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Atelier de Artes Visuais: Desenho

Aula 1

Prof. Jack de Castro Holmer

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Conversa Inicial
Para iniciarmos nossos estudos, primeiro pensaremos no ato de
desenhar, sua gestualidade e expressividade, os métodos de sua execução e
seus elementos básicos e, por fim, refletiremos sobre sua funcionalidade e
finalidade.
Do ato de desenhar se originam os primeiros registros da cultura humana.
Antes da formação do alfabeto (que tem sua origem em desenhos sintéticos), os
humanos registravam seu cotidiano por meio dessas representações gráficas,
que serviam também para transmitir os conhecimentos acumulados pela cultura
humana, aquela que circulava o grupo por meio da fala. Para o registro dessa
fala e dos gestos utilizados para a comunicação, o desenho foi e é utilizado como
método expressivo.
Além de ser um ato de registro, o desenho representa um modo de ver o
mundo, de observar atentamente fenômenos captados pela visão e pelos outros
sentidos humanos. Esse modo minucioso de perceber o mundo fenomenológico
reverbera até hoje nas tecnologias de registro de imagem, como a fotografia e o
cinema, e nas artes visuais.

Contextualizando
Podemos pensar que cada cultura, cada grupo humano que foi se
organizando no início de nossa história, representava o mundo de uma forma
particular, por meio de desenhos e representações gráficas específicas, com
significado e formas diferentes. Entretanto, podemos achar formas comuns a
todas as culturas, como o ponto, o círculo, a cruz, entre outros que aparecem
em povos localizados em diferentes partes do mundo e que nunca tiveram
contato em virtude da distância em que se encontravam. Agora vamos pensar
como nossa cultura utiliza os desenhos para organizar nosso cotidiano: temos
os sinais de trânsito com desenhos que são sínteses das formas de objetos do
nosso cotidiano; utilizamos os emoticons em nossas conversas digitais, e cada
um representa algo devido a sua forma; manipulamos símbolos para produzir

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logos de marcas; normatizamos os desenhos de representação de um mapa ou,
ainda, nossas roupas representam nossa cultura pelos desenhos das estampas.
Mesmo com a globalização, cada cultura tem um modo de utilizar o desenho
para representar seu cotidiano, seus costumes e suas crenças.
Agora vamos pensar: como seu grupo de amigos, sua cidade, nosso país
ou a cultura ocidental utiliza desenhos para representar a cultura do próprio
cotidiano? Quais são os desenhos usados para representar essa cultura?
No link a seguir, você pode ler um estudo sobre a representação da casa
no desenho infantil e a mudança do modo de construir o desenho conforme a
cultura que o desenha.
A casa: cultura e sociedade na expressão do desenho infantil – Sonia
Grubits. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v8nspe/v8nesa12.pdf>.

Pesquise

Tema 1: O Desenho Como Registro do Cotidiano


Podemos pensar o desenho, em um primeiro momento, como o registro
não verbal, ou seja, sem ser pela fala, de objetos e ações que interagem com o
homem no mundo. Como falamos no início da aula, podemos ver na arte rupestre
exemplos de retratos do modo de vida de certos grupos humanos, representadas
pelo desenho de figuras e objetos desse tempo em particular e as ações
exercidas sobre eles. Se consultarmos as imagens da caverna de Lascaux, na
França, veremos como os homens se relacionavam entre si e com a natureza há
aproximadamente 17 mil anos.
Ao longo da história, temos registros desses “modos de vida” por meio de
inúmeros exemplares da arte, como pinturas em cavernas, placas de argila,
telas, murais e todos os suportes que podem receber uma marcação
bidimensional.
Faça uma visita virtual a caverna de Lascaux.
http://www.lascaux.culture.fr/?lng=en#/fr/00.xml

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Figura 1 – Os Pastores – Representação do cotidiano egípcio em desenho mural

Formalmente, é assim que pensamos o desenho: registro de objetos,


ações, gestos ou expressões em uma superfície bidimensional. Isso não significa
que o que é representado seja bidimensional, afinal, para representar a
tridimensionalidade espacial sobre uma superfície, as técnicas de desenho
foram sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas em vários momentos da história
humana. Dependendo da cultura, os métodos de representação variam, pois
junto com ela vem a carga do modo de ver o mundo, e assim se apresentam
formalmente diferentes. Aqui podemos incluir um ponto importante no ato de
desenhar: a representação desses cotidianos não mostra somente as interações
do homem com o mundo sensitivo, o mundo visível e palpável, mas também
inclui também a imaginação, que pode ser entendida aqui como representações
de desejos, vontades e planejamentos que não necessariamente são possíveis
de acontecer no mundo físico. Por isso que, quando falamos em arte, temos de
refletir sobre sua poética, sendo essa uma sobreposição imaginária de
conhecimento sensível.

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Saiba mais: Se você ficou curioso pelos modos que o homem registrou
seu imaginário e sua história no início da cultura humana, leia o artigo sugerido
para se aprofundar no assunto:
Pinturas rupestres: a representação da imaginação do homem primitivo –
de Caline Galvão Gondim.
http://www.insite.pro.br/2012/Abril/pinturas_rupestres_homem.pdf

Dentro desse conjunto da imaginação, podemos ter todas as


representações gráficas de planejamento futuro. Plantas de arquitetura, projetos
de equipamentos, placas de trânsito são alguns dos exemplos de como
comunicamos, por meio de imagens, ações e coisas que vão ocorrer/existir no
futuro. O desenho tem um papel fundamental nesse processo de criação, sendo
muito utilizado para projetar, como um croqui, como rascunho, como uma
representação rápida e sintética.
Essa agilidade para representar alguma coisa é resultado da simplicidade
do meio do desenho, sendo o material necessário para sua execução somente
uma superfície que possa receber uma inserção gráfica de origem pontual, seja
por meio da pressão ou do rastro de alguma tinta ou material marcador.

Tema 2: O Desenho na Prática


O desenho tem uma grande flexibilidade quando pensamos em materiais
possíveis para executá-lo. Podemos desenhar com o dedo na areia da praia,
riscar o papel branco com um pedação de carvão, ou qualquer outro método que
deixe registrada a passagem do instrumento por uma superfície. Alguns
materiais têm fixação melhor, ou seja, duram mais tempo sobre a superfície na
qual o desenho está sendo feito. Aquele desenho com o dedo sobre a areia da
praia não durará muito, pois não é fixo, então se desmanchará em pouco tempo
por causa da força da água ou do vento sobre a areia. Já uma caneta
esferográfica sobre sulfite branco terá longo período de vida, pois a tinta utilizada
nessas canetas tem longo tempo de fixação sobre o papel. Assim, cada material
escolhido para desenhar pode apresentar características diferentes de fixação

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sobre uma superfície específica. Já na arte contemporânea são utilizados
materiais que se deterioram mais facilmente, focando na efemeridade dos
processos artísticos. Essa escolha vai depender dos objetivos do desenho; se é
um documento prático, como uma planta de uma casa, precisa ser uma tinta com
boa fixação e ter uma superfície que a conserve por um bom tempo. Se for um
rascunho rápido, momentâneo, pode ter uma superfície qualquer (como a areia
da praia) e qualquer coisa que produza um rastro visível (o dedo, no caso).
Saiba mais: Caso você tenha interesse nos diversos procedimentos
dentro do desenho, leia o artigo a seguir sobre como se constitui o desenho, em
criação e material, em diferentes movimentos e momentos da arte.
Procedimentos Visuais: Alguns problemas do desenho contemporâneo –
Francisco Antônio Zorzo.
http://www.exatas.ufpr.br/portal/docs_degraf/artigos_graphica/Procedime
ntos.pdf

O desenho pode ser de diversos materiais e suportes, dependendo dos


objetivos de sua criação ou de sua poética. No seu livro de desenho, você
encontrará exemplos da utilização de diversos materiais e suportes no desenho
contemporâneo.
Com todas essas possibilidades de expressão, existem as mais comuns e
práticas, aquelas muito utilizadas por suas propriedades flexivas e de fácil
utilização. Entre os materiais mais tradicionais do desenho estão o grafite e o
papel branco. Por tudo que já conversamos, o grafite apresenta características
como a de contraste de seu rastro e a maciez com que o deixa, assim como a
praticidade de seu transporte e utilização, geralmente em forma de lápis de
madeira. Já o papel branco, como o papel sulfite tradicional, é uma ótima
superfície de contraste para a cor do grafite, além de ser leve e de fácil
transporte. Essas são algumas das razões para utilizarmos o grafite e o papel
branco no cotidiano.

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Figura 2 – Obras de Açúcar – Vik Muniz

Experimente: Tente utilizar diversos materiais em suportes diferentes, em


um desenho com a mesma forma. Assim você pode observar empiricamente a
diferença de fixação e manuseio dos materiais e diferenciar a utilização deles em
projetos futuros.

Trocando Ideias
Vamos pensar em uma lista de obras de arte que apresentam materiais
inusitados em sua constituição, assim como suportes diferentes do que o
tradicional lápis e papel. Para incluir sua contribuição, escreva o nome do artista,
da obra e os materiais que a constituem. Não se esqueça de postar também a
fonte de sua pesquisa, assim como uma imagem da obra citada.

Na Prática
Vamos praticar! Produza um desenho que represente seu cotidiano
particular, pensando em materiais específicos, que também representem seu
cotidiano. Para ajudar, indico o artigo a seguir sobre esses registros do cotidiano
por meio do desenho:

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Diários gráficos: mediação do desenho nas percepções do cotidiano.
http://www.iau.usp.br/pesquisa/grupos/nelac/wp-
content/uploads/2015/01/REPRESENTAR2013_ribeiro_castral.pdf

Síntese
Neste primeiro momento do nosso curso, procuramos entender qual a
natureza do conteúdo do desenho e quais os materiais possíveis para sua
realização. Vimos também que o desenho é a técnica básica para o
desenvolvimento de outras técnicas artísticas como a pintura, escultura e
gravura, sendo assim muito potente para planejamento ou rascunho de uma obra
ou representação.

Referências
ANDRADE, M. de. Do desenho. In: Aspectos das artes plásticas no Brasil. 2
ed. São Paulo: Martins Fontes, 1975.

DONDIS, D. A. A sintaxe da linguagem visual. 2 ed. São Paulo: Martins


Fontes, 1997.

GREIC, P. A criança e seu desenho: O nascimento da arte e da escrita. Porto


Alegre: Artmed, 2004.

PILLAR, A. D. Desenho & escrita como sistemas de representação. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1996.

VALERY, P. Degas Dança Desenho. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2003.

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