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ee A obra analisa, com inédita profundidade, a Thvestigacao preliminar no Ambito do Processo Penal, declarando sua imprescindibilidade, especialmente porque, no Brasil, tem sido relegadaa segundo plano. | O grande interesse para os operadores do Direito esta na visdo ampla do Autor sobre o tema, fundada em vasta consulta bibliogréfica, e na clara _ exposicao e anélise que realiza a respeito nao s6 de quem deve presidiclo—o Juiz, o Promotor de justica ou o Delegado de Policia, mas, principalmente, da | comparacao entre os diversos sistemas de instrucdo preliminar, expondo as | vantagens e 0s inconvenientes de cada qual. | ———— * ‘ ISBN 85-7387-944-0| : | ‘ | ‘ | e | . jolrsss73!s79445 . Visite nossa loja virtual. ’ www.lumenjuris.com.br do Prelit ASE Sistemas ce [vest Aury Lopes Jr. IMINAL_ 10 Processo Penal Igacat a Aury Lopes Jr. Sistemas de | Investigacdo Preliminar — no Processo Penal 4® edigdo revista, ampliada e atualizada | Lumen 4 Jruris| itora ‘Aury Lopes Jt Caso decida pela priséo, imediatamente o preso deve ser trasladado da respectiva delegacia para o estabelecimento prisional adequado, nao ficando mais a disposigao da policia e das suas praticas investigatérias, ‘Também é prudencial que o MP solicite ao juiz fixar um prazo exiguo para a conciisao do IP ou mesmo a sua imediata conclusdo e remessa, Neste sentido, o art, 5¢ da CADH proibe o trato cruel, desumano ou degradante que pode representar medida desta natureza, ademais de assegurar o direito de toda pessoa a ser julgada dentro de um prazo razoavel ou a ser posta om liberdade (art. 7.5) Para concluir, destacamos que também neste tema o problema entre normatividade e efetividade @ patente. A regra geral é descum- primento sistematico dos prazos. Na pratica, estando 0 sujeito passivo em liberdade, os prazos para a conclusao IP nao sao obedecidos nao raras vezes chegam ao MP ja prescritos pela pena in abstracto. Antes do advento da Lei ne 9.099/95, a situagéo era ainda mais grave, pois a grande maioria dos delitos leves, especialmente os culposos de transi- to, prescreviam antes do oferecimento da dentincia. Existindo uma pri- ‘a0 cautelar, no dia subseqtiente ao término do prazo para a conclusao do IR essa prisio passa a ser ilegal. © habeas corpus pode restituir a liberdade, mas nao impée a conclusao do IP Tampouco a concessao da berdade sera uma tarefa facil, pois em muitos Trbunais predomina 0 entendimento de que o excesso de prazo da prisao deve computar-se de forma global, ¢ nao isolada (fase a fase). VI. Analise dos Atos do Inquérito Policial A) Atos de Iniciagao © inquérite policial tem sua origem na notitia criminis ou mesmo na atividade de oficio dos d:gaos encarregados da seguranca publica Formalmente, o IP inicia com um ato administrativo do delegado de Policia, que determina a sua instauragao através de uma portaria. Sem embargo, a relevancia esta no ato que dé causa a portaria, que, em tlti- ‘ma andlise, carece de importéncia juridica. Por isso, dispde o art. 5° do CPP que o IP ser iniciado: a) De oficio pela propria autoridade policial |A propria autoridade policial, em cuja jurisdigao territorial ocorreu © delito que Ihe compete averiguar em razdo da materia, tem 0 dever Sistomas de Invesigngso Preliainar no Processo Penal de agi de oficio, instaurando o inquérito policial. E uma verdadeira inquisiti ex officio. A chamada cognigao direta pode surgi, como apon- ta Aragoneses Alonso::® por informagao reservada; em virtude da situagao de Nagrancia; por meio da voz pitblica; + através da notoriedade do fato. Naroaldade, excotvando-2 0 Nagrante,s40rar0s 08 casos de sl startor da poli, que om geral 6 atua modiante invocagso. Camo cxplicam Fgueiredo Dias © Costa Andrade” o Estado, soja por melo da police, do Ministro Pablico ou dos gdoe jriedilonais ie de Instrugdo), nfo atua em regra pelo siotema de sostarter, maa sim através de uma ago auina nota criminis, Para stra eos reals de, sogundo dados fornecidos pelos autores, nos ftados Unidos © ‘Alomanha calcula-se que o ica das investigagbes depend, em ooren de 85% a 95%, da iniciativa dos particulares. oe b) Requisicéo do Ministério Publico (ou érgao jurisdicional) Quando chega ao conhecimento de algum destes érgdos a pratica de um delito de acao penal publica ou se depreende dos autos de um processo em andamento a existéncia de indicios da pratica de uma infragdo penal de natureza piiblica, a autoridade devoerd diligenciar ara sua apuragao. Decorre do dever dos érgaos publicos de contribuir para a persecugéo de dolitos dessa natureza, __Em sendo o possuidor da informagao um érgao jurisdicional, deve- 4 enviar os autos ou papéis dirs ite ao Ministerio Publica (art, 40) para que decida se exerce imediatamente a agao penal, requisite a ins- tauracdo do IP ou mesmo solicite o arquivamento (at. 28). A Constituigao, ao estabelecer a titulatidade exclusiva da agdo penal pablica, esvaziou em parte o contetido do artigo em tela. Nao cabe ao juz iniciar 0 processo ou mesmo o inquérito (ainda que através da requi sigdo), nao s6 porque a agéo penal publica ¢ de titularidade exclusiva do ME mas também porque é um imperative do sistema acusatério, 38 Iasiuciones do Derecho Process! Penal, 290. 38 Ghiminoogia 188. 189 ‘aury Lopes St Inclusive, quando a representagdo ¢ feita ao juiz ~ art. 39, § 40 —, entendemos que ele nao deverd remeter & autoridade policial, mas sim a0 MP. Nao $6 porque 0 titular da acdo penal, mas porque o proprio § 62 do art, 39 permite que o MP dispense o IP quando a representagao vier suficientemente instruida e quem deve decidir sobre isso 6 0 pro- ‘motor, @ nao 0 juiz, Em definitivo, nao cabe ao juiz requisitar a instauragio do IP, em honhum caso. Mesmo quando o delito for, aparentemente, de agao penal privada ou condicionada, deverd o juiz remeter a0 MP para que este solicite o arqquivamento ou providencie a representagao necessaria ppara o exercicio da aco penal. Se for o proprio MP quem tome conhecimento da existéncia do dolito, devera exercer a agao penal no prazo legal, requisitar a ins- tauragdo do IP ou solicitar o arquivamento, Quem deve decidir sobre a necessidade de diligéncias (e quais) é 0 titular da agéo penal, que podera considerar-se suficientemente instruido para o imediato ofe- recimento da dentincia, Tudo isso sem esquecer que © proprio MP podera instaurar um procedimento administrativo pré-processual destinado a aclarar os pontos que julgue necessarios, prescindindo da atuagao policial Em sentido estrito, a requisigdo 6 uma modalidade de noticia- crime qualificada, tendo em vista a especial condigao do sujeito ative 6 a imperatividade, pois da noticia de um acontecimento com possivel relevancia juridico-penal e determina a sua apuragao. De qualquer forma, recebendo a requisicso, a autoridade policial deveré imediatamente instaurar o inquérito policial e praticar as dili- géncias necessérias @ as eventualmente determinadas pelo MP 0 § 22 do art. 62 refere-se exclusivamente ao requerimento do ofendido, nao se aplicando & requisicéo. ‘Como apenta Espinola Filho2? ainda muito antes de a Constituicao falar em controle externo da atividade policial, ¢ de toda evidéncia que, recebendo requisigéo dos érgdos da Justica, para abertu. ra de um inguérito, & autoridade policial cumpre dar-Ihe imediata satis- fagao, som 0 justificar qualquer divida, pois a policia néo cabe discutir determinagées judiciarias. Por fim, of requisitos provistos no art. 59, II, § 1s, ndo se aplicam & requisigéo, mas somente ao requerimento do ofendido. Sem embargo, Obie de Proceso Pena! Brasisiro Anotade, vol. . 277 180 i i Sistemas de lnvestigagso Protminar no Processo Peal por imposicao légica, a requisigéo deverd descrever o fato aparente- monte delituoso a ser investigado, cabendo ao promotor indicar aque- les elementos que jé possui e que possam facilitar o trabalho policial. Nada obsta a que o MP reserve-se 0 potier de nao informar aquilo que julgar desnecessério ou mesmo que ndo deva ser informado a policia para nao prejudiicar o éxito da investigagéo (principalmente quando 0 sogredo for imprescindivel ¢ existir a possibilidade de publicidade abu- siva por parte da policia ou que, pela natureza do fato, a reserva de informagdo esteja justificada), c) Requerimento do ofendido (delitos de agao penal publica incondicionada) # uma noticia-crime qualificada, pois exige uma especial condigao do sujeito (ser 0 ofendido), que, ademais de comunicar a ocorréncia de um fato aparentemente punivel, requer que a autoridade policial dlli- gencie no sentido de apuré-lo. No sistema adotaco pelo CPP nos delitos de ago penal publica, a fase pré-processual esta nas maos da policia, ¢ a ago penal, com 0 Ministério Publico. Sem embargo, cabe a vitima atuar em caso de inér cla dos éraaos oficiais, da seguinte forma + requerendo a abertura do IP se a autoridade policial néo o ins- taurar de oficio ou mediante a comunicagao de qualquer pessoa; exercer 4 agao penal privada subsidiéria da publica em caso de inércia do Ministério Pablico (art. 58, LIX, da CB o/c art, 29 do GPP} Ao lado desses mecanismos de impulso em caso de inércia, a vitima podera acompanhar a atividade dos érgéos publicos da seguinte forma: + solicitando diligéncias no curso do inquérito (art, 14), que poderdo ser realizadas ou nao a juizo da autoridade policial,t {a caso do indotorimanto, poder oafendide rere opadido junto 20 MP Se o promo: tor concordar com as motives slagados id reuistar A sutordace olen, quw necosaa flamente deveré cumpric como roquatido, pls nao exate poder dicrcioal do dalega- Go ante um soquerimonto do MP bem como facilitando dados, documentos © objetos que pos- sam contribulr para o éxito da investigagao; + no processo, habilitando-se como assistente da acusacao e desta forma propondo meios de prova, requerendo perguntas as testemunhas, aditando 0 libelo e os articulados, participan- do do debate oral e arrazoando os recursos interpostos pelo MP ou por ele préprio, nos termos dos arts. 268 e seguintes do CPP O art. 53,11, § 18, enumera determinados requisitos que conteré ~ sempre que possivel ~ o requerimento. O primeiro é de ordem légica, pois necessariamente deve descrever um fato, ainda que nao o faga “com todas as circunsvancias", até porque um dos fundamentos da existéncia do inquérito policial, como instrugao preliminar, 6 apurar as circunsténcias do fato, ‘A letra b refere-se a indicagdo da autoria, cabendo ao ofendido facilitar & policia os dados que possua e fundamentar sua suspeita. ‘Mas tampouco imprescindivel, pois outra das fungdes do IP exata- mente a sua determinagao. ‘A nomeagao das testemunhas com dados que permitam identifica- las, sendo desnacessério indicar a profissao, O que pretende a lei é que 0 ofendido indique dados que permitam a autoridade identificar e con- tatar as testemunhas, Tampouco poderd ser indeferido o requerimento por falta de indicacao de testemunhas. Em sintese, o que deve ficar claro é que se trata de um delito de acdo penal piblica e que a policia tem a obrigagdo de apurar, seja através do conhecimento de oficio, atra- vés de noticia-crime realizada pela vitima ou por qualquer pessoa. Para atender aos requisitos legais, o requerimento devera ser feito por escrito e firmado pela vitima ou seu representante legal, até porque f falsa comunicagao ou imputagéo contida no requerimento podera cconfigurar 0 delito do art. 340 ou do art. 339 do CP, Nao oxiste um prazo fixado em lei, mas deverd ser feita antes da prescrigéo pela pena abstratamente cominada. Prové 0 § 28 do att. 52 que do despacho que indeferir o requerimen- to de abertura do inquérito policial caberd "recurso" para o chefe de policia. & um recurso inominado, de caréter administrativo e de pouca ‘ou nenhuma eficdcia, Vislumbramos outras duas alternativas| + impetrar um Mandado de Seguranca contra o ato do delegado; + levar ao conhecimento do Ministério Piblico, oferecendo-Ihe todos os dados disponiveis, nos termos do art. 27, 182 Sistemas de levesigngio Praliminar no Proceso Penal Especialmente na segunda opeao, quicé a melhor, se o MP insistir no sentido do arquivamento das pecas de informacao, nada mais pode- 14 ser feito. Podera sim repetir o pedico de abertura se surgirem novos elementos que possam justificar uma mudanga de opiniao. d) Comunicagao oral ou escrita de delito de agao penal pitblica a tipica noticia-crime, em que qualquer pessoa, sem um interes- se juridico especifico, comunica & autoridade policial a ocorréncia de um fato aparentemente punivel. Inclusive a vitima poderd fazer essa noticia-crime simples, quando comunica o fato sem formalizar um requerimento. O IP somente podera formalmente ser instaurado se for uum delito de agao penal pitblica e a autoridade policial verificar a pro- cedéncia das informacées. Caso a comunicagéo tenha como objeto wm delito de ago penal privada, nao tera oficécia juridica para dar origem 40 inquérito policial, pois exige o art, 62, § 52, cue a vitima (ou quem tenha qualidade para representé-la) apresente um requerimento. No Brasil, a regra geral é a noticia-crime facultativa, pols aos cida- daos assiste uma faculdade, e no uma obrigagéo de denunciarem a prética de um delito que tenham presenciado ou que sabem ter acorti- do. Em sentido oposto esta a noticia-crime obrigatéria,®? que no nosso sistema 6 uma excegao, Como exemplos de noticia-crime obrigatéria citamos o art, 66 da Lei ne 3.688/41, segundo o qual constitui a contravencao de omissdo de comunicagao de crime o ato de deixar de comunicar 4 autoridade com- petente crime de acéo penal publica incondicionada de que teve conhecimento no exercicio de fungdo piiblica, O inciso I do referido dispositivo prevé a punigdo de quem teve conhecimento, no exercicio da medicina ou de outra profissao sanitéria, de um crime de ago penal “Bm alguns paises, «raga geval # a oticiserime absigotie, numa tontativa do alean 210 total enforcement anaves da obnigagio lagal de tos oe indviduoe nailed fatosdetituosos que tenham presencia ou ce tenham coahecimento por outras onto ‘e cognigio, Na Bepana, onda vigoreo sistema de noticia ere obrigntrin, prov oA 259 dn LBCrim que a peseos que presencas a préiea de qualquor delio pblco est ‘brigads a lovee imediatamente 40 conhecimento do Inia da Instrugso. do MP os da polis, no lagar mais prime so que se conte, ob pata de cid no del presto ho ert 450 do CP Btn exclidos deste cbrigagto os incepares, jaye ce deletes tw, asoondontes, descondontoe ate, previtas nos arts. 260 ¢ 26% da LECH, 199 ‘Ary Lopes J piblica incondicionada e cuja comunicagio nao exponha o cliente a procedimento penal, Logo, a regra é que qualquer pessoa pode (faculdade, € nao um dever) comunicar a ocorréncia de um delito de aca penal publica, cabendo & policia verificar a provedéncia da delacio criminis e instaurar © inquérito policial, que, uma vez iniciado, nao poderd ser arquivado (salvo quando assim 0 requerer o MP ao juiz competente) Ainda que nao possua forma ou qualquer tequisito - salve o de ser um delito de agéo penal publica -, € importante decumentar essa comunicagao, reduzir a termo quando feita oralmente ou anexar ao inquérito 0 documento escrito que materializou, Na policia, essa noti- cla-crime simples assume a forma de Boletim ou Termo de Ocorréncia, Ademais de consignar o fato e as suas circunsténcias, é importante, conforme 0 caso, questionar sobre os motivos que levaram a realizar a noticia-crime, pois podem interessar & investigagéo, principalmente quando motivada por vinganga ou uma forma dissimulada de pressio- nar ou constranger. Acomunicagio de um delito em que caiba agao penal pitblica tam- bém podera ser realizada diretamente ao Ministério Puiblico, a teor do art. 27, cabendo ao promotor decidir entre + oferecer a dentincia com base nos dados fornecidos; + om se tratando de um delito de ago penal piblica condicio- nada, poder oportunizaré a vitima para que - querendo — ofereca, se nao for ela mesma quem noticia 0 fato; + instaurar um procedimento administrative pré-processuel de crater investigatério, com o fim de apurar o fata ¢ a autoria noticiada; + requisitar a instauragao do inquérito policial; solicitar 0 arquivamento. Se a noticia do delito tiver como destinatario o 6x jurisdicional, doverd este remeté-la imediatamente ao MR pois, como vimos, nao cabe ao juiz requisitar a abertura do IP 483" Arepresentagto & um atojuraico regio por entroe de oportunidade e convenineia de ‘auem tem legtimidade e cepacidade para teuiztla, © MP pedeté~ sem qualquer tipe ie presaia = dar oportunidade para que oofendide, qverendo,repeseate, Janae pode ‘exit & prdonte que comunigue a situagio de pends ert que se encont © PLO ‘cesso © 0 prazo legal disponivel para querendo~tepuesonta. Sistemas de Investigago Preliminar no Processo Penal Quando faisa, a comunicagdo possui relevancia juridico-penal. Destarte, podera adequar-se & conduta desorita no art, 340 do CP aquele que der causa a instauragao do inquérito policial por meio de uma falsa comunicagao de crime ou contravencao. Exige 0 tipo penal que o agente atue dolosamente, com plena consciéncia da falsidade que comete. ‘Quando, ademais de comunicar a existéncia de um delito, impute. 9 a.uma pessoa determinada, 0 delito seré o de denunciagao caluniosa (art, 339 do CP), exigindo o tipo penal a presenga do dolo, pois deve imputar a conduta a uma pessoa determinada e que sabe ser inacente, ¢) Representacao do ofendido nos delitos de ago penal publica condicionada Quando se tratar de um delito de ago penal publica condiciona- da, a teor do art. 58, § 49, sequor poderia ser iniciaclo o IP sem a repre: sentagéo da vitima, A representacao, considerada como uma condicao de procedibilida- de pela maior parte da doutrina, é na verdace uma noticla-crime qualifi- cada, Isto porque exige uma especial qualidade do sujeito que a realiza, Ademais, ao mesmo tempo em que da noticia de ter sido ofendido por lum delito, demonstra a intengao de que o Estado inicie a perseguigao, Vejamos agora a representacao numa anélise sistematica: Sujeito: a vitima ou seu representante legal (cdnjuge, ascen- dente, descendente ou itmao). A representagao poder, ainda, ser prestada através de procurador com poderes especiais. Com 0 advento do novo Cédigo Civil, entendemos que desapareceu a legi- timidade concorrentes (antes adatada quando o ofendido tinta entre 18 € 21 anos), de modo que: ou 0 ofendido tem menos de 18 anos ¢ a representacdo deve ser feita pelo representante legal; ou ele 6 maior de 18 anos, situagdo em que somente ele podera repre- sontar (desaparece a possibilidade de o representante o fazer) Sem entrar na infindavel discussio sobre 0 alcance da Simula 694 do STF, destacamos apenas que, a nosso juizo, trata- concotrente ent o mana (om mais de 18 « menas de 21 anos) 0 reprosentante legs pala a petice de algum ate pcaerval, como por exemplo na renincia ob no pera 186 196 Auey Lopes Je se de um nico direito. Logo, se © menor de 18 anos levar ao conhecimento do representante legal, o prazo de 6 meses comega a Mluir. Se o responsavel legal nao representar, nao podera o menor, a0 atingir a maioridade, fazer a representagio, pois 0 direito em tela tera sido atingido pela decadéncia. Contudo, se o menor nao Jevar ao conhecimento do representante legal, contra ele nao fui o pprazo (eis que menor) @ contra o representante também nao (pois, ado tem ciéncia), Logo, quando completar a majoridade, podera representar, dentro do limite de 6 meses. Objeto: os objetos da representagao sao 0 fato noticiado @ a respectiva autorizagao para que o Estado proceda contra o supos- to autor, Nao é necessério que a representacao venha instrulda com prova plena da autoria e da materialidade, mas sim que sejam apresentadas informacées suficientes para convencer que ha um. crime a apurar. A propria indicagao do autor nao é imprescindivel, pois uma das finalidades do IP 6 descobri-lo. Sem embargo, deve- +4 conter todas as informagées que possam servir para que a auto: idade policial esclarega 0 ocorrido. ‘Atos: a representacao est sujeita a requisitos de ordem for ‘mal e devera ser feita obedecendo ao: a) Lugar: podera ser oferecicla ao juiz, ao érgao do MP ou & auto. ridade policial. No primelto caso, o juiz devera encaminhar dixetamente ao MP que devera decidir entre denunciar, pedir 0 arquivamento, investigar por si mesmo ou requisitar a instau- ragao do IP Entendemos que o art. 98, § 49, do CPP nao se coa- duna com os poderes conferidos pela Constituigdo de 1988, gue outorga ao MP a titularidade exclusiva da agéo penal piiblica, ademais de poderes investigatérios e de controle externo da atividade policial, como apontamos anteriormente, (Quando oferecida a representacao diretamente & policia, deve- 14 esta apurar a infragdo penal apontada através do IP b') Tempo: 0 prazo para representar 6 decadencial de 6 meses, contados a partir da data em que 0 ofendido vier a saber quem ¢ 0 autor do delito (art. 38). Por ser um prazo decatlen: cial, no pade ser interrompido ou suspenso. Realizada no prazo legal, sera irrelevante que a dentincia seja oferecida apés os 6 meses, pois o prazo decadencial esta atrelado exclusivamente @ representagao ©, uma vez realizada esta, nao se fala mais em decadéncia, A representacéo poderd ser : Sistomas do Invostigagdo Proininar no Proceseo Renal oferecida a qualquer dia e hora, junto & autoridade policial, e, nos dias e horas uiteis, ao juiz ou promotor. c) Forma; a representacdo @ facultativa, cabendo a0 ofendido valorar a oportunidade e a conveniéncia da persecugao penal, podendo inclusive preferir a impunidacle do agressor a difama- ‘pao e humilhagao gerada pela publicidade do fato no curso do. proceso. Nao poder haver qualquer forma de pressao ou coa- cao para que a vitima represente, pois deve ser um ato de livre: manifestagao de vontade. O vicio de consentimento anula a representacao e leva a ilegitimidade ativa (falta a condigio legitimadora exigida pela lei) do MP para promover a ago penal. Podera ser prestada aralmente ou por escrito, No primei- 0 caso, sera reduzida a termo pela autoridade; no segundo, podera ser manuscrita ou datilografada, mas devera ter a firma Teconhecida por autenticidade. Quando nao cumprir esse requisito legal, a autoridade que a recebeu devera intimar a vitima para que comparega, querendo, a fim de representar oralmente (reduzindo-se a escrito). Outra solugo, tendo em vista a tendéncia em floxibilizar os requisitos formais da repre- sentagao, é solicitar a ratificagéo no momento em que a vitima for ouvida — desde que o faga antes de oferecida a denincia, A jurisprudéncia amenizou muito a rigidez do dispositivo e atual- mente entende-se que a mera noticia-crime jé @ sulficiente para imple- mientar-se 0 requisito legal, Prevalece a doutrina da instrumentalidade das formas, com uma flexibilizagdio dos requisitos formais.¢5 Inclusive, como veremos no acérdao a seguir, a propria legitimicade: necessaria para a pritica do ato pode ser ampliada conforme as espe- ciais circunsténcias do fato. Assim decidiu a Segunda Turma do STE {5 Gontude, meroce especial atengto odisposto no art, 568 do CPR pos @possibikdade de bupmimenco das omiasdes da denne, quien on representegso dave set satpro de fous restitiva, Neste sonido, pica TOURINHO FILHO (Comentiriag ol I . 253) ‘quo: As omisabes a quo co ofteo texto eho spans pequends artes materia, coo, Toca e hora do fate, eongae do nome ou qualifoagan dor, awh, valor dar 08 ‘comes conta opetriménio. Cuando s omistao oo reer # ota condutas delituoss, & Instrumentolagal pars emendar a inital €o adtemento,Tataad se de ago penal pi vada, o suprmento da omiseze da quoita pode ser feito taco tempo, Ouando 3 om. $0 rons & doscrigo do fto delve ou ireguaritades no inetromento procure, lovoré sor sanada antes de eagotedo o prazo ancaencil No HC-71376-MG, Ret. Minit Marco Aurelio, Rel. p/ Acirdo Minato Carlos Veloso lone no dia 2/6/1994, oleae no Di de 208/1295, 187 Aury Lopes Penal. Processual Penal. Crimes contra os costumes. Estupro, ‘Menor abandonada. Representagao. Céd. Penal, art. 225, § 18, 1, § 2. I~ A finalidade da representagao, nos crimes contra os costu- ‘mes, nao é acautelar os interesses do réu, mas os da ofendida e de sua familia, que podem preferir 0 siléncio ao estrepitus judicil. IT— Para que o Ministério Pablico se torne parte legitima para intentar a ado penal, é suficiente que se manifeste pessoa de qualquer forma responsvel pelo menor, ainda que 0 menor néo resida em sua companhia. IIf- No caso, a menor, menor abandonada, mantida em carcere privado, conseguiu se comunicar com uma senhora vizinha, em cuja residéncia pediu socorro e que fez a representacao. Regular a representacao, que ndo exige formalidades maiores. Na hipétese, ademals, por se tratar de menor abandonada, a misorabilidade 6 -presumida. IV — H.C. indeferido Como muito bem aponta o acérdao, a representagio ~ nio s6 nos dolitos contra os costumes - existe pata acautolar os interesses do ofendido e nao é uma formalidade de cardter garantista para o acusa- do. B uma das poucas garantias que possui a vitima no proceso penal, pois, conforme seus critérios de conveniéncia ¢ oportunidade, pode Impedir que a perseguigao estatal agrave ainda mais a sua situagao. Por se tratar de um delito de natuzeza publica, ainda que a agao penal soja condicionada, havendo qualquer forma de concordancia do ofendido, deve prevalecer o interesse puiblico de perseguir e punt. Deste modo, é possivel afirmar que a manifestagao de vontade do ofen- ido deve ser interpretada de forma ampla quando o objetivo for auto- rizar a persequicéo, ¢ de forma estrita quando dirigida a impedi-la, Para 0 exercicio do direito de representagao basta a manifesta- a0 de vontade do ofendido em querer ver apurado o fato apontado como delitueso, Como decidiu o Tribunal de Algada de Sao Paulo.3? no se deve chegar ao ponto da exigéncia de uma representagdo com formalismo que a prépria legislagdo persecutdria penal nao exige. Sabidamente, a Lei Processual néo estabelece férmula especifica para a representagao, basta que ela contenha a manifestacao de vontade do ofendido em querer ver apurado 0 fato apontado como delituoso, podendo ser escrita ou oral 2, 184 Chmara, Rel. Jule Fernando Metall, julgedo no aia Sistomas de lnvestigagso Prelininas na Procosco Pena Ainda, no que se refere ao aspecto formal, o STs firmou entendi- mento de que, no crime de lesao corporal culposa, atingido pela vigén: cia da Lei n® 9.099/95, a representacdo, como condligao de procedibili dade, prescinde de rigor formal. Dessa forma, o boletim de ocorréncia, lavrado por delagado de policia, supre a exigéncia do art. 88 da citada lei, demonstrando a intengao da vitima de responsabilizar 0 autor do delito (precedentes citados: RHC 7.706-SP; no STE HC 73.226-7, HC 7.77-SB Rel. Min. Gilson Dipp. julgado em 3/12/1998), Havendo concurso de agentes, basta o envolvimento no fato noti- ciado. Neste sentido decidiu o STF49 Representagao ~ Agéo Penal Publica Condicionada ~ Baliza Subjetiva. A interpretagao sistemética dos artigos 29 do Cédigo de Processo Penal e 225 do Cédigo Penal é conducente a coneluuir se pela possibilidade de a dentincia alcangar pessoa nao mencio- nada na representagao, Indispensavel ¢, téo-somente, que esteja envolvida no mesmo fato motivador da iniciativa do ofendido ow de quem 0 represente. Por fim, se existe uma flexibilizagao da forma, 0 mesmo nao ‘ocorre com 0 prazo para o oferecimento da representacdo, que é decadencial de 6 meses © nao sera suspenso ou interrompido pela abertura do inquérito. £) Requerimento do ofendido nos delitos de agéo penal privada Nos delitos de agao penal privada, o titular da protensio acusaté- Hia néo é o MP mas sim 0 particular, estando o jus ut procedatur nas maos do ofendido. Alguma doutrina, partindo da premissa equivocada de que 0 objeto do proceso penal é 0 “direito de punir”, fala em "subs- tituigao” processual, considerando que na acao penal privada o ofendi- do exerce em nome préprio um dizeito alheio, Como explicamos em trabalho especifico sobre o tema,$? entende- mos que nos delitos de agao penal privada o particular ¢ titular de uma 4 Wotieiaco no Informativo do ST, 82, deoembo/!998. 48 HGn0.77 356-8, fel in. bareo Aurelio. Notilado no formative 120 9 125. 50 LOPES 1, Aury “(Re)Disutindo o Onjeto do Processo Penal com Jaime Gusap Jame Golasetimidt, ip Revista Brasilia de Ciencias Criminnis, Sao Pao, 2002 (ol). ‘Aury Lopes Je pretensdo acusatéria e exorce 0 seu direito de acao, sem que exista delegagée de poder ou substituigae processual. Em outras palavras, atua um dizeito préprio (0 de acusar) da mesma forma que o faz Ministério Pablico nos delitos de acéo penal pitblica, Apesar de titular da pretensée acusatéria, 0 ofendido nao pode praticar atividades investigatorias de carter policial, no s6 por limi- tagdes de ordem pessoal e material, sendo porque 0 Estado avocou esse tipo de atuagao, substituindo ¢ impedindo a atividade de parte, Este impedimento néo constitui um empecilho insuperavel, tendo em vista a propria natureza do delito e suas circunstancias, pois, em mu tos casos, sem necessitar da intervencao estatal, 0 ofendido tem con- digées de produzir a prova necesséria para fundamentar a probabilida- de do fumus commissi delicti e com isso dar inicio 20 processo penal, Iniciado o processo, disporé do poder coercitivo da autoridade jurisdi- clonal para produzir a prova testemunhal, documental ou técnica que necessite para fundar a sua pretenséo acusatoria, Mas existem casos em que 0 ofendido nao possui o minimo de prova necessério para justificar 0 exercicio da acao penal. Nestas situa- oes, a norma permite-Ihe recorrer a estrutura estatal investigatéria, através do requerimento de abertura do inquérito policial. (O requerimento pode ser classificado como uma noticia-crime qua- lificada pelo especial interesse juridico que possui o ofendido e pelo claro caréter postulatério. Néo existe uma forma rigida, mas devera ser escrito, dirigido & autoridade policial competente (razio da matéria e lugar) e firmado pelo préprio ofendido, sou representante legal (arts. 31 ¢ 33) ou por pro- curador com poderes especiais. ‘Como determina o art, 5, § 1%, o requerimento devera conter a) a narragdo do fato, com todas as circunsténcias; b) a individualizacao do indiciado ou seus sinais caracteristicos & ‘as razées de convicedo ou de presungao de ser ele 0 autor da infragao, (ou 0s motivos de impossibilidade de 0 fazer; ) anomeacao das testemunhas, com indicagao de sua profissao & residéncia, (O primeiro requisito 6 de ordem légica, pois necessariamente deve descrever um fato, ainda que nao o faga “com todas as circunstancias ate parque se 0 ofendide dispusesse de tal informacao nao necessita- ia do IP Sem embargo, sim, deve informar tudo aquilo que conheca & que possa facilitar 0 trabalho da autoridade policial. Também é impor- tante que o fato seja suficientemente descrito, permitinde que a auto- 200 Sistomas de Investigagto Prelimnar ao Processo Penal ridade policial comprove que se trata realmente de um delite de agao, penal privada, porque podera ser, na verdade, um delito de agéo penal piiblica. Neste caso, 0 requerimento sera recebido como noticia-crime ¢ dara origem ao IP Caso 0 dolito exija a representagéo do ofendido, este requisito jé estara cumprido pelo requerimento apresentado. A letra b tefere-se & indicagao da autoria, cabendo ao ofendido facilitar & poticia os dados que possua e fundamentar sua suspeita. Em geral, 0 delito submetido ao regime da aco penal privada, por atacar ‘um bem personalissimo, permite a individualizagao do autor. A nosso ver é um erro falar em “indiciado” quando sequer foi instaurado 0 IP & ouvide 0 suieito passivo. Melhor seria utilizar a expressio “suspeito” ou "suposto autor” st Normativamente, & possivel que o requerimento omita ~ por desconhecimento ~ a indicagdo de um suposto autor do delito, cabendo & policia diligenciar no sentido de identifica-lo. No plano da efetividade, existe uma resisténcia por parte da policia em realizar o IP para apurar este tipo de infragao, tendo em vista a pouca gravidade e 0 bem juridlico lesado. Por isso, sem a indicacao de um sus peito, dificilmente o requerimento prosperara como desejado. Por fim, deverd — sempre que possivel - nomear as testemunhas de que se pretenda a oitiva, com dados que permitam identificé-las, sendo desnecessario indicar a profissio. Se indeferido pela autoridade policial, aplica-se 0 § 22 do art. 5°, cabendo "recurso" para o chefe de policia. # um recurso inominado, de cardter administrativo e de pouca ou nenhuma eficacia. No existe um prazo definido para formular o requerimento, mas sim para o exercicio da ago penal. Tendo sempre presente que 0 prazo para 0 ajuizamento da queixa é decadencial de 6 meses e como tal no 6 interrompido ou suspenso pela instauragao do inquérito, sendo o requerimento indeferido, devera o ofendido analisar se o melhor cami. ho no 6 acudir diretamente a0 Mandado de Seguranga, até porque nao necesita esgotar a via administrativa para utilizar 0 writ. Caso o problema seja a dilacao da investigacao policial, 0 ofendi- do deverd estar atento para evitar a decadéncia, inclusive ajuizando a iO itso espanholuilies a expresso precunto autor no sensi do auror que ee prosu tne ou supde. Apée a formaleacao da acusegdo ~ setido ample ~ passard a eer "umpu ‘ado, mas para isso devem concorser alguns pressupostoe préviae fo cato Go ingust to policial erste a aia complete ieerian aubme 0 tormenta trate ext Woe ska ppesen a ser considerad como inicio 0 problema sera rataco no Capt nila Stuagoes do Sujsito Paseivo na lnvestigaeao Prlimina’, ao qual fmetomos © lator 201 ‘ury Lopoe 3 queixa antes da conclusio do IP, juntando os elementos que dispée e postulando a posterior juntada da peca policial Por fim, destacamos que com o advento da Lei 9099/95 ¢ a amplia. ‘go do concsito de crime de menor potencial ofensive estabelecido pela Lei 10.259/2001, admitindo agora que os crimes cuja lei preveja proce- dimento especial também sejam de competéncia dos Juizados Espociais, esvaziaram-so as possibilidedes de a vitima fazer um reque- timento ¢ a autoridade policial instaurar o inquérito policial. Isso por- que, nos delitos de menor potencial ofensivo, néo havera inquérito pol- cial, mas um mero termo circunstanciado. B) Atos de Desenvolvimento e de Conclusao do Inquérito Policiat Com base na noticia-crime, a policia judicidria instaura o inquerito policial, isto é, 0 procedimento administrativo pré-processual. Para rea- lizar o IP, praticard a policia judiciéria uma série de atos ~ arts. 62 soguintes do CPP -, que de forma concatenada pretendem proporcionar elementos de conviceao para a formagio da opinio dlict} do acusador, © procedimento finalizaré por meio de um relatério (art. 10, 85 12 22), através do qual o delegado de policia fara uma exposigéo ~ impes- soal ~ do que foi investigado, remetendo-o ao foro para ser distribuido. Acompanharao o IP os instrumentos utilizados para cometer o delito & todos os demais objetos que possam servir para a instrucéo definitiva (processual) ¢ o julgamento. Tendo havido prevencao, sera encaminha- do para ao juiz correspondente. Recehido o IP pelo juz, dara este vista ao MP Uma vez mais, a teor do art. 129, I, da CB, o melhor seria que o inquérito fosse distribuido diretamente a0 Ministerio Pablico, Recebendo o IP o promotor podera: oferecer a deniincia; pedir 0 arquivamento; solicitar diligéncias ou realizar diligéncias, Estando o IP suficientemente instruido, 0 promotor poderé com: base nele oferecer a dentincia no prazo legal (art. 46). No relatorio, néo 6 necessario que a autoridade policial tipifique o delito apontado, mas, 8e 0 fizer, essa classificacao legal nao vincula o promotor. Nem mesmo as conclusdes da autoridade policial vinculam o promotor, que podera donunciar ou pedir o arquivamento ainda que em sentido completa- ‘mente contrério ao que aponta o delegado. Uma vez iniciado formalmente o IR a teor do art. 17 do CPP nao poderd a autoridade policial arquivé-lo, pois néo possui competéncia ara isso. O arquivamento somente sera decretado por decisdo do juiz a + | i Sistemas de Investigaggo Praimsnar no Process Penal pedido do MP Nao concordando com o pedido de arqnivamento, cabera {0 juiz. aplicar o art, 28,82 enviando os autos ao Procurador Geral A decisdo que decreta o arquivamento do IP nao transita em jul- gado. Neste sentido, a Simula 524 do STF acertadamente afizma que: Arquivado o inguérito policial, por despacho do julz, a requeri- mento do promotor de justiga, nao pode a acdo penal ser iniciada sem novas provas, Destarte, a autoridade policial pode seguir investigan- do, a fim de obter novos elementos de convicgao capazes de justifi- car 0 exercicio da acao penal (art. 18). Mas nada impede que o MP solicite novamente o arquivamento. Oart. 16 do CPP dispée que o Ministério Publico ndo poderd reque- rer a devolugao do inquérito & autoridade policial, sendo para novas dili- géncias, imprescindiveis ao oferecimento da dentincia. Uma leitura constitucional do dispositive processual leva-nos inegavelmente A con- clusdo de que, a teor dos diversos incisos do art. 129 da CB, em conjun- to com as Leis no 75/93 © n2 8.625/93, especialmente disposto nos arts. 72 e 82 da primeira ¢ 26 da segunda, 0 MP podera requisitar dire- tamente da autoritade policial a pratica de novos atos de investigagao ou praticar ele mesmo os atos que julgue necessérios. Nao cabe ao juiz decidir sobre a “imprescindibilidade” das diligéncias e tampouco a sua pertinéncia, Nem mesmo justifica-se a sua intervengao neste momen- to, tendo em vista que o MP. ademais de titular da agéo penal, pocera determinar a instauragao do IP ~ o todo -, a prética de diligéncias ou mesmo prescindir do inquérito e instruir sou proprio procedimento, Por fim, podera o MP optar por realizar ele mesmo aquelas diligén- cias que julgue imprescindiveis, pois, se possui poderes para instruir todo © procedimento pré-processual, com mais raz8o para praticar determinadas diligéncias destinadas a complementar o IP. Nos delitos de acao penal privada, em que foi requerido e instaura- do o IP uma vez concluido, os autos do inquérito serdo remetidos para © juizo competente, ficando a disposigao do ofendido ou mesmo entre- gues mediante traslado. Podera o MP solicitar vista do IP para avaliar se no existe algum delito de acdo penal piiblica e, se for o caso, afore- ‘modoloacusatorieo 9 papal garanssta do juz no pracesso penal, sea aconealnave sm feambio lagislative, poise istemstica do rt 28 ort ltrapaneads, Nao cabe 60 ja e200 tipo deatvidade, quase scares, come a prevista polo are 28 ideal seria insti una foe itermeaisin, com ua estruira dali, onde os posse nueressados (evita ppeesvo do IP ¢ ima) ex manifesaseemn ssbie opadide de arquivamonte edapusce Som ds uma via roursaladequase pase inpugnas& deci ornda dasee padi, 202 Ary Lopes Se cer a demincia com base nesses elementos ou solicitar novas diligén- cias, desde que destinadas a apurar um delito de agao penal pablica, ‘Ainda que o IP tenha sido instaurado, o ofendido nao esta obriga- do a exercer a ago penal, Inclusive, um dos motivos que pode t6-lo levado a requerer a instauragéo do procedimento policial pode ter sido exatamente a divida (vg., sobre a autoria), que, uma vez no dirimida, impediria 0 exercicio da quoixa, Nao & necessario que o ofendido soli- cite o arquivamento, bastando deixar fluir o prazo decadencial. Sem embargo, tendo em vista a situacao de pendéncia que cria e 0 stato di prolungata ansia que gera no sujeito passivo (imputado), entendemos que o ofendido deverd, desde logo, oferecer a rentincia expressa E importante que o ofendido pelo delito e que tenha requerido a instauragao do IP seja diligente e nao utilize o inquérito como forma de coagao ou para constranger 0 suposto agressor. Por isso, uma vez con- cluido o inquérito (desde que aponte a materialidade e a autoria), 0 ofendido devera exercer a queixa ou desde logo renunciar expressamen- te a0 exercicio da acdo penal. Nao caberd a ele utilizar 0 tempo como um instrumento para causar a intranqhillidade do sujeito passivo da inves- tigago. Nao se pode permitir que o ofendido por um delito de minima importancia abuse do seu dizeito de ago, para punir ao largo de 6 meses 0 suposto autor. inegavel que o IP gera, no minimo, uma intran- Guilidade real e inequivoca para 0 sujeito passivo, que pode ser inclusi- ve mais grave que a pena eventualmente aplicével ao caso, Em suma, nao pode o ofendido avocar-se um poder punitive que nao Ihe compete. Por tudo isso, entendemos que, uma vez requerido o inquérito, apurados suficientemente o fato e a autoria ¢ nao exercida e tampouco remunciada a agao penal privada, caberia em tese uma acao de indeni- zagao contra aquele que abusou do seu dircito. C) Estrutura dos Atos do Inquérito Policial A estrutura do inquérite policial, no que se refere ao lugar, tempo ¢ forma dos atos de investigagao é a seguinte: a) Lugar ‘As normas processuais penais brasileira so inteiramente aplicé- vis a todo 0 territério nacional, conforme determina o art. 12 ¢ ressal- vados 0s casos previstos nos incisos do teferido dispositivo. Especificamente no caso do inquérito policial, art. 42 do CPP as ativida- m8 Sistemas de lvestigagio Prokminar no Provessa Fel des da policia judiciéria seréo exercidas no territério de suas respecti- vas circunscrigoes. No inquérito policial, 0 critério para definir a competéncia (atti- buigéo policial) faz-se em raz4o da matéria ou pelo critério territorial Em razdo da matéria, deve-se considerar que a policia judiciaria & exercida pela policia federal e pela policia civil, conforme a situagao que se apresente, Pode-se afirmar que & policia federal incumbe, nos termos do art. 144, § 19, da CB (competéncia em razio da matéria): a) Apurar as infracdes penais contra a ordem politica e social ou ‘om detrimento de bens, servigos e interesses da Unido ou de suas entidades autérquicas e empresas piblicas, assim como outras infragdes cuja pratica tenha repercusséo interestadual ou internacional e exija repress uniforme. b) Prevenir e reprimir 0 trafico ilicito de entorpecentes e drogas afins, 0 contrabando e o descaminho. ©) Exercer as fungées de policia maritima, aérea ¢ de fronteiras. ) Exercer, com exclusividade, as fungdes de policia judiciéria da Unido, Ademais, partindo do cardter instrumental da investigagéo preli- minar, podemos afirmar que, no que se refere A matéria, 0 critério ado- tado para definir a autoridade policial competente para investigar deveré ser 0 mesmo que utilizaremos para definir 0 jniz competente para processar. Se o inquérito policial é um instrumento preparatério @ a servigo do processo, 0 légico é que se oriente pelos eritérios de com- peténcia processual. Por isso, se desde logo podemos identificar que se trata de um crime de competéncia da Justica Federal (art. 109 da CB), em jicia federal A policia civil dos Estados atua com carater residual, isto é, a ela incumbe a apuracdo das infragdes penais que nao sejam de competén. cia da policia federal e que nao sojam consideradas crimes militares (situagao em que o inquérito policial militar seré conduzido pela res- pectiva autoridade militar). Por excluséo, as policias civis dos Estados corresponde a apuragao de todos os demais delitos. Fora desses casos (Justiga Federal e Militar), seré a policia civil a encarregada de apurar a infragao penal. Dentro da policia civil, ainda sera possivel encontrar setores especializados (roubos e furtos, homici- 205 ‘Aury Lopes Je dios, téxicos, crime organizado etc.), a quem, conforme as diretrizes internas, cabera a apuracao daquela espécie de delito, ‘A regra geral 6 que o inquerito seja realizado pela autoridade poli- cial com competéncia em razdo da matéria e do lugar. Definida a com- peténcia em razdo da matéria, cabe agora estabelecor a competéncia toxzital ( tema nao apresenta maior complexidade porque a competéncia em razéo do lugar 6 rolativa e, nesta matéria, eventuais irregularidades do IP néo contaminam o processo. Os atos so praticados nas depen- déncias policiais, mas, atendendo as peculiaridades da instrugao preli- minar, muitos so praticados no local do delito, na residéncia do sus- peito © em outros lugares que possam oferecer elementos que perm ‘tam esclarecer 0 fato. Por fim, nas comarcas em que houver mais de tuma circunscrigao policial, a autoridade que preside o inquérito pode- 4 ordenar diligéncias em circunscrigao de outra, independentemente de precatérias ou requisigées (art. 22 do CPP}. b) Temposs 0 fator tempo pode ser concebido em dois aspectos: + ahabilidade do tempo (dias habeis para realizar os atos); ¢ + aduragdo do ato ou da fase procedimental Pela natureza dos atos praticados na investigacao preliminar e a necessidade de que sejam realizados no preciso momento em que se considere necessario, conduz a eximir legalmente do requisite de reali zar-se em dia e horas habeis.% Neste sentido, o sistema brasileiro néo prevé limitagao de hora ou dia para a prética dos atos, até porque os principals atos de investigagdo sao realizados logo apés 0 descobri- mento do delito (soja sabado, domingo, feriado, noite, madrugada etc.) Inobstante, de forma subsidisria e na medida do possivel, deve ser seguido o critério definido nos arts. 172 e seguintes do CPC, para que 0 atos sejam realizados em dias titeis (nao 0 sé0 os domingos e os feriados deciarados por let, art. 175 do CPC), das 6h s 20h, 3a" Sure “tempo procosso pana, consute-se nossa obra “Intcugdo Cia ao Processo Pena”, pableado pela Editor Lumen Jue 64 ORTELLS RAMOS, Mantel, Derecho Jursdicional, I . 122 Sistemas do Investigagdo Prelininar no Processo Penal © fator tempo também esta relacionade com a duragao do inqué- rito e os instrumentos de limitacao da cognigao, Preferimos anelisar a duragéo do IP como instrumento de limitagée da cognicao, junto com 0 objeto, ponto anteriormente exposto e ao qual remetemos 6 leitor, Ademais, existe normas que disciplinam 0 tempo de determina dos atos que integram o IR como aqueles que limitam direitos funda- mentais, Neste sentido, v. g., a busca domiciliar (art. 52, XI, da CB), sem © consentimento do moracor, pode ser realizada durante 0 dia ou a noite, em caso de flagrante delito ou desastxe, ou para prestar socorto. Fora desses casos, somente poder ser realizada durante 0 dia por determinagao judicial (@ noite nem com ordem judicial). c) Forma, 0 IP @ facultative para o MP pois pode prescindir®s dele, mas & obrigatério para a policia judiciéria, que, ante uma infragao ou naticia- crime por delito ele acéo penal piblica, esta obrigada a investigar e nao poderé arquivar o IP uma vez instaurado, Vige a forme escrita, e, nos termos do art, 9, todos os atos do IP devem ser reduzidos a escrito e documentados, pois tanto o MP coma © juiz que recebe a acusagao tém um contato indireto com o material recolhido na investigagao. A falta de imediacéo sacrifica a oralidade. © inquérito secreto no plano externo e assim dispée o art. 20, do CPP devendo a policia judiciéria assegurar 0 sigilo necessério para esclarecer 0 fato. No plano interno, pode ser determinado 0 segredo interno parcial, impedindo que o sujeito passive presencie determinados atos. Sem embargo, 0 segredo interno no alcanca o defensor, isto 6, 0 segredo interno pode ser parcial, mas nao total. Neste sentido, o art. 72, XIV, da Lei ne 8,906/94 ~ Estatuto da Advocacia — assegura que o defen- sor podera examinar em qualquer distrito policial, inclusive sem procu: Tago, os autos da prisdo em flagrante e do inquérito, acabado ou em BS Neste sonuito, ante outer, citamos a soguinte deleto de STF, neticiada no Informative ni 111" EMENTA: Hateay corpus A inoistncla de iaquénto potcal nfo imped denincia, so & Promoterla dlspée de elementos sufcientes para a fortalaagao dt dlomanda ponal, Exsténca, no caso, de indeios maentes ara asta #alegagi de faa de justa cause para a denincia, Haboas corpus ndofendo, HC 70.9015, el. fi Moree Alves, 207 trémite, ainda que conclusos & autoridade policial, podendo tirar cépias © tomar apontamentos. (© segredo externo e igualmente o interno parcial nao tém sua duragdo e limites estabelecidos na norma, dependendo da discriciona- riedade policial, o que, sem diivida, merece censura. Por fim, destacamos que, @ nosso juizo, 0 art. 21 co CPP esta revo: gado pelo art. 137, § 3 IV, da CB, posto que, se esta vedada a incomu- nicabilidade em uma situagdo de excepcionalidade, com muito mais razao esté proibida a incomunicabilidade em uma situagao de normali- dade constitucional. VII. Valor Probatério dos Atos do Inquérito Policial A valoracao probatéria dos atos praticados e elementos recolhi dos no curso do inquérito policial 6 extremamente problematica, Por isso, antes de entrar no tema, analisaremos a doutrina que defende que “os atos do IP valem até prova em contrario”, recordaremos a fun- damental distingao entre atos de prova e atos de investigagao e con- cluiremos com uma exposicdo sobre o valor que entendemos devam meracer os atos do IP A) A Equivocada Presungao de Veracidade Alguma doutrina aponta que os atos do inquérito policial valem até prova em cantrario, estabelecendo uma presungao de veracidade néo prevista em lei, © art.12 do CPP estabelece que o IP acompanharé a dentineia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. Qual o fundamento de tal disposicao? Nao ¢ atribuir valor probatério aos atos, do IP todo contraio. Por servir de base para a agéo penal, ele devera acompanhé-la para permitir 0 julzo de pré-admissibilidade da acusa: (do. Nada mais do que isso. Servira para que o juiz decida pelo proces- 0 ou nao-processo, pois na fase processual seré formada a prova sobre fa qual sera proferida a sentenca Consideravel doutrina ¢ jurisprudéncia acabaram por criar, a nosso juizo equivocadamente, uma falsa presungao: a de que os atos de investigagao valem até prova em contratio. Esta presungao de veracidade gera efeitos contrarios & propria natureza e razdo de existir do IP, fulminando seu carter instrumental @ sumario. Também leva a que sejam admitides no processo atos pratica- Sistemas de Investigagao Preninar no Processo Pena dos em um procedimento de natureza administrativa, secreto, nao con- traditério @ sem exercicio de defesa. Na pratica, essa presuncao de veracidade dificilmente pode ser derrubada e parece haver sido criada em outro mundo, muito distinto da nossa realidade, em que as deniin- cias, coagdo, tortura, maus-tratos, enfim, toda espécie de prepoténcia policial s40 constantemente noticiados. Se alguma presungéo deve ser estabelecida, é exatamente no sentido oposto. Inclusive, entendemos que qualquer juiz com um minimo de bom senso desconsideraria totalmente a confissdo realizada na poli- cia, principalmente quando 0 sujeito passivo estava submetido ao regime de priso cautelar, A coagao é patente e inegavel, autorizan- do inclusive a presumir-se. Em suma, essa presungao de veracidade ~ destacamos ~ nao tem amparo legal e possivelmente sua origem deriva de um vicio hist6rico. Antes da promulgagao do atual CPP, alguns cédigos estaduais ~ como 0 da Capital Federal, segundo aponta Espinola Filho®® - previam que 0 inquérito policial acompanharia a deniincia ou queixa, incorpo- rando-se a0 processo e “merecendo valor até prova em contratio" Provavelmente esta aqui o vicio de origem dessa rangosa doutrina e jurisprudéncia que seguiu afirmando esse valor aos atos do IR quando © CPP nao mais o contemplava, Claro esta que, se o legislador de 1941 quisesse conferir aos atos do IP esse valor probatério, teria feito de forma expressa, a exemplo da legislagao anterior, B) Verdade Real: Desconstruindo um Mito Forjado na Inquisigao. Rumo a Verdade Processual Quando se aborda a fundamentagio das decisées judiciais, em liltima analise, esté-se discutindo também "que verdade” foi buscada e alcancada no ato decisério, Eis aqui a relevancia de desconstruir 0 mito da verdad real, na medica em que é uma artimanha engendrada nos meandros da inquisicao para justificar 0 substancialismo penal e 0 decisionismo processual (utilitarismo), tipicos do sistema inquisitorio. Historicamente,®? esta demonstrado empiricamente que o proces- 50 penal, sempre que buscou uma “verdade mais material e consisten- ‘igo de Proceso Pena Brasileiro Anotad, vol p.256 57 IBANEZ, Potforo Andrés, Qarantismo y proceso penal. 53

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