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Atelier de Artes Visuais: Desenho

Aula 6

Prof. Jack de Castro Holmer

CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico


Conversa Inicial
Nesta aula, que finaliza nosso curso, iremos relacionar os valores
expressivos/cognitivos/motores do desenho com o desenvolvimento
educacional da criança na escola.
Como apontamos anteriormente, o desenho comunica, cria referências
visuais dos processos de comunicação e socialização, retrata o ambiente de
seu criador de modo interativo, pois ao produzir signos no ambiente, ele se
modifica, sendo elo entre o desenhista e todas as pessoas que visualizarem o
desenho. Esta transmissão cultural por meio do tempo está na base do
desenvolvimento da sociedade humana. Mas e o desenvolvimento do humano
como indivíduo? Como o desenho altera a cultura e o aprendizado individual?
A criança percorre o mesmo caminho das primeiras sociedades
humanas, utilizando o ato de desenhar para registrar marcas, representar seu
dia a dia e demonstrar seus pensamentos. Com a utilização pedagógica do
desenho, a escola tem um papel de auxiliar este processo de conhecer
materiais, explorar suas possibilidades expressivas e demonstrar que as artes
se utilizam de diversas formas de comunicação para ampliar o alcance do
conteúdo, não restringindo a gama de meios utilizados nos processos de
interação.

Contextualizando
Na formação cognitiva infantil, o desenho desempenha um papel
fundamental quando possibilita a execução de marcas próprias da criança em
seu ambiente. Nas primeiras interações com o lápis e o papel, o infante
percebe a possibilidade de registro do movimento de seu corpo sobre
superfícies, o que desperta o interesse natural por, em um primeiro momento,
rabiscar, e, conforme seu desenvolvimento motor e intelectual, representar
contextos que o cercam. A escola tem função de guiar o educando neste
aprimoramento de expressão, não o prendendo em representações
estereotipadas ou em desenhos livres sem propósitos claros. O professor pode

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explorar as propriedades dos materiais que a criança utiliza o espaço de
trabalho, juntando com exercícios de aprimoramento motor e observação do
mundo.
A linguagem gráfica irá ajudar mais tarde no aprendizado da linguagem
escrita; sendo esta um dos caminhos naturais do desenvolvimento linguístico
humano. Quando a criança atingir os sete anos, poderá utilizar ambas das
linguagens, de modo verbal e não verbal, para melhorar sua forma de interação
com o mundo, seja socialmente ou com o ambiente. Uma educação de baixa
qualidade, nestas fases, refletirá em uma limitação na manipulação de signos
do cotidiano, dificuldade de interpretação de comunicações poéticas/artísticas e
textuais, assim como na comunicação de ideias e vontades próprias.
Então, como podemos trabalhar o desenho na escola para maximizar o
aprendizado do aluno? Alguns pedagogos e filósofos refletiram sobre o tema e
nós iremos investigar estas possibilidades e conclusões.
Saiba mais lendo o artigo ‘O desenho infantil e a construção da
significação: um estudo de caso’, de Laís de Toledo Krücken Pereira,
disponível em: http://portal.unesco.org/culture/en/files/29712/11376608891lais-
krucken-pereira.pdf/lais-krucken-pereira.pdf

Tema 1: Desenho Infantil


No inicio de seu processo de “apreender”, o mundo a criança, em sua
fase sensório-motora (PIAGET, 1973), age sobre os objetos em seu entorno
pela ação, isto é, se movimentando e movendo objetos, testando o equilíbrio do
físico e o modo que as coisas interagem com ela. Depois dos 18 meses, a fase
de representação destes objetos começa e, assim, a criança acha sua
expressão nas primeiras garatujas e rabiscos. Nas fases seguintes do
aprendizado, é fundamental a manipulação de representações mentais dos
objetos e do mundo, o resultado imaginado pode encontrar materialidade por
meio do desenho.

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A garatuja é o estágio precedente ao desenho propriamente dito. Ela é
livre em ação e movimento, tem uma forte ligação com expressões motoras e
pouca verossimilhança com a realidade concreta. Esta ligação imaterial entre a
ação do corpo e as imagens produzidas, vai contribuir para a formação de
signos imateriais, ligando causa a efeitos, marcas a marcadores, pegadas a
passos, rastros a objetos, materialidades a ideias. As garatujas podem ser
divididas em Ordenadas e Desordenadas, sendo a primeira possuidora de
algum ritmo declarado e a outra pura ação motora.
Para se inteirar com a garatuja leia a matéria ‘A importância da garatuja’,
disponível em:
http://acervo.novaescola.org.br/formacao/importancia-garatuja-
educacao-infantil-crianca-520247.shtml.
Não deixe de procurar outras fontes de conhecimento, também!

É interessante notar que estes “rabiscos” tem o mesmo fundamento


gráfico das linguagens visuais: se utilizam de elementos básicos como o ponto,
sendo deslocado para a criação de retas e acumulado na construção de
massas conjuntas de linhas e curvas.
Há, também, uma inclinação para a mimese (imitação) das práticas dos
adultos: a imitação gráfica da escrita pode ser notada na criação de gráficos
similares a forma de palavras e “texto corrido” nos desenhos infantis, sendo
evidência da contribuição das técnicas de desenho e observação visual para a
posterior alfabetização da criança.
Consulte, também, o Livro da disciplina no capítulo 6.1.1 O
desenvolvimento do desenho na criança.

Tema 2: A Prática do Desenho na Escola


O desenho, como prática escolar, desempenha funções que estarão na
base de processos de aprendizagem, o qual o educando fará em sua

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vida escolar: ele é utilizado para aprimorar, calibrar e precisar movimentos do
corpo, sendo treino motor para descobrir gestos e suas marcas, controle de
força aplicada e alcance interativo; também é um exercício de observar o
mundo, a forma das coisas, não de um modo genérico, mas com riqueza de
detalhes, tons, comportamentos, criando associações e relações imateriais
entre as entidades fenomenológicas e suas experiências; como ferramenta de
representação, o ensino do desenho ajuda a construção de signos próprios e a
utilização de modo particular dos signos presentes no mundo.
Por meio do ensino da Arte, o aluno será apresentado a ferramentas que
tem tendências expressivas específicas e diferenciadas. Cabe assim, ao
professor conduzir a busca pelo melhor meio de expressão para a
comunicação particular do aluno. O desenho é o primeiro passo para este
caminho de técnicas e modos de criação. Dominando e entendendo os
elementos básicos da linguagem visual, a criança estará mais bem preparada
para a representação física ou imagética, de conceitos e objetos do mundo, o
que é a base para qualquer ciência ou disciplina escolar.

Para saber mais, leia o artigo ‘O Desenho na Escola’, de Angélica


Sacconi Leme, disponível em: http://bibliotecadigital.puc-
campinas.edu.br/services/monografias/Ang%E9lica%20Sacconi%20Leme.pdf

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Tema 3: Propostas de Exercícios e Avaliação na Disciplina de
Artes
Agora que investigamos a importância do desenho no aprendizado
escolar, podemos pensar em formas criativas de trabalhar com os nossos
alunos, para despertar caminhos possíveis de aprendizado.
É importante que os exercícios tenham objetivos claros, assim como a
ciência da dificuldade de execução por parte do aluno em cada idade
específica. Exercícios motores tem que ser pensados para aprimorar gestos e
construção de marcas; exercícios de desenho de observação tem que “revelar”
detalhes que as crianças podem não perceber no objeto, como diferentes cores
e tons, ou formas mais delicadas.
Atividades de desenhos temáticos, propostas pelo professor, devem
focar a representação do mundo do aluno e refletir sobre as associações
apresentadas. Lembre que os desenhos são comunicações simbólicas e que
trazem em sua construção e representação informações comportamentais e
conceituais. A proposta e a avaliação devem estar em sintonia e serem claras
para o aluno. Desenho livre não pode ser desenhar de qualquer modo, assim
como os limites do desenhar devem existir para direcionar o trabalho do aluno
e não interromper seu processo de expressão.
Para avaliar o desempenho e as dificuldades dos alunos, o professor
deve ter um objetivo claro na prática e considerar variações de ritmos de
aprendizagem. Porém devem, também, estarem claros para o coletivo, os itens
avaliados: se os gestos estão sendo melhorados em suas ações e se elas são
executadas com atenção; se o aluno consegue ver as nuances dos mundos
visuais; se ele consegue transmitir uma comunicação por meio do desenho
representativo do objeto ou da situação; e se consegue interagir com a técnica
e com os materiais de modo proveitoso.

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Na Prática
Tendo em mente as observações sobre as propostas práticas do
desenho no ensino escolar, proponho que você crie um exercício de Desenho
para uma turma de ensino fundamental, levando em consideração os pontos
abaixo:
 Qual é a fase de aprendizado que a criança está? (motora,
representativa, simbólica).
 Qual habilidade você pretende trabalhar? (observação, motora, de
representação).
 Quais os materiais que o aluno poderá usar? (tipo de papel, tamanho
de papel, marcador, tempo de execução).
 Como posso tornar este exercício mais lúdico? (tema proposto,
inspiração em um artista famoso, mimese da natureza).

Depois que responder as perguntas, monte uma proposta de exercício e


relacione os critérios de avaliação dele.

Síntese
O Desenho na escola é o início de um caminho para a escrita e para
muitas interações que o aluno irá ter com o mundo visual e simbólico.

Referências
DERDYK, E. Formas de pensar o desenho. São Paulo: Scipione, 1989.

FERREIRA, S. Imaginação e linguagem no desenho da criança. Campinas:


Papirus, 2001.

IAVELBERG, Rosa. Arte na sala de aula: O desenho cultivado da criança.

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Porto Alegre: Zouk, 1995.

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.

PORCHER, Louis (org). O desenho. In: Educação Artística: Luxo ou


necessidade? São Paulo: Summu. 1982.

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