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Lélia Gonzalez Por um feminismo afro-latino-americano Ensaios, intervengées didlogos Organizagio: Flavia Rios ¢ Marcia Lima % ZAHAR tae con camscet Copyrighe © xox0, herdeiro COP dems etic 6 oat Comeaice Crtfa atnaticada sepend, = Penn ato se En 55, paleo con amtset A categoria politico-cultural de amefricanidade* Introdugao Este texto resulta de uma reflexdo que vem se estruturando em outros que oantecederam! e que se enraiza na retomada de uma ideia de Betty Milan desenvolvida por M. D. Magno? Trata-se de um olhar novo e criativo no enfoque da formacdo histérico-cultural do Brasil que, por raz6es de ordem geogrifica e, sobretudo, da ordem do inconsciente, ndo vem a ser 0 que ge ralmente se afirma: um pais cujas formagées do inconsciente sio exclusiva: mente europeias, brancas. Ao contrério, ele é uma América Africana cuja Iatinidade, por inexistente, teve trocado o T pelo D para, ai sim, ter 0 seu nome assumido com todas as letras: Améfrica Ladina (no € por acaso ques _newose cultural brasileira tem no racismo 0 seu sintoma por exceléncia) Nese | ‘contexto, todos os brasileiros (¢ nao apenas os “pretos” € 0s “pardos” do 1sc#) sio ladino-amefricanos. Para um bom entendimento das artimanhas do ra- ‘Game cima caracterizado, vale a pena recordar a categoria freudiana de (Verneinung): “Processo pela qual oindividuo, embora formulando_ até af recalcado, continua a dena de seus desejos, pensamentos ou sentimentos, i /adino-amefricanidade, o racism ~4 brasileira” se volta justamente contra agueles que so 0 testemunho vi ‘vo da mesma (os negros), a0 mesmo semee dino fazer democaca ail” ase) ara mae Paras escent perspective Incaniana, Ereoamcoetvel Sit ‘dotento brithante de M. D. Magno oo oe Sn srasamefiicanas, QUE dedicado a Marie-Claude e Shawna, emis companhs ‘tna homenager™ Stem incentivaram no desenvolvimento da idea em quest8°- ee ‘Abdias do Nascimento. a7 tae con camscet _ . ee ne Enscioy a» um contato crescente com manifestagdes culrurais negras de outros paises do continente americano, tenho tido a oportunidade de obser. var certas similaridades que, no que se refere aos falares, Jembram o nosso pals, f certo que a presenga negra na regidio caribenha (aqui entendida nio 7 6 como a América Insular, mas incluindo a costa atlantic G = falados na regio (quanto ao holandés, por desconhecimento, nada posso dz), Ou sea, aquilo que chamo de “pretugués” ¢ que nada mais € do que marca de afvicanizagio do portugues falado no Brasil (munca esquecendo {que 0 colonizador chamava os exeravos africanos de “pretos’, ede “riulos (or naeidos no Brasil) é facilmente constatavel sobretudo no espanhol da regilo caribenha, O cardter tonal ¢ ritmico das linguias africanas trazidas Para.o Novo Mundo, ¢ também a auséncia de certas consoantes (como 0 Low 0 R, por exemplo), apontam para um aspecto pouco explorado dt influéncia negra na formagio hist6rico-cultural do continente como um todo € isso sem falar nos dialetos “crioulos” do Caribe). Similaridades ands alt evidentes so constativeis se o nosso olhar se volta para as mi axdangas, os sistemas Ue Grengas etc. Desnecessério dizer o quanto tude = tancahno pelo vdu eae do branqueamento, é recalcado po | ‘classifcagbies eurocéntricas do Tipo “cultura popular”, “folelore macion ‘Ste-due minimizam a importincia da contribuicdo negra. : Um outro aspecto,e bem inconsciente, do que estamos abordando “espelo a outra categoria freudiana ade objeto parcial (Partial). %* —= ‘assim definida; “Tipo de objetos visadon pelas *04. 0 5e0 Conjunto, de partes do Abu pega a8 4 fantasmadas “eden sens equvelessesae Pesos ode Kdenicar-se ou ser \deniicada com um ob} PS Pulls parcais, sem que tal implique ue Pe Pols bem. Pelo t0da uma tterat 0 gue ke fee ao Bras, ques serie SOP ‘ure das farnasiag art aapei ‘exemplo) como para as en Pm te een no Weebl cee ee ee ‘uma lingua africana: © P~ 4 tae con camscet tae con camscet Psat, \ chegando, ds vezes, a no parecer violencia, mas "Verdadeip, supe Ostextos de um Fanon ou de um Memmi demonstram, 08 fein, —HOtidaden Osea aco colonial exerceria s viel que a eficacia da 1 da dominagio co SObI€ 08 colonizady, ao Quando se analisa a estratégia utilizada pelos paises g, coldnias, verifica-se que o racismo desempen| i MOP EUS em €m Papel funda oe internalizagio da “superioridade” do.colonizador pelos colonigg ag apresenta, pelo menos, duas faces que 86 se diferenciam engya que visam ao mesmo objetivo: exploracao/opressio. Refiro.me, 0 Caso, rente é conhecido como racismo aberto e racis 6 que comume’ eee ise disforcado. 0 meio, caracteristico das sociedades de origem anglo-saxdnica, gens Mani ou holandesa, estabelece que negra ¢ a pessoa que tenha tido antep, = nee aah tees De acordo cor negros (‘ ane negro n; s veias”). m orca dee er correc mis € algo impensivel (embora o estupro ea -exploracio sexual gg m ocorrido), na medida em ea sempre tenhar 0), que © Brupo brancy, pretende manter sua “pureza” " e reafirmar sua “ ‘superioridade”. Em consequén, | cita como a mais coerente, ¢, er cia, a Unica solugio, assumida de maneira ex; Fegagao}dos grupos nao brancos. A Africa do Sul, com a sua doutrna do desenvolvimento “igual” mas sep mas separado, com o seu apartheid, é 0 model —— ea ak acabado desse tipo de teoria e pratica racistas. J4 no caso das sociedades de origem latina, temos o racismo disfarcado ou, como eu o classifico, 0 racino Se de . Aqui. prevalecem as “teorias” da da miscigenacio, da assimilacaoe da “democracia racial”. A chamada América Latina, que, na verdade, é muito mais ai i fricana do que outra coisa, apresenta-se como o melhor Be exemplo de racismo por denegacao. Sobretudo nos paises de colonizacio luso -éspanhola, onde as pouquissimas excegdes (como a Nicaragua ¢ o seu Estatuto de Autonomia de las Regiones de la Costa Atlantica) confirmam a regra. Porisso 7a mesmo, creio ser importante voltar 0 nosso olhar para a formacdo histica dos paises ibéricos® Trata-se de uma reflexio que nos permite compreender como esse tipo especifico de racismo pode se desenvolver para se constituit numa forma mais eficaz de aliena¢ao-dos discriminados do que a anterior. A formasao histérica de Espanha e Portugal se deu no decorrer de uma uta plurissecular (a Reconquista) contra a presenca de invasores que se dife renciavam nao s6 pela religizo que professavam (9 isla); afinal, as tropas que | eaten inyadiram vadiram a fbéria em7iinio s6 eram majoritariamente negras (6700 oe abel’) Para trezentos arabes) como eram comandadas pelo negro general (" tae con camscet “Acategoria politico cultural de amefricanitade Ferg ib Ziyad (a corruptela do termo Gabel Tarig remultou en Uibr palayra que passou a nomear 0 estreito até ento conheeide aaat aoe é Hercules). Por outro lado, sabemos que no sé os xoldados abe

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