção e mobilidade. Em suma, de acordo com
Haesbaert, a territorialização está ligada diretamente a segregação sócio espacial, ou seja, o fechamento
e o conservadorismo. Para esse autor, no processo de desterritorialização gera exploração,
desintegração e instabilidade. (HASBAERT, 1995, p.177).

A Fronteira, o Limite e a Divisa no Sistema Territorial

A ideia de limite é de suma importância na análise do sistema territorial. Colocar limite, estabelecer
fronteiras, portanto, delimitar é ponto central nos estudos sobre território. Ao colocar limite, definir
fronteiras e delimitar áreas os homens isolam ou subtraem, temporária ou perenemente, parte do espaço,
ou seja, estabelecem um território.
Nesse sentido, faz-se necessário considerar que os limites não devem ser concebidos apenas do ponto
de vista linear, mas também do ponto de vista zonal. As tessituras de origem política, aquelas criadas
pelo Estado, em geral têm uma permanência maior do que as resultantes de uma ação dos outros atores,
pois os limites políticos e administrativos, definidos pelo poder público (Nações, Estados, Municípios), são

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bem mais estáveis, enquanto os limites econômicos o são bem menos, pois apresentam muita
dinamicidade. (RAFFESTIN, 1980, p. 155). O território deve ser analisado tendo por base que ele é, ao
mesmo tempo, produto e produtor de territorialidades.
Nessa perspectiva, a territorialidade adquire um valor bem particular, pois reflete a
multidimensionalidade do “vivido” territorial pelos membros de uma coletividade. Os homens vivem, ao
mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio de um sistema de relações
existenciais. A identificação da noção de territorialidade coloca problemas. Na tradição americana a
territorialidade é definida como: “Um fenômeno de comportamento associado à organização do espaço
em esferas de influência ou em territórios nitidamente diferenciados, considerados distintos e exclusivos,
ao menos parcialmente, por seus ocupantes ou pelos que os definem.” (SOJA, p. 19). De acordo com
Liberato (2007, p.81-82)
Os territórios, enquanto locais dotados de significados, são definidos e delimitados por e a partir de
relações de poder. Podem ser construídos e/ou desconstruídos a partir de escalas geográficas e
temporais diversas e ter caráter permanente ou transitório. E mais, os territórios, ao contrário do espaço
global, da região e do lugar, expressam e, ao mesmo tempo, são expressões inequívocas da
espacialidade presente nas mais variadas conformações sociais.
Os termos fronteira e limite de acordo com a literatura pesquisada carecem de precisão teórico
conceitual, pois são amplamente utilizados, tanto no nível do senso comum, quanto na academia, em
especial nas áreas de Geografia, Geopolítica, História, Sociologia, Antropologia, dentre outras, como
sinônimos. Todavia, esses apresentam diferenças que requerem uma análise mais detida buscando
identificá-las.
De acordo com Martin (1992), os limites podem ser alterados sem grandes transtornos, desde que dois
Estados, (municípios ou províncias, etc.), tenham disposição política em fazê-lo, bastando para isso o
concurso de técnicos competentes: topógrafos, geógrafos e juristas. No entanto, mesmo no Direito
Público, apesar da costumeira demarcação da linha divisória, pretende-se que, para maior tranquilidade
da população fronteiriça, seja preferível sempre se reconhecer uma faixa de certa largura.
Ainda segundo Martin (1992), o limite aparece como uma linha puramente imaginária, marcada na
superfície terrestre por objetos naturais ou artificiais.
De acordo com esse autor, é possível tentar acrescentar outro elemento ao mesmo tempo distinto
tanto do limite, quanto da fronteira: trata-se da divisa, o aspecto visível do limite. Sendo assim, o marco,
a baliza, aparecerão como pontos fixos, erguidos pelo homem, os quais, alinhavados expressam o limite
de jurisdição dos Estados (Municípios, províncias, etc.).
Boa parte da literatura técnica a respeito dedica-se a discutir qual o melhor apoio físico para os limites.
Desse modo, se torna relevante diferenciar demarcação da delimitação.
Conforme aponta Guimarães, citado por Martin (1992)
(...) a polêmica das fronteiras decorre de uma identificação apressada entre duas práticas na verdade
distintas. Uma está ligada a problemas de teoria e tem chamado a atenção em especial dos geógrafos,
como também dos economistas, cientistas políticos e homens do Estado: trata-se da delimitação. A outra
se dedica à resolução de problemas de ordem técnica, a ela estão vinculados os topógrafos, cartógrafos,
geodesistas e até astrônomos: a demarcação.
Em suma, delimitação se estende pelo estabelecimento de uma linha de fronteira. Já a demarcação é
a locação de uma linha de fronteira no terreno, a construção da divisa se dá a partir do estabelecimento
de marcos e balizas. De acordo com o autor, a demarcação deve subordinar-se à delimitação. Todavia,
não é isso que ocorre, mais ao contrário, a delimitação que acaba cedendo às facilidades da demarcação.
Segundo MOODIE (1992) “a fronteira se distingue do limite precisamente porque o primeiro é natural
e remete, portanto, à Geografia, enquanto o segundo é artificial e remete diretamente ao Estado”.
Já Foucher, citado por Magnoli e Araújo (s.d), esclarece que:
As fronteiras, enquanto estruturas espaciais elementares exercem funções de descontinuidade
geopolítica, de delimitação e demarcação em três níveis: real, simbólico e imaginário. O real representa
o limite espacial de exercício de uma soberania (...). O simbólico remete à participação em uma
comunidade política inscrita num território que lhe pertence: é um sinal identitário. O imaginário conota as
relações com o outro, vizinho, amigo ou inimigo e, portanto, as relações da comunidade com a sua história
e seus mitos fundadores (...). A fronteira não é, então, um limite funcional banal, com simples funções
jurídicas ou fiscais. (Grifos nossos)
Enquanto uma estrutura espacial imaterial, as fronteiras não podem ser captadas pelos meios
amplamente utilizados na atualidade como, por exemplo, fotografias aéreas ou imagens de satélite.
Mas isso não quer dizer que esses meios não possam ser empregados na análise sobre a produção e
a apropriação do espaço pelo homem. Nessa perspectiva o conceito de fronteira ultrapassa o de limite e,

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devido a sua relevância, requer que sua análise ultrapasse as suas funções jurídicas ou fiscais na medida
em que está diretamente ligado à esfera da cultura.
Não pode ser desconsiderado que a fronteira é um marco e que sua delimitação não é impeditiva da
interação dos atores sociais, pois em sua área há povoações. Já o limite, por ser um fator de separação,
pois aparta as unidades territoriais, em suas diversas escalas (internacionais, nacionais, municipais,
locais, grupais) normalmente se constitui como um obstáculo fixo, não importando a presença de fatores
comuns, físico-geográficos, sociais, econômicos, políticos ou culturais. Assim, o limite é reconhecido
como linha e, por esse motivo, não pode ser habitado. Deve ser salientado como o faz Martin (1992) que
este, na maioria das vezes, é definido/demarcado por cursos d’água, linhas de trem, rodovias, cristas
montanhosas, coordenadas geográficas ou outras linhas geodésicas. Porém,
Liberato (2007, p. 66) ressalta que:
É importante salientar que as fronteiras dos territórios são em sua grande maioria simbólicas e que a
demarcação dessas, ou seja, a fixação dos limites territoriais, é decorrente das lutas incessantes entre
os vários grupos para ocupar cada vez mais espaço, seja esse último físico e/ou simbólico.
Não pode ser ignorado que o termo limite designa o fim de uma determinada unidade político territorial
e que toda propriedade ou apropriação é marcada por limites visíveis ou não, assinalados no próprio
território. Nesse caso, os limites mantêm estreita ligação com o exercício do poder. O limite cristalizado
se torna ideológico, pois de acordo com Raffestin (1980) justifica territorialmente as relações de poder.
Ainda segundo Raffestin (1980, p. 19),
(...) o limite é, portanto, uma classe geral, um conjunto cuja fronteira é um subconjunto.
Ainda aí é particularmente estranho que só a fronteira tenha uma conotação política enquanto, de fato,
todo limite possui uma, nem que seja só pelo fato de ele ser sempre a expressão de uma manifestação
coletiva, direta ou indireta. A fronteira é manipulada como instrumento para comunicar uma ideologia.
Outro conceito distinto tanto do de limite quanto do de fronteira é o de divisa ou marco de fronteira.
Esse, por sua vez, se constitui no aspecto visível do limite, pois é um ou mais pontos fixados pelo homem
em uma determinada área, sendo, portanto, um símbolo visível do limite.
Diante do exposto, ficou claro que a Geografia Política oferece uma ampla possibilidade de conexão
escalar para efetivação de estudos que envolvem as relações de poder, especificamente emergindo a
temática dos territórios, e/ou disputa por estes. O território, portanto, como categoria de análise
geográfica, é o lócus, onde se concretiza essas relações sociais e objeto de suma importância na
efetivação de estudos destinados a tratar da Geografia Política. A polêmica das fronteiras é um resultado
da expansão capitalista e, tal como já explicitado, uma crescente “desterritorialização”, ou mundialização
dos territórios através de fluxos contínuos, marcada pelo não lugar.

CONFLITOS ÉTNICO-NACIONALISTAS45

A disputa pela soberania sobre territórios e pela definição de novas fronteiras tem ocasionado
numerosos conflitos pelo mundo. Muitos desses conflitos também são gerados pelas divergências entre
povos de culturas diferentes.
Essas questões geradoras de instabilidades têm estado cada vez menos isoladas, repercutindo
mundialmente e influenciando questões econômicas, políticas e militares no atual mundo globalizado.
Estudaremos alguns dos principais conflitos no mundo e sua repercussão internacional.

Um refugiado é uma pessoa que, “receando, com razão, ser perseguida em virtude da sua raça,
religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das suas opiniões políticas, se encontre fora do
país de que tem a nacionalidade e não possa ou, em virtude daquele receio, contar com a proteção
daquele país...” (ONU, Acnur – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. The 1951 Convention relating to the Status of Refugees. Em:
www.unhcr.ch).

Globalização e Fragmentação

Nas últimas décadas do século XX, ao mesmo tempo em que se intensificava o processo de
globalização, ampliavam-se os conflitos étnico-nacionalistas, muitos deles relacionados a movimentos
separatistas. A ampliação desses conflitos revela uma situação aparentemente contraditória, pois, ao
mesmo tempo em que a reprodução da modernidade, em nível global, tende a homogeneizar hábitos por
meio do consumo e da indústria cultural, e integrar mercados por meio das organizações supranacionais,
diversos povos lutam por sua autonomia, fragmentando o mundo num número cada vez maior de países.

45
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco; Cláudio Mendonça. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014.
MARTINEZ, Rogério; GARCIA, Wanessa. Novo olhar: Geografia. 1ª edição. São Paulo: FTD, 2013.

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No entanto, se por um lado, a busca pela independência, pela afirmação da identidade nacional e dos
valores culturais próprios pode ser vista como reação à globalização, por outro lado, a capacidade que a
modernidade tem de se reproduzir não depende do fato de existirem mais ou menos países no mundo.
Os conflitos étnico-nacionalistas estão relacionados, de modo geral, com a formação de Estados ou
países que abrigam diversas nações (multinacionais ou multiétnicas).

Estado e Nação
O conceito de nação está diretamente relacionado ao de cultura. Mas é importante ressaltar que, entre
os estudiosos, não há consenso em relação à definição de nação. Optamos por empregar a conceituação
que diferencia nação de Estado-nação.
Estado-nação é uma entidade político-administrativa, personificada por diversas instituições (Forças
Armadas; poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), que possui um território delimitado, sobre o qual
age soberanamente.
Nação é um conjunto de pessoas que têm em comum o passado histórico, a língua, os costumes, os
valores sociais, culturais e morais, e, quase sempre, a religião. Tudo isso confere à nação uma identidade
cultural, uma consciência nacional, que contribui para que os seus indivíduos compartilhem determinadas
aspirações, como, por exemplo, o desejo de permanecerem unidos, de se promoverem em termos sociais
e econômicos, e de preservarem sua identidade nacional (aspecto importantíssimo no conceito de nação).

No mundo, a maioria dos países é constituída por diversas nações, ou seja, os Estados são
multinacionais ou multiétnicos. As principais razões das lutas separatistas de cunho nacionalista são
explicadas pela não-aceitação das diferenças étnicas e culturais, pela existência de privilégios impostos
pela supremacia de um grupo sobre outro, pelos interesses econômicos de determinados grupos sociais
e pelo desejo de nações em constituírem seus próprios Estados.
Mas nem todo movimento nacionalista parte de interesses legítimos. Outra concepção de
nacionalismo prega o uso da força para defender seus interesses, e considera o outro, em função das
diferenças étnicas ou raciais, como inimigo e adversário. Nesta concepção o nacionalismo confunde-se
com o racismo e a xenofobia. Foi essa concepção de nacionalismo que Hitler colocou em prática na
Alemanha.
Portanto, as lutas étnicas e nacionalistas, que se multiplicaram nas duas últimas décadas do século
XX, devem ser analisadas a partir dos aspectos peculiares a cada uma delas e dos diferentes contextos
histórico-geográficos em que se desenvolveram.

O Fundamentalismo Islâmico
O Islamismo é a religião que mais cresce no mundo. Conta, atualmente, com cerca de 1 bilhão e 200
milhões de fiéis espalhados, sobretudo, pelo Oriente Médio, norte da África e sudeste asiático, onde se
encontra a Indonésia, país com a maior população islâmica do mundo. Essa religião foi fundada por
Maomé, no século VII, e baseia-se no Corão ou Alcorão, também chamado de Livro de Deus (Kitab Alah).
Os seguidores do Islamismo são denominados muçulmanos.
Mas a interpretação do Corão não é a mesma para todos os muçulmanos. Para vários deles, certos
aspectos das sociedades ocidentais, como, por exemplo, a liberdade de expressão e de religião, e a
igualdade de direitos entre homens e mulheres, são incompatíveis com as leis do Corão.
Para os fundamentalistas, o Ocidente, com seus valores, constitui uma ameaça à sociedade
muçulmana. Superado o “perigo vermelho”, representado pela URSS, o fundamentalismo islâmico surge
como um dos grandes “vilões” do Ocidente. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, essa imagem
tem sido muito explorada pelos Estados Unidos, que relacionam os grupos fundamentalistas ao
terrorismo.
Além dos esforços de preservação cultural, o crescimento do fundamentalismo islâmico está
relacionado aos sucessivos fracassos econômicos e políticos dos governos de vários países muçulmanos
da Ásia e do norte da África, os quais, com o término da Segunda Guerra Mundial, conquistaram sua
independência e passaram a ter governos próprios.
Desde então, o caos econômico e social, aliado ao autoritarismo e à corrupção da classe política
dirigente, passou a representar um terreno extremamente fértil para a expansão do fundamentalismo
islâmico em alguns países. A população muçulmana foi depositando cada vez mais suas esperanças nas
próprias raízes religiosas e culturais, já que a chegada da modernidade só trouxe benefícios para uma
minoria – a elite econômica.
Além disso, a independência política conquistada por esses países também não significou a eliminação
das interferências externas das grandes potências mundiais. A posição das grandes potências mundiais
– sobretudo dos Estados Unidos – em relação aos governos dos países islâmicos, sempre foi ambígua.

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No Oriente Médio, por exemplo, o petróleo foi o fio condutor que determinou o apoio norte-americano a
um ou outro governante, de acordo com as vantagens econômicas e estratégicas que pudessem ser
abertas nessa região.

Principais Conflitos Étnicos na Europa

Os conflitos no centro e leste da Europa estão relacionados ao fim dos governos socialistas de cunho
centralizador e autoritário, os quais foram implantados em diversos países dessa região após a Segunda
Guerra Mundial. No entanto, a história da diversidade e dos conflitos étnicos na região é antiga. Ela resulta
da expansão dos impérios Russo, Otomano e Austro-Húngaro, e da decomposição desses dois últimos
entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX. Esses impérios controlaram
diversas nações – praticamente as mesmas que foram submetidas aos regimes comunistas do pós-guerra
– e foram responsáveis pela instabilidade nas fronteiras dessa região europeia.
Os conflitos nacionalistas também estão relacionados, muitas vezes, à falta de perspectivas de
melhoria das condições de vida da população mais atingida pelas más condições socioeconômicas de
determinado país. Soma-se, a tudo isso, o sentido nacionalista – a vontade de ver os símbolos da nação
não mais submetidos a outro poder. Esse sentimento, apesar de ser um elemento aglutinador, de criar
laços de solidariedade, pode ser facilmente manipulado por líderes inescrupulosos.

Conflito nos Bálcãs: Esfacelamento da Iugoslávia


Bálcãs é uma região peninsular localizada no sudeste da Europa, onde hoje estão situadas a Bulgária,
Albânia, Grécia, Turquia (trecho europeu), Iugoslávia, Croácia, Eslovênia, Macedônia e Bósnia –
Herzegovina. O termo balcanização é uma referência aos diversos conflitos étnico-nacionalistas que
ocorreram e ocorrem na região, onde a instabilidade das fronteiras é uma marca. Esse termo é utilizado
para se referir aos movimentos separatistas que se alastram por todo o mundo.

Até 1991, a Iugoslávia era formada por seis repúblicas (Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-
Herzegovina, Macedônia, Montenegro) e duas regiões autônomas (Kosovo e Vojvodina) pertencentes à
Sérvia.
A população iugoslava compunha-se de várias nacionalidades (sérvios, croatas, eslovenos,
macedônios, albaneses, húngaros) e alguma delas encontravam-se espalhadas em praticamente todas
as seis repúblicas. Além disso, no país predominavam três religiões (muçulmana, cristã ortodoxa católica
romana) e falavam-se cinco idiomas (sérvio-croata, esloveno, albanês, húngaro, macedônio).
Essa complexa composição étnica manteve-se unida sob o governo de Josip Broz (marechal Tito),
líder de origem croata, que, devido ao carisma e habilidade política e apoio do aparato militar, conseguiu
congregar, num único Estado, toda a diversidade nacional, religiosa e étnica.
A morte de Tito, em 1980, comprometeu esta relativa estabilidade. Em 1990, o fim da URSS fortaleceu
os movimentos separatistas que desabrocharam em todas as repúblicas iugoslavas. O poderio militar da
federação iugoslava, em grande parte controlado pelos sérvios, tentou impedir a independência destas
repúblicas e, para isso, conto com o apoio dos sérvios que nelas viviam.
Em junho de 1991, a Eslovênia e a Croácia declararam independência, que foi reconhecida pela
Iugoslávia após breve período de violentos conflitos. A Macedônia seguiria o mesmo alguns meses
depois. Neste caso, não houve guerra com o governo central. Em abril de 1992, a Bósnia-Herzegovina
também declarou independência, dando origem ao mais violento e intenso conflito da região balcânica.

A Independência da Bósnia
A Bósnia-Herzegovina era a república iugoslava etnicamente mais heterogênea: 39,5% de
muçulmanos, 32% de sérvios, 18,4% de croatas.
Após ter sua independência reconhecida por diversos países europeus, pelos Estados Unidos e pela
ONU, croatas, muçulmanos e sérvios passaram a disputar fatias do território bósnio. A guerra civil da
Bósnia teve início em 1992 e tornou-se acirrada quando o líder sérvio, Radovan Karadzic, contrário à
separação, proclamou a formação da República Sérvia da Bósnia-Herzegovina, não reconhecendo a
independência do país. A guerra se estendeu até 1995, apresentando um saldo de mais de 200 mil mortos
e 2 milhões de refugiados muçulmanos. Essa guerra foi marcada pelo extermínio (“limpeza étnica”) dos
não-sérvios que viviam na ex-república iugoslava, o qual contou com o apoio do então presidente da nova
Iugoslávia, Slobodan Milosevic.

Limpeza étnica é a situação em que um Estado ou governante promove a expulsão e/ou extermínio
de um grupo étnico, geralmente minoritário, em seu território. Os métodos utilizados também envolvem

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perversidades e atrocidades, como a morte indiscriminada de civis, estupro de mulheres, incêndio de
residências, etc. O objetivo é amedrontar a população e promover a fuga em massa do território. Busca-
se, desta forma, um equilíbrio étnico favorável ao grupo que detém o poder.

Em 1995, um acordo de paz selou o fim da guerra na Bósnia. Esse acordo dividiu o país em uma
Federação muçulmano-croata, que controla 51% do território bósnio, e uma República Sérvia da Bósnia,
que controla 49%. O governo é regido por uma presidência colegiada, com representantes das três etnias.
No entanto, a permanência de povos inimigos históricos e com ambições territoriais e nacionalistas no
mesmo país e as dificuldades de uma administração conjunta tornam a região bastante instável.
Apesar do acordo de paz ter sido assinado em Paris, ele ficou conhecido por Acordo de Dayton, nome
da cidade dos Estados Unidos em que está situada a Base Aérea de Wright-Patterson, local em que as
negociações foram realizadas.

A Guerra de Kosovo
A partir de 1998, os conflitos passam a se desenrolar na região de Kosovo, habitada
predominantemente por população de origem albanesa (90% dos dois milhões de habitantes) e que,
desde 1989, tinha perdido parte da autonomia em relação ao poder central iugoslavo, como o direito ao
ensino em língua albanesa e a uma polícia própria.
Para fazer frente ao crescimento do movimento separatista armado, liderado pelo ELK (Exército de
Libertação de Kosovo), o então presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, contra-atacou com violência
a região de Kosovo. Alegando combater os separatistas e defender a integridade do país, promoveu um
massacre à população civil. Em 1999, a OTAN negociou com a Iugoslávia o fim do conflito e a volta da
autonomia de Kosovo. Diante da recusa iugoslava, as tropas da OTAN lançaram um intenso ataque ao
país. A guerra de Kosovo terminou após 78 dias de bombardeiros liderados pelos Estados Unidos. Essa
ação, classificada pelo governo norte-americano de “defesa humanitária”, não foi decidida no âmbito do
Conselho de Segurança da ONU, constituindo, portanto, um desrespeito às normas internacionais.
Num sinal claro de que a solução para os problemas étnicos era bastante complexa, o Parlamento da
Iugoslávia, com o acompanhamento da União Europeia, aprovou, em fevereiro de 2003, a Constituição
do novo Estado da Sérvia e Montenegro. Nesse novo Estado, a diplomacia e a segurança são conjuntas,
mas tanto Sérvia como Montenegro têm grande autonomia, a ponto de cada uma ter o seu Banco Central.
Sob pressão de Montenegro, que queria a independência total, acertou-se a realização de um referendo,
em 2006, para decidir se as repúblicas continuariam unidas.

A Questão Basca
Há cerca de cinco mil anos, o povo basco habita uma área de quase 21 mil Km² entre o norte da
Espanha e o sudoeste da França. Os bascos vivem espalhados em quatro províncias espanholas: Álava,
Biscaia, Guipúzcoa e Navarra; e três províncias francesas: Labourd, Baixa Navarra e Soule. Ao longo dos
séculos, os bascos receberam poucas influências culturais ou de miscigenação de outros povos,
preservando assim suas características biológicas, étnicas, culturais e linguísticas. O euskara, a língua
basca, é falado no cotidiano das famílias, nas escolas e no trabalho.
Assim como outras minorias étnicas espalhadas pelo mundo, os bascos alimentam um sentimento
nacionalista, ou seja, aspiram à conquista de soberania política e territorial em relação ao Estado ao qual
estão subordinados. A ideia de um país basco começou a surgir com o Partido Nacionalista Basco, criado
no final do século XIX. Havia um plano efetivo para a instituição do país basco em 1934, mas foi
interrompido pela ditadura (vigente entre 1939-1975) imposta na Espanha pelo governo do general
Francisco Franco. Nesse período, o Partido Nacionalista Basco foi considerado uma organização ilegal,
sofrendo censura e perseguição política, o que também se estendeu a povo basco, que foi impedido de
falar e ensinar sua língua nas escolas, assim como de hastear sua bandeira e promover manifestações
tradicionais de sua cultura.
Nesse contexto de forte repressão política, surgiu um movimento separatista em prol da libertação dos
bascos chamado Euskadi Ta Askatasuna ou “Pátria Basca e Liberdade”, mais conhecido como ETA,
criado em 1959 por dissidentes do Partido Nacionalista Basco. Nas décadas seguintes, o ETA passou a
defender a independência dos bascos por meio da luta armada, sobretudo com ações terroristas. Ao
longo de sua história, os ataques do ETA provocaram a morte de mais de 800 pessoas, entre políticos,
militares e civis, as maiores vítimas.
Em 2006, o ETA declarou cessar-fogo, mas a duração desse ato foi de poucos meses. Em dezembro
do mesmo ano, a organização promoveu o maior atentado terrorista de sua história. O episódio foi
marcado pela explosão de um carro-bomba em um dos terminais do aeroporto de Madri, que destruiu
parte das edificações e deixou dezenas de civis feridos e dois mortos. O uso da violência, no entanto,

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comprometeu a imagem da organização perante a opinião PÚBLICA. O ETA perdeu prestígio e apoio
popular, enfraquecendo-se politicamente. Em 2011, a organização divulgou comunicado informando seu
fim definitivo. Ainda assim, a questão está longe de ser resolvida. Na Espanha, a esquerda nacionalista
continua se articulando para criar novas organizações supostamente comprometidas a usar apenas meios
pacíficos para atingir seus fins políticos. O governo espanhol, por sua vez, tem impedido a legalização de
tais organizações.

A Questão Irlandesa
A ilha da Irlanda foi dominada pela Inglaterra no século XII e, desde então, começou a receber grande
quantidade de imigrantes ingleses e escoceses. Em 1800, a Irlanda passou a pertencer ao Reino Unido
(formado, atualmente, pelos países da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales) e a Irlanda do
Norte), por decreto do rei da Inglaterra na época, dando início à organização da luta pela independência.
Mas foi no início do século XX que os conflitos entre Irlanda e Inglaterra ganharam maiores proporções
com a criação do Sinn Fein, partido político representante do separatismo irlandês, e do Exército
Republicano Irlandês (IRA), que organizou a luta armada contra o domínio britânico.
Os conflitos obrigaram o Reino Unido a realizar uma consulta popular na Irlanda sobre a
independência. As províncias do centro e do Sul, de maioria católica e de população de origem irlandesa,
votaram pela separação do Reino Unido; as províncias do Norte (Ulster), de maioria protestante e de
população de origem inglesa, posicionaram-se contra essa separação.
Em 1921, assinou-se tratado pelo qual as províncias do centro e do Sul poderiam formar um Estado
independente. Esse processo de independência encerrou-se somente em 1937, quando foi instituída a
constituição do novo país, denominado República do Eire. O Reino Unido reconheceria essa
independência apenas em 1949. Em relação à independência das províncias do Norte, o Reino Unido até
hoje mantém-se intransigente em concedê-la.
A ação do IRA tornou-se mais intensa na segunda metade do século XX, através da realização de
atentados terroristas, os quais visavam, inicialmente, atingir as autoridades e instituições britânicas, mas,
num segundo momento, estendeu suas ações a toda população civil protestante. A reação dos britânicos
contra os irlandeses foi igualmente violenta, intensificando o conflito nas províncias do Norte.
Depois de anos de luta armada, os dois lados do conflito entraram em negociação e, em 1999,
assinaram um acordo de paz que determinou a deposição das armas pelo IRA e a instalação de um
governo compartilhado entre católicos e protestantes. A Irlanda do Norte permaneceu ligada ao Reino
Unido, mas o acordo admite a separação futura caso a população, em sua maioria, tome esta decisão.
Nem todos os irlandeses são favoráveis a este acordo de paz. A violência de ambas as partes, tanto
dos católicos separatistas como dos protestantes unionistas, tem alimentado, por décadas, o ódio entre
esses dois grupos. Por essa razão, muitos acreditam que novos conflitos poderão ressurgir a qualquer
momento.

Os Conflitos no Cáucaso
O Cáucaso, região montanhosa situada a sudeste da Europa, entre o Mar Negro e o Mar Cáspio,
constitui uma da áreas de grande tensão geopolítica, mercada pela eclosão de uma série de guerras civis,
conflitos separatistas e étnicos, além de confrontos fronteiriços pela disputa de territórios entre países
vizinhos.
A região abrange o território de três países – Armênia, Geórgia e Azerbaijão -, além de várias
repúblicas russas, como Ossétia do Norte, Chechênia, Daguestão e Inguchétia, com uma população de
aproximadamente 21 milhões de pessoas, que se destaca pela grande diversidade étnico-cultural. São
mais de 100 grupos étnicos com costumes, línguas e dialetos próprios, que, em sua grande maioria,
seguem a região cristã ou islâmica. Essas diferenças étnico-religiosas estão na base da maioria dos
conflitos que eclodem na região.
Esses conflitos se tornaram mais intensos a partir da desintegração da União Soviética no início da
década de 1990. Até então, essa região esteve sob o domínio do governo soviético, que controlou com
mão de ferro, pelo uso da força, qualquer tipo de rebelião nessas suas repúblicas.
Com o fim da União Soviética, algumas dessas repúblicas se tornaram países independentes,
formando novos países, e outras passaram ao controle da Rússia, principal herdeira do império soviético.
Com o novo arranjo político-territorial e as diferenças étnico-religiosas existentes, foi praticamente
inevitável a eclosão de grandes conflitos na região.
No início da década de 1990, o fortalecimento de um movimento separatista levou a Chechênia, de
população majoritariamente muçulmana, a declarar sua independência em relação à Rússia. O governo
Russo, no entanto, não reconheceu a proclamação dos chechenos e respondeu com um violento ataque
militar aos separatistas, que deixou um saldo de aproximadamente 80 mil mortos, e ficou conhecido como

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Guerra da Chechênia (1994-1996). Desde então, o conflito se encontra em estado latente, com os
separatistas chechenos promovendo ataques terroristas contra alvos russos, como ocorreu em 2004,
quando terroristas chechenos invadiram uma escola na república da Ossétia do Norte e detonaram
explosivos, causando a morte de 344 pessoas, sendo 186 crianças.
No Daguestão, outra república russa, grupos muçulmanos lutam para criar um Estado islâmico,
movimento também combatido pelas forças russas que buscam manter o controle da região, rica em
reservas de petróleo. Na Geórgia, os conflitos separatistas envolvem as repúblicas da Ossétia do Sul
(maioria persa e cristã) e da Abkházia (maioria muçulmana ortodoxa), que desde 1991 lutam contra os
georgianos (cristãos) para se tornar independentes. Em 2008, a Geórgia lançou uma ofensiva militar
contra os ossetas, o que levou à intervenção dos russos, que invadiram o território da Ossétia do Sul,
para desalojar tropas georgianas. A participação da Rússia no conflito, no entanto, provocou um
acirramento das tensões com os Estados Unidos, que têm a Geórgia como aliada na região.
A região de Nagorno-Karabakn é alvo de disputa entre a Armênia e o Azerbaijão. Embora esteja
encravada no território do Azerbaijão, país de origem muçulmana, quase 80% de sua população é cristã
e de origem armênia. Assim, desde o início da década de 1990, quando os soviéticos saíram da região,
os armênios reivindicaram a posse do território, fato que já levou esses países a se confrontarem
militarmente entre 1992 e 1994. Apesar das negociações em curso desde o cessar-fogo, o impasse pelo
controle da região ainda persiste.

Territórios e Conflitos na África


Muitos dos conflitos existentes hoje no mundo envolvendo disputa por territórios, como aqueles que
ocorrem em várias partes do continente africano, têm origem histórica ligada ao processo de expansão
do capitalismo ao longo dos últimos dois séculos e suas implicações na delimitação das fronteiras dos
Estados nacionais.
Nas últimas décadas do século XIX, o continente africano, até então habitado por povos de diferentes
grupos étnicos, passou a ser mais efetivamente ocupado e exaltado pelas potências econômicas
europeias. Em plena Revolução Industrial, países como Inglaterra, França, Bélgica, Holanda e Alemanha
necessitavam de matérias-primas em grande escala e a baixos custos para abastecer seus parques
industriais em expansão. Para assegurar seu suprimento esses países se apropriaram do vasto território
africano (e também de extensas regiões do continente asiático) como forma de explorar os recursos
naturais nele existentes e utilizar suas terras para o cultivo de grandes monoculturas tropicais, as
chamadas plantations. Para isso, estabeleceram a divisão ou partilha do território africano em um acordo
selado em 1885 durante a Conferência de Berlim.
As alterações resultantes dessa divisão desestruturaram a organização política, econômica e social da
maioria dos povos africanos. As fronteiras traçadas de maneira arbitrária elos europeus, por exemplo,
ignoraram as diferenças técnicas dos inúmeros reinos e grupos tribais existentes no continente. Assim,
em muitos casos, essa divisão colocou no território de uma mesma colônia antigos povos rivais, ou, ainda,
separou povos com a mesma identidade histórico-cultural. Os colonizadores também escravizaram
populações e impuseram suas línguas, costumes e valores morais e étnicos aos povos colonizadores.
Muitas vezes, os povos nativos sofreram intensa dominação cultural, sendo obrigados a aprender a língua
do colonizador, a mudar seus hábitos alimentares e a se vestirem como os europeus. Os povos que
tentaram resistir a colonização foram brutalmente reprimidos em violentos conflitos. Mais bem armados,
os soldados europeus massacraram os movimentos de resistência que, em certos casos, exterminaram
grupos tribais inteiros.
Somente a partir de meados do século XX, com o enfraquecimento político, econômico e militar dos
países europeus devastados pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial é que a luta contra o colonialismo
no continente ganhou impulso. Surgiram movimentos de independência em praticamente todas as
colônias europeias na África, reivindicando a ruptura dos laços mantidos com as metrópoles.
Alguns desses rompimentos foram pacíficos, enquanto outros ocorreram por meio de violentos
conflitos que se arrastam por várias décadas, opondo a população local e os colonizadores. Os
movimentos de independência das colônias africanas (e também a Ásia) após a Segunda Grande Guerra
ficou conhecido, historicamente, como processo de descolonização.
Contudo, mesmo após a independência política, muitos desses países mantiveram praticamente os
mesmos limites territoriais traçados pelos colonizadores europeus.
A desorganização étnico-cultural herdada do traçado dessas antigas fronteiras tem sido a causa de
inúmeros conflitos territoriais e guerras civis que, ao longo da história, assolam muitos países africanos.

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Conflitos Étnico-Nacionalistas na Ásia
Há uma grande quantidade de conflitos étnico-nacionalistas na Ásia. O continente abriga cerca de 60%
da população mundial e milhares de etnias. Nas duas últimas décadas do século XX, alguns desses
conflitos se destacaram pelo grande número de pessoas envolvidas e pela violência empregada.

Os Confrontos na Índia: Hindus e Muçulmanos


A tensão entre hindus (28% da população indiana) e muçulmanos (12%) iniciou-se com a chegada dos
árabes à região, no século VII, os quais difundiram o Islamismo no país. Essa religião conquistou muitos
adeptos nas camadas mais pobres da sociedade indiana, que viam nela um caminho para se
desvencilharem do sistema de castas da religião hindu (o Hinduísmo), que estrutura a sociedade indiana.
O sistema de castas, apesar de extinto por lei, tem ainda forte presença nas relações sociais na Índia.
Segundo esse sistema, cada indivíduo pertence a uma casta desde o nascimento, não é permitido o
casamento entre pessoas de castas diferentes nem existe mobilidade de uma casta para outra.
A sociedade hindu divide-se basicamente em quatro castas ou ordens principais: os brâmanes
(monges), os xátrias (guerreiros), os vaixás (comerciantes e artesãos) e, na base da pirâmide, os sudras
(camponeses e serventes). Os indivíduos considerados impuros pelas outras castas denominam-se
párias e exercem profissões como coveiro e faxineiro.

Os Conflitos na Caxemira
Situada nas encostas da cordilheira do Himalaia, a região da Caxemira constitui um dos focos de maior
tensão geopolítica no Sul da Ásia, alvo de conflitos que se arrastam há mais de 60 anos. Desde que
deixaram de ser colônia do Império Britânico, em 1947, Índia e Paquistão disputam a posse da região,
que tem aproximadamente 220 mil quilômetros de extensão e abriga cerca de 12 milhões de pessoas.
Logo após a retirada dos britânicos, indianos e paquistaneses entraram em guerra pela posse da região.
O conflito terminou em 1948, quando o Paquistão ficou com um terço da Caxemira e Índia com dois terços.
O Estado islâmico do Paquistão, no entanto, passou a reivindicar a anexação total da região ao seu
território, já que os muçulmanos compõem a grande maioria da população caxemire. Além de não estar
disposta a perder parte de seu território, a Índia ainda acusou o Paquistão de apoiar ações terroristas
realizadas por grupos extremistas islâmicos favoráveis ao separatismo. O governo indiano reprime a ação
de tais grupos para manter o controle sobre a região e também para evitar que uma eventual onda de
movimentos separatistas se espalhe em certas regiões do país também habitadas por outras minorias
étnicas, como a dos sikhs, que reivindicam autonomia sobre a província do Punjab.
A disputa pela região já levou esses países a se enfrentarem em outras duas guerras, ocorridas em
1965 e 1971. Assim como os conflitos entre grupos islâmicos paquistaneses e grupos hindus indianos,
essas guerras deixaram milhares de vítimas. A questão geopolítica na região tornou-se ainda mais
complexa com o envolvimento da China, que, desde 1962, também se apossou de parte da Caxemira,
após guerra travada com os indianos.
Assim, a disputa pela posse da Caxemira levou a uma crescente militarização da região, utilizada
inclusive para justificar a corrida armamentista que levou o Paquistão e a Índia a desenvolverem armas
nucleares, das quais a China já dispunha. A instabilidade política na região tem sido alvo de grande
preocupação internacional, já que a eclosão de uma nova guerra entre esses países poderia ter
consequências imprevisíveis.

Os Curdos e o Curdistão
Estimativas não muito precisas, pela falta de levantamentos estatísticos oficiais, sugerem que existam
entre 26 e 40 milhões de curdos espalhados pelo território de vários países do Oriente Médio. Esse povo
forma o maior grupo étnico sem Estado do mundo. O território ocupado pelos curdos, chamado Curdistão,
estende-se por uma região montanhosa com 530 mil quilômetros quadrados, que abrange áreas do Irã,
Iraque, Síria, Turquia, Armênia, Geórgia e Azerbaijão.
Na Turquia, onde vive a maioria dos curdos (cerca de 15 milhões, o que representa 20% da população
do país), surgiu o mais atuante grupo armado que luta pela formação de um Estado curdo independente:
o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Criado no final da década de 1970, tornou-se uma
organização separatista engajada na luta armada pela causa do povo curdo, que aspira a soberania
política e territorial do Curdistão. A luta por essa soberania vem sendo reprimida de maneira violenta pelas
forças governamentais, especialmente na Turquia, onde o governo considera o PKK uma organização
terrorista. Estima-se que somente no conflito curdo-turco tenham morrido mais de 37 mil pessoas.
A enorme resistência que os países da região colocam à criação de um Estado curdo não se justifica
somente por causa da perda de parte de seu território. Essa região dispõe de imensas reservas de
petróleo em seu subsolo. A Turquia extrai praticamente todo seu petróleo da região curda, enquanto cerca

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de 40% das reservas petrolíferas iraquianas também estão em áreas curdas. Com o objetivo de conter a
luta dos curdos pela independência em seu território e de manter o controle sobre os campos de petróleo,
o governo iraquiano, no final da década de 1980, promoveu ataques que destruíram mais de duas mil
aldeias curdas e provocaram o massacre de milhares de pessoas, incluindo crianças e mulheres (as
estimativas oscilam entre 50 e 100 mil mortos).
A complexidade que envolve a questão curda está ligada à grande instabilidade política nessa
conturbada região do Oriente Médio, marcada pela presença de países com os mais diversos problemas
de ordem interna e externa. Com a eclosão da guerra civil na Síria, em 2011, grupos armados curdos
assumiram o controle das áreas no nordeste do país aproveitando-se da fragilidade das forças sírias,
recrutadas para conter os conflitos que s intensificaram no país.

Os Conflitos no Oriente Médio


O domínio que o Império Turco-Otomano exercia sobre boa parte do Oriente Médio, o qual prevaleceu
até a Primeira Guerra Mundial, foi praticamente substituído pela ocupação inglesa e francesa, que se
prolongou até a década de 1940.
Durante esse último período, ocorreu um processo de grande fragmentação territorial desta região.
Após essa década, os ingleses e franceses foram afastados do Oriente Médio, o que consolidou o
processo de independência de vários países e favoreceu a criação do Estado de Israel, foco permanente
dos conflitos étnico-nacionalistas que opõem os árabes e palestinos aos judeus.
No entanto, a independência de diversos países não significou o fim dos conflitos na região. Pelo
contrário, após a Segunda Guerra Mundial, o Oriente Médio transformou-se no principal foco de tensão
mundial em função da criação do Estado de Israel, em 1948; dos interesses econômicos e estratégicos
das grandes potências, que buscam o controle das jazidas de petróleo; das disputas internas pelo poder
numa região marcada por regimes autoritários; dos conflitos religiosos e da má condição de vida da
maioria da população.
A herança da Guerra Fria é outro importante fator de instabilidade e de intensificação dos conflitos. Os
Estados Unidos e a URSS armaram exércitos e grupos de oposição, fortalecendo ditaduras e grupos
terroristas. Atualmente, cerca de 40% das vendas de armas dos Estados Unidos destinam-se a países
do Oriente Médio.

Israel e a Questão Palestina


Localizada no Oriente Médio, a região da Palestina tem sido palco de um dos conflitos de maior
repercussão em todo o mundo. Trata-se do confronto entre árabes e judeus pela posse dos territórios
ocupados por esses dois povos, cujas raízes são tão antigas quanto a própria ocupação daquelas terras.
Há cerca de 2000 anos a.C., os hebreus, que depois passariam a ser chamados de judeus, ocupavam
as terras da Palestina. Devido à sua posição geográfica, que a situa estrategicamente entre a Europa, a
Ásia e a África, essa região foi alvo de muitas disputas, e foi submetida ao domínio de vários reinos e
impérios. Os assírios e os babilônios, por exemplo, dominaram e escravizaram os hebreus séculos antes
da era cristã. Sob o domínio dos romanos desde o início da era cristã, os hebreus (judeus) foram expulsos
de suas terras e se dispersaram pelo mundo em um movimento conhecido como diáspora judaica.
Entre o século VII e o século XV, após a longa ocupação romana, a Palestina foi ocupada pelos povos
árabes, também chamados de palestinos, quase todos muçulmanos, que até o início do século XX
permaneceram na região sob o domínio do Império Turco-Otomano, quando passaram para o controle
do protetorado britânico.

O Movimento Sionista
Mesmo dispersos pelo mundo durante tanto tempo, os judeus preservaram sua identidade histórico-
cultural e sempre alimentaram o sonho de constituir um território judaico soberano e independente. No
final do século XIX, surgiu na Europa o movimento sionista, que defendia a imigração dos judeus para a
Palestina (antiga terra dos hebreus). Esse movimento propunha a criação de um Estado judeu nos
arredores do Monte Sião (daí a origem do nome sionismo), uma das colinas que cercam as terras da
cidade de Jerusalém, considerada santa para judeus, cristãos e muçulmanos.
Vítimas de perseguições e massacres sistemáticos, comunidades judaicas espalhadas em várias
partes do mundo se deslocaram, então, para aquela região, estabelecendo-se em colônias agrícolas e
em bairros judaicos. O movimento sionista se fortaleceu após a declaração de Balfour, em 1917, por meio
da qual os britânicos apoiaram o retorno dos judeus, caso a Inglaterra conseguisse derrotar o Império
Otomano eu, mesmo enfraquecido, ainda dominava a região.

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Contudo, a imigração de judeus para a Palestina se intensificou ainda mais com a perseguição
promovida pelo regime nazista alemão, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial e nas décadas
seguintes.

A Formação do Estado de Israel


Em meados da década de 1940, quando os judeus somavam quase um terço da população Palestina,
os britânicos decidiram abandonar o plano de construção do estado judaico, deixando tal tarefa a cargo
da ONU, que também herdou o imbróglio entre judeus e palestinos, eu entraram em conflito para disputa
daquele território. Muito pressionada pela comunidade judaica internacional e também com o apoio dos
Estados Unidos, que buscavam ampliar sua influência política na região, a Assembleia Geral da ONU
aprovou em 1947 a partilha da Palestina, criando dois Estados: um árabe e outro judaico.
Os territórios foram divididos de acordo com a população predominante em cada região. A cidade de
Jerusalém, considerada sagrada por judeus e árabes, permaneceu sob controle internacional. O plano,
porém, foi rejeitado pelos palestinos, que teriam de ceder parte de seus territórios para os judeus, o que
acirrou ainda mais os conflitos entre esses povos. Em 1948, os judeus declararam oficialmente a
independência do Estado de Israel, ocupando cerca de 56% de toda a Palestina.
A reação árabe foi praticamente imediata. Na tentativa de impedir a implantação do novo Estado, os
exércitos dos países árabes vizinhos (Egito, Jordânia, Iraque, Líbano e Síria) declararam guerra a Israel.
Mais bem preparado e equipado militarmente, Israel derrotou as forças árabes pondo fim à primeira guerra
árabe-israelense.
Com a vitória, Israel ampliou seus domínios sobre os territórios palestinos. A área da Faixa de Gaza
passou a ser controlada militarmente pelo Egito, e a Cisjordânia, assim como a parte oriental de
Jerusalém, passaram a ser controlados pela Jordânia. Assim, o território reservado no início aos
palestinos praticamente desapareceu, levando-os a se refugiarem em várias localidades no entorno da
região. Desde então, os palestinos lutam pela criação de seu Estado, uma luta que atualmente é chamada
de “questão palestina”.
Foi nesse contexto que surgiram movimentos e organizações político-partidárias em defesa da criação
de um Estado Palestino, a exemplo da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), formada por
vários grupos paramilitares controlados pelos países árabes. Com o fortalecimento dos grupos radicais
dentro dessas organizações, como a organização política e militar Fatah (“conquista” em árabe), criada
em 1964, seus membros passaram a cometer atentados terroristas contra Israel.
Em 1967, temendo uma nova reação dos países árabes, Israel organizou um grande ataque militar,
que tomou, em menos de uma semana, a Faixa de Gaza e a península do Sinai, do Egito; a Cisjordânia
e Jerusalém, da Jordânia; e as colinas de Golã, da Síria. Após a Guerra dos Seis Dias, como esse conflito
ficou conhecido, Israel ampliou significativamente seu domínio territorial.
Em 1973, o Egito e a Síria tentaram recuperar os territórios que haviam sido perdidos na Guerra dos
Seis Dias, dando início a uma nova ofensiva militar a Israel. No dia do feriado religioso judaico conhecido
como Yom Kippur (Dia do Perdão), tropas egípcias e sírias atacaram Israel de surpresa, conseguindo
grande vantagem nos primeiros dias de conflito, ao que parecia ser uma vitória fácil sobre o exército
israelense.
Contudo, Israel teve uma rápida recuperação, impedindo o avanço das tropas egípcias e sírias. A fim
de amenizar a tensão latente na região, a ONU aconselhou a devolução dos territórios árabes ocupados
por Israel. No entanto, o governo israelense se recusou a isso, fato que resultou numa crise diplomática
entre Israel e a ONU e desgastou a imagem daquele país perante a opinião internacional. No final da
década de 1970, Israel e os países vizinhos assinaram os primeiros acordos que marcaram o início do
processo de paz entre árabes e israelenses. Por meio desses acordos, Israel devolveu a península do
Sinai ao Egito, que em troca reconheceu formalmente o direito de existência do Estado judeu, e também
parte das colinas de Golã à Síria.
Desde o final da década de 1980, a OLP abandonou a luta armada e o terrorismo para se empenhar
na construção do Estado Palestino buscando uma solução para a coexistência pacífica entre árabes e
israelenses na região. A OLP reconheceu oficialmente a existência do Estado de Israel, e este reconheceu
a OLP como legítima representante do povo palestino. As negociações de paz iniciadas naquela época,
os Acordos de Oslo (1993 e 1995), previam a retirada dos soldados e a devolução da maior parte da
Faixa de Gaza e da Cisjordânia aos palestinos. Nessa ocasião, foi criada também a ANP (Autoridade
Nacional Palestina), uma instituição estatal com a atribuição de administrar o futuro Estado palestino.
Impasses e divergências nas negociações, como o fato de Israel não aceitar o retorno dos refugiados
que vivem nos países vizinhos e nem de reconhecer a parte oriental da cidade de Jerusalém como futura
capital palestina, impediram avanços mais promissores no processo de paz. As negociações se tornaram
ainda mais difíceis após a vitória da direita conservadora, representada pelo partido Likud, nas eleições

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israelenses de 2001. Na tentativa de inviabilizar a devolução dos territórios aos palestinos, Israel retomou
a construção de colônias judaicas em áreas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
A partir de então, os grupos extremistas árabes retomaram suas ações terroristas, promovendo
ataques contra Israel. Com o argumento de se proteger desses ataques, o governo israelense iniciou a
construção de uma barreira de segurança para isolar as comunidades judaicas e palestinas na
Cisjordânia. Embora o controle da Faixa de Gaza tenha sido transferido para a Autoridade Nacional
Palestina em 2005, o governo israelense vem aumentando a construção de assentamentos judaicos na
Cisjordânia. Assim, o conflito entre árabes e israelenses, que já se arrasta por mais de seis décadas,
ainda parece longe de ser solucionado.

A Morte de Arafat e a Cúpula de Sharm El-Sheik


Em novembro de 2004, morreu o líder palestino Yasser Arafat. Nas eleições que ocorreram no mês
seguinte, Mahmoud Abbas foi escolhido presidente da Autoridade Nacional Palestina.
No início de 2005, após quatro anos de conflitos (Nesse período ocorreram outras tentativas de acordo
de paz, mas sem sucesso, como a reunião realizada em Madri – 2003, patrocinada por EUA, Rússia,
União Europeia e ONU – Quarteto de Madri, que previa a criação de um Estado Palestino em 2005), e
cerca de 3 mil mortos de ambos os lados, abriu-se nova perspectiva de paz, com o encontro de Abbas e
Sharon, mediado pelos líderes do Egito e da Jordânia. No encontro, conhecido como a Cúpula de Sharm
el-Sheik (referência ao balneário egípcio onde ocorreu) ficaram acertadas a suspensão de ataques
mútuos, a libertação de prisioneiros, a retirada gradual de Israel de territórios palestinos, entre outros
aspectos. Mas ainda há vários impasses para um acordo de paz definitivo: a questão do “Muro de
Proteção”; a definição dos limites entre Israel e o futuro Estado Palestino; a situação de Jerusalém, cidade
que Israel declara como capital indivisível do país e os palestinos, por sua vez, não abrem mão de
incorporá-la ao seu Estado; a situação dos assentamentos judaicos em território da Autoridade Nacional
Palestina. Além dessas e outras questões, há sempre o risco da reação ao processo de negociação por
parte dos grupos extremistas judeus e palestinos e incertezas de como Israel e ANP irão controlar a
atuação desses grupos.

Questões

01. (USP) Leia o texto e observe a imagem.


Numa guerra não se matam milhares de pessoas.
Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma
acumulação de pequenas memórias....
Nós que aqui estamos, por vós esperamos. Direção de Marcelo Masagão. Brasil, 1999.

A partir do texto e da imagem, pode se afirmar corretamente que


(A) a história das guerras se resume a um teatro de combates travados no front por estadistas e
militares.
(B) os relatos que abordam os conflitos apenas com base nos tratados e armistícios são parciais e
limitados.
(C) o fim dos impérios, a xenofobia e a consolidação do projeto federativo garantiram a paz mundial.
(D) a banalização da morte e a experiência do exílio expressam a retração dos nacionalismos nos
séculos XX e XXI.
(E) as políticas de inclusão foram capazes de controlar os fluxos migratórios globais.

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02. (USP) Cada vez mais pessoas fogem da guerra, do terror e da miséria econômica que assolam
algumas nações do Oriente Médio e da África. Elas arriscam suas vidas para chegar à Europa. Segundo
estimativas da Agência da ONU para Refugiados, até novembro de 2015, mais de 850 mil refugiados e
imigrantes haviam chegado por mar à Europa naquele ano. Garton Ash, Timothy. Europa e a volta dos muros. O Estado de S.
Paulo, 29/11/2015. Adaptado.
Sobre a questão dos refugiados, no final de 2015, considere as três afirmações seguintes:
I. A criação de fronteiras políticas no continente africano, resultantes da partilha colonial, incrementou
os conflitos étnicos, corroborando o elevado número de refugiados, como nos casos do Sudão e Sudão
do Sul.
II. Além das mortes em conflito armado, da intensificação da pobreza e da insegurança alimentar, a
guerra civil na
Síria levou um contingente expressivo de refugiados para a Europa.
III. A política do apartheid teve grande influência na Nigéria, país de origem do maior número de
refugiados do continente africano, em decorrência desse movimento separatista.
Está correto o que se afirma em
(A) I, apenas.
(B) I e II, apenas.
(C) III, apenas.
(D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.

03. (Prefeitura de Resende/RJ – Professor – CONSULPLAN) Apesar de estarmos longe de um


grande conflito internacional generalizado, como aconteceu em dois momentos no século XX, tornando-
se conhecidos como 1ª e 2ª guerras mundiais existem hoje, no planeta, diversos conflitos localizados que
muito preocupam as autoridades internacionais. Sobre estes conflitos, NÃO se pode afirmar que:
(A) Os separatistas bascos que habitam a região localizada entre a Espanha e a França organizaram
o ETA (Pátria Basca e Liberdade), que luta pela independência do país Basco, utilizando ações
consideradas terroristas por diversos povos.
(B) Com a dissolução da Iugoslávia – país multiétnico que tem hegemonia dos sérvios –, na década
de 90, eclodiram diversos conflitos, lutas por independência e por separação, envolvendo as seis
repúblicas e duas regiões autônomas (Kosovo, Voivodina) que compunham esse país.
(C) Considerada a maior etnia sem Estado do mundo, os curdos, que ocupam territórios da Turquia,
do Iraque, da Síria, do Irã e da Armênia lutam pela formação do Estado Curdo, o Curdistão.
(D) Na Federação Russa ocorrem diversos conflitos étnicos, como por exemplo, nas repúblicas da
Chechênia e do Daguestão, ambas, de maioria muçulmana, que exigem a formação de um Estado
islâmico independente.
(E) Confrontos decorrentes do expansionismo e de invasões estrangeiras, como por exemplo, os que
têm ocorrido no Oriente Médio, envolvendo Israel, Palestina, Síria, Líbano, Egito e Jordânia ocorrem
porque os libaneses lutam pelo reconhecimento e pela demarcação de fronteiras que configurem um
Estado independente.

Gabarito

01.B / 02.B / 03.E

3.5. Ordem mundial e territórios supranacionais: blocos e fluxos econômicos e


políticos, alianças militares e movimentos sociais internacionais. 3.6.
Regionalização e a organização do novo sistema mundial. 3.7. Globalização:
características, impactos negativos e positivos

BLOCOS ECONÔMICOS46

Os blocos econômicos são associações criadas entre os países, a fim de estabelecer relações
econômicas entre si. Eles surgiram do reflexo da constante competição de economias que estão sempre

46
FURQUIM JUNIOR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: AJS, 2015.
MARTINEZ, Rogério. Novo olhar: geografia.1ª edição. São Paulo: FTD, 2013.
MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013.

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buscando o crescimento. Além disso, é um movimento cada vez mais comum no mercado mundial para
aguentar o ritmo acelerado dos países.
Essa união acontece por interesses mútuos e pela possibilidade de crescimento em grupo. Esse
crescimento passou a ser bem visto porque logo se percebeu que, por mais forte que fosse uma
economia, ela não poderia competir de igual para igual com grupos de economias unidas entre si.
Exemplos disso seguem abaixo.

Organização das Nações Unidas (ONU)

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a preocupação com o diálogo entre as nações se intensificou.
Em 24 de outubro de 1945 foi realizada na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, a Conferência
das Nações Unidas para a Organização Internacional, com a participação de 51 governos, na qual foram
discutidos temas como a paz, a segurança e a garantia do desenvolvimento econômico e social. Por fim,
todos os representantes assinaram uma carta ratificando o compromisso de cooperação entre as nações.
Assim nasceu a Organização das Nações Unidas (ONU), que passou a desempenhar um papel
essencial no estabelecimento de acordos e projetos coletivos entre os países, com ações voltadas a
solucionar conflitos e dar assistência à população de regiões envolvidas, assim como promover a
valorização dos direitos humanos. Posteriormente, os países-membros da ONU também se preocuparam
em firmar um documento no qual foram listados os direitos inalienáveis do ser humano, denominado
Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovado em 1948, afirmando a igualdade entre os
indivíduos das mais diferentes etnias e religiões.

O Papel da ONU Hoje


Atualmente, a ONU segue promovendo a multilateralidade de decisões para garantir a soberania das
nações, organizando acordos e projetos coletivos entre os países-membros, que já contabilizam ao todo
193 integrantes. A sede das Nações Unidas fica na cidade de Nova York, e o posto mais alto na
organização é o de secretário-geral, cargo em 2015 ocupado pelo coreano Ban Ki-Moon, que em 2007
substituiu o ganês Kofi Annan.
O atual secretário-geral, António Guterres, assumiu em 2017 o lugar de Ban Ki-moon, que completou
dois mandatos na função.
Dentre os fóruns de discussão competentes destaca-se a Assembleia Geral das Nações Unidas,
que delibera resoluções referentes a temas que incluem paz e segurança internacional, saúde, educação,
desarmamento, preservação dos recursos naturais, entre outros. Dessa assembleia participam todos os
países-membros, que possuem igualdade de voto na hora de determinar resoluções. Porém, o que se
determina na Assembleia não é obrigatório, apenas recomendado.
Já o Conselho de Segurança das Nações Unidas, por sua vez, dedica-se exclusivamente aos
assuntos de segurança e ás ameaças à paz internacional. O que é nele decidido torna-se obrigatório, e
seu cumprimento será exigido por todos os membros da organização. Esse conselho é composto apenas
por quinze membros, dos quais cinco são permanentes – Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e
França -, e os outros dez são eleitos a cada dois anos para compor as discussões. Os membros
permanentes possuem poder de veto nas deliberações.
As ações principais da ONU no cenário internacional envolvem as chamadas operações de paz, ou
missões de paz, desenvolvidas pela organização para ajudar países devastados por conflitos a criar as
condições para alcançar a paz.
Desde que a primeira operação de paz foi estabelecida em 1948, quando o Conselho de Segurança
autorizou o envio de soldados da ONU para o Oriente Médio com a finalidade de monitorar um acordo
entre Israel e seus vizinhos árabes, mais de sessenta missões desse tipo já foram criadas ao redor do
mundo. Inicialmente, essas missões eram desenvolvidas para lidar com conflitos internacionais; no
entanto, recentemente a ONU tem realizado cada vez mais operações de paz em países assolados por
conflitos internos e guerras civis.
Os soldados da organização, que formam as chamadas tropas de paz, atuam conforme as
deliberações do Conselho de Segurança e podem tanto agir como observadores, proporcionando apoio
e segurança essenciais a milhões de pessoas em zonas de conflitos, como também realizar operações
militares, desde que a deliberação em questão permita tal intervenção.

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Multilateralismo/Multipolaridade ou Regionalismo

O fortalecimento do multilateralismo comercial ocorrido ao longo das últimas décadas tem sido
acompanhado, paradoxalmente, por um processo de regionalização do espaço, provocado pela tendência
mundial de constituição de grandes blocos econômicos, o que decorre do avanço da globalização.
Embora pareça contraditório, a formação de grandes mercados regionais estabelecidos por meio de
alianças e acordos econômicos e comerciais tornou-se uma necessidade imposta pelo acirramento da
concorrência internacional, gerada pela própria expansão do capitalismo em escala planetária. Com a
formação dos blocos econômicos, os países buscam ampliar a participação no comércio mundial,
sobretudo com o aumento de suas exportações, com vistas a se tornarem mais competitivos. Para tanto,
os acordos comercias e econômicos firmados entre os países (redução ou mesmo eliminação das tarifas
alfandegárias, uniformização de políticas monetárias e financeiras, desburocratização do setor aduaneiro
etc.) procuram facilitar o fluxo e a circulação de mercadorias, serviços e capitais entre os parceiros do
bloco, estratégia que atende às necessidades de acumulação de capital inerentes à expansão das
economias capitalistas.

Formação de Regiões e Blocos Econômicos


[ ... ] o fenômeno da integração verifica-se normalmente em uma dada região. Região [econômica], por
sua vez, pode ser definida como um grupo de Estados situados em uma determinada área geográfica
que gozam de alto grau de interação em comparação com as relações extra regionais, dividem certos
interesses comuns e podem cooperar entre si por meio de organizações que abrangem um número
limitado de participantes. [...]
[ ... ] O surgimento dos blocos econômicos regionais é um dos mais importantes fenômenos da
atualidade. Como foi visto, a formação desses blocos apresenta-se como uma solução, no contexto da
globalização, para o aumento da produtividade e da competitividade dos Estados na economia mundial.
Isso porque garante um aumento do mercado consumidor, propicia economias de escala e possibilita aos
países que dela participam aproveitar a complementaridade de suas economias. [ ... ] MATIAS, Eduardo Felipe
Pérez. A humanidade e suas fronteiras: do Estado soberano à sociedade global. São Paulo: Paz e Terra, 2005. p. 283-290.

Surge, então, uma questão crucial: a formação dos blocos econômicos significaria um retrocesso ou
mesmo uma barreira ao processo de globalização, que poderia levar à formação de um possível mercado
global único? Na opinião de muitos especialistas, em vez de ameaçar ou mesmo colocar em xeque o
processo de integração econômica mundial, o surgimento dos blocos econômicos reforça e amplia as
relações comerciais em âmbito mundial. Isso porque, se as trocas comerciais e os fluxos de capitais no
interior dos blocos aumentaram aceleradamente nas últimas décadas, o comércio e os investimentos
entre os diferentes blocos existentes também vêm se expandindo de maneira significativa com o
estabelecimento de acordos e negociações comerciais entre eles.
Desse modo, observa-se que o aumento do número de blocos econômicos já efetivamente formados
e de outros que estão em processo de consolidação não contradiz, pelo contrário, reforça a própria
globalização ao se inserir como uma das etapas desse processo.

Os Diferentes Tipos de Integração Regional


Os blocos econômicos existentes na atualidade apresentam diferentes níveis de integração, conforme
a intensidade de suas relações e os acordos estabelecidos entre os países-membros. Alguns desses
blocos já se encontram em estágios de integração mais avançados, outros ainda estão em processo inicial
de integração.

Área de livre-comércio: em uma área de livre-comércio, os países eliminam progressivamente as


tarifas alfandegárias para estimular os fluxos de comércio e investimentos entre si. No entanto, cada país
do bloco tem autonomia para conservar sua política tarifária em relação aos países que não pertencem
ao bloco. É o caso, por exemplo, do Nafta, bloco econômico que reúne os Estados Unidos, o Canadá e o
México.

União aduaneira: em uma união aduaneira, além do livre-comércio estabelecido pela eliminação das
barreiras alfandegárias, os países também adotam uma tarifa externa comum (TEC), cobrando os
mesmos impostos e taxas alfandegárias sobre os produtos importados de países de fora do bloco. O
Mercosul é um exemplo desse tipo de bloco.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Mercado comum: além do livre-comércio de mercadorias e serviços, o mercado comum também
estabelece a livre movimentação de capitais (investimentos) e de pessoas (trabalhadores) entre os
países-membros. Implica o estabelecimento de coordenações econômicas e a harmonização das
legislações nacionais (trabalhistas, tributárias, previdenciárias etc.). A União Europeia é um exemplo de
mercado comum.

União econômica e monetária: é o estágio mais avançado de integração regional; seu funcionamento
prevê a adoção de uma moeda única e de um Banco Central também único, a criação de instituições
supranacionais (tribunais de justiça e de contas, conselhos de ministros, parlamentos etc.) e a
padronização de políticas econômicas e monetárias necessárias para garantir, entre os países-membros,
níveis compatíveis de inflação, taxas de juros, déficits públicos etc. É o caso da União Europeia.

União Europeia

A União Europeia (UE) foi criada pelo Tratado de Roma, assinado em 25 de março de 1957, e passou
a vigorar em 1º de janeiro de 1958, com o nome de Comunidade Econômica Europeia (CEE). O nome
atual só foi adotado no início da década de 1990.
Os primeiros países integrantes foram França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e
Luxemburgo, grupo chamado “Europa dos Seis”. Desde então, o bloco não parou de se expandir.
Em 2018, além dos 28 membros, havia cinco países candidatos: Albânia, Antiga República Iugoslava
da Macedônia, Montenegro, Sérvia e Turquia.
Os objetivos iniciais da CEE eram recuperar os países-membros, enfraquecidos econômica e
politicamente após a Segunda Guerra, conter a ameaça do comunismo e, ao mesmo tempo, deterá
crescente influência dos Estados Unidos. Esses objetivos foram atingidos gradativamente. Somente em
1986, com a assinatura do Ato Único, acordo que complementou o Tratado de Roma, começou a
instauração do mercado comum. Esse documento definiu objetivos precisos para a integração e
estabeleceu o ano de 1993 para o fim de todas as barreiras à livre circulação de mercadorias, serviços,
capitais e pessoas. Naquele ano, começou a funcionar plenamente o Mercado Comum Europeu, e os três
primeiros objetivos foram postos em prática.
A livre circulação de pessoas começou a valer em 1995, quando entrou em vigor a Convenção de
Schengen, acordo assinado nessa cidade luxemburguesa que prevê a supressão de controle fronteiriço
entre os países signatários. No entanto, nem todos os membros da União Europeia aderiram à Convenção
de Schengen (Reino Unido e Irlanda não fazem parte). Por outro lado, alguns países que não são
membros da UE aderiram a esse acordo de livre circulação de pessoas (Noruega e Suíça fazem parte).
Em 1991, os países-membros do Mercado Comum Europeu assinaram o Tratado de Maastricht, nome
da cidade dos Países Baixos onde se realizou o encontro, por meio do qual foram definidas as etapas
seguintes da integração e mudada a denominação do bloco para União Europeia. Nesse mesmo tratado,
os integrantes do bloco também decidiram adotar uma moeda única, o euro, que começou a circular em
1º de janeiro de 2002.
Assim, a UE tornou-se uma união econômica e monetária cuja moeda passou a ser controlada pelo
Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt (Alemanha). Porém, não são todos os países-membros
que fazem parte da chamada zona do euro. Em 2018, dezenove países da UE adotavam a moeda única;
dos nove que não faziam parte da união monetária, dois, Reino Unido e Dinamarca, optaram por manter
suas moedas nacionais, e os sete restantes ainda não tinham preenchido as condições jurídicas e
econômicas exigidas.
A União Europeia é o maior bloco comercial do planeta: em seus domínios estão cinco países da lista
dos dez principais países exportadores, Alemanha, Países Baixos, França, Itália e Reino Unido, mas há
também pequenas economias com um comércio externo reduzido, como Chipre e Malta. Em 2016,
segundo a OMC, o comércio exterior do conjunto dos países da UE atingiu em torno de 5,4 trilhões de
dólares. Entretanto, 64% desse intercâmbio de mercadorias foi intrabloco.

União Europeia: indicadores socioeconômicos em 2016


Membros População PIB (bilhões Exportações Importações
(milhões de de dólares) (bilhões de (bilhões de
habitantes) dólares) dólares)
28 512 17.024 5.374 5.330
Desde a assinatura do Tratado de Maastricht, o Parlamento europeu se fortaleceu gradativamente.
Esse órgão, sediado em Estrasburgo (França), representa os cidadãos dos Estados-membros: seus
parlamentares são eleitos diretamente e tomam decisões que afetam toda a UE. O número de

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representantes é proporcional à população de cada país. Em 2018, de um total de 751 deputados, a
Alemanha, o país mais populoso da UE, com 81 milhões de habitantes, possuía 96 parlamentares; no
outro extremo, Malta, o menos populoso, com 400 mil moradores, possuía seis.
A UE também dispõe de um poder executivo, a Comissão Europeia, que representa o interesse comum
do bloco e tem como principal função pôr em prática as decisões do Conselho e do Parlamento. Sua sede
fica em Bruxelas (Bélgica), considerada a capital da UE. O Conselho da União Europeia representa cada
um dos Estados-membros e é o principal órgão de tomada de decisões no âmbito do bloco.
Em junho de 2016, o Reino Unido da Grã-Bretanha realizou um plebiscito para decidir se permanecia
ou não na UE. A opção pela saída venceu com 52% dos votos, fato que ficou conhecido como Brexit
(junção de Britain e exit).
Em março de 2017, o país notificou o Conselho da União Europeia de sua intenção de deixar o bloco.
A partir daí começaram as negociações entre representantes britânicos e europeus para definir os termos
da saída.

Nafta

A formalização de acordos comerciais entre Estados Unidos, Canadá e México deu origem ao Acordo
de Livre-Comércio da América do Norte, do inglês North America Free Trade Agreement (Nafta), a mais
importante área de livre-comércio das Américas. O bloco entrou efetivamente em vigor em 1º de janeiro
de 1994, quando os países-membros decidiram eliminar aos poucos as barreiras alfandegárias em suas
transações comerciais.
Entre outros motivos, a criação desse bloco Nafta: fluxos comerciais tentaram fazer frente ao
fortalecimento econômico da União Europeia, alcançado graças ao processo de integração ocorrido
naquele continente. Ao contrário do bloco europeu, que caminha para uma integração política e
econômica completa, o Nafta se restringe muito mais a um acordo comercial, não prevendo o avanço
para uma união aduaneira ou um mercado comum.
Seu grande destaque fica por conta da poderosa economia dos Estados Unidos, a maior do mundo,
que responde sozinha por 84% do PIB total do bloco, enquanto a participação das economias canadense
e mexicana representa apenas 10 e 6% respectivamente. Se a pujança econômica dos Estados Unidos
não se compara com a do Canadá e a do México, a formação do Nafta vem consolidando ainda mais a
influência econômica estadunidense em relação aos seus vizinhos.
O impulso alcançado pela economia canadense ao longo do século passado, por exemplo, dependeu
de grandes investimentos e capital estadunidense. Com o Nafta, a economia do Canadá se tornou ainda
mais subordinada aos interesses dos empresários estadunidenses, que detêm o controle acionário de
boa parte das empresas canadenses, inclusive daquelas ligadas aos setores estratégicos ou mais
avançados tecnologicamente (informática, aeroespacial, eletroeletrônicos, química fina). Por isso, alguns
especialistas consideram o território canadense uma extensão da economia dos Estados Unidos.
Já no México, a influência do capital estadunidense se fortaleceu com o avanço das chamadas
maquiladoras - empresas estadunidenses que se instalaram em território mexicano na fronteira com os
Estados Unidos, em cidades como Tijuana, Mexicali e Ciudad Juarez. Entre essas empresas, destaca-se
um grande número de indústrias do setor automobilístico (montadores de automóveis, autopeças,
acessórios), montadoras de produtos eletroeletrônicos e de informática, cuja produção se destina
sobretudo ao abastecimento do gigantesco mercado de consumo estadunidense.

Apec

Criada em 1989, a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, do inglês Asia-Pacifíc Economic


Cooperation (Apec), é formada por diversos países do sul, leste e sudeste asiático, da Oceania e também
Hong Kong região administrativa especial chinesa), envolvendo ainda Chile e Peru países que também
possuem acordos comerciais dentro do Nafta).
Seu objetivo central é a criação de uma grande zona de livre-comércio de mercadorias e de capitais
entre seus membros, prevista para ser concluída até 2020. A integração completa do bloco, entretanto,
terá que superar inúmeros problemas, como as grandes disparidades políticas existentes entre seus
membros. Alguns países, como a China, possuem projetos nacionais de desenvolvimento que não
contribuíram para a abertura completa do seu mercado.
A diminuição das desigualdades socioeconômicas é outro grande problema a ser superado. Ao lado
das duas maiores potências econômicas mundiais (Estados Unidos e Japão) e de nações com os mais
elevados índices de desenvolvimento humano, como o Canadá e a Austrália, a Apec também abrange
países bem menos desenvolvidos socioeconomicamente, como Papua Nova Guiné.

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Embora o processo de integração econômica ainda não esteja efetivado, os países da Apec já formam
o bloco economicamente mais dinâmico do mundo. Atualmente, o bloco reúne uma população de mais
de 2,7 bilhões de pessoas, cerca de 39 dos habitantes do planeta, e sua produção econômica soma um
PIB superior a 38 trilhões de dólares, o que equivale a 54 da produção mundial.
Apesar a esses desafios, o processo de construção do bloco já provocou um grande crescimento
econômico, impulsionado pela expansão das trocas comerciais entre os países-membros. Com o
estreitamento de suas relações comerciais, a uma maior complementaridade entre as economias do
bloco. Os recursos minerais e os combustíveis fósseis explorados em abundância na Austrália, por
exemplo, passaram a abastecer o mercado do Japão, que apresenta escassez de matérias-primas
naturais em seu território. Atualmente, cerca de 9% do total das exportações australianas são para o
Japão.

CEI

A Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é um bloco econômico regional, constituído, hoje,
por onze países que se formaram com a dissolução da antiga União Soviética (URSS), ocorrida em 1991.
Nesse mesmo ano, com a assinatura do Tratado de Alma-Ata, no Cazaquistão, das 15 repúblicas
soviéticas que formavam a URSS, 12 aderiram à formação do bloco. As exceções foram Estônia, Letônia
e Lituânia, países bálticos que optaram por romper todos os vínculos com os russos, seus opressores
desde a Segunda Grande Guerra. Em 2008, a Geórgia, que até então pertencia ao bloco, se desligou por
motivos políticos.
O propósito principal da CEI era intensificar as relações econômicas e políticas entre os países-
membros que haviam acabado de surgir com o fim da Guerra Fria e do império soviético, acontecimentos
que redesenharam em boa parte as fronteiras territoriais do continente asiático.
Submetidos ao socialismo durante quase todo o século XX, com economias estatizadas e controladas
pelo Estado, os novos países da CEI passaram por um drástico processo de transição para a economia
capitalista de mercado, movida pela acirrada concorrência, pela elevada competitividade e pela
participação do capital privado. Essas mudanças acarretaram uma forte desaceleração da economia,
diante da crise que surgiu com a transição político-econômica, tendo como consequência o aumento do
endividamento externo, do desemprego, da inflação, e a piora de outros indicadores sociais, como o
aumento da pobreza e da concentração da renda, que acompanharam a turbulência econômica.
Apesar dos acordos de integração já realizados entre seus membros, muitas são as dificuldades para
sua consolidação efetiva, como as divergências que marcam as relações políticas e diplomáticas entre a
Rússia e a Ucrânia, dois dos mais importantes países do bloco. Além disso, a CEI tem se caracterizado
pela ocorrência de disputas entre os estados-membros e pelo não cumprimento de acordos
estabelecidos.

SADC

A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, do inglês Southern African Develapment


Cammunity (SADC), é o acordo comercial mais importante do continente africano. Criada em 1992 para
assegurar a cooperação econômica na região sul do continente, essa comunidade é formada atualmente
por 14 países-membros.
Do ponto de vista econômico, a África do Sul é o país mais importante do bloco. Com um parque
industrial diversificado, sua produção econômica responde por aproximadamente 62% do PIB total do
bloco. E possui também um dos maiores mercados consumidores da região, formado por uma população
de aproximadamente 50 milhões de pessoas, o que representa cerca de 24 dos habitantes da
comunidade.
Os objetivos da SADC vão muito além da busca do desenvolvimento econômico da região por meio
da criação de um mercado comum, estabelecido por acordos comerciais entre os países parceiros, como
a redução e a unificação de tarifas alfandegárias. Para além desses objetivos, o bloco também procura
diminuir a pobreza e melhorar as condições de vida da população; promover o combate à Aids, doença
que se tornou uma epidemia em vários países da região; reafirmar os legados socioculturais africanos;
estabelecer a paz e a cooperação política como forma de evitar a ocorrência de conflitos e guerras civis,
como os que já eclodiram recentemente nessa comunidade.

Outros blocos regionais, menos importantes do ponto de vista econômico, também atuam no
continente africano, entre eles, a Comunidade Econômica e Monetária da África Central (EMCCA, do
inglês Ecanamic and Manetary Cammunity ot Central Africa) e a Comunidade Econômica dos Estados da

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África Ocidental (ECOWAS, do inglês Ecanamic Cammunity af West African States). No entanto, os
processos de integração entre os países que os compõem são prejudicados pelas frágeis condições
políticas e socioeconômicas existentes em boa parte do continente: guerras civis, pobreza, fome,
epidemias, baixo nível de industrialização, forte dependência econômica e carência de infraestrutura
básica e produtiva.

ALCA

A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) é um projeto de bloco econômico que reúne países
da América, tanto do sul, central e do norte. É considerado um projeto porque, ao longo das reuniões que
foram feitas pelos países participantes, surgiram discordâncias entre eles e no fim de 2005, as
negociações pararam. A proposta foi feita pelos Estados Unidos, no dia 09 de dezembro de 1994, em
Miami47.
A criação desse bloco não agradou a todos no continente, especialmente os latino-americanos. Os
Estados Unidos foram os idealizadores da ALCA que, se estivesse em vigor, englobaria todos os países
da América, com exceção de Cuba.

Objetivos da ALCA
Um dos principais objetivos da ALCA é a área de livre comércio no espaço americano, cujas taxas
alfandegárias seriam reduzidas. Isso possibilitaria a passagem de mercadorias e a chance de um aumento
significativo de comércio entre os países americanos.

Países-membros da ALCA
Se o bloco entrar em funcionamento, os países participantes serão Antígua e Barbuda, Argentina,
Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, El Salvador,
Equador, Estados Unidos, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua,
Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e
Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.

Outros Blocos Econômicos Regionais

Existem ainda vários outros blocos econômicos pelo mundo, cujo objetivo central é a cooperação
comercial entre seus membros; entre eles estão:
• Comunidade Andina (CAN) ou Pacto Andino: criado em 1969, é formado por Bolívia, Peru,
Equador, Colômbia. São membros associados o Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
• Caricom (Comunidade do Caribe): criada em 1973, tem como membros Antígua e Barbuda,
Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São
Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, além dos associados
Anguilla, Bermuda, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Caiman e ifurks e Caicos.
• Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático): criada em 1967, é composta por Brunei,
Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã.
• OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico): é uma organização
internacional e intergovernamental que agrupa o chamado “clube dos países ricos e desenvolvidos”.

Geoeconomia e Geopolítica da América do Sul

A Integração da América do Sul


Os países que compõem a América do Sul formam um arquipélago caracterizado historicamente pelo
distanciamento. Podemos observar, entre outras coisas, a inexistência de interligação entre os sistemas
de transporte, energia e comunicação, isso sem contar com o desconhecimento cultural e histórico que
temos dos nossos vizinhos.
Isso ocorre por diversos motivos, desde um passado colonial em que a integração não fazia parte dos
objetivos das potências colonizadoras (Portugal e Espanha), até a presença de fatores naturais que
propiciam o isolamento, principalmente a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes. Nem o processo
de independência dos países da região ou mesmo os ideais de Simon Bolívar, que pregava a união da
América Latina, acabaram gerando resultados significativos.

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ALCA. Blocos Econômicos. http://blocos-economicos.info/alca.html.

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A partir da segunda metade do século XX, porém, governos sul-americanos passaram a,
gradualmente, colocar em prática iniciativas que visavam unir os países da região. Entre sucessos e
falhas, a integração da América do Sul começou a ser levada mais a sério, tanto sob o ponto de vista
econômico como também político, social e cultural.

Organizações Intergovernamentais
As organizações intergovernamentais são organizações internacionais compostas por governos para
diferentes fins, entre eles a integração regional. Um exemplo claro desse tipo de organização são os
blocos econômicos, que possibilitam a realização de acordos comerciais visando à redução de tarifas
alfandegárias e ao fluxo livre de mercadorias, entre outros objetivos.
A formação dos blocos econômicos e de outras organizações intergovernamentais no subcontinente
sul-americano se deu a partir da segunda metade do século XX, em uma tentativa de impulsionar a
industrialização e o crescimento econômico dos países da região.
Durante os anos de 1980 e 1990 houve a criação da maioria dos blocos atualmente existentes na
América do Sul, sendo que, no século XXI, o viés ideológico vem ganhando cada vez mais destaque nas
relações entre os países membros desses grupos, após vários governos de esquerda terem ascendido
ao poder, incluindo a Venezuela.

Associação Latino-Americana de Integração (Aladi)


Na década de 1960 foi formada a Associação Latino-Americana de Livre-Comércio (Alalc), que, no
entanto, não durou nem sequer um ano, pois a Argentina e o Brasil ganhavam vantagens em relação a
outros países. A Guerra Fria também colaborou para que os EUA intervissem no continente, manipulando
governos da região de acordo com seus interesses, entre os quais não estava a integração sul-americana.
Em 1980 a Alalc transformou-se na Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), cujo
objetivo era impulsionar economicamente a região e desenvolver um mercado comum latino-americano
por meio de acordos comerciais. Atualmente compõem o bloco países de toda a América Latina:
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela,
Cuba, Panamá e Nicarágua.

Aliança do Pacífico
Com o objetivo de estabelecer relações mais diretas com áreas estratégicas do comércio internacional,
sobretudo a Ásia (que é atualmente um gigante comercial), alguns países latino-americanos com acesso
ao Oceano Pacífico (Peru, México, Colômbia e Chile) formaram a Aliança do Pacífico, que ainda pode
ganhar como membros Costa Rica e Panamá nos próximos anos.
Acordos já foram firmados entre os países-membros na área comercial e também relacionados à
cooperação científica, por meio do intercâmbio entre pesquisadores de diferentes universidades.
Atualmente, os países que compõem esse bloco são caracterizados por governos neoliberais,
alinhados aos EUA e que possuem economias de poder semelhante, ao contrário do Mercosul, por
exemplo, no qual o Brasil representa uma economia muito superior em relação a outros países-membros.

Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba)


Inicialmente proposta pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez (1954-2013) durante a Cúpula da
Associação de Estados do Caribe, realizada em Cuba no ano de 2001 e criada oficialmente em 2004, a
Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) é a organização com maior viés ideológico entre as
apresentadas, uma vez que se coloca claramente em oposição à política econômica dos EUA para a
região e evoca os ideais de Simon Bolívar.
Formada por Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua, a Alba difere de outras iniciativas que visam à
relação com o comércio exterior, à exportação de commodities e às alianças com outros blocos,
focalizando seus esforços na diminuição das desigualdades sociais, na priorização dos pequenos e
médios empresários, além do desenvolvimento de uma economia solidária.

Mercado Comum do Sul (Mercosul)


O Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul) é o mais importante bloco econômico da América Latina,
integrando a economia da Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela como participantes efetivos.
A origem dessa cooperação foi o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, assinado
entre Brasil e Argentina em 1988, que fixou como meta o estabelecimento de um mercado comum, ao
qual outros países latino-americanos poderiam se unir.

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Formado inicialmente pelos países que compõem o Cone-Sul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai),
o Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi fundado em 1991 através do Tratado de Assunção, realizado
na cidade de mesmo nome, capital do Paraguai.
Em 2012 o grupo ganhou um novo integrante, a Venezuela, e além dos países-membros ainda há a
categoria de países associados (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru). O Paraguai chegou a ser
suspenso do bloco nesse mesmo ano, em função da destituição do então presidente do país, Fernando
Lugo (considerada antidemocrática pelos países-membros), mas a decisão foi revogada em 2013.
Já a Bolívia está em processo de se tornar um novo membro; o México e a Nova Zelândia, por sua
vez, atuam como países observadores, tendo como função fiscalizar as relações internacionais entre os
estados participantes e associados.
Como uma organização intergovernamental de livre-comércio, os países associados compartilham
tarifas alfandegárias em comum e possuem acordos firmados em diversas áreas, permitindo a livre
circulação de pessoas, bens e serviços. Esses acordos, além de facilitarem o comércio, ajudam a
promover o turismo e a cooperação científica.
Além de incrementar as relações entre os países-membros, também é objetivo da associação estreitar
as relações comerciais em conjunto com outros países e blocos, por meio de acordos com a União
Europeia, o Egito, Israel e Paquistão, por exemplo. Em 2014, Dilma Rousseff assumiu a presidência da
entidade, que realiza encontros de chefes de Estado com frequência para tratar de questões políticas,
econômicas e sociais.
Embora a sede da organização se localize em Montevidéu, no Uruguai, o Brasil responde por cerca de
80% do PIB somado dos países do bloco e também pela maior parte das exportações do Mercosul para
o mundo.
A disparidade de poder entre as economias do Brasil e dos outros países que integram o Mercosul
intensificou-se ainda mais em função da crise econômica vivida pela Argentina nos últimos anos e
configura um desafio às negociações comerciais entre os membros do bloco.

O atual estágio do Mercosul é o de união aduaneira, ou seja, os participantes negociam uma


integração comercial mais elevadas mantêm uma tarifa externa (cobrança de taxas alfandegárias) única
para os países de fora do bloco.
Os países da Comunidade Andina e também o Chile são considerados como países associados, com
vistas à integração no Mercosul.

Comunidade Andina de Nações (CAN)


Organização que tem origem no Pacto Andino, firmado em 1969 por países que compartilham a
Cordilheira dos Andes (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile e Venezuela), a Comunidade Andina de
Nações (CAN) ganhou seu nome atual em 1996 e hoje inclui como membros apenas os quatro primeiros
países citados, pois o Chile e a Venezuela saíram do bloco original.
Essa organização caracteriza-se também por possuir tarifas alfandegárias comuns, assim como uma
área de livre-comércio entre os países-membros. Além disso, possui uma estreita relação comercial com
o Mercosul, bloco comercial que pode ser considerado um parceiro econômico.
Atualmente a CAN tem tido suas relações marcadas por embates ideológicos entre os países-
membros, em função principalmente da oposição entre a Colômbia e os demais integrantes do bloco.
Isso ocorre porque a Bolívia, o Equador e o Peru elegeram, nos últimos anos, governo considerados
de esquerda e representados respectivamente pelos presidentes Evo Morales, Rafael Correa e Ollanta
Humala, deixando o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos (considerado de direita) isolado.

União de Nações Sul-Americanas (Unasul)


Organização que agrega todos os países sul-americanos, com exceção da Guiana Francesa (por se
tratar de um território ainda dependente da França), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) surgiu
para substituir a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) e foi criada em 2008 na cidade de Brasília.
Ao contrário dos outros blocos, a Unasul não visa a um mercado comum, pois entende as diferenças
existentes entre os países que conformam a região, e tem como objetivo principal criar um espaço de
interlocução. Ela busca, por exemplo, fazer uma ponte entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, que
possuem políticas e estratégias econômicas muitas vezes antagônicas.
Anualmente são organizadas conferências diplomáticas com todos os presidentes dos países
membros. Chamada de Cúpula Sul-Americana, tal conferência discute as estratégias de integração
comercial do grupo.

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Ocasionalmente também são realizados encontros especiais, como um março de 2015, quando o
grupo se reuniu para discutir as sanções econômicas dos EUA sobre a Venezuela e para denunciar uma
tentativa de desestabilização do governo do presidente Nicolás Maduro.
A criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, que se configura como uma alternativa regional por
tratar de conflitos geopolíticos, surgiu como uma forma de preservar a paz e a soberania dos países
envolvidos e se destaca como uma das iniciativas mais importantes da Unasul, assim como a iniciativa
de integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (lirsa), que tem como objetivo uma série projetos
de integração física entre os países sul-americanos.

Questões

01. (TJ/PR – Administrador – TJ/PR) Sobre o tema blocos econômicos, assinale a alternativa correta.
(A) A União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) é formada pelos doze países da América do Sul. O
tratado constitutivo da organização foi aprovado durante a Reunião Extraordinária de Chefes de Estado
e de Governo, realizada em Brasília. A UNASUL tem-se revelado um instrumento útil para a solução
pacífica de controvérsias regionais e para o fortalecimento da proteção da democracia na América do Sul.
(B) A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) é um bloco comercial latino-americano
criado formalmente no Chile. O bloco agrupa Chile, Colômbia, México e Peru. Em maio de 2013, foi
decidido acolher a Costa Rica como membro pleno.
(C) A Aliança do Pacífico é um bloco comercial com sede nas Filipinas, do qual fazem parte os países
asiáticos e a Oceania, criado para fortalecer o livre comércio entre os países participantes e incrementar
as exportações para outros países.
(D) O Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), por ser uma zona de livre comércio,
estabeleceu o fim das barreiras alfandegárias entre Estados Unidos e Canadá.

02. (PC/PI – Perito – NUCEPE) O MERCOSUL, um dos importantes blocos econômicos da atualidade,
teve origem:
(A) nos acordos políticos entre os regimes ditatoriais dos países do “Cone Sul”.
(B) na imposição feita pelos Estados Unidos ao Brasil e ao Uruguai para o estabelecimento de
fronteiras econômicas na América do Sul.
(C) nos acordos comerciais entre Brasil e Argentina, assinados em meados dos anos 1980.
(D) No processo político que acabou com a Guerra Fria e instalou a democracia na Argentina e no
Paraguai
(E) na estruturação de uma Zona de Livre Comércio entre Brasil, Argentina e Chile, com o apoio dos
Estados Unidos e da Inglaterra, no final da década de 1970.

03. (INSS – Analista – CESPE) Acerca de economias regionais e blocos econômicos, julgue o item
abaixo.
A União Europeia, um dos blocos econômicos mais conhecidos, foi oficializada pelo Tratado de
Maastricht.
(....) Certo (....) Errado

04. (TJ/AL – Analista – CESPE) Acerca de blocos econômicos, acordos internacionais e retaliações,
assinale a opção correta.
(A) O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) é uma área de livre comércio, pois os
países envolvidos têm tratamento diferenciado, em relação às tarifas de importação, somente entre eles.
(B) Nas áreas de livre comércio, os países integrantes de cada bloco econômico estabelecem, entre
eles, tarifas de importação com alíquotas zero e, em relação a terceiros, tarifas comuns.
(C) Em uma união aduaneira, os países envolvidos, além de terem alíquotas diferenciadas entre eles,
estabelecem alíquotas comuns frente a terceiros.
(D) Nos acordos preferenciais de comércio, os países envolvidos estabelecem tarifas comuns aos
produtos oriundos de terceiros.
(E) O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é considerado um mercado comum por possuir tarifa
externa comum e livre circulação dos fatores de produção.

05. (ABIN – Agente de Inteligência – CESPE) O mercado é a instituição central do processo de


globalização. Um dado fundamental é a evidência de que o mercado se tornou mundial. Isso não quer
dizer que tombaram os muros das fronteiras nacionais ou dos protecionismos, mas que nunca tantos
produtos cruzaram oceanos e continentes. As barreiras estabelecidas pelos blocos nacionais ou pelos

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acordos comerciais visam mais normatizar a competição em favor dos interesses comerciais particulares
de cada país do que bloquear essa circulação. É, pois, no mercado e nas expectativas de consumo que
ele propicia que se materialize a globalização. Iná E. Castro. Bertrand do Brasil, 2006, p. 233 (com adaptações).
Tendo em vista o tema da globalização, tratado no texto acima, julgue os itens a seguir.
A globalização econômica produziu a segmentação do espaço econômico mundial, expressa por meio
da formação de blocos econômicos regionais como o MERCOSUL.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.A / 02.C / 03.Certo / 04.A / 05.Certo

POTÊNCIAS ECONÔMICAS48

Entre os países que apresentam os maiores desempenhos econômicos e os melhores índices sociais,
está um pequeno grupo que se sobressai. Além de deter a maior parte das riquezas mundiais, esses
países se destacam também pelo domínio tecnológico, industrial e militar: Estados Unidos, Alemanha,
França, Reino Unido e Japão.

Estados Unidos

A Ascensão Econômica
A ascensão econômica dos Estados Unidos se tornou mais efetiva com a ocorrência de dois
importantes acontecimentos históricos: a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) e a Segunda Guerra
Mundial (1939 – 1945). Sendo o território europeu o principal palco desses conflitos, as nações mais ricas
e industrializadas desse continente, que despontavam como grandes potências econômicas (Inglaterra,
França, Alemanha, Itália), foram arrasadas pelas guerras e sofreram grandes perdas, humanas e
materiais. Com as produções industriais e agrícolas arruinadas, esses países tiveram que recorrer aos
Estados Unidos.
Além de ampliarem suas exportações para suprir o mercado interno europeu, os Estados Unidos
financiaram diretamente boa parte da reconstrução do continente. Assim, a partir da segunda metade do
século XX, os Estados Unidos se consolidaram como maior potência econômica do globo, condição
sustentada por uma nova fase de desenvolvimentos caracterizada pela expansão de suas multinacionais
pelo mundo.

O Espaço Industrial nos Estados Unidos


O nordeste dos Estados Unidos foi a primeira região do país a se industrializar. Como essa
industrialização se deu apoiada no desenvolvimento das indústrias de base, típicas da Primeira e da
Segunda Revolução Industrial, os setores da mineração e siderurgia sustentaram o desenvolvimento de
vários outros segmentos industriais, como o de bens intermediários e de bens de consumo duráveis, os
quais se mantiveram por décadas como grandes âncoras da economia estadunidense.
As grandes siderúrgicas, por exemplo, instalaram-se no estado da Pensilvânia, enquanto a cidade
Detroit, no estado de Michigan, foi o grande centro da indústria automobilística. Chicago, no estado de
Illinois, tornou-se importante centro fabril, com indústrias de equipamentos agrícolas e de material de
transporte ferroviário, e atualmente é o terceiro maior parque industrial do país, superado apenas por Los
Angeles e Nova York. Por se tornar a região mais industrializada do país, o nordeste dos Estados Unidos
ficou conhecido como Cinturão das Manufaturas.
O crescimento da atividade industrial nessa região, por sua vez, promoveu a formação de enormes
aglomerações urbanas, em áreas com elevadas densidades demográficas, com destaque para a
megalópole que se estende pelas cidades de Boston. Nova York, Filadélfia, Baltimore e Washington, onde
vivem mais de 40 milhões de pessoas.
Ao longo das últimas décadas, entretanto essa região perdeu de forma expressiva sua participação na
produção industrial do país. No início do século passado, mais de 75% da produção industrial
estadunidense era gerada no nordeste do país; hoje, essa produção não chega a 50%. Essa
desconcentração da atividade industrial está ligada à forte crise que afetou as principais indústrias da
região, sobretudo as grandes siderúrgicas e as automobilísticas, assim como suas respectivas cadeias
produtivas. Contribuíram para essa crise fatores como o aumento dos custos de produção na região

48
MARTINEZ, Rogério. Novo olhar: geografia.1ª edição. São Paulo: FTD, 2013.

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(impostos, aluguéis, salários), a acirrada concorrência externa, sobretudo do mercado europeu e asiático,
e o sucateamento dos grandes complexos siderúrgicos. Com a decadência econômica e o fechamento
de inúmeras fábricas, a região passou a ser conhecida como cinturão da ferragem.
Nesse mesmo período, uma nova dinâmica econômica se estabeleceu no território dos Estados Unidos
com a canalização de grandes investimentos para as 'regiões Sul e Oeste. Esses investimentos criaram
novas áreas industriais ligadas principalmente aos setores de alta tecnologia, típicos da Terceira
Revolução Industrial (informática, microeletrônica, robótica, aeroespacial, biotecnologia, química fina). O
avanço dessas atividades promoveu um grande dinamismo econômico nessas regiões, que passaram a
formar o chamado Cinturão do Sol.
Vários fatores contribuíram para isso. Com os estímulos oferecidos pelo governo, a costa Oeste
recebeu um grande número de indústrias bélicas de alta tecnologia, criadas estrategicamente para
ampliar o poderio militar do país durante o conturbado período da Guerra Fria. A principal área industrial
dessa região está no eixo São Francisco- Los Angeles, estado da Califórnia, que se destaca pela
presença de um parque industrial diversificado, com indústrias de alta tecnologia (microeletrônica e
informática), tal como as que se concentram no tecnopolo do Vale do Silício, além de petroquímicas,
automobilísticas, aeronáuticas, navais e outras.
Na parte Sul, por sua vez, destacam se as avançadas indústrias ligadas ao setor aeronáutico e
aeroespacial. Em Houston, no Texas, encontra-se a sede da Nasa, a agência espacial dos Estados
Unidos; em Cabo Canaveral, estado da Flórida, está instalado o Centro Espacial John F. Kennedy, base
de lançamento de foguetes. Mas no Sul também se destacam as indústrias petrolíferas. Com a descoberta
e a exploração de enormes campos de petróleo no Texas e no Golfo do México, ocorridas ainda nas
primeiras décadas do século XX, surgiram grandes companhias petrolíferas, como a Texaco (Texas
Company) e a Exxon Mobil Corporation, ambas no Texas, empresas que atualmente controlam boa parte
da produção mundial de petróleo.

As Indústrias Maquiladoras
Outro fator que também contribuiu para o impulso econômico e industrial do Sun Belt I foi a criação
das chamadas maquiladoras, indústrias de capital estadunidense que passaram a se instalar no território
mexicano a partir da década de 1960. São empresas especializadas na montagem final de determinados
produtos, de automóveis e eletroeletrônicos a brinquedos e roupas, cujas peças são produzidas em
fábricas localizadas em várias partes dos Estados Unidos.
Atraídas pela concessão de incentivos fiscais, pelo baixo custo da mão de obra (formada
principalmente por mulheres) e pela fragilidade dos sindicatos, pouco organizados, essas empresas
conseguiram diminuir seus custos de produção e ampliar, por conseguinte, a competitividade e a
lucratividade. Atualmente, existem várias dessas empresas instaladas ao longo dos mais de dois
quilômetros da fronteira mexicana com o vizinho do norte, nas quais estão empregados mais de um milhão
de trabalhadores mexicanos.

O Espaço Agrário nos Estados Unidos


Os avanços científicos e tecnológicos alcançados pelos Estados Unidos também se estenderam ao
campo, provocando grandes mudanças na organização das atividades agrárias praticadas no país, A
incorporação de novas tecnologias no campo, ocorridas a partir das primeiras décadas do século
passado, promoveu um intenso processo de modernização agrária, caracterizado pelo uso intensivo de
máquinas, implementos e insumos agrícolas (tratores, colheitadeiras, arados mecânicos, adubos,
fertilizantes, vacinas e rações para o gado) e pelo desenvolvimento de técnicas, como irrigação,
melhoramento genético, biotecnologia, entre outras.
Apoiado em políticas governamentais que asseguraram grandes investimentos em pesquisas
agropecuárias, esse processo de modernização aumentou a produtividade e a rentabilidade das terras.
Isso explica a posição de maior produtor agrícola mundial alcançada pelo país.
Além da tecnificação, essa grande produção agropecuária também se deve ao elevado aproveitamento
do espaço agrário. Juntas, as áreas destinadas a agricultura e à pecuária ocupam quase a metade do
território dos Estados Unidos.
Com o avanço da modernização agrária, ocorreu a substituição de boa parte da mão de obra: nos
Estados Unidos, apenas 1,6% da população economicamente ativa (PEA) encontra-se empregada em
atividades agropecuárias, enquanto a agropecuária brasileira emprega cerca de 16% da PEA do país.
Esse intenso processo de modernização do campo foi acompanhado pelo aumento da concentração
fundiária no país, sobretudo a partir de 1950. Muitos agricultores que não investiram na modernização de
suas terras perderam competitividade no mercado e acabaram vendendo suas propriedades, que foram

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
incorporadas a grandes fazendas. Dessa forma, tanto o processo de modernização como o aumento da
concentração fundiária contribuíram para a diminuição da população rural do país.
Outro aspecto marcante da produção agropecuária nos Estados Unidos diz respeito à sua distribuição
espacial. Algumas extensas regiões do país, conhecidas como belts (cinturões), são especializadas em
determinada produção, como milho, trigo, algodão etc.

Alemanha

A Grande Potência Europeia


A Alemanha se destaca como a principal potência econômica da Europa e a quarta do mundo,
superada apenas pelos Estados Unidos, pela China e pelo Japão. Seu processo de industrialização
ocorreu depois do Reino Unido e da França, de maneira que se efetivou somente um século mais tarde.
No final do século XIX, a Alemanha já liderava, junto com os Estados Unidos, o desenvolvimento das
tecnologias que promoveram a Segunda Revolução Industrial.
Isso ocorreu após a unificação territorial e política conquistada com a vitória obtida na guerra Franco-
Prussiana (1870-1871). Antes, o território estava fragmentado em diversos reinos, principados e cidades
estado. Derrotada, a França per- deu para a Alemanha as províncias da Alsácia e Lorena, ricas em carvão
mineral e minério de ferro. A maior disponibilidade de tais recursos (fontes de matérias-primas e energia),
associada à facilidade de transporte fluvial, favoreceu o crescimento da atividade industrial nos vales dos
rios Reno e Ruhr. Nessas áreas, a concentração de capitais gerada com as importantes rotas de comércio
aí estabelecidas desde o final da Idade Média também contribuiu para a expansão do setor indústria.

Guerras Mundiais: Destruição e Reconstrução da Alemanha


O crescimento da atividade industrial alemã foi drasticamente interrompido com a participação direta
do país nas duas grandes guerras mundiais. A derrota sofrida nesses conflitos resultou em graves
consequências de ordem política, econômica e social. Além de empobrecida e fisicamente destruída, a
Alemanha recebeu severas punições ao final da Primeira Grande Guerra (1914-1918), entre elas, o
pagamento de vultosas indenizações aos países vencedores, as restrições militares e a perda das
províncias da Alsácia e Lorena, devolvidas à França.
Derrotada mais uma vez na Segunda Grande Guerra (1939-1945), a Alemanha sofreu de novo grandes
perdas. Além da destruição material e do enorme número de vítimas, o país sofreu novas perdas
territoriais e se fragmentou politicamente. Dando origem à República Federal da Alemanha (RFA) ou
Alemanha Ocidente, capitalista, sob a influência direta dos Estados Unidos; e à República Democrática
Alemã (ROA) ou Alemanha Oriental, socialista, sob a influência direta da, já extinta. União Soviética.
Separadas por mais de quarenta anos, período que durou a Guerra Fria, as duas Alemanhas trilharam
caminhos bem distintos. A Alemanha Ocidental, organizada sob o capitalismo, tornou-se economicamente
mais dinâmica e competitiva. Beneficiada com a ajuda financeira concedida pelo Plano Marshall, o país
conseguiu se reconstruir com rapidez no pós-guerra.
Na Alemanha Oriental, por sua vez, a economia planificada e controlada pelo Estado crescia
lentamente em virtude da baixa produtividade gerada pela defasagem tecnológica.
Com a reunificação política e territorial, em 1990, a Alemanha enfrentou grandes desafios para superar
as diferenças socioeconômicas construídas ao longo de décadas. Apesar dos intensos investimentos
realizados no lado leste, passadas mais de duas décadas da reunificação, as diferenças socioeconômicas
ainda persistem. A taxa de desemprego, por exemplo, é quase três vezes maior no lado leste, já a renda
per capita é maior no lado oeste, que também desfruta de melhor padrão de vida.
Houve resultados positivos, como o crescimento econômico de certas áreas até então estagnadas e a
maior disponibilidade de recursos minerais e energéticos imprescindíveis para garantir o abastecimento
do enorme parque industrial alemão, que representa cerca de 30 do PIB do país e emprega
aproximadamente um terço da população economicamente ativa. De fato, a força dessa indústria garante
ao país o status de grande potência econômica e comercial, assumindo, por isso, posição de liderança
entre os países que compõem a União Europeia (UE) e também nas relações políticas e diplomáticas em
âmbito internacional.
Mas a Alemanha também passa por dificuldades momentâneas, como as que foram desencadeadas
pela crise econômica mundial de 2008 e tiveram repercussões ao longo dos últimos anos. Embora
continue sólida e moderna, sua economia tem sofrido os efeitos da crise, os quais provocaram queda no
crescimento econômico, elevação do déficit público e aumento do desemprego.

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O Parque Industrial Alemão
A indústria alemã é uma das mais diversificadas do mundo, sendo a mais importante de toda Europa,
com destaque para o setor siderúrgico, metalúrgico, petrolífero, químico-farmacêutico, automobilístico,
mecânico, eletroeletrônico, entre outros. Nesses setores atuam alguns dos maiores conglomerados
econômicos do globo, empresas conhecidas no mundo todo e que dominam uma fatia expressiva da
produção e do mercado internacional. Do ponto de vista espacial, o parque industrial alemão se encontra
relativamente espalhado pelo território. Algumas das maiores concentrações industriais do país estão nas
áreas polarizadas pelas cidades de Dortmund e Düsseldorf (oeste), Munique e Stuttgart (sul), Berlim,
Dresden e Leipzig (leste), Hamburgo, Bremen e Hannover (norte).

França

Segunda Economia Europeia


Uma das grandes forças imperialistas do passado, a França se manteve na vanguarda do
desenvolvimento industrial tendo sido, logo após a Inglaterra, o segundo país a vivenciar o processo da
Revolução Industrial. No início do século XIX, grandes investimentos no setor manufatureiro sustentaram
o crescimento de indústrias têxteis e mineradoras, que se instalaram principalmente nas proximidades
das ricas bacias carboníferas e ferríferas da Alsácia-Lorena (na fronteira com a Alemanha) e de Pas-de-
Calais (no norte do território francês).
O impulso da atividade industrial se estendeu ao longo do século XIX apoiado no desenvolvimento dos
transportes e na expansão do mercado consumidor em seus centros urbanos. Arruinada ao final da
Segunda Guerra Mundial, a economia francesa se recuperou rapidamente no período pós-conflito,
apoiada por dois fatores principais: a ajuda financeira direta dos Estados Unidos (via Plano Marshall) e a
entrada do país na Comunidade Econômica Europeia (CEE). Embrião da atual União Europeia, esse
bloco econômico entrou em vigor em 1958 com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico
dos países signatários (Itália, Alemanha Ocidental, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo e França). E isso
se deu por meio da construção de um mercado comum requlado-por políticas econômicas conjuntas que
estabeleceram, entre outras medidas, a adoção de impostos alfandegários externos comuns.
Assim, o crescimento da economia francesa ao longo das últimas décadas esteve fortemente apoiado
no aprofundamento de suas relações econômicas e comerciais com o mercado europeu. Por conta disso,
essa economia depende em grande parte da União Europeia: hoje, cerca·de 61% de suas exportações
estão voltadas para os países do bloco.

A EconomiaFfrancesa na Atualidade
Com um PIB de aproximadamente 2,8 trilhões de dólares, a França é a quinta potência econômica do
mundo e a segunda maior do continente europeu, superada apenas pela Alemanha.
O setor de serviços representa cerca de 71% do seu PIB. A agropecuária, embora moderna e muito
produtiva, com elevado aproveitamento das terras, responde por apenas 2% do PIB. O país ocupa a
posição de maior produtor agropecuário do continente europeu, destacando-se a produção de cereais,
beterraba açucareira, frutas, laticínios, entre outros. A produção industrial, por sua vez, representa 19%
do PIB, com destaque para a existência de um parque industrial bastante diversificado e evoluído
tecnologicamente.
Entre os setores industriais mais importantes estão o siderúrgico, o petroquímico, o automobilístico, o
aeroespacial, o mecânico e o de máquinas e equipamentos.

Indústria e Energia na França


Ao longo das últimas décadas, a França teve que aumentar a oferta interna de energia como forma de
sustentar seu crescimento econômico e garantir o fun- cionamento e a expansão do seu parque industrial.
Todavia, com o potencial hidráulico de seus rios quase que completamente explorado e o esgotamento
de boa parte de suas minas de carvão, o país foi obrigado a encontrar alternativas para a questão
energética. Em relação aos combustíveis fósseis, o país ampliou a exploração das reservas de gás natural
na região montanhosa dos Pirineus, próximo à fronteira com a Espanha, recorrendo também às
importações de petróleo provenientes principalmente do Oriente Médio e do norte da África.
Ainda assim, diante de sua demanda crescente por energia, o país investiu prioritariamente na
construção de dezenas de usinas nucleares ao longo das últimas décadas. Atualmente, as centrais
nucleares respondem por cerca de 79% da matriz energética francesa, o que faz da França o país com
maior dependência desse tipo de energia no mundo.

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Reino Unido

Localizado no noroeste da Europa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, comumente


chamado apenas de Reino Unido, compreende o território de quatro nações: Inglaterra, Escócia, País de
Gales e Irlan- da do Norte, além de outras posses- sões distribuídas pelo mundo.
Nos séculos XVIII e XIX, consagrou-se como maios po- tência econômica mundial e centro do maior
império colonial do mundo - o Império Britânico. O status de grande potência foi alcançado,
principalmente, devido ao pioneirismo industrial inglês, afinal, a Inglaterra foi o berço do processo de
industrialização. Vários fatores de ordem econômica, política, social e natural contribuíram para o
nascimento da indústria inglesa, entre os quais:
• a consolidação de um Estado liberal e a ascensão da burguesia na vida política, com forte
representação no Parlamento;
• a concentração de capital acumulado com o mercantilismo e a disponibilidade de matérias-primas
obtidas com a exploração dos territórios coloniais;
• as inovações tecnológicas, como a invenção, o aprimoramento e a disseminação do uso das
máquinas a vapor;
• a existência de expressivas minas de carvão mineral e de ferro no território inglês, fontes de energia
e matéria-prima para o abastecimento das indústrias;
• a disponibilidade de mão de obra e a existência de um mercado consumidor urbano em expansão,
decorrentes de mudanças na estrutura fundiária que expulsaram boa parte da população do campo para
as cidades.

A Potência se Enfraquece
Se até o início do século XX o Reino Unido se manteve como potência hegemônica incontestável, o
país perdeu a posição de liderança econômica e política que até então exercia no cenário internacional.
Já nas primeiras décadas do século passado, a economia britânica, não conseguindo acompanhar os
avanços tecnológicos e os ganhos de produtividade, foi superada pelo acelerado crescimento econômico
dos Estados Unidos.
A perda de poder se estendeu ao pós-guerra quando os britânicos, enfraquecidos pelos grandes danos
materiais sofridos, perderam seu vasto império colonial. Desde então, a economia britânica continua
perdendo fôlego, sendo superada pelo crescimento econômico do Japão, da Alemanha, da França e,
mais recentemente, da China e também do Brasil. Atualmente, o Reino Unido detém a sétima maior
economia mundial, com PIB de 2,4 trilhões de dólares (dados de 2011).
Embora menos expressivo do ponto de vista econômico, o Reino Unido ainda mantém o status de
potência mundial, sobretudo em razão de sua importância no cenário geopolítico internacional. Desde os
tempos da Guerra Fria, o governo britânico tem sido um aliado incondicional dos Estados Unidos
apoiando, inclusive, as intervenções militares promovidas segundo os interesses de Washington, tal como
ocorreu nas duas invasões ao Iraque (1990 e 2003) e também na ocupação do Afeganistão (2001). A
forte influência do Reino Unido nas questões internacionais também se atribui ao fato do país ser membro
permanente do Conselho de Segurança da ONU, além de integrar a OTAN (Organização do Tratado do
Atlântico Norte) e o G8, e de ocupar posição de liderança no bloco da União Europeia.

Território e Economia no Reino Unido


Na distribuição da atividade econômica e industrial, o Reino Unido apresenta diferenças regionais bem
acentuadas. Nas regiões de industrialização mais antiga, sobretudo aquelas localizadas próximo às
bacias carboníferas, encontram-se setores em crise e decadência. É o que ocorre, por exemplo, com a
indústria têxtil, a siderúrgica e a naval, instaladas na região central do país. Em contrapartida, indústrias
mais avançadas tecnologicamente (setor químico - farmacêutico, aeronáutico, automobilístico,
eletroeletrônico, entre outros) estão se desenvolvendo em centros industriais mais dinâmicos, como
Bristol (sudoeste da Inglaterra) e Glasgow (na Escócia).
A partir da década de 1980, houve também grande desenvolvimento do setor petroquímico com a
descoberta e exploração de importantes campos de petróleo e de gás natural no mar do Norte. No setor
energético, destaca-se a produção de energia nuclear, que responde por cerca de 19 da matriz energética
do país.
A cidade de Londres, capital da Inglaterra e do Reino Unido, maior aglomeração urbano-indústria' do
país e sede de grandes bancos e instituições financeiras, é a principal porta de entrada de investimentos
estadunidenses na Europa.

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Japão

Localizado no Extremo Oriente, o Japão é formado por quatro ilhas principais (Hokkaido, Honshu,
Shikoku e Kyushu) e mais de quatro mil ilhas menores. Com aproximadamente 378 mil km 2 de extensão
territorial, o Japão se situa em uma região de grande instabilidade geológica conhecida como "círculo de
fogo do Pacífico". Devido aos movimentos tectônicos e às forças orogênicas em época geológica recente,
o relevo do país é bastante montanhoso com dezenas de vulcões ativos e intensa atividade sísmica.
As planícies litorâneas e os baixos planaltos ocupam apenas 25% do território e apresentam elevada
densidade demográfica, contrastando com as áreas centrais montanhosas, bem menos povoadas. A
população japonesa é bastante numerosa; são cerca de 127 milhões de habitantes e uma média de 335
hab./km", o que coloca o país entre os mais densamente povoados do mundo.

Isolamento, Industrialização e Imperialismo


No século XVI, durante o início da expansão colonial europeia, o Japão se manteve aberto às relações
internacionais, permitindo a entrada de comerciantes e negociadores europeus (portugueses, espanhóis,
holandeses) em seu território. Mas, a partir do século XVII, sob o domínio dos xogunatos, foram tomadas
medidas para promover a reconstrução do país afetado por diversas guerras internas. Para impedir a
influência externa no arquipélago, os japoneses também expulsaram os estrangeiros e promoveram o
fechamento dos seus portos aos navios de outras nações. Por mais de dois séculos e meio, o Japão,
então um país agrário e de estruturas feudais, permaneceu praticamente isolado do resto do mundo.
Foi só depois de 1868, com o fim do xogunato de Tokugawa e a ascensão do imperador Mutsuhito,
que o país se abriu ao comércio exterior, iniciando de maneira efetiva seu processo de industrialização e
modernização. Ao longo desse novo reinado (chamado Era Meiji), que se estendeu até 1912, os
imperadores implantaram grandes reformas estruturais no país: extinguiram os domínios feudais;
reestruturaram as forças armadas visando o futuro expansionismo na região do Pacífico; reformaram e
melhoraram radicalmente o sistema educacional para a qualificação da mão de obra; investiram na
ampliação da infraestrutura (portos, ferrovias, minas); desenvolveram o setor industrial, estimulando a
formação de grandes conglomerados, conhecidos no Japão como zaibatsus.
Com um vertiginoso processo de industrialização em andamento, o Japão passou a enfrentar sérias
limitações de matérias-primas e de recursos minerais e energéticos, escassos em seu território. Para
suprir essa deficiência, o país se fortaleceu militarmente e promoveu sua expansão imperialista anexando
os territórios da Coreia e Taiwan (1895), da Manchúria, norte da China (1931), da Indochina 1941), além
de inúmeras ilhas do Pacífico. 49

A Reconstrução Econômica no Pós-Guerra


Ao continuar sua política expansionista, o Japão estabeleceu alianças com os demais países do Eixo
(Alemanha e Itália) e participou da Segunda Guerra Mundial saindo quase que completamente destruído
desse conflito. Com a rendição do país, após o lançamento das bombas atômicas sobre Nagasaki e
Hiroshima, o Japão também perdeu grande parte dos territórios que havia conquistado na região do
Pacífico a partir do final do século XIX.
Desde então, os japoneses se empenharam na execução de um grande projeto de reconstrução
nacional, que, décadas mais tarde, transformaria o país numa das maiores potências econômicas do
mundo. Essa recuperação extraordinária da economia japonesa se deu apoiada, sobretudo, na grande
ajuda financeira concedida pelos Estados Unidos no pós-guerra. Ao promover a reconstrução da
economia japonesa, essa ajuda atendeu plenamente aos interesses estratégicos de Washington, isso
porque, ao ampliar sua presença e influência na região do Pacífico, os Estados Unidos contiveram um
possível avanço do socialismo no Extremo Oriente.
Além da ajuda financeira dos Estados Unidos, outros fatores também contribuíram de maneira decisiva
para a rápida expansão da economia japonesa, entre os quais:
• a aplicação maciça de verbas públicas em todos os setores da 'educação, sobretudo no ensino
técnico voltado para a qualificação da mão de obra;
• a canalização dos investimentos para o setor produtivo (sob a proteção militar dos Estados Unidos e
com seu exército transformado em força de autodefesa, a prioridade do Japão foi investir na expansão
de sua infraestrutura - energia, transportes, comunicações - e de seu parque industrial);

49
Xogunato→ sistema de governo Vigente e no Japão do século ao XIX, em que o poder concentrava-se nas mãos dos comandantes militares (os xoguns e
era transferido aos seus descendentes. A crescente Importância dos xoguns neste período chegou a submeter a autoridade do imperador.
Zaibatsus → empresas ou conglomerados que atuam no setor industrial, de comércio e de finanças, originadas de famílias tradicionais do Japão. Com o passar
dos anos, o enriquecimento dessas organizações possibilitou a incorporação de indústrias menores, que se transformaram em grandes conglomerados. Entre os
principais estão a Mitsui, a Mitsubishi, a Sumitomo e a Daiichi.

218
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
• a grande disponibilidade de mão de obra relativamente barata e qualificada para o trabalho, já
existente mesmo antes da guerra e que se tornou ainda maior com o êxodo rural ocorrido no pós-guerra;
• a obediência, a disciplina e a dedicação dos trabalhadores japoneses para com as empresas, aliadas
à realização de longas jornadas de trabalho, fatores que serviram muito bem aos interesses da classe
empresarial.
Favorecida por esse conjunto de fatores, a economia japonesa se recuperou de maneira extraordinária
nas décadas seguintes à derrota na Segunda Guerra, sustentando um ritmo de crescimento econômico
bem superior ao alcançado por outras grandes economias mundiais. Na década de 1960, o país já
despontava como terceira maior economia mundial, alcançando o posto de segunda maior economia na
década de 1980, posição que manteve até o início deste século, quando foi superada pela emergência
econômica da China.

Um Parque Industrial Complexo


O Japão possui um parque industrial extremamente complexo, diversificado e evoluído do ponto de
vista tecnológico, destacando-se na produção de bens de capital, bens intermediários e, sobretudo, de
consumo. Entre os principais setores industriais do país estão o naval, o siderúrgico, o petroquímico, o
automobilístico, o eletroeletrônico, o têxtil e o alimentício.
Em virtude da insularidade do seu território, seu interior montanhoso e também do grande volume de
suas importações (matérias-primas) e exportações (produtos manufaturados), o parque industrial japonês
se desenvolveu principalmente nas estreitas planícies costeiras, próximas aos grandes portos, como
Yokohama, Kobe e Chiba (na baía de Tóquio). Grande parte de sua produção industrial se concentra no
eixo Tóquio-Nagoya-Osaka, o mais importante da megalópole japonesa.

A Economia Japonesa em Crise


Embora o Japão tenha sustentado um crescimento econômico acelerado durante décadas seguidas,
o país vem apresentando sérios problemas financeiros agravados pela desaceleração de sua economia.
Sua estagnação econômica decorre, de certa forma, da própria prosperidade dos anos anteriores. Com
o aumento da riqueza gerada quando a economia ainda estava aquecida, os investidores realizaram
grandes especulações no mercado financeiro e imobiliário, o que provocou exagerada alta no valor das
ações (negociadas na Bolsa de Tóquio) e no preço dos imóveis. Quando os bancos restringiram o crédito,
a bolha especulativa que havia se formado acabou "explodindo", fazendo desabar o preço das ações e
dos imóveis. Os prejuízos, então, se alastraram por quase toda a economia e provocaram recessão,
aumento do desemprego e queda dos salários.
Paralelamente a isso, a economia japonesa também passou a ser afetada pela forte concorrência dos
produtos asiáticos (de eletroeletrônicos a automóveis) fabricados em países como China, Malásia,
Indonésia, Filipinas, Tailândia, Vietnã, entre outros. Com preços mais baixos, esses produtos se tornaram
mais competitivos no mercado mundial, comprometendo justamente as exportações japonesas,
sustentáculo do crescimento econômico daquele país.

ECONOMIAS EMERGENTES50

Relações Econômicas no Mundo Moderno - BRICS

BRIC é uma sigla criada pelo economista Jim O'Neill, referindo-se às iniciais dos quatro principais
países emergentes do início do séc. XXI - Brasil, Rússia, índia e China.
O Grupo Goldman Sachs, para o qual Neill trabalha, mapeou as economias dos BRICS e estabeleceu
projeções para 2050, considerando os modelos demográficos, de acumulação de capital e investimento
e o crescimento da produtividade. Os dados são bastante otimistas. Caso as projeções se mantenham,
em aproximadamente quarenta anos, os BRICS juntos podem ultrapassar os seis grandes países do
mundo - Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália, em valores de dólares
americanos.
Eles podem ainda se tornar a grande força da economia mundial, contendo mais de 40% da população
mundial e um PIB de cerca de 85 trilhões de dólares.
Embora esse conjunto de países tenha resultado da análise de um economista, nos últimos anos
tornou-se claro que, embora o BRIC não pretenda a formação de um bloco econômico, os integrantes
têm diversos interesses comuns e um peso político importante no plano global.

50
MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013.

219
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Isso ficou evidente no mesmo ano de 2009, quando uma grave crise financeira internacional atingiu o
mundo, gerando forte recessão e desemprego, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Naquele
contexto, justamente os países do BRIC foram os últimos a sofrerem as consequências e os primeiros a
retomar o crescimento econômico.

Líderes dos BRICs Manmohan Singh, Dmitri Medved, Hu Jintao e Luís Inácio Lula da Silva, Japão, em 2009

Crise Econômica Mundial – O Problema da Dívida Externa

Em 2011, com a volta da crise financeira global na verdade, um desdobramento da iniciada em 2009 -
novamente os países em desenvolvimento como o Brasil encararam um grande desafio. Nesse contexto
mais recente, o Brasil, na época dirigido por Dilma Rousseff, sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva,
apresentou melhores condições internas para enfrentar as dificuldades. Assim como o Brasil, também
Rússia, índia e China possuíam reservas de moedas internacionais estratégicas e um mercado interno
em crescimento.
Segue abaixo um texto a respeito dos riscos e oportunidades com os quais se depararam os países
BRIC nesta década. O termo BRICS é uma nova nomenclatura que inclui a África do Sul, representada
pela letra S. Nos casos em que a sigla for grafada, por exemplo, como "os BRICs", a letra "s" em caixa
baixa no final representa a concordância gramatical que designa a pluralidade do grupo, porém sem a
participação da África do Sul.

Mundo em Transição Fortalece os BRICS


A crise nos EUA e na Europa deve fortalecer os BRICS, o conjunto de países emergentes que aglutina
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A avaliação é do embaixador Gilberto Fonseca Guimarães de
Moura, diretor do Departamento de Mecanismos Inter-Regionais (DMR) do Ministério das Relações
Exteriores, em palestra feita no Centro de Estudos Políticos dos BRICS, da PUC, no Rio. Para ele, ao
mundo vive hoje um grande momento de transição.
Uma transição muito longa, pois caso seja rápida, será traumática para todos." No contexto de
mudança global, Moura prevê que os BRICS vão se fazer ouvir, pois, com a crise, os países ricos vão ser
questionados. "E algum tipo de ajuste será feito na governança global". Ele vê os BRICS como uma
resposta a esse repensamento da estrutura global atual, tanto em termos políticos, quanto econômico-
financeiro. "Fóruns internacionais criados no mundo pós-guerra, como a própria ONU, estão
envelhecendo."
No futuro, qualquer país que almeje se destacar como líder global não pode querer reproduzir visões
arcaicas que dividiram o mundo entre Norte e Sul, diz. “O líder mundial do futuro não pode querer as
coisas só para si. Se estamos lutando contra isso, contra um ou dois países dominando o mundo, seria
um contrassenso reproduzir práticas passadas".
Os diversos grupos de países que vêm despontando, como os BRICS, o IBAS (Índia, Brasil e África
do Sul), o G-20, o G-15, a UNASUL, entre outros, espelham a grande necessidade de mudanças. "Está
evidente que o status quo do planeta não é o adequado". Segundo ele, não é possível mais nos dias de
hoje ignorar um país como a China. E nem mesmos outros países de dimensões continentais como
Rússia, Índia e Brasil. "Não é possível ignorar os BRICS. Eles incomodam.” [... ] Fonte: Clipping, seleção de notícias.
Disponível em: <https:l/conteudoclippingmp. planejamento.gov.br/cadastroslnoticias/20111819/mundo-em-transicao-fortalece-os-BRICs>.
A divisão Norte/Sul continua a evidenciar um grande descompasso de estágios econômicos entre
países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Apesar disso, vários analistas de economia já
anteveem importantes consequências para o futuro, ao analisar o padrão do crescimento econômico
global atual e compará-lo como passado. Levando esses dados em consideração, além dos países do

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
BRIC, analistas do banco Goldman Sachs delinearam outro conjunto de nações que também deverão
ganhar importância no futuro. Trata-se do N-11.
Apesar da crise financeira ocorrida em 2008-09 e retomada em 2011, aparentemente nada impede o
avanço econômico dos países em desenvolvimento. Isso fortalece a perspectiva do embaixador brasileiro
Gilberto Fonseca Guimarães de Moura, segundo o qual "não é possível ignorar os BRICS. Eles
incomodam" e "algum tipo de ajuste será feito na governança global".

Brasil

Qual seria o papel do Brasil em 2050?


As estimativas indicam que o Brasil será a 5ª potência mundial. O país se destacará na produção e
exportação de gêneros agropecuários e produtos semi processados como aço e alumínio. O petróleo
também será um produto de grande produção no Brasil, graças às descobertas do pré-sal e à tecnologia
da Petrobras.
O país terá grande destaque como formulador e produtor de fontes alternativas de energia, a exemplo
do biocombustível. O etanol, que já é uma realidade, terá um papel de grande importância como substituto
da gasolina, e diversos gêneros agrícolas servirão de base para o biodiesel.
Os recursos naturais são um capítulo à parte que merecerá grande atenção, como o uso do banco
genético dos nossos biomas e o ouro azul, representado pela água doce disponível.
As nossas reservas de água doce superficial são enormes e ainda temos o Aquífero Guarani, maior
reservatório de água doce subterrânea do mundo.
O Brasil possui ainda uma ampla população, favorecendo o mercado consumidor e o de trabalho.

Problemas e Desafios
O país, contudo, terá de desenvolver políticas sociais de grande abrangência para minimizar a
desigualdade social e inserir a sua grande massa no mercado formal.
Terá, ainda, o grande desafio de se desenvolver com sustentabilidade, para não perder a sua
biodiversidade e tampouco comprometer a expansão dos negócios.
A pesquisa tecnológica necessitará de grandes investimentos para alcançarmos competitividade
internacional.

Índia

Dentro dos BRICS, a Índia é o país de maior crescimento percentual e pode ser a 3ª potência mundial,
em 2050, atrás da China e dos EUA.
A economia indiana, até a década de 1980, era voltada para o setor primário - agropecuária -, e a sua
política econômica era extremamente fechada.
As mudanças estruturais surgiram no governo de Rajiv Gandhi, em meados da década de 1980, como
uma necessidade de gerar emprego e renda para uma população numerosa - a 2ª maior do mundo -, e
também pelo momento histórico, representado pelo fim da Era Bipolar e da Guerra Fria, em que os
interesses mundiais se voltavam para os negócios.
Se, por um lado, uma grande população é motivo de preocupação, por outro, pode significar um atrativo
para investimento em razão da mão de obra abundante e do mercado consumidor.

A índia reestruturou a sua economia, assentando sua política em três pilares:


• geração de empregos e melhoria do bem-estar da população;
• a política industrial que deve gerar ganhos de produtividade e eficiência econômica;
• abertura da economia para a iniciativa privada, ficando o Estado com o controle de setores
estratégicos como segurança e infraestrutura.

A abertura econômica, posta em prática na década de 1990, colocou a índia na era da globalização,
sem, contudo, perder o controle da situação interna.
O governo priorizou os investimentos produtivos em detrimento dos especulativos.
Um dos grandes trunfos da índia foi o pulso forte do governo quando ocorreram as crises da Ásia e da
Rússia. Ele manteve o controle do câmbio e não permitiu a evasão de dólares. Tal controle se mostrou
um porto seguro para os investimentos produtivos, que proliferaram naquele país.
Em 2002, a exportação de serviços comerciais chegou a 24.553 milhões de dólares ante os 4.610
milhões de dólares de 1991.
Em 2003, o setor de serviços já representava 58% do PIB, a indústria, 19 e a agropecuária, 23%.

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A nova política industrial surtiu grande efeito na indústria de tecnologia da informação, sendo o setor
de criação de softwares o mais beneficiado.

A indústria da tecnologia da informação deve seu sucesso


• à liberalização das importações de equipamentos, sobretudo hardwares;
• ao treinamento da mão de obra no exterior (diversos profissionais de áreas técnicas trabalhavam
no exterior e depois traziam a sua experiência para a índia);
• ao extenso sistema universitário estatal;
• à mão de obra qualificada e barata, quando comparada aos profissionais ocidentais do mesmo
ramo;
• às aglomerações industriais - clusters -, que permitiram a cooperação entre fornecedores e
clientes e aprimoravam a logística.

Os maiores clusters de software encontram-se em Bangalore, cidade chamada de "Novo Vale do


Silício", Chennai, Hyderabad, Mumbai e Nova Délhi.
A indústria da tecnologia da informação movimenta mais de 10 bilhões de dólares anuais.
Um dos negócios de grande rentabilidade que se expandiu muito na índia são os call centers.

Call centers
Os call centers são empresas terceirizadas que atendem às solicitações dos clientes e oferecem
produtos por telefone.
Muitos indianos têm domínio da língua inglesa, o que facilita as contratações. Os jovens recrutados
passam por treinamento para perder os sotaques regionais e, dessa forma, atender clientes de diversos
países de língua inglesa, como a Inglaterra, os EUA, a Austrália, entre outros. O salário desses jovens é
de 800 dólares em média, valor acima da média na índia e muito abaixo da média nos países
desenvolvidos.

Bollywood
A indústria cinematográfica indiana é a maior do mundo no seu ramo. Ela ultrapassa Hollywood em
número de produções. Observe os seguintes dados:
• produção de mais de 800 filmes por ano;
• público de mais de 14 milhões de espectadores, somente na índia;
• faturamento anual de 1,3 bilhão de dólares.
Acrescenta-se a isso o fato de as produções terem custo baixo, o que aumenta o lucro.
O nome Bollywood foi inspirado na capital mundial do cinema - Hollywood -, atrelando as iniciais da
cidade indiana de Bombaim. Atualmente, Bombaim se chama Mumbai.

Problemas e Desafios
O grande desafio da índia na atualidade é atrelar o desenvolvimento econômico ao social. Segundo a
empresa de consultoria Goldman Sachs, a índia possui um terço dos engenheiros do setor de informática
e, simultaneamente, um quarto dos desnutridos do planeta.
Tradicionalmente, a sociedade indiana é dividida em castas.51

Embora a Constituição da índia não reconheça a divisão social em castas, o costume prevalece sobre
a lei. As principais castas são:

• Brâmanes: grupo dos sacerdotes, religiosos e filósofos. É considerada a elite das castas.
• Xátrias: inicialmente era a casta dos guerreiros. Hoje agrega os profissionais do setor judiciário,
policiais e militares.
• Vaixás: grupo das atividades econômicas, incluindo os artesãos, comerciantes e o setor agrícola.
• Sudras: trabalhadores braçais.

Fora do sistema de castas, existem os párias ou intocáveis. Segundo a tradição hinduísta, os intocáveis
não são nascidos ou abençoados pelo Deus Brahma e, por isso, podem ser discriminados.
A questão suscitada é a seguinte: até o momento, os membros das castas superiores supriram as
novas vagas de trabalho. No entanto, o rápido desenvolvimento indiano requererá mais mão de obra,
necessitando de pessoas das castas inferiores. A oferta de mão de obra braçal é muito elevada, porém
51
*Casta → Grupo social hereditário em que as pessoas só podem casar-se com outras do próprio grupo, e que determina também sua profissão, hábitos
alimentares, vestuários e outras coisas, induzindo a formação de uma sociedade sem mobilidade social. Ney Vilela, da Unesp Bauru (SP).

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não é isso que a nova economia procura. Estará a índia preparada para homogeneizar as castas nas
frentes de trabalho?

Os intocáveis
Estigmatizados como impuros desde o nascimento, um em cada seis indianos vive e sofre - na base
do sistema de castas hindu.
[. .. ] Nascer hindu na índia é entrar para o sistema de castas, uma das mais antigas formas de
estratificação ainda em vigor. Arraigado na cultura indiana há 1,5 mil anos, o sistema segue um preceito
básico: todos são criados desiguais. A hierarquização da sociedade hindu originou-se de uma lenda na
qual os quatro principais grupos, ou varnas, emergem de um ser primordial. Da boca vêm os brâmanes,
sacerdotes e mestres.
Dos braços, os xátrias - governantes e soldados. Das coxas, os vaixás - mercadores e negociantes -
e, dos pés, os sudras - trabalhadores braçais. Cada varna, por sua vez, abrange centenas de castas e
subcastas hereditárias, cada qual com hierarquia própria.
Um quinto grupo consiste nas pessoas que são achuta, ou intocáveis. Não vieram do ser primordial.
Eles são os excluídos - pessoas demasiado impuras para classificar-se como seres dignos. O preconceito
define a sua vida, particularmente nas áreas rurais, onde vivem quase três quartos da população indiana.
Os intocáveis são evitados, insultados, proibidos de frequentar templos e casas de castas superiores,
obrigados a comer e beber em utensílios separados em lugares públicos e, em casos extremos, mas não
incomuns, são estuprados, queimados, linchados e baleados. [ ... ]
Os intocáveis executam o "trabalho sujo" da sociedade - atividade que requer contato físico com
sangue e excrementos humanos. Os intocáveis cremam os mortos, limpam latrinas, cortam cordões
umbilicais, removem animais mortos das ruas, curtem couro, varrem sarjeta.
Esses trabalhos e a condição dos intocáveis são transmitidos aos descendentes. Mesmo os
numerosos intocáveis que exercem serviços "limpos", principalmente trabalhos agrícolas mal
remunerados em terras de grandes proprietários, são considerados impuros.
Em uma sociedade livre só na aparência, os intocáveis são atrelados à base de um sistema incapaz
de funcionar sem discriminação. [ ... ] NATIONAL GEOGRAPHlC BRASIL, jun. 2003. pp. 38-68. (Fragmento).

Rússia

A Rússia era o principal país da antiga URSS e iniciou a sua transição do socialismo real para o
capitalismo em meados da década de 1980, com a Glasnost – abertura política – e a Perestroika –
abertura econômica.
Essa transição, no início da década de 1990 foi bastante conturbada e trouxe muitas consequências
negativas. A antigas empresas estatais foram fechadas, o que gerou um alto índice de desemprego. Os
novos negócios ficavam nas mãos de um pequeno grupo de russos que aproveitaram dos privilégios
governamentais do antigo regime. A pior situação, no entanto, foi a proliferação das máfias que,
aproveitando a menor ação do Estado, agiam de forma livre.
Foi somente nos primeiros anos do século XXI que a Rússia deu sinais de recuperação. O governo de
Vladimir Putin retomou o controle sobre a segurança e a economia, combatendo as máfias e colocando
a Rússia em destaque no cenário político-econômico do mundo globalizado.
A Rússia atualmente se posiciona muito bem no campo bélico, ainda mantendo o status da Guerra
Fria.
Na área econômica, tem grande destaque como produtora e exportadora de hidrocarbonetos. Ela
detém 30,5% das reservas mundiais de gás, liderando o ranking mundial. Em reservas de petróleo, ocupa
a 7ª posição mundial, com 5,7 % do total mundial.

Problemas e Desafios
A Rússia está enfrentando uma redução demográfica devido ao envelhecimento da população e à
queda das taxas de natalidade. Essa situação pode se refletir na economia, com menor oferta de mão de
obra e encolhimento do mercado consumidor.
Um outro desafio a ser enfrentado pela Rússia será o esgotamento dos hidrocarbonetos. Ela precisa
diversificar a sua economia para não sucumbir economicamente.
Diante de tal situação, a Rússia tem se lançado ao Ártico, em busca de novas reservas de
hidrocarboneto. O Instituto de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos divulgou relatório dizendo que o
Círculo Ártico possui cerca de 13% do petróleo ainda não descoberto no planeta, 30% do gás natural e
20% do gás líquido. Como a Rússia é, hoje, o país com melhor equipamento para tais explorações, saiu

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na frente e está reivindicando áreas. A disputa pelo Ártico é um assunto geopolítico mundial, pois esbarra
nos interesses de outros países como Canadá, EUA, Noruega e Dinamarca.

China

Em 2050, a China será a maior economia do mundo. O crescimento acelerado da economia chinesa
começou em 1976, após a morte do seu líder socialista Mao Tsé-Tung. O sucessor de Mao foi Deng
Xiaoping, que defendeu a ideia da abertura econômica da China, conservando, porém, o monopólio do
Partido Comunista.
A China chegou ao fim do século XX com avanços inegáveis. A população era majoritariamente
alfabetizada e sem crises de subnutrição ou fome, apesar de contar com 1,3 bilhão de habitantes. A
pobreza, todavia, dominava a zona rural.
Deng Xiao-ping promoveu mudanças estruturais, mesmo recebendo críticas de que estava traindo os
ideais socialistas. Sobre isso, disse em certa ocasião: "Não importa a cor do gato, mas se é ou não capaz
de caçar ratos."
Com essa visão, Deng promoveu mudanças radicais na China, colocando-a na rota do capitalismo e
da globalização, não apenas como sombra dos países desenvolvidos, mas como concorrentes destes.

Reestruturação chinesa
Das diversas reformas, destacam-se:

• substituição das antigas comunas populares por cooperativas agrícolas, com produção para o
mercado;
• criação das ZEEs (Zonas Econômicas Especiais) - centros urbanos, próximos à populosa costa
chinesa, a exemplo de Cantão, Shenzhen, Zhuhai e Shantou, que receberam um volumoso investimento
estrangeiro para a montagem de plataformas de exportação;
• entrada recente na OMC (Organização Mundial do Comércio);
• criação de infraestrutura pelo Estado com a intenção de atrair e gerar novos negócios. (O melhor
exemplo é a construção da usina hidrelétrica de Três Gargantas, no Rio Yang-Tsé, que será a maior obra
do mundo desse gênero).

A grande captação de investimentos estrangeiros obtidos pela China se ancorou em três pilares:
• mão de obra disciplinada e muito barata (a média salarial de um operário chinês é de 100 dólares
mensais);
• oferta de matéria-prima de energia;
• incentivos fiscais;
• criação de clusters e logística de exportação.

O crescimento acelerado produziu também problemas no mesmo ritmo, alguns irreversíveis.

Problemas e Desafios
Dos chamados problemas do progresso, podemos destacar as questões sociais e as ambientais.
A China ainda depende do carvão mineral para gerar energia, Ela é a maior produtora mundial desse
minério. Contudo, a queima do carvão afeta a atmosfera das cidades do nordeste do país - região da
Manchúria - e induz a morte de mais de 700 mil pessoas por ano, devido a problemas respiratórios.
A China foi classificada como um país em desenvolvimento e, por isso, não faz parte do grupo de
países obrigados a reduzir as emissões de dióxido de carbono. No entanto, a partir de 2012, alguns países
em desenvolvimento também terão a meta de redução.
A água é um capítulo à parte. As leis ambientais na China não são rígidas e a ausência de fiscalização
leva a uma situação insustentável: dois terços das principais cidades enfrentam a escassez de água e
cerca de metade da população ingere água contaminada por dejetos humanos e de animais. A poluição
é agravada pelos restos dos curtumes de porcos e pelos despejos industriais, lançados nos rios, sem
nenhum tratamento.
A saúde da população chinesa também está seriamente comprometida pela exposição dos
trabalhadores a produtos nocivos, sem a devida proteção.
Supõe-se que mais de 25 milhões de trabalhadores tenham contato com substâncias venenosas.
Recentemente, o governo chinês começou a demonstrar preocupação com a questão ambiental.

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Está destinando quase 1% do seu PIB para a recuperação dos solos e dos rios e anunciou que tratará
com mais rigor a licença para futuras obras e empresas e exigirá relatórios de impacto ambiental para
todos os setores,
Ainda que a iniciativa seja boa, ela chega atrasada, Boa parte da população chinesa, sobretudo a que
migrou para as cidades, aumentou o seu nível de consumo, fato que impõe uma sobrecarga ao meio
ambiente. Se os chineses tivessem um padrão de vida semelhante ao dos estadunidenses, o planeta
Terra não seria capaz de prover os recursos necessários.

Dumping Social
A China é criticada por outros países, e teve dificuldades em ser aceita na OMC, em razão da prática
de dumping social. Os salários médios oferecidos aos trabalhadores são bem inferiores à média mundial,
o que contribuiu para o barateamento do produto final.
O governo chinês se defende dizendo que os valores não são inexpressivos, considerando a paridade
do poder de compra, isto é, o poder de compra do chinês não é tão inferior ao de diversos países, uma
vez que o Estado oferece moradia, educação e saúde, sem custo, Assim, as despesas de uma família
são inferiores à média mundial, mantendo o seu poder aquisitivo.

Ausência de Democracia
Desde o Massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, em que os estudantes foram duramente
reprimidos pelo Exército quando exigiam a abertura política, a China mostrou ser um país onde os direitos
humanos não são respeitados, Além do partido único e da ausência de eleições diretas, os chineses não
podem se manifestar publicamente. Os meios de comunicação são controlados pelo Estado.

Conflitos Territoriais
A China apresenta duas questões territoriais ainda não resolvidas: o Tibete e Taiwan.
Em 1950, o regime socialista da China invadiu e anexou o Tibete. Desde então, embora reconhecido
como "região autônoma", o Tibete vive em um estado de policiamento constante, O seu líder religioso,
Dalai Lama, não pode viver na China e se exilou na Índia, Manifestações pró-independência foram
duramente reprimidas antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
Taiwan é considerada a "ilha rebelde" da China, Em 1949, quando da implantação do socialismo
chinês, grupos de chineses contrários ao novo regime dirigiram-se para Taiwan e fundaram a "República
da China", com orientação capitalista.
A China não reconhece a soberania de Taiwan, e pretende a sua reanexação. A proposta de uni-la,
mantendo o sistema capitalista intitulado "Um país, dois sistemas", não foi aceita pelo governo de Taiwan.
Por diversas vezes, a China já utilizou intimidação bélica em Taiwan, Um ataque, de fato, só não
ocorreu porque, desde a década de 1970, Taiwan se tornou um Tigre Asiático e agregou inúmeras
empresas de potências capitalistas.

África do Sul

A África do Sul é o país mais rico e com maior diversificação econômica do continente africano.
Possui costa litorânea para os oceanos Atlântico e índico, o que lhe garante um comércio amplo com
a Ásia e a América, além da Europa. Também tem grande destaque no comércio intracontinental, pois a
África do Sul é signatária de vários acordos e blocos econômicos da África, tendo acesso a um mercado
amplo e muito promissor.
Diferentemente da maioria dos países africanos, a África do Sul não é exportadora apenas de
commodities. Há muito tempo, desenvolveu um parque industrial que tem se ampliado em quantidade e
qualidade. Atualmente, o país é procurado por empresas ligadas aos meios de transporte, de
planejamento e infraestrutura urbana, de tecnologia da informação e comunicação (TIC), além de
vestuário e calçados, energias renováveis e também no setor aeroespacial.
A atratividade para investimentos estrangeiros só foi possível com a estabilidade política conquistada
após o fim do regime de segregação racial conhecido como apartheid.

Apartheid
O apartheid foi um regime de segregação racial, instituído pelo governo da minoria branca e amparado
pela lei, que perdurou na África do Sul de 1948 até 1990. As leis do apartheid discriminavam a população
negra e ofereciam privilégios aos brancos, uma vez que estes detinham o poder político e econômico.
O termo apartar ou separar foi levado à risca na África do Sul, com espaços públicos como banheiros,
praças, bancos e mesmo calçadas sendo separados entre brancos e negros.

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Embora condenado pela ONU, o regime segregacionista resistiu por mais de quatro décadas porque
encontrou respaldo velado em algumas nações ocidentais. Em troca de armas, o governo sul-africano
agia militarmente em países vizinhos que assumiam posturas socialistas, pró-soviéticas. Essas mesmas
nações também adquiriam, clandestinamente, os diamantes da África do Sul, dando suporte econômico
ao governo local. Isso explica a manutenção desse regime por tanto tempo.
Ao fim da Guerra Fria, na década de 1990, o regime segregacionista foi revogado e a África do Sul
pode criar uma nova constituição garantindo direitos iguais a todos os cidadãos, independentemente de
etnia, cultura ou orientação religiosa.
Nelson Mandela, um ativista político que passara vinte e sete anos na prisão por sua luta contra o
apartheid, tornou-se o primeiro presidente negro do país, tendo como marca de seu governo a tolerância,
o respeito às diversidades étnicas e culturais e a união pela paz.

A Nação Arco-íris
A diversidade pode ser observada na quantidade de línguas oficiais do país - 11 no total, a exemplo
do africâner, sepédi, sessoto, setsuana, além do inglês, língua herdada do colonizador. A quantidade de
línguas oficiais reflete o multiculturalismo do país que apresentava, em 2011, ocasião em que foi realizado
o censo, cerca de 61 milhões de habitantes. Destes, 41 milhões são negros, 4,6 milhões são mestiços,
4,6 milhões são brancos de origem europeia, 1,2 milhão são asiáticos e o restante compõe outras origens
e etnias. Por sua diversidade étnica, a África do Sul é conhecida como a Nação Arco-íris.
Dentre o grupo dos negros há uma subdivisão de acordo com a origem dos grupos étnico-culturais,
com destaque para os zulus, os xhozas, sotos, tsua- nas, tongas, suazis, entre outros.

Problemas e Desafios
Mas a África do Sul também é o país das desigualdades. Apesar do fim do regime de segregação
racial no plano jurídico, a África do Sul não conseguiu superar a desigualdade socioeconômica que
mantém negros e brancos em posições antagônicas.
Segundo os dados do censo 2011 realizado naquele país, um branco ganha cerca de seis vezes mais
que um negro. Mantendo-se os atuais níveis de crescimento econômico e buscando a equalização destas
diferenças paulatinamente, a expectativa é a de que um negro atinja o salário médio de um branco
somente no ano de 2061.
Os brancos têm maior escolarização que os demais grupos. Mais de 60% dos negros e mestiços têm
apenas o nível secundário incompleto, o que é considerado muito pouco (me- nos de 9 anos de estudo)
para pleitear empregos que exijam qualificação profissional. Assim, submetem-se a empregos informais
e/ou de baixa remuneração, perpetuando o ciclo da pobreza e da desigualdade.
É por isso que os sociólogos afirmam que, na prática, a segregação racial ainda persiste.

A Cooperação Sul-Sul e o IBAS


O IBAS (índia, Brasil e África do Sul) é uma iniciativa dos três países com o intuito de promover a
cooperação Sul-Sul em diversos campos. A iniciativa, portanto, não se constitui em um bloco econômico
com normas e etapas de conclusão.
Contudo, o fortalecimento político das três nações que emergem economicamente coloca-os em
posição de destaque no cenário mundial.
Dos campos de interesse já discutidos em fóruns, destacam-se a cooperação no plano da política
internacional, da economia, do desenvolvimento social, intercâmbio nas áreas de educação, práticas
sustentáveis e tecnologia.
Os três países do IBAS pleiteiam um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, e cada
qual exerce influência político-econômica dentro dos seus respectivos continentes.
A África do Sul aparece com grande destaque nos assuntos políticos que envolvem a África, assim
como amplia as suas relações intercontinentais.

MIST

Tal como o BRICS, o MIST não é um bloco econômico. Trata-se de um acrônimo que foi desenvolvido
com base nas análises econômicas de Jim O'Neall, presidente do grupo de investimentos Goldman
Sachs.
Baseado na comparação de dados que envolveram diversos aspectos, como extensão territorial,
população, crescimento demográfico, crescimento econômico, recursos naturais, carga tributária,
liberdade econômica, legislação trabalhista, regulamentação e solidez do setor financeiro, entre outros
aspectos, O'Neall elencou, além dos BRICS, 11 países que no futuro deverão se mostrar cada vez mais

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interessantes para os investidores internacionais: México, Nigéria, Egito, Turquia, Irã, Paquistão,
Bangladesh, Vietnã, Filipinas, Indonésia e Coreia do Sul.
Entre esse grupo de países, os investidores identificaram quatro como merecedores de destaque por
vários fatores como estabilidade política, burocracia, legislações trabalhista e ambiental mais permissivas
ou liberais, bem como pelo fato de terem conquistado um crescimento econômico mais robusto nos
últimos anos: México, Indonésia, Corei a do Sul e Turquia.
Ao analisar um pouco além das perspectivas de ganhos econômicos, a formulação do acrônimo MIST
pode também ser explicada pelo contexto global desde o ano de 2008.
A partir de 2008, o sistema econômico mundial foi duramente atingido por uma crise gerada no sistema
financeiro dos EUA e da União Europeia. A desregulamentação bancária permitiu que alguns dos maiores
e mais poderosos bancos do mundo aplicassem recursos financeiros em operações de altíssimo risco,
causando um verdadeiro desastre econômico. Desde então, tanto nos EUA como na União Europeia, os
Estados assumiram o custo de saneamento dos poderosos bancos e, portanto, passaram a ter a sua
contabilidade também comprometida.
Em meio a essa crise financeira, os EUA viram o seu PIB encolher. Vários estados europeus entraram
em crise de pagamentos e assumiram medidas de austeridade, cortando investimentos sociais, pensões,
serviços de educação e saúde etc. Além de gerar uma catástrofe em diversos países europeus e na
América do Norte, esse panorama também resultou em uma diminuição do crescimento econômico em
escala global, com repercussões também nos BRICS.
Embora o Brasil tenha continuado a diminuir a sua desigualdade e manter uma taxa de desemprego
baixíssima - em grande contraste com o ocorrido na Europa e EUA -, o crescimento do PIB ficou aquém
do esperado em 2011 e 2012. Além disso, a decisão do governo Dilma Rousseff em forçar as taxas de
juros para baixo, em 2012, afugentou um amplo segmento de especuladores financeiros, que até então
sempre obtiveram elevados lucros com o investimento em papéis da dívida pública do país, sem realizar
qualquer atividade produtiva.
Índia e África do Sul também tiveram o seu crescimento afetado, porém menos do que a Rússia, que
tem entre seus principais parceiros econômicos os países europeus.
Para a China, a crise global que se arrasta desde 2008 fez o patamar de crescimento cair de 10 ao
ano para níveis um pouco mais baixos, ao redor de 8% ao ano. Coincidindo com essa retração no
comércio exterior, o Estado chinês tem planejado um aumento do crescimento do mercado interno
baseado também no aumento dos salários. Uma clara estratégia de aumentar o valor dos produtos
exportados em detrimento da tradicional vantagem produtiva do baixo custo de remuneração na produção
de itens mais baratos.
Nesse contexto, em termos globais, o custo da produção de países como o México ficou mais
interessante para eventuais investidores produtivos. A Indonésia, com uma grande população, não teve
o seu sistema financeiro tão afetado pelos problemas ocorridos nas potências globais.
A Coreia do Sul segue como um centro de irradiação tecnológica e sede de várias indústrias com
operação em escala global, com fortes investimentos produtivos inclusive no Brasil. A Turquia continua a
apresentar um crescimento econômico apreciável tendo em vista a crise europeia, além de ter se
destacado como um país estratégico na relação entre o Ocidente e o Oriente Médio.
Tendo em vista todo esse panorama, seria possível afirmar que o grupo MIST estaria a ponto de
superar ou de diminuir a importância do BRICS? Na verdade, isso não procede. Apesar da crise global,
é possível que Brasil, Rússia, índia e China retomem uma taxa de crescimento maior nos próximos anos,
principalmente se houver continuidade em investimentos fortes em educação, infraestrutura e aumento
de produtividade em países como Brasil e índia.
Além desses fatores, existe também uma importante diferença de escala entre os dois grupos. O
crescimento médio do BRICS em 2012 é muito afetado pela taxa de crescimento da China, país com
maior porte no grupo.
Vamos agora fazer uma breve análise dos participantes do MIST.

México
Com população atualmente superior a 112 milhões de habitantes, o México faz hoje parte do bloco
econômico do NAFTA. Desse modo, a economia nacional é fortemente polarizada pela economia dos
EUA, o líder do bloco, em um caráter de dependência. Essa situação fez com o México tivesse recebido
diretamente os fortes impactos da crise econômica ocorrida nos EUA desde 2008.
Diversas análises deram destaque ao crescimento econômico do México nos anos de 2010 (5,5%) e
2011 (4%). Contudo, devemos levar em conta que o país teve crescimento pífio em 2008 (1,3) e negativo
em 2009 (- 6,5%).

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Por outro lado, se o México tem se destacado como país atrativo para a implantação de investimentos
produtivos, é importante frisar que isso basicamente se deve às "maquiladoras", empresas especializadas
em montagem de itens produzidos no exterior, que são também favorecidas por uma legislação trabalhista
que permite custos salariais baixos e limitação de direitos sociais em áreas específicas.
Várias dessas "maquiladoras" operam junto à fronteira com os EUA. Apesar dessa atratividade, os
lucros das empresas são remetidos para o exterior e não geram bons empregos internamente.

Indonésia
Com uma população superior a 237 milhões de habitantes, predominantemente muçulmana, e
contando com uma grande diversidade de línguas e dialetos, a Indonésia é um país do Sudeste Asiático
que pode ser definido como um "país arquipélago".
O país conta com várias cidades com mais de um milhão de habitantes, tendo a capital Jacarta quase
10 milhões em sua área metropolitana. No passado, a Indonésia passou por revoluções, ditaduras e crises
econômicas, mas atualmente exibe uma economia robusta e diversificada (crescimento de 6,5 em 2011),
que inclui desde a produção de gêneros agrícolas tropicais até a industrialização de produtos têxteis, de
papel e bens automotivos. Tem grande destaque também a produção de petróleo e gás mineral. O país
faz parte da ASEAN, o bloco dos países do Sudeste Asiático.

Coreia do Sul
A população da Coreia do Sul supera atualmente 48 milhões de habitantes. Nas últimas décadas, o
país investiu fortemente na educação e também na formação de grandes grupos industriais de capital
nacional.
Com isso, além de grande produtor industrial, o país é também exportador tecnológico e investidor
produtivo em nível global, sendo também classificado como o membro mais desenvolvido do MIST. Em
2011, o crescimento do país chegou a 3,6%.

Turquia
Com território e população distribuídos entre Ásia e Europa, a Turquia é uma nação que constitui um
ponto de contato entre Ocidente e Oriente. Com uma economia crescentemente industrial em meio a um
ambiente de estabilidade, o país tem registrado altos índices de crescimento econômico (8,5% em 2011).

Questões

01. (Câmara dos Deputados – Analista Legislativo – CESPE) Considerando a evolução da


economia internacional e seus impactos sobre os países emergentes a partir da crise econômica de 2008,
julgue o próximo item.
As baixas taxas de juros praticadas nos EUA e o fraco desempenho das economias europeias e
japonesa ao longo da primeira década do século XXI contribuíram para a maior liquidez das economias
emergentes.
(....) Certo (....) Errado

02. (Prefeitura de Osasco/SP – Socorrista – FGV) Em julho de 2014, chefes de Estado e de Governo
de vários países emergentes se reuniram na VI Cúpula em Fortaleza e aprovaram a “Declaração de
Fortaleza”, que formalizou os objetivos de funcionamento de uma importante instituição financeira
internacional voltada para a mobilização de recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento
sustentável em economias emergentes e em desenvolvimento.
Assinale a opção que identifica corretamente a instituição financeira à qual o texto se refere.
(A) Fundo Monetário Internacional (FMI)
(B) Novo Banco de Desenvolvimento (NBD-BRICS)
(C) Banco Mundial (BIRD)
(D) Fundo Africano de Desenvolvimento (FAD)
(E) Organização Mundial do Comércio (OMC)

03. (UFPR – Agente Comunitário – NC/UFPR) Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul) surgiram para, entre outras razões, introduzir algumas nuanças no atual modelo de globalização,
destacando-se:
(A) o fortalecimento do Estado como regulador da economia e promotor de políticas sociais.
(B) a desregulamentação ou flexibilização dos mercados financeiros.
(C) a liberalização do comércio internacional.

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(D) a concentração da regulação econômica global em duas instituições multilaterais, o Banco Mundial
e o FMI.
(E) a privatização das economias emergentes.

04. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Os BRICS, bem como outras economias de
mercado emergentes e países em desenvolvimento, continuam a enfrentar restrições de financiamento
significativas para lidar com lacunas de infraestrutura e necessidades de desenvolvimento sustentável.
Tendo isso presente, temos satisfação em anunciar a assinatura do Acordo Constitutivo do Novo Banco
de Desenvolvimento, com o propósito de mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e
desenvolvimento sustentável nos BRICS e em outras economias emergentes e em desenvolvimento.
Manifestamos apreço pelo trabalho realizado por nossos ministros das finanças. Com fundamento em
princípios bancários sólidos, o banco fortalecerá a cooperação entre nossos países e complementará os
esforços de instituições financeiras multilaterais e regionais para o desenvolvimento global, contribuindo,
assim, para nossos compromissos coletivos na consecução da meta de crescimento forte, sustentável e
equilibrado. Declaração de Fortaleza. VI Reunião de Cúpula dos BRICS (15 de julho de 2014).
No que se refere à Cúpula dos BRICS realizada em Fortaleza, julgue (C ou E) o seguinte item, tendo
como referência o texto acima.
Acordou-se na VI Cúpula que o primeiro presidente do Novo Banco de Desenvolvimento seria da
Rússia; o primeiro presidente de seu Conselho de Governadores, da Índia; e o primeiro presidente de seu
Conselho de Administração, do Brasil.
(....) Certo (....) Errado

05. (SEDUC/AM – Professor de Geografia – FGV) Em 2007-2008 ocorre a maior crise financeira
mundial desde a Grande Depressão dos anos 30 do século XX. Trata-se de uma crise sistêmica, iniciada
nos Estados Unidos. Com relação ao sistema financeiro mundial, analise as afirmativas a seguir.
I. Crises e recessões são a norma da história do capitalismo mundial. Estas ocorrem tanto em
economias emergentes quanto em economias industrialmente avançadas.
II. Como os mercados financeiros são interligados, aumenta a transmissão de riscos entre eles. Uma
crise em um desses centros pode atingir outros mercados financeiros.
III. Os paraísos fiscais são utilizados em esquemas de evasão fiscal e em operações consideradas
ilegais por muitos países. Neles existe uma variedade de serviços à disposição de instituições e agentes
bancários e financeiros que operam em escala global.
Assinale:
(A) se somente a afirmativa I estiver correta.
(B) se somente a afirmativa III estiver correta.
(C) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
(D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
(E) se todos as afirmativas estiverem corretas.

Gabarito

01.Certo / 02.B / 03.A / 04.Errado / 05.E

SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL52

O G20 e a Reforma do Sistema Financeiro: Possibilidades e Limitações

Ao final de 2008, a crise financeira iniciada no ano anterior nos Estados Unidos espalhou-se pelo
mundo. Vários países da Europa ocidental, na verdade, já vinham sendo afetados pelo colapso do
mercado de hipotecas subprime nos Estados Unidos desde o ano anterior. A quebra do banco de
investimento Lehman Brothers, no entanto, gerou ondas de choque que atingiram um largo conjunto de
economias desenvolvidas e emergentes, inclusive o Brasil.
Neste contexto nasceu o Grupo dos 20, ou G20, como é conhecido atualmente, já que o agrupamento
anterior que respondia por esta sigla dificilmente seria reconhecido no de agora.
O “novo” G20 nasceu, antes de tudo, da perplexidade com o agravamento contínuo e acelerado de
uma crise que poucos acreditavam pudesse crescer além dos limites do setor inicialmente atingido, o
financiamento habitacional americano a famílias de baixa renda. Esta crise “setorial” era conhecida pelo

52
As transformações no sistema financeiro internacional/ organizadores: Marcos Antonio Macedo Cintra, Keiti da Rocha Gomes. - Brasília: Ipea, 2012.

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menos desde o primeiro semestre de 2007, mas autoridades públicas americanas se revezaram na função
de tranquilizar a população de seu país, e do mundo, com relação à possibilidade de contágio para a
economia como um todo. Os muitos relatos detalhados da evolução da crise das hipotecas subprime
mostram que até o momento no qual se determinou que o banco Lehman Brothers deveria falir, sem
receber qualquer ajuda do governo americano, o secretário do Tesouro norte-americano Henry Paulson
ainda acreditava que a crise poderia ser contida. Na verdade, as autoridades americanas acreditavam
que a falência deste banco de investimentos ajudaria a conter a crise, mostrando a firmeza da decisão
política de deixar quebrar instituições financeiras, que se acreditava não serem sistemicamente
importantes, que estivessem envolvidas na generalização de práticas de negócios duvidosas. A firme
recusa em resgatar estas instituições sinalizaria a não contemporização com o risco moral.
A crise financeira, porém, não foi contida. Ao contrário, ela se alastrou, se tornou mais violenta e
transformou-se, finalmente, numa crise econômica, ao racionar a oferta de crédito nos Estados Unidos e
na Europa, elevar juros e aumentar a volatilidade dos mercados monetários internacionais, causando uma
forte diminuição do comércio internacional. Ao tornar-se global, tornou-se evidente a necessidade de
definição de um fórum de coordenação de políticas econômicas de controle de danos e combate à crise,
de modo a evitar que países buscassem aquelas saídas individuais que ajudaram a tornar a crise dos
anos 1930 em uma catástrofe internacional.
Um fórum como esse, na verdade, já existia, o G8, o grupo das economias mais avançadas do mundo.
O G8 obviamente não estava à altura deste desafio. Primeiro, porque as reuniões do G8 há muito haviam
se transformado no que se conhece como photo opportunity no mundo anglo-saxão.
Reuniões de líderes dos países mais avançados eram pouco mais do que iniciativas de relações
públicas em que muitas promessas eram feitas e praticamente nenhum resultado real era perseguido, e
muito menos alcançado. Em segundo lugar, os países que compõem o G8 eram os causadores da crise
e mostravam-se completamente paralisados e perplexos com o desmoronamento de suas economias,
depois de tantos anos a fazer exortações a países em desenvolvimento sobre como governar melhor
seus países. Finalmente, o país mais importante do G8, e da economia mundial, os Estados Unidos, vivia
situação particularmente dramática. Não apenas era ali que a crise mostrava sua face mais violenta, mas
também 2008 era o ano em que um presidente em fim de mandato, e com prestígio popular em rápido
declínio, não demonstrava nem compreender, nem ter poder de iniciativa para definir e adotar as políticas
anticrise necessárias.
O caráter global que a crise assumiu no segundo semestre de 2008 pedia soluções globais. Os líderes
de países desenvolvidos reunidos no G8 não se mostraram à altura do desafio de formular essas
soluções. Os fóruns internacionais, por outro lado, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou a
Organização das Nações Unidas (ONU), também não pareciam promissores, pelo grande número de
membros com direito a voz, o que se acreditava que poderia inviabilizar a identificação e a discussão de
soluções eficazes para enfrentar a crise. É nesse contexto que o G20, um agrupamento de representantes
de países criado em 1999, surgiu como uma tábua de salvação.
Para que o G20 pudesse responder ao desafio que lhe foi colocado, no entanto, sua natureza, escopo
e horizontes tiveram de ser dramaticamente alterados. Em uma primeira avaliação, a ativação do G20
parece ter sido uma decisão acertada, pelo menos do ponto de vista de articulação de políticas de
combate à crise. É preciso, porém, qualificar essa avaliação com alguma cautela, já que o consenso em
torno da necessidade de adoção de políticas de sustentação de demanda agregada não durou realmente
muito tempo. De qualquer modo, passada a fase de emergência, em que quase todas as principais
economias do mundo pareciam ameaçadas de submersão no tsunami financeiro de 2008, o G20, ao
mesmo tempo, ampliou seu leque de interesses e reduziu sua eficácia. Em 2011, parece mesmo haver
um risco palpável de que o G20 enverede pelo mesmo caminho do G8, reduzido a rituais.
No que se segue, propõe-se uma avaliação da atuação do G20 até o momento em que este capítulo
foi escrito (maio de 2011), com vistas à discussão de suas perspectivas e limitações. Para tanto, na
primeira seção, apresenta-se uma breve discussão do papel e da atuação do G20 em sua primeira
década, entre 1999, quando foi criado, e 2008, quando este papel foi drasticamente alterado. Na seção
seguinte, discutem-se as principais iniciativas do grupo na área da reforma financeira no período posterior
ao derretimento financeiro norte-americano e seus impactos na Europa. Finalmente, examinam-se as
perspectivas para o futuro do grupo nesta área.

A Criação do G20
Pelo acordo de Bretton Woods, assinado em 1944, os países signatários concordavam em manter as
paridades cambiais declaradas no início de sua vigência, aceitando mudá-las apenas quando houvesse
a aprovação das alterações pretendidas pelos cossignatários. Foi criada uma instituição específica para
monitorar o funcionamento do regime cambial (conhecido como de taxas fixas, mas reajustáveis) e

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examinar pleitos para alteração das taxas de câmbio quando um país pudesse mostrar que mudanças
fundamentais haviam ocorrido em sua economia e as quais exigissem uma redefinição do valor externo
de sua moeda.
Implicitamente, a manutenção de um sistema de câmbio fixo traz consigo a demanda por algum grau
de coordenação de políticas macroeconômicas. No entanto, por várias razões, o acordo reconheceu a
autonomia de cada país na escolha de suas políticas econômicas domésticas. Contudo, seria possível ao
FMI examinar estas políticas e, eventualmente, aconselhar a sua alteração, mas sem qualquer poder
efetivo de compulsão. O FMI só teria este poder, de acordo com os desenvolvimentos na sua forma de
operação nos anos 1950, quando um país em dificuldade em seu balanço de pagamentos tivesse de
recorrer a ele para obter ajuda financeira. Nesses casos, o FMI assumia, informal mas efetivamente, a
função de impor políticas “corretas” aos países que a ele apelavam por meio das condicionalidades,
medidas de política que o país se comprometia a implementar como garantia do empréstimo. Na ausência
de planos de ajuste, o FMI teria, na melhor das hipóteses, a força moral de representação da comunidade,
na prática muito reduzida pela identificação generalizada que sempre se fez da instituição com os
interesses de seus principais patrocinadores, especialmente os Estados Unidos e países da Europa
Ocidental.
O fim do regime cambial de Bretton Woods, substituindo as taxas fixas de câmbio por taxas flexíveis,
em tese eliminou tanto a necessidade de coordenação de políticas quanto a necessidade de ação por
parte do FMI, seja como monitor de políticas macroeconômicas, seja como financiador de processos de
ajuste de balanço de pagamentos. Com taxas flexíveis de câmbio, em teoria, é o valor externo de cada
moeda que desempenha o papel de “coordenação” de políticas. Além disso, também em teoria,
desequilíbrios de balanço de pagamentos não podem persistir se taxas de câmbio são flexíveis, porque
estes desequilíbrios representam nada mais que um excesso de oferta ou de demanda por uma moeda
nacional, e deveriam desaparecer quando o preço desta moeda pode subir ou descer livremente.
A realidade mostrou-se bem diversa. Como foi reconhecido até mesmo pela antiga historiadora oficial
do FMI, Margaret de Vries, a expectativa de que taxas de câmbio flutuantes convergiriam para um nível
de equilíbrio (supostamente determinado pelos “fundamentos” da economia, o que quer que isso
signifique) de modo a permitir ajustes regulares espontâneos dos balanços de pagamentos foi
amplamente desmentida, forçando os países mais desenvolvidos a criar canais alternativos de
entendimento, senão necessariamente de coordenação de políticas (DE VRIES, 1987).
A primeira iniciativa importante nessa direção foi a reunião do G5, do qual participaram Estados Unidos,
França, Alemanha, Japão e Reino Unido, no Hotel Plaza em Nova Iorque. A reunião foi convocada para
discutir os meios pelos quais se poderia reverter a sobrevalorização do dólar em relação às outras moedas
internacionais de reserva, dando origem ao chamado Acordo do Plaza. Para além do objetivo imediato, a
reunião consagrava uma “nova” maneira de se lidar com problemas monetários internacionais, através
da reunião de grupos restritos de representantes de países que hoje seriam chamados, talvez, de
sistemicamente relevantes. Estes grupos evoluíram no tempo, às vezes ampliando seus membros,
eventualmente se subdividindo em outros grupos. Esta forma de governança internacional, porém,
mantém sua natureza informal e excludente, permitindo aos seus participantes debater seus problemas
sem a presença de “indesejáveis”, isto é, países cujas opiniões não sejam consideradas de interesse para
as questões a serem tratadas. O caráter excludente deste gênero de agrupamento não é acidental. Antes
pelo contrário, ele é considerado essencial pelos participantes para que as discussões não sejam
contaminadas por problemas que não sejam de seu interesse nem pelas manifestações de outros
interesses que não aqueles os quais se deseje contemplar. Por outro lado, para que seja possível excluir
participantes indesejáveis, é necessário que estes grupos não sejam formalmente institucionalizados.
O caráter intrinsecamente não democrático deste tipo de organização é justificado aos olhos de seus
participantes pela eficácia de seu desempenho.
Se o G8 originou-se da busca pelos países mais avançados pelo livre exercício de sua hegemonia,
sem perder tempo com homenagens ao rito democrático no relacionamento internacional, o G20 nasceu
de impulso diverso. A partir do colapso do regime cambial de Bretton Woods, o FMI voltou-se cada vez
mais para os países em desenvolvimento, já que os avançados deixaram de recorrer aos seus
financiamentos, exceto em raras ocasiões. Durante os anos 1980, foi dada ao FMI a missão de manter a
disciplina sobre os países da América Latina que viviam as consequências da crise da dívida externa do
começo daquela década. Esta função de policiamento de economias em desenvolvimento no respeito às
regras de relacionamento internacional que lhes foram impostas tornou-se a principal razão de existência
do FMI. Como muitas destas economias, especialmente na América Latina, sofreram recorrentes crises
de balanço de pagamentos, levando a repetidos pedidos de ajuda, o FMI viu reforçado seu papel de
garantidor, se não do bom comportamento, pelo menos da penitência destes países.

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O FMI exerceu essa função nos anos 1980 e 1990, enfrentando apenas as críticas de sempre. Da
direita, daqueles que viam na sua operação um benefício indevido a economias em desenvolvimento à
custa dos contribuintes nos países avançados. E da esquerda, dos que viam na ação do FMI apenas a
defesa dos interesses neocoloniais dos países mais ricos. O padrão de intervenção foi, de certa forma,
quebrado pela crise asiática, em 1997-1998.
A sequência de crises de balanço de pagamentos afetou diretamente Tailândia, Indonésia, Malásia e,
principalmente, Coreia do Sul, a partir de meados de 1997. Em três dos quatro casos (excluindo-se a
Malásia) houve apelo ao FMI por ajuda financeira, que apenas foi concedida após a concordância por
parte dos países em crise de pesadas concessões. Estas concessões, impostas como condicionalidades
para a obtenção dos empréstimos, incluíram longas listas de “reformas” institucionais que,
reconhecidamente, nada tinham a ver com a crise e que só podiam ser justificadas por interesses
nacionais, especialmente dos Estados Unidos. Além disso, o FMI fez suas exigências de sempre,
contração fiscal e elevação de juros. Todavia estas economias exibiam orçamentos públicos praticamente
equilibrados, logo a alta de juros só poderia levar a um intenso movimento de falências.
A reação crítica aos programas do FMI foi imediata, forçando, pela primeira vez, a instituição a
reconhecer, relutantemente, algum grau de responsabilidade pelo agravamento da crise nos países aos
quais o financiamento foi concedido (CARVALHO, 2000/2001). Para alguns, a Malásia, que recusou o
apoio do FMI, empregando, ao contrário, extensos controles de capitais, alcançou resultados melhores
do que os obtidos pelos países que recorreram ao FMI.
É importante frisar que o apelo ao FMI ao invés do emprego de outros meios de proteção não resultou
do cálculo de vantagens feito por cada país. Como relatou mais tarde o jornalista Paul Blustein,
fundamentalmente simpático, notese, à abordagem do FMI, eles foram praticamente forçados a pedir
ajuda devido à intensa pressão a que foram submetidos (BLUSTEIN, 2001).
Qualquer que tenha sido a real causa do apelo daqueles três países ao FMI, passada a crise, restou
aos países da região a dupla impressão de que crises de balanço de pagamentos podem ser
extremamente destrutivas, mas que o apoio do FMI pode ser ainda pior, ou ao menos tão destrutivo
quanto a própria crise. A intervenção do FMI foi interpretada como uma tentativa grosseira de intromissão
em áreas em que não lhe competia intervir, sempre no interesse de agentes privados de países mais
avançados. Longe de ser visto como uma instituição cooperativa, como o FMI sempre tenta caracterizar
sua própria natureza, durante a gestão Camdessus o FMI mostrou de forma crua a facilidade com que
podia ser utilizado como instrumento de dominação.
Não cabe aqui discutir a justeza dessa caracterização, ainda que as figuras em posição de poder na
época o confirmassem de forma explícita. Lições foram aprendidas de forma indelével desta experiência,
em especial, mas não exclusivamente, na Ásia. A primeira delas é a importância de se evitarem novas
crises de balanço de pagamentos. A segunda é a importância de se evitar recorrer à ajuda do FMI. Ambas
as lições explicam, pelo menos parcialmente, a verdadeira obsessão pela acumulação de reservas
internacionais que tem movido governos de países emergentes desde então.
Imediatamente após a crise asiática, a percepção de que o FMI era mais um instrumento de
dominação, representando os interesses de países desenvolvidos, levou muitos países a pelo menos
considerarem a hipótese de abandonar o sistema, criando instituições alternativas, especialmente de
caráter regional, que lhes permitissem obter ajuda quando necessário sem precisar sujeitar-se a
exigências como aquelas feitas pelo FMI. É neste contexto que é criado o G20, em 1999.
O G20 resultou de uma tentativa de impedir a desintegração do sistema que emergiu no período
posterior ao colapso do regime cambial de Bretton Woods. Em particular, buscava-se salvar o FMI, cuja
eficácia seria irremediavelmente comprometida se os principais países em desenvolvimento deixassem
de considerá-lo uma fonte alternativa de financiamento em situações de crise. Os países desenvolvidos
não mais precisavam do FMI para coordenar suas políticas, podendo debater seus problemas em
ambientes fechados como os do G8. Entretanto o FMI ainda era necessário para manter a disciplina entre
os restantes, emergentes e menos desenvolvidos. O interesse que justificou a criação do G20 se refletiu
na sua composição: países desenvolvidos (basicamente os mesmos do G7 ou G8) mais as principais
economias emergentes que fossem também as mais vulneráveis a crises e, portanto, mais interessadas
na eventual criação de uma instituição de “autoajuda” alternativa ao FMI. Alguns analistas se questionam
atualmente sobre a composição aparentemente arbitrária do G20, em que economias maiores que
aquelas presentes não participam do grupo. A razão para isso, no entanto, é relativamente simples: países
como a Suíça ou o Chile não teriam razões para descontentamento com o sistema tal como existia ao
final dos anos 1990 e não precisavam, portanto, serem objeto de atenção especial.
O papel do G20 era duplo. Por um lado, mostrar sensibilidade por parte dos países desenvolvidos aos
problemas de economias emergentes grandes, mas problemáticas ou desgostosas com os arranjos
existentes. Por outro, transmitir a estes países lições de boa governança, inspiradas, é claro, pela

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experiência dos países desenvolvidos (ou pela idealização, em geral pesadamente filtrada por ideologias
liberais, que estes países fazem de sua experiência) a consequente necessidade de reformas que
aumentassem sua eficiência (novamente, inspiradas principalmente por idealizações do modo como
funcionam economias de mercado).
Criado no âmbito da representação no FMI, o G20 refletia os horizontes (e os parâmetros, por assim
dizer, culturais) dessa representação, basicamente constituída de ministros de finanças e presidentes de
bancos centrais. O escopo de suas discussões era, por sua vez, limitado pelo mandato dessas
autoridades.

O G20 em seu Primeiro Momento (1999 a 2008)


A julgar-se pela evidência dos comunicados emitidos ao final de cada reunião, o G20, nos anos
anteriores à crise financeira americana, portou-se exatamente como esperado pelos seus inspiradores.
Os comunicados são essencialmente exortativos e autocongratulatórios, completamente desprovidos de
qualquer sentido crítico com relação às estratégias e políticas, inclusive de liberalização dos movimentos
de entrada e saída de capitais, que haviam conduzido à sucessão de crises nos países emergentes ao
final da década dos 1990. A crise asiática, a russa, a brasileira etc. não haviam ensinado que a
liberalização da movimentação de capitais era perigosa, mas sim que ela deveria ser precedida de outras
reformas liberalizantes. O que era necessário não era reavaliar a conveniência da liberalização, mas o
sequenciamento de reformas que levaria a ela, que permanecia como objetivo indiscutível das políticas
de governo.
A convergência de posições em defesa das estratégias liberalizantes era, naturalmente, fortalecida
pela própria composição do grupo. Formado, como visto, por representantes de ministérios de finanças e
bancos centrais, os participantes do grupo compartilhavam a mesma visão fundamental, baseada em
construções míticas, como a hipótese dos mercados eficientes, que serviram para racionalizar a ideologia
liberalizante. Os participantes das reuniões tendiam a ser economistas ortodoxos, muitos dos quais
transitavam entre seus governos e as instituições multilaterais, formados nas mesmas escolas ou pelo
menos treinados por pessoas de formação semelhante. Os questionamentos sobre os custos da
aceitação da globalização financeira provinham, em sua maioria, de outras instâncias de governo, com
reduzido eco sobre as autoridades financeiras de seus próprios países. Os comunicados do G20
acabavam por servir para dar uma falsa impressão de coesão política entre os países membros, já que
refletiam apenas as visões de um grupo muito particular de indivíduos, particularmente receptivos às
mensagens veiculadas por instituições como o FMI ou a Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A restrita afiliação dos participantes do grupo foi explicitada no primeiro comunicado, emitido em
dezembro de 1999:
O G20 foi criado para prover um novo mecanismo para o diálogo informal, no quadro do sistema
institucional de Bretton Woods, para ampliar as discussões sobre temas-chave de política econômica e
financeira entre economias sistemicamente importantes e para promover a cooperação na construção do
crescimento econômico mundial estável e sustentável que beneficie a todos (IMF, 1999, tradução nossa).
Nessa reunião os participantes tiveram a oportunidade de renovar sua concordância fundamental com a
estratégia do FMI, ao mesmo tempo respondendo implicitamente a todos que buscavam um
questionamento mais drástico da atuação da instituição e ignorando todas as críticas que lhe eram
dirigidas, até mesmo por alguns dos governos dos quais participavam:
Eles elogiaram o importante trabalho que tem sido feito pelas instituições de Bretton Woods e outras
entidades na direção do estabelecimento de códigos e padrões internacionais em áreas-chave, inclusive
transparência, disseminação de dados e políticas para o setor financeiro. Concordaram que a
implementação generalizada de tais códigos e padrões contribuiria para tornar economias domésticas
mais prósperas e o sistema financeiro internacional mais estável. Para demonstrar liderança nessa área,
ministros e presidentes de bancos centrais concordaram em proceder à conclusão de relatórios sobre a
obediência a padrões e códigos (“relatórios de transparência”) e Avaliações do Setor Financeiro, no
contexto dos esforços continuados do FMI e do Banco Mundial para melhorar esses mecanismos. Este
compromisso ajudará a mobilizar apoio para medidas que reforcem a capacidade, as políticas e as
instituições domésticas (IMF, 1999, tradução nossa).
Esta rotina se repetiu até 2008, quando se tornou opressivamente claro para todo o mundo que as
economias mais desenvolvidas já não podiam mais ser tomadas como paradigmas de eficiência e
modernidade em face do colapso financeiro iniciado nos Estados Unidos no ano anterior. Ainda em
novembro de 2007, no entanto, já com a crise das hipotecas subprime causando danos à economia
mundial, o G20 ainda encontrava tempo para expressar sua contida preocupação com os rumos da
economia mundial:

233
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Os membros do G20 elogiaram o continuado e forte crescimento da economia global na primeira
metade de 2007, mas notaram que os riscos à baixa nas perspectivas de curto termo cresceram em
consequencia das recentes perturbações nos mercados financeiros. Nós estamos satisfeitos por notar a
elasticidade das economias emergentes e outros países em desenvolvimento durante a turbulência
recente. Apesar da expectativa de que a provável desaceleração do crescimento seja modesta, suas
extensão e duração permanecem difíceis de prever (IMF, 2007, tradução nossa).
O G20 ainda utilizava seu tempo para sugerir a implementação de políticas fiscais “sadias”, expressão
que na linguagem das instituições de Bretton Woods significa equilíbrio orçamentário. As preocupações
mais intensas pareciam se voltar para a emergência de pressões inflacionárias nos mercados de
matérias-primas.
O autismo característico dos comunicados do G20 seria rompido dramaticamente no período
imediatamente posterior à quebra do banco Lehman Brothers, inaugurando a segunda fase da biografia
do grupo.

O G20 nos Tempos de Crise


O rápido e profundo agravamento da crise financeira após o episódio do Lehman Brothers pareceu ter
deixado as autoridades norte-americanas paralisadas pela perplexidade. A crise, na verdade, não apenas
tornou-se mais séria como também se tornou mais global, atingindo regiões que até então haviam sido
largamente poupadas de seus impactos. Nestas condições, era necessário encontrar um fórum
suficientemente global para dar conta da crise. O G8 certamente não era este fórum, tanto pela sua
composição restrita como pelo caráter principalmente midiático que marcou suas reuniões em anos
recentes. Além disso, as economias mais avançadas eram precisamente aquelas não apenas em que a
crise se originou, mas cujos líderes também demonstravam completa incapacidade de entender o que se
passava, para não falar da completa falta de iniciativa. Era preciso, no entanto, dar uma resposta efetiva
ao agravamento da crise, ou pelo menos dar a aparência de que alguma resposta estava sendo
encaminhada. Foi neste contexto que o G20 não apenas foi lembrado, mas também foi quando mudou
sua natureza e seu raio de ação. Por que o G20? Possivelmente porque o grupo já existia, o que permitiria
poupar os esforços e as tensões políticas na convocação de um novo fórum, exigindo a definição de
número máximo de participantes de modo a manter a funcionalidade de seus encontros, a determinação
de critérios de inclusão e exclusão de membros etc. Embora a composição do G20 não seja
necessariamente apropriada para lidar com a agenda que lhe foi atribuída, era de qualquer modo possível
argumentar que a sua representatividade em termos tanto de produto quanto de população lhe conferiria
algum grau de legitimidade.
A reunião convocada em novembro de 2008, por outro lado, não foi realizada entre ministros de
finanças e presidentes de bancos centrais, mas entre chefes de governo ou de Estado dos países
membros. Com isso, esperava-se não apenas sinalizar a seriedade com que a crise passaria a ser
encarada como também evitar a armadilha das limitações de escopo que fatalmente teriam de ser
encaradas, caso a reunião fosse apenas mais um encontro de autoridades setoriais. O fato de reunirem-
se chefes de Estado e de governo significava que a agenda do encontro seria como se desejasse que
fosse, porque estes líderes políticos representavam o máximo poder político em seus países, ao contrário
de funcionários cujo poder é delegado e cuja jurisdição é limitada. Finalmente, como no caso de outros
grupos semelhantes, o G20 não é uma instituição, com regras formais de constituição e operação, ou
com qualquer autoridade que não seja a da influência política e do compromisso moral que seus membros
decidam assumir.
A abertura da agenda é, contudo, “uma faca de dois gumes”. Se a restrição de jurisdição efetivamente
ameaçaria tornar a ação do G20 tão inócua quanto tinha sido até então, pelas razões discutidas na seção
anterior, a liberdade de fixação de agendas que a reunião de líderes políticos permite poderia criar uma
dispersão de atenção e interesses que poderia comprometer a eficácia do grupo. Isso, de fato, é o que
parece ter ocorrido. Após um período inicial, de emergência, em que os esforços se concentraram na
coordenação de políticas nacionais voltadas para o objetivo comum de contenção da crise, os horizontes
temáticos se abriram possivelmente em demasia, reforçando tendências centrífugas que em si já seriam
de difícil gerência, enraizadas nas diferenças de visão e de interesses econômicos dos diversos
participantes.
Desse modo, o G20 tem definido áreas de interesse extremamente variadas, que vão da reforma do
sistema financeiro internacional, sua missão original, ao ataque a problemas sociais ou ambientais, sobre
os quais o grupo não tem competência ou legitimidade para decidir políticas. No que se segue, serão
ignoradas as ações e, muito mais frequentemente, as declarações de intenções feitas por diversos líderes
políticos a respeito de propostas de ação do grupo em áreas não financeiras.

234
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
O G20 e o Sistema Financeiro
A reforma dos sistemas financeiros nacionais e internacional, com especial destaque para a
implantação de mudanças na regulamentação financeira, tem sido o tema central dos debates no âmbito
do G20, e é onde se pode melhor avaliar sua eventual eficácia, tanto quanto seus limites.
Na área financeira, o G20 praticamente herdou as funções anteriormente atribuídas ao G8. Por
iniciativa do G20, algumas instâncias ou instituições reguladoras internacionais ampliaram o seu rol de
membros para incluir os países emergentes participantes do grupo, como foi o caso, notadamente, do
Conselho de Estabilidade Financeira (Financial Stability Board, antigo Financial Stability Forum) e do
Comitê da Basileia para Supervisão Bancária. Em outros casos, o G20 valeu-se de seu peso em
instituições como o FMI para praticamente ditar regras e impor modificações no seu modo de operação,
como no caso da mudança dos pesos atribuídos aos votos de um pequeno grupo de países emergentes
na operação do Comitê Monetário e Financeiro, que fixa estratégias para as instituições de Bretton
Woods.
O sucesso do grupo foi mais ambíguo ao se considerarem as iniciativas de reforma da regulação
financeira adotadas para dar uma maior segurança sistêmica ao setor financeiro. Por sua vez, há que se
considerar a natureza intrinsecamente conservadora do G20. Isso se deve não apenas por ter sido o
grupo fundado no âmbito do FMI, voltado para a preservação da influência desta instituição sobre países
emergentes, mas também porque a composição de seus membros tende a refletir muito mais os
interesses e posições de países mais avançados do que de países emergentes ou menos desenvolvidos
(estes sequer representados e raramente lembrados para além da mera retórica). Assim, por exemplo, a
postura com relação à liberalização das contas de capitais e à globalização financeira tem sido a de
corrigir erros e ajustar instrumentos, mais do que questionar os seus pressupostos. O G20 era parte de
uma estrutura institucional que refletia uma visão conservadora do papel e potencialidades dos mercados
financeiros e isso não mudou depois da crise. A recomendação mais genérica que emana do grupo é a
necessidade de se tomarem precauções mais fortes do que se acreditava ser preciso antes, não de
questionamento da estratégia como um todo. Os comunicados das reuniões do G20, inclusive aquelas
que reúnem chefes de Estado e de governo, insistem na natureza positiva do processo de liberalização,
admitindo no máximo que ele pode ter se dado de modo mais acelerado do que seria apropriado, dadas
as dificuldades de adaptação dos diversos países a esta situação.
O diagnóstico da crise financeira adotado pelo G20 foi coerente com essa visão. Não apenas o
processo de liberalização em si não foi questionado, mas também a estratégia de regulação financeira
prevalecente nos últimos anos, corporificada nos Acordos de Basileia, foi também confirmada. A avaliação
realizada foi a de que as demandas feitas nos acordos eram corretas em natureza, mas não em
intensidade. Por meio do Conselho de Estabilidade Financeira e do Comitê da Basileia, o G20 determinou
que as exigências regulatórias previstas em Basileia II, cuja implementação, nos países mais avançados,
estava por se completar, deveriam ser endurecidas, aumentando as exigências de capital em relação aos
ativos ponderados pelo risco, às quais deveriam se somar exigências em termos da manutenção de
colchões adequados de liquidez nas instituições bancárias. Este conjunto de medidas, aprovado pelo
G20, no final de 2010, está em processo de implementação, conhecido como Basileia III.
Se houve sucesso na definição da exigência de precauções adicionais por parte dos bancos na sua
operação cotidiana, o êxito foi bem menor no que diz respeito à coordenação de medidas adicionais de
regulação. Assim, enquanto uma série de países, especialmente entre emergentes, considerou que
Basileia III era reforço suficiente para garantir a estabilidade de seus sistemas bancários (alegando que
a resistência face à crise havia demonstrado a fundamental correção das estratégias utilizadas até então),
entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos definiram e aprovaram no Congresso suas próprias
iniciativas em termos de reforma da regulação financeira, enquanto os países da União Europeia seguiram
caminhos diversos. Não apenas não parece ter havido nenhum esforço mais sério de coordenação entre
as iniciativas nas duas regiões, como também emergiram claros antagonismos entre ambas. Um caso
significativo foi a adoção da Regra de Volcker na Lei Dodd-Frank (2010) de reforma financeira nos
Estados Unidos, cujo objetivo declarado pelo seu inspirador foi precisamente restabelecer algum grau de
separação entre as atividades de bancos comerciais e bancos de investimento desaparecida com o fim
da Lei Glass-Steagal (1933), enquanto as iniciativas europeias confirmaram a preferência pelo modelo de
banco universal na União Europeia. Certamente não representará qualquer surpresa a reemergência de
conflitos competitivos entre bancos norte-americanos e europeus, repetindo os problemas ocorridos
durante a vigência da Lei Glass-Steagal.
Esse potencial é extremamente importante, mas é apenas uma expressão do ressurgimento do conflito
de visões que sempre marcou o desenvolvimento de sistemas financeiros nacionais modernos. Muitos
acreditavam que este conflito não resistiria ao movimento de globalização, mas ele foi recolocado no
centro dos debates. E não é a única fonte potencial de fricções, como as que o G20 supostamente deveria

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
ser capaz de administrar. Iniciativas na regulação de derivativos, da ação de fundos de hedge e de outros
segmentos do mercado financeiro também se constituem em fontes de tensão entre os Estados Unidos
e a União Europeia, impedindo qualquer ação coordenada nessa área. Conflitos surgem ainda em várias
outras áreas.
Outras fontes de instabilidade dramatizadas pela crise também permanecem em evidência, face às
quais o G20 exibe repetidamente sua impotência. Os fortes desequilíbrios cambiais que marcam a
economia internacional nos últimos anos continuam a criar instabilidades sem que qualquer iniciativa de
reforma ou controle seja seriamente examinada. Políticas monetárias continuam a ser adotadas de forma
independente, desprezando completamente seus efeitos sobre outros países e não há qualquer sinal no
horizonte de que exista disposição em mudar essa situação. Os debates em torno do sistema monetário
internacional servem prioritariamente para marcar o posicionamento político de cada país, com escassos
efeitos práticos sobre os procedimentos e instrumentos realmente existentes.
Assim, passada a emergência representada pelo colapso financeiro de 2008, o G20 parece carecer de
um grau mínimo de convergência de visões que poderia dar alguma eficácia a um fórum no qual as
decisões devem ser consensuais para que sua aplicação seja garantida pela força moral e política que
substitui no caso o inexistente poder formal de compulsão. Assim, líderes dos países que assumem
anualmente (em base rotativa) a presidência do grupo investem mais na tentativa de marcar a agenda
internacional (como foi o caso da inclusão de preocupações com o desenvolvimento econômico ou das
iniciativas anunciadas pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, em 2011, na área de reforma monetária
internacional), especialmente para uso nos debates de política interna, do que na busca de bases comuns
para a formulação de uma agenda factível.

Muitas expectativas cercaram a evolução do G20 para principal fórum internacional, em novembro de
2008. Especialmente para os países emergentes mais importantes, isso foi visto como um
reconhecimento da importância que estes países assumiram no cenário internacional, um passo em um
processo mais longo e profundo de reformulação das regras de relacionamento político e econômico entre
as nações. Nesse sentido, a oportunidade de participação no G20 não poderia ser desprezada. No
entanto, como um fórum para a consideração de interesses mais amplos e visões mais variadas que
aquelas reconhecidas, por exemplo, em agrupamentos mais restritos, como o G8, o G20 apresenta várias
insuficiências. Por esta razão, países como o Brasil não devem deixar de fazer sua voz ser ouvida em
grupos como o G20, mas devem procurar também manter ou iniciar atividades intensas seja em fóruns
mais amplos, como, por exemplo, as Nações Unidas, ou mais restritos, como os diversos grupos de
países emergentes e em desenvolvimento dos quais o país faz parte, como, por exemplo o Comitê da
Basileia e o Financial Stability Board.
Apenas devem ser evitadas aquelas instituições cuja afiliação implica compromissos institucionais
definidos, como é o caso da OCDE. Países que caíram no “canto de sereia” de que eram suficientemente
avançados para participar de organizações como esta, como no caso do México, pagaram caro pelo
equívoco e pela pretensão. A adesão à OCDE implica renunciar à utilização de controles de capitais, a
aceitação do princípio da independência de bancos centrais e outros princípios liberalizantes que reduzem
a latitude de reação de governos frente a emergências, como a representada pela crise financeira atual.
Do futuro de associações como o G20, de qualquer forma, há pouco o que esperar. Hoje, passados
poucos anos da emergência de 2007-2008, o grupo já parece paralisado pelas divergências de visões e
interesses. A voz brasileira deve ser atuante, aqui como em outros fóruns, mas as esperanças e as
expectativas devem se voltar para outros locais, inclusive para o exercício pleno de sua autonomia na
definição e implementação de políticas que correspondam ao interesse nacional.

SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS53

Globalização: Redes Mundiais de Socialização

Sobre a ideia de rede associada às sociedades contemporâneas, em especial nos estudos de


Comunicação, em primeiro lugar, redes podem ser pensadas em sentidos diversos: ou com o sistema de
integração entre pessoas, mediante práticas de interação, em um sentido mais social; ou como um
sistema de troca de mercadorias e bens materiais, em um sentido mais econômico; ou como trocas de
informações e bens simbólicos, em um sentido mais cultural.
Quando vamos pensar, como propôs, por exemplo, M. Castells, as sociedades contemporâneas como
sociedades em rede, é preciso levar em consideração a globalização, que traz, como um dos seus efeitos

53
(Adaptado de) Ana Lúcia S. Enne. Conceito de rede e as sociedades contemporâneas. Comunicação e Informação, V 7, n° 2: pág. 264 – 273. – jul./dez. 2004.

236
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
mais perceptíveis, a possibilidade de se estabelecer explicitamente sistemas de interação social em rede,
em que sujeitos, através de links, participam de trocas econômicas e culturais em amplas escalas, que
extrapolam limites espaciais e temporais antes rígidos.
As transformações tecnológicas no campo do transporte e das telecomunicações evidenciam uma
alteração nas possibilidades reais de interação social, atuando como um facilitador nas trocas
interpessoais, ao vivo ou virtualmente, on-line ou com intervalos temporais.
Da mesma forma, a implantação de sistemas de mercado integrados e a produção de cidadanias
extraterritoriais, como no caso europeu, também atuam como agilizadores para promover uma maior
mobilidade dos sujeitos contemporâneos para além de seus locais de origem.
Obviamente, apresentamos essas questões aqui mais como referências potenciais do que como
modificações de fato, já que, como nos lembra Z. Bauman, "turistas" e "vagabundos" movem-se (ou não
conseguem se mover) de formas diferenciadas dentro desse modelo de sociedade sem fronteiras que se
apresenta como a nova ordem mundial.
Portanto, sabemos que o mesmo modelo que gera inclusão também é profundamente gerador de
exclusões.
O que nos interessa, no entanto, é levantar aqui que características, ao menos potencialmente, são
evidenciadas nas sociedades contemporâneas para que elas sejam classificadas como sociedades em
rede.
Uma dessas características, é a possibilidade de um maior fluxo de pessoas por meio de sistemas de
transporte e telecomunicação mais abrangentes.
Da mesma forma, como explica N. Canclini, as práticas comerciais da nova ordem mundial substituem
a tradicional distinção entre próprio e alheio. A proliferação de produtos importados nas prateleiras indica,
ao menos em tese, a possibilidade cada vez mais acentuada de trocas de bens materiais e mercadorias
em escala planetária.
Novamente, as facilitações no campo dos transportes e das telecomunicações (permitindo, por
exemplo, maior rapidez no envio de mercadorias de lugares distantes tanto quanto no próprio poder do
consumidor de agilizar suas compras internacionais por meio da Internet) também são fundamentais para
a compreensão do que se entende como uma sociedade em rede.
Por fim, a transmissão de informações e bens simbólicos (desde o dinheiro volatizado nas bolsas de
valores integradas até os sistemas de comunicação digitalizados que atuam no mundo inteiro) aponta
claramente para a efetivação de um fluxo de comunicação em rede de proporções inéditas. Este último
aspecto, inclusive, tem sido objeto reflexivo de inúmeros trabalhos no campo da comunicação nas últimas
décadas, motivando inúmeras discussões acerca da relação entre o global e o local no campo da cultura.
Não há dúvida, portanto, de que a ideia de uma sociedade em rede, a partir das transformações é
pertinente e adequada aos novos estudos sobre as sociedades contemporâneas.
Mas, em um misto de conclusão e inquietação, colocamos aqui duas ordens de problemas que nos
parecem importantes de serem levadas em consideração e que, no entanto, têm sido relegadas de uma
forma geral.
Em primeiro lugar, gostaríamos de chamar a atenção para a necessidade de refinar o conceito de rede,
procurando buscar suas matrizes antes de usá-lo aleatoriamente.
Trata-se de um conceito polissêmico, com sentidos diversos. No entanto, ele vem sendo tratado como
dado, sem qualquer esforço de localizá-lo historicamente e mesmo de conceituá-lo minimamente.
Há, portanto, em nossa compreensão, um uso generalizante do conceito que só tende a esvaziá-lo,
em detrimento de sua riqueza e adequação.
Em segundo lugar, exatamente pela ausência de um esforço de historicização, percebemos um a
tendência a considerar que o conceito de rede seria adequado somente às sociedades contemporâneas
globalizadas.
O conceito é adequado para qualquer sociedade. O que poderíamos destacar, no caso
contemporâneo, em face do processo de globalização, é a expansão da rede, sua potencialização
ampliada e sua explicitação.
Nesse sentido, o conceito nos parece multo pertinente, pois trata-se, sem dúvida, de uma conjuntura
histórica em que os sentidos propostos para o conceito de rede (interação entre indivíduos, troca de
mercadorias e fluxo de informações) estão evidenciados e acabam ocupando um lugar central na
configuração cultural, política, econômica e social.
Mas é preciso cuidado para não cairmos em um reducionismo histórico, negando o quanto as questões
que hoje nos inquietam fazem parte de um processo de longa duração.

]
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237
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Questões

01. (IF/RS – Professor Sociologia – IF/RS) Acerca da relação entre Trabalho e tecnologia nas
sociedades contemporâneas, afirma-se que:
(A) Na medida em que as informações e as formas de conhecimento é que passam a sustentar a
inovação e o crescimento econômico, havendo uma crescente valorização da criatividade dos
trabalhadores, o nível de instrução dos profissionais tem cada vez menos relação com o valor de seus
salários.
(B) A flexibilidade e a inovação são maximizadas, e as organizações visam satisfazer demandas de
mercado cada vez mais específicas por produtos diversos em menor escala, em um processo de
enfraquecimento das grandes corporações, que perdem cada vez mais espaço para pequenas
organizações flexíveis.
(C) Teorias sociológicas recentes vêm afirmando que, apesar das profundas transformações atuais, o
industrialismo continua sendo a base fundamental de nossa sociedade.
(D) A descentralização do trabalho, a composição de equipes por demandas específicas e a crescente
atuação em projetos a curto-prazo parecem cada vez mais caracterizar um processo de precarização do
trabalho.
(E) Verifica-se uma tendência à crescente especialização dos trabalhadores, que vem suplantando a
predominância anterior do treinamento para habilidades gerais e a capacidade de atuação em diferentes
esferas de uma mesma organização.

02. (SEE/AC – Ciências Humanas – FUNCAB) Os estudiosos das sociedades contemporâneas


chamaram a atenção para aspectos inteiramente novos da produção e do trabalho. Entre os aspectos
observados estão:
(A) a centralização do trabalho e o aumento dos níveis hierárquicos nas empresas
(B) o crescimento do número de trabalhadores de “colarinho azul” e a produção global
(C) a retração do setor de serviços e a produção voltada para pequenos “nichos de mercado”.
(D) a produção flexível e a customização em massa
(E) a disseminação de tecnologia de informação e a produção em larga escala

Gabarito

01. D/ 02. D

EUROPA E MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS54

Divisão Política da Europa

A Europa possui uma área de 10 milhões de quilômetros quadrados e se encontra dividida em 51


Estados. Alguns são pequenas ilhas e principados, como Malta, Mônaco, Andorra e Liechtenstein,
enquanto outros são mais extensos, como a Espanha e a França. Muitas das fronteiras atuais foram
definidas ao final da Segunda Guerra Mundial, principalmente no caso da Europa Ocidental. Já as
fronteiras da Europa Oriental foram definidas a partir do final da Guerra Frias, após a fragmentação da
União Soviética.

A Europa Ocidental
A Europa Ocidental compreende desde a Península Ibérica, onde se situam Portugal e Espanha, até
as fronteiras orientais da Alemanha, Áustria e Itália.
Foi delimitada com base em critérios políticos e abrange também os países escandinavos: Inglaterra,
Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte e Irlanda; e a Islândia.
Devido essa delimitação, a Europa Ocidental engloba nações de origem latina, saxônica e germânica.
Essa região apresenta os melhores índices de desenvolvimento humano (IDHs) do continente, apesar
de existirem disparidades dentro dela.
Entre os dez países com maior IDH do mundo, principal indicador de qualidade de vida, cinco estão
localizados na Europa Ocidental: Noruega, Suíça, Holanda, Alemanha e Dinamarca.

54
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.

238
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Os países da região apresentam populações majoritariamente urbanas e o número de aglomerados
urbanos é alto, embora a maioria represente cidades pequenas em áreas rurais, que são características
marcantes da paisagem do continente europeu, tanto na Europa Ocidental como na Europa Oriental.
No entanto, na Europa Ocidental também estão alguns dos principais centros urbanos do mundo sob
o ponto de vista econômico e cultural – cidades como Londres (Inglaterra), Paris (França) e Frankfurt
(Alemanha), entre outras, que funcionam como polos econômicos e financeiros.
Nessas cidades estão localizadas sedes administrativas de empresas multinacionais, bolsas de
valores de grande importância, universidades que representam algumas das melhores instituições de
ensino do mundo, além de destacados pontos turísticos e enormes aeroportos, ou hubs aéreos, que
servem de ponto de entrada para todo o continente.
Em função da extensão latitudinal, a Europa Ocidental apresenta um evidente contraste entre os tipos
de clima predominante, com a ocorrência de áreas de clima mediterrâneo e altas temperaturas na costa
do Mar Mediterrâneo e áreas de clima frio e polar na porção mais setentrional da região, na Finlândia, na
Noruega, e na Suécia.
Na maior parte da Europa Ocidental, no entanto, predomina o clima temperado, com invernos frios e
verões amenos, sendo que em áreas de altitude, como nos Alpes, o clima dominante é o frio de montanha.
No litoral do Atlântico Norte, no entanto, a corrente quente do Golfo proporciona um clima mais ameno
do que no interior do continente, onde os invernos são mais rigorosos. Nessas áreas, grandes nevascas
ocorrem com frequência durante os meses mais frios do ano, muitas vezes bloqueando estradas.
Um dos marcos geográficos mais importantes da Europa Ocidental são os Alpes, a maior cadeia de
montanhas do continente, formada pelo choque entre duas placas tectônicas e que atravessa a região,
traçando u marco de aproximadamente 1.200 km, do Golfo de Gênova, na Itália, até Viena, na Áustria.
Em áreas de maior altitude, os Alpes apresentam montes cobertos de neve durante todo o ano e
abrangem a maior parte do território de alguns países, como a Suíça e a Áustria.
Os Alpes, assim, como outras grandes cadeias de montanhas, são fonte de inúmeros rios que
abastecem importantes bacias hidrográficas.
Os rios principais da região integram importantes vias de navegação e transporte de pessoas e
mercadorias, dentre os quais podemos citar o Reno, o Sena, o Loire, entre outros.

O Leste Europeu
A Europa Oriental, ou Leste Europeu, é a região que abrange os países que estão a leste da
Alemanha, Áustria e Itália – o que inclui os Bálcãs, os Cárpatos e parte da área banhada pelo Mar Báltico,
que envolve países como Letônia, Estônia e Lituânia.
Ela também, integra a Rússia, maior país o mundo, embora a maior parte do território russo, a leste
dos Montes Urais, localiza-se no continente asiático.
Os países que compõem o Leste Europeu possuem um passado histórico recente comum, que é o
fato de terem sido zonas de influência política e cultural da União Soviética, governados por regimes
alinhados com o socialismo durante a Guerra Fria. Além disso, há outra semelhança envolvendo os países
da região: a maior parte de sua população é de origem eslava.
Embora não seja tão urbanizada quanto a Europa Ocidental e apresente paisagens marcadas pela
predominância de áreas rurais com pequenos vilarejos, é na Europa Oriental que estão localizadas as
duas cidades mais populosas do continente europeu: Istambul (Turquia) e Moscou (Rússia), que, com
suas regiões metropolitanas, formam as duas únicas manchas urbanas da Europa, com mais de 10
milhões de habitantes. Também há outros importantes centros urbanos, como São Petersburgo (Rússia)
e Kiev (Ucrânia).
Já sob o ponto de vista físico e climático, podemos destacar a presença dos Montes Cárpatos, a maior
cadeia de montanhas da região e que representa a porção mais oriental do mesmo sistema de montanhas
que os Alpes, além de rios extensos e importantes, como o Volga, na Rússia – o maior rio da Europa – e
o Danúbio.
A maior parte da região possui clima e frio e, com exceção de áreas mais ao sul, também é caracteriza
por invernos extremamente rigorosos. No sudoeste da Rússia também há ocorrência de clima semiárido.
A Europa e as Migrações Internacionais
Ao mesmo tempo que a população europeia se encontra envelhecida e apresenta hoje uma proporção
de indivíduos em idade economicamente ativa menor do que em outros períodos históricos, milhões de
imigrantes chegam ao continente de forma legal e ilegal todos os anos para trabalhar e estudar nas
cidades europeias. Embora as migrações sejam parte importante da História da humanidade e durante
séculos os próprios europeus tenham migrado (e continuem migrando) para outros continentes, como

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para a América do Sul, o crescente desemprego nos países da Europa tem acirrado as tensões étnicas
e o preconceito contra imigrantes, atualmente um dos problemas mais graves no continente.

O Envelhecimento da População Europeia


Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os países da Europa passaram a vivenciar uma explosão
demográfica causada por um grande aumento nas taxas de natalidade, número de nascidos vivos, a cada
mil habitantes em um ano. Como resultado, esses países passaram por um período no qual a população
economicamente ativa (PEA), com idade entre 15 e 65 anos, superava largamente a de dependentes,
idosos e crianças, impulsionando assim o crescimento econômico.
No entanto, o aumento das taxas de natalidade foi gradualmente revertido ao longo da segunda
metade do século XX, e a grande maioria dos países do continente adentrou o século XXI com taxas de
natalidade em queda.
A diminuição do número de nascimentos, somada às baixas taxas de mortalidade e ao aumento na
expectativa de vida da população no mesmo período, em função de boas condições sociais e
econômicas, avanços da medicina e no saneamento básico, entre outros fatores, formou um cenário no
qual o número de idosos, habitantes com mais de 65 anos, passou a aumentar cada vez mais em relação
ao total na população, enquanto o número de indivíduos que entram na idade economicamente ativa
diminuiu.
Na maior parte dos países do continente, com exceção do Leste Europeu, esse cenário tende a se
intensificar ainda mais no futuro. Em 2013, por exemplo, a proporção de indivíduos com 65 anos de idade
ou mais em relação à população total era de 18%, mas em 2050 será de aproximadamente 28%. No
mesmo período, a proporção de indivíduos entre 15 e 64 anos terá caído de aproximadamente 66% para
cerca de 57%, ou seja, a população europeia está, em média, ficando mais velha a cada década.
Uma das consequências desse processo é que esses países terão cada vez mais gastos com a saúde
e o sistema de previdência social, que garante o pagamento de aposentadoria, sendo que ambos já são
consideravelmente altos. Além disso, como a proporção de indivíduos em idade economicamente ativa
tende a diminuir, isso pode representar um impacto à economia dos países europeus.
Essa situação, exatamente oposta ao bônus demográfico, período no qual a população
economicamente ativa supera largamente a de idosos e crianças, configura um momento delicado.
Embora o envelhecimento da população seja uma tendência global e uma situação que tende a cada vez
mais afetar países de todos continentes, inclusive o Brasil, na Europa é onde esse processo se manifesta
de maneira evidente. Isso não significa, porém, que a oferta de trabalho tenha diminuído. Afinal, o século
XXI vem sendo marcado por uma invasão de imigrantes no continente.

Um Continente de Imigrantes
A migração é um fenômeno universal, que ocorreu em todos os tempos históricos da humanidade, e é
algo natural e inerente de muitas sociedades. As migrações ocorrem por diferentes motivos e envolvem
aspectos negativos e positivos para os envolvidos.
A Europa é um continente marcado pelas migrações internas e pela emigração, tanto durante o período
colonial como em função de crises provocadas por conflitos, como a Primeira e a Segunda Guerra
Mundiais, por exemplo. Milhares de europeus migraram para outros continentes, dando origem a uma
população substancial de ascendência europeia no continente americano.
Com a recuperação econômica europeia na segunda metade do século XX, a migração tornou-se
novamente um foco de atenção das políticas públicas e da mídia internacional, mas dessa vez a situação
inverteu-se: a Europa passou a ser e uma região atraente para milhões de famílias africanas, sul-
americanas e asiáticas em busca de melhores condições de vida e oportunidades de trabalho.
Para termos uma noção desse fenômeno, na passagem do século XX para o XXI, havia na Europa
aproximadamente 21 milhões de estrangeiros, incluindo indivíduos de outros continentes e europeus que
se mudaram para outros países dentro da Europa, população maior do que a de diversos países do
continente.
De modo geral, as migrações têm como objetivo principal propiciar uma vida melhor, e as razões
variam desde a busca por oportunidades de trabalho até a fuga de conflitos ou perseguições étnicas,
entre outras.
Uma vez na Europa, os imigrantes, legais ou ilegais, passam a se inserir tanto na economia formal
quanto na informal dos países do continente. No entanto, muitos permanecem voltados apenas ao
comércio informal, ou estão à margem da sociedade, sem emprego e vivendo em condições precárias, e
são vistos muitas vezes como intrusos e "ladrões" de empregos por parte da população local.
Como os acordos firmados pela União Europeia (UE) garantem uma situação de legalidade a
indivíduos que possuem cidadania de algum país-membro do bloco, permitindo maior mobilidade, muitos

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dos imigrantes do continente são pessoas que se deslocam de países mais pobres para mais ricos,
principalmente do Leste Europeu para a Europa Ocidental.
Desde 2007, por exemplo, quando a Romênia e a Bulgária, que apresentam índices de
Desenvolvimento Humano, ou IDHs, inferiores aos dos países da Europa Ocidental, ingressaram na
União Europeia, muitos cidadãos desses países enxergaram no acordo uma grande oportunidade para
alavancar suas vidas em países em situação econômica mais favorável, com e res taxas de desemprego.
Em função desse deslocamento crescente de búlgaros e romenos, diversos países da Europa Ocidental,
como a França e a Alemanha, alteraram suas respectivas legislações para dificultar o ingresso de pessoas
originárias desses países em seus territórios.
No entanto, o maior problema da atualidade reside no fluxo ilegal de pessoas vindas de países
localizados em outros continentes, como a África, a Ásia e a América do Sul, ou de países do Leste
Europeu que não integram a União Europeia - como a Turquia. É importante considerar que, em ambos
os casos, o deslocamento se dá principalmente para os países da Europa Ocidental que apresentam
melhores situações econômicas, como a Alemanha, país com o maior número de indivíduos estrangeiros
na atualidade.
Os imigrantes ilegais são aqueles que encontram sempre as maiores dificuldades, pois correm o risco
da deportação e não possuem visto para trabalhar legalmente de acordo com as leis locais. Por isso
atuam como funcionários não registrados ou estão inseridos na economia informal como vendedores
ambulantes, por exemplo.

As Rotas da Imigração Ilegal


Devido à proximidade da Europa em relação à África, à Ásia e ao Oriente Médio, indivíduos de países
localizados nesses continentes tentam entrar na Europa ilegalmente todos os anos por meio de rotas
terrestres e marítimas.
No entanto, com o reforço da segurança nas fronteiras da Europa e dos Estados Unidos após os
atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e na Europa em anos seguintes, a fiscalização tem
aumentado na última década, e os imigrantes são obrigados a optar por rotas cada vez mais perigosas
para chegar a seus destinos. Essas rotas envolvem até mesmo enfrentar as águas perigosas do Atlântico,
a partir da costa ocidental da África, em embarcações improvisadas, o que tem provocado um aumento
no número de vítimas fatais nessas jornadas.
As principais rotas ilegais utilizadas por indivíduos de origem africana, no entanto, são através do Mar
Mediterrâneo e das ilhas da Sicília e Malta, ou então diretamente do Marrocos em direção à Espanha.
Segundo estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o número de indivíduos
que morreram tentando chegar à Europa em 2013 foi de 900, o triplo do registrado em 2003.
Os governos europeus, por sua vez, vêm agindo de forma cada vez mais repressiva, interceptando
embarcações ou levas de imigrantes que acabam sendo posteriormente deportados.
Por causa da proximidade com a Líbia, que vive uma situação política e social instável, e da costa da
Tunísia, a pequena ilha de Lampedusa, muito próxima da Sicília (Itália), tornou-se um dos principais
pontos de chegada de milhares de imigrantes.
Como consequência, somente na Itália são mantidos mais de dez complexos de detenção, de onde
esses imigrantes aguardam a deportação e são tratados, muitas vezes, de maneira ríspida. Apesar de a
União Europeia ter proibido os campos de detenção, e o governo italiano ter sido alvo de críticas de
órgãos internacionais dedicados à defesa dos direitos humanos, milhares de africanos atualmente se
encontram detidos nesses campos, nos quais eles podem permanecer por meses aguardando a
deportação.
Lidar com os imigrantes ilegais, seja da África, da Ásia, do Oriente Médio e também da Turquia, tem
sido uma das questões mais polêmicas envolvendo os governos da Europa nos últimos anos. A maioria
dos países tem se mostrado intolerante quanto à legalização desses imigrantes, mesmo frente às
questões humanitárias envolvidas, já que o número de trabalhadores ilegais já é muito alto e quase todos
esses países sofrem com taxas consideráveis de desemprego.
Um exemplo de como a atitude dos governos europeus tem se mostrado cada vez mais rígida em
relação aos imigrantes ilegais foi a decisão tomada pelo governo da Bulgária, que resolveu iniciar a
construção de um muro de 30 quilômetros de extensão e 3 metros de altura ao longo de sua fronteira com
a Turquia.

Enfrentando a Xenofobia
Nos países da Europa, a chegada de um número cada vez maior de imigrantes, principalmente ilegais,
tem causado manifestações xenofóbicas, ou seja, caracterizadas pelo preconceito contra estrangeiros. A
maior parte dessas manifestações é motivada pelo nacionalismo, e os grupos xenófobos se colocam

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contrários à aceitação de certos grupos étnicos ou religiosos da sociedade, como ocorre na Alemanha,
Itália e França. Nesta última, principalmente, os casos mais extremos têm envolvido imigrantes
muçulmanos, característica intensificada, sobretudo, após o atentado terrorista à sede da revista Charlie
Hebdo, em Paris, em 2015.
Além de muçulmanos provenientes de diversos países, o preconceito na França e em outros países
da Europa Ocidental tem se direcionado aos negros africanos e ciganos do Leste Europeu, por exemplo,
Na maior parte dos casos, além de serem vistos de forma negativa por competirem pelas mesmas
oportunidades de emprego com a população local, esses imigrantes são frequentemente associados ao
aumento da criminalidade e ao tráfico de drogas.
O debate em torno da regularização dos imigrantes na Europa é controverso. No entanto, como o
continente passa por uma grande queda da fecundidade, o que poderá acarretar graves consequências
no futuro, como a diminuição de jovens e adultos, e até mesmo da população, a imigração pode ser uma
maneira de resolver parcialmente essa questão, embora muitos grupos se coloquem radicalmente contra
essa medida.

SUBDESENVOLVIMENTO MUNDIAL

Capitalismo, Desigualdade e Exclusão55

Charge que retrata a distribuição da riqueza entre os países do mundo – O “bolo” da riqueza mundial

Como resultado do processo de mundialização do capitalismo em escala planetária, o avanço da


globalização ocorrido ao longo das últimas décadas se caracterizou pelo aumento das desigualdades no
mundo. E essas desigualdades têm se acentuado tanto entre as nações do mundo como no interior de
cada país.
Contudo, não significa que a desigualdade seja exclusiva da globalização, nesse caso trata-se de um
produto da atual fase do desenvolvimento capitalista, que se reproduz por meio de suas contradições.
Isto é, por um lado promove o crescimento econômico e por outro, a acumulação do capital.
O processo de globalização atualmente em curso amplia a forte tendência para a concentração da
riqueza, ou seja, os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Comprovam essa
situação os seguintes números: na década de 1960, 20% das pessoas mais ricas do mundo concentravam
30% da renda mundial; em 2009, esse mesmo grupo de pessoas detinha cerca de 71% de toda a renda
do planeta.
Esse fato tem agravado a pobreza e a miséria existente no mundo. De maneira geral, a pobreza pode
ser considerada como a não satisfação de necessidades básicas (alimentação, saúde, educação,
habitação, etc.) que garantam ao indivíduo seu pleno desenvolvimento físico e psicológico.
Como não existe um conceito rígido para definir a condição de pobreza, o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Humano (Pnud), mensura a pobreza a partir da renda, considerando
como extremamente pobres as pessoas que sobrevivem com menos de 1,25 dólares por dia. De acordo
com os levantamentos da ONU, dos mais de 7 bilhões de habitantes do nosso planeta, cerca de 1,3 bilhão
de pessoas (o que representa cerca de 18% da população mundial) encontra-se na condição de extrema
pobreza.
Os números da pobreza são ainda mais alarmantes nas regiões menos desenvolvidas do globo, em
especial nos países mais pobres da América Latina, da África e da Ásia. Nesses países, milhões de
pessoas vivem em condições muito precárias, privadas de seus direitos mais básicos, como o de ter uma
alimentação saudável, possuir uma moradia adequada, ter acesso aos serviços de educação e de saúde,
ao lazer, etc.

55
MARTINEZ, Rogério; et. al. Novo olhar: Geografia. 1ª edição. São Paulo: FTD.

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1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Embora o crescimento da renda mundial tenha promovido uma sensível diminuição da pobreza
extrema no mundo (que no período entre 1996 e 2008 recuou de 29% para 19%), os números dessa
redução variam muito de uma região para outra.

Linha da Pobreza
Existem outros critérios utilizados para definir a condição de pobreza. O Banco Mundial, por exemplo,
baseia-se em dois critérios:
→ limite de indigência: faixa em que se encontram as pessoas que recebem até 1 dólar por dia (renda
suficiente para comprar apenas os alimentos necessários para repor os gastos energéticos);
→ limite de pobreza extrema: faixa em que se encontram as pessoas que recebem até 2 dólares por
dia (renda considerada suficiente para satisfazer as necessidades mínimas dos moradores de um
domicílio).

É importante refletir também que, se houve uma queda nos índices de pobreza, ao contrário, registrou-
se também um aumento da população mundial. Portanto, embora os índices de pobreza tenham
decrescido, em relação a uma população maior, calcula-se que cerca de 1,3 bilhões de pessoas ainda
vivem em condições de extrema pobreza no mundo.

Desenvolvimento e Subdesenvolvimento

O termo subdesenvolvimento surgiu na literatura econômica e política a partir da segunda metade


do século XX, logo após o generalizado processo de descolonização que ocorreu na Ásia e na África.
Com a libertação política, promovida muitas vezes por meio de conturbadas guerras e conflitos, surgiram
novos países independentes, todos marcados por graves problemas socioeconômicos, quase sempre
associados à pobreza extrema: altas taxas de mortalidade, baixa expectativa de vida, analfabetismo,
subnutrição, fome crônica, etc. A partir dessa época, portanto, o mundo passou a notar ainda mais as
fortes desigualdades existentes entre os países, o que acabou se tornando tema de profundos estudos e
reflexões teóricas sobre as origens do subdesenvolvimento e também sobre as razões do
desenvolvimento.

Desenvolvimento X Subdesenvolvimento

O desenvolvimento e o subdesenvolvimento são realidades opostas, porém, inseparáveis, resultantes


do processo de expansão do capitalismo em escala planetária.

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Principais Diferenças entre Desenvolvimento e Subdesenvolvimento

Desenvolvimento
O desenvolvimento de um país ocorre quando há um crescimento de sua economia acompanhado
pela melhoria no padrão de vida da população. Sendo assim, os países desenvolvidos são aqueles que,
no plano econômico, se destacam pelo alto grau de industrialização e também pela supremacia
econômica e tecnológica, e que, no plano social, apresentam uma população que desfruta e melhores
condições de vida.

Subdesenvolvimento
O subdesenvolvimento, por sua vez, se expressa pelo atraso e dependência econômica e tecnológica
em que um país se encontra em relação às demais nações, associados às precárias condições de vida e
que está submetida grande parte de sua população.

IDH: Indicador de Desenvolvimento

Na tentativa de medir o nível de desenvolvimento de cada país de maneira mais abrangente, a ONU,
por meio do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), passou a considerar um
conjunto de indicadores que retrata a situação econômica e social bem como as condições de vida de
suas populações, como o nível de renda, o grau de analfabetismo e escolarização, as taxas de
mortalidade, a expectativa de vida, entre outros.
A partir da combinação desses indicadores socioeconômicos foi possível verificar o nível de
desenvolvimento de um país, expresso por seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O cálculo
desse índice resulta um valor entre zero e um, e quanto mais próximo de zero for o IDH, menos
desenvolvido é o país, e quanto mais próximo de um for o IDH, mais desenvolvido é o país. Nas
publicações do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud, os países são agrupados em quatro
categorias, conforme seja maior ou menor o valor de seu IDH: muito elevado, levado, médio e baixo.
O cálculo do IDH sintetiza os diversos índices de desenvolvimento humano, pois ele leva em
consideração três importantes dimensões necessárias para o desenvolvimento de um país. Observe:

Embora o IDH nos ajude a estabelecer comparações importantes sobre as diferenças de


desenvolvimento existentes entre os países do mundo, sendo inclusive de grande valia para o

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estabelecimento de políticas voltadas para a promoção do desenvolvimento socioeconômico, é
necessário cautela ao analisar esses dados a fim de se evitar interpretações distorcidas, ou mesmo
equivocadas, a respeito da realidade de determinado país. Isso pode ocorrer, por exemplo, pelo fato de
o cálculo do IDH expressar apenas uma média não sendo capaz, por isso, de retratar as desigualdades
existentes no interior de um mesmo país. Isso fica claro ao verificar a realidade do nosso próprio país,
que tinha IDH calculado em 0,730 (segundo dados da ONU referentes a 2012). Esse número, no entanto,
não revela as profundas desigualdades socioeconômicas que marcam a sociedade brasileira ao longo de
sua história, fazendo com que uma expressiva parcela da população sobreviva em condições
extremamente precárias.

NOVA ORDEM MUNDIAL, ESPAÇO GEOPOLÍTICO E GLOBALIZAÇÃO56

Uma ordem mundial diz respeito às configurações gerais das hierarquias de poder existentes entre
os países do mundo. Dessa forma, as ordens mundiais modificam-se a cada oscilação em seu contexto
histórico. Portanto, ao falar de uma nova ordem mundial, estamos nos referindo ao atual contexto das
relações políticas e econômicas internacionais de poder.
Durante a Guerra Fria, existiam duas nações principais que dominavam e polarizavam as relações de
poder no globo: Estados Unidos e União Soviética.
Essa ordem mundial era notadamente marcada pelas corridas armamentista e espacial e pelas
disputas geopolíticas no que se refere ao grau de influência de cada uma no plano internacional. Este era
o mundo bipolar.
A partir do final da década de 1980 e início dos anos 1990, mais especificamente após a queda do
Muro de Berlim e do esfacelamento da União Soviética, o mundo passou a conhecer apenas uma grande
potência econômica e, principalmente, militar: os EUA. Analistas e cientistas políticos passaram a nomear
a então ordem mundial vigente como unipolar.
Entretanto, tal nomeação não era consenso. Alguns analistas enxergavam que tal soberania pudesse
não ser tão notável assim, até porque a ordem mundial deixava de ser medida pelo poderio bélico e
espacial de uma nação e passava a ser medida pelo poderio político e econômico.
Nesse contexto, nos últimos anos, o mundo assistiu às sucessivas crescentes econômicas da União
Europeia e do Japão, apesar das crises que estas frentes de poder sofreram no final dos anos 2000.
De outro lado, também vêm sendo notáveis os índices de crescimento econômico que colocaram a
China como a segunda maior nação do mundo em tamanho do PIB (Produto Interno Bruto). Por esse
motivo, muitos cientistas políticos passaram a denominar a Nova Ordem Mundial como mundo multipolar.
Mas é preciso lembrar que não há no mundo nenhuma nação que possua o poderio bélico e nuclear
dos EUA.
Esse país possui bombas e ogivas nucleares que, juntas, seriam capazes de destruir todo o planeta
várias vezes.
A Rússia, grande herdeira do império soviético, mesmo possuindo tecnologia nuclear e um elevado
número de armamentos, vem perdendo espaço no campo bélico em virtude da falta de investimentos na
manutenção de seu arsenal, em razão das dificuldades econômicas enfrentadas pelo país após a Guerra
Fria.
É por esse motivo que a maior parte dos especialistas em Geopolítica e Relações Internacionais,
atualmente, nomeia a Nova Ordem Mundial como mundo unimultipolar. “Uni” no sentido militar, pois os
Estados Unidos é líder incontestável. “Multi” em razão das diversas crescentes econômicas de novos
polos de poder, sobretudo a União Europeia, o Japão e a China.

56
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm.

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A Divisão do Mundo entre Norte e Sul

Durante a ordem geopolítica bipolar, o mundo era rotineiramente dividido entre leste e oeste.
O Oeste era a representação do Capitalismo liderado pelos EUA, enquanto o Leste demarcava o
mundo Socialista representado pela URSS. Essa divisão não era necessariamente fiel aos critérios
cartográficos, pois no Oeste havia nações socialistas (a exemplo de Cuba) e no leste havia nações
capitalistas.
Contudo, esse modelo ruiu. Atualmente, o mundo é dividido entre Norte e Sul, de modo que no Norte
encontram-se as nações desenvolvidas e, ao sul, encontram-se as nações subdesenvolvidas ou
emergentes. Tal divisão também segue os ditames da Nova Ordem Mundial, em considerar
preferencialmente os critérios econômicos em detrimento do poderio bélico.

Em vermelho, os países do sul subdesenvolvido e, em azul, os países do norte desenvolvido

Observa-se que também nessa nova divisão do mundo não há uma total fidelidade aos critérios
cartográficos, uma vez que alguns poucos países localizados ao sul pertencem ao “Norte” (como a
Austrália) e alguns países do norte pertencem ao “Sul” (como a China).

A Economia Capitalista Hoje

Vivemos na segunda década da Nova Ordem Internacional. Suas características tornam-se a cada dia
mais claras. Suas raízes econômicas remontam às transformações iniciadas com as tecnologias dos anos
de 1970, que influenciam as potências atuais de forma marcante.
No campo geopolítico, essa nova era configurou-se com a crise do socialismo, o fim da Guerra Fria e
a valorização dos problemas sociais e ambientais.
Na atualidade, o grupo de países desenvolvidos, formado por 23 nações (Estados Unidos, Canadá,
Japão, Austrália, Nova Zelândia, Islândia, Noruega, Suíça e os 15 membros da União Europeia), torna-
se cada vez mais rico. Em 2005, a população dessas nações somava 900 milhões de pessoas (13% do
total mundial) e produzia cerca de 32 trilhões de dólares (80% do PIB mundial), o que dava uma renda
per capita de mais de 35 mil dólares. Em 1960, os mesmos países tinham cerca de 20% da população
mundial e controlavam cerca de 60% do PIB do mundo.
Uma das características político-econômicas mais importantes da Nova Ordem Internacional foi o
crescente uso dos princípios teóricos do neoliberalismo.
Especialistas acreditam que os neoliberais criaram, com seu pragmatismo, um conjunto de regras
econômicas muito claro, que se resume aos seguintes aspectos:
* O Estado deve se restringir a algumas funções públicas;
* O déficit público deve ser evitado e, se existir, reduzido;
* As empresas estatais devem ser privatizadas;
* O Banco Central de cada país deve ser independente;
* A moeda deve ser estável, com um mínimo de inflação;
* Os fluxos financeiros não devem sofrer restrições;
* Os mercados devem ser abertos, liberalizados e desregulamentados;
* A produção industrial deve ser internacionalizada, buscando-se mão-de-obra mais barata;
* As empresas devem ser modernizadas, enxutas e competitivas.

Frente às crises e ao aumento da miséria nos países subdesenvolvidos, alguns neoliberais modernos
defendem que esse receituário não tem dado certo por culpa dos governos. Seria necessário apenas
conter os monopólios privados, supervisionar os bancos com mais atenção, investir em educação e
aumentar a poupança interna.
Dentro da Nova Ordem Internacional, o controle que os países desenvolvidos exerciam sobre o
comércio de exportação no mundo continuou, embora sua participação no total tenha sido um pouco

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reduzida. Essa redução foi consequência do crescimento das exportações conquistado pelos países
subdesenvolvidos industrializados.
A participação dos países subdesenvolvidos no comércio mundial de exportação vinha decrescendo
desde o início da Ordem da Guerra Fria (era de cerca de 31% do total mundial em 1950 e caiu para cerca
de 20% em 1985). Essa situação começou a se reverter no início da Nova Ordem Internacional. Nos dez
anos seguintes, os países pobres passaram a controlar maiores parcelas do comércio mundial de
exportação.
Esse aumento das exportações, por si só, não foi suficiente para elevar o padrão de riqueza dos países
subdesenvolvidos como um todo. A maior parte desse aumento foi de responsabilidade de um restrito
grupo de países subdesenvolvidos industrializados, enquanto a grande maioria dos mais de 150 países
subdesenvolvidos continuou a assistir à queda dos preços de suas mercadorias de exportação
(commodities) e a redução de sua participação no comércio mundial, exceto os exportadores de petróleo.
Mesmo assim, o crescimento do comércio internacional é apontado como um dos indicadores da
aceleração do processo de globalização, que criou uma maior dependência das economias nacionais em
relação à economia internacional, pois uma grande parcela das atividades produtivas e dos trabalhadores
fica dependente do desempenho de seus países no mercado mundial.
Esse crescimento do comércio e essa maior dependência das economias nacionais são o resultado
das políticas de liberalização alfandegária colocadas em prática desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Desde então, as taxas alfandegárias médias dos países mais desenvolvidos do mundo caíram de 40%
para menos de 5%. Por outro lado, o crescimento do comércio internacional foi fruto da maior integração
e complementação econômica dos conjuntos de países que formaram organizações ou zonas de livre
comércio, como a União Europeia e o Nafta.

Características da Nova Ordem Internacional57

A Nova Ordem Internacional já pode ser caracterizada por um amplo conjunto de aspectos. Citaremos
todos, porém, nos atentaremos mais detalhadamente, à Globalização.
São eles:
* Investimentos em P&D;
* Os blocos econômicos;
* Dívida externa;
*Desemprego;
* As economias em transição;
* O problema da pobreza.

Globalização
A Globalização não é nenhuma novidade. Há séculos ela evolui na forma de ciclos, intensificando os
fluxos de pessoas, bens, capital e hábitos culturais. Ela se originou com a primeira fase da expansão
capitalista europeia, impulsionada pelas Grandes Navegações do final do século XV. Entre 1870 e 1890,
a globalização foi novamente intensificada, graças à aceleração dos investimentos internacionais, a
ampliação do comércio e o aperfeiçoamento dos meios de transportes e comunicações. Posteriormente,
durante o período que se estende entre 1910 e 1920, houve nova aceleração desse processo, associada
ao crescente militarismo, que culminaria com a Primeira Guerra Mundial. Um terceiro pico ocorreu durante
a década de 1930, antecedendo a Segunda Guerra Mundial.
Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de globalização foi mais lento, amarrado pelas relações
limitadas entre os países capitalistas e os socialistas e pelas políticas comerciais altamente protecionistas.
Somente na década de 1990 os investimentos internacionais retornariam ao patamar de 1941.

Corporações Transnacionais58
As transnacionais correspondem às corporações industriais, comerciais e de prestação de serviços
que atuam em distintos territórios dispersos no mundo. Nesse caso, ultrapassam os limites territoriais dos
países de origem das empresas.
Grande parte das empresas transnacionais é oriunda de países industrializados e desenvolvidos que
detêm um grande capital acumulado; o excedente, nesse caso, é direcionado para países em todos os
continentes.

57
SCALZARETTO, Reinaldo. Geografia Geral – Geopolítica. 4ª edição. São Paulo: Anglo.
TERRA, Lygia; et. al. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Moderna.
58
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/transnacionais.htm.

247
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Os investimentos dessas empresas são altíssimos, uma vez que a matriz emite os recursos para as
filiais localizadas em muitos países pobres. Nesses países, as transnacionais exercem funções
importantes como acelerar o desenvolvimento industrial, além de gerar postos de trabalho.
No entanto, essas empresas não têm objetivo social no momento em que se instalam em um
determinado país. Pelo contrário, para sua instalação acontecer, o governo oferece uma série de
benefícios e incentivos, tais como isenção parcial ou total de tributos, até mesmo dos lucros. Esses países
se submetem a essas exigências a fim de atrair novos investimentos estrangeiros e também garantir a
permanência das empresas.
As transnacionais estão ligadas à globalização da produção, na qual um único produto pode ter várias
origens, isso por que os seus componentes têm origens distintas e são montados em uma determinada
localidade do mundo. Esse fluxo produtivo visa unicamente verticalizar os lucros, diminuindo os custos,
consolidando-se no mercado como empresas competitivas que buscam alcançar grandes parcelas do
mercado internacional.
Há pouco tempo essas empresas eram denominadas multinacionais, porém gradativamente esse
termo não mais está sendo usado, uma vez que a expressão emite uma ideia de uma empresa que possui
diversas nacionalidades. Dessa forma, empresas com essas características recebem o nome de
transnacionais, possuem sede em um país e desempenham atividades em diversos outros.
Atualmente, existem em funcionamento cerca de 40 mil empresas transnacionais, muitas originadas
de países desenvolvidos, porém existem ainda corporações oriundas da Coreia, Índia, México e Brasil.
As transnacionais exercem influência que transcende a economia, pois interfere em governos e nas
relações entre países.
Essas empresas surgiram efetivamente a partir da Segunda Guerra Mundial, quando empresas de
países ricos migraram suas atividades para lugares espalhados pelo mundo.
Com a expansão das transnacionais, a partir da década de 1950, a globalização foi acelerada. Hoje, a
Terceira Revolução Industrial, que gerou um sistema de produção econômica com regras que se
uniformizam e se universalizam rapidamente, está criando uma nova onda de globalização. Suas
instituições passam a controlar e organizar essa economia em que as fronteiras perdem a importância e
muitos Estados disputam o direito de abrigar as sedes ou as filiais das grandes corporações, que
controlam a oferta de empregos e investimentos.
Dessa forma, o espaço geográfico mundial tem caminhado em direção a uma crescente
homogeneização, fruto da imposição de um sistema econômico e social globalizado sobre toda a
superfície da Terra. Nas últimas décadas, esse processo sofreu uma forte aceleração, especialmente
porque o polo de oposição ao capitalismo, que durante 45 anos compartia o mundo, criando a bipolaridade
da Guerra Fria, entrou em crise.
Os investimentos internacionais são realizados de forma direta, pelas empresas transnacionais que
implantam ou ampliam suas unidades produtivas, ou indireta, quando se relacionam aos fluxos de capital
que entram por meio de empréstimos, moeda trazida por estrangeiros, pagamentos de exportações,
vendas de títulos públicos no exterior e investimentos no mercado financeiro (especialmente em bolsas
de valores). Observe sua evolução recente:
Os investimentos internacionais foram acelerados na Nova Ordem. Eles saltaram de 924 bilhões de
dólares em 1991 para mais de 5,4 trilhões em 2001.
Na era da globalização, quando as informações são instantâneas, um observador pode acompanhar
a abertura e o fechamento das mais importantes bolsas de valores do mundo durante 22 horas seguidas:
se ele estiver em São Paulo, a Bolsa de Tóquio abre às 21 horas (hora de Brasília) e fecha às 5 horas do
dia seguinte. Uma hora mais tarde, abre a Bolsa de Londres e, às 11 horas, a de Nova Iorque, que só
fecha às 19 horas.
Podemos notar facilmente que a maior parte dos investimentos tem sido sempre no mercado
financeiro, ou seja, nas bolsas de valores. É o que se chama de capital volátil. Esses investimentos entram
nos países e saem muito rapidamente, circulando diariamente no mundo, de uma bolsa para outra, mais
de 3 trilhões de dólares.
O mercado financeiro de ações comercializadas em bolsas de valores estocava um patrimônio coletivo
de 47 trilhões de dólares em 2005. Com o desenvolvimento da informática, o mercado financeiro se
acelerou como forma de investimento.
Os investimentos financeiros diretos também cresceram bastante, aumentando mais de sete vezes
nesse período, principalmente por meio da compra de empresas privatizadas, dentro da política
neoliberal. As privatizações se expandiram muito desde o início da década de 1990. Entre 1988 e 2003,
houve mais de 9 mil privatizações em cerca de 120 países, que somaram mais de 410 bilhões de dólares
de transações.

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Grande parte das pessoas acredita que as privatizações, na atualidade, só ocorrem em países
subdesenvolvidos ou nos países socialistas que estão em transição para a economia de mercado. Na
verdade, a década de 1990 foi marcada pelo aumento das privatizações em diversos países
desenvolvidos.
Embora a globalização seja comandada pelos agentes financeiros e econômicos, há uma profunda
relação entre seus interesses e as ações políticas desenvolvidas pelos Estados. Na atualidade, vemos
uma espécie de privatização do Estado, que é colocado a serviço dos interesses do grande capital.
Hoje, mais do que em qualquer outra época da modernidade, a elite econômica colocou o Estado a
serviço de seus interesses. São os governos dos países mais ricos do mundo que promovem, numa ação
política bem orquestrada, a globalização, preparando encontros, ampliando o raio de ação das
organizações internacionais, realizando acordos comerciais, que favorecem a quem controla a economia.
Recentemente, por causa das transformações econômicas em direção à globalização, a redução das
taxas alfandegárias e a liberação do movimento dos capitais, muitos estudiosos passaram a acreditar que
o Estado nacional estava em fase de dissolução. Em verdade, ocorreu a sua transformação: as relações
entre o Estado e a economia se internacionalizaram, e a privatização tornou-se norma. Dessa forma, o
Estado abandonou o papel de agente econômico, desfazendo-se dos seus ativos, e passou a exercer o
papel de organizador e gestor de uma economia globalizada, no qual o conceito de soberania nacional
passou por uma revisão.
As aquisições e fusões que têm caracterizado a globalização desde o início da década de 1990 não
pretendem aumentar a produção, criar novas fábricas e ampliar os empregos. A função dessa onda de
fusões é cortar as atividades redundantes, reduzir a concorrência e aumentar a concentração de capitais.
O resultado final tem sido sempre a elevação das taxas de desemprego e o aumento da monopolização.
O volume das transações financeiras provocadas pelas fusões de grandes empresas tem ampliado o
mercado de ações e acelerado a movimentação de capitais.
No contexto da globalização, os países subdesenvolvidos ou periféricos não têm peso na definição
desse novo panorama geopolítico mundial, ficando, cada mais uma vez, atrelados aos países líderes.
Assim, com a decadência do bloco socialista, resta para o capitalismo resolver, num futuro próximo, três
graves problemas:

Desigualdade – Há uma crescente desigualdade de padrão de vida entre os países desenvolvidos e


os subdesenvolvidos, além das diferenças de renda dentro dos próprios países desenvolvidos. Segundo
Hobsbawm, a ameaça que a expansão socialista representou após 1945 impulsionou a formação do
Welfare State (Estado de bem-estar social), com reformas sociais nos países desenvolvidos, criando-se
uma parceria entre capital e trabalho organizado (sindicatos), sob os auspícios do Estado. Isso gerou a
consciência de que a democracia liberal precisava garantir a lealdade da classe trabalhadora, com caras
concessões econômicas. O abandono dessas políticas sociais tem ampliado o quadro da desigualdade
social, até mesmo em países desenvolvidos.

Conflitos Étnicos – Ascensão do racismo e crescente xenofobia, especialmente na Europa e nos


Estados Unidos, devido ao grande fluxo de imigrantes das regiões mais pobres para os países
industrialmente mais desenvolvidos.

Meio Ambiente – Crise ecológica mundial, que alerta para a necessidade de solucionar as agressões
ao meio ambiente, que podem afetar todo o planeta.

Globalização e Subdesenvolvimento

Subdesenvolvimento não é fruto da globalização. Ele se caracteriza por graves problemas sociais e
grande desigualdade no interior da sociedade e pela capacidade limitada de desenvolvimento tecnológico,
entre outros fatores. Os países incluídos nesse grupo também são diferentes entre si. Alguns possuem
elevada capacidade de produção instalada e atraem volumes expressivos de investimentos do exterior,
como é o caso do Brasil. Outros estão excluídos da ordem econômica mundial e dependem de ajuda
humanitária para a sobrevivência da população faminta, sem oportunidades de trabalho e sem condições
de obter renda.

Origens do Subdesenvolvimento
A origem do processo de formação dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos remonta às grandes
navegações empreendidas pelos Estados-nações recém-formados na Europa, a partir do século XV.
Nessa época, esses Estados expandiram o comércio, explorando os produtos e recursos da América, da

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África e da Ásia e passaram a exercer forte domínio sobre os povos desses continentes, controlando a
extração e a produção neles realizadas.
As terras conquistadas e dominadas (as colônias) não possuíam autonomia administrativa, e seus
recursos e riquezas eram explorados intensamente, em benefício de alguns países, como Portugal,
Espanha, Holanda, França e Inglaterra (as metrópoles).
A exploração dos recursos das colônias, como metais preciosos, minérios e produtos agrícolas,
proporcionou de fato um grande enriquecimento às metrópoles.
Poucas foram as exceções a essa forma de colonialismo. São os casos da Austrália, Nova Zelândia,
Canadá e dos EUA.
Mas, ainda nas duas últimas décadas, o processo de globalização acentuou a distância entre o mundo
rico e o mundo pobre, e a quantidade de pessoas vivendo em condições de pobreza elevou-se inclusive
nos países ricos. Segundo o economistas, no início do século XXI, cerca de 2/3 da população do planeta
encontra-se à margem dos benefícios propiciados pelo aumento na capacidade de produção de
mercadorias e de geração de serviços, e pelo processo de globalização (por exemplo, ampliação dos
fluxos de informações, capitais e mercadorias).

Mundialização do Planeta
Os processos de exclusão que estamos observando no mundo inteiro não afetam unicamente os
países do sul, mas representam a principal preocupação dos países industriais. Tal como se processa a
globalização nas formas atuais, muita gente está ficando de fora. Segundo estimativas de autores
americanos, inclui um terço e deixa fora dois terços da população mundial. Metaforicamente, está
havendo uma terceiro-mundialização do planeta.
Apesar de a globalização ter acentuado os problemas sociais nos países do norte, esses problemas
são extremamente mais graves nos países do sul, onde a capacidade de solução dessas questões é
bastante limitada.

Divisão Norte-Sul
A divisão Norte-Sul simboliza a separação entre os mundos desenvolvido e subdesenvolvido. Os
países desenvolvidos estão situados quase todos no hemisfério Norte (com exceção da Austrália e Nova
Zelândia, que também são classificados como países do norte) e os subdesenvolvidos estão situados ao
sul do bloco dos países desenvolvidos. Por esta razão a expressão norte passou a ser sinônimo de
desenvolvimento e sul, do inverso.
Considerando a situação atual dos países do mundo, as diferenças são gritantes. Os países do G-8
(grupo que inclui os sete países mais ricos: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido
e Canadá, além da Rússia) são responsáveis pela produção de cerca de 56% de toda a riqueza do mundo.
Todos os demais países reunidos, onde vivem 85% da população mundial, produzem os 44% restantes.
As distâncias socioeconômicas entre os países tendem a aumentar a cada ano com o desenvolvimento
técnico-científico acelerado e concentrado nos países mais desenvolvidos. Segundo o Relatório 2002 do
Fundo de População das Nações Unidas, em 1960 o rendimento dos 20% mais pobres no mundo era 30
vezes menor que o dos 20% mais ricos. Essa diferença havia aumentado para 74 vezes em 2002. O
mesmo relatório aponta que cerca de três milhões de pessoas vivem com menos de dois dólares por dia.
Considerando que o desenvolvimento tecnológico é um elemento importante para o processo de
globalização, o Brasil, no início do século XXI, ocupava a desconfortável 43ª posição no mundo em
conquistas tecnológicas.

O Conselho de Washington
O Conselho de Washington refere-se a um conjunto de receitas econômicas criadas, em 1989, visando
acelerar o desenvolvimento da América Latina. O economista John Williamson reuniu o pensamento das
grandes instituições financeiras (FMI, Banco Mundial, BIRD) e também do governo norte-americano, que
pretendiam resolver a crise dos países pobres e particularmente os da América Latina, e propor caminhos
para o desenvolvimento.
Entre essas instituições havia “consenso” sobre alguns pontos principais. De acordo com o Conselho
de Washington, os países deveriam:
* promover uma reforma fiscal, isto é, uma reforma no sistema de atribuição e de arrecadação de
impostos, para que as empresas pudessem pagar menos e adquirir maior competitividade.
* promover o corte de salários e demissão dos funcionários públicos em excesso, e realizar mudanças
na previdência social, nas leis trabalhistas e no sistema de aposentadoria, para diminuir a dívida do
governo (chamada dívida pública).

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Além disso, o Conselho de Washington propunha a abertura comercial, o aumento de facilidades para
a entrada e saída de capitais e a privatização de empresas estatais.

Risco-País
Numa economia internacional muito integrada, s maiores investidores têm grande “controle” ou “poder”
sobre a situação econômico-financeira de um país, conforme a dependência desse país em relação aos
investimentos externos. As agências internacionais de investimentos, por sua vez, divulgam relatórios
constantemente sobre a capacidade dos países para pagar seus compromissos externos e avaliam o
“nível de segurança” de cada país. Essa classificação recebe o nome de risco-país, e os investidores
levam em conta esses relatórios ao aplicarem seu capital.
Enfim, nesse mundo globalizado, o sistema financeiro internacional acaba tendo forte influência na
vida das sociedades dos diversos países, com consequências muitas vezes negativas.
O que é risco-país?
É uma classificação baseada na diferença entre o juro pago por um papel (título) e a taxa oferecida
por um título com prazo de vencimento semelhante pelo Tesouro dos Estados Unidos, título este
considerado o papel mais seguro do planeta, de risco praticamente zero. Essa avaliação é realizada por
agências de investimentos como Moody`s, Standard & Poor`s (S&P) e Fitch (todas norte-americanas).
A classificação reflete, na visão dos investidores, qual é a possibilidade de o país pagar ou não suas
dívidas interna e principalmente externa.
Quanto maior a taxa de risco de um país, mais altos serão os juros que o governo terá de pagar para
renovar ou obter novos empréstimos, e menos para receber novos investimentos. (Adaptado de Folha de São Paulo,
13/06/2002, p. B-4 e 22/10/2002, p. B-1).
Os países, para serem confiáveis, deveriam cumprir as normas e as sugestões do “Consenso”. Nada
era obrigatório, mas seguir suas determinações básicas era condição para receber ajuda financeira
externa e atrair capitais estrangeiros.

A Escala Regional na Ordem Global

Em novembro de 2012, a Assembleia Geral da ONU reconheceu, por maioria, a Palestina como Estado
observador não membro (Nova York, Estados Unidos). Para muitos analistas, esse reconhecimento
poderia ter significado a retomada do processo de paz.

Comércio Desigual e Regionalização na Economia Global


De acordo com a inserção na economia mundial, é possível identificar grandes conjunto de países. A
profunda desigualdade na participação no comércio mundial está relacionada com as mudanças nos
padrões da divisão internacional do trabalho.

Inserção Desigual dos Países na Economia Mundial


Os países não se inserem na economia mundial da mesma maneira. O atraso econômico de muitos
países é resultado de um processo histórico. O crescimento econômico das nações nos últimos séculos
se confunde com a própria história do desenvolvimento do capitalismo, que desde o século XVI
estabeleceu uma divisão internacional do trabalho. Os países dominantes ficavam com a maior parte da
riqueza produzida, enquanto as colônias tinham a função de contribuir para a acumulação de capital nas
metrópoles.
A economia capitalista se desenvolveu concentrando riqueza e poder nas mãos das elites,
principalmente das potências dominantes, criando em contrapartida regiões pouco desenvolvidas
economicamente e pouco industrializadas, chamadas a partir da segunda metade do século XX de
subdesenvolvidas.
Esse termo tem sido questionado, pois a maior parte dos países chamados subdesenvolvidos esteve
durante muito tempo na condição de colônia, e a exploração de seus recursos naturais e humanos
impediu o seu crescimento econômico e seu desenvolvimento social. Ou seja, dentro de um mesmo
processo, o crescimento econômico de uns foi conseguido em detrimento de outros.
Podemos dizer que as desigualdades econômicas e sociais dividem o mundo em dois grandes grupos:
o dos países ricos, mais industrializados, desenvolvidos, com menores problemas sociais, e o dos países
pobres, menos industrializados, que contam com inúmeros problemas sociais, incluindo enorme
quantidade de pessoas que vivem em precárias condições de vida. Esses grupos não são homogêneos,
apresentando grandes diferenças.

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Grandes Conjuntos de Países
Muitos países subdesenvolvidos, após a Segunda Guerra Mundial, passaram a investir na indústria,
ficando conhecidos como países em subdesenvolvimento. Como a Primeira Revolução Industrial
ocorreu no século XVIII e a Segunda Revolução Industrial no século XIX, esse processo é considerado
industrialização tardia ou retardatária. E o caso do Brasil, México, Argentina e Tigres Asiáticos
(Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, na China).
Os países ricos e pobres já receberam diversas denominações. Uma delas, a partir da década de
1980, refere-se à localização geográfica. Os mais desenvolvidos passaram a ser chamados de países
do Norte, pois na sua maior parte encontravam-se no Hemisfério Norte. Os subdesenvolvidos,
localizados majoritariamente no Hemisfério Sul, ficaram conhecidos como países do Sul.
Mais recentemente, com a expansão e a internacionalização dos mercados, os países foram divididos
em países centrais, mercados emergentes (ou semiperiféricos) e países periféricos.
Em parte dos países em desenvolvimento (Brasil, México e Argentina), o processo de industrialização
apoiou-se no modelo de substituição de importações, que incluía a proteção do mercado interno, a
proibição da entrada de manufaturados estrangeiros e o fortalecimento de indústrias locais (nacionais e
transnacionais).
Outros países, como os que compõem os Tigres Asiáticos, industrializaram-se a partir do modelo de
plataformas de exportação, no qual empresas transnacionais se instalam em determinado país e
passam a exportar sua produção para outros países, onde o produto final é montado.

Mudanças nos Padrões de Divisão Internacional do Trabalho


Desde o final do século XX têm ocorrido algumas mudanças nos padrões da divisão da produção e do
comércio internacional, com o crescimento da participação dos países em desenvolvimento nas
exportações de manufaturados.
No início do século XX, diversos países subdesenvolvidos, incluindo o Brasil, eram predominantemente
agroexportadores. Na tradicional divisão internacional do trabalho essas economias estavam
assentadas principalmente na exportação de matérias primas ou produtos primários (agropecuários,
extrativos, minerais) para os países ricos. Por outro lado, os países subdesenvolvidos recebiam dos
países desenvolvidos produtos do setor secundário (industrializados) e do setor terciário (comércio,
capital, tecnologia). Os produtos exportados pelos países subdesenvolvidos tinham menor valor que os
exportados pelos países desenvolvidos. Na produção industrial e tecnológica estão os produtos de maior
valor agregado, ou seja, com maior quantidade de riqueza incorporada.
Desde as últimas décadas do século XX, os países em desenvolvimento têm encontrado algumas
brechas para produzir e colocar produtos manufaturados no comércio mundial. No entanto, em grande
parte, ainda exportam produtos que agregam apenas tecnologia tradicional.
O êxito no mercado internacional, com entrada significativa de divisas, não ocorre apenas para
produção e exportação de grande volume de mercadorias. O que importa mais é o valor agregado à
mercadoria. No caso, os países desenvolvidos agregam alta tecnologia.
A maior parte do aumento da participação dos países em desenvolvimento no mercado de bens
manufaturados provém da Ásia Oriental e do Pacífico.
Somente um pequeno grupo de países participa das exportações de alta e média tecnologia (China e
Taiwan, Coreia do Sul, Malásia, Cingapura, Índia, além do México, na América Latina).
O mesmo acontece com as exportações de manufaturados com utilização de baixa tecnologia, nas
quais se destacam China, Taiwan, Coreia do Sul, México e índia.
Outros fatores como o custo dos transportes a distância entre os mercados mundiais influem no
comércio.

Nova Divisão Internacional do Trabalho


Atualmente, tem-se estabelecido entre os países uma nova divisão internacional do trabalho,
destacando-se três grupos de países: os industrializados centrais, os industrializados semiperiféricos e
as economias periféricas, predominantemente agroexportadoras.
Os países industrializados centrais iniciaram sua industrialização ainda no século XIX, formando
uma indústria nacional e consolidando um mercado interno. Atualmente fabricam e exportam produtos da
indústria de ponta (informática, aeroespacial e outras), os quais agregam alta tecnologia.
Podemos citar como exemplos os Estados Unidos, alguns países da Europa Ocidental (Alemanha,
França, Reino Unido, Itália, Holanda, Bélgica, Suíça e Suécia), Japão e Canadá.
O grupo das sete nações mais industrializadas (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália,
Reino Unido e Canadá) é conhecido como G-7. Em alguns casos a Rússia integra esse grupo, que passa
a ser denominado G-8.

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Os países industrializados semiperiféricos formam um grupo muito diversificado e a maior parte
tem pouca porcentagem de participação nas exportações de produtos manufaturados.
Além das áreas centrais da Europa, outros países europeus (como Polônia, Espanha, Portugal e
Grécia) ou ex-colônias europeias (Austrália, Nova Zelândia, África do Sul) funcionam como espaços de
produção industrial anexos dos países centrais.
Alguns países da Comunidade de Estados Independentes (CEI), como Rússia, Cazaquistão, Belarus
e Ucrânia, tentam se reorganizar industrialmente após o abandono do regime socialista.
Também fazem parte desse grupo países da América Latina, como México, Brasil e Argentina, que
fabricam e exportam produtos industrializados utilizando principalmente baixa e média tecnologia, mas
também exportam produtos agrícolas, matérias-primas minerais e vegetais.
Os países semiperiféricos da Ásia têm aumentado sua participação nas exportações mundiais,
representando 31,5% do total em 2010, ano em que a China ultrapassou os Estados Unidos tornando-se
a primeira potência comercial do mundo. Os Tigres Asiáticos constituíram uma indústria nacional voltada
para o mercado internacional, abastecendo-o com produtos de tecnologia avançada (computadores,
automóveis e aparelhos eletrônicos). Investimentos em educação produziram uma mão de obra
qualificada, embora barata.
Os Novos Tigres Asiáticos, conjunto formado por Malásia, Indonésia, Filipinas e Tailândia, procuram
aumentar sua produção e exportação de manufaturados. Esses países se industrializaram na década de
1970, na mesma época da industrialização de Chile, Egito, Turquia, Ilhas Maurício, Venezuela, Colômbia,
Peru, Argélia e Marrocos.
Entre os países semiperiféricos, os exportadores mais dinâmicos, que respondem por até 80% das
exportações dos países em desenvolvimento, de baixa, média e alta tecnologia, são apenas sete: China,
Coreia do Sul, Malásia, Cingapura, Taiwan, México e Índia.
A China e a Índia, economias que têm crescido muito, integram-se ao esquema de produção e
comercialização fabricando, entre outros, partes de componentes para computadores ou carros.
Contando com um terço da população mundial e com grandes taxas de crescimento econômico, apesar
de apresentarem grandes problemas sociais, uma aliança entre essas duas potências emergentes
poderia redefinir o poder mundial.
Especialistas do mundo dos negócios dizem que no final da primeira metade do século XXI será
impossível ignorar a sigla Brics – iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa).
Inicialmente, os quatro primeiros países constituíram o Bric, um grupo de cooperação que realizava
reuniões anuais com o objetivo de aumentar sua importância geopolítica no cenário mundial. Em 2011, a
África do Sul foi formalmente incluída no grupo, por apresentar desenvolvimento similar. Esses países
são considerados a elite dos mercados emergentes com crescente importância na economia global.
Segundo prognósticos, esses cinco países deverão estar entre as maiores economias do planeta,
desbancando potências como o Japão e a Alemanha.
Os países de fraca industrialização (ou periféricos) constituem-se de parte dos países asiáticos,
parte dos latino-americanos e a maioria dos africanos. Contando com pouca industrialização e tendo por
base uma economia agroexportadora, participam marginalmente do mercado mundial, fornecendo
principalmente produtos primários.
Na África, destacam-se as exportações de cacau (Costa do Marfim), de tabaco (Zimbábue) e de
minérios, como o diamante (Botsuana e Namíbia) e o cobre (Zâmbia e Namíbia). Na América Central e
América do Sul, Jamaica e Suriname exportam bauxita; a Bolívia, gás natural; e o Chile, cobre. Na Ásia,
o Sri Lanka depende das exportações de chá.
As cotações das commodities (mercadorias em estado bruto ou produtos primários) são fixadas pelos
países ricos, sendo constantemente depreciadas. Além disso, os países ricos mantêm um conjunto de
barreiras protecionistas e de subsídios agrícolas, desfavorecendo ainda mais os países periféricos.

Interesses Econômicos e Comércio Internacional


Pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial, a Conferência de Bretton Woods, realizada em 1944
nos Estados Unidos, estabeleceu novas regras financeiras e comerciais mundiais. O sistema monetário
internacional utilizava o padrão-ouro para definir o valor das moedas a partir do peso do ouro ou
equivalente (1870-1914). A substituição do padrão-ouro pelo padrão dólar-ouro (1944-1971), definido
na Conferência de Bretton Woods, fez do dólar dos Estados Unidos a principal moeda internacional,
assegurando seu predomínio nos bancos centrais dos países e no comércio mundial. Os Estados Unidos
se comprometiam a trocar, sempre que necessário, dólares por ouro.
Cada país era obrigado a declarar o valor de sua moeda em dólar e em ouro para o Fundo Monetário
Internacional (FMI), um dos organismos criados nessa conferência, que tinha a função de garantir a

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estabilidade do sistema financeiro para favorecer a expansão e o desenvolvimento do comércio mundial.
Posteriormente esse organismo passou a supervisionar as dívidas externas dos países.
Como resultado da Conferência de Bretton Woods foi criado também o Banco Mundial, em 1945, que
financiou a reconstrução da Europa no pós-guerra. Atualmente realiza empréstimos para países
periféricos ou semiperiféricos. Uma das principais instituições que compõem o Banco Mundial é o Banco
Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (Bird).
Na fase da globalização financeira, déficits na balança de pagamentos dos Estados Unidos levaram o
país a declarar, em 1971, que não mais converteriam dólar em ouro. Em 1979, foi estabelecido o padrão
financeiro de câmbio flutuante, adotando-se o sistema de taxas de câmbio flutuantes entre divisas.
Dessa maneira, abriu-se o caminho para os programas de reajuste estrutural, impostos pelo FMI aos
países periféricos, e para a liberalização do comércio externo. Os países subdesenvolvidos obtiveram
permissão para contrair empréstimos junto ao FMI. Assim, ao final de 2003, os países em
desenvolvimento tinham uma dívida de mais de 2,5 bilhões de dólares oprimindo-os e impedindo-lhes o
desenvolvimento.
Muitas dívidas, contraídas em períodos de ditaduras, foram consideradas “odiosas” por alguns
economistas e organizações, pois não serviam aos interesses do povo. Mesmo o pagamento de enormes
quantias tem sido insuficiente para quitar parte dessa dívida externa diante dos altos encargos de juros e
dos serviços da dívida (reembolso anual de capital e interesses vencidos). Estima-se que a África
Subsaariana pagou duas vezes o montante de sua dívida externa, entre 1980 e 1996, mas encontra-se
três vezes mais endividada. Sendo assim, os países pobres passam a depender de mais empréstimos de
instituições como o FMI e o Banco Mundial para manter esse círculo vicioso, submetendo-se às
imposições de ajustes estruturais.
Outro organismo que estabelece regras para o comércio internacional, visando diminuir barreiras
comerciais, é a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em 1995 em substituição ao Acordo
Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), de 1947. Em diversas negociações, esse organismo tem favorecido
os países mais industrializados, como entre 1986 e 1994, na Rodada do Uruguai; em 1999, na Rodada
do Milênio; e, em 2001, na Rodada de Doha.
De fato, a taxa de abertura econômica dos países mais ricos – 13,5% para os Estados Unidos e Japão,
e 14,3% para os da União Europeia – é muito inferior à dos países mais pobres (cerca de 30%). Isso se
deve ao fato de que a pressão da União Europeia e dos Estados Unidos foi maior para exportar seus
produtos industriais e serviços a taxas aduaneiras mais baixas do que a diminuição de subvenções e
créditos protecionistas aos seus produtos agrícolas. Esse fato acentuou ainda mais a desigualdade de
condições dos países no comércio mundial.
Por causa dessas dificuldades, outras organizações exercem um poder político importante no contexto
internacional. Esse é o caso da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o
Desenvolvimento (Unctad), que desde 1964 presta auxílio técnico aos países em desenvolvimento para
a integração no comércio mundial. Por considerar discriminatórias as políticas da OMC, esses países
apoiam-se na Unctad para negociar com os países ricos.
A organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) também é um bom exemplo de
organização paralela de defesa de interesses.

Fluxos do Comércio Internacional


Desde as duas últimas décadas do século XX, o comércio internacional tem apresentando crescimento
acelerado, ciclo que foi momentaneamente interrompido com a crise financeira dos Estados Unidos, no
final de 2008.
O mercado imobiliário americano passou por uma fase de expansão acelerada desde 2001, estimulado
pela queda gradativa de juros e incorporação de segmentos da sociedade de renda mais baixa e com
dificuldade de comprovar sua capacidade de pagamento de débitos. Esses negócios estimularam o
mercado de títulos de maior risco até gerar uma reação em cadeia de inadimplência que quebrou o
mercado de créditos imobiliários. Essa crise imobiliária provocou uma crise mais ampla no mercado
financeiro americano, afetando o desempenho da economia mundial.
Por causa dessa crise, as economias do mundo rico encolheram 3,2% em 2009 e cresceram, em
média, 2% em 2010. O desemprego também aumentou nesses países, atingindo patamares acima de
8%. Em contrapartida, no Bric, a crise teve um impacto menor.
Por sua vez, o comércio mundial encontra-se fortemente concentrado nos países mais ricos, e os
principais prejudicados da crise financeira foram os mais pobres. Segundo projeções do Banco Mundial,
o número de pessoas muito pobres será maior até 2020 do que poderia ser se o crescimento econômico
não tivesse diminuído desde 2008 e os programas sociais não tivessem sido afetadas.

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Questões

01. (PC/PI – Escrivão de Polícia Civil – UESPI) No início dos anos 1990, o mundo assistiu à
derrocada do chamado Bloco Socialista, comandado pela ex-União Soviética, tendo como consequência
o fim da Guerra Fria e o surgimento de uma Nova Ordem Mundial, que apresenta como características,
EXCETO,
(A) o controle do mercado mundial por grandes corporações transnacionais.
(B) aprofundamento da Globalização da economia e consolidação da tendência à formação de blocos
econômicos regionais.
(C) processos pacíficos de Fragmentação territorial sem ocorrência de conflitos étnicos, a exemplo da
ex-Iugoslávia.
(D) ampliação das desigualdades internacionais.
(E) a existência de uma realidade mais complexa, com múltiplas oposições ou tensões econômicas,
étnicas, religiosas, ambientais etc.

02. (Prefeitura de Martinópole/CE – Agente Administrativo – CONSULPAM) A nova economia


internacional possui elementos característicos onde os que se destacam são os que se referem ao quadro
geral determinado pela Globalização. Com isso podemos AFIRMAR que o atual cenário mundial é
assinalado pela:
(A) bipolaridade
(B) unimultipolaridade
(C) velha ordem mundial
(D) Nova Guerra Fria

03. (SEDU/ES – Professor de Geografia – CESPE) Com relação à geografia política mundial, julgue
o item a seguir.
A nova ordem mundial apresenta uma faceta geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, houve
uma mudança para um mundo multipolar, onde as potências impõem mais por seu poder econômico que
pelo poder bélico. Na economia, o que aconteceu foi o processo de globalização e a formação de blocos
econômicos supranacionais.
(....) Certo (....) Errado

04. (IF/SE – Analista – IF/SE) "Com a derrocada do socialismo real e da União Soviética, entre 1989
e 1991, surgiu uma nova ordem mundial que, a princípio, parecia ser unipolar, com uma única
superpotência, os Estados Unidos. Mas essa ideia parece ser aplicável somente a um breve período
transitório, pois o poderio estadunidense vem se enfraquecendo, em termos relativos (isto é, em
comparação com o crescimento da China, da Europa unificada, da Índia etc.)." Vesentini, Wiliam - 2009. Assinale
a afirmativa correta sobre os fatos da nova ordem mundial:
(A) O ponto fraco da União Europeia é o rápido envelhecimento e o baixo poder aquisitivo de sua
população.
(B) Apesar da crise na transição do socialismo real para a economia, a herdeira da Ex União Soviética,
Rússia, voltou a ser uma superpotência, apesar da fragilidade do setor de tecnologia de ponta.
(C) Uma das dificuldades para o Japão na formação de um Megabloco na Ásia é a desconfiança de
algumas importantes nações, como China e Coréia do Sul, que o consideram um país imperialista,
sobretudo pela brutalidade e pelo racismo demonstrado pelas tropas japonesas quando da ocupação de
seus territórios.
(D) A China atualmente é o Estado nacional que poderia ameaçar a hegemonia estadunidense, em
função do crescimento econômico e do regime político democrático.
(E) A Índia é outro país que vem se modernizando, e é favorecida pela abundância de recursos
minerais e ausência de problemas étnicos, sociais e político territoriais.

05. (IF/SP – Professor de Geografia – FUNDEP) O processo de mundialização da economia


capitalista inaugurou uma nova divisão internacional do trabalho porque
(A) a diversidade das plantas industriais, até então vigentes nas mais diferentes economias do planeta,
sofreram homogeneização, excluindo a complementaridade.
(B) a divisão do mundo em países produtores de bens industrializados e países unicamente produtores
de matérias-primas, quer agrícolas, quer minerais, já não bastava.

255
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
(C) a expansão industrial sobrepôs uma divisão horizontal à antiga divisão vertical do trabalho,
mediante eliminação de níveis de qualificação dentro de cada ramo industrial
(D) a indústria multinacional restringiu sua atuação aos mercados de países centrais e criou bases
produtivas adaptadas às necessidades de seus mercados nacionais.

06. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às
atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a
globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a
adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) o item subsequente.
Mundialização do capital ou globalização refletem a capacidade estratégica de grandes grupos
oligopolistas, voltados para a produção industrial ou para as principais atividades de serviços, em adotar,
por conta própria, enfoque e conduta globais.
(....) Certo (....) Errado
07. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às
atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a
globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a
adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) o item subsequente.
O princípio geográfico da localização, no mundo globalizado economicamente competitivo, é superado
pelos sistemas técnicos e de informação.
(....) Certo (....) Errado

08. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às
atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a
globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a
adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) o item subsequente.
No mundo globalizado, observa-se uma tendência de compartimentação generalizada dos territórios,
onde se associam e se chocam o movimento geral da sociedade do trabalho e o movimento particular de
cada fração espacial: do nacional ao regional e ao local.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.C/ 02.B / 03.Certo / 04.C / 05.B / 06.Certo / 07.Errado / 08. Certo

Comentários

01. Resposta: C
Com a crise do bloco socialista, no final dos anos 1980, uma nova fase se abriu para a história da
Iugoslávia. Em 1991, Croácia, Eslovênia e Macedônia declararam sua independência, sendo que apenas
esta última de maneira pacífica. A separação da Croácia e da Eslovênia foi acompanhada por intensos
conflitos militares liderados pelo então presidente sérvio Slobodan Milosevic. Em 1992, a Bósnia declarou
sua independência, passando a enfrentar militarmente a Croácia, em disputa por territórios, e sobretudo
a Sérvia, contrária ao movimento separatista de mais uma região iugoslava.

02. Resposta: B
Nova Ordem Mundial é a lógica internacional da ordem de poder entre os Estados nacionais no período
que sucede a Guerra Fria. A Nova Ordem Mundial é caracterizada pela UNIMULTIPOLARIDADE, uma
vez que temos a supremacia dos Estados Unidos no campo bélico e político, e a emergência de várias
potências no campo econômico: China, União Europeia, Japão e o próprio EUA.

03. Resposta: Certo


Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, a comunidade internacional passa por uma reformulação
das estruturas de poder e força entre os Estados Nacionais, gerando uma nova configuração geopolítica
e econômica que foi chamada de Nova Ordem Mundial. Uma das mudanças principais desse novo plano
geopolítico internacional foi o estabelecimento de uma multipolaridade, onde o poderio militar não era
mais o critério determinante de poder global de um Estado Nacional, perdendo lugar para o poderio

256
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econômico. Já a área econômica passa por um processo de globalização, gerando fluxos crescentes de
bens, serviços e capitais que perpassam as fronteiras nacionais. Além disso, a formação de blocos
econômicos supranacionais visam atender tanto os interesses de corporações transnacionais, que
almejam a eliminação das barreiras alfandegárias, como os Estados Nacionais que tentam garantir
algumas vantagens políticas.

04. Resposta: C
O Japão apesar de ser o mais rico da Ásia em outrora buscou seu domínio nos países do pacífico com
ocupações territoriais, principalmente durante a 2ª guerra, desde então os asiáticos não fecham em um
bloco econômico com receio de um novo domínio japonês, através da economia sobre eles.

05. Resposta: B
O processo de mundialização da economia capitalista monopolista teve como pressuposto básico a
necessidade de uma nova divisão internacional do trabalho. Já não bastava um mundo dividido em países
produtores de bens industrializados e países unicamente produtores de matérias-primas, quer agrícolas,
quer minerais. A mundialização da economia pressupõe uma descentralização da atividade industrial e
sua instalação e difusão por todo o mundo. Pressupõe também um outro nível de especialização dos
produtos oriundos dos diferentes países do mundo para o mercado internacional. Assim,
simultaneamente, a indústria multinacional implanta-se nos mercados existentes em todos os países
(através de filiais, fusões, associações, franquias etc.) e cria bases para a produção industrial adaptada
às necessidades desses mercados nacionais. Ao mesmo tempo, atua de forma a aprimorar a exploração
e a exportação das matérias-primas requeridas pelo mercado internacional. Esse processo de expansão
industrial sobrepôs uma divisão vertical à antiga divisão horizontal do trabalho. Agora combina-se a antiga
divisão por setores (primário: agrícola e mineiro, e secundário: industrial) em níveis de qualificação dentro
de cada ramo industrial.

06. Resposta: Certo


A globalização pode ser interpretada sob 4 linhas básicas:
1) Globalização como um período histórico;
2) Globalização como compressão do tempo e do espaço;
3) Globalização como hegemonia dos valores liberais; e
4) Globalização como fenômeno socioeconômico. Nesta concepção, François Chesnay, economista
da OCDE, entende que a globalização traduz a capacidade estratégica do grande grupo oligopolista em
adotar abordagem e conduta globais, relativas simultaneamente a mercados compradores, fontes de
aprovisionamento, localização da produção industrial e estratégias dos principais concorrentes.

07. Resposta: Errado


Apesar da maior integração e na diminuição do tempo e custo necessários para a circulação de
informações e mercadorias, o princípio geográfico da localização não foi superado. A rede global não
flutua no ar, ela se entrelaça em nós, em locais estratégicos dentre os quais é possível citar grandes
áreas de produção industrial, portos de redistribuição mundial como Singapura e Rotterdam, centros de
decisão como o Vale do Silício nos Estados Unidos, dentre outras. Também mostra como o princípio de
localização não foi superado a elevação de fenômenos de valorização regional, que crescem como
antinomia ao global. Um exemplo disso são os selos de origem regional europeus, que valorizam produtos
oriundos de regiões específicas por suas características únicas e exclusivas, como o Champanhe francês.

08. Resposta: Certo


Os territórios tendem a uma compartimentação generalizada, onde se associam e se chocam o
movimento geral da sociedade planetária e o movimento particular de cada fração, regional ou local, da
sociedade nacional. Esses movimentos são paralelos a um processo de fragmentação que rouba às
coletividades o comando do seu destino, enquanto os novos atores também não dispõem de instrumentos
de regulação que interessem à sociedade em seu conjunto.

257
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
4. A representação do espaço terrestre. 4.1. A evolução das representações
cartográficas e a introdução das novas tecnologias para o mapeamento, através
do sensoriamento remoto (fotografias aéreas e imagens de satélite) e dos
Sistemas de Posicionamento Terrestre (GPS). 4.2. As formas básicas de
representação do espaço terrestre e das distribuições dos fenômenos
geográficos (mapas, cartas, plantas e cartogramas). 4.3. Escalas,
reconhecimento e cálculo. 4.4. Sistema de coordenadas geográficas e a
orientação no espaço terrestre. 4.5. Projeções cartográficas. 4.6. Identificação
dos principais elementos de uma representação cartográfica, leitura e
interpretação de tabelas, gráficos, perfis, plantas, cartas, mapas e cartogramas

FUNDAMENTOS DE CARTOGRAFIA59

Cartografia

Observe a tirinha de Calvin e Haroldo.

Na tirinha acima, Calvin e Haroldo estão nos Estados Unidos e planejam ir a Yukon, um território
localizado no noroeste do Canadá. Para ir até lá, saindo do estado de Washington, por exemplo, é
necessário atravessar toda a província canadense da Colúmbia Britânica, ou seja, cerca de 1.500
quilômetros em linha reta, e bem mais que isso indo de carro. Eles consultaram um globo terrestre para
terem uma ideia da distância e do tempo de viagem.
Será que foi uma boa opção?

Situar-se no espaço geográfico sempre foi uma preocupação dos grupos humanos. Nos primórdios,
isso acontecia em virtude da necessidade de se deslocar para encontrar abrigo e alimentos. Com o passar
do tempo, as sociedades se tornaram mais complexas e surgiram muitas outras necessidades.
Isso explica a crescente importância da Cartografia.

Segundo a Associação Cartográfica Internacional (ACI), em definição estabelecida em 1966 e


ratificada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no
mesmo ano: “A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e
artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se
voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos,
elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização”.

Formas de Orientação

O ser humano sempre necessitou de referências para se orientar no espaço geográfico: um rio, um
morro, uma igreja, um edifício, à direita, à esquerda, acima, abaixo, etc.
Também por muito tempo se orientou pelo Sol e pelas estrelas. Mas, para ter referências um pouco
mais precisas, inventou os pontos cardeais e colaterais.

59
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

258
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Observe a imagem da Rosa dos ventos.

São pontos cardeais:


N → Norte;
E → Leste;
S → Sul;
W → Oeste

São pontos colaterais:


NE → Nordeste;
SE → Sudeste;
SW → Sudoeste;
NW → Noroeste

A Rosa dos Ventos possibilita encontrar a direção de qualquer ponto da linha do horizonte (numa
abrangência de 360º).
O nome foi criado no século XV por navegadores do mar Mediterrâneo em associação aos ventos que
impulsionavam suas embarcações.
A Rosa dos Ventos indica os pontos cardeais e colaterais e aparece no mostrador da bússola, que tem
uma agulha sempre apontando para o norte magnético. Observe a imagem.

O uso da Bússola associada à rosa dos ventos permite encontrar rumos em mapas, desde que ambos
estejam com direção norte apontada corretamente. Assim, o usuário pode encontrar os outros pontos
cardeais e colaterais, orientando-se no espaço geográfico.
A bússola foi inventada pelos chineses provavelmente no século I, porém só foi utilizada no século XIII
em embarcações venezianas. A partir do século XV, foi fundamental para orientar os marinheiros nas
Grandes Navegações.
Podemos perceber que quando uma pessoa está perdida em algum lugar, costuma-se dizer que ela
está “desnorteada”, ou seja, perdeu o norte ou “desorientada”, ou seja, perdeu o oriente.
Atualmente, com o avanço tecnológico, é muito mais preciso se orientar pelo GPS.

Orientação Pelo Sol


Um dos aspectos mais importantes para a utilização eficaz e satisfatória de um mapa diz respeito ao
sistema de orientação empregado por ele.

259
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
O verbo orientar está relacionado com a busca do Oriente, palavra de origem latina que significa
“nascente”. Assim, o “nascer” do sol, nessa posição, relaciona-se à direção (ou sentido) leste, ou seja, ao
Oriente.
Possivelmente, o emprego dessa convenção está ligado a um dos mais antigos métodos de orientação
conhecidos. Esse método se baseia em estendermos nossa mão direita (braço direito) na direção do
nascer do sol, apontando, assim, para a direção leste ou oriental; o braço esquerdo esticado,
consequentemente, se prolongará na direção oposta, oeste ou ocidental; e a nossa fronte estará voltada
para o norte, na direção setentrional ou boreal. Finalmente, as costas indicarão a direção do sul,
meridional, ou ainda, austral.
A representação dos pontos cardeais se faz por leste (E ou L); oeste (W ou O); norte (N); e sul (S). A
figura abaixo apresenta essa forma de orientação.

ATENÇÃO!
Deve-se tomar cuidado ao fazer uso dessa maneira de representação, já que, dependendo da posição
latitudinal do observador, nem sempre o Sol estará exatamente na direção leste.

Fusos Horários

Em razão do movimento de rotação da Terra, em um mesmo momento, diferentes pontos longitudinais


da superfície do planeta têm horários diversos.
Desde que foi criada uma forma de marcar o tempo, inicialmente com o relógio de Sol, cada localidade
adotava seu próprio horário. Com a invenção do relógio mecânico e o gradativo ganho de precisão,
lugares muito próximos em termo de longitude chegavam a apresentar diferenças de minutos em seus
horários.
No século XIX, com o desenvolvimento do transporte ferroviário e o consequente aumento da
circulação de pessoas e mercadorias, essas pequenas diferenças de horários entre localidades muito
próximas começaram a causar grandes transtornos. Para resolver esse problema, em um encontro da
Sociedade Geodésica Internacional, realizado em 1883 em Roma (Itália), foi decidida a criação de um
sistema internacional de marcação do tempo.
Para isso, foram definidos os fusos horários. Dividindo-se os 360 graus da esfera terrestre pelas 24
horas de duração aproximada do movimento de rotação60, resultam 15 graus.
Portanto, a cada 15 graus que a Terra gira, passa-se uma hora, e cada uma dessas 24 divisões recebe
o nome de Fuso Horário.
Em 1824, 25 países se reuniram na Conferência Internacional do Meridiano, realizada em Washington,
capital dos Estados Unidos. Nesse encontro ficou decidido que as localidades situadas num mesmo fuso
adotariam um único horário. Foi também acordado pela maioria dos delegados dos países participantes
que o meridiano que passa por Greenwich seria a linha de referência para definir as longitudes e acertar
os relógios em todo o planeta.
Para estabelecer os fusos horários, definiu-se o seguinte procedimento: o fuso de referência se
estende de 7º30’ para leste a 7º30’ para oeste do meridiano de Greenwich, o que totaliza uma faixa de
15 graus.
Portanto, a longitude na qual termina o fuso seguinte a leste é 22º30’E (e, para o fuso correspondente
a oeste, é 22º30’W). Somando continuamente 15º a essas longitudes, obteremos os limites teóricos dos
demais fusos do planeta.
As horas mudam, uma a uma, à medida que passamos de um fuso a outro. No entanto, como as linhas
que os delimitam atravessam várias unidades político-administrativas, os países fizeram adaptação
estabelecendo, assim, os limites práticos dos fusos.

60
O Movimento de Rotação consiste em uma volta completa da Terra em torno de seu eixo. Dura 23 horas, 56 minutos e 4 segundos.

260
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Nesses casos, os limites dos fusos coincidem com os limites políticos-administrativos, na tentativa de
manter, na medida do possível, um horário unificado num determinado território. A China, por exemplo,
apesar de ser cortada por três fusos teóricos, adotou apenas um horário (+8 h) para todo seu território.
Alguns poucos países utilizam um horário intermediário, como a Índia, que adota um fuso de +5 h 30
min em relação a Greenwich.
Observe abaixo o mapa-múndi com os fusos horários.

https://www.apolo11.com/tictoc/fuso_horario_mundial.php

Com a adoção dos limites práticos, em alguns territórios os fusos podem medir mais ou menos que os
tradicionais 15º, como se pode verificar no mapa acima.
Observe que as horas aumentam para leste e diminuem para oeste, a partir de qualquer referencial
adotado. Isso ocorre porque a Terra gira do oeste para o leste. Como o Sol nasce a leste, à medida que
nos deslocamos nessa direção, estamos indo para um local onde o Sol nasce antes e, portanto, as horas
estão “adiantadas” em relação ao local de onde partimos. Quando nos deslocamos para oeste, entretanto,
estamos nos dirigindo a um local onde o Sol nasce mais tarde e, portanto, as horas estão “atrasadas” em
relação ao nosso ponto de partida.
Além da mudança das horas, tornou-se necessário definir um meridiano para a mudança da data no
mundo. Na Conferência de 1884, ficou estabelecido que o meridiano 180º, conhecido como antimeridiano,
seria a Linha Internacional de Mudança de Data (ou simplesmente Linha de Data). Observe novamente
o mapa acima.
O fuso horário que tem essa linha como meridiano central tem uma única hora, como todos os outros,
entretanto em dois dias diferentes. A metade situada a oeste dessa linha estará sempre um dia adiante
em relação à metade a leste. Com isso, ao se atravessar a Linha de Data indo do leste para o oeste é
necessário aumentar um dia.
Por exemplo: Numa hipotética viagem de São Paulo (Brasil) para Tóquio (Japão) via Los Angeles
(Estados Unidos), um avião entrou no fuso horário da Linha de Data às 10 horas de um domingo.
Imediatamente após cruzar essa linha, ainda no mesmo fuso, continuarão sendo 10 horas, mas do dia
seguinte, uma segunda-feira.
Já na viagem de vota ocorrerá o contrário, pois essa será do oeste para o leste, e quando o avião
cruzar a Linha de Data deve-se diminuir um dia.
Esse exemplo pode causar certa estranheza, já que estamos acostumados a observar, no planisfério
centrado em Greenwich, o Japão situado a leste, mas como o planeta é esférico, podemos ir a esse país
voando para o oeste.
Como observamos no mapa de fusos horários, a partir do meridiano de Greenwich, as horas vão
aumentando para o leste e diminuindo para o oeste. Entretanto, diferentemente do que muitas vezes se
pensa, ao atravessar a Linha de Data indo para o leste deve-se diminuir um dia e, ao contrário, indo para
o oeste, aumentar um dia.

261
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
Assim como os meridianos que definem os fusos horários civis, a Linha Internacional de Mudança de
Data também adota limites práticos, caso contrário alguns países-arquipélago do Pacífico, como Kiribati,
teriam dois dias diferentes em seus territórios. Na metade do fuso localizada a leste da Linha Internacional
de Mudança de Data é domingo e na metade a oeste, segunda-feira.
Perceba que a referência aqui considerada foi a Linha de Data, assim a metade do fuso situada a leste
dela está a oeste em relação a Greenwich (portanto, no hemisfério ocidental), e a outra metade, situada
a oeste dela, está a leste do meridiano principal (no hemisfério oriental).

Lembre-se!
A definição dos pontos cardeais (e colaterais) depende sempre de um referencial.

Fusos Horários Brasileiros


No Brasil, até 1913 as cidades tinham sua própria hora. Por exemplo, segundo o Observatório
Nacional, “quando na Capital Federal, atual cidade do Rio de Janeiro, eram 12 horas, em Recife eram 12
h 33” e em Porto Alegre eram 11 h 28”.
Com o desenvolvimento dos transportes isso começou a provocar muita confusão, tornando-se
necessária a adoção de fusos horários.
Em 18 de junho de 1913, o então presidente Hermes da Fonseca sancionou um Decreto (nº 2.784)
criando quatro fusos horários no país, situação que perduro até 2008.
Apesar da adoção do fuso horário prático, dois estados brasileiros extensos, Pará e Amazonas,
permaneceram “cortados ao meio”.
Em 24 de abril de 2008, foi aprovada uma lei (nº 11.662) que eliminou o antigo fuso de -5 horas em
relação a Greenwich e reduziu a quantidade de fusos horários brasileiros para três.
O sudoeste do estado do Amazonas e todo o estado do Acre, que antes estavam no fuso -5 horas,
foram incorporados ao fuso -4 horas. O estado do Pará deixou de ter dois fusos horários e seu território
ficou inteiramente no fuso de -3 horas em relação a Greenwich.
No entanto, grande parte da população do Acre não ficou satisfeita com essa mudança, pois causava
transtornos em seu dia a dia. Por exemplo: de manhã, muitos estudantes e trabalhadores saíam de casa
com o céu ainda escuro. Por isso, num plebiscito realizado em 31 de outubro de 2010, mesmo dia em
que se voltou para presidente da República, a maioria da população decidiu pela volta do antigo fuso.
O eleitor acriano respondeu à seguinte pergunta: “Você é a favor da recente alteração do horário legal
promovida em se estado? ” Do total de eleitores, 56,9% responderam não, e com isso abriu-se a
possibilidade de tramitação de uma nova lei no Congresso Nacional, regulamentando o desejo da maioria
a população do Acre. Em 30 de outubro de 2013, foi aprovada a Lei nº 12.876, que revogou a legislação
de 2008 e reintroduziu o fuso -5 horas (essa mudança entrou em vigor em 10 de novembro de 2013).
Observe o mapa abaixo.

262
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Fusos Horários do Brasil61

Podemos observar no mapa que o estado do Acre e o sudoeste do estado do Amazonas voltaram a
fazer parte do quarto fuso brasileiro ( -5 horas em relação a Greenwich e -2 horas em relação ao horário
de Brasília, diferença que aumentava para 3 horas quando o horário de verão estava em vigor).

ATENÇÃO!

O atual presidente Jair Bolsonaro assinou, no dia 25 de Abril de 2019, o Decreto que acaba com o
horário de verão no Brasil. A justificativa foi que o fim do período aumentaria a produtividade do
trabalhador62.

No mapa pode-se observar que não houve mudança com o estado do Pará, que permanece
inteiramente no segundo fuso brasileiro (UTC63 -3 horas).
Quando o horário de verão ainda estava em vigência, a hora oficial do país se igualava ao horário do
nosso primeiro fuso, e o horário dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que estão no terceiro
fuso, igualava-se ao horário do Pará e dos estados da região Nordeste, localizados no segundo fuso.
O fuso UTC – 2 horas (em relação a Greenwich) é exclusivo de ilha oceânicas. O fuso UTC – 3 horas
corresponde ao horário de Brasília, a Hora Oficial do Brasil. O limite entre os fusos UTC -4 e -5 é uma
linha imaginária que se alonga do município de Tabatinga, no estado do Amazonas, até o município de
Porto Acre, no estado do Acre.

61
http://www.horalegalbrasil.mct.on.br/Fusbr.htm
62
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/04/25/bolsonaro-assina-decreto-que-acaba-com-o-horario-de-verao.ghtml
63
Sigla em inglês para Tempo Universal Coordenado, que é definido com base em relógios atômicos muito precisos. O fuso do meridiano de Greenwich é UTC
0.

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Questões

01. (UFF – Técnico de Laboratório – Geografia – UFF) A bússola é um instrumento de orientação.


É formada por uma agulha imantada que se apoia num eixo vertical. Essa agulha gira sobre um fundo
onde estão indicados os pontos de orientação. A ponta da agulha da bússola indica, aproximadamente,
a direção:
(A) sul;
(B) leste;
(C) norte;
(D) oeste;
(E) sudeste.

02. (SEDUC/RJ – Professor Docente I – CEPERJ) Se os alunos observarem diariamente o nascer e


o pôr do sol, perceberão a regularidade dos pontos de nascente e poente. Ficará fácil a determinação dos
pontos cardeais usando a seguinte convenção:
(A) O Norte é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Leste com
a mão direita e o Oeste com a mão esquerda, ficando o Sul às suas costas.
(B) O Sul é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Leste com a
mão direita e o Oeste com a mão esquerda, ficando o Norte às suas costas.
(C) O Norte é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Oeste com
a mão direita e o Leste com a mão esquerda, ficando o Norte às suas costas.
(D) O Leste é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Sul com a
mão direita e o Norte com a mão esquerda, ficando o Oeste às suas costas
(E) O Oeste é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Norte com
a mão direita e o Sul com a mão esquerda, ficando o Leste às suas costas.

03. (IBGE – Técnico em Informações de Geografia e Estatística – CESGRANRIO) No espaço aéreo


brasileiro, uma aeronave se desloca, em linha reta, de Palmas, no Tocantins, para Brasília, no Distrito
Federal.
De acordo com os pontos cardeais, essa aeronave descreve uma trajetória no sentido
(A) sul – norte
(B) leste – oeste
(C) norte – sul
(D) nordeste – sudoeste
(E) sudoeste – nordeste

04. (IBGE – Agente de Pesquisas e Mapeamento – CESGRANRIO) Um avião de pequeno porte se


desloca, em linha reta, do aeroporto internacional de Brasília, no Distrito Federal, em direção a Belém,
capital do estado do Pará.
Considerando a margem de diferença de menos de 1° de longitude entre essas duas cidades e os
pontos cardeais, a aeronave se deslocou no sentido
(A) Norte – Sul
(B) Sudeste – Nordeste
(C) Norte – Sudeste
(D) Sul – Norte
(E) Norte – Nordeste

Gabarito

01.C / 02.A / 03.C / 04.D

Comentários

01. Resposta: C
A agulha imantada da bússola aponta sempre para o norte magnético.

02. Resposta: A
Ao estendermos nossa mão direita (braço direito) na direção do nascer do sol, apontando, assim, para
a direção leste ou oriental; o braço esquerdo esticado, consequentemente, se prolongará na direção

264
1630374 E-book gerado especialmente para CRISTIANA FATIMA GONZAGA DA SILVA
oposta, oeste ou ocidental; e a nossa fronte estará voltada para o norte, na direção setentrional ou boreal.
Finalmente, as costas indicarão a direção do sul, meridional, ou ainda, austral. Observe a imagem:

03. Resposta: C
Para responder essa questão, deve-se ter em mente a localização de Palmas e Brasília no mapa do
Brasil. Observando o mapa, verifica-se que Palmas localiza-se ao norte de Brasília.
O avião sai de Tocantins (cima) que fica ao norte de Brasília (baixo), portanto a rota do avião que sai
do Norte é em direção ao sul de Tocantins, onde fica Brasília; assim, letra C - norte – sul.

04. Resposta: D
Para responder essa questão, é preciso ter em mente a localização de Brasília e de Belém no mapa
do Brasil. Levando em conta a margem de diferença de menos de 1º de longitude permitida pelo
examinador, percebe-se que Belém se encontra quase acima de Brasília. Nesse sentido, o deslocamento
de um avião de Brasília para Belém iria seguir o trajeto Sul para o Norte. Portanto, a letra correta é a D.

COORDENADAS GEOGRÁFICAS64

As coordenadas nos auxiliam na localização precisa de elementos no espaço geográfico. Elas podem
ser geográficas ou alfanuméricas65

Coordenadas Geográficas

O globo terrestre pode ser dividido por uma rede de linhas imaginárias que permitem localizar
qualquer ponto em sua superfície. Essas linhas determinam dois tipos de coordenada: a latitude e a
longitude, que em conjunto são chamadas de coordenadas geográficas. Num plano cartesiano
matemático, a localização de um ponto é determinada pelo cruzamento das coordenadas x e y. Numa
esfera, o processo é semelhante, mas as coordenadas são medidas em graus.
As coordenadas geográficas funcionam como “endereços” de qualquer localidade do planeta. O
equador corresponde ao círculo máximo da esfera, traçado num plano perpendicular ao eixo terrestre, e
determina a divisão do globo em dois hemisférios (do grego hemi, “metade”, e sphaera, “esfera”): o norte
e o sul. A partir do equador, podemos traçar círculos paralelos que, à medida que se afastam para o norte
ou para o sul, diminuem de diâmetro. A latitude é a distância em graus desses círculos, chamados
paralelos, em relação ao equador, e varia de 0º a 90º tanto para o norte (N) quanto para o sul (S).
O trópico de Câncer e o trópico de Capricórnio são linhas imaginárias situadas à latitude aproximada
de 23º N e de 23º S, respectivamente. Os círculos polares também são linhas imaginárias, situadas à
latitude aproximada de 66º N e de 66ºS.

64
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.
65
As coordenadas alfanuméricas são utilizadas para localizar algo em um mapa ou em uma planta. Elas não são tão precisas como as coordenadas geográficas,
mas auxiliam na localização de elementos da paisagem, como uma rua, uma praça, um teatro, uma estação de trem ou ônibus, na planta de uma cidade.

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https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/latitudes-longitudes.htm

Conhecer apenas a latitude de um ponto, porém, não é suficiente para localiza-lo. Ao procurar-se, por
exemplo, um ponto a 20º ao sul do equador, se encontrará não apenas um, mas inúmeros pontos situados
ao longo do paralelo 20ºS. Por isso, é necessária uma segunda coordenada que permita-se localizar um
determinado ponto.
Para determinar a segunda coordenada, a longitude, foram traçadas linhas que cruzam os paralelos
perpendicularmente. Essas linhas, que também cruzam o equador, são denominadas meridianos (do
latim meridiánus, “de meio-dia, relativo ao meio-dia”). Os meridianos são semicircunferências que têm o
mesmo tamanho e convergem para os polos.
Como referência, convencionou-se internacionalmente adotar como meridiano 0º o que passa pelo
Observatório Real de Greenwich, nas proximidades de Londres (Inglaterra), e o meridiano oposto, a 180º,
foi chamado de “antimeridiano”.
Esses meridianos dividem a Terra em dois hemisférios: ocidental, a oeste de Greenwich, e oriental, a
leste. Assim, os demais meridianos podem ser identificados por sua distância, medida em graus, ao
meridiano de Greenwich. Essa distância é a longitude e varia e 0º a 180º tanto para leste (E) quanto para
oeste (W).

Grade de paralelos e meridianos (coordenadas geográficas)66

Se procurarmos, por exemplo, um ponto de coordenadas 51ºN e 0º, será fácil encontrá-lo: estará no
cruzamento do paralelo 51ºN com o meridiano 0º. Consultando um mapa, verificaremos que este ponto
está muito próximo do Observatório de Greenwich, na Inglaterra.
Para localizar com exatidão um ponto no território, indicam-se as medidas em graus (º), minutos (’) e
segundos (’’). As coordenadas geográficas do Observatório de Greenwich, por exemplo, são 51º28’38’’N
e 0º00’00”. Perceba que sem a latitude é possível identificarmos o meridiano de Greenwich, mas não o
observatório inglês que foi utilizado como referência para a definição do meridiano zero.

66
https://escolakids.uol.com.br/geografia/paralelos-e-meridianos.htm

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Movimentos da Terra e Estações do Ano

Não se sabe exatamente quando o ser humano descobriu que a Terra é esférica, mas sabe-se que
Eratóstenes (276 a.C. – 194 a.C.), astrônomo e matemático grego, foi o primeiro a calcular, há mais de
2 mil anos, com precisão, a circunferência do planeta. A diferença entre a circunferência calculada por
Eratóstenes (40.000 quilômetros) e a determinada hoje, com o auxílio de métodos muito mais precisos
(40.075 quilômetros, no equador), como se vê, é bem pequena.
A esfericidade do planeta é responsável pela existência das diferentes zonas climáticas (polares,
temperadas e tropicais), pois os raios solares atingem a Terra com diferentes inclinações e intensidades.
Próximo ao equador, os raios solares incidem perpendicularmente sobre a superfície, porém, quanto mais
nos afastamos dessa linha, mais inclinada é essa incidência. Consequentemente, a mesma quantidade
de energia se distribui por uma área cada vez maior, diminuindo, portanto, sua intensidade. Esse fato
torna as temperaturas progressivamente mais baixas à medida que nos aproximamos dos polos.
O eixo da Terra é inclinado em relação ao plano de sua órbita ao redor do Sol (movimento de
translação). Uma consequência desse fato é a ocorrência das estações do ano.
Em 21 ou 22 de dezembro (a data e a hora de início das estações variam de um ano para outro), o
hemisfério sul recebe os raios solares perpendicularmente ao trópico de Capricórnio; dizemos, então, que
está ocorrendo o solstício de verão.
O solstício (do latim solstitium, “Sol estacionário”) define o momento do ano em que os raios solares
incidem perpendicularmente ao trópico de Capricórnio, dando início ao verão no hemisfério sul. Depois
de incidir nessa posição, parecendo estacionar por um momento, o Sol inicia seu movimento aparente
em direção ao norte. Esse mesmo instante marca o solstício de inverno no hemisfério norte, onde os
raios estão incidindo com inclinação máxima.
Seis meses mais tarde, em 20 ou 21 de junho, quando metade do movimento de translação já se
completou, as posições se invertem: o trópico de Câncer passa a receber os raios solares
perpendicularmente (solstício de verão), dando início ao verão no hemisfério norte e ao inverno no
hemisfério sul.
Em 20 ou 21 de março e em 22 ou 23 de setembro, os raios solares incidem sobre a superfície terrestre
perpendicularmente ao equador. Dizemos então que estão ocorrendo os equinócios (do latim
aequinoctium, “igualdade dos dias e das noites”), ou seja, os hemisférios estão iluminados por igual. No
mês de março iniciam-se o outono no hemisfério sul e a primavera no hemisfério norte; no mês de
setembro, o inverso (primavera no sul e outono no norte).
O dia e a hora do início dos solstícios e dos equinócios mudam de um ano para outro;
consequentemente, a duração de cada estação também varia.
Em virtude da inclinação do eixo terrestre, os raios solares só incidem perpendicularmente em pontos
localizados entre os trópicos (a chamada zona tropical), que, por isso, apresentam temperaturas mais
elevadas. Nas zonas temperadas (entre os trópicos e os círculos polares) e nas zonas polares, o Sol
nunca fica a pino, porque os raios sempre incidem obliquamente.
Outra consequência da inclinação, associada ao movimento de rotação da Terra, é a duração
desigual do dia e da noite ao longo do ano. Nos dois dias de equinócio, quando os raios solares incidem
perpendicularmente ao equador, o dia e a noite têm 12 horas de duração em todo o planeta, com exceção
dos polos, que têm 24 horas de crepúsculo67.
Quando é dia de solstício de verão em um hemisfério, ocorrem o dia mais longo e a noite mais curta
do ano nessa metade da Terra; no mesmo momento, no outro hemisfério, sob o solstício de inverno,
acontecem a noite mais longa e o dia mais curto.
No equador não há variação no fotoperíodo68, mas à medida que nos afastamos dele, essa diferença
aparece. Conforme aumenta a latitude, tanto para o norte como para o sul, os dias ficam mais longos no
verão e mais curtos no inverno.

Representações Cartográficas, Escalas e Projeções

Para localizar um determinado lugar é importante utilizar a representação e a escala mais adequadas.
Por exemplo, para encontrar uma rota de viagem por terra, o ideal é utilizar um mapa rodoviário, e não o
mapa-múndi ou o globo, como fizeram Calvin e Haroldo no quadrinho acima.
O globo terrestre é feito numa escala muito pequena, ou seja, os elementos representados nele são
muito reduzidos. Por isso, o lugar para onde Calvin e Haroldo pretendiam ir lhes pareceu perto.

67
Crepúsculo é a claridade no céu entre o fim da noite e o nascer do sol ou entre o pôr do sol e a chegada da noite.
68
Fotoperíodo é o período em que um ponto qualquer da superfície terrestre fica exposto à incidência dos raios solares.

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Imagine quantas vezes o planeta Terra e os elementos sociais e naturais que o compõem foram
reduzidos para caber num globo como o que eles consultaram ou num planisfério do tamanho de uma
folha. O uso da escala adequada é fundamental para a localização exata do local procurado.
O globo terrestre, embora mantenha as características do planeta em termos de formas e distâncias,
tem utilização prática reduzida: é difícil transportá-lo em viagens ou fazer medidas em sua superfície. Por
isso, os cartógrafos inventaram projeções que permitem representar o planeta esférico numa superfície
plana.
O problema é que qualquer projeção provoca algum tipo de distorção. Por que isso ocorre?
Em um planeta esférico em movimento no espaço sideral não existe acima nem abaixo. No entanto, a
maioria dos mapas impressos apresenta o norte na parte de “cima” da representação.
Por que quase sempre vemos o hemisfério norte em destaque nos mapas? Podemos, em vez disso,
mostrar o hemisfério sul em destaque? Ou mesmo o leste ou o oeste? Vejamos abaixo.

Representação Cartográfica

Evolução Tecnológica
A observação da paisagem é o primeiro procedimento para a compreensão do espaço geográfico,
seguido do registro do que foi observado, daí a importância do mapa.
Em um mapa, os elementos que compõem o espaço geográfico são representados por pontos, linhas,
texturas, cores e textos, ou seja, são usados símbolos próprios da Cartografia. Diante da complexidade
do espaço geográfico, algumas informações são sempre priorizadas em detrimento de outras. Seria
impossível representar todos os elementos, físicos, econômicos, humanos e políticos, num único mapa.
Seu objetivo fundamental é permitir o registro e a localização dos elementos cartografados e facilitar a
orientação no espaço geográfico. Portanto, qualquer mapa será sempre uma simplificação da realidade
para atender ao interesse do usuário.
Além das coordenadas geográficas ou alfanuméricas (localização) e da indicação dos pontos
cardeais (orientação) um mapa precisa ter:
→ Título: informa os fenômenos representados;
→ Legenda: mostra o significado dos símbolos utilizados;
→ Escala: indica a proporção entre a representação e a realidade, e permite calcular as distâncias no
terreno com base em medidas feitas no mapa.
O mapa é uma das mais antigas formas gráficas de comunicação, precedendo mesmo a própria
escrita. Os primeiros mapas foram esculpidos em pedra ou argila. O mais antigo que se tem registro é o
mapa de Ga-Sur. Ele foi encontrado em 1930 nas ruínas dessa cidade, situada a cerca de 300 quilômetros
ao norte da antiga Babilônia. Ele é um esboço rústico esculpido num pedaço de argila cozida. Estima-se
que esse mapa tenha sido feito por volta de 2500 a.C. na Mesopotâmia, pelos sumérios. Observe abaixo
esse mapa e uma interpretação dele.

http://www.servicemap.com.br/historia-da-cartografia.php

Com o tempo, os mapas passaram a ser desenhados em tecido, couro, pergaminho ou papiro. Com a
invenção da imprensa, começaram a ser gravados em originais de pedra ou metal e, em seguida,

268
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impressos em papel. Hoje, são processados em computador e podem ser analisados diretamente na tela
digital.
O aprimoramento dos satélites e dos computadores permitiu grandes avanços nas técnicas de coleta,
processamento, armazenamento e representação de informações da superfície terrestre, causando
grande impacto nos processos de elaboração de mapas e nos conceitos de Cartografia.

Tipos de Produtos Cartográficos


Os mapas podem ser classificados em topográficos (ou de base) e temáticos. Num mapa
topográfico, representa-se a superfície terrestre o mais próximo possível da realidade, dentro das
limitações impostas pela escala pequena. Na carta topográfica, feita em escala média ou grande, há
mais precisão entre a representação e a realidade.
Na carta topográfica, as variáveis da superfície da Terra são representadas com maior grau de
detalhamento e a localização é mais precisa. Isso torna possível identificar a posição planimétrica, que
é a representação de fenômenos geográficos no plano, na horizontal, e a altimétrica, que é a
representação vertical, altitude do relevo, de alguns elementos visíveis do espaço. Mapas e cartas
topográficas são resultantes de levantamentos sistemáticos69 feitos por órgãos governamentais ou
empresas privadas. Os mapas topográficos servem de base para os mapas temáticos.
Um mapa temático contém informações selecionadas sobre determinado fenômeno ou tema do
espaço geográfico: naturais, como geologia, relevo, vegetação, clima, etc., ou sociais, como população,
agricultura, indústrias, urbanização, etc.
Nesse tipo de mapa, a precisão planimétrica ou altimétrica tem importância menor, as representações
quantitativa e qualitativa dos temas selecionados são mais relevantes.

Escala e Representação Cartográfica

Inicialmente é importante fazer uma distinção entre escala geográfica e escala cartográfica. A
primeira define a escala da análise geográfica, o recorte espacial, ou seja, local, regional, nacional ou
mundial.
A segunda define a escala de representação, ou seja, indica a relação entre o tamanho dos objetos
representados na planta, carta ou mapa e o tamanho deles na realidade.
Ao estudarmos a escala cartográfica e suas relações matemáticas, vamos perceber sua permanente
relação com a escala geográfica. Por exemplo, a análise de fenômenos locais necessita de plantas em
escala grande, já análise de fenômenos mundiais exige mapas em escala pequena. Ou seja, quanto maior
a escala de análise geográfica, menor a escala cartográfica, e vice-versa.
É impossível encontrar uma rua de qualquer cidade brasileira em um mapa-múndi ou no mapa político
do Brasil. A escala utilizada nessa representação – 1:34000000 – é pequena; nela 1 cm equivale a 340
quilômetros e até mesmo uma metrópole se tora apenas um ponto.
Para representar uma rua, é preciso usar uma escala grande, na qual seja possível visualizar os
quarteirões, como a de 1:10000. Perceba que, dependendo da escala utilizada, um mesmo fenômeno
espacial, pode ser representado como ponto ou como área.

Representação Cartográfica
O uso de planta, carta ou mapa está diretamente associado à necessidade do usuário. Se uma pessoa
tem a intenção de:
→ Procurar uma rua, a opção será por uma planta da cidade, na escala grande – cerca de 1:10000;
→ Localizar os bairros do entorno, deverá utilizar a carta da cidade, na escala média – cerca de
1:50000;
→ Identificar as cidades vizinhas, deverá consultar um mapa do estado, na escala pequena –
1:1000000.
Conforme a escala vai gradativamente ficando menor, ocorre um aumento da área representada e uma
diminuição do grau de detalhamento dos elementos cartografados.
Nessas representações cartográficas não há legenda porque o objetivo é apenas destacar as
diferentes escalas.

69
Levantamento sistemático é o conjunto de medidas planimétricas e altimétrica precisas de uma parte da superfície terrestre que atendem a uma série de regras
fixas, como a precisão da escala, do traçado das coordenadas e das curvas de nível.

269
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Globo

https://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem_de_sat%C3%A9lite

Representação cartográfica sobre uma superfície esférica, em escala pequena, dos aspectos naturais
e artificiais de uma figura planetária, com finalidade cultural e ilustrativa.

Mapa e suas Características


Representação plana;
Geralmente em escala pequena;
Área delimitada por acidentes naturais (bacias, planaltos, chapadas, etc.), limites político-
administrativos;
Destinado a fins temáticos, culturais ou ilustrativos.
A partir dessas características pode-se generalizar o conceito:
“Mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos,
naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada por
elementos físicos, político-administrativos, destinada aos mais variados usos temáticos, culturais e
ilustrativos”.

Carta e suas Características


Representação plana;
Escala média ou grande;
Desdobramento em folhas articuladas de maneira sistemática;
Limites das folhas constituídos por linhas convencionais;
Destinada à avaliação precisa de direções e distâncias e à localização de pontos, áreas e detalhes.
Da mesma forma que da conceituação de mapa, pode-se generalizar:
“Carta é a representação no plano, em escala média ou grande, dos aspectos superficiais e naturais
de uma área tomada de uma superfície planetária, subdividida em folhas delimitas por linhas
convencionais, paralelos e meridianos, com a finalidade de possibilitar a avaliação de pormenores, com
grau de precisão compatível com a escala”.

Planta
A planta é um caso particular de carta. A representação se restringe a uma área muito limitada e a
escala é grande, consequentemente o número de detalhes é bem maior.
“Carta que representa uma área de extensão suficientemente restrita para que a sua curvatura não
precise ser levada em consideração, e que, em consequência, a escala possa ser considerada constante”.

Usando a Escala

Vamos desenvolver um exemplo de como a escala pode ser usada. Considere as seguintes
convenções:
Escala = 1/N
N = Denominador da escala
D = Distância na superfície terrestre
d = Distância no documento cartográfico

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Suponhamos o seguinte problema:
Um motorista, vindo pela BR-376, após entrar na BR-101, percorrerá que distância até cruzar o
oleoduto da Petrobras? Na carta apresentada, essa distância mede cerca de 8 centímetros.
Temos:
Escala da carta = 1/50000 (N = 50000), pode-se ler também 1:50000 (um por cinquenta mil).
Logo, 1 centímetro na carta equivale a 50000 centímetros ou 500 metros ou ainda 0,5 quilômetro na
superfície terrestre.
Assim, temos o denominador da escala já convertido para quilômetro, a distância na carta e queremos
saber a distância na superfície terrestre.

N = 0,5 km
d = 8 cm
D=?

Aplicando uma regra de três simples:

1 cm – 0,5 km
8 cm – D
D = 8 x 0,5
D = 4 km

Portanto:

D=dxN

A resposta do problema: A distância a ser percorrida pelo motorista é de 4 quilômetros.


Agora vamos supor que temos a distância na superfície terrestre, o denominador da escala e queremos
encontrar a distância na carta:

D = 4 km
N = 0,5 km
d=?
1 cm – 0,5 km
d – 4 km
d x 0,5 = 1 x 4
d = 4/0,5
d = 8 cm

Portanto:

d = D/N

Finalmente, supondo que temos a distância na superfície terrestre e na carta e queremos saber o
denominador da escala:

D = 4 km
d = 8 cm
Escala = ?
1 cm – N
8 cm – 4 km
Nx8=1x4
N = 4/8
N = 0,5 km (que equivale a 50000 cm)
Escala = 1/N
Escala = 1/50000 ou 1: 50000

Portanto:

N = D/d

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Uma escala pode ser expressa de duas formas:

Numérica

1:50000

Gráfica

Em alguns mapas, abaixo da escala (numérica ou gráfica) ainda há um lembrete, por exemplo: “1 cm
no mapa corresponde a 0,5 quilômetros no terreno”.

Para medir em uma carta ou mapa a extensão de linhas sinuosas, como rodovias, ferrovias, rios, etc.,
utiliza-se um curvímetro, como aparece na foto abaixo.

Não dispondo desse aparelho, um modo prático de fazer medidas, embora não muito preciso, é
estender um barbante sobre o traço de, por exemplo, uma rodovia, medi-lo com uma régua e,
considerando a escala, fazer o cálculo da distância; ou então, se houver escala gráfica, estica-lo
diretamente sobre ela.

Projeções Cartográficas

Uma projeção cartográfica é o resultado de um conjunto de operações que permite representar no


plano, tendo como referência paralelos e meridianos, os fenômenos que estão dispostos na superfície
esférica. Quando vista do espaço sideral, a Terra parece ser uma esfera perfeita, mas nosso planeta
apresenta uma superfície irregular e é levemente achatado nos polos. Por isso, os cartógrafos geógrafos
e outros profissionais que produzem mapas fazem seus cálculos utilizando uma elipse70, que ao girar em
torno de seu eixo menor forma um volume, o elipsoide de revolução.
O elipsoide de revolução é uma superfície teórica regular, criada para fins cartográficos, que
evidencia o achatamento nos polos terrestres.
Segundo o IBGE, “o elipsoide é a superfície de referência utilizada nos cálculos que fornecem
subsídios para a elaboração de uma representação cartográfica”.
Ao fazerem a transferência de informações do elipsoide para o plano, os cartógrafos se deparam com
um problema insolúvel: qualquer que seja a projeção adotada, sempre haverá algum tipo de distorção
nas áreas, nas formas ou nas distâncias da superfície terrestre representadas.
Não há distorção perceptível somente em representações de escala suficientemente grande, como é
o caso das plantas, nas quais não é necessário considerar a curvatura da Terra.
As projeções podem ser classificadas em conformes, equivalentes, equidistantes ou afiláticas,
dependendo das propriedades geométricas presentes na relação globo terrestre/mapa-múndi. Além
disso, podem ser agrupadas em três categorias principais, dependendo da figura geométrica empregada
em sua construção: cilíndricas (as mais comuns), cônicas, azimutais ou planas. Observe-as a seguir.

70
Elipse é o lugar geométrico dos pontos de um plano cujas distâncias a dois pontos fixos desse plano têm soma constante; interseção de um cone circular reto
e um plano que corta todas as suas geratrizes.

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Projeção Cilíndrica

https://www.coladaweb.com/geografia/projecoes-cartograficas

Observe que na projeção cilíndrica o globo terrestre parece estar envolvido por um cilindro de papel
no qual são projetados os paralelos e os meridianos.

Projeção cônica

https://www.coladaweb.com/geografia/projecoes-cartograficas

Na projeção cônica, o globo parece estar envolvido por um cone de papel no qual são projetados os
paralelos e os meridianos.

Projeção azimutal ou plana

https://www.coladaweb.com/geografia/projecoes-cartograficas

Na projeção azimutal ou plana, a Terra parece ser tangenciada em qualquer ponto por um pedaço
de papel no qual são projetados os paralelos e os meridianos. Quando o globo é tangenciado num dos
polos, dizemos que se trata de uma projeção polar.

Conformes

Projeção conforme é aquela na qual os ângulos são idênticos aos do globo, seja em um mapa-múndi,
seja em um mapa regional. Nesse tipo de projeção, as formas terrestres são representadas sem distorção,
porém, com alteração do tamanho de suas áreas. Apenas nas proximidades do centro de projeção, neste
caso o equador, é que se verifica distorção mínima. Quanto maior o distanciamento a partir dessa linha
imaginária, maior é a distorção. Por essa razão, quando se utiliza esse tipo de projeção, geralmente só
são reproduzidos os territórios situados até 80º de latitude.
A mais conhecida projeção conforme é a de Mercator, cartógrafo e matemático belga cujo nome
verdadeiro era Gerhard Kremer (1512-1594). Em 1569, época em que os europeus comandavam a

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Expansão Marítima, Mercator abriu novas perspectivas para a cartografia, ao construir uma projeção
cilíndrica conforme que imortalizou seu codinome.

Projeção de Mercator Original

Essa representação foi elaborada para facilitar a navegação, pois permitia representar com precisão,
no mapa, a rede de coordenadas geográficas e os ângulos obtidos pela bússola (pontos cardeais).
O mapa-múndi de Mercator, no qual a Europa aparece numa posição central, superior e, por se situar
em altas latitudes, proporcionalmente maior do que é na realidade, acabou se transformando no principal
representante da visão eurocêntrica do mundo. Durante séculos, foi uma das projeções mais usadas na
elaboração de planisférios e, apesar do surgimento posterior de muitas outras, ainda hoje é bastante
usada.
Esses primeiros mapas-múndi, especialmente o de Mercator, colocavam a Europa em destaque, no
“centro” da representação, e o hemisfério norte, onde está localizada, na parte de “cima”. Os europeus
estavam explorando o mundo e fundando colônias; portanto, era natural que ao representar o planeta se
visem dessa foram. É isso que chamamos de visão eurocêntrica.

Projeção de Mercator Atual

https://www.coladaweb.com/geografia/projecoes-cartograficas

Quando representada na projeção de Mercator, a Groelândia parece ser maior que o Brasil e até
mesmo que a América do Sul. O mapa originalmente feito por Mercator, não mostrava os continentes de
forma precisa como este planisférico, produzido de acordo com a projeção por ele criada, mas com as
técnicas cartográficas disponíveis atualmente.

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Equivalentes

Num mapa-múndi ou regional com projeção equivalente, as áreas mantêm-se proporcionalmente


idênticas às do globo terrestre, embora as formas estejam deformadas em comparação com a realidade.
Um exemplo desse tipo de projeção é o mapa-múndi de Peters, elaborado pelo historiador e cartógrafo
alemão Arno Peters (1916-2002) e publicado pela primeira vez em 1973. Observe-a abaixo.

Projeção de Peters

http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/projecoes_cartograficas.aspx

Embora essa projeção não tenha rompido completamente com a visão eurocêntrica, acabou dando
destaque aos países de baixa latitude. Ela atendia aos anseios dos Estados que se tornaram
independentes após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), nessa época considerados
subdesenvolvidos, situados em grande parte ao sul das regiões mais desenvolvidas. Em alguns países,
essa projeção chegou a ser impressa de forma invertida em relação à convenção cartográfica dominante,
mostrando o sul em destaque. O mapa-múndi de Hobo-Dyer, outra projeção equivalente, também
representa o mundo de forma “invertida”. Portanto, não há uma forma certa ou errada de representar o
mundo. Cada uma das representações cartográficas expressa um ponto de vista de um Estado nacional,
de um povo ou mesmo de uma religião.
Na projeção de Peters parece que os continentes e países foram alongados nos sentidos norte-sul. Há
uma distorção em suas formas, mas todos mantêm seu tamanho proporcional. Por exemplo, a Groelândia,
embora irreconhecível, aparece bem menor que o Brasil e a América do Sul, como é na realidade.

Projeção de Hobo-Dyer

https://projetogeografando.blogspot.com/2010/08/projecao-de-hobo-dyer.html

Esse mapa-múndi é uma projeção cilíndrica equivalente, semelhante à de Peters, e foi criado em 2002
para mostrar uma visão alternativa do mundo. Fo encomendado por Bob Abramms e Howard Bronstein,
respectivamente, fundador e presidente da empresa ODT Maps (sediada em Amherst, Estados Unidos),

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ao cartógrafo inglês Mick Dyer. O nome da projeção resulta da junção das duas sílabas iniciais dos nomes
de Howard e Bob com o sobrenome Mick. Está centrada na África e mostra o sul em destaque.

Equidistantes

Nos mapas-múndi e com projeção azimutal ou plana equidistante, a representação das distâncias
entre dois lugares é precisa. Elaborada pelo astrônomo e filósofo francês Guillaume Postel (1510-1581)
e publicada no ano de sua morte, adota como centro da projeção um ponto qualquer do planeta para que
seja possível medir a distância ente esse ponto e qualquer outro. Por isso, esse tipo de projeção é utilizado
especialmente para definir rotas aéreas ou marítimas.
A projeção equidistante mais comum é centrada em um dos polos, geralmente o polo norte.

Projeção Azimutal Centrada no Polo Norte

http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/projecoes_cartograficas.aspx

No centro da projeção pode-se situar a capital de um país, uma base aérea, a sede de uma empresa
transnacional, etc. Entretanto, ela apresenta enorme distorções nas áreas e nas formas dos continentes,
que aumentam com o afastamento do ponto central.
Na projeção azimutal equidistante, as distâncias só são precisas se traçadas radialmente do centro,
no caso dessa, o polo norte, até um ponto qualquer do mapa.

Afiláticas

Atualmente é comum a utilização de projeções com menores índices de distorção para o mapeamento
da superfície terrestre, como a de Robinson.

Projeção de Robinson

https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia/as-projec-o-es-cartogra-ficas.html

Essa projeção foi desenvolvida em 1961 pelo geógrafo e cartógrafo americano Arthur H. Robinson
(1915-2004). Segundo o IBGE: “É uma projeção afilática (não é conforme nem equivalente ou
equidistante) e pseudocilíndrica (não possui nenhuma superfície de projeção, porém apresenta
características semelhantes às da projeção cilíndrica)”.

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Questões

01. (Itaipu Binacional – Porfessor de Geografia – NC – UFPR/2019) A Projeção de Mercator é uma


projeção:
(A) conforme e equivalente, sendo utilizada em escalas maiores que 1:250000.
(B) conforme e equivalente, sendo utilizada em escalas menores que 1:250000.
(C) conforme e cilíndrica.
(D) equivalente e cilíndrica.
(E) equidistante e cilíndrica.

02. (IF/MT – Professor de Geografia – IF/MT) Observe a figura.

Essa figura simboliza a Organização das Nações Unidas (ONU), que apresenta uma conotação política
e também técnica das projeções cartográficas. A qual projeção ela é categorizada?
(A) Cônica
(B) Azimutal
(C) Cilíndrica
(D) Senoidal

03. (SEDUC/PI – Professor de Geografia – NUCEPE) Acerca da existência dos mapas, há registros
de que estes são anteriores à escrita, o que lhes atribui um papel relevante na representação do espaço
pela humanidade.
Sobre os mapas é INCORRETO afirmar:
(A) Os mapas se constituem um produto de informação da cultura de um povo a partir de seu
conhecimento sobre seu próprio espaço.
(B) Figura ou qualquer produto que possa representar uma parte específica da superfície da Terra se
constitui em um mapa.
(C) O mapa é um instrumento para transmitir informações sobre objetos, formas e relações presentes
em determinado espaço.
(D) Os mapas temáticos são elaborados a partir de um contexto no qual se tem como finalidade o
conhecimento e esclarecimento sobre uma determinada situação real.
(E) São representações gráficas de determinado espaço geográfico, de forma reduzida, que utilizam
símbolos e projeções cartográficas.

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04. (Colégio Pedro II – Professor de Geografia – Colégio Pedro II/2018) Observe os mapas a seguir.

Disponível em: https://encrypted-tbn0.gstatic.com. Acesso em: 9 ago. 2018.

“A escolha de uma projeção depende do que se deseja representar.” SAMPAIO, Fernando dos Santos. Para viver juntos:
9º ano do ensino fundamental. São Paulo: SM, 2015, p.140-141.
O planejamento de uma aula de geografia sobre projeções cartográficas deve mostrar que o mapa de
(A) Mercator é realizado com base numa projeção cilíndrica conforme, provocando distorções diversas
nas áreas dos países presentes no planisfério.
(B) Peters é realizado com base numa projeção plana tangente ao polo, alterando as áreas dos locais
representados, destacando sua posição geopolítica.
(C) Peters é uma projeção azimutal equivalente desvinculada do eurocentrismo, já que as áreas da
Terra conservam o tamanho por meio da correção das distâncias longitudinais.
(D) Mercator é uma projeção plana interrompida associada à visão eurocêntrica do mundo, já que as
áreas da Terra conservam a forma por meio da correção das distâncias latitudinais.

05. (Enem) Um determinado município, representado na planta abaixo, dividido em regiões de A a I,


com altitudes de terrenos indicadas por curvas de nível, precisa decidir pela localização das seguintes
obras:
1. instalação de um parque industrial.
2. instalação de uma torre de transmissão e recepção.

Considerando impacto ambiental e adequação, as regiões onde deveriam ser, de preferência,


instaladas indústrias e torre, são, respectivamente:
(A) E e G.
(B) H e A.
(C) I e E.
(D) B e I.
(E) E e F.

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Gabarito

01.C / 02.B / 03.B / 04.A / 05.C

Comentários

01. Resposta: C
Em 1569, época em que os europeus comandavam a Expansão Marítima, Mercator abriu novas
perspectivas para a cartografia, ao construir uma projeção cilíndrica conforme que imortalizou seu
codinome.

02. Resposta: B
O símbolo da ONU é uma projeção azimutal, cujo centro escolhido foi um ponto no Polo Norte, um
local neutro e que permite a visualização de todos os continentes.

03. Resposta: B
Mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos,
naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada por
elementos físicos, político-administrativos, destinada aos mais variados usos temáticos, culturais e
ilustrativos.

04. Resposta: A
Tal como ocorre em toda projeção cilíndrica, na projeção de Mercator os meridianos são representados
por segmentos de reta paralelos entre si e que são perpendiculares aos paralelos terrestres. Por se tratar
de uma projeção conforme, a escala não varia com a direção e os ângulos são conservados em todos os
pontos.

05. Resposta: C
Um parque industrial deve ser preferencialmente instalado em um terreno com topografia plana para
evitar grandes cortes ou aterros, que podem expor a área à erosão. Não é adequada a instalação de um
parque industrial no interior de cidades onde há poucos terrenos disponíveis, por isso pode agravar a
poluição e o trânsito. O ideal é que ele seja instalado numa área fora da cidade (mas não muito distante,
porque necessita de mão de obra) e onde haja um bom sistema de transportes que permita a chegada
de matérias-primas e o escoamento dos bens produzidos. Considerando tudo isso e os elementos
mostrados na plana, o melhor local para instalação de um parque industrial é a área I do município, ao
lado da rodovia.
A instalação de uma torre de comunicação deve ficar nas proximidades da cidade. Mas num terreno
de altitude mais elevada para que seu funcionamento seja mais eficiente; portanto, o melhor local para
sua instalação é a área E. Assim, a alternativa que responde corretamente ao problema proposto é a C.

ANAMORFOSE71

Leitura de Mapas

Todo mapa “responde” a certas perguntas sobre os elementos nele representados. A primeira pergunta
que geralmente fazemos ao observar um mapa é: “onde se localiza determinado fenômeno?” Para
responder tal indagação o mapa apresenta uma rede de coordenadas.
A segunda pergunta é: “qual é o tamanho do fenômeno representado?” Para isso toda representação
cartográfica tem uma escala.
Os mapas podem, entretanto, mostrar mais do que a localização dos fenômenos e sua proporção.
Podem mostrar diversos aspectos da existência humana na vida em sociedade, assim como variados
aspectos da natureza.
Podem representar, em diferentes escalas geográficas, os fenômenos sociais e naturais em sua
diversidade:
Qualitativa – responde à pergunta “o quê”? e representa os diferentes elementos cartografados –
cidades, rios, indústrias, climas, cultivos, etc., em diversos tipos de mapas;

71
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

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Quantitativa – elucida a dúvida sobre “quanto”? e indica, por exemplo, a população urbana e o
tamanho das cidades, o total da produção industrial, entre outros aspectos, permitindo a comparação
entre territórios diferentes;
De Classificação – registra a ordenação e a hierarquização de um fenômeno num determinado
território, por exemplo, a ordem das cidades no mapa da hierarquia urbana brasileira ou a rodem de
altitudes no mapa hipsométrico72;
Dinâmica – mostra a variação de um fenômeno ao longo do tempo e sua movimentação no espaço
geográfico: o fluxo de população no território brasileiro, o fluxo de mercadorias no comércio internacional,
entre outros.

Diferenças entre os Mapas

Em função de seu uso e de outros aspectos técnicos, os mapas apresentam algumas diferenças entre
si:

Mapa básico – é sempre desenhado a partir de um preciso levantamento do local a ser cartografado.
Usa uma escala pequena, representando grandes partes da superfície terrestre, com poucos detalhes.
Quase sempre apresenta limites políticos-administrativos. Normalmente é usado para representar uma
parte do mundo ou até mesmo todo ele; é o caso do chamado mapa-múndi.
Os mapas de pequena escala não apresentam muitos detalhes, servindo para dar uma noção geral
sobre diferentes aspectos de grandes porções da superfície terrestre.

Carta – é um mapa com escala grande, ou seja, mostra detalhes do local representado. É ideal para
mostrar locais pequenos, geralmente partes de uma região ou cidade. Raramente apresenta limites
político-administrativos entre países.
Os mapas de grande escala são ideais para representar espaços pequenos, mostrando detalhes do
espaço geográfico. Quando apresenta muitos detalhes, um mapa desse tipo pode também ser chamado
de planta.

Mapa temático – é amplamente utilizado na Geografia moderna e na divulgação de informações de


outras ciências, em especial por meio da mídia. Por meio de símbolos quantitativos e qualitativos, o
fenômeno a ser representado é mostrado em sua distribuição espacial.

Quaisquer que sejam os tipos de mapas, todos eles têm dois problemas para resolver: como reduzir
proporcionalmente o que será representado e como representar num espaço geométrico plano o que é,
na realidade curvo?
Na realização dessas tarefas, especialmente da segunda, ocorrem inevitáveis distorções. Essas
dificuldades técnicas, são parcialmente solucionadas por meio de:

Escalas, que estudam o problema da dimensão do local a ser representado, ou seja, realizam uma
relação matemática entre as dimensões reais do objeto a ser cartografado e as medidas do mapa a ser
criado;

Projeções, que estudam o problema da forma, já que todas as áreas terrestres que ultrapassam 100
quilômetros de extensão exigem que se leve em conta a curvatura do planeta.

Mapa Temático

As duas formas mais comuns de mapa temático são:

Cartograma – é uma representação cujo objetivo maior é mostrar informações sobre a distribuição
espacial do objeto de estudo. É geralmente baseado em mapas bastante precisos, nos quais se lançam
as informações cujo comportamento espacial queremos conhecer. O interesse maior do cartograma é o
conteúdo, ou seja, as informações que ele apresenta sobre uma população, uso do solo agrícola,
distribuição espacial da indústria, etc.;

72
Hipsometria é uma técnica de representação da elevação de um terreno através das cores.

280
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Anamorfose – é um mapa no qual as superfícies reais (geralmente países ou estados e regiões de
um país) sofrem uma distorção para se tornarem proporcionais à variável que está sendo representada.

A cartografia temática facilita o planejamento de intervenções realizadas pelo poder público e por
empresas privadas, porque auxilia a compreender a organização dos fenômenos socioespaciais. É
importante lembrar que esses fenômenos estão interligados; logo, a intervenção num aspecto da
realidade interfere em outros. Por exemplo: O município de Caraguatatuba, localizado no litoral do estado
de São Paulo, tem parte de seu território na planície litorânea e parte na encosta da serra do Mar, onde
estão as áreas com maior risco de escorregamento e que, por isso, não devem ser ocupadas. O mapa
abaixo demonstra o perigo da ocupação dessas encostas íngremes.

Caraguatatuba (SP): Áreas suscetíveis a escorregamento73

Vejamos agora alguns exemplos de mapas temáticos, nos quais podemos observar fenômenos
geográficos representados por pontos, linhas e áreas, que podem se materializar cartograficamente de
forma qualitativa, quantidade e ordenada.

73
MARCELINO, Emerson Vieira. Mapeamento de áreas suscetíveis a escorregamento no município de Caraguatatuba (SP) usando técnicas de sensoriamento
remoto. Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto. São José dos Campos: INPE, 2004, p.178.

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https://geojurista.files.wordpress.com/2014/05/apostila_modulo_1_cartografia_tematica_para_08_06_2015.pdf

Construído sobre uma base cartográfica que mostra os limites políticos da América do Sul, o mapa
acima evidencia os recursos minerais e energéticos dos países sul-americanos, indicando sua
diversidade e distribuição (fenômeno qualitativo), além do tamanho relativo das reservas (fenômeno
quantitativo).
Para representar fenômenos pontuais como esses, o mais adequado é utilizar símbolos com formas,
cores e tamanhos diferentes. Cidades, indústrias, portos, aeroportos, hidrelétricas, etc., são outros
exemplos de fenômenos pontuais.
Vale relembrar, entretanto, que, dependendo da escala, um fenômeno pontual pode virar zonal (área).
Por exemplo, num mapa de escala pequena, como o acima, uma cidade é um ponto; mas numa planta
de escala grande, a mesma cidade será representada como uma área.
Observe que no mapa também estão cartografadas as principais regiões industriais da América do
Sul, um fenômeno zonal. Nesta escala não é possível visualizar regiões industriais menores, como
Salvador (BA), Zona Franca de Manaus (AM), Serra Gaúcha (RS), Lima (Peru), etc.

282
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Quanto aos fenômenos lineares, vamos observar o mapa abaixo.

https://geojurista.files.wordpress.com/2014/05/apostila_modulo_1_cartografia_tematica_para_08_06_2015.pdf

Para cartografar fenômenos lineares como tipos diferentes de ferrovias (fenômeno qualitativo),
mostrados no mapa da França acima, utilizam-se linhas diferenciadas por cores. Mas como o mapa
mostra esse tema de forma proporcional (fenômeno quantitativo), essas linhas têm larguras e tonalidades
diferentes, expressando maior ou menor volume de passageiros e mercadorias transportados por dia.
Rodovias, hidrovias, oleodutos, redes de alta-tensão, etc., são outros exemplos de fenômenos lineares.
Observe que nesse mapa também estão cartografados fenômenos pontuais proporcionais: Paris, o
maior entroncamento ferroviário do país, Lyon, Bordeaux e outras cidades francesas.

283
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Passemos para análise de outro mapa.

https://geojurista.files.wordpress.com/2014/05/apostila_modulo_1_cartografia_tematica_para_08_06_2015.pdf

O mapa acima registra a densidade demográfica da América do Sul, um fenômeno zonal que foi
ordenado pelas diferentes faixas de quantidade de pessoas por km², cuja distribuição foi destacada com
o uso de cores, as áreas são pintadas de modo que se estabeleça uma hierarquia entre as cores (da mais
clara para a mais escura, à medida que aumenta a densidade.
Formações vegetais, tipos climáticos, compartimentação do relevo, cultivos agrícolas, reservas
indígenas, etc., são outros exemplos de fenômenos zonais.
No entanto, há outros fenômenos zonais que também aparecem registrados em mapas por meio de
cores, sem que haja hierarquia entre elas.
As cidades ou regiões metropolitanas podem ser representadas por pontos simples (fenômeno
qualitativo), se o que se pretende é apenas localizá-las no espaço geográfico. Também podemos destacar
o tamanho de suas populações (fenômeno quantitativo), como foi feito no mapa acima, ou enfatizar a
relação hierárquica entre elas (fenômeno ordenado).
Veja que o mapa acima também registra um fenômeno pontual proporcional: as maiores aglomerações
urbanas da América do Sul.
A relação hierárquica entre as cidades, como demonstrará o próximo mapa, pode ser estabelecida
com base em diversos critérios: tamanho da população, infraestrutura de comércio e serviços, influência
na rede urbana nacional ou mundial, etc.

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https://geojurista.files.wordpress.com/2014/05/apostila_modulo_1_cartografia_tematica_para_08_06_2015.pdf

Também é possível representar cartograficamente fenômenos dinâmicos no espaço e no tempo.


Por exemplo, pode-se mostrar o grau de destruição da mata Atlântica desde o começo da ocupação
do território brasileiro ou a movimentação da população desde o início do processo de industrialização do
país.
Os mais conhecidos exemplos de mapas que representam fenômenos dinâmicos são aqueles que
mostram a circulação de pessoas ou mercadorias em diversas escalas geográficas.
Como vimos anteriormente, além das direções, podem ser registradas as quantidades proporcionais
desses fluxos, utilizando para isso diferentes larguras de linhas ou setas. Observe, no mapa abaixo, as
principais rotas aéreas internacionais.

https://geojurista.files.wordpress.com/2014/05/apostila_modulo_1_cartografia_tematica_para_08_06_2015.pdf

Observe que este mapa registra os maiores aeroportos do mundo em número de passageiros, em
2009, e o número de voos internacionais por ano. Nele observamos elementos lineares proporcionais.

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Anamorfose

Há um tipo particular de mapa temático em que as áreas dos países são mostradas em tamanhos
proporcionais à importância de sua participação no fenômeno representado. Esse tipo de “mapa” – de
fato, um cartograma – é chamado de anamorfose geográfica. Veja um exemplo a seguir.

https://geojurista.files.wordpress.com/2014/05/apostila_modulo_1_cartografia_tematica_para_08_06_2015.pdf

Na anamorfose, os elementos representados não aparecem em escala cartográfica e não há fidelidade


nas formas territoriais. Em contrapartida, é mais fácil perceber o peso da participação de cada país no
fenômeno representado, pois essa participação é proporcional ao tamanho mostrado.

Questões

01. (IFB – Professor de Geografia – IFB/2017) Tipo particular de mapa temático em que as áreas
dos territórios são mostradas em tamanhos proporcionais à importância de sua participação no fenômeno
representado.
O referido mapa temático é:
(A) Qualitativo
(B) Pontual
(C) Linear
(D) Anamorfose
(E) Dinâmico

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02. (PGE/MT – Analista – FCC) A representação cartográfica que associa a forma ao evento
representado denomina-se
(A) Cartografia sistemática
(B) Topocartografia
(C) Geocartografia
(D) Anamorfose cartográfica
(E) Projeção cenográfica

Gabarito

01.D / 02.D
Comentários

01. Resposta: D
Anamorfose é um mapa no qual as superfícies reais (geralmente países ou estados e regiões de um
país) sofrem uma distorção para se tornarem proporcionais à variável que está sendo representada.

02. Resposta: D
Há um tipo particular de mapa temático em que as áreas dos países são mostradas em tamanhos
proporcionais à importância de sua participação no fenômeno representado. Esse tipo de “mapa” – de
fato, um cartograma – é chamado de anamorfose geográfica.

TECNOLOGIAS MODERNAS UTILIZADAS PELA CARTOGRAFIA74

As tecnologias de informação e comunicação criadas nas últimas décadas (satélites, computadores,


câmeras digitais e internet, por exemplo) têm possibilitado a utilização de novas técnicas de coleta e
processamento de dados de espaço geográfico.
Novos horizontes se abriam para a Cartografa, e os mapas estão cada vez mais precisos. Diversas
operações, que no passado eram caras e demoradas, hoje são feitas com muita rapidez e a um custo
cada vez menor.
Equipamentos fotogramétricos, imagens captadas por satélites, mapas digitais, sistemas de
posicionamento global, como o GPS e o Glonass, e sistemas de informações geográficas (SIG) são
recursos tecnológicos que têm contribuído para a popularização da Cartografia.
A possibilidade de utilizar uma combinação de mapas digitais e informações georreferenciadas para
localização de endereços, como faz o Google Maps (um tipo de SIG), e de observar a superfície da Terra
por meio de programas de voo virtual, como faz o Google Earth, demonstra um grande avanço
tecnológico. Esses programas permitem observar a superfície da Terra desde escalas pequenas (pouco
detalhadas) até escalas grandes (ricas em detalhes) com um simples ajuste de zoom.

Sensoriamento Remoto

Sensoriamento remoto é o conjunto de técnicas de captação e registro de imagens a distância, sem


contato direto com o elemento registrado, por meio de diferentes tipos de sensor.
O olho humano é um tipo de sensor e serviu de referência para a construção de sensores eletrônicos
que equipam satélites, por exemplo.
Em qualquer tipo de sensor, as imagens são captadas por meio da radiação eletromagnética que se
situa entre o espectro visível e o de micro-ondas. Segundo o Instituto de Física da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (IF – UFRGS): “O espectro eletromagnético é a distribuição da intensidade da
radiação eletromagnética com relação ao seu comprimento de onda ou frequência”.
Entre todas as ondas do espectro da radiação eletromagnética, os raios gama são os que apresentam
a maior frequência e o menor comprimento.
Os sensores podem ser passivos ou ativos. Um sensor é considerado passivo quando só recebe
radiação, como as máquinas fotográficas e os imageadores que equipam a maioria dos satélites; e é
considerado ativo quando emite ondas e as recebe de volta, como o radar.
A energia solar é refletida pela superfície da Terra como ondas de calor, que podem ser captadas por
sensores de satélites, e como ondas visíveis em cores, que podem ser fotografadas por câmeras
acopladas a aeronaves, registando assim seus elementos naturais e sociais.

74
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

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Existe ainda outra possibilidade de sensoriamento remoto: um radar acoplado a um avião ou satélite
emite micro-ondas, que são refletidas de volta pela Terra, permitindo o registro de sua superfície pelo
mesmo equipamento.
As micro-ondas sofrem menos interferência das nuvens do que as ondas do espectro visível e
infravermelho, possibilitando fazer imagens de radar mesmo em dias nublados ou à noite, algo impossível
para sensores passivos.
As aerofotos e as imagens de satélite e de radar são fundamentais para a produção de mapas, cartas
e plantas, pois revelam muitos detalhes dos aspectos físicos e humanos da superfície terrestre, tais como:
→ Relevo, rios, florestas, desmatamento e incêndios florestais;
→ Áreas de cultivo, sistemas de transporte, cidades e indústrias;
→ Dinâmica da atmosfera, como massas de ar, furacões e tornados.

Fotografia Aérea

Embora as primeiras imagens aéreas da superfície da Terra tenham sido tiradas de balões, ainda no
século XIX, o sensoriamento remoto só se desenvolveu a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
com a utilização de aviões. Nessa época, os interesses militares propiciaram um grande avanço na
aerofotogrametria, que consiste em captar imagens da superfície terrestre com equipamentos
fotográficos especiais acoplados ao piso de um avião.
Enquanto o avião sobrevoa linhas paralelas, chamadas linhas de voo, previamente estabelecidas, a
uma velocidade constante e orientado pelo GPS, a câmera fotográfica acoplada a seu piso vai tirando, na
vertical, fotografias do terreno. Essas fotos aéreas registram as coordenadas geográficas da área tomada
e são parcialmente sobrepostas, em intervalos regulares. Além de uma sobreposição longitudinal de
aproximadamente 60%, há outra lateral, de aproximadamente 30%.
Essas sobreposições são necessárias para obter uma imagem com melhor qualidade na etapa
seguinte. Nessa fase do processo de produção de imagens aéreas, as fotos passam por restituidores,
aparelhos que restituem as informações contidas nas fotografias, corrigindo eventuais imperfeições.
Atualmente, as fotos aéreas são feitas com câmeras digitais, e os equipamentos de restituição e
produção de imagens são computadorizados, o que contribui para deixar o processo mais rápido e mais
preciso, além de mais barato. A maioria dos mapas topográficos ainda é produzida por meio da
aerofotogrametria, porque ela é bastante precisa e detalhada. Entretanto, novos avanços no
sensoriamento remoto advieram do uso de satélites e computadores.

Imagem de Satélite

O primeiro satélite artificial, o Sputnik 1 (do russo, “Satélite 1”), foi lançado em 1957 pelos soviéticos,
mas só emitia um sinal sonoro. Ele foi o precursor dos satélites de telecomunicação.
Em 1961, o programa espacial soviético lançou ao espaço a Vostok 1 (do russo, “Oriente 1”), a primeira
missão espacial tripulada. A espaçonave levava a bordo Yuri Gagarin, cosmonauta russo, que foi o
primeiro ser humano a observar a Terra do espaço sideral, numa viagem orbital de 1 h 48 min.
Onze anos mais tarde, em 1972, a Nasa lançou o primeiro satélite de observação terrestre, da série
Landsat. A partir de então, órgãos governamentais, como o United States Geological Survey (USGS),
dos Estados Unidos, o Institut National de L’Information Géographique et Forestière (IGN), da França, e
o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Brasil, passaram a ter imagens de todo o planeta
à disposição.
O sétimo satélite da série Landsat foi lançado em 1999 e no início de 2018 ainda funcionava; juntando-
se a ele, o Landsat 8, mais moderno, foi lançado no início de 2013 e desde então está em operação (o
Landsat 9 tem lançamento previsto para o final de 2020).
Além do Landsat, há satélites de diversos países na órbita da Terra rastreando permanentemente sua
superfície, como os da série francesa Spot (Sistema Probatório de Observação da Terra), da Agência
Espacial Europeia (ESA); o Envisat, também da ESA; o Radarsat, da Agência Espacial Canadense (os
dois últimos são equipados com sensores ativos); e o CBERS (sigla em inglês para Satélite Sino-Brasileiro
de Recursos Terrestres).
O projeto CBERS é resultado de um acordo tecnológico entre o Brasil e a China. Foi desenvolvido por
meio da cooperação entre o INPE e a CAST (sigla em inglês para Academis Chinesa de Tecnologia
Espacial), que resultou no lançamento de cinco satélites desde 1999: CBERS 1,2,2-B,3 e 4. No início de
2018, apenas o CBERS 4, lançado em 2014 de uma base chinesa, estava em operação (o CBERS 4-A
tem lançamento previsto para o 1º semestre de 2019).

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As imagens feitas por satélites são convertidas em dados numéricos e enviadas a uma estação
terrestre, onde são processadas por computadores. Com essas informações, podem ser produzidas, com
grande rapidez, diversas imagens digitais da superfície do planeta, incluindo os mapas. Usualmente,
confeccionam-se mapas temáticos, de escala pequena, nos quais o que mais interessa são os temas
representados; os topográficos, de escala grande, como as cartas, em que se exige mais precisão,
continuam sendo feitos principalmente com base em fotos aéreas.
A utilização de satélites para sensoriamento remoto apresenta outra grande vantagem: a de registrar
a sequência de eventos ao longo do tempo. Imagens de uma mesma área podem ser registradas em
intervalos regulares, o que permite acompanhar a ocorrência de muitos fenômenos.
Um dos exemplos mais conhecidos da utilização de imagens de satélites é a previsão do tempo.
Satélites meteorológicos captam imagens das massas de ar, visíveis por meio das formações de nuvens,
em intervalos regulares de tempo. Com essas imagens são feitas animações que auxiliam os
meteorologistas a prever chuvas, períodos de seca ou passagem de furacões (fundamental para a
atuação da Defesa Civil). Alguns dados obtidos em estações e balões meteorológicos também ajudam
os especialistas nessa tarefa.

Sistemas de Posicionamento e Navegação por Satélites

Um sistema global de posicionamento e navegação é composto de três segmentos:


Espacial: constelação de satélites em órbita da Terra;
Controle terrestre: estações de monitoramento e antenas de recepção na superfície;
Usuários: aparelhos receptores móveis ou acoplados a veículos terrestres, aéreos ou aquáticos.
Esse complexo sistema serve para localizar com precisão um objeto ou pessoa, assim como fornecer
sua velocidade (caso esteja em movimento) na superfície terrestre ou num ponto qualquer próximo a ela.
Inicialmente, foi projetado para uso militar, mas atualmente apresenta diversos usos civis.
Em 2018 havia dois desses sistemas em operação plena: um americano, o Navstar/GPS (Navigation
Satellite System). Ambos começaram a ser desenvolvidos no contexto da Guerra Fria, época da corrida
armamentista ente os Estados Unidos e a extinta União Soviética.
O GPS começou a ser desenvolvido em 1973 pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Em
1978 foi lançado um primeiro satélite experimental; no entanto, somente em 1995, dois anos após o
lançamento do 24º satélite, o sistema atingiu a capacidade operacional plena. Em abril de 2018 o GPS
dispunha de 31 satélites girando em torno da Terra (há no mínimo 24 satélites em operação e o restante
de reserva, acionados para substituir algum que esteja em manutenção). Esses satélites orbitam o planeta
em seis planos distintos (são quatro por plano) a 20200 quilômetros de altitude, como se pode observar
no esquema abaixo, que mostra a constelação de satélites do GPS.

Constelação de Satélites do GPS

http://www.rumosgeograficos.com/2017/06/sistema-global-de-posicionamento.html

O Glonass começou a ser desenvolvido em 1976, ainda na época da União Soviética, e o primeiro
satélite do sistema foi lançado em 1982. Com o fim da antiga superpotência em 1991 e a profunda crise
pela qual passou a Rússia ao longo daquela década, o programa ficou paralisado e tornou-se obsoleto.
No início dos anos 2000, a Agência Espacial da Rússia (Federal Space Agency) retomou os investimentos

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no programa: novos satélites foram desenvolvidos e gradativamente lançados ao espaço. Em 2011 o
sistema tornou-se plenamente operacional e passou a cobrir todo o planeta. Em abril de 2018, contava
com 25 satélites orbitando a Terra (24 em operação) a 19100 quilômetros de altitude.
Outros sistemas globais de posicionamento e navegação semelhantes estão sendo desenvolvidos pela
China, o BeiDou Navigation Satellite System, e pela União Europeia, o Galileo Navigation. A previsão é
que ambos estejam plenamente operacionais até 2020.
Os satélites do GPS e do Glonass cumprem órbitas fixas e estão dispostos de modo que, de qualquer
ponto da superfície terrestre ou próximo a ela, seja possível receber ondas de rádio de pelo menos quatro
deles. Os receptores fixos ou móveis captam essas ondas e calculam as coordenadas geográficas do
local em graus, minutos e segundos. Além da latitude e da longitude, obtêm-se a altitude do ponto de
leitura, o que facilita a confecção e a atualização de mapas topográficos, e a hora local com exatidão.
Outros usos civis do GPS e do Glonass são observados na agricultura de precisão75, nos automóveis
e em aplicativos de navegação e geolocalização para celulares, tablets, etc.
A agricultura de precisão tem utilizado uma combinação de GPS com SIG. Por exemplo, com mapas
digitais que contêm informações sobre a fertilidade do solo e utilizando o GPS, um agricultor pode
distribuir a quantidade ideal de adubo em cada pedaço da área cultivada, o que proporciona eficácia e
economia. Há tratores que já vêm equipados de fábrica com computador e bordo com SIG instalado e
conectado ao GPS. Entretanto, o alto custo dessa tecnologia ainda limita sua maior disseminação na
agricultura, principalmente nos países em desenvolvimento.
O GPS também está disponível em alguns automóveis mais caros fabricados no Brasil e no exterior.
Os veículos saem de fábrica equipados com computador de bordo conectado ao GPS e com mapas
rodoviários e guias de cidade armazenados em sua memória, o que permite ao motorista uma orientação
continua por meio dos satélites do sistema. Essa tecnologia também já é encontrada em aplicativos para
celular, como o Waze e o Google Maps.
Órgãos governamentais brasileiros vêm utilizando imagens de satélites e o GPS para identificar com
exatidão os limites de fazendas improdutivas a serem desapropriadas para reforma agrária, controlar
queimadas em florestas e desmatamentos e demarcar limites fronteiriços, entre outras finalidades.
Outras aplicações práticas do sistema GPS são o planejamento de rotas e o rastreamento de veículos
terrestres, marítimos e aéreos. O programa FlightAware, por exemplo, permite o rastreamento de aviões
em tempo real. O GPS tem sido utilizado para rastrear veículos de carga a até mesmo automóveis de
passeio.

Sistemas de Informações Geográficas

Um sistema de informações geográficas (SIG) é composto de uma rede de equipamentos


(hardware) e de programas (software) que processam dados georreferenciados, isto é, situados no
território, localizados por coordenadas geográficas e identificados por GPS. Entretanto, o mais importante
nesse sistema são as pessoas, os técnicos que alimentam o banco de dados, processando-os e
produzindo informações a partir deles, assim como os usuários finais que utilizam essas informações para
tomada de decisões.
Há diversos SIG no mundo. O mais utilizado é o ArcGIS, do Environmental System Research Institute
(Esri), com sede na Califórnia (Estados Unidos). No Brasil, além dos programas estrangeiros, a maioria
pagos, como o ArcGIS, os usuários têm à disposição, gratuitamente, o Sistema de Processamento de
Informações Georreferenciadas (Spring) e o TerraView, criados pelo INPE.
Os SIG permitem coletar, armazenar, processar, recuperar, correlacionar e analisar diversos dados
espaciais, a partir dos quais são produzidas informações geográficas expressas em mapas, gráficos,
tabelas, etc.
Os dados espaciais são coletados separadamente e sobrepostos em camadas (layers), o que
possibilita sua integração/correlação para produzir as informações geográficas para o usuário.
Trata-se de poderoso instrumento de apoio ao planejamento territorial, servindo para diversos fins,
como proteger florestas e organizar a ocupação e o uso dos solos urbano e rural.
O monitoramento de queimadas na América do Sul é feito pelo INPE com o software TerraView e
imagens do satélite Aqua. Esse SIG permite sobrepor diversas informações, como limites políticos, focos
de queimadas e áreas com risco de fogo.
O primeiro SIG da história foi o Canadian Geographic Information System, criado nos anos 1960 pelo
governo canadense para processar os dados espaciais coletados pelo Inventário de Terras daquele país.
Mas foi a partir dos anos 1980/1990, com o desenvolvimento dos computadores, das imagens de satélites
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Agricultura de precisão é a prática agrícola que utiliza tecnologias de georreferenciamento, como GPS, SIG, sensoriamento remoto, para fazer o manejo do
solo com mais rigor, buscando aumentar a produtividade e a rentabilidade da propriedade rural.

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e do GPS, que essa tecnologia teve grande impulso. No Brasil, em 2008, o governo criou a Infraestrutura
Nacional de Dados Espaciais (Inde), coordenada pela Comissão Nacional de Cartografia (Concar), para
integrar as informações Georreferenciadas espalhadas pelos diversos órgãos e instituições do Estado
brasileiro, facilitando a distribuição e o acesso a elas.
Os SIG podem ser utilizados para:
→ Planejar investimentos em obras públicas e avaliar seus resultados;
→ Planejar a distribuição dos serviços prestados pelo poder público no território municipal e avaliar
seus possíveis impactos, sociais e ambientais, e os custos;
→ Facilitar o levantamento de imóveis no município para o controle da arrecadação de taxas e
impostos;
→ Planejar o sistema de transportes coletivos, buscando melhorar sua oferta e qualidade, e organizar
o tráfego urbano;
→ Cadastrar propriedades, empresas e moradores, com grande número de informações tornando mais
rápidos e eficientes os programas de atendimento;
→ Mapear áreas de proteção ambiental e monitorar desmatamentos e queimadas.
Os SIG também têm sido muito utilizados para as pessoas se situarem e se locomoverem nas grandes
cidades. Com ele, é possível descobrir a distância entre dois pontos, identificar rotas de circulação e
itinerários de ônibus, localizar endereços, etc. A utilização do SIG também é útil para empresas que
trabalham com pesquisas de opinião, de comportamento, de intenção de voto, etc. As informações
coletadas são rapidamente apresentadas em tabelas, gráficos e mapas integrados, servindo de base para
as decisões a serem tomadas. Os SIG têm sido utilizados, ainda, no turismo, tanto no planejamento das
atividades de lazer quanto na localização de atrações turísticas em plantas digitais.

Questões

01. (MPOG – Geólogo – CESPE) Geotecnologia pode ser definida como um conjunto de técnicas que
envolvem coleta, processamento e análise de dados espaciais. Entre as tecnologias espaciais incluem-
se os sistemas de informações geográficas, o sensoriamento remoto e os sistemas de posicionamento
global. Acerca dos conceitos e das definições de geotecnologia, julgue o item a seguir.
GPS, Glonass e Galileo referem-se a três sistemas de posicionamento por satélites dos Estados
Unidos da América, da comunidade europeia e da China, respectivamente.
(....) Certo (....) Errado

02. (SEDU/ES – Professor de Geografia – FCC) Considere a matéria jornalística abaixo.


Vitória vai usar app de GPS para avisar sobre interdições no trânsito
Capital vai ser uma das 55 cidades do mundo a usar o Waze. Prefeitura vai inserir em aplicativo
informações que interfiram no trânsito. (Disponível em: g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2015/10/vitoria-vai-usar-app-de-gps-para-avisar-
sobre-interdicoes-no-transito.html)
Sobre o sistema de posicionamento global (GPS), é correto afirmar que
(A) depende, para o correto funcionamento, da cobertura local proporcionada por uma rede de
satélites.
(B) é um sistema que não necessita de coordenadas geográficas para localização, pois depende
somente da altitude.
(C) não tem precisão suficiente para ser utilizado na navegação marítima, que ainda depende de
mapas convencionais.
(D) dispensa a utilização de mapas, substituídos por bússolas eletrônicas que indicam a direção a
seguir pelo usuário.
(E) seu uso no Brasil ainda é restrito às instituições militares, pois é considerado estratégico para a
segurança nacional.

03. (COMPESA – Engenheiro Florestal – FGV) Sensoriamento remoto refere-se à


(A) radiotelemetria angular vigiada.
(B) transformação dos dados de radiância.
(C) espectrocampimetria aeroespacial.
(D) multiespectrometria variável e fixa.
(E) espaçometria multicampal e fixa.

Gabarito
01.Errado / 02.A / 03.B

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Comentários

01. Resposta: Errado


O Glonass começou a ser desenvolvido em 1976, ainda na época da União Soviética, e o primeiro
satélite do sistema foi lançado em 1982. Com o fim da antiga superpotência em 1991 e a profunda crise
pela qual passou a Rússia ao longo daquela década, o programa ficou paralisado e tornou-se obsoleto.

02. Resposta: A
Os satélites do GPS e do Glonass cumprem órbitas fixas e estão dispostos de modo que, de qualquer
ponto da superfície terrestre ou próximo a ela, seja possível receber ondas de rádio de pelo menos quatro
deles. Os receptores fixos ou móveis captam essas ondas e calculam as coordenadas geográficas do
local em graus, minutos e segundos. Além da latitude e da longitude, obtêm-se a altitude do ponto de
leitura, o que facilita a confecção e a atualização de mapas topográficos, e a hora local com exatidão.

03. Resposta: B
Sensoriamento remoto é o conjunto de técnicas de captação e registro de imagens a distância, sem
contato direto com o elemento registrado, por meio de diferentes tipos de sensor.
Em qualquer tipo de sensor, as imagens são captadas por meio da radiação eletromagnética que se
situa entre o espectro visível e o de micro-ondas.

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