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DIMENSIONAMENTO DE REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA PARA A

COMUNIDADE RURAL CHAPADA DE SÃO MIGUEL EM ESPERANTINA-PI

Manoel Nazareno Amorim Dantas1


Jéssica da Silva Machado2

RESUMO
Este artigo trata da metodologia utilizada para a implantação de uma rede de distribuição e seu
dimensionamento, com o intuito de atender a comunidade rural Chapada de São Miguel, em
Esperantina-PI, que, atualmente, possui um chafariz comunitário como principal fonte de
abastecimento de água. O trabalho propõe a instalação da rede tendo o chafariz como parte integrante
do sistema, sendo a fonte de abastecimento da rede de distribuição. A realização do dimensionamento
deu-se por meio de planilhas em Excel, baseadas na revisão literal, em que foram reforçados os
conceitos básicos da hidráulica, assim como os estudos para a concepção de sistemas de abastecimento
de água. Realizou-se também a pesquisa de campo, com o levantamento de dados locais, tais como:
população, cotas e medidas do terreno, análise das partes que compõem o chafariz, verificando a
viabilidade de aproveitamento do mesmo. Cercando-se de todas as informações necessárias, realizou-
se o estudo da concepção do sistema, optando-se pela rede ramificada. Para a escolha desse traçado,
levou-se em conta a geometria do terreno e as características da comunidade, pois, de acordo com
Porto (2006), redes ramificadas são bastante utilizadas em sistemas de distribuição de pequeno porte,
como: irrigação por aspersão e abastecimento de água em pequenas localidades, povoados,
acampamentos, granjas, entre outros.

Palavras-chave: Rede. Dimensionamento. Abastecimento. Distribuição.

ABSTRACT
The proposed article deals with the methodology used for the implementation of a distribution network
and its dimensioning, in order to serve the rural community Chapada de São Miguel, in Esperantina-
PI, which currently has a community fountain as its main source of supply. The design was done
through excel spreadsheets, based on the literal revision, which reinforced the basic concepts of
hydraulics as well as studies for the design of water supply systems. Field research was also carried
out, with the survey of local data, such as: the population, the dimensions and measures of the land, as
well as the analysis of the parts that compose the fountain, verifying the viability of its use.
Surrounding itself with all the necessary information, the study of the system conception was carried
out choosing the branched network. To choose this layout, we took into account the geometry of the
terrain and the characteristics of the community, because according to Porto (2006), Branched
networks are widely used in small distribution systems, such as sprinkler irrigation and water supply in
small towns, villages, camps, farms, etc.

Keywords: Network. Sizing. Supply. Distribution.

1
Engenheiro Civil pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU em Teresina – PI, email:
manoel.dantas309@gmail.com.
2
Engenheira Civil pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU em Teresina – PI, email:
jesmach2007@gmail.com.
2

INTRODUÇÃO

A água é uma das substâncias mais importantes para os seres vivos. Ela exerce papel
fundamental para as funções da natureza, manutenção do ecossistema e está relacionada
diretamente à saúde, à qualidade de vida e ao desenvolvimento humano.
Embora a Terra tenha a maior parte de sua superfície coberta por água, não significa
que se trate de um bem inesgotável. Para Victorino (2007), toda a água existente no planeta
constitui-se de dois tipos, a água doce presente nos rios, lagos e subterrâneo e a água salgada,
que compõe os mares e oceanos. Desse total, somente 2,8% são de água doce, sendo que
apenas 0,029% representam as águas superficiais, presentes em rios e lagos, que estão
diretamente disponíveis, pois os outros 2,771% de água doce, somam as águas congeladas nas
calotas polares, assim como as águas subterrâneas de difícil acesso, e por fim, as águas
evaporadas na atmosfera.
O Brasil, apesar de ser bastante rico em recursos hídricos, vem sofrendo com a
escassez de água disponível. O aumento da população aliado a fatores climáticos atribuídos ao
aquecimento global e a degradação dos mananciais são fatores determinantes para a redução
dos níveis de água nos reservatórios. Uma das regiões que mais sofre é o semiárido
brasileiro.
Victorino (2007) afirma que apesar da irregularidade das chuvas no sertão nordestino e
mesmo com os longos períodos de estiagem que mantêm rios e lagos secos durante a maior
parte do ano, há mais disponibilidade de água no semiárido nordestino do que em muitos
países do mundo. Significa que há uma relativa disponibilidade de água no semiárido
brasileiro, o que faltam são investimentos para gerenciar os recursos hídricos.
A Comunidade Rural Chapada de São Miguel, localizada na cidade de Esperantina-PI,
semiárido nordestino, possui um chafariz comunitário para atender as 168 famílias que
moram no local. Neste chafariz, os moradores lavam suas roupas e transportam a água por
meio de baldes até suas residências. A comunidade possui uma área de 176 hectares, o que
torna longa a distância entre o chafariz e a maioria das residências. Além da falta de
comodidade, existe também o risco de contaminação da água, tanto no transporte quanto no
armazenamento, pois
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a água é estocada em reservatórios improvisados nas residências, de maneira inadequada,


gerando riscos à saúde.
Diante das considerações acima, faz-se necessário o desenvolvimento de um sistema
que realize este percurso, através de uma rede de distribuição para transportar a água até os
pontos de consumo, de forma mais segura, com menos desperdício e riscos de
contaminação, promovendo saúde, conforto e qualidade de vida para os moradores. Nesse
sentido, a comunidade já conta com um sistema formado pelo chafariz que dispõe de poço
artesiano (com controle mensal da qualidade da água realizado pela prefeitura da cidade),
bomba de recalque e reservatório elevado, necessitando apenas da instalação da rede. Desse
modo, tem- se o problema da pesquisa: como dimensionar uma rede de distribuição de
maneira a atender a comunidade, com os requisitos mínimos de pressão e vazão, de modo a
garantir um fornecimento de água contínuo, conforme as normas regulamentadoras?
Com isso, temos como hipótese que para o sucesso da instalação de uma rede de
distribuição, deve-se partir de um estudo aprofundado de todos os pontos relevantes para o
dimensionamento do sistema, tomando como parâmetros as literaturas existentes e as
orientações das NBRs, de forma a garantir um bom fornecimento de água, com baixo custo,
mas sem comprometer a eficácia do sistema e assim atender aos anseios daquela
comunidade.
O objetivo geral desse estudo é dimensionar a rede de abastecimento de água para
atender a Comunidade Rural Chapada de São Miguel, em Esperantina-PI. Os objetivos
específicos são: garantir pressões suficientes na rede para o bom funcionamento; assegurar
um sistema capaz de transportar água em vazão suficiente para toda a rede; garantir o
funcionamento ininterrupto do sistema.
Para a realização deste trabalho, utilizou-se como metodologia a revisão de literatura
dos conceitos da hidráulica, inerentes à concepção de sistemas de abastecimento de água e
dimensionamento de redes ramificadas. Realizou-se o levantamento das cotas topográficas in
loco, através de aparelho GPS portátil, assim como o levantamento da população atual e as
medidas do terreno, por onde passará a futura rede de abastecimento. Durante a visita,
também foi possível analisar os componentes do chafariz que possivelmente alimentará a rede
de abastecimento, objeto de estudo deste trabalho.
Para reforçar os estudos realizados em campo, tomou-se como base teórica os
trabalhos realizados por diversos autores, dentre eles destacam-se: Porto (2006),
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que discorre, de forma bastante didática e sucinta, sobre os conceitos básicos da hidráulica,
contemplando as principais características de escoamento em condutos livres e forçados em
seus fundamentos; Tsutiya (2006), que aborda com riqueza de detalhes os estudos da
concepção de um sistema de abastecimento de água; Azevedo Netto (2017), reeditado por
Miguel Fernández y Fernández, que estuda o dimensionamento de sistemas hidráulicos,
apresentando comentários e aplicações práticas, desenvolvidas pelas experiências do próprio
autor.
A justificativa para a realização deste trabalho parte da necessidade de se desenvolver
junto à comunidade Chapada de São Miguel um sistema que venha atender as necessidades
básicas da referida comunidade, para que a população local possa dispor de água encanada na
quantidade e qualidade adequadas, contribuindo para a qualidade de vida dos moradores e
para o desenvolvimento daquela região. O estudo também traz como benefício os
conhecimentos desenvolvidos durante o processo de pesquisa, aliando a prática às teorias
adquiridas durante a graduação, contribuindo assim para uma excelente formação profissional
e servindo de fonte de pesquisa para futuros trabalhos acadêmicos.
Dessa forma, este trabalho constitui-se de quatro etapas organizadas, apresentando,
inicialmente, os estudos e levantamentos necessários para se determinar a vazão de projeto do
sistema. Na sequência, aborda-se os estudos necessários para a concepção de um sistema de
abastecimento de água. Realiza-se também uma revisão dos conceitos da hidráulica para
elaboração de projetos de redes ramificadas, para, em seguida, finalizar com o
dimensionamento da rede de distribuição e a análise dos resultados obtidos.

2 ESTUDO DA POPULAÇÃO E CONSUMO PER CAPITA

Para o correto dimensionamento de todas as etapas que irão compor um sistema de


abastecimento de água, o primeiro passo é estimar a vazão de projeto, pois esta é uma das
principais grandezas dentro de um sistema de abastecimento, haja vista que grande parte de
seus componentes são dimensionados de acordo com a sua determinação. A vazão de projeto
pode ser compreendida como o volume de água por unidade de tempo, suficiente para atender
a determinada localidade e é estimada levando-se em conta vários fatores que o projetista
precisa estar atento durante a concepção do projeto (TSUTIYA, 2006). A análise desses
fatores é
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necessária para evitar problemas com a ineficiência do sistema devido ao


subdimensionamento desses componentes ou à elevação demasiada dos custos do projeto,
com o superdimensionamento, acarretando também a ociosidade desses componentes.
Tsutiya (2006) apresenta vários fatores que podem influenciar o consumo médio per
capita ( ), como, por exemplo, os hábitos da população, a temperatura local, o padrão social
dos moradores, assim como o desenvolvimento da cidade e a perspectiva de crescimento
futuro. Também influenciam no consumo as características do sistema como pressão, vazão e
a própria qualidade da água. Comunidades que não dispõem de rede de coleta de esgoto
tendem a inibir o consumo por parte dos moradores, assim como a existência de medidores
de água e o valor da taxa cobrada. A tabela 1 apresenta o consumo médio per capita, em
função do tipo de edificação.

Tabela 1 – Estimativa de consumo diário de água


EDIFÍCIO CONSUMO (l/dia)
alojamento provisório 80 "per capita"
apartamento 200 "per capita"
asilo, orfanato 150 "per capita"
cinema e teatro 2 por lugar
edifício público, comercial ou com escritórios 50 "per capita"
escola - externato 50 "per capita"
escola - internato 150 "per capita"
escola - semi-internato 100 "per capita"
garagem 50 por automóvel
hospital 250 por leito
hotel (s/cozinha e s/lavand) 120 por hóspede
jardim 1,5 por m² de área
lavanderia 30 por kg roupa seca
mercado 5 por m² de área
quartel 150 "per capita"
residência popular ou rural 120 "per capita"
residência 150 "per capita"
restaurante e similares 25 por refeição
Fonte: Ilha e Gonçalves (2009), adaptada pelos autores.

Segundo Azevedo Netto e Fernández y Fernandez (2017), para projetos e planos


diretores, normalmente se adota no Brasil um consumo per capita de 200l/habitantes/dia.
Porém, observou-se em várias cidades que a média da
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demanda efetiva, quando não se considera as perdas, é 25% menor, e em alguns estados se
adota uma demanda de até 135l/habitante/dia.
Quanto ao cálculo da população, segundo Tsutiya (2006), são diversos os métodos
existentes para estimar o crescimento populacional, dentre todos se destacam: o método dos
componentes demográficos, considerando variáveis demográficas como fecundidade,
mortalidade, imigração, sempre tomando como base tendências passadas naquela região; há
também o método da extrapolação gráfica, que é ideal para estimar populações em longos
períodos, este método consiste em uma curva arbitrária que vai se ajustando através de dados
levantados em comunidades semelhantes à estudada; e, por fim, os métodos matemáticos, que
estimam a população através de cálculos matemáticos, tendo como base parâmetros e dados
já conhecidos como a população dos anos anteriores. Dentre os métodos matemáticos,
destacam-se o aritmético e o geométrico, conforme as equações 1 e 2.

Aritmético:

(equação 1)

Geométrico:

(equação 2)

Onde:

= População a ser estimada para o ano futuro


= População inicial
= População atual
= Tempo final
= tempo inicial
= Tempo atual
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Para Tsutiya (2006), tanto em obras de abastecimento de água quanto nas de


esgotamento, deve-se atentar durante a concepção do projeto para que o sistema venha atender
a uma população sempre maior que a atual, geralmente adota-se um horizonte de projeto que
varia entre 20 e 30 anos, porém, o mais comum é adotar 20 anos. Essa medida é necessária
para acompanhar o crescimento demográfico da região, pois, com o tempo, é natural que a
população se modifique, tanto no crescimento populacional, quanto nos hábitos locais, devido
ao aumento de renda dos moradores ou ao crescimento do comércio e da indústria local,
tudo isso gera um aumento na demanda do consumo de água.

Dessa forma, o consumo diário total ( ) de uma região pode ser obtido,
basicamente, multiplicando o consumo médio per capita ( ) pela população ( ) a ser
atendida, em litros por dia, conforme mostra a equação 3:

(equação 3)

Segundo Porto (2006), a vazão de projeto de uma rede de distribuição deve ser
dimensionada pela equação 4:

(equação 4)

Ainda de acordo com Porto (2006), o valor de 3.600 corresponde à quantidade de

segundos que contém em uma hora e ( ) é o número de horas que o sistema estará em
funcionamento, tal aplicação faz-se necessária para transformar a unidade de medida de litros
por dia (L/dia) para litros por segundo (L/s), que é mais usual em medidas de vazão.
Os coeficientes de majoração ( são utilizados para compensar o dia e a hora
de maior consumo respectivamente, devido à impossibilidade de se determinar com exatidão
a vazão de projeto, já que se trata de uma estimativa, haja vista os vários fatores que podem
influenciar o consumo, como mencionados mais acima. Os valores de e podem variar de
acordo com o porte do projeto e as características do local a ser atendido, mas normalmente
atribui-se o valor de 1,2 para , já o coeficiente adota-se um valor de 1,5 (TSUTIYA, 2006).
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3 ESTUDO DA CONCEPÇÃO DE UM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

Os investimentos necessários para a construção de um sistema de abastecimento de


água são bastante elevados, o que leva à necessidade de um estudo bastante aprofundado, pois
normalmente trata-se de obras complexas, que depende de vários fatores técnicos, sociais e
ambientais, em que um erro cometido pode elevar os custos do empreendimento, chegando ao
ponto de inviabilizar o projeto.
De acordo com Tsutiya (2006), “[...] No conjunto de atividades que constitui a
elaboração de um projeto de sistema de abastecimento de água, a concepção é
elaborada na fase inicial do projeto” (TSUTIYA, 2006, p. 9). Em um projeto de sistema de
abastecimento de água, a parte que trata da concepção é fundamental para auxiliar o projetista
na tomada de decisões, analisando o melhor caminho, por essa razão a concepção deve ser o
primeiro passo dado quando se deseja construir um empreendimento desse porte.

3.1 Unidades que compõem um sistema de abastecimento de água

Para Azevedo Netto e Fernández y Fernandez (2017), entende-se como sistema de


abastecimento de água o conjunto de equipamentos, obras e serviços, destinados a fornecer
água potável às unidades consumidoras, com qualidade e quantidade adequadas, atendendo
aos requisitos necessários para o fornecimento a que se destina.
Para que seja compreendido todo o processo, desde a capitação da água passando pelo
tratamento, até chegar ao ponto de entrega, o sistema deve ser dividido em etapas. De um
modo geral, um sistema de abastecimento de água é composto, basicamente, pelas seguintes
unidades, conforme ilustra a figura 1.
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Figura 1 – Sistema de abastecimento de água

Fonte: Tsutiya (2006).

3.2 Manancial

É o corpo de água superficial ou subterrâneo que oferece todas as condições


satisfatórias para a retirada e para o fornecimento de água do ponto de vista sanitário e
econômico, devendo oferecer vazão suficiente para atender a demanda de projeto, mesmo nos
períodos de estiagem (TSUTIYA, 2006).
Azevedo Netto e Fernández y Fernández (2017) informam que, quanto à sua
classificação, os mananciais se dividem em dois principais grupos: o subterrâneo, que se
entende como todo aquele cuja água provenha do subsolo, através de galerias, fontes, poços,
etc.; e o superficial, disponível em córregos, lagos, rios, represas, etc.
Segundo Tsutiya (2006), ao selecionar o manancial, deve-se realizar todo um
levantamento, analisando os possíveis mananciais da região, que sozinhos ou agrupados
apresentem condições satisfatórias para atender a demanda máxima, observando-se o
horizonte de projeto. Para escolha correta dos mananciais, devem ser observados os seguintes
fatores: a quantidade e a qualidade da água, a distância entre o manancial e os pontos de
consumo, bem como se o manancial permite a instalação dos equipamentos de capitação.
Nem sempre a água bruta disponível nos mananciais atende aos requisitos mínimos de
potabilidade, principalmente as águas superficiais, o que torna necessário a coleta de amostras
para exames físico-químico e bacteriológico. Essa análise se faz necessária para avaliar os
custos com o tratamento dessa água, pois estes valores são repassados ao consumidor e se
muito elevados pode inviabilizar a utilização do manancial.
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3.3 Captação

A captação é o conjunto de obras, equipamentos e acessórios instalados junto ao


manancial com a finalidade de abastecer o sistema. Para a elaboração do projeto de captação
de águas superficiais, deve-se realizar uma análise das condições locais do manancial para a
implantação das obras, levando-se em consideração os métodos construtivos necessários para
a instalação dos equipamentos que irão compor o sistema, inclusive os custos com
desapropriações e a disponibilidade de energia elétrica para alimentar as bombas da estação
elevatória (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ Y FERNÁNDEZ, 2017).
Em sistemas de captação de águas superficiais, é comum a construção de barragens
para regularizar a vazão do sistema. Para tanto, faz-se necessário o estudo hidrológico da
bacia, e, assim, conhecer a variação do nível de água do manancial. O estudo hidrológico
também avalia o período de retorno de enchentes, tendo em vista a prevenção com problemas
de inundações (TSUTIYA, 2006).

3.4 Adução

A adução é a canalização responsável pelo transporte de água entre as várias etapas do


sistema. Para Tsutiya (2006, p. 155), “[...] adutoras são canalizações do sistema de
abastecimento de água que conduzem a água para as unidades que precedem a
rede de distribuição”. Esse transporte ocorre por meio de bombeamento ou por
gravidade, dependendo da concepção adotada, levando-se em conta a topografia do terreno.
As adutoras e subadutoras se classificam de duas formas: quanto à natureza da água
transportada, que pode ser denominada de água bruta e água tratada, ou em função da energia
utilizada para realizar o transporte da água, denominada de adutora por gravidade, recalque ou
mista (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ Y FERNÁNDEZ, 2017).
O dimensionamento das adutoras depende da vazão de projeto, que varia em função de
fatores como a população, o consumo per capita, mas, sobretudo, varia principalmente em
relação à sua posição no sistema de abastecimento de água (TSUTIYA, 2006). Dessa forma, a
equação 4 sofre algumas alterações dependendo
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da posição da adutora. Nas etapas em que estão a montante da rede de distribuição, o


coeficiente pode ser dispensado, em sistemas destinados a abastecer regiões com indústrias
ou qualquer outro tipo de consumo especial, este deve ser somado à equação 4, assim como as
etapas que antecedem a estação de tratamento devem levar em conta o consumo da Estação de
Tratamento de Água (ETA).

3.5 Sistema elevatório

Um sistema elevatório é formado pelo conjunto de bombas, tubulações e acessórios,


montado com a finalidade de aplicar energia a um líquido (como a água, por exemplo) e assim
transportá-lo de uma cota inferior para uma cota superior (PORTO, 2006).
Um sistema elevatório, ou recalque, é composto basicamente por três partes, a sucção,
que é formada pela tubulação e pelos acessórios que ligam a bomba ao líquido que será
recalcado; o próprio conjunto elevatório, composto pelas bombas e seus respectivos motores,
que normalmente são movidos à eletricidade; e a tubulação de recalque, destinada a conduzir
o líquido até o ponto a que se destina (PORTO, 2006).
Quanto ao conjunto motor bomba, quando o nível da lâmina de água a ser recalcada
estiver acima do eixo da bomba, diz-se que a instalação é com rotor afogado, quando o nível
da lâmina d’água está abaixo, nesse caso é rotor não afogado. Nas instalações com rotor não
afogado, muito cuidado deve-se ter para evitar o efeito da cavitação, que consiste no aumento
excessivo da pressão no sistema, atingindo a pressão de vapor do líquido, cujo efeito provoca
bolhas de ar que estouram no conjunto, comprometendo seriamente o funcionamento e até
mesmo a integridade do equipamento. “A cavitação, uma vez estabelecida em uma
instalação de recalque, acarreta queda de rendimento da bomba, ruídos, vibrações e
erosão, o que pode levar até ao colapso do equipamento.” (PORTO, 2006, p. 154).

3.6 Tratamento (ETA)

Segundo Azevedo Netto e Fernández y Fernández (2017), as águas dos mananciais


quase sempre não atendem os padrões de potabilidade para o consumo
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humano do ponto de vista físico-químico e microbiológico, necessitando de tratamento para


adequá-las aos padrões exigidos. Este tratamento é realizado em estruturas denominadas
Estações de Tratamento de Água (ETAs).
Na estação de tratamento (ETA), a água passa por diversas etapas, tornando- a potável.
A quantidade de etapas depende da qualidade da água bruta. Conforme Azevedo Netto e
Fernández y Fernández (2017), as ETAs convencionais são constituídas por diversas
unidades, sendo que as principais são: o micropeneiramento, para a remoção de sólidos em
suspensão na água; a aeração para a remoção de gases dissolvidos como o CO2 e o H2S; a
coagulação e a floculação, que consistem em aglutinar as partículas finas em suspensão,
deixando- as com uma consistência gelatinosa, como flocos, onde serão removidos na
etapa de sedimentação/decantação, para, em seguida, passar por camadas porosas
(normalmente areia), a fim de reter as impurezas remanescentes, para então seguir para etapa
de desinfecção, que é uma medida de correção, sendo o material empregado, em 99% dos
casos, o cloro.
Para Azevedo Netto e Fernández y Fernández (2017), deve-se ter a ressalva de que
nem sempre são necessárias todas essas etapas, pois vai depender da qualidade da água do
manancial e dos riscos de contaminação do mesmo. Em geral, as águas dos mananciais
superficiais são mais vulneráveis. Nos mananciais subterrâneos, por sua vez, as camadas do
solo já servem como filtros para reter boa parte das impurezas, por esta razão não necessita de
todas essas etapas, bastando, na maioria das vezes, adicionar uma quantidade adequada de
cloro, no seu armazenamento, para garantir a sua potabilidade.

3.6 Reservação

Dentro de um sistema de abastecimento de água, a reservação tem como principais


objetivos garantir o fornecimento de água nas etapas posteriores ao reservatório, pelo tempo
mínimo possível, em casos de eventuais manutenções nas etapas a montante, assim como
regular a pressão nas etapas a jusante. Precisa também manter o fornecimento de água nos
horários de maior consumo, garantindo o abastecimento no sistema, em que se faça necessário
o desligamento das bombas de recalque no horário de ponta, pois a tarifa de energia cobrada
nesses horários é mais elevada (AZEVEDO NETTO; FERNÁNDEZ Y FERNÁNDEZ, 2017).
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Os reservatórios devem ser instalados, aproveitando-se ao máximo a topografia do


terreno, de maneira que ele possa cumprir as exigências mínimas de pressão e vazão na rede.
Podem ser construídos elevados, enterrados, semienterrados ou apoiados no terreno, a
montante ou a jusante da rede de distribuição. Quanto ao formato, não há nenhuma
recomendação construtiva, fica a critério do projetista, desde que mantenha a qualidade da
água e que o volume seja suficiente para atender a demanda (TSUTIYA, 2006).
Azevedo Netto e Fernández y Fernández (2017) afirmam que, para o correto
dimensionamento de um reservatório, a demanda de consumo diário é o principal fator,
considerando o horizonte de projeto no dia de maior consumo, levando-se em consideração
também outros fatores, tais como: a reserva de incêndio, situações emergenciais como reparos
nas etapas anteriores a reservação, horários de maior consumo, etc. Ainda de acordo com
Azevedo Netto e Fernández y Fernández (2017), o volume total de um reservatório em um
sistema de abastecimento de água pode ser determinado da seguinte maneira:

No caso de reservatórios elevados (torres), por medida econômica, é comum


usar o dimensionamento na base de 1/10 (10%) a 1/8 (12,5%) até 1/5 (20%)
do volume distribuído em 24 horas no setor de influência. (AZEVEDO
NETTO, FERNÁNDEZ Y FERNÁNDEZ, 2017, p. 430).

Tsutiya (2006) também afirma que, para reservatórios elevados, é comum adotar-se
valores entre 10% e 20% do volume total diário, devido aos custos para a construção desses
reservatórios.

3.7 Rede de distribuição

De acordo com Tsutiya (2006), redes de distribuição podem ser compreendidas como:
“[...] a parte do sistema de abastecimento formada de tubulações e órgãos
acessórios, destinada a colocar água potável à disposição dos consumidores, de
forma contínua, em quantidade e pressão recomendadas.” (TSUTIYA, 2006, p. 389).
Os condutos de uma rede de distribuição classificam-se como principais e secundários.
Os condutos secundários são responsáveis por abastecer os consumidores; e os principais,
que possuem diâmetros maiores, são responsáveis
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pela alimentação e distribuição da rede. “De acordo com a disposição dos condutos
principais e o sentido do escoamento nas tubulações secundárias, as redes são
classificadas como rede ramificada e rede malhada.” (PORTO, 2006, p. 169).
A principal diferença entre as redes ramificadas e malhadas é que as redes ramificadas
admitem somente um sentido para o fluxo de água, sendo ideal para atender pequenos
empreendimentos, devido a sua baixa complexidade para dimensionamento. Porém, apresenta
um sério inconveniente, pois, em caso de manutenção no sistema, dependendo do ponto, faz-
se necessária a interrupção do fornecimento de água a jusante, o que não ocorre com a rede
malhada devido seu traçado em forma de anéis, a interrupção em ponto dificilmente interfere
nos demais (PORTO, 2006). A figura 2 mostra a diferença entre ambos os tipos de rede.

Figura 2 – Exemplo de rede ramificada e rede malhada

Fonte: Elaborada pelos autores (2019).

A própria NBR 2218/94 define parâmetros que devem ser respeitados para o correto
dimensionamento de uma rede de distribuição, como o diâmetro mínimo de 50mm e os
limites máximos e mínimos de pressão na rede, que são respectivamente 50mca, para a
pressão máxima estática, e 10mca para pressão dinâmica mínima. Ela também delimita as
velocidades mínimas e máximas na rede entre 0,6m/s e 3,5m/s.

4 PARÂMETROS HIDRÁULICOS PARA REDES RAMIFICADAS

Redes ramificadas são bastante utilizadas para atender o fornecimento de água em


pequenas localidades e em sistemas de irrigação. Para o correto dimensionamento de uma
rede de abastecimento de água do tipo ramificada, é necessário conhecer conceitos básicos da
hidráulica e suas respectivas equações,
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inerentes a este tipo de sistema. Para que se possa dar continuidade a este estudo, tais
conhecimentos são indispensáveis.

4.1 Cálculo de vazão

A vazão ( ) pode ser compreendida como a quantidade de massa, de determinado


fluido, que passa por um ponto em um dado tempo, em outras palavras vazão é o volume (

), dividido pela variação de tempo ( ) a ser considerado,


conforme mostra a equação 5:

(equação 5)

Outra maneira de se determinar a vazão é através da equação 6, onde se define a

mesma como o produto entre a velocidade ( ) e a área ( ) da secção do conduto por onde
atravessa o fluido.

(equação 6)

4.2 Equação da continuidade

Segundo Coelho e Baptista (2014), a equação da continuidade é uma consequência do


princípio de conservação da massa, pois a mesma não pode ser destruída ou mesmo criada,
apenas transformada, ou seja, a vazão que entra em um lado do tubo, obrigatoriamente, será
a mesma vazão que irá sair do outro lado deste tubo. Em outras palavras, pode-se dizer que a
massa do líquido não se perde dentro do tubo, ela será sempre a mesma durante o escoamento,
como demonstra a equação 7:

(equação 7)
16

4.3 Equação da energia de Bernoulli

Assim como a equação da continuidade é uma consequência da conservação da massa,


a equação de Bernoulli é uma consequência da conservação de energia. A energia disponível
em um dado ponto é composta pelo somatório de três cargas de energia por unidade de
peso. Como mostra a equação 8:

(equação 8)

Onde:
= energia total (m)

= carga de pressão (m)


= energia potencial (m)

= carga de energia cinética (m)

A forma geral de expressar a energia disponível em dois pontos de um conduto, dado


um fluido incompressível em regime permanente, é apresentada na equação 9:

(equação 9)

Da equação 9, pode-se deduzir que a energia disponível no ponto 1 é igual a energia

disponível no ponto 2, mais a perda de carga ( ) entre os pontos 1 e 2.


Segundo Porto (2006), levando-se em conta que cada parcela de energia tem como
unidade de medida o metro, admite-se então uma interpretação geométrica do sistema, de
efeito bastante prático para compreensão. Conforme ilustra a figura 3:
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Figura 3 – Linha de energia e linha piezométrica

Fonte: Guia da Engenharia (2019)3.

Em sistemas como adutoras e redes de distribuição, normalmente despreza- se a

parcela ( ), que corresponde à carga de energia cinética, levando-se em conta

somente a soma das parcelas ( ), denominado cota piezométrica, que pode ser
compreendida como o nível alcançado pelo líquido dentro da tubulação, se instalados
piezômetros ao longo do percurso, ao qual representa a energia potencial do líquido atuando
no sistema devido ao efeito da gravidade.

4.4 Perda de carga

Para Coelho e Baptista (2014), a perda de carga é a parcela de energia perdida durante
o escoamento em forma de calor, devido ao atrito do líquido com a parede do conduto, ou
pela mudança interna de energia no próprio líquido, devido à viscosidade, turbulência, etc.
Sendo que esta energia, uma vez perdida, não pode mais ser recuperada em forma de energia
cinética ou potencial.
De acordo com Coelho e Baptista (2014), além da energia perdida ao longo da
tubulação, denominada perda de carga contínua, há também aquela que se perde nas
conexões, nas curvas, nos registros e etc., as chamadas perdas de carga localizadas, que se
somam às contínuas para formar a perda de carga total.
Em algumas instalações, como as prediais, a perda de carga localizada é mais
considerável que a contínua, devido à enorme quantidade de curvas e conexões, o que não
ocorre em instalações de grandes dimensões, como as adutoras e redes de distribuição, onde
o comprimento e o diâmetro das tubulações

3
Disponível em: <https://www.guiadaengenharia.com/equacao-bernoulli-teoria/>. Acesso: 05 out. 2019.
18

são relativamente bem maiores do que em instalações hidrossanitárias. Nestes casos, as perdas
de carga localizadas podem ser desconsideradas para efeito de cálculo (COELHO;
BAPTISTA, 2014).
O escoamento é a principal condição para que haja perda de carga, que também
depende de outros fatores, tais como: a viscosidade e o regime de escoamento do líquido,
como das dimensões e do material. A equação geral da perda de carga é mostrada abaixo,
através da equação 10, onde a perda de carga

unitária ( ) que ocorre em cada metro de tubo é a razão entre a perda de carga total

( ) dividida pelo comprimento ( ) deste tubo, medida normalmente em m/m.

(equação 10)

4.5 Equação de Hazen-Williams

Segundo Porto (2006), das equações empíricas desenvolvidas ao longo da história, a


de Hazen-Williams é a que mais tem aceitação entre os profissionais, devido ao sucesso dos
resultados obtidos. De acordo com Coelho e Baptista (2014), a equação de Hazen-Williams é
bastante empregada para a determinação da perda de carga em condutos destinados somente
ao transporte de água, e com diâmetro mínimo de 50mm. O coeficiente de perda de carga ( )
depende do material que foi empregado na fabricação do conduto, pois leva em consideração
a sua rugosidade, que entrará em atrito com a água durante o escoamento. A tabela 2
apresenta o coeficiente de perda de carga em função do material do conduto. A equação 11
apresenta a fórmula de Hazen-Williams:

(equação 11)

Da equação 11, tem-se o ( ) como a vazão que passa pelo tubo e ( )


corresponde ao diâmetro. Já o coeficiente ( ) diz respeito às características do material
empregado na fabricação do tubo, levando-se em conta sua rugosidade e o tempo de uso. De
acordo com Porto (2006), a tabela 3 apresenta os valores dos coeficientes de rugosidade ( )
para os materiais mais empregados.
19

Tabela 3 – Valores do coeficiente C para a equação de Hazen-Williams


Aço corrugado (chapa ondulada) C=60 Aço com juntas lock-bar, tubos novos 130
Aço com juntas lock-bar, sem serviço 90 Aço galvanizado 125
Aço rebitado, tubos novos 110 Aço rebitado, em uso 85
Aço soldado, tubos novos 130 Aço soldado, em uso 90
Aço soldado, com revestimento especial 130 Cobre 130
Concreto, bom acabamento 130 Concreto, acabamento comum 120
Ferro fundido, novos 130 Ferro fundido, após 15-20 anos de uso 100
Ferro fundido, usados 90 Ferro fundido, Revestido de cimento 130
Madeiras em Aduelas 120 Tubos extrudados, P.V.C. 150
Fonte: Porto (2006).

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O sucesso do dimensionamento de uma rede de distribuição depende, inicialmente, do


estudo da população a ser atendida pelo sistema. Analisa-se, também, as condições
topográficas do local, para então, traçar as diretrizes e adotar a concepção mais favorável para
o bom funcionamento da rede.
Segundo dados do IBGE, de acordo com o último senso, realizado em 2010, a cidade
de Esperantina, localizada na região Norte do estado do Piauí, contava com uma população
de 37.767 habitantes e a estimativa para o ano de 2019 é de 39.737 habitantes. De posse
desses dados, e aplicando-os nas equações 1 e 2, têm-se os resultados apresentados tabela 4, e
comparando o resultado dos dois métodos (aritmético e geométrico), chega-se aos resultados
apresentados na tabela 4:

Tabela 4 – Cálculo da população

ANO POPULAÇÃO
T1 2010 P1 37.767
T2 2019 P2 39.737
T 2039 Horizonte projeto 20 anos
Taxa de cresc.
MÉTODO POPULAÇÃO Ao ano
ARITMÉTICO 44.115 hab. 0,58% ao ano
GEOMÉTRICO 41.810 hab. 0,37% ao ano
Fonte: Elaborada pelos autores (2019).
20

Na tabela 4, tem-se a comparação entre os dois métodos matemáticos (aritmético e


geométrico). De acordo com os resultados obtidos, é possível observar que a taxa de
crescimento anual, pelo método aritmético, é superior ao geométrico. Para estimar, a
população a ser atendida no povoado Chapada de São Miguel, em um horizonte de projeto de
20 anos, toma-se como referência a taxa de crescimento pelo método aritmético, que é de
0,58%. Multiplicando-se esse resultado por 20 anos (horizonte de projeto), tem-se um
crescimento estimado de 11,6%. Atualmente, a comunidade conta com 168 famílias, que
serão atendidas pela rede de abastecimento, com uma média de quatro pessoas por habitação,
dando um total de 672 pessoas, aproximadamente. Aplicando-se neste valor a taxa de
crescimento de 11,6%, obtêm-se uma população estimada em 749,95 habitantes, arredonda-se
então para 750 habitantes. Essa é a estimativa para o ano de 2039.
Determinada a população, define-se o consumo de água per capita, que, de acordo com
a tabela 1, corresponde a 120 L/hab.dia, em uma residência rural. Tomando como 1,2 e
igual a 1,5, também se levando em conta que o sistema terá um funcionamento de 24 horas
por dia, basta aplicar os dados na equação 4 e obter a vazão total na rede de distribuição.
Para o dimensionamento de uma rede de distribuição do tipo ramificada, como é o
caso desse estudo, é importante que o faça através de planilhas em Excel, com as células
condicionadas nas fórmulas das vazões, pressões e perdas de cargas em cada trecho/ponto da
rede, obedecendo a uma sequência para facilitar os cálculos (PORTO, 2006).
O anexo B mostra a planilha 5, que será adotada neste trabalho e o anexo C apresenta
a mesma planilha devidamente preenchida. De acordo com Porto (2006), o dimensionamento
de uma rede de distribuição do tipo ramificado pode ser obtido seguindo o passo a passo
abaixo:
O primeiro passo, para o preenchimento da planilha, é definir os trechos de acordo
com o traçado da rede. O anexo A mostra a planta da comunidade com o traçado da rede e
seus respectivos pontos já definidos, partindo do reservatório até o final da rede de
distribuição. Os trechos são preenchidos na coluna 1, conforme mostra o anexo C.
O próximo passo é preencher o comprimento de cada trecho na coluna 2, anexo C,
assim como a cota topográfica de cada ponto, a montante e a jusante do trecho, nas colunas 11
e 12, no mesmo anexo.
21

Em seguida, definem-se as vazões de montante, jusante, distribuída e fictícia em cada


trecho, nas colunas 3, 4, 5, 6 respectivamente. Obedecendo aos seguintes passos:

 Determina-se a vazão de distribuição em marcha ( ), dividindo a vazão total da rede (


), pelo comprimento total da rede ( ), que conforme o anexo C, coluna 2, linha 12 é de
2.401,88m. A equação 12 apresenta a fórmula da vazão em marcha:

(equação 12)

 Em seguida, define-se a vazão distribuída ( ), em cada trecho, multiplicando a vazão


em marcha ( ) pelo comprimento do trecho ( ) correspondentes. Considera-
se como ponta seca, ou seja, vazão de jusante ( ) igual a zero, os trechos finais da rede,
onde a vazão de montante ( ) deverá ser igual a vazão distribuída. Conforme a
relação abaixo, na equação 13:

(equação 13)

 Em um nó, a vazão de jusante de um trecho que chega será a soma das vazões de montante
dos trechos que saem desse nó, ou vice-versa.
 Para o dimensionamento das perdas de carga e, consequentemente, das pressões, faz-se

necessário definir a vazão fictícia ( ) em cada trecho. A maioria das literaturas


apresentam a definição de vazão fictícia como a média aritmética entre as vazões de montante
e jusante. Nos trechos cuja vazão de jusante é igual a zero (ponta seca), a vazão fictícia pode
ser determinada dividindo a vazão de montante do trecho pela raiz quadrada de 3. Como
mostram as equações 14 e 15 abaixo:

(equação 14) e

(equação 15)
22

Na coluna 6, deve-se inserir o diâmetro da tubulação de cada trecho, que é


dimensionado através da vazão de montante, pela equação 6, obedecendo aos limites máximos
e mínimos de velocidade na rede que são 3,5m/s e 0,6m/s e o diâmetro mínimo de 50mm,
conforme orienta a NBR 2218/1994. De acordo com Tsutiya (2006), outra maneira de se
dimensionar o diâmetro é através da fórmula empírica de Porto (1998). Conforme mostra
abaixo a equação 16:

(equação 16)

Onde:
= Velocidade máxima na rede
= Diâmetro do trecho

A perda de carga unitária ( ), coluna 9, é dimensionada através da equação 11


(fórmula de Hazen-Williams para perda de carga), aplicando a vazão fictícia e o diâmetro do
trecho, com um coeficiente ( ) de perda de carga igual a 150, conforme tabela 3 (tubos
extrudados, PVC). Para dimensionar a perda de carga total, na coluna 10, basta multiplicar a
perda de carga unitária pelo comprimento do trecho, de acordo com a equação 10.
As cotas piezométricas de montante e de jusante, colunas 13 e 14, a equação 17 mostra
como essas grandezas se relacionam:

(equação 17)
Onde:

= Cota piezométrica de montante

= Cota piezométrica de jusante

= Perda de carga entre montante e jusante

Nas colunas 15 e 16, têm-se as pressões disponíveis em cada ponto, que podem ser
dimensionadas através das equações 18 e 19, de acordo com as relações abaixo:
23

(equação 18)
e
(equação 19)

Onde:
= Pressão disponível a montante
= Cota geométrica a montante =
Pressão disponível a jusante
= Cota geométrica a jusante

O anexo C apresenta a tabela 5 devidamente preenchida, conforme o passo a passo


acima apresentado. De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que a rede de
distribuição, para atender a comunidade rural, deverá compor de uma tubulação em PVC com
50mm de diâmetro em toda a sua extensão. O comprimento total da rede, somando-se todos
os trechos onde haverá distribuição em marcha, é de 2.401,88m com uma pressão dinâmica
mínima de 10mca no ponto 9 (o mais desfavorável), localizado na cota 112,10m. No ponto 8,
conta 108,90m, tem-se a pressão máxima disponível na rede, que é de 12,793mca, muito
abaixo da pressão máxima permitida por norma de 50mca. Para atender a condição mínima de
pressão na rede, o reservatório de água, localizado no ponto 1, cota 113,71m, deverá ser
instalado a uma altura mínima de 14,588m.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunidade rural Chapada de São Miguel sempre sofreu com a deficiência no


acesso à água potável. Face ao problema exposto, tem-se que a instalação de um sistema de
distribuição de água, utilizando o chafariz para abastecer a rede, aliviará os problemas
enfrentados diariamente pelos membros daquela região.
A partir dos estudos desenvolvidos, por meio deste trabalho, foi possível observar que,
além da instalação da rede de distribuição, faz-se necessário elevar o reservatório em
11,088m, pois o atual encontra-se a uma altura de 3,50m e a altura mínima, de acordo com o
dimensionamento, é de 14,588m, necessitando também de um sistema de acionamento
automático para a bomba de recalque, para garantir
24

o funcionamento contínuo do sistema, pois, atualmente, o chafariz conta com acionamento


manual.
O reservatório instalado no chafariz compõe um volume total de 20.000 litros de água,
sendo o suficiente para atender a demanda, pois, como mencionado anteriormente, de acordo
com Tsutiya (2006), para reservatórios elevados (torres), adota-se um volume entre 10 e 20%
do consumo diário.
Em análise aos estudos realizados, concluiu-se que é possível garantir o mínimo de
conforto e qualidade de vida para os moradores daquela comunidade, Com um sistema
relativamente simples e viável, oferecendo um fornecimento de água seguro e eficaz, de
acordo com os parâmetros mínimos de pressão e vazão recomendados pelas normas vigentes.
Propiciando, com isso, um significativo impacto na prevenção de doenças associadas ao uso
inadequado da água, assim como a redução da mortalidade infantil e dos custos com cuidados
médicos; promovendo, dessa forma, os avanços socioeconômicos necessários para aquela
região.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12211: Estudos de


concepção de sistemas públicos de abastecimento de água – Procedimento. Rio de Janeiro,
1992.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12212: Projeto de poço


para captação de água subterrânea – Procedimento. Rio de Janeiro, 1992.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12213: Projeto de


captação de água de superfície para abastecimento públicos – Procedimento. Rio de Janeiro,
1992.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12214: Projeto de


sistema de bombeamento de água para abastecimento público – Procedimento. Rio de
Janeiro, 1992.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NB-591: projeto de adutora


de água para abastecimento – Procedimento. Rio de Janeiro, 1991.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12216: Projeto de


estação de tratamento de água pra abastecimento público – Procedimento. Rio de Janeiro,
1992.
25

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12217: Projeto de


reservatório de distribuição de água para abastecimento – Procedimento. Rio de Janeiro,
1994.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12218: Projeto de rede


de distribuição de água para abastecimento – Procedimento. Rio de Janeiro, 1994.

AZEVEDO NETTO, José Martiniano de; FERNÁNDEZ, Miguel Fernández y. Manual de


Hidráulica. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2017.

BAPTISTA, Márcio Benedito; COELHO, Márcia Maria Lara Pinto. Fundamentos de


Engenharia Hidráulica. 3. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.

HELLER, Léo; PÁDUA, Valter Lúcio de. Abastecimento de Água para Consumo
Humano. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

PORTO, Rodrigo de Melo. Hidráulica Básica. 4. ed. São Paulo: EESC-USP, 2006.

TSUTIYA, Milton Tomoyuki. Abastecimento de Água. 3. ed. São Paulo:


Departamento de Engenharia Hidráulica e Satinária da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo, 2006.

VICTORINO, Célia Jurema Aito. Planeta Água Morrendo de Sede uma Visão
Analítica na Metodologia do Uso e Abuso dos Recursos Hídricos. 1. ed. Porto
Alegre: EDIPURS, 2007.
ANEXO
TABELA DE DIMENSIONAMENTO DE REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
COTA
PERDA DE PRESSÃO
COMPRIMENTO VAZÃO (L/s) D VELOCIDADE COTA (m) PIEZOMÉTR
TRECHO J(m/m) CARGA (m)
(m) (mm) (m/s) .
(m) (m)
1 Qm Qj Qd Qf Zm Zj CPm CPj Pm Pj
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
TOTAL
ANEXO
TABELA DE DIMENSIONAMENTO DE REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA PREENCHIDA
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
COTA
PERDA
COMPRIMENTO VAZÃO (L/s) D VELOCIDADE COTA (m) PIEZOMÉTR PRESSÃO (m)
TRECHO J(m/m) DE
(m) (mm) (m/s) .
CARGA (m)
(m)
1 Qm Qj Qd Qf Zm Zj CPm CPj Pm Pj
2 1a2 182,34 1,875 1,7327 0,1423 1,8038 50 0,955414 0,01826 3,32997 113,71 112,61 128,268 124,94 14,558 12,328
3 2a3 84,24 1,5573 1,4915 0,0658 1,5244 50 0,79353 0,01338 1,1268352 112,61 112,23 124,938 123,81 12,328 11,581
4 2 a 11 224,63 0,17535 0 0,1754 0,1012 50 0,089353 8,9E-05 0,0199056 112,61 112,93 124,938 124,92 12,328 11,988
5 3a4 107,93 1,27593 1,1917 0,0843 1,2338 50 0,650156 0,00904 0,9762113 112,23 111,75 123,811 122,83 11,581 11,085
6 3 a 12 276,2 0,21561 0 0,2156 0,1245 50 0,109866 0,00013 0,035874 112,23 111,16 123,811 123,78 11,581 12,615
7 4a5 130,34 0,97352 0,8718 0,1017 0,9226 50 0,49606 0,00528 0,6886335 111,75 110,58 122,835 122,15 11,085 11,566
8 4 a 10 279,46 0,21816 0 0,2182 0,126 50 0,111163 0,00013 0,037094 111,75 110,43 122,835 122,8 11,085 12,368
9 5a6 179,38 0,6361 0,4961 0,14 0,5661 50 0,324129 0,00214 0,3838892 110,58 109,37 122,146 121,76 11,566 12,392
10 5a9 301,89 0,23567 0 0,2357 0,1361 50 0,120085 0,00015 0,0462233 110,58 112,1 122,146 122,1 11,566 10
6a7 286,74 0,22384 0 0,2238 0,1292 50 0,114059 0,00014 0,0399148 109,37 110,21 121,762 121,72 12,392 11,512
11
6a8 348,73 0,27223 0 0,2722 0,1572 50 0,138717 0,0002 0,0697247 109,37 108,9 121,762 121,69 12,392 12,793
12
TOTAL 2.401,88

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