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A POLITÉCNICA

Sistemas Geodésicos de
Referência e Teoria de
erros de medição
Precisão igual e precisão diferente

Euclides Matule
2019-03-06

Classificação dos SGR, sua materialização; DATUM Geodésico, Datum de


Moçambique; Teoria de erros de medições com precisão igual e diferente.
Sistemas Geodésicos de Referência e Teoria de erros de medição 2019

Índice
Introdução ..................................................................................................................... 2

1. Sistemas de referências ............................................................................................. 3

1.1 Introdução ............................................................................................................... 3

1.2 Sistemas de referência Clássicos ............................................................................ 3

1.3 Sistemas referências Modernos .............................................................................. 4

1.4 Sistemas coordenados utilizados em geodésia........................................................ 5

1.4.1 Sistema de Coordenadas Cartesianas ................................................................... 5

1.4.2 Sistema de Coordenadas Geodésicas ................................................................... 6

1.4.3 Sistema de Coordenadas Planas ........................................................................... 8

1.5 Materialização de um sistema de referência ........................................................... 9

1.5.1 DATUM ............................................................................................................... 9

1.5.1.1 Datum Planimétrico (horizontal) ...................................................................... 9

1.5.1.2 Datum vertical................................................................................................. 11

1.5.1.3 Exemplos de uso de “Datas” diferentes .......................................................... 12

1.6 Datum usado em Moçambique ............................................................................. 13

1.6.1 Datum clássico ................................................................................................... 13

1.6.2 Novo Datum Geodésico de Moçambique - MOZNET/ITRF94 ........................ 14

2. Teoria dos erros ...................................................................................................... 15

2.1 Introdução ............................................................................................................. 15

2.2 Tipos e classificação dos erros de observação ...................................................... 15

2.3 Peculiaridade dos erros acidentais ........................................................................ 17

2.4 Precisão e tolerância: conceitos ............................................................................ 17

2.5 Noções de medição com precisão igual e medição com precisão diferente ......... 19

2.5.1 Medição com precisão igual .............................................................................. 19

2.5.2 Medição com precisão diferente ........................................................................ 20

Referências bibliográficas........................................................................................... 21

1 Euclides Matule
Sistemas Geodésicos de Referência e Teoria de erros de medição 2019

Introdução

O posicionamento de pontos da superfície física da Terra envolve necessariamente um


modelo terrestre. Assim, uma preocupação dos geodesistas é a determinação dos
parâmetros geométricos e físicos do modelo adequado ao posicionamento e à
representação do campo de gravidade teórico. Adequado é o termo que está associado
com as necessidades de uma época. No século XIX, por exemplo, adequado significava
a precisão de 1 parte em 104 nos parâmetros geométricos. Actualmente, adequado
significa a precisão de 1 parte em 106 nos mesmos parâmetros. Um dos objectivos da
Geodésia é o apoio básico nos trabalhos de mapeamento. Portanto, um modelo
internacionalmente aceito e usado promove a cooperação entre países e constitui a base
na qual podem ser apoiados os grandes projectos. Isto significa que a permanência ou,
pelo menos a perenidade, é tão importante quanto a precisão para um modelo terrestre.
Para evitar a proliferação e o uso indiscriminado de modelos em trabalhos científicos,
eles são determinados pelos grupos de trabalho formados por especialistas indicados a
aprovados pela IAG (International Association of Geodesy). Os canais de comunicação
são formalizados e garantidos através da ICSU (Iinternational Council of Scientific
Union) da UNESCO (United Nations of Education, Scientific and Cultural
Organization). A organização internacional responsável pela aprovação e recomendação
dos Sistemas Geodésicos de Referência é a IUGG (International Union of Geodesy and
Geophysics) através da IAG. Cabe ao organismo competente de cada país a adopção, a
recomendação e o apoio aos usuários nacionais. Em Moçambique, o órgão responsável
por essas actividades é o CENACARTA (Centro Nacional de Cartografia e
Teledetecção).

Como as observações feitas em campo de direcções e distâncias estão sujeitas a erros, é


preciso que posteriormente seja feito um ajustamento dessas observações. Esses erros
ocorrem devido a factores tais como: condições climáticas, erros de leitura no
instrumento, folgas nos instrumentos e erros grosseiros que podem vir a surgir no
momento de transcrever ou digitar uma dada observação.

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1. Sistemas de referências

1.1 Introdução

Para identificar a posição de uma determinada informação ou de um objeto, são


utilizados os sistemas de referência.
Também conhecidos como sistemas de referência terrestres ou geodésicos, estão
associados a uma superfície que se aproxime do formato da Terra, ou seja, um elipsoide.

Os sistemas de referência são classificados em dois tipos:


 Clássico;
 Moderno

1.2 Sistemas de referência Clássicos

Historicamente, os sistemas geodésicos eram obtidos através das seguintes etapas:


 Escolha de um sólido geométrico e seus parâmetros definidores.
 Definição de um ponto de origem, um azimute inicial, determinação da
separação entre elipsoide-geóide e desvio da vertical. Com estas informações
assegura-se a boa adaptação entre a superfície do elipsoide e geóide na região
onde este referencial será desenvolvido. Sendo assim, o centro do elipsoide não
está localizado no geocentro. (IBGE 2003)
 Realização de observações geodésicas através de ângulos e distâncias de origem
terrestre, materializando o referencial.

Os itens 1 e 2 abordam os aspectos definidores do sistema, enquanto o item 3 aborda o


aspecto prático na sua obtenção. Deste modo, as coordenadas geodésicas estão sempre
associadas a um determinado referencial, mas não o definem.

O conjunto de pontos ou estações terrestres forma as chamadas redes geodésicas, as


quais vêm a representar a superfície física da Terra na forma pontual. O posicionamento
3D de um ponto estabelecido por métodos e procedimentos da Geodésia Clássica
(triangulação, poligonação e trilateração) é incompleto, na medida em que as redes

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verticais e horizontais caminham separadamente. No caso de redes horizontais, algumas


de suas estações não possuem altitudes, ou as altitudes são determinadas por
procedimentos menos precisos. Um exemplo de DGH em uso em Moçambique é o
MozNet.

O procedimento clássico de definição da situação espacial de um elipsoide de referência


corresponde à antiga técnica de posicionamento astronômico, na qual arbitra-se que a
normal ao elipsoide e a vertical no ponto origem são coincidentes, bem como as
superfícies geóide e elipsoide, induzindo assim, a coincidência das coordenadas
geodésicas e astronômicas. O mesmo pode ser dito para os azimutes geodésico e
astronômico (∝0 e A0). Nestas condições caracteriza-se a situação espacial do datum da
seguinte forma:

φ0 = Φ0; λ0 = Λ0; h0 = H0

1.3 Sistemas referências Modernos

Com a era da geodésia espacial (satélites artificiais) os sistemas de referência terrestres


passam a ter características diferentes em relação aos sistemas clássicos visto
anteriormente, mas a essência é a mesma no sentido de possuir uma parte definidora e
atrelada a ela, uma materialização (IBGE 1983).
As etapas necessárias na obtenção destes sistemas terrestres são:
 Adopção de uma plataforma de referência que represente a forma e as dimensões
da Terra em caráter global (sistemas geodésicos de referência – SGR), sendo
portanto geocêntricos. Esta plataforma é derivada de extensas observações do
campo gravitacional terrestre e a partir de observações a satélites.

 A materialização do sistema terrestre geocêntrico é dada através de redes


geodésicas, entretanto, os métodos e procedimentos para sua obtenção utilizam-
se das técnicas espaciais de posicionamento, como por exemplo, o VLBI (Very
Long Baseline Interferometry), SLR (Satellite Laser Range) e o GPS (Global
positioning System). Estas técnicas possuem duas vantagens sobre as outras. A

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primeira consiste no posicionamento tridimensional (3D ou X,Y,Z) de uma


estação geodésica e a segunda é sua alta precisão nas coordenadas.

1.4 Sistemas coordenados utilizados em geodésia

Determinar a posição de um ponto, significa calcular as suas coordenadas. Calcular as


coordenadas de um ponto significa estabelecer a posição desse ponto em relação a um
sistema de coordenadas e uma superfície de referência previamente escolhidos,
estabelecidos de tal forma que todos os pontos tenham uma posição unívoca e
atemporal.
As coordenadas referidas aos Sistemas de Referência Geodésicos são normalmente
apresentadas em três formas: cartesianas, geodésicas (ou elipsoidais) e planas.

1.4.1 Sistema de Coordenadas Cartesianas

Este sistema é baseado no Sistema de Coordenadas Rectangular criado pelo filósofo


francês, Renée Descartes (1569-1650), no século XVII. Ele é também chamado de
Sistema Cartesiano Plano. O sistema cartesiano geocêntrico (X,Y,Z), também
conhecido como sistema terrestre convencional.
Um sistema coordenado cartesiano no espaço 3-D é caracterizado por um conjunto de
três rectas (x, y e z), denominados de eixos coordenados, mutuamente perpendiculares.
Ele associado a um Sistema de Referência Geodésico, recebe a denominação de Sistema
Cartesiano Geodésico (CG) de modo que:
 O eixo X coincidente ao plano equatorial, positivo na direcção de longitude 0°;
 O eixo Y coincidente ao plano equatorial, positivo na direcção de longitude 90°;
 O eixo Z é paralelo ao eixo de rotação da Terra e positivo na direcção norte e é
orientado para o Conventional International Origin (CIO), conforme definição
do International Service of Polar Motion (ISPM).
 Origem: Se está localizada no centro de massas da Terra (geocêntro), as
coordenadas são denominadas de geocêntricas, usualmente utilizadas no
posicionamento a satélites, como é o caso do WGS84 (vide figura a).

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Neste sistema, as coordenadas (x, y, z) de um ponto da superfície terrestre são


invariáveis para a Terra rígida e sem movimentos da crosta.

Figura a: Coordenadas cartesianas geocêntricas (X, Y, Z)

1.4.2 Sistema de Coordenadas Geodésicas

O sistema de coordenadas geodésicas (elipsóidicas ou esféricas, também chamadas de


coordenadas geográficas) é um sistema adequado para a localização inequívoca da
posição dos objectos, fenómenos e acidentes geográficos na superfície terrestre. Neste
sistema o modelo elipsoídico da Terra é dividido em círculos paralelos ao Equador
chamados PARALELOS e em elipses que passam pelos pólos terrestres
(perpendiculares aos paralelos) chamados MERIDIANOS.
Independente do método utilizado para se representar ou projectar uma determinada
superfície no plano, deve-se adoptar uma superfície que sirva de referência, garantindo
uma concordância das coordenadas na superfície esférica da Terra. Com este propósito,
deve-se escolher uma figura geométrica regular, muito próxima da forma e dimensões
da Terra, a qual permite, mediante a um sistema coordenado, posicionar espacialmente

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as diferentes entidades topográficas. Esta figura recebe à denominação de elipsóide e as


coordenadas referidas a ele são denominadas de latitude e longitude geodésicas.
As definições de coordenadas geodésicas de um ponto qualquer P na superfície do
elipsóide são:
 Latitude Geodésica ou Geográfica (ϕ): ângulo entre a normal ao elipsóide de
referência no ponto considerado e sua projecção no plano equatorial. Ou seja, é
o arco de meridiano que vai do equador ao ponto considerado. A latitude é
positiva a Norte (0 a +90°), negativa a Sul (0 a – 90°)
 Longitude Geográfica ou Geodésica (λ): ângulo diedro entre os planos do
meridiano de Greenwich e do meridiano que passa pelo ponto considerado. Ou
seja, é o arco de paralelo que vai do meridiano de Greenwich até o ponto
considerado. Positiva a Este (0 a +180°), negativa a Oeste (0 a -180°)
 Altitude Elipsoidal (H): distância sobre a normal ao elipsóide que se estende da
superfície do elipsóide até o ponto considerado.

Os sistemas coordenados curvilíneos também podem ser representados no espaço 3-D


através do sistema cartesiano.
As superfícies mais utilizadas em geodésia como referência das altitudes são o geóide e
o elipsóide. Define-se por geóide a superfície equipotencial a qual se aproxima melhor
do nível médio dos mares, estendida aos continentes e por elipsóide a superfície
matemática (representada por uma elipse bi-axial de revolução – elipsóide), sobre a qual
estão referidos todos os cálculos geodésicos. Por questões de conveniência matemática e

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de facilidades de representação, utiliza-se em algumas situações, a esfera como uma


aproximação do elipsóide.
Recebem a denominação de altitudes elipsoidais aquelas altitudes referidas ao elipsóide.
Um exemplo na obtenção destas altitudes é através do GPS. As altitudes ortométricas
são obtidas por nivelamento geométrico e são referidas ao geóide. A separação entre as
duas superfícies é conhecida por ondulação geoidal as quais podem ser obtidas através
de mapas de ondulação geoidais (na forma analítica ou analógica).

1.4.3 Sistema de Coordenadas Planas

As coordenadas referidas a um determinado Sistema de Referência Geodésico, podem


ser representadas no plano através nas componentes Norte e Este e são o tipo de
coordenadas regularmente encontrado em mapas. Para representar as feições de uma
superfície curva em plana são necessárias formulações matemáticas chamadas de
Projecções. Diferentes projecções poderão ser utilizadas na confecção de mapas, em
Moçambique a projecção mais utilizada é a Universal Transversa de Mercator UTM.

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1.5 Materialização de um sistema de referência

Para a materialização de um sistema de referência são necessários vários ajustamentos


das redes geodésicas, relacionando os pontos físicos com um determinado referencial. O
resultado, estabelece um conjunto de coordenadas para as estações que constituem a
materialização do SGR (Sistema Geodésico de Referência).

Usualmente, é comum adoptar uma única denominação para definição e materialização


de um sistema (ex. WGS84).

1.5.1 DATUM

Datum é um ponto materializado no terreno para amarrar um Sistema Geodésico de


Referência. É também o ponto de origem da Rede Geodésica, que espalha outros
pontos sobre o território, chamados de MG = Marcos geodésicos.

A importância do datum prende-se com a necessidade de projectar um corpo curvo e a


três dimensões (a Terra), num plano a duas dimensões, mantendo no entanto os
cruzamentos em ângulo rectos dos meridianos e paralelos (o mapa). A primeira
abordagem de sucesso foi a famosa projecção de Mercator, em que a Terra é
transformada num cilindro que toca a superfície terrestre no equador (Latitude 0º 0' 0").

1.5.1.1 Datum Planimétrico (horizontal)

Desde os estudos gravitacionais de Sir Isaac Newton concluiu-se que o modelo


matemático mais adequado para a representação da Terra é o elipsoide de revolução.
Porém, vários países e continentes adoptaram elipsoides com parâmetros ligeiramente
diferentes, com objectivo de que eles se ajustassem localmente melhor às suas regiões
específicas e produzissem resultados locais mais precisos, visto que àquela época não
havia integração global.

Um Datum Horizontal (Figura abaixo) é definido como sendo um sistema de referência


padrão adoptado por um país ou por todo o planeta ao qual devem ser referenciadas as
posições geográficas planimétricas (latitude e longitude ou coordenadas cartesianas
derivadas da projecção cartográfica). É fundamental que os dados geográficos de um

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mesmo projecto de Geoprocessamento estejam referenciados a um único Datum


Horizontal para evitar incompatibilidades. Um datum horizontal local ou topocêntrico é
definido pela adopção de um Elipsoide de Referência que representará a figura
matemática da Terra, um Ponto Geodésico Origem e um Azimute inicial para fixar o
sistema de coordenadas na Terra e servir como marco geodésico inicial para propagar as
medições de latitudes e longitudes. O critério básico para escolha do Ponto Geodésico
Origem de um datum local é a ocorrência de máxima coincidência entre a superfície do
geóide e a superfície do elipsoide de referência adoptado, ou seja, o desvio da vertical e
ondulação geoidal devem ser nulas.

Escolhida a superfície de referência para as coordenadas geodésicas têm-se o que é


denominado “DATUM GEODÉSICO HORIZONTAL” (D.G.H.). Para que um sistema
geodésico fique caracterizado é necessário fixar e orientar o elipsoide no espaço. A
fixação foi realizada no passado mediante a escolha de um ponto origem e a atribuição,
de alguma forma, de coordenadas geodésicas, fG, lG ao mesmo, bem como, de um valor
para a altura geoidal N. A orientação era definida pelo azimute de uma direcção inicial.
Esta caracterização de um DGH conduzia ao conceito denominado sistema geodésico
definido. Os métodos geodésicos clássicos, triangulação e poligonação, ou as técnicas
modernas, uso de satélites artificiais, permitem que se obtenham coordenadas em tantos
pontos necessários, devidamente materializados no terreno, vinculadas ao ponto origem.

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O conjunto de marcos assim estabelecidos com as respectivas coordenadas leva ao


conceito de sistema geodésico materializado. O que se desejou sempre foi uma perfeita
coerência entre o sistema definido e o materializado; entretanto, os erros inerentes aos
processos de medição não permitem geralmente uma completa identificação entre os
mesmos.

1.5.1.2 Datum vertical

As altitudes são referidas ao nível médio das águas tranquilas dos mares, ou seja, à
superfície do geóide. Porém, tal como ocorre com o datum horizontal, cada país mede e
adota o seu próprio nível do mar. O nível do mar sofre influência de vários factores tais
como ventos, atracção do Sol e da Lua, densidade das massas continentais e dos fundos
do oceano, correntes marítimas, etc.

Assim, o Datum Vertical é um sistema padrão ao qual devem ser referenciadas as


altitudes de um país ou região. Na prática é dado pela média das observações de um
Marégrafo (Figura abaixo) que tem o registro das variações de marés por um longo
período (pelo menos 19 anos). É fundamental que os dados altimétricos de um mesmo
projecto estejam referenciados a um único datum Vertical para evitar
incompatibilidades. Cabe ressaltar que, salvo em uma aproximação grosseira, não tem
sentido falar em altitude sem especificar o datum vertical de referência.

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1.5.1.3 Exemplos de uso de “Datas” diferentes

Mapa Mapa
WGS-84 Camacupa
15SWC4430 15SWN4430

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1.6 Datum usado em Moçambique

1.6.1 Datum clássico

Os mapas mais antigos de Moçambique adoptavam 3 datum geodésicos clássicos


“Madsanzua”, “Tete” e “Observatório”. Mais recentemente, o datum planimétrico
“Tete” passou a ser utilizado como referência única.

Estes 3 datum-geodésicos clássicos de Moçambique, são todos referidos ao Elipsóide de


Clarke 1866 onde a = 6,378,206.4 metros e 1/f = 294.9786982. O Elipsóide de Clarke
era um dos mais favoritos dos Portugueses em África. Ele também foi utilizado em
Angola.

O Datum mais antigo é o Madzansua, datado de 1904, com a sua origem no ponto
MGM 2 (próximo da vila do Zumbo), com as seguintes coordenadas:

 Latitude = - 15° 35' 20.7" S

 Longitude = 30° 28' 09.3" E

 Ho = 1010.9 metros

Na literatura Ocidental o Datum de Moçambique classicamente mais referido é o


“Observatório”, datado de 1907, com a sua origem no ponto MGM 650 (próximo da
cidade de Maputo), com as seguintes coordenadas:

 Latitude = - 25° 58' 06.99" S

 Longitude = 32° 35' 37.75" E

 O Azimute de referência neste é desconhecido.

Este Datum que surpreendentemente não foi muito utilizado, pouco mais serviu do que
para a elaboração da cartografia sistemática 1: 50 000 antes de 1971 (Zona Sul do País
até Moebase). A sua particularidade é a de estar ligado ao Datum do Cabo (África do
Sul), através das estações de M'Ponduíne e Ypoy (MGM 675) e da Triangulação do
Transvaal. Estes dois antigos Datum foram estabelecidos pelo capitão Gago Coutinho
(mais tarde Almirante).

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O Datum geodésico horizontal mais clássico e mais importante é sem dúvida o Datum
“Tete”, datado de 1960, com a sua origem na estação NW da Base Tete (MGM 799),
com as seguintes coordenadas:

 Latitude = - 16° 09' 03.058" S

 Longitude = 33° 33' 51.300" E

 O Azimute de referência para a estação Caloeira (MGM 40), é: Azo = 355° 50'
21.07" contado a partir do Sul, e

 Ho = 132.63 metros

No Datum “Tete” as coordenadas astronómicas são iguais às coordenadas geodésicas (o


que significa que a normal gravimétrica e a normal local são coincidentes), mas de
acordo com cálculos efectuados em 1974 pelo Instituto de Investigação Cientifica e
Tropical, em Lisboa, suspeita-se que existem desvios da vertical neste ponto escolhido
para o Datum “Tete”. Com efeito, a Norte e a NW do Datum “Tete”, existem efeitos
anómalos de forças devidos à existência de densos depósitos de minério de ferro
enquanto que na zona Sul e SE a densidade é menor. Se esta hipótese for verdadeira,
então as coordenadas deste Datum necessitam de ser corrigidas.

1.6.2 Novo Datum Geodésico de Moçambique - MOZNET/ITRF94

Em 1995, foi efectuado pela Direcção Nacional de Geografia e Cadastro (DINAGECA)


e pela Norway Mapping um reajustamento de toda a rede geodésica de Moçambique.

Este trabalho ficou concluído em Janeiro de 1998 e o seu resultado foi um ajustamento
bi-dimensional de 759 pontos da triangulação geodésica fundamental, baseado em 32
pontos previamente seleccionados em todo o País, o que deu origem a um novo Datum
designado MOZNET/ITRF94, compatível com o Datum WGS84.

Para a sua utilidade prática, foram desenvolvidos modelos de transformação Bursa-Wolf


com 7 parâmetros, mas o modelo nacional ainda contém erros residuais que podem
atingir os 30 metros em certas zonas do País.

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Para minimizar este problema, foram desenvolvidos também 4 modelos regionais (D -


Zona Norte, C - Zona Centro, B - Zona Quase Sul, A - Zona Sul) com precisão que
varia entre 1 a 10 metros, dependendo da região.

Segundo o Professor Clifford J. Mugnier, da Louisiana State University, Moçambique


parece ser um país ideal para o desenvolvimento de um modelo de equações de
regressão múltipla para obtenção de um modelo único de deslocação do Datum
nacional. Para ele, provavelmente uma solução do tipo "NADCON" seria a melhor.

2. Teoria dos erros

2.1 Introdução

O acto de medir é, em essência, um acto de comparar, e essa comparação envolve erros


de diversas origens (dos instrumentos, do operador, do processo de medida etc.).

Quando se pretende medir o valor de uma grandeza, pode-se realizar apenas uma ou
várias medidas repetidas, dependendo das condições experimentais particulares ou ainda
da postura adoptada frente ao experimento. Em cada caso, deve-se extrair do processo
de medida um valor adoptado como melhor na representação da grandeza e ainda um
limite de erro dentro do qual deve estar compreendido o valor real.

2.2 Tipos e classificação dos erros de observação

Para representar a superfície da Terra são efectuadas medidas de grandezas como


direcções, distâncias e desníveis. Estas observações inevitavelmente estarão afectadas
por erros.

Os tipos (fontes) de erro poderão ser:


 Condições ambientais: causados pelas variações das condições ambientais,
como vento, temperatura, etc. Exemplo: variação do comprimento de uma trena
com a variação da temperatura.

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 Instrumentais: causados por problemas como a imperfeição na construção de


equipamento ou ajuste do mesmo. A maior parte dos erros instrumentais pode
ser reduzida adoptando técnicas de verificação/rectificação, calibração e
classificação, além de técnicas particulares de observação.
 Pessoais: causados por falhas humanas, como falta de atenção ao executar uma
medição, cansaço, etc.

Os erros, causados por estes três elementos apresentados anteriormente, poderão ser
classificados em:
 Erros grosseiros
 Erros sistemáticos
 Erros aleatórios

 Erros grosseiros
Causados por engano na medição, leitura errada nos instrumentos, identificação de alvo,
etc., normalmente relacionados com a desatenção do observador ou uma falha no
equipamento. Cabe ao observador cercar-se de cuidados para evitar a sua ocorrência ou
detectar a sua presença. A repetição de leituras é uma forma de evitar erros grosseiros.
Alguns exemplos de erros grosseiros:
 Anotar 196 ao invés de 169;
 Engano na contagem de lances durante a medição de uma distância com trena.

 Erros sistemáticos
São aqueles erros cuja magnitude e sinal algébrico podem ser determinados, seguindo
leis matemáticas ou físicas. Pelo fato de serem produzidos por causas conhecidas podem
ser evitados através de técnicas particulares de observação ou mesmo eliminados
mediante a aplicação de fórmulas específicas. São erros que se acumulam ao longo do
trabalho.
Exemplo de erros sistemáticos, que podem ser corrigidos através de fórmulas
específicas:
 Efeito da temperatura e pressão na medição de distâncias com medidor
electrónico de distância;
 Correcção do efeito de dilatação de uma trena em função da temperatura.
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Um exemplo clássico apresentado na literatura, referente a diferentes formas de eliminar


e ou minimizar erros sistemáticos é o posicionamento do nível a igual distância entre as
miras durante o nivelamento geométrico pelo método das visadas iguais, o que
proporciona a minimização do efeito da curvatura terrestre no nivelamento e falta de
paralelismo entre a linha de visada e eixo do nível tubular.

 Erros acidentais ou aleatórios


São aqueles que permanecem após os erros anteriores terem sido eliminados. São erros
que não seguem nenhum tipo de lei e ora ocorrem num sentido ora noutro, tendendo a
se neutralizar quando o número de observações é grande.
De acordo com GEMAEL (1991), quando o tamanho de uma amostra é elevado, os
erros acidentais apresentam uma distribuição de frequência que muito se aproxima da
distribuição normal.

2.3 Peculiaridade dos erros acidentais

 Erros pequenos ocorrem mais frequentemente do que os grandes, sendo mais


prováveis;
 Erros positivos e negativos do mesmo tamanho acontecem com igual frequência,
ou são igualmente prováveis;
 A média dos resíduos é aproximadamente nula;
 Aumentando o número de observações, aumenta a probabilidade de se chegar
próximo ao valor real.

Exemplo de erros acidentais:


 Inclinação da baliza na hora de realizar a medida;
 Erro de pontaria na leitura de direcções horizontais.

2.4 Precisão e tolerância: conceitos

Precisão é o grau de variação de resultados de uma medição. Não é o mesmo que


exactidão que se refere à conformidade com o valor real. A precisão está ligada a
repetibilidade de medidas sucessivas feitas em condições semelhantes, estando
vinculada somente a efeitos aleatórios e tem como base o desvio-padrão.

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A acurácia expressa o grau de aderência das observações em relação ao seu valor


verdadeiro, estando vinculada a efeitos aleatórios e sistemáticos.

Fonte: Cabral et al (s/d)


Em (a), temos muito boa aderência nas medições, erros acidentais muito pequenos, os
pontos medidos encontram-se bem agrupados o que indica boa precisão. Porém,
observa-se que apesar de apresentar boa precisão, o agrupamento está deslocado do
valor verdadeiro, o que indica a presença de um erro sistemático. Portanto a medição
tem precisão, mas não tem exactidão (acurácia).
Em (b) o resultado da medição é exacto, pois a distribuição é uniforme em torno do
valor verdadeiro. Nota-se que o resultado é pouco preciso por haver grande dispersão
das medições entre si (fraco agrupamento). Uma possível causa é o uso de instrumento
com precisão baixa.
Neste caso é sempre recomendável a verificação da dispersão com relação à tolerância.
Em (c), temos fraca precisão, pois os resultados não estão bem agrupados e nota-se que
há a existência de erro sistemático. O resultado neste caso não é exacto pelo facto de
que as medidas não encontram-se distribuídas uniformemente em torno do valor
verdadeiro. Esta medição não deve ser considerada, Deve-se retornar a campo e fazer
uma análise dos instrumentos e dos procedimentos utilizados.
Em (d) a precisão é boa, boa aderência nas medições e o resultado é exacto. Os valores
estão bem distribuídos com relação ao valor verdadeiro. Erros acidentais pequenos e
isentos de erros sistemáticos. É a melhor das medições.

18 Euclides Matule
Sistemas Geodésicos de Referência e Teoria de erros de medição 2019

Quando isentos de erros sistemáticos, os valores medidos estão distribuídos


aleatoriamente em torno do valor verdadeiro, isto é, todos os valores medidos se
repartem ao redor, pouco mais ou menos do valor verdadeiro, tem exactamente os
mesmos à esquerda e à direita. Eles sempre estão mais densos nas proximidades do
valor verdadeiro e mais dispersos na medida em que se afastam deste.
Como a distribuição é aleatória, isto caracteriza um erro acidental (pequenos erros
inevitáveis na medição). Estes são erros acidentais, não havendo portanto erro
sistemático.
Observa-se que a precisão está associada ao agrupamento dos valores em relação ao
valor médio. Percebe-se que em (d) os valores estão praticamente tão agrupados quanto
em (a) e isto quer dizer que em (d) tem-se a mesma precisão que em (a), assim como (c)
é mais preciso que (b). Como a exatidão é o agrupamento dos valores medidos em
relação ao valor mais provável, as medidas de (b) e (d) estão mais próximas do exacto
se comparadas com (a) e (c), pois estão mais agrupadas em relação ao valor verdadeiro.
Observa-se também que em (b), mesmo existindo uma grande variação das medidas,
elas se encontram em torno do valor verdadeiro. A média das medidas em (b) estará
próxima do valor verdadeiro.

2.5 Noções de medição com precisão igual e medição com precisão diferente

2.5.1 Medição com precisão igual

Considere-se uma grandeza que foi medida um certo número de vezes (n) com o mesmo
instrumento e nas mesmas condições, e sejam L1, L2, …, Ln, os valores encontrados
nessas medidas. Pretende-se o valor compensado da grandeza medida.
Assim, para compensar medidas de igual precisão calcula-se a média dos valores
medidos – valor mais provável.
∑L
A =
n

Se Am for o valor compensado, as medidas terão resíduos (ou correcções) tais que:
r =L −A

r =L −A

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….

r =L −A

Condição de mínimos quadrados:


L −A + L −A + ⋯+ L − A = minimo

2.5.2 Medição com precisão diferente

Considere-se uma grandeza que foi medida um certo número de vezes tendo-se L1, L2,
…, Ln, e que pelas condições em que foram efectuadas, paralelamente, suponhamos que
cada medição L1, L2, …, Ln, consistem numa cadeia de medições com precisão igual e
os pesos de cada uma são p1, p2, …, pn; Pretende-se o valor compensado da grandeza
medida.
Assim, os valores compensados das medidas de precisão diferente obtêm-se pela média
ponderada das medidas.
∑A
A =
n

n – numero de observações médias isoladas.

Se A0 for o valor compensado, as medidas terão resíduos (ou correcções) tais que:
r =L − A

r =L −A

….

r =L −A

Condição de mínimos quadrados:


p L −A +p L −A + ⋯+ p L − A = minimo

Assim o valor provável será:

∑ pr
V = A +
∑p
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Referências bibliográficas

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 CAMIL, Gemael. (1987). Introdução à Geodésia Geométrica 1ª e 2ª parte.
Curitiba: Curso de Pós-Graduação em Ciências Geodésicas/UFP.

 DAVIS, R. E. et all. (1981). Surveying Theory and Practice. McGraw Hill.

 DOMENECH, Francisco Valdés. (1981). Practicas de Topografia,


Cartografia e Fotogrametria. Barcelona, CEAC.

 ERWIN Raisz. (1969). Cartografia Geral. Rio de Janeiro. Científica.

 PEÑA, Jacinto Santamaría & MENDEZ, Teófilo Sanz. (2005). Manual de


Prácticas de Topografía y Cartografía. Universidad de La Rioja. Servicio de
Publicaciones. Espanha.
 MORALES, Ruiz. Manual de Geodesia y Topografía. Instituto Geográfico
Nacional. Segunda Edición. Madrid España.
 SÁ, Nelsi Côgo de. (1994). Elementos de geodesia. IAG – USP. Brasil.

 SOUSA CRUZ, J.J. & REDWEIK, P. M. (2003). Manual do Engenheiro


Topógrafo. Vol. I. Editor Pedro Ferreira, Rio de Mouro.
 VANICEK, P. & KRAKIWSKY, E. (1986). Geodesy: The concepts. Elsevier. N
York.

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