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HeHa cat min.to: LOGRAFICA ELAMORADA priA (CA CENTRAL DA UNIGAMP Bakhtin, dialogisma e construgao do sentido o anizasto; Beth 18179. Bed. exe ~ Campinas, $P: Edltora da Unie iP. 2005, h Braie, |..M. M. Bakluin (Mikhail Mikhallovich), 1895.1975, 9 Linge, 8 Anilie do cuts. 4, Literatur ~ Esti 1 Beth Ban Li CDD 419 as ISBN 85-268-0682-3 $0193 Indices para catdlogo sistemético: 1. Lingdistica 40 2, Anlise do discurso 4s iteratura ~ Estética $0193 Copyright © by Beth Braie Copyright © 2008 by Edi ra da Unicamp Bedigio, 1997 # ceimpressio, 2013, Dircits reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.2.1998, E proibia areprodugio oral ou parcial sem aueorizagio, Porestrito, dos detenores dos direitos Printed in Brazil. Foi feito 0 depésito legal. Direitos reservados 4 Edcora da Unicamp Rua Caio Graco Prado, $0 - Campus Unicamp ‘cer 13083-892 ~ Campinas ~ sp — Brasil ‘Tel/Fax: (19) 3521-7718/7728 ‘wwweditoraunicamp.br— vendas@editoraaanicanp.br ei gienaO ( PARTE I BAKHTIN E AS CONTRIBUICOES PARA A TEORIA DA LINGUAGEM wig reen0 ConTRIBUIGOES DE BAKHTIN As TEorIAs Do Discurso* Diana Luz Pessoa de Barros** Neste texto retomo ¢ dou continuidade a algumas reflexdes anteriores (1994) sobre as contribuig&es de Bakhtin ao exame dos textos ¢ dos discursos, Bakhtin influenciou ou antecipou as prin- cipais orientagées te6ricas dos estudos sobre o texto € 0 discurso desenvolvidos sobretudo nos tiltimos 30 anos. '7 Os estudos do texto ¢ do discurso tomaram, no perfodo men- cionado, diregées diversas, com princfpios e métodos diferentes as- sentados em quadros te6ricos diversificados. E 0 caso entao de se perguntar de que forma e por quais razdes Bakhtin pode ser con- siderado uma espécie de precursor ou antecipador de perspectivas teéricas tao diferenciadas. Este trabalho procura mostrar que fo- ram, sobretudo, suas reflexdes variadas sobre o principio dialégico que anteciparam ¢ influenciaram os estudos do discurso edo texto atualmente em desenvolvimento e, com esse fim, organiza-se em duas partes: a primeira sobre a concepgio de texto (discurso ou \ sobre 0 principio dialégico ¢ seus desenvolyimentos em diferentes teorias enunciado) como objeto das ciéncias humanas; a segun do discurso ¢ do texto. A segunda parte subdivide-se, por sv a vez, cm duas outras: uma sobre o diflogo entre interlocutores, outra so- bre o didlogo entre discursos (ou enuneiados, no dizer de Bakhtin). * iste texto € uina versio resumida de um trabalho mai livro coletive Didlogos com Bakhtin, pela Ealivora dla Ure Universidade de Sio Paulo, aque sera publicado no m Curitiba, ** Professora d 25 ee OK ° DIANA LUZ PESSOA DE. BARROS O texto: objeto das ciénctas humanas ‘Ao contrario do caminho empreendido pelos estudos lings ticos, que tomaram a Kngua por objeto © comegaram pela buse, de unidades m{nimas ou de unidades até a dimensio da frase, Bakhtin afirma que nas ¢: fato de que seu objeto ¢ 0 texto (ou 0 discurso) (1992, p. 31). Em outras palavras, as ciéncias humanas voltam-se para ohomem, mas & 0 homem como produtor de textos que se apresenta ai. Dessa concepgio decorre que o homem nao 86 € conhecido através dos textos, como se constréi enquanto objeto de estudos nos textos ou por meio deles, o que distinguiria as ciéncias humanas das cién- cias exatas e biolégicas, que examinam o homem “fora do texto”, Bakhtin propée, para cada ciéncia humana, um objeto textual espectfico, pois pontos de vista diferentes sobre 0 texto constroem “textos” ¢, portanto, objetos também diferentes. A lingiifstica seria uma dessas perspectivas; a teoria do dis- curso (metalingiifstica, em Bakhtin, ou translingiifstica, como prefere Todorov), outra. Optou-se por teoria do discurso para 0 correspondente hoje da translingiifstica ou da metalingiifstica de Bakhtin, a0 contrario de Todorov, que considera que “pragmitica” seria atualmente o nome mais adequado. Ao tratar, em seus escritos, do texto como objeto das ciéncias chumanas, Bakhtin aponta ja as duas diferentes concepgdes do Princfpio dialégico, a do didlogo entre interlocutores ¢ a do didlogo entre discursos, pois considera que nas ciéncias humanas 0 objeto € 0 método sio dial6gicos. Quanto ao objeto, 0 texto define-se como: a) objeto significante ou de significacao, isto é, o texto signi- fica; b) produto da eriag ideol6giea bu de uma enunciagio, com tudo o que esté af subenteidido: contexto histérico, social, 26 ery CON TRINUIGOES DE KAKI jetraral cle. (em outras palavras, 9 texto nia existe fora da / sociedade, s6 existe nela ¢ para ela e 1 [Asta materialidade lingtifstica [empirisino objetivo] ou dis solvido nos estados psfquicos di fio pode ser reduzido laqueles que o produzem ou © interpretam [empirismo subjetivo]); ©) dialégico: j4 como conseqtiéncia das duas caracteristicas anteriores 0 texto é, para o autor, constitutivamente dia- logic; define-se pelo didlogo entre os interlocutores ¢ pelo didlogo com outros textos; d) nico, nio-reproduzivel: os tragos mencionados fazer do texto um objeto tinico, nio-reiteravel ou repetivel. Deve-se mencionar a esse respeito que, para Bakhtin, a lin- giistica faz abstragao das formas de organizagao do texto ¢ de suas fungées sociais ¢ ideolégicas, e seu objeto é, portanto, repetivel, reiteravel. Seria o caso de perguntar se para o autor € ela uma ciéncia humana. Quanto ao método nas ciéncias humanas, Bakhtin afirma que se trata da compreensao respondente: procura-se conhecer um objeto, nas ciéncias naturais, um Sujeitd,— produtor de textos —, nas ciéncias humanas. E diz o aittor/ As ciéncias exatas so uma forma monolégica do conhecimento: o inte- ecto contempla uma coisa ¢ pronuncia-se sobre ela. Ha um tinico su- jeito: aquele que pratica o ato de cognicao (de contemplagio) e fala (pronuncia-se). Diante dele, hd a coisa muda, Qualquer objeto do co- nhecimento (incluindo 0 homem) pode ser percebido ¢ conhecido a titulo de coisa. Mas 0 sujeito como tal nfo pode ser percebido € estu- dado a titulo de 4 porque, como si ito, nio pode, permanecendo sujcito, ficar mudo; conseqiientemente, o conhecimento que se tem dele 86 pode ser dialégico (1992, p, 403) As relagdes entre o sujeito da cognigio € 0 sujeito a ser conhe cido nas ciéncias humanas sio, para Bakhtin, relagdes de comu- hicagio entre Destinador © Destinatirio, O sujeito da cognigao 27 “ty isedelae On Me 7 mnie DIANA LUZ PESSOA DE BARROS. procura interprcarou comprrender 9 00110 SU;Cit0 Cm gar jy 7 Ms. "S90 6 ung 0 ASsiM come plica esta para a outra no didlogo. Compreender é o alo locator uma contrapalavra” (1986, pp. 131-32), ur apenas conbecer um objeto. Citando: “A compree forma de didlogo; ela esta para a cnuncia Ma rf POT a pala ta \s rellexdes de Bakhtin sobre as ciéncias human 8. © a Fingy, FAM Precursor ¢ any. capador dos estudos do diseurso, Seu ponto de gem indicam ja algumas razOes que o torn: Pattida, seu geste inicial na concepgto da prépria ciéncia €0 de colocar otexto con, tulero, como lugar central de toda investigagio sobre o homey, \inda hoje, muitos dos estudiosos da linguagem tém dificuldade em accitar isso, em reconhecer 0 papel do texto. Dialogismo Deve-se observar em primeiro lugar que, se a concepcio de linguagem de Bakhtin é dialégica, se a ciéncia humana tem mé todo ¢ objeto dialégicos, também suas idéias sobre o homem ea vida sdo marcadas pelo principio dialégico. A alteridade define o ser humano, pois o outro é imprescindivel para sua concepgio: é 'mpossivel pensar no homem fora das relages que o ligam a0 outro (1992, pp. 35-36). Em sintese, diz 0 autor, “a vida é dialdgica por natureza”. E nese quadro, portanto, que tomam forma e sentido as con- cepsies dialégicas de linguagem ¢ de discurso que mais de pero no» interessam. Neste estudo foram separadas as duas nogdes de ‘ialogismo que permeiam os eseritos de Bakhtin ¢ procurou-s¢1 iscurso ¢ do setaro papel de cada uma delas nos estudos do discurse ¢ & texto, EEE eee te O ( CONTRIBUIG S DE BAKHTIN Didlogo entre interlocutores Em diferentes textos, Bakhtin trata do diélogo entre interlo- cutores €, Com essa questo, ingressa no campo dos estudos que hoje se desenvolvem sobre a interagio verbal entre sujeitos ¢ sobre a intersubjetividade. Quatro aspectos de sua concepgao de dialogismo entre interlo- cutores devem ser mencionados: a) a interagio entre interlocutores ¢ 0 principio fundador da linguagem, (Bakhtin vai mais longe do que os lingiistas saussurianos, pois considera néo apenas que a linguagem € fundamental para a comunicag4o, mas que.a interagio dos interlocutores funda a linguagem);. b) o sentido do texto ¢ a significagio das palavras dependem da relago entre sujeitos, ou seja, constroem-se na produgéo € na interpretagao dos textos; c) aintersubjetividade é anterior a subjetividade, pois a relagao entre os interlocutores no apenas funda a linguagem ¢ d& sentido ao texto, como também constréi os préprios sujeitos produtores do texto; d) as observagées feitas podem conduzir a conclusdes equi- vocadas sobre a concepgao bakhtiniana de sujeito, consi- derando-a “individualist” ou “subjetivista”. Na verdade, Bakhtin aponta dois tipos de sociabilidade: a relagao entre sujeitos (entre os interlocutores que interagem) ¢ a dos su- jeitos com a sociedade. Considerados esses quatro aspectos do dialogismo interacio- nal, podem ser agora apontadas as contribuigdes de Bakhtin aos estudos da comunicagio e da interagao verbal, Entre outros, serio o lingiifstica, funcional ¢ discur- siva; a reversibilidade c a construgio dos interlocutores no ditlogo; 29 wig) DIANA LUZ PESSOA DE BARROS o jogo de imagens, os simulactos ¢ as avaliagdes entre eles; a ques- tio da competéncia dos sujcitos da comunicagao, bal nao partiram da lingiifs- Os estudos da comunicagio ver tica ou das teorias do discurso, mas tradicionalmente seguiram a teoria da informagdo, que, nos anos 1950, exerceu forte influéncia humanos fio entre ser . Se pensarmos na comunic 0 verbal, algumas “dificul- na lingitistic © mais especificamente na comunic dades” sio encontradas nos “esquemas” oriundos ou herdados da 10. A concepgao de Bakhtin de comunicagao é ada das propostas da teoria da informagao ¢ an- teoria da informa bastante diferene tecipa muitas das “solugées” encontradas por outros estudiosos para a comunicagao verbal entre seres humanos. Trés sio as principais objegdes que se fazem aos esquemas mencionado: a) simplificagao excessiva da comunicacao lingiifstica; b) modelo linear que se ocupa apenas ou de preferéncia do plano da expresso; ,/ c) caréter por demais mecanicista. | Malmberg (1969) e Jakobson (1969), procurando vencer a pri- meira dificuldade, retomam ¢ “complementam”, no seio das abor- dagens lingiifsticas, as propostas da teoria da informagao, da teoria da comunicagao e da cibernética para o processo de comunicagio. Dessa forma, resolvem duas das simplificagées criticadas: a da va- riagéo de c6digos ¢ subcédigos ¢ a da diversidade de fungoes da linguagem, restringida, nos estudos anteriores, \ fungao infor- mativa. Bakhtin insiste enormemente na questio da vari tica, funcional, discursiva, facetas dade rologia )u pluridiscur- sividade, que para cle caracteriza os dsc Ocups trabalhos, da divergidade de voze “se, em seus das I{nguas ¢ dos tipos dis cursivos. O termo heterologia, embora em prinefpio se aplique 0. we igreeerened CONTRINUIGOES DE BAKHTIN diversidade de tipos discursivos, € empregado muitas vezes, nos escritos de Bakhtin, para a diversid lade em geral dos diferentes elementos qu am o discurso: de géncro (tipos discur- sivos), de profissio, de camada social, de idade ¢ de regio (diale- tos). Todos esses elementos de variagio devem ser considerados quando se pensa em comunicagio verbal entre seres humanos. A segunda objecio feita aos modelos da teoria da informacio, caracteriz a do caréter linear dos esquemas, teve como reagdo 0s estudos | desenvolvidos sobretudo nos Estados Unidos, a partir dos anos 1950, que propéem um modelo “circular para a comunicacao”: a comunicacao, no quadro da teoria da “nova informacao”, da socio- | logia da comunicagao ou da anilise da conversagio, no deve mais ser pensada como um fenédmeno de mo Gnica, do emissor para o receptor, mas como um sistema reversivel e interacional. Bakhtin, como vimos, vai longe na questo, pois considera a interacao a realidade fundamental da linguagem (1988, pp. 71, 88). Nesse quadro surge também a questao da dinamica da inte- ragao e da construgio dos simulacros intersubjetivos (1988, p. 83). Deve-se mencionar aqui, em outras perspectivas teéricas, as con- | tribuigées dd Pécheux, que propéc 0 to conhecido (e muitas vezes deturpado) jogo de imagens que se fazem mutuamente os interlo- cutores da comunicagao, € as dd Greimas, que trata da construgio dos simulacros que determinam as relagées entre sujeitos. Bakhtin insiste nesse aspecto da interagao, sobretudo quando trata do contexto extraverbal do enunciado, ¢ introduz a questio da avaliagdo na relagio entre os interlocutores, Os interlocutores avaliam-se ¢ expressam esses valores por meios diversos de con- teddo ou de expresso, entre os quais 0 autor destaca a entonagio, \ como expresso fonica da avaliagdo social: “O tom nao é determi nado pelo material do contetido do enuncia do ou pela vivéncia do Jocutor, mas pela atitude do locutor para com a pessoa do interlo-. cutor (a atitude para com sua posigio social, para com sua impor: > tincia, etc.)” (1992, p, 396). 31 wg esD ( DIANA LUZ PESSOA DE BARROS Deve-se mencionar 0 fato de que em nenhum dos casos ¢i- tados — 0 das imagens le Péecheux, o dos simulactos de Greimag ow o das avaliagoes de Bakhtin — as construgées 0 individuats, entadas no que Bakhtin denomina mas, ao contririo, estio clas a! “horizonte ideolégice Finalmente, cheg: -se a terceira objegio feita aos modelos de comunic: 0 da teoria da informagao, 0 de seu cardter mecani- cista, Os estudos mencionados sobre a interago verbal encami- nham-se para proposta mais “humanizantes” da comunicagio ou, na perspectiva de Bakhtin, mais “sociologizantes”. Reencontra-se af a segunda concepcao de Bakhtin de dialo- gismo, a de didlogo entre discursos. No item que segue, serdo exa- minadas assim as questdes de discurso ¢ enunciacio, discurso contexto sécio-histérico, discurso ¢ ideologia, juntamente com as nogoes de intertextualidade, interdiscursividade, polifonia ¢ he- terogeneidade discursiva. Didlogo entre discursos Bakhtin, repetimos, considera o dialogismo o principio consti- tutivo da linguagem ¢ a condigao do sentido do discurso. Insiste no fato de que o discurso nao é individual, nas duas acepg6es de dia- logismo mencionadas: nao é individual porque se constréi entre pelo menos dois interlocutores, que, por sua vez, so seres sociais; nao ¢ individual porque se constréi como um “didlogo entre discur- sos”, ou seja, porque mantém relagdes com outros discursos. Con- ciliam-se, assim, nos escritos de Bakhtin, as abordagens do texto ditas “externas” ¢ “internas” ¢ recupera-se, no texto, seu estatuto pleno de objeto lingtifstico-discursivo, social e histérico. O autor critica as andlises parciais tanto do “ideologismo estreito” quanto do “formalismo limitado” (Todorov, 1981, pp. 37, 58). ‘Trés pontos devem ser esclarecidos: em primeiro lugar & pre- ciso observar que relagées do discurso com a enunciagéo, com 32 a OK CONTRIBUIGOES DE BAKITTIN 6 contexto s6cio-hist6rico ou com o “outro” sio, para Bakhtin, rela- gies entre discursos-cntnciados; o segundo esclarecimento €0 de que o dialogismo como foi acima concebido define 0 texto como um “tecido de muitas vozes" ou de muitos textos ou discursos, que se entreeruzam, se completam, respondem umas as outras ou po- lemizam entre si no fnterior do texto; a terceira ¢ Gltima observagao € sobre 0 carter ideolégico dos discursos assim definidos. Com essa concepgio de dialogismo aproximamo-nos nao mais dos estudos da comunicagio verbal, mas principalmente das teo- rias pragmaticas, das teorias do discurso ¢ do texto até de preocu- pagoes S carater psicanaliticas com 0 “outro” do discurso. Com essa concep- do também somos levados a examinar duas outras questées: ado ialégico da lingua em relagao ao dialogismo dos discursos ¢ ado mascaramento do dialogismo dos textos. a) O dialogismo constitutivo da linguagem Muitas vezes 0 reconhecimento do dialogismo do discurso, tal como foi entendido nas duas concepgées adotadas, e conseqiien- temente de seu cardter ideol6gico leva a crer, por oposigéo, no cardter monol6gico ¢ neutro da lingua. Bakhtin nio esté entre os que pensam dessa forma: para ele a linguagem é, por constituigao, dialégica ¢ a lingua nao é ideologicamente neutra e sim complexa, pois, a partir do uso e dos tragos dos discursos que nela se impri- mem, instalam-se na lingua choques € contradig6es. Em outros termos, para Bakhtin, no signo confrontam-se indices de valor contradit6rio. Assim caracterizada, a lingua é dialégica ¢ com- s plexa, pois nela se imprimem historicamente ¢ pelo uso as relagd dialégicas dos discursos. 1 cla pensada como lingua ou como discurso, Alinguagem, , portanto, essencialmente dialégica, Ignorar sua natureza dialé- gica €0 mesmo, para Bakhtin, que apagar a ligagio que entre a linguagem c a vida (1979, p. 268). iste 3 wig reen0 DIANA LUZ PESSOA DE BARROS b) Dialogismo ¢ polifonia ‘a aos cstudiosos do dis- Finalmente, chega-sea questio Go a do ocultamento ou 140 ¢ lo dialogismo discur- curso, qual seis relagio entre dialogismo e polifonia, sivo. Para isso se exammna vraag muitas vezes utiizados como sindnimos nos escritos de Bakhun. Em trabalho anterior (1994) sobre 0 assunto, distingui clara- reservando o termo dialogismo para te dialogismo ¢ polifonia, guagem e de todo discurso pio dialdgico constitutivo da lin, Javra polifonia pata caracteriza o dialogismo se deixa ver, aquele em que posigdo aos textos monofénicos, em. Trocando em miti- me o prines ¢ empregando a pal rum certo tipo de texto, aquele em que sio percebidas muitas vozes, Por O| scondem os didlogos que os constitu dos, pode-se dizer que 0 didlogo € condigao da fin; discurso, mas hé textos polifonicos ¢ monofbnicos, conforme va- riem as estratégias discursivas emprogadas. Nos textos polifénicos, gos entre discursos mostram-se, deixam-se ver ov entrever; nos textos monofonicos eles se ocultam sob a a discurso Gfico, a ums ica voz. Monofonia ¢ polifonia sao, portanto, efeitos de sn Jct de procedimentos discur- sivos, de discursos par-definigao ¢ constituigao dialgicos. Cabe aos estudiosos do texto examinar as estratégias, 0s proce- mente cons- cursos que fazem de um texto dialogica dimentos, 0s re ‘itufdo discursos monofbnicos ¢ polifdnicos. Essa tem sido, em geral, a diregao empreendida por varios daqueles que explicita ou implicitamente deram seguimento as reflexes de Bakhtin, tais como J. Authier-Revuz, (1982) ¢ D. Maingweneau, no quadro te5- rico da andlise do discurso francesa, ou O, Ducrot, na perspectiva interacional. Essa que ¢ guagem ¢ do os didlo} paréncia de um da semanti da enunciagio ou da lingiifstic do estudioso do texto ¢ do discurso, deve ser hoje uma das tarefi ser feito, muitas possibilidades de polifonia pois ha muito ainds discursiva a serem examin: s, intimeros ¢ diversificados procedi- 34 ew ryrenerdO ( CONTRIBUIGOES E BAKHTIN mentos ¢ ntos ¢ estratégias de produgio de efeitos de polifonia ¢ de mo- nofonia discursiva a serem descritos e explicados Referéncias bibliograficas AuriEr-RI ae vuZ, J. “Hétérogénéité montrée et hétérogénéité constitutive: ents pour une approche de l'autre dans le digcours”, Datav, Revue de Linguistique, 26, 1982, pp. 91-151. Bakunin, Mikhail. La poétique de Dostoieuski. Paris: Seuil, 1970. + La cultura popular en la Edad Media y Renacimiento. Barcelona: Barral Editores, 1974, - “Le discours dans la vie et dans la poésie”, in T. Todorov, Mikhail Bakhtine. Le principe dialogique. Paris: Seuil, 1981, pp. 181-216.~ (1929). Marxismo e filosofia da linguagem. 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