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Marina Gusmao de Mendonca Marcos Cordeiro Pires (Organizadores) Formagao Econémica da América Latina Os Movimentos de Independéncia na América Latina 97 . Capitulo 6 Os movimentos de independéncia na América Latina Marina Gusmao de Mendonga Uma vez analisadas a colonizagao da América do Norte e as condigdes em que se deu a independéncia dos Estados Unidos (EUA), bem como seus reflexos na Europa, ¢ necessario passar a abordagem desse processo na América Latina, inclusive no Brasil. Para tanto, é preciso atentar para a conjuntura econdmica do século XVIII, ou seja, o periodo que corresponde ao desenvo) mo ind lonial ema Conforme foi visto anteriormente, até o final do século XVII, predominava na Europa o capital comercial, ¢ a acumulagao ocorria primor- dialmente na esfera da circulagao de mercadorias. Para tanto, o sistema colonial e 0 trafico negreiro exerciam papel fundamental, uma vez que garantiam as burguesias metropolitanas o fornecimento de produtos que-- alcangavam elevados pregos no comérci internacional. Contudo, ao longo dos séculos XVII e XVIII, ¢ culminando um longo proceso de acumulagio, yerificou-se o surgimento de um capital industrial independente do capital comercial, movimento que foi acompanhado pelo desaparecimento dos artesiios € por sua substituigdo pelo trabalho assalariado. E, também como ja foi assinalado, 0 desenvolvimento industrial era incompativel com a existéncia de monopélios, uma vez que a industria requeria a conquista de mercados cada vez mais amplos, n&io apenas consumidores, mas também fornecedores de matérias-primas. Dessa forma, ag_—processo de desenvolvimento _ industrial corresponderia 0 inicio do questionamento de todos 0s monopdlios, entre os juais se incluia, evidentement icto_colonial, sobre o qu: forai Construidos os impérios ibéricos. Alias, as investidas contra 0 pacto colonial 98 — Formagao Econdmica da América Latina nas por voOzes ligadas aos interesses da indict, ola como no Brasil houve manifest, ta se vé do comentario de Emilia Vio nao seriam conduzidas ape! ‘ briténica, e tanto na América espam de oposigiio a sua vigéncia. E 0 que eS “Dyrante-e-periada-colonial, OS MONOPOHOS foram aly de mumerosas criticas, havendo wia tensdo permanente craps produtores @ distribuidores. Aatindac o-séeul XV, regime de monopélios deteriordyasse LAPTRMERTE: (..) ¢) chriqueineno 0 Eo coloniais, principalmente depois da descoberta do ouro, aumentandd'a, exigéncias de troca e, por outro lado, a ampliagao do mercado europeu, fazendo crescer a demanda por produtos coloniais, tornaram (..) cada vez mais odiosos os monopolios (..), criando na colénia um ambiente hostil 4 metrépole (...)’'. pera A crise do sistema colonial espanhol cies ttt da Diante desse quadro, ¢ para compreender a crise do sistema colonial espanhol, é preciso levar em conta, primeiramente, a propria estrutura da sociedade nas colénias americanas que, nas areas continentais, guardava maior complexidade em relagio as zonas de agricultura tropical. Com efeito, naquelas regides, ao longo do processo de colonizagao, desenvolvera-se uma organizagao mais diversificada, em que podiam ser identificadas no minimo quatro camadas. Evidentemente, no topo da piramide social encontravam-se os espanhdis, cujo_poder derjvava do controle exercido sobre o aparelho de Fro. Abuixo deste, exavam os grils, descendents, We espa. "Pests Anes, que detinham a maior parte dos meios de producio principalmente terras_e minas), ou que, nas areas urbanas, compunham @ —Punguesig. erent. Hav ins Serato eever compos na sua maforia, de mestigos, © que se dedicavam ao artesanato ou ram assalariados urbanos. Por fim, encontravam-se os descendentes dos indigen®s que constituiam a imensa massa de trabalhadores: nas regices em predominavam as grandes propriedades agrarias, dedicavam-se a agricultu. tanto de subsisténcia como de exportagao; jas zonas mineiras que, no sé!” COSTA, Emilia Viotti da. Introdugdo ao estudo da emaneipagaio politica In: MOTA, Cat: ae ong. Brasil em perspectiva, S80 Paulo: Difusdio Europeia do Livro, 197! PP tae con camscet ‘Os Movimemtos de Independéncia na América Latina 99 XVIII, encontravam-se em franca decadéncia (com excegio da extragho de prata no México), formavam uma camada marginal, vivendo miseravelmente. Dadas as caracteristicas da sociedade, © proceso de independéncia, como se veri adiante, seria conduzido senhores de terras € pel: ia, Para compreender o movimento de emancipacao dessas Has. / [poses atena para a crise do sistema colonial espanhol. Desde a derrgta da Inveneivel Armada’, no final do século.XVI, ¢ com a na ineira, a partir de meados da século XVII, a Fe rericor comme Ga nee Setincis, co se, teto cm Yermnn icos como do ponto de vista militar, ndo significava mais nem a sombra daquilo que antes fora 0 bupério onde-o sol_nunca se pie. No entanto, o arrocho sobre as colénias, imposto pelo pacto colonial, e as normas rigidas da administrag4o continuavam, criando insatisfacdes ¢ conflitos muito acentuados. De fato, conforme assinalaram Roland Mousnier, Emest Labrousse ¢ Mare : —_o_ Bouloiscau, “governadares, auditores e corregedores so nomeados pelo rei de Espanha ou, -na_impossibili. ste, pelo vice-rei. (..) © poder absoluto do soberano exerce-se até nas municipalidades. A_exploragdo do Impgrio ¢ monopélio da merxipole. O Império no. deve-prodicir nou gue ja Jr Espana. (..) Sé a Espanha compra 3\ eros cs aes ortho sé ela vende os objetos de | consumo. Na impossibilidade de poder reabagtecé-la, gla — propria, e absorver a sua produgdo, é a intermedidria obrigatéria entre o Império e os seus fornecedores ou clientes, (...) Frotas mercantes (...) seguem de Cadiz, unico porto que tem o direito de comerciar com o Império, adoro a ea Vera Cne (..). O tinico trafico Bee Tobie onic 0 tupw dt erie ta escravos, monopilio~inglés (asiento) desde 1713. (..) O Estado espanhol procura manter, nos seus stiditos da = América, certo mimero de ideias tradicionais. (..) Os colégios e as escolas primarias dirigidos por religiosos sdo numerosos, Mas os livros sdo raros ¢ caros, Sé_gxistem Siaetaene neice 00D. (:qoverno fecalion 4 onganizads Il, em 1588, com 0 objetive de combater a ee re tation an benthn Go Convio, cle —_— tae con camscet ,gmica da América Latina 100 Formagao Econ’ ar no Império os livros considerag, ras de tendéncias racionalisiar” pela Inguisicdo (..) 6 Ps s numa situagdo de pap MAGGO de titel impressao, s6 deixa entr indcuos, proscreve a 0! mecanicistas. E auxiliado americanos_encontram-se, pois, a8 Destarte, 0 rexcontentamento & grande No inicio do século XVI, entretanto, apés a Gyerra de Suce Espanl 1701/1714)", 0 trono da Espanha foi entregue a representantes q,~ feria Borbonide ongem(irancess, Desa forma,)0D23 P™SSOL a Orbita de be, disputava com a Inglaterra a hegemonig influéncia da Franga que, como se sa disso, a Inglaterra logrou uma enorme vantagem no continente europeu. Apesar comercial, porquanto obteve, pelo Tratas echt (1713), a concessio dg fe ter acesso direto ao porto de Buenos Aires, 0 que Ree penosiAlites, siento e do permiso’, além d permitiu a formagao de uma enorme rede de contrabando. O apogeu da dinastia Bourbon na Espanha ocorreu entre 1757 ¢ 1788, sob o reinado de Carlos III, que procurou implantar uma politica com vistas a recuperar a econémia espanhola e retomar 0 antigo poderio do pais Assim, 0 monarca governou sob as regras daquilo que se convencionou chamar de “despotismo esclanecido”, ou seja, impés o absolutismo e tomou medida: econémicas voltadas para os interesses da burguesia metropolitana, com ; abjetivo de favorecer o desenvolvimento do capitalismo na Espanha Dessa forma, restringiu o poder da Tereja Catdica® © da nobreza como um Pe, modificou as normas do pacto colonial, John Lynch assim resumiu o sentido dessas reformas: * MOUSNIER, Roland, ors land, LABROUSSE, Emest, BOULOISEAU, Mare, 1957, op. cit. PP: A Guerra de Sucessio E a Carlos II, monarea Ca a disputa pelo trono daquele pais depois 4 Luisa D’Orléans, da familia real fener ee oa deixar herderos com a Raina Mari tn . Depois da guerra, assumiu o . ; poder Felipe V. "= vender manufaturas diretamente as colé lonias. al A Igreja Catélics a, por intermédio d, espanhola, tendo conseguido cea de Jesus, tinha grande poder na Amit? Os Movimentos de Independéncia na América Latina 101 ao Se ce na segunda metade do século XVII houve a oe Gen tell econdmica, na quala indiistria eo ‘cio colonial cataldos tiveram alguma importancia. Mas @ Espanha continuou sendo, em sua esséncia, uma economia agraria e 0 comércio maritimo era visto sobretudo como um escoadouro para a produgdo agricola. Na andlise final, as medidas modernizadoras de Carlos III (1759-1788) tiveram 0 ‘i objetivo de revitalizar um setor tradicional da economia, e fornou-se mais evidente do que nunca que o mundo hispanico estava erigido, ndo sobre uma diviséo do trabalho entre a metrépole e as colonias, mas sobre nefastas semelhancas. As antigas estruturas sobreviveram e 0 proprio movimento de reforma ruiu em meio ao panico provocado pela Revolugo Francesa e pela subsequente reagao no reinado de Carlos IV (1788-1808)"”. De fato, e como ja foi assinalado, até entio as colénias americanas viviam sob estrito controle comercial da Espanha, que distribuia manufaturas importadas principalmente da Franca. Visando_a favorecer a roduedo manufatureirs metr6pole, houve o aumento para daze do nut 1S espanhdii le partiam os navios carregados para 0 Novo Mundo, Por outro lado, cerca de vinte € trés portos americanos foram autorizados a receber as embarcagées. Assim, 0 mercado do continente, antes-abastecido quase que exclusivamente por manufaturas francesas, passou a receber mais produtos oriundos da Espanha. Ao mesmo tempo, 0 contrabando de mercadorias inglesas foi combatido com vigor, assim como o funcionamento das gbrajes, manufaturas que produziam tecidos principalmente no México ¢ no Peru. Ou seja, “o papel da América permaneceu 0 mesmo: consumir as exportacées espanholas e fornecer minerais e alguns produtos tropicais. Nesses termos, 0 comércio livre estava destinado a aumentar sua dependéncia, voltando a um conceito primitivo de colénia e a uma tosca divisao do trabalho, apéds um longo periodo no qual a inércia e a negligéncia haviam wpermitido um certo grau de desenvolvimento aut6nomo””. LYNCH. John. As origens da independéncia da América espanhola In: BETHEL, Leslie, org. Historia da ae Latina: da independéncia até 1870. Sao Paulo/Brasilia: Universidade de Sao Paulo/Fundagdo Alexandre de Gusmao, 2001, v. 3, p. 21. Idem, p. 36. 102 Formagiio Economic a da América Latina lamentos. Primeiramente . i it enormes descontent Essa politica gerou enormes CeSCO”” aa ue considerar aa a populagao, da América espantola-havia erescido my atingindo, nas tltimas d 16 a 18 milhoes, ov metrépole miaiori armas, brance de indios, mai 7 seja, 6 a 8 milhOes a mais que milhbes er a vestes, cerca de 3 milhoes eram bramcox ra 5,, Jos, aos quais 0 governo AcabOU Por forne rind milicias para defesa da colonia, Mas ex, p ? sem mimero, por 7 s ‘os eram ultrapassados, & ° 780.000 ni es ‘is de.5 milhbes de mestigos & egros"” ‘ia crioul Por outro lado, é preciso ter em conta a incapacidade da Espanh, no, 0 que provocou o aumento do cusig~ aes Rare wACeraisgaUTeNeetO a0 contrabando gerou enorme, vidade. O resultado foi uma insatisfacig prejuizos aos grupos ligados a essa ati generalizada em relagdio ao dominio es panhol e 0 crescimento dos movimentos emancipacionistas, conduzidos pelos grupos dominantes coloniais. ‘A crise foi agravada no final do século XVIII, a partir de Revolugio Francesa, As as ideias revolucionaria nao pretendia ver seu pt monarquias absolutistas europeias — temerosas de que se espalhassem pelo continente ~ ¢ a Inglaterra — que oder econémico ameagado pela Franga — organizaram- se, em 1793, na Primeira Coligacao, destinada a combater os exércitos franceses. O govern espanhol logo aderiu a coligagao, sendo derrotado, porém, em 1795. Assit im, de adversdria da Franga, 4 Espanha nfo restou alternativa sendo retornar 4 condi¢ao de aliada. A Inglaterra imediatamente reagiu, bloqueando os portos espanhdis e, dessa maneira, impedindo seu contato com as colénias. Para evitar o isolamento de suas possessdes na América, os espanhdis foram obrigados a franquear 0 comeércio aos , que passaram es u Novo Mundo as nagées neutras, 0 que, na ocasidio, resumia-se praticamente a comercializar diretamente com a América Latina. Iso significava, na pratica, o fim do pacto colonial. Entretanto, e em face do poderio militar britnico, dois anos depois — ou seja, em 1799 -, a Espanha assinaria a paz com a Inglaterra, 0 que. ropi érci \ Propiciou a retomada de seu comércio com as colénias, Para tanto, fecho! \ novamente os portos da América, reimplantando o pacto colonial © desencadeando profundo descontentamento na elite criolla. OS Movimentos de Independéncia na América Latina 103 O problema se agravou ainda mais no ini séci , por ocasidio das guerras napolednicas. De fato, ao decretar 0 bloqueio continental, em 1806, Napoledo pressionou a Espanha a declarar guerra a Inglaterra’’. Diante das resisténcias da monarquia espanhola, ameagou invadir o pais. Assim, em 1807, a Espanha capitulou, concordando em assinar 0 Tratado de Fontainebleau, pelo qual passaria a apoiar a Franga, sendo recompensada com uma futura divisdo de Portugal, assim como das colénias lusitanas, entre os dois paises. _____ No ano seguinte, porém, Napoledo invadiu o territério espanhol, destituindo © monarca Carlos IV, e impondo no trono seu irmao, José Bonaparte. A populacdo, contudo, nao aceitou a capitulag%o dos Bourbon, desencadeando contra as forcas invasoras uma guerra de guerrilhas que devastou a Espanha. Ao mesmo tempo, as forgas de resisténcia implantaram '"" Assim rezava 0 decreto do Bloqueio Continental: “Considerando, 1° Que a Inglaterra ndo admite 0 direito da gente universalmente observado por todos os povos civilizados; 2°. Que esta considera inimigo todo individuo que pertence a wm Estado inimigo e, por conseguinte, faz prisioneiros de guerra ndo somemte as equipagens dos navios armados para a guerra mas ainda as equipagens das naves de comércio (..); 3°. Que ela estende as embarcagdes e mercadorias do comércio e ds propriedades dos particulares o direito de conquista (...); 4°. Que ela estende as cidades e portos de coméreio ndo fortificados nas embocaduras dos rios, 0 direito de bloqueio (...); 5° Que este monstruoso abuso de bloqueio tem por objetivo impedir as comunicagdes entre os povos, e erguer 0 comércio € a indiistria da Inglaterra sobre as ruinas da indiistria e do comércio do continente; 6°. Que sendo este 0 objetivo evidente da Inglaterra, qualquer individuo, que faca sobre o continente 0 comércio de mercadorias inglesas, por este meio faPrece os seus designios ¢ dela se torna ciimplice; (...) Por conseguinte, temos decretado e decretamos 0 que segue. Artigo 1°. As Ithas Britdnicas sdo declaradas em estado de bloqueio; Artigo 2° Qualquer comércio e qualquer correspondéncia com as Ithas Briténicas foram interditados (...) Artigo 3° Qualquer individuo, stidito da Inglaterra, qualquer que seja sua condigdo, que for encontrado nos paises ocupados por nossas tropas ou pelas tropas de nossos aliados, ‘serd constituido prisioneiro de guerra; Artigo 4° Qualquer loja, qualquer mercadoria, qualquer propriedade pertencente a um stidito da Inglaterra sera declarada boa presa; Artigo 5° O comércio de mercadorias inglesas é proibido, e qualquer mercadoria pertencente a Inglaterra, ou proveniente de suas fibricas e de suas colénias é declarada boa presa; (..) Artigo 7° Nenhuma embarcagdo vinda diretamente da Inglaterra ou das coldnias inglesas, ou Id tendo estado, desde a publicagdo do presente decreto, serd recebida em porto algum; Artigo 8° Qualquer embarcag@o que, por meio de uma declaragéio, transgredir a disposigao acima, serd apresada e o navio e sua carga serao confiscados como se fossem propriedade inglesa; (..) Artigo 10°. Comunicagdo do presente decreto seré dada por nosso ministro das relagdes exteriores aos reis de Espanha, de Népoles, da Holanda e da Etriiria e aos nossos aliados, cujos stiditos sao vitimas, como os nossos, da injustica e da barbdrie da legislagdo maritima inglesa” (Decreto de Berlim, 21/11/1806 In: MATTOSO, Katia M. de Queirds. Textos e documes da historia contempérdnea (1789-1963). Sio Paulo: Universidade de Sio Paulo, 1977, pp. 48-50), tae con camscet 4K rica Latina 104. Formagao Econdmica da America ti goyerno parale! et autoridade de José p, gover alelo, desafiando a autoridade di e be em Sevilha um instalado em Madet- ean dualidade de | América 0s: als que aecidtom se futuro rei Fernan lo VII. Essa lealdade, na verdade, a elite criolla percebia que opondo-se, por isso, a0 seu fortalecimen Como sintetizou John Lynch, 10 Ol : i ‘esses acontecimentos produziram na América u Ss P ma crise q legitimidade politica. A — autoridade —proviny, ‘radicionalmente do rei; as leis eram obedecidas por, cum leis do rei. Agora ndo havia um rei a quem obedecey Isso também pos em questdo a estrutura do poder ¢ sua disiribuigdo entre os funciondrios reais e a classe governany, focal. Os criollos tiveram de decidir sobre o melhor modo de preservar sua heranga e manter-se no controle. A Amérieg espankola ndo podia continuar sendo wma coldnia sem ung metropole, ou uma monarquia sem ym monarca’~. de poder na metropole, Teuniram.ce manter fiéis a Carlos IV e a se, fil : porém, tinha um objetivo muito ql : Espanha estava em franca decade; to mediante a alianga com q Er lato, ei ‘anga, O colapso das instituigdes espanholas e a independéncia da América Latina Jeéncia_das_instituigdes espanholas diante das ne¢aram a dar os primeiros passos em diregio forgas invasoras, da constitmigaa ce para Inglaterra, esS€ Movimento emancipacionista era muito vantajoso, Pporquanto abria-lhe a perspectiva de negociar diretamente com as coldnias da América, sem a intermediagao imposta pelo pacto colonial. De inicio, porém, nao péde apoiar diretamente a luta pela libertago das colénias espanholas. uma vez que interessava-Ihe manter a alianca com a Espanha para continuat @ luta contra 0 exército napolednico. i sa A medida que as foreas francesas sofriam suas primeiras derrotas, sae 14 comecou a reagir, passando a combater os movimentos de liberta¢ za ae) logo em 1812, obteve uma primeira e significativa vilo™ ra 0s rebeldes na Venezuela, o que foi facilitado por um eo a nn a Os cabildos eram assemblei; i ui ias munici LYNCH, John, 2001, op. cit. p. 72, ‘Pals compostas de membros da aristocracia ¢”"° Os Movimentos de Independéncia na América Latina 105 que_destuiu Caracas, Soba liderana de Simén Bolivar, o movimento resistiy até 1815, quando finalmente foi derrotado. Imediatamente, 0 exército metropolitano exterminou cerca de mil revoluciondrios, enquanto Bolivar € alguns companheiros se exilaram na Jamaica. , a 5 “om a derrota final do imperador francés, em 1815, seguiu-se a reagio absolutista da nobreza europeia, o que daria origem a aliangas militares entre os paises vencedores, com 0 objetivo de restaurar 0 Antigo Regime na Europa e refo acto colonial na América. TS Porém, a Inglaterra — apesar de ter sido a grande vitoriosa na luta contra 0 exército de Napoledio — nao interessava a retomada das restrigées a0 comércio exigidas pela Santa Alianca’*. Afinal, nao se pode esquecer que 0 pais estava em plena Revolucao Industrial, e a ampliagao dos mercados para seus produtos era essencial ao desenvolvimento do capitalismo britanico. Dessa forma, os,ingleses imediatamente passaram a armar e financiar os movimentos de_libertacio fo_Aménca, ~Tevando ao desencadeamento do processo de independéncia, Par volta de 1830, toda a América Ibérica, a excegao de Cuba, Rise Uibetiado de sons mesOoles Touavi-e Thportnte atenar pare om aspecto ressaltado por Cégar Augusto Barcellos Guazelli, para quem “a luta pela Independéncia assumiu quase sempre uma dupla dimensao: a_classe_dominante colonial, constituida_pelos criollos, necessitava para lutar contra as forgas da metropole Ug | taiteorparactia das ‘classes perigosas’; estas.“por_owiro [ado~aproveitaram o espaco aberto pela mobilizacdo para | levantar suas reivindicagies especificas contra dominagdo histori -onstruidas mérica colonic Todos os fatores que séio elencados para a explicagao da Independéncia estéo marcados por este duplo cardter: os movimentos precursores -foram em grande parte mal- sucedidos pelo temor dos criollos em relagdo a demandas populares; as influéncias externas — da Ilustracdo a Revolugdo Francesa — tiveram releituras muito peculiares para que se mantivessem as estruturas herdadas do Antigo Regime; os abusos da metrépole repercutiram de maneira diferente em relacdo aos variados grupos sociais que compunham a sociedade colonial. Os criollos que dirigiam " realizado em 1815, Rissia, Prissia e Austria constituiram a arantt as medidas aprovadas naquele enconteo, bem ideais da Revolugdo Francesa na Europa e apoiar a Depois do Congresso de Viena, Santa Alianga com 0 objetivo de como de impedir 0 avanco dos i recolonizagao da América. 106 Formagaio Econémica da América Latina ndentistas tiveram sempre que defroniay ndas mudancas nas bases da sociedade dq apenas a fachada juridgic,. eee as lutas indepen «| ameaga de profi dl qual pretendiam —mudar politica ee 7 ipacdo nao_significaria criacdo de ages parlicipagaia politica. Da’riiesma forma, do ponto de vista econdmico, também nao levaria a possibilidade de desenvolvimento euenome. em relacdo aos paises capitalistas centrais. Pelo contrario. 0 fato i B , movimento independentista ter sido liderado pelos grandes BeEPHteros. - lerras & pela burguesia comercial das areas coloniais, engendrou uma ee ade excludente, em que o poder politico local permaneceu nas maos dessas camadas, notadamente das oligarquias agrarias, cujos _interesses ___ estavam fundamentalmente ligados 4 manutengao de uma estrutura ecohémica de cariter colonial, isto é, produtora de artigos primérios para mercado extemo, Como bem resumiu Tulio Halperin Donghi, ‘ando “em 1825, terminavaca guerra de independéncia, dei Soe a ne oe estruturas coloniais fora causada por uma _profunda transformagao dos sistemas comerciais, péla perseguigao dos grupos mais estreitamente ligados a antiga metrépole (...); a ruptura fora finalmente agucada pela militarizacéo, que impunha dividir 0 poder com grupos que antes estavam excluidos do mesmo. (...) Esperava-se que, das ruinas desse regime surgisse uma nova ordem, Cujas linkas fundamentat fiaviam sido previstas desde 0 inicio das lutas pela independéncia. Mas a nova ordem tardava a nascer. CJE, no_entanto, as mudancas sao impressionantes; nenhum séior da vida da eS ohn ina ee A guerra de independéncia se transforma num conjunto de conflitos, nos quais encontram expressao antagonismos raciais, regionais ¢ de grupo (..); e se torna (..) uma sucessiéo de ‘sangue ¢ horror’ (u:). Cu) iene a violéncia plebeia (-) ‘esenvolne-se um nasa estilo na avid das elites nates Se “* GUAZELLI, César Augusto Barcelos. A crise do sister i ess0 de independéncia In: WASSERMAN, Cli Pe Wate ne r iudia, org. Histéria da América Latina: cinco séculos, Porto Alegre: Universidate/UFRGS, 2000, p. {9 Sa paleo con amtsamet Os Movimentos de . , 's Movimentos de Independéncia na América Latina 107 que em qui paler oud Papperaeiananin ee g_iuinze anos de guerra formaram um corpo de oficiais, éas essai ee oe ua_expressdo. Esses oficiais (...) terminam por rir un ora iin eSpirito de grupo que rapidamente se consolida; i assim um pesadelo e, ao mesmo tempo, um instrumento de poder 4 penis de poder para o grupo social que desencadeou a revoluedo e pretende continuar i énci nuar rigi- z a die la. (...) A violéncia termina por dominar a -vida-eotidiana”™ r 5 e “ Po outro lado, a utopia di nstrugao de uma nagdo_latino- americana tinica. conforme preconizado por Simon Bolivar, unr dos herdis da a cai pk . Na verdade, a diversidade geografica enfe as varias areas, a formagao de focos econdmicos regionais ainda durante 0 periodo colonial, aliados a pressao inglesa contra a unificacao, levaram a emeneta do territério e ao Surgimento de_pequenos paises, cujas frageis classes dominantes passaram os dois séculos seguintes envolvidas em lutas internas pelo controle do poder local, dando origem a um fendmeno politico tipico da América Latina: o-caudilhismo, seeucilhrsnae O processo de emancipacao do Brasil Do ponto de vista das relagdes econémicas estabelecidas entre Portugal e Brasil desde 0 século XVI, a decisio de D. Jo’o VI de abrir portos brasileiros as “nagdes amigas”, em 1808, constitui um marco, porquant significa, na pratica, 0 fim_do pacto colonial e o primeiro passo para a eee eNcorreendenmelt a anttnatccee ae préiso, novamente, ter em vista a conjuntura econémica do século XVIII, ou seja, 0 periodo que corresponde ao inicio do desenvolvimento do capitalismo industrial e a crise do Antigo Regime e, por consequéncia, do sistema colonial. Ao longo do século XVIII, e assim como ocorreu com a Espanha, Portugal comegaria a sofrer press6es para afrouxar as restrigdes que impunha a0 comércio do Brasil. Saliente-se que, em face das prerrogativas inglesas, nao lhe restaria outra alternativa, pois, desde a segunda metade do século XVII, quando iniciou-se a decadéncia da economia agucareira, 0 pais vinha se tornando cada vez mais dependente da Inglaterra, num processo que culminou PEER * DONGHI, Tulio Halperin. Histéria da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975, Pp. 81-82, ea Latina ccondmica da América Li 08 Formagio E 7 1 do de Methuen”, que represent, Trata 7 om a assinatura, em 1703, ot a MICOS € A Manutens, com aa val a 5 f jo de Portug' ‘ uu Celso Furt: 9 Ronn subordinagto 2 inglesa. Conforme assinalo y ‘ado, is na Orbita de influel ial (. ) desempenhou papel basico no curs “9 acordo comerc! s, Esse acordo signifi tomado pelos acontecimentos. Esse BNIficow pay, 0 Portugal renunciar a todo desenvolvimento manufatureing ¢ ae transferir para a Inglaterra 0 impulso dindmicg en em BC ndo, entretanto, Portugal conser ida posiga, pot joa numa etapa que resultou ser fundamental parq ;. Consolidag definitiva do territorio de sua colonia americana”. De fato, o tratado de 1703 garantiu a Portugal a protegao q, ntra as investidas francesas espanholas sobre 0 territérig con : peas tiva mais ampla, a econoni, brasileiro. Porém, e “observada de uma perspec i iuso-brasileira do séeulo XVIII se configurava como uma articulagdo (.) do sistema econdmico em mais rdpida expansdo na €poca, Ou Sseja, a economiq inglesa’”®. ; E nesse quadro que podemos compreender a economia mineradora do século XVIII, seus reflexos no desenvolvimento do capitalismo briténico e a crise do sistema colonial luso. Conforme sublinhou Celso Furtado, em linhas gerais, pode-se dizer que "© De acordo com Jodo Liicio de Azevedo, “pelo artigo 1°, Portugal obriga-se para sempre a adnitir os panos e outras manufaturas de 1a britanicas, cuja importacao se proibira anos antes, qualquer que fosse a procedéncia. Pelo artigo 2° a Inglaterra promete, também ara sempre, receber os vinhos portugueses, pagando estes dois tercos dos direitos impostos nos vinhos franceses. Mas, continua 0 artigo, se alguma vez deixar de ser mantida a diferenga, fica ao arbitrio do rei de Portugal proibir novamente os tevidos ingleses. O artigo 3", meramente do protocolo, manda ratificar 0 convénio no espaco de dois meses”. E acrescenta: “nada mais singelo, limpido e liso: na aparéncia pelo menos. 4 reciprocidade no concedido é evidemt, (..) O desigual esta em que o contrato, obrigatirio para uma das partes, para a outra é facultativo e tempordirio, 66 durando enquanto¢lt achar bom. Em qualquer momento a Inglaterra pode extinguir o direito ciferencial. Palade {ar 0 tratado. Portugal fica jungido a ele, enquanto tal for a conveniénci® soa iam ieee oto Litcio de. Epocas de Portugal econdmice ” FURTADO, Celso. Formagdio pat aan eae "genase mica do Brasil, 1986, op. cit, p. 38. Os Mov r $ Movimentos de Independéncia na América Latina 109 0 ciclo do omro constitui um sistema mais ou menos integrado, dentro do qual coube a igo secundéria de POM COMO ro mbrasl ciromirbiclambc eect taco desenvolvimento manufatureiro, a sua capacidade : de uma grande flexibilidade & Para importar, e permitiu uma concentragao reservas que fizeram do sistema bancdrio inglés o principal centro financeiro da Europa’ 2 _Portanto, no_fin: século_ XVIII e inicio do_século XI lependéncia . uesa_em telacdo Inglaterra’ era completa, o que se refletiria maneira muito significativa na colénia. e 'sses reflexos seriam especialmente sentidos a partir do final de 1 of 807, quando a Corte portuguesa se transferiu para 0 Rio de Janeiro, episddio diretamente Franca ¢ Inglaterra pela hegemonia econdmica e politica mundial, Com efeito, e conforme ja foi assinalado, em 1806, Napoledo decre- tara 0 Bloqueio Continental, como parte essencial de sua politica voltada para 0 objetivo de sufocar a economia britanica. De acordo com Nelson Wemeck Sodré, Smartt “para concretiza-la, era necessério impedir' 0 acesso dos ingleses aos portos continentais. E a area mais vulnerdvel @ penetragado britanica estava na peninsula ibérica e particularmente no reino de Portugal (...). Assim, em agosto de 1807, 0 governo de Lisboa recebia a nota franco- espanhola exigindo que Portugal declarasse guerra a Gra- Bretanha, fechasse seus portos aos navios ingleses, retirasse seu representante em Londres e determinasse a retirada do representante britanico em Lisboa, prendesse os stditos ingleses no pais e lhes confiscasse os bens’” Evidentemente, Portugal nao poderia resistir militarmente as forgas napolednicas. A Inglaterra, por sua vez, no permitiria um abalo tao grande em seus interesses econémicos. Em face dessa perspectiva, a saida apontada pelos diplomatas britanicos foi a transferéncia da Corte para o Rio de Janeiro. Dessa forma, em 29 de novembro de 1807, 0 Principe Regente D. Jofio VI partiu com a familia real para o Brasil. Na verdade, muito mais que na defesa da soberania i »y Idem, p. 39, ® SODRE, Nelson Werneck. As razdes da independéncia, Rio de Janeiro: Civilizagio Brasileira, 1965, p. 53. simples entrepost. (...) Para a Inglaterra, 0 [ ligado as guerras napoleénicas e a luta entre ( 110 Formagiio Econémica da América Latina lusa, a Inglaterra estava preocupada em salvar piebenpiccirars as, no Brasil. E, emt troca da protegdo conferida & esquadra Peal, pinta mpl. los, como 0 demonstram o ato de abertura dos por agdes inicio de 1808. ; ‘ cata a medida nao tinha eet i Permitir que a Corte ~, por consequéncia, a colonia — Fosse abastccith & M Produtos absolutamente indispensiveis e que nao eram produzidos aq i. Da mesma forma, mantinha a possibilidade de o Brasil continuar exportan artigos tropicais, garantindo, assim, a permanéncia de um minimo equilibrio ng nm i IngeIros e| balanga comercial. Porém, ao co} je navios estral OS _atr: ieassem lo 0 pacto colonial, nos portos brasileiros, Portugal estava, na pratica, revo} . to ca condigaio sem a qual seria impossivel manter a soberania sobre 0 territério nq América. Por outro lado, e como bem lembrou Alan K. Manchester, os ingleses nao descuidavam do fato de que “algumas medidas tinham que ser tomadas para a época em que terminasse o bloqueio ws Europa, e as outras nagées concorressem com a Gra-Bretanha no Brasil’”’. Foi assim que, entre 1809 ¢ 1810, foram assinados dois tratados, que concediam imensos Privilégios econdmicos e politicos a Inglaterra, O primeiro “concedia tudo, suavizando por vezes as concessdes com 0 mito da reciprocidade. (...) fixava a continuidade dos direitos de comércio livre para a Inglaterra, mesmo no caso de retorno da Corte a Portugal; estabelecia 0 prazo de qui anos para revisdo e renovagao do préprio tratado; reservava 4 Gra-Bretanha o direito de excluir os stiditos e navios lusos do comércio com as suas colonias; (...) equiparava os impostos sobre mercadorias importadas em navios ingleses aos pagos pelos navios lusos; (...) fixava_a aboligéio gradual \do trdifico de escravos (...)””? =. —— amiga: Quanto ao segundo, Versava, basicamente, sobre normas de comércio © navegacao e, entre outras clausulas, garantia aos navios ingleses 0 direito de pagar no Brasil as mesmas taxas que os navios Pportugueses pagavam nos portos briténicos. Além disso, determinava que cidadaos ingleses residentes na colénia s6 poderiam ser julgados Por um juiz nomeado pela Inglaterra. As Vantagens inglesas eram, Portanto, imensas. Porém, como assinalou Oliveira Lima, a a x ae Ee Alan K. Preeminéncia inglesa no-Basil, Sao Paulo: Brasiliense, 1973. * SODRE, Nelson Wermeck, 1965, op. cit, Pp. 161-162, Os v ‘ 's Movimentos de Independéncia na América Latina 111 Apés 0 tratado, relacé eguinte 0 estado legal das livres, as mercadorias r ssem pago direitos em Portugal, e bem assim os produtos da maior parte das colonias portuguesas; sujeitas & taxa de 24% ad valorem as mercadorias estrangeiras diretameme transportadas em navios estrangeiros; Sujeitas a taxa de 16% as mercadorias Portuguesas, e também as estrangeiFas, importadas sob 5 Pavilhdo portugués; sujeitas & taxa de_15% as mercadorias britdnicas | importadas sob pavithdo. britanico, ow Portugués’? mercantis do Brasil: estrangeiras que jé tive Verifica-se, pois, que as condigdes estabelecidas nos tratados significavam, na realidade, a “transplantagdo do protetorado britanico, cuja situagao privilegiada na metrépole se consagrava na nossa esfera econémica e até se consignava imprudentemente como perpétua”™. As consequéncias, contudo, seriam muito mais amplas, Em 1820 — cinco anos apés a derrota de Napoledo —, alguns setores da sociedade portuguesa tentariam, por meio da Revolugao do Porto, reverter, a situagao, exigindo a volta da Familia Real a Portugal e a retomada do pacto® colonial. Face a possibilidade de reimplantagao do pacto colonial, tomaram vulto as manifestagdes favoraveis 4 emancipagao. Porém, entre os grandes proprietarios de te ia 0 temor de que,aexemplo do que-oeorrerr-em algunas: 6 érica Latina — especialmente no Haiti — O-mMovimento OK indepey ist: r um carater_revolucionario, que _provocasse profundas—transformacdes_na_estrutura econdmico-sociat~ Segundo Emilia Viotti da Costa, “o temor da populagdo cui ilustrada diante da perspectiva de agitagao das massas explica porque a ideia de realizar a Independéncia ‘om o apoio do principe pareceria tao sedutora (...)”"”. Sena ® LIMA, Oliveira. Dom Jodo VI no Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, pp. 255-256. eee ee as Meni p. 251. COSTA, Emilia Viotti da, 1971, op. cit., p. 99. tae con camscet 112 Formagao Eeonémica da América Latina pois, como resultado da confluéncia go, que pretendia manter 0 poe Testringidg depois da Revolugao do Porto — com 0s dos See oS paler pas ; Seale ase 1822, surgiria 0 problema dc por em risco seus privilégios. ee tilts sa reconhecimento da emancipa¢: fo pretendia ver seus interesse i énia, ni negociava livremente com a colonia, 3 ‘ —— por uma eventual recusa lusitana em aime eee brasileira, Por outro lado, 0 prazo de vigéncia dos tratados de 1810 estava para expirar ‘Assim, “o governo inglés faria saber a Portugal que er FE Gr. ai i rc 0 Bras Bretanha a manutencdo das vantagens auferidas no comerci¢ asl, do Diante disso, g— que manter as boas relagées com a Corte portuguesa x : diplomacia britanica tratou 1 de intermediar o reconhecimento da independéncia Em troca, a Inglaterra obtefia enormes vantagens no acordo celebrado em 1825. Quanto ao governo brasileiro, cedeu em varios pontos ¢ aceitou dar a Portugal uma indenizacdo de dois milhdes de libras esterlinas. Como se vé, 0 acordo Signinicava o inicio da divida extema brasileira. Porém, mais importante que tudo, foram os compromissos assumidos por D. Pedro I com a Inglaterra. Assim, em 1827, o Brasil assinou acordo com a Gra-Bretanha, em que, além de se cOmprometer a extingulr 0 tatoo nemrom dena de ii aMe-arpa a aQNGAO dos Sis de f sobre asimporragdes inglesas, renovande,na_pritica, o tratado de 1810: Portanto, mesmo depois da independéncia, mantinha-se a economia brasileira submetida aos objetivos do expansionismo comercial britanico, numa situacio de dependéncia que seria mantida até o final da Primeira Guerra Mundial Como bem observou Emilia Viotti da Costa, ) “a emancipagao politica realizada pelas categorias dominantes cujo Unico objetivo era romper o sistema colonial no que ele significava de restri¢do a liberdade de comércio e a autonomia administrativa, ndo wlirapassaria seus préprios limites. A escravidaio A independéncia viria, interesses pessoais de D. Pedro — Os Movi - mentos de Independéncia na América Latina 113 : Werte *, Pols, que a autonomia politica, obtida oficialmente em 1822, nfo contribuiu para a alterago dos fundamentos econé do Brasil a estrutura produtiva manteve-se voltada para a rs aes a Acne comerciais dirigidos para a Europa, 4 produgao, es oe le_excedentes paseada no latifiindio monocultor, na producao em larea ecccia de urtigne tropicais €, principalmente, no trabalho escravo, A cantata lesiectaunabions encontraria tivais a0 longo do século XIX parte do século XX, seria © part ea el lo r > Seri Haiti: um caso peculiar Um iiltimo aspecto sobre a independéncia da América Latina deve set abordado: trata-se do caso do Haiti, pais que, embora seja hoje o mais pobre do Hemisfério Ocidental, foi, no inicio do século XIX, a primeira repiiblica negra do mundo. Para compreende? esse processo tnico, é necessario que nos reportemos a crise do sistema colonial francés a partir da Revolucao de 1789 O Haiti, situado na metade ocidental da Ilha Hispaniola, foi ocupado pela Franca no século XVII, que ld implantou uma estrutura colonial baseada na produgao de cana-de-agiicar para mercado externo, com mao de obra escrava negra. Com o tempo, o Haiti se tornaria a principal colénia francesa na Ameériva, Gem uma populagdo que, no final do século XVIII, chegava habitantes, dos quais 5.000 eram brangos Gram negros ou mulatos. Destes, cerca d& 470.000Jeram escravos._ . Essa desproporgo entre a populagao livre e a escrava gerou uma série de revoltas. A primeira de que se tem noticia ocorreu em 1754, € foi liderada por um negro oriundo da Guiné, conhecido como Mackandal, que organizou um movimento guerrilheiro e estimulou a pritica do vodie* na luta contra os brancos. Depois de alguns anos, Mackandal foi capturado e condenado a morrer queimado na fogueira como feiticeiro. Entretanto, conseguiu escapar, o que deu origem lenda de que retomaria para libertar a populagao escrava. — a . © vodw & um tipo de culto religioso pratica incorpora priticas de magia negra. No Brasil, do. pelos negros na regidio do Caribe, e que pode ser encontrado no Maranhao. mérica Latina eeondmica da AN P 114 Formagio Econom idades francesas, que proibir: imbé jo das autoridat durante algum me dy , Mee : s de liberdade, 0S 7 e torturado até a morte difustio das ideia «que acabou pres , X fiderados por Vincent Ogé, que ua receber apoio da Espanha le passol ee entretanto, nfo conteve a revolta, i att; acuada, principalmente porgy. Inglaterra. A minoria brave® ee enviar reforgos para defendé-la. Ogg foj mmetrépole nao tinha condig@es cnt por Toussaint L’Ouverture, que abol, aa anga do movin yea substituido na ce 1801, conseguiu impor 0 controle dos negr§S sobre escravidéo em > ilha, letamente a produca anizou_ comp G0 ——_ Todavia, a se Cea HolHaiti (Toussaint ThOwverine ‘car, principal produto de ex paper vet, er vee se ae or Geral Vitalicio, tomou medidas para combater a crise da nomeado uucareira, o que Ihe valeu a simpatia da elite branca. Diante da economia a¢t 5 io e-a exportacao de agucar, além da é dca urgéncia de se retomar a produ : : meceidate de estruturagao juridica do pais, 0 Governador fez uma alianga tatica temporaria com os brancos, que conseguiram impor seu controle sobre 4 ‘Assembleia Constituinte. A luta pela libertagao dos negros se transformara em pritica do Iuta contra a metrépole. A reacao francesa nao se faria esperar e, em 1802, Napoleao enviou tropas para tentar recolonizar o pais. Na luta, Toussaint L’Ouverture foi preso ¢ morto, sendo substituido por Jeaa-Jacques Dessalines, que conseguiu, com apoio briténico, expulsar os franceses. Em 1804 foi, enfim, proclamada a independéncia i. A vit6ria dos negros, todavia, nao se consolidaria. Dessalines, ex-escravo, foi proclamado imperador e tentou unificar o pais. Mas a antiga disputa entre negros e mulatos, que marca as lutas pelo poder no Haiti desde 0 periodo colonial, abriu caminho para que a elite branca, com o apoio da Inglaterra, retomasse o controle sobre as Plantagdes de agticar, apds 0 assassinato de Dessalines, em 1806. Os negros foram obrigados a retornar a0 trabalho nos canaviais, agora no mais como scravos, mas como assalariados ae pea, A primeira repiiblica negra do mundo foi a0 de mero exportador de agticar, com uma imensa massa de trabalhadores agricolas miserdveis, O8 Movimentos de Independencia na América Latina 115 subnutrigao ou de AIDS, De qualquer forma, a constituiu um importante AVISO para oO restante di “a primeira colénia independente na América Latina resultara no primeiro Estado nacional organizado e dirigido v por negros rebelados contra @ escraviddo. Isso com certeza Para os criollos que as influéncias que receberam de fora do mundo luta pela emancipagio do Haiti 10 continente: teve mais importancia independentistas espanhol"”?. i 7. GUAZELLI, César Augusto Barcelos, 2000, op. cit, p13 paleo con amtsamet

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