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Sumario 4. A relacéo entre | gua e sociedade 5 nA falada, © vernaculo, + 20; O metodo de entr Variagdo e mudanca porizagao ou morte?. 63: 4 , 68: O tempo real: Fontes do presente ao pi 49; Amtoltias, 1; O trabalho de Labov. 1 A relagdo entre lingua e sociedade Palavras iniciais Tudo aquilo que ndo pede ser prontamente proces- cado, analisado e sistematizado pela mente humana pro- voea desconforto, Na verdade, a reagio humans frente ao c1os, soja ole de que natureza for, ¢ de ansiedade, Este fivro propde a voce maneiras possiveis de se combater © neé ira enfrentar o desafio de tentar © sistematizar 0 universo aparente- mente eadtico da lingua falada. A partir dos intimeros exemplos de situagdes 8 das no texto, vor’ desde logo observant que 0 “caos” fe se configura como um campo de batalha em que duas (ou mais) maneiras de se diger a mesma coisa (dora- vante chamadas “variantes lingiisticas") se cnfrentam em um duelo de contemporizagio, por sua subs! existéncks, ou, mais mv uum combate san grento de morte jugdo desses passes apresentados no tex outros com 0S guais voc venha a se defront idades futuras de pesquisador da érca), prop ponto de partida basico ia © C0 para suas: eS, 8 qual voce poderd rctornar sempre que houver necessidade: a relacio entre lingua © socie- dade, Municie-se desta relagdo e tire dela todo 0 pro- veite tedrico € metodoldgico poxsivell No entanto voce poderé se questionar: mas essa relagio ni Tal relagdo, defendida arduamente pelos seguidores do modelo de concepeao estrutural décadas de 20 e 30, foi sutilmente abandos escola gerativostransformacional. Lembrese de que. segundo Chomsky (1965), © objeto dos estudos lingiifsticos & a competéncia lingiiistica do falante-ouvinte ideal, perten- centc a uma comunidade lingiiisticamente homogenea. Dentro desse modelo de anilise, vocé nem deveria aceitar © desafio por mim proposto, uma vez que a comunidade lingiifstica € homogénea. Nao haveré heterogeneidade ou “caus” para se sistematiz Esse falante-ouvinte ideal, no entanto, tdo “falante-ouvinte”, nem tampouco “ideal”. A cada six tuagéo de fala em que nos inserimos ¢ da qual participa ‘mos, notamos que a lingua faluda & a um sO tempo, hete- rogénea e diversificada. E é precisamente essa situagio de heterogeneidade que deve ser sistematizada. Se © caos apa- rente, sc a heterogeneidade nao pudessem ser sistem: zados, como entao justificar que tal diversificago lingitfs- tica entre os membros de uma comuniciade néo os impede de se entenderem, de se comunicarem? Analisar € aprender a sistematizar variantes ticas usadas por uma mesma comunidade de nossos principais objetivos, O modelo de a io parece ser modelo tedrico-metodol6gico que assume 0 * como objeto de estudo, Como esse imite a existéncia de uma iéncia da lingua- 7 gem que nio seja social, © prop fica redundante, No meio social as variantes coexistem em seu campo natural de by E © uso mais ou menos provavel de uma ou de outra que iremos anal (0 titulo “Sociolingiiistica™ Breve histérico da sociolingiistica quantitativa boy, Nao que ele tenha sido 0 pri- meiro soi a surgir no cendrio da investigagio ngi Modelos do pasado mais distante, ¢ tambem do mais recente, certamente o inspiraram na sua concep- cao de uma nova teoria. Nesse sentido podem ser cha- mados de sociolingiiistas todos aqueles que entendem por ingua um veiculo de comunicacao, de informagao e de expresso entre os individuos da espécie humana. Assim sendo, tem-se em Ferdinand de Saussure um soci Q modelo de andlise proposto por Labov como uma reagio a auséncia do componente soci modelo gerativo. Foi, portanto, William Labov quem: mais veementemente, voltou a insistir na relagio e' ngua ¢ sociedade e na possibilidade, virtual e real, se sistematizar a variagdo existente © propria da I falada. Desde seu primero estudo, de 1963, sobre o inglés falado na ilha de Martha's Viney Jo de Massax chusetts (Estados Unidos), virios dos sobre a estratificagio soc de Nova Torque (1966); inglés vernaculo dos adoiesce Torque, e estudos socioli tros, Além desses, um para suas: eS, 8 qual voce poderd rctornar sempre que houver necessidade: a relacio entre lingua © socie- dade, Municie-se desta relagdo e tire dela todo 0 pro- veite tedrico € metodoldgico poxsivell No entanto voce poderé se questionar: mas essa relagio ni Tal relagdo, defendida arduamente pelos seguidores do modelo de concepeao estrutural décadas de 20 e 30, foi sutilmente abandos escola gerativostransformacional. Lembrese de que. segundo Chomsky (1965), © objeto dos estudos lingiifsticos & a competéncia lingiiistica do falante-ouvinte ideal, perten- centc a uma comunidade lingiiisticamente homogenea. Dentro desse modelo de anilise, vocé nem deveria aceitar © desafio por mim proposto, uma vez que a comunidade lingiifstica € homogénea. Nao haveré heterogeneidade ou “caus” para se sistematiz Esse falante-ouvinte ideal, no entanto, tdo “falante-ouvinte”, nem tampouco “ideal”. A cada six tuagéo de fala em que nos inserimos ¢ da qual participa ‘mos, notamos que a lingua faluda & a um sO tempo, hete- rogénea e diversificada. E é precisamente essa situagio de heterogeneidade que deve ser sistematizada. Se © caos apa- rente, sc a heterogeneidade nao pudessem ser sistem: zados, como entao justificar que tal diversificago lingitfs- tica entre os membros de uma comuniciade néo os impede de se entenderem, de se comunicarem? Analisar € aprender a sistematizar variantes ticas usadas por uma mesma comunidade de nossos principais objetivos, O modelo de a io parece ser modelo tedrico-metodol6gico que assume 0 * como objeto de estudo, Como esse imite a existéncia de uma iéncia da lingua- 7 gem que nio seja social, © prop fica redundante, No meio social as variantes coexistem em seu campo natural de by E © uso mais ou menos provavel de uma ou de outra que iremos anal (0 titulo “Sociolingiiistica™ Breve histérico da sociolingiistica quantitativa boy, Nao que ele tenha sido 0 pri- meiro soi a surgir no cendrio da investigagio ngi Modelos do pasado mais distante, ¢ tambem do mais recente, certamente o inspiraram na sua concep- cao de uma nova teoria. Nesse sentido podem ser cha- mados de sociolingiiistas todos aqueles que entendem por ingua um veiculo de comunicacao, de informagao e de expresso entre os individuos da espécie humana. Assim sendo, tem-se em Ferdinand de Saussure um soci Q modelo de andlise proposto por Labov como uma reagio a auséncia do componente soci modelo gerativo. Foi, portanto, William Labov quem: mais veementemente, voltou a insistir na relagio e' ngua ¢ sociedade e na possibilidade, virtual e real, se sistematizar a variagdo existente © propria da I falada. Desde seu primero estudo, de 1963, sobre o inglés falado na ilha de Martha's Viney Jo de Massax chusetts (Estados Unidos), virios dos sobre a estratificagio soc de Nova Torque (1966); inglés vernaculo dos adoiesce Torque, e estudos socioli tros, Além desses, um wdlistivos de outras comunidades de fi i realizada por outros pesquisadores da area: sobre o espanhol falado da cidade do Panama; sobre o espanhol falado por porto- uenhos residentes nos Estados Unidas; sobre o inglés falado em Norwich, Inglaterra, ¢ em Belfast, Irlanda; sobre © francés falado na cidade de Montreal, Canada; ¢ sobre © portugues falado nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte © So Paulo. © modelo de anélise lingiiistica proposto por Labov € também rotulado por alguns de “sociolingilistiea quanti- tativa”, por operar com mimeros e tratamento estatis dos dados coletades. A variavel e as variantes lingiisticas Em toda comunidade de Fala sao freqtientes as formas wilisticas em yariagdo. Como referimos anteriormente, a essas formas em varia¢io di-se o nome de “variantes”. “Variantes lingiifsticas” sao, portanto, diversas. maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, ¢ com co mesmo valor de yerdade. A um conjunto de variantes déi-se o nome de “variével lingiiistica’ Vejamos um exemplo! No portugués falado do Bra- mareagao de plural no sintagma nominal (oravante juinte frasal_minimo, composto de un Livo obrigatorio, modificado por determinantes e tivos) encontra-se em estado de variagao. Tem-sc aqui exemplo de varidvel lingilistica: a marcacio do plural no SN. A essa varidvel correspondem duas variantes as, as adversérias do campo de batalha di variagao: c (1) & a presenga do segmento fénicn /s/, ¢ a @), em contrapartida, € a auséncia desse seg- 1 scja, a forma “zero”, Para assinalar os parenteses angulares <>, os quais, se nticleo 2 convengao do modelo, indicam a variagéo do item lin gilistico analisado. Para as variantes serao usados colche- tes. Assim, tem-se: {s] a Se ag © plural no portugués € marcado redundantemente ‘a0 longo do SN: no determinate, no nome-niicleo © nos modificadores-adjetivos. A variagao na mareagio do phi- ral no SN pode, portanto, tomar as seguintes formas: 1, a8 meninaS benitaS 2. aS-_meninas bonitad 3, aS meninag bonitag em (1), nosso suposto falante reteve a marca de plural go longo do SN, espelhando assim em seu desem- penho lingiifstico a norma-padrao do portugués. Em (2), © falante retém a variante [s] na posi¢ao de deteminante e de nome-nticleo, mas lanca da variante [é] para a posi gio de adjective modificador. Em (3), 0 falante utiliza-se da variante nao-padrao [4] nas duas posigbes finais do SN, retendo a marca de plural somente na posigio inicial Essa variacio, como sera exposto 0 3, se mani> festa tanto a nivel de grupo ce ncividuall Os estudos do e: ade ¢ pelos porto-riquenhos re a demonstra- ram que a varidvel represente Devera o Vocé poderé usar 0 dado nao- nemte ope= nplicado, mas seu conhecimento dos dados e dos informantes Ihe fornecera caminhos. Para que esse conhecimenta de seus dados e de seus informantes soja completo, ¢ recomendavel diagramar a entrevista. A diagramacao consistir4 em recortes da entre: vista em termos de: 1, dado-resposta & pergunta do entre- vistador vs. dado espontanco do entrevistado; 2. narrath provocadas por médulos vs. narrativas espontaneas: numero de intervengdes do entrevistador; 4. narrativas subsegiientes, provocadas ou espontineas, etc. A diagra- macao é uma forma mais pritica de comparar a natura- lidade dos dados de duas ou mais entrevistas. mais de uma vez, voce observaré que a ultima ent sempre contém mais 0 vernéculo que as anteriores. Além do dado nao-natural que forgosamente estara gravado em sus fita cassete, vocé poderd elaborar testes, de lingua sobre as varianies estudadas a fim de ampliar 0 eseapo estilistico. Nesse momento vocé dir seu infor mante que o teste € de lingua, Com o teste yore teri am- pliado a dimensdo estilistica a um terceiro nivel: dado natural ¢ ndo-natural da entrevista, e teste. O ultimo ira refletir um estilo ainda mais pensado, mais intencional que © dado ndo-natural da entrevista, pois vocé tera lembrado ao informante que preste muita atengZo a questées de lin- guagem. Essa situac%o experimental refletiré a avaliagio dada pelo informante as variantes: padrao vs, nio-padrio; estigmatizada vs. de prestigio A coleta de dados: conclusdo Depois de ter lido este capitulo, yoo talvez até sinta vontade de desistir da pesqui lingiifstica. Meus con- selhos soam imperatives, © os cuidados a se tomar sao 2 muitos. Nao desanime! Quanto mais tempo vocé passar no campo, coletando dados, mais eriativo vocé se tornard em relugio as possiveis maneiras de minimizar 0 efeito negativo causado por sua participagdo direta na interagio. Nos préximos capitulos vocé entrar em contato com resultados de anilises ja realizadas sobre o portugués fa- lado no Brasil. se convenceré de que todo esse trabs © gratificante © que a andlise fluir4-naturalmente dos dados coletados. 3 A variagao lingiiistica: primeira instancia O envelope de variacdo io ha loteria sem apostadores: futebol, sem adver- sirios; guerra, sem soldados, nem tampouco “caos” lin- gilistico, sem variantes! Em todas essas situagées de com- poticao, a presenga de um mediador faz-se necessaria para que 0 conflito se resolva. Como pesquisador-sociolingiiista, sui missdo é analisar a situagdo de conflito e, com base em s6lidos ¢ firmes argumentos, desmasearar a assistema- ieidade do “caos”. Para aleangar esse objetivo ¢ necessario um conheci- mento acurado das adversarias. Enfim, para que voc seja um excelente juiz e mediador dessa batalha, ¢ imprescindi- vel que, em primeiro lugar, apresente, defina e caracterize hadamente cada uma dessas concorrentes. E somente do perfil individual das variantes que vocé poder ras armas de que cada uma dispoe, bem como 's contextos mais favoraveis @ derrota de uma ¢ detalhada das va- lope de variagdo. © enve- 4 lope consiste, portanto, no elencamento das adversdrias de um campo de batalha. Vejamos alguns cxemplos de envelopes ja definidos em estudos anteriores, No capitulo 1 deste volume foi apresentado o envelope de yariacdo para a marcagao do plural no SN no portugués falado do Brasil. Como vimos. a varidvel de marcagdo do plural correspondem duas variantes: a presenca do segmento ({s}) © sua auséncia ({a]). Observames também que, como em portugués. a marcagao do plural ¢ variével no espanhol panamenho € porto-riquenho (entre outros dialetos). A winica diferens apontada para as duas linguas foi o fato de trés adversa- fas se encontrarem no campo de ‘batalha espanhol. Ao Jc ao [6] do sistema portugués foi acrescentada a va te fricativa aspirada [h]. Os dois exemplos acima sao casos de variacio fono- sgica. Ainda no nivel fonolégico vocé poderia acrescentar © estado de variago em que se encontra 0 /r/ em portu- gués, em nomes (posigao final de palavra, como em “can- tor", e em posic&o interna, travando silaba, como em “marcha") e verbos (como em “quer”, “estudar”). A variagdo encontrada em /r/ é semelhante a da marcagio de plural, ou seja, @ adversirias confrontam a presenca vs. a auséncia do segmento fénico: [r] ou [6]. Similar- mente, voce pode comecar a pensar em outros segmentos, em geral em posigio final de palavra, que apresentam va- riagdo, exatamente devido ao potencial cniraquecimento dessa posigao. Por exemplo, reflita um pouco sobre a questdo da nasalidade em portugués e atente para o fend- meno variavel da desnasalizagao: “falaram” ou “falaru”? Todos esses casos de variagdo fonalégica comecaram 1 ser estudados @ partir dos trahalhos sobre simplificaeao tupo consonantal em inglés. A variavel no inglés é 0 wecedido de consoante, como em: missed (—= per >) © kept (= guardou, guardado), Nos estu- 35 dos de <1, d> foram inclufdos dois grupos principais de palavras: 1, palavras em que o carrega uma marca Bramatical, como no passado dos verbos; 2. palavras nas quais 0 <1, d> nfo desempenha fungio gramatical, como ‘em first (= primeiro) ou list (=lista). Quando 0 <1, d> tiver funco gramatical, a palavra serd denominada bimorfémica ({mis 4 1]); no caso de nenhuma marca gra- mutical ser expressa pelo segmento , palavra seré monomorfémica ([list]). Pois bem, 2 fungio grama- tical exercida pelo segmento no passado dos verbos deveria, em pi io, retardar 0 apagamento da varidvel. Em contrapartida, a presenga do em palavras m nomorfémicas nao € tdo necessaria ©, portanto, sua déncia deve ser menos freq No caso da,marcacao de plural em portugués e em cespanhol também pode ser feita a divisio das palavras em ‘omorfémicas € bimorfémicas. (Isto €, s¢ 0 <$> tiver ngao gramatical, a palavra seta bimorfémica; caso con- ‘o, a palayra sera classificada como monomorfémica.) ‘Assim, em “casas” tem-se o singular “casa” acrescido da tnarea de plural /s/; em “menos” tem-se uma palavra mo- homorfémica, A mesma hipétese sobre 0 apagamento ow retengio do deve ser levantada: monomorfémicas favorecem o apagamento do segmento; bimorfémicas con- dicionam sua retengio. Como foi sugeride no capitulo 1 o termo “Sociolin- soa até redundante, pois implica a possibilidade cia lingiiistica que nao seja social. Nosso com- isso com o aspecto social da Tinguagem & no entanto, vo. Tal como proposto por Labov, a concepgao ance do modelo sociolingiifstico so a um sé tempo icos e diacrGnicos: tanto a vat gao (situagio fin- stica em um determinado momento; sincronia) como & i jos momentos sincrd- nicos, avaliados longitudinalmente; diacronia) lingilisticas 36 devem ser estudadas. Ao compararmos, portanto, va- riantes de mesma natureza em Iinguas diferentes, temos um objetivo duplo em mente: 1. descrever, analisar tematizar © envelope de variagéo em cada uma das lin- guas; 2. comparar os resultados das analises com vistas a projecdo de possiveis rumos que as variantes tom: A comparagio dos resultados das anélises visa, em especial, a relacionar as armas semelhanies que as varian- fes usam em combate, em cada uma das Kinguas. Res “nos, por conseguinte, comecar a especular sobre tais, armas; como o pesquisador-detetive que existe em nés desvenda as artimanhas de que dispoem as variantes a fim de se implementarem no sistema de lingua falada? As armas e as artimanhas das variantes: fatores condicionadores A sistematizagao do “caos” lingilistico demonstra, em seus resultados, que a cada variante correspondem certos contextos que a favorecem. A esses contextos dare- mos 0 nome de “fatores condicionadores”. Um grupo de fatores € 0 conjunto total de possiveis armas usadas pelas variantes durante a batalha, Nossas hipéteses de trabalho serdo dadas pelo levantamento de todos 0s contextos ou fatores que potencialmente influem na realizaclo de uma varidvel, de uma ou de outra forma. © detetive que ha em voc’ obviamente dispde de farto material para espe- culacio: Jembre-se de que nesse momento de sua pesquisa voce jé terd definido, caracterizado, coletado e se familia- rizado com seu objeto de estudo. O levantamento das hi- poteses, dos grupos de fatores condicionadores, decorrerd, conseqiientemente, de seu trabalho com as inimeras horas de gravagio feitas com seus informantes. a7 Mas voltemos & varidvel e suas duas variantes, [s] © [6], para levantar as hipoteses de trabalho: 0s possiveis condicionadores lingiiisticos que regem 0 uso dessas variantes, Vocé observara, por exemplo, que a re- tengao do pode estar condicionada & posigao da va- ridvel no SN, isto é, no determinante, no nome-nécleo ou no adjetivo modificador. Uma primeira inspegio do corpus aponta-the que a primeira posic2o do SN parece favorccer a retengao do . Vocé entdo separara essa hipotese: a posicao da variével no SN! A motivagao para essa hipo- tese encontra respaldo na redundincia da marcacio do plural no SN em portugués, Veja que vocé nao esta esta- belecendo um grupo de fatores com base no aspecto mor- foldgico da palavra em questo (isto é com base nas classes gramatieais a que a palavra pertenga). Nao se trata, portanto, da verificacio da maior incidéncia de no determinante (posigao geralmente preenchida pelo antigo). ‘Trata-se, sim, da observaneia do uso (ow nao) de com relaao a posigao da palavra no SN: primeira vs, segunda, segunda vs. tereeira etc. A diferenga apontada acima pode, conseqiientemente, levar voce ao estabelecimento de uma nova hipétese de trabalho relacionada A classe das palavras mais atingidas pela regra varidvel de apagamento do plural. Assim, quanto 2 posi¢ao da palavra no SN vocé poder comparar, por exemplo, “as casas” com “casas pequenas”. Em “as casas” 0 [s] provavelmente sera mais tetido em “as” (primeira posiedo), enquanto “casas” possivelmente reterd mais a variante [s] em “casas pequenas”, devido a posi- gio. Nos dois casos temos um substantive! “As casas” terd como contrapartida “as casa” e@ “casas pequenas”, “casas pequena”. Se este grupo de fatores realmente for significative ao uso das variantes, a primeira posigao do SN deve ser a grande arma da variante [s] € as outras 38 Pposicoes devem ser artimanhas utilizadas pela variante [4] para se implementar no sistema lingiiistico. Isso em relagio a posicdo da palavra no SN! Se voce especular a hipétese sobre classes de palavras, 6 evidente que os determinantes fortalecerao a variante [s], enquanto substantivos ¢ adjctivos dardo vida a variante [6]. Essas duas armas de que dispde cada uma das variantes parecem, no entanto, complementares, para nao dizer redundantes, Voeé poderd entio verificar o efeito de cada arma fazendo um cruzamento entre elas. Por exemplo, vocé somente poderd afirmar que substantivos e adjetivos favorecem 0 uso de [9], se @ freqiiéncia de [4] em substantivos e adjetivos na segunda (ou terceira) posigio do SN corres- ponder uma igual freqiiéncia em posigao inicial., Temos, portanto, até agora, dois grupos de fatores, © que mais vocé poderia estabelecer com base em sus, dados? Por se tratar de uma varidvel fonolégica € pro- vavel que algum tipo de condicionamento fonolégico esteja exercendo influéncia no uso das variantes, Por exemplo, segue-se & varidvel em questio uma consoante ou uma vogal? E que motivagao teria uma hipotese de tal natu- rea? Suponhamos que um informante seu tenha, ao narrar uma estéria, usado os seguintes plurais: “as casas amarela” e “as casa pequena”. © ultimo exemplo voce poderia facilmente explicar através do grupo de fatores sobre posigao no SN: estando “casa” em segunda posicio, ¢ tendo sido o plural marcado na primeira posiggo. de determinante, a variante [7] & just ‘1 em “casa”. Mas € 0 caso de “as casas amarela”? Aqui também a palavra “casas” se enconira na posigd0 dois, @ qual nao favorece a retengao do [3]. A explicagdo & simples ¢ objetiva: 0 sistema silibico do portugues, consoante-vogal (CV). Ein “as casas amarelas” 0 [s] de “easas” é seguido de uma vogal, o [a] em “amarelas", formando com cle a estrus 9 tura silabica basica do portugués: CV. Portanto, apesar de a posigdo dois do SN favorecer a variante [4], a va- riante [s] recobrard suas forgas, caso a posiggo da varié- vel analisada esteja diante de uma vog Uma tltima hipétese que vocé poderia levantar diz respeito 4 extensio e A dimensio. dessa regeavaridvel: estaré 0 [s] sendo apagado somente enquanto marcador de plural (ou seja, em palavras bimorfémicas, como defi- nido anteriormente), ou o [s] final em palavras mono- morfémicas também estar sendo atingido? Por exemplo, serd a retencdo do [s] mais ou menos provavel em “casas”, quando comparado a “menos”? A resposta parece Sbvia em principio, o [s] de “casas” & funcionalmente mais im- portante ¢, conseqiientemente, deveria ser realizado. Alia da a essa Gltima hipétese encontra-se uma nova possibi- dade de analise: a saliéncia fénica do plural. O phn sas” & decisivamente mais simples que o plural “ovos” (com metafonia, isto & com a alterndncia no timbre da vogal tOniea: fechado vs. aberto) ou “hotéis". Caso tais hipdteses estejam resolvendo esse caso de va andlise 0 levaré a resultados dbvios: 0 {s] é qiientemente retido em “casas” do que em “menos” (isto é, palavras monomorfémicas aceleram 2 implementacao da variante [#]; ¢ plurais com maior saliéncia fonica (hotéis”, “ovos”, “coragdes”) também favorecem a for ma [6]. Como trabalhar com essas hipsteses? A operacionalizagéo do modelo Quatro grupos de fatores foram levantados como pos- siveis armas usadas pelas variantes [s] © [6] mo campo de batalha, Cada {ator & por sua vez, constituide por subfatores. Para cada subfator vocé devera atcibuir um 0 valor representado por letra ou niimero. Isso facil quantificagéo posterior dos dados. Por exemplo: Grupo I: O contexto fonoldgico posterior C (& consoante) ‘V (= vogal) Grupo 2: A posicéo da varidvel no SN 1 (= primeira posicao) 2 (= segunda posicao) Grupo 3: A classe morjoldgica da patavra contendo juivel (= determinanie) (= nome) D N A (=adjetivo) oO e Grupo 4; O estatuto morfoldgico da palavra que M (= monomoriémico) B (= bimorfémico) Evite a repeticio de letras ou nimeros dentro de um mesmo fator. Isso sé vai confundi-lo no momento de acrescentar um iiltimo, que deve, na realidade, ser 0 pr meiro da lista: 0 grupo da varidvel dependente, is valor para [s] ¢ um valor para [g]. Como a escolha é inaria, atribua o valor zero a variante [s], ¢ 0 valor 1 a variante [g]. Dessa maneira voce estara tratando esse caso de variagio como um fendmeno de apagamento ou de cancelamento de uma forma subjacente do portugués: a marcagio do plural através de {s]. Isso significa que a aplicagéio dessa regra varidvel implicard 0 apagamento da forma-padrao de se expressar pluralidade. a Vejamos como voce devera organizar seu material de anélise para posterior quantificagao dos dados. Suponha- mos que a pluralidade esteja sendo analisada a partir do seguinie trecha de um de seus informantes “Eu gosto de casas grande, As c como barracos horrivel de fa gosta de casas mais pequena’ Analisando: “Casas” (em “casas grande”): @CINB (ow seja, a regra de apagamento nao foi apticada, dat g € indica que a palavra seguinte se inicia em consoante; 7 significa que a palavra contendo a varidvel se encontra na primeira posicao do SN; N indica a classe morfolé nome; ¢ B define o estatuto morfoldgico da palavra © pequena sao Minha mulher fungio do [s] subjacente & palavra: bimorfémico} “Grande” (em “casas grande”): 1Q2AB “As” (em “as casa pequena”): gCIDB “Casa” (em “as casa pequena™): 1C2NB “Pequena™ (em “as casa pequel : 1C3AB “Barracos” (em “barracos horrivel"): ¢VINB “Horrivel” (em “barracos horrivel”): 1C2AB “Casas” (em “casas mais pequena”): ~C1NB “Mais” (cm “casas mais pequena”): 1C2XM “Pequena” (em “casas mais pequena”): 103AB Vocé deve ter notado que dois simbolos novos foram introduzidos: Q ¢ X. Q primeiro para indicar pausa, ex- pressa pelo final do perfodo; o segundo para indicar outra classe morfoldgica que no determinante, nome ou adje- tive. O acréscimo de novos simbolos, isto é, de novos subfatores, é pratica comum quando se trabalha com dados reais. Por mais que scu projeto-piloto inicial tente esgotar todas as possiveis armas utilizadas pelas variantes, no de- correr da anélise dos dados vocé freqiientemente se de- frontara com novas dimensoes dos fatores. Nio desanime! 42 Ao fazer esse tipo de anilise voce estar determinan- do a freqiiéncia e a di ia das variantes [s] e [4] para cada falante e, consegiientemente, para a comunida- de, Suponha que de 100 posigdes em que o falante pode- ria ter usado a variante [s], isto é, marcado morfologica- mente o pl ele somente o fez 25 vezes. Isso significa que esse falante utiliza muito mais a variante inovadora [4] para a marcagao do plural, Essa seria a média geral. O passo seguinte na andlise sera determinar quais os gru- pos de fatores que correspondem a cada uma das duas variantes, Desse exame detalhado vocé chegaré a resul- fados do tipo: @ consoante seguinte favorece a variante [4], © a vogal, em contrapartida, inibe seu uso. Em ou- tras palavras, a variante [4] tem, em sua luta contra a variante-padrio [5], a presenga da consoante seguinte sew favor, O encaixamento lingilistico da variavel Por en ixamento lingtifstico da varidvel voce deve entender a motivagéo das hipsteses, dos grupos de fatores Assim, a hipétese sobre silabagio ¢ justificada a partir do Préprio sistema lingiifstico. Mas vejamos um outro exem- plo de varidvel, este de natureza sintatica: os pronomes de terceira pessoa em fungio de abjeto de verbo. A per- gunta “Vocé conhece aquele homem?", ha trés possiveis respostas em portugués: 1. Eu 0 conhego; 2. Eu conheco ele; ¢ 3. Eu conhece. Ou seja, nessa batalha sintética entre pronomes em funcao de objeto trés variantes se de- frontam: a padrao o (¢ por extensio, a, 0s, as) © as duas formas nao-padrao, ele (ela, eles, elas) € uma forma zero (doravante denominada “andfora zero”): 0 verbo néo apresenta objeto pronominal expresso, 8 ‘Tal esquema de variagao também ocorre quando 0 SN referente for inanimado, como em: “Voc comprou aquele carro?”. A essa pergunta também se pode respon- der de trés maneiras diferentes: |. Fu o portugues, no entanto, rege o fendmeno da edo através de um cruzamento semantico com o trago [+ animado] do SN referente, Em outras palavras, SNs refe- rentes de natureza animada favorecem sua posterior pro- nominalizagao na fala. Levando-se esse fator em conside- racio, uma primeira hipdtese de trabalho & levantada: a anafora zero deve estar sendo acelerada quando 0 SN refe rente for inanimado, Uma vez gue os pronomes-objeto se encontram em fase de extingdo no portugués falado do Brasil, a luta acaba sendo travada entre as dugs formas nao-padrao. Das duas a anéfora zero carrega estizma so- ciolingiiistico menos acentuado. Portanto podemos partir da seguinte premissa: na substituicio de pronomes cliticos, 4 lingua falada favorece @ andfora zero, acelerando ainda mais © processo de sua implementacdo no sistema quando © SN pronominalizével (isto é, aquele ji usado anterior- © que deveria retornar como pronome) for inani- mado, Vejamos um outro exemplo de encaixamento lingtiis- tico, ainda dentro do sistema pronominal. Em linhas ge- rais, a retenc4o (o pronome expresso) ou apagamento (0 pronome ndo-expresso; a forma zero) de pronomes nao é fendmeno observavel somente na func de objeto. Isso quer dizer que também em posigéo de sujeito ha uma alternancia entre sujeito pronominal expresso sujcito zero. © mesmo ocorre quando um SN referente é reto- mado no discurso imediatamente seguinte com fungao de objeto indireto: a variagio ser4 também entre forma pro- nominal expressa ¢ anéfora zero. Uma vez estabelecido esse fendmeno, vocé poder pensar em outra parte da gramatica que processe sistemas referencias: orag6es relativas. Essas oracdes (na grama- tica tradicional denominadas oragdes adjetivas) nada mais sio do que modificadores de um SN: dentro da relativa ha um SN correferente ao SN presente na oragao princi- pal. Outra vez vocé se vé diante de um fato de prono- minalizagio: 0 SN da principal — na realidade, sintag- ma-nticleo da relativa —. ao seguir a norma-padrdo, apa- reeera na relativa sob forma zero; a forma nao-padra surgira conseqiientemente, quando uma forma pronominal correferente ao SN da principal for usada na rola Vejamos alguns exemplo: Relativas-padrao: 1, sujeito: Eu tenho uma amiga que @ & 61 2. objeto direto: Aquele meu amigo que voed v ¢@ muito no bar é étimo, 3. objet gosta Relativas nao-padrao: 1, sujeito: Eu tenho uma amiga que ola & dtim 2. objeto direto: Aquele meu amigo que voc’ vé ele muito no bar & Gime. 3. objeto indireto: Aquele amigo que vocé gosta muito dele & étimo, amigo de quem voce Nao se assuste se as rn ndo-padrdo apresenta- das Ihe parecerem estranhas, Especialmente a fungdo de objeto direto Ihe soaré impossivell O encaixamento lin- iiistico Ihe dard, entdo, a resposta desejada: é exata~ mente em objeto direto que a andfora zero mais definiti- vamente vence a forma pronominal no sistema geral de referéncia: sobre o clitico 0 (praticamente inexistente na fala) € a forma nominativa ele, a andfora zero assume a 4s jideranca absoluta (obviamente ndo-categérica). Tam- bém no mbito da variagio em relativas voce encontrara estes resultados: a forma nao-padrao, expressa por pro- home, em relativa com correferente objeto éa menos freqiiente da escala sintatica, Seu convivio com o cotidiano sociolingii no entanto, pensar em um terceito tipo de relativa em que ovorre 2 fungao de objeto indireto: “Aquele amigo que voce gosta muito é étimo”. Ou seja, dessa relativa todo 0 sintagma preposicional foi apagado: dele. Haverd para esse tipo de relativa um encaixamento no sistema? 5 claro que sim! Como discutido anteriormente, dentro de oragoes declarativas em geral, a alternancia do si de referéneia oscil formas nominativas (de pronome-sujeito) © formas zero, Portanto 0 apagamento do sintagma preposicional desse so de relativa decorre da andfora zero que per ass a escala sintitica, ‘Temos ai, conseatientemente, um exemplo ainda mais significative de encaixamento lingtiis- ico: uma situagao de variagdo (as rela tetceiro fas) causada por outro sistema de variagdo (andfora nes oragdes de- clarativas) Obviamente o encaixamento de uma varidvel nao necessariamente o levaré de volta ao sistema gramatical padrio. © contato com o dado bruto e sua experit: com @ modelo de andlise ajudarao no estabelecimento de ouiras e novas hipéteses de trabalho. Por exemplo, no ser o uso da forma pronominal néo-padrao em rela- tivas causado por uma dificuldade no processamento das mesmas? Em outras palavras, nao afetara 0 uso da forma ndo-padrao a distancia existente entre o SN referente ¢ a relativa? Imagine os dois exemplos seguintes, 0 primeiro sem distancia, e © segundo com distancia: Eu tenho uma amiga que ¢ ¢ étima 46. “Eu tenho uma amiga la do interior, sabe, aquela prima do Joo, que ela adora ficar em casa vend televisio.” Como nova hipétese de trabalho vocé poderd estabelecer a distancia entre 0 SN referente (no caso acima, wena amiga} ¢ a relativa como um grupo de fatores com dois subfatores: com e sem distancia, E assim por diante Desenvolva 0 detetive que hd em voce! Use e abuse de suas proprias armas ¢ artimanhas para desmascarar cada variante! Na caminhada pelo corpus procure concen- lrar-se mais e mais nas variantes! Respostas chegariio a Vocé naturalmente € suas atividades de investigador/dete- ive the parecerao, a cada nove fato desvendado, mais esti- mulantes, Os fatores extralingiisticos Tudo aquilo que servir de pretexto ¢ co-texto a varid vel (isto é, tudo aquilo que nao for est tico) podera ser relevante para a resolugio de seu A formalidade vs. a informalidade do discurso, o sociaecondmica do falante, sua cscolaridade, faixa etdria & sexo poderdo ser considerados como possiveis grupos de fatores condicionadores. Esses parametros ado so, no en- tanto, facilmente operacionalizaveis. Estabeleca, portanto, critétios rigidos para eles. Como demonstrado no capitulo anterior, quanto mais fatores externos sobre os informan- tes voce incluir em sua andlise, maior quantidade de dados serd necessiria a fim de garantir a representatividade da amostra, © levantamento desses fatores deverd partir de sua prépria intuigdo como falante ou conhecedor da comuni- dade. Mesmo que vocé inclua outros fatores, a respeito a7 dos quais sua intuigdo nada de especial the diz, voe? aca bard concluindo que os parametros externos mais Sbvios so exatamente aqueles que provam ser significativos em relagao varivel. No casa de voeé prever um caso de variagio que ja projete uma mudanga dentro do sistema, 0 fator faixa etdria € de extrema importincia. Na impos dade de fazer um estudo longitudinal (um acompan mento dos falantes desde a adolescéncia até a idade ma- dura) sobre a variavel, a amostragem da comunidade em grupos etdrios diferentes Ihe dara a dimensao procurada. Em variaveis fonolégieas c sintaticas 0 fator sexo nao tem demonstrado ser muito significativo, A variacao encontra- da em formas de tratamento (voce vs. 0 senhor/a senhora) 6. na maioria das vezes, afetada pelo sexo do informante. Por outro lado, em uma sociedade téo estratificada como a nossa, fatal serd que nivel socioecondmico © de esco- laridade do individuo tenha direta relevancia sobre seu desempenho lingiiistica, Seu primeiro trabalho seré, por- tanto, através de sua intuicao como membro da comunida- preciar a area de atuagao das variantes no meio social ¢ organizar os grupos de fatores extralingiiis- icos. No caso de um fator externo demonstrar ser significa- vo, como avaliar sua forca em relagao aos fatores inter- nos, os de natureza lingiiistica? Suponha, por exemplo, que cinco fatores lingiiisticns tenham sido comprovados como significativos em relagio a determinada varidvel Além disso, os trés grupos socieconémicos estudados também apresentaram relevancia na utilizagdo das varian- tes, A que conclusdo chegar? Haverd nessa comunidade trés sistemas diferentes de fala? Ou ser o caso de hete- rogencidade da fala dentro de um mesmo sistema que permite aos grupos socioeconémicos optarem por uma ou outra variante? Voltemos & questo das relativas: as de forma pro- e as de forma zero. Os esiudos sobre relat no portugués falado demonstraram que o grupo social menos privilegiado favorece 0 uso da forma pronominal nao-padrao, enquanto os grupos sociais mais privilegiados optam pela forma zero. O condicionamento linguisti desses dois tipos de relativa pode, por outro lado, ser si tematizado! A questio para se resolver é a seguinte: sera a diferenca entre esses grupos causada pelo condicionamento lingitistico ou, inversamente, © condicionamento lingiits exatamente o mesmo, variando somente a freqiiéncia de cada variante pelos diversos grupos considerados? € verdadeira, Os as mesmos fatores linguisticos que condicionam 0 uso da forma adrdo pelos informantes de nivel social me- nos jado estao presentes no condicionamento da mesma variante, usada em baixa freqiiéneia pelos falantes mais escolarizados. Enfim, a inclusao dos fatores externos possib retratar 0 campo de batalha de outros angulos. Qualquer perspectiva nova sobre o “caso” merece ser levada em consideracao, Especialmente em relag3o a normalizagao ¢ & estandardizacdo ling! variéveis é de extrema import sunto de nosso proximo 4 A variacéo lingiiistica: segunda instancia A avaliacéo de variaveis sociolingiisticas: © informante No capitulo anterior a avaliagio de varidveis socio- sticas foi tratada do ponta de vista do pesquisador nontar oS grupos Ue fatores que potencialmente cor- relacionam uso das yariantes 2 pariimetros externos (classe socioecondmica, sexo, etnia, faixa etiia etc.), 0 pesquisador intui, através de seu profundo conhecimento da comunidade adquirido durante o process de coleta do material, 0 papel atribuido as variantes pela comunidade de falantes. © tratamento estatistico dos dados indicard que certos grupos de fatores sao, na realidade, responsé- veis pela implementacao de uma variante ¢ que outros, a0 contrario, nao demonstram qualquer efetividade na aplica- do da regra variavel. Resta, no entanto, saber qual o devido valor dado as variantes pelos falantes do grupo Vocé chega assim aquela etapa da anilise em que uma outra dimensio se faz necesséria: de que armas socio- lingiiisticas dispde cada variante? Vejamos um exemplo

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