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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS AERONÁUTICAS

JOÃO LUIZ VETTURAZZI DUTRA DA SILVA

O TRANSPORTE DE BATERIAS CLASSIFICADO COMO ARTIGOS


PERIGOSOS OCULTOS E SEUS IMPACTOS NEGATIVOS NO
AUMENTO DO RISCO DA OPERAÇÃO DE UMA EMPRESA
CARGUEIRA

RIO DE JANEIRO
2020
JOÃO LUIZ VETTURAZZI DUTRA DA SILVA

O TRANSPORTE DE BATERIAS CLASSIFICADO COMO ARTIGOS


PERIGOSOS OCULTOS E SEUS IMPACTOS NEGATIVOS NO
AUMENTO DO RISCO DA OPERAÇÃO DE UMA EMPRESA
CARGUEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade de Ciências Aeronáuticas como
requisito parcial à obtenção do grau de bacharel
em Ciências Aeronáuticas

ORIENTADORA: Profa. Ma. karynne CORDEIRO BAYER

RIO DE JANEIRO
2020
ESPAÇO DESTINADO A FICHA CATALOGRÁFICA
JOÃO LUIZ VETTURAZZI DUTRA DA SILVA

O TRANSPORTE DE BATERIAS CLASSIFICADO COMO ARTIGOS


PERIGOSOS OCULTOS E SEUS IMPACTOS NEGATIVOS NO
AUMENTO DO RISCO DA OPERAÇÃO DE UMA EMPRESA
CARGUEIRA

Trabalho de conclusão de curso,


apresentado a Universidade Estácio de Sá, como
parte das exigências para a obtenção do título de
bacharel em Ciências Aeronáuticas.

Aprovado em, ____ de _____________ de 2020.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Profa. Ma. karynne CORDEIRO bayer
À minha família, namorada e
amigos por terem me e incentivado a
continuar voando atrás dos meus sonhos.
AGRADECIMENTOS

A Deus por me permitir realizar meus sonhos e caminhar com saúde, força e
fé sobre todas as adversidades.
A minha família, em especial meu pai e minha mãe, por acreditar no meu
potencial e por embarcar comigo, fornecendo-me todos os meios para realizar meu
sonho de ser piloto de avião.
A Minha namorada Adriana, que me deu todo apoio e incentivo em todos os
momentos, sempre mencionando o quanto que sou capaz e que com persistência
tudo seria resolvido.
Aos meus amigos da universidade e do aeroclube de Bragança Paulista, qυе
fizeram parte da minha formação como piloto е qυе irão continuar presentes em toda
a minha carreira.
A todos os meus professores e orientadores, em especial aos professores:
Prof. Cmte. Dion Tavora, Prof. Cmte. Paulo Guerson, Prof. Cmte. Douglas Machado
e seu irmão Cmte. Dalton Machado, Profa. Dra. Selma Ribeiro, Prof. Flávio Moreno
e Profa. Ma. Karynne Bayer, que foram essenciais em todos os momentos da minha
formação acadêmica e profissional, além da formação de caráter como piloto e
cidadão. Obrigado por não somente terem mе ensinado, mаs por terem mе feito
aprender.
A ANAC, pela oportunidade de estagiar ao longo de 2 anos, proporcionando-
me todo o aprendizado acerca da operação da aviação civil brasileira. Foi ali que
dediquei toda a minha inspiração, meus sonhos, minhas horas, técnica e paixão em
prol de uma aviação mais segura e eficiente. Obrigado aos meu meus antigos
Gerentes, coordenadores, supervisores e amigos de trabalho que depositaram
confiança e dedicaram tempo para que eu pudesse crescer pessoalmente e
profissionalmente a fim de trilhar com sucesso meu caminho para que um dia
alcance voos ainda mais altos.
“Nada é impossível para
Um coração cheio
De vontade.”
Autor desconhecido
RESUMO

Com o desenvolvimento do e-commerce, o acesso a compra e venda de


produtos pela internet se popularizou. Entre os produtos comercializados, o mercado
de produtos eletrônicos como smartphones, tablets, notebooks, smartwatch e etc.
possui um destaque que é impulsionado por uma população cada vez mais
conectada e necessitada por tecnologia no seu dia a dia. Ao observar
detalhadamente estes produtos eletrônicos é possível identificar a presença de
baterias de lítio que são utilizadas como fonte primária fornecendo energia elétrica
para os componentes internos.
Como o Brasil é um país de dimensões continentais é comum observar o
envio de equipamentos eletrônicos como pelo modo aéreo. E dessa forma, muitos
equipamentos eletrônicos são enviados como mala postal em aeronaves de carga,
ou seja, através dos correios. No entanto, equipamentos que contenham baterias de
lítio são proibidos de serem transportados por via aérea como mala postal. Porém,
tais proibições não impedem o crescente número de baterias que são enviadas
através dos correios de embarcar nas aeronaves de carga, pondo assim em risco a
segurança da operação aérea e aumentando as probabilidades para eventos
indesejáveis como incidentes e até mesmo acidentes.
Diante disso, através de um estudo de caso e uma pesquisa exploratória,
foram observados os perigos e os riscos associados ao transporte de baterias de
lítio e suas possíveis influências na segurança operacional de uma empresa aérea
cargueira. O resultado desta pesquisa apontou falhas latentes no sistema de aviação
civil e apresentou possíveis ações que poderiam mitigar os riscos fazendo com que
o transporte de baterias como mala postal fosse realizado dentro de níveis
aceitáveis de segurança.

Palavras-chave: Baterias de lítio; Artigos perigosos; Transporte de carga;


Mala postal
ABSTRACT

Nowadays, with people using more frequently the internet to buy and sell any
type of products, some concepts like the e-commerce, which means commercial
transactions conducted electronically on the Internet, became known worldwide.
Encompassed by this new concept of digital commerce, it’s possible to observe a
variety of electronic devices such as smartphones, tablets, notebooks and
smartwatches being marketed with lithium ion batteries as the main power supply for
their integrated components. In accordance with ICAO regulations, Lithium batteries
are considered Dangerous Goods and require specific handling and safety
Instructions for aerial transportation as cargo.
For this reason, international regulations were created in order to introduce
safety procedures for the transportation of lithium batteries in airplanes. In Brazil
specifically, the number of lithium ion batteries that are loaded every day on freighter
airplanes is increasing due to the fact that it is the fastest and safest mean of
transportation between cities around the country because Brazil has a continental
dimension. However, Brazil’s designated postal operator (DPO) need a specific
approval by the civil aviation authority of the State (ANAC) to carry lithium batteries
as postal cargo. However, such prohibitions do not prevent the increasing number of
lithium batteries that are sent through the couriers to board cargo aircraft. For this
reason, this Irregular way of transport is increasing the probabilities of undesirable
events such as incidents and even accidents, and putting in danger the whole
aviation system.
Therefore, using a case study and an exploratory research, it was observed
potential hazards and risks associated with the transport of lithium batteries and their
possible influences on the operational safety of a cargo airline. The results of this
research indicate problems inside the defenses and also, pointed to latent conditions
and other safety issues in the Brazilian civil aviation system. Nevertheless, this
project presents some possible actions that could mitigate safety deficiencies of the
transport of lithium batteries and therefore increase the safety levels of the whole
system.
Keywords: Lithium Ion batteries; Dangerous Goods; Freighter Aircraft;
Dangerous Goods by Post

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Exemplos visuais de baterias de lítio metálico UN 3090 (não


recarregáveis)
23
Figura 2 – Tabela 3-1 - UN 3090 – Lithium metal batteries 23
Figura 3 – Tabela 3-1 UN 3091 – Lithium metal batteries contained in equipment e
Lithium metal batteries packed with equipment 24
Figura 4 – Exemplos de baterias de lítio metálico UN 3090 (não recarregáveis)
24
Figura 5 – Exemplos de produtos eletrônicos que contêm baterias de lítio UN3481
(recarregáveis) 25
Figura 6 – Exemplos de baterias de lítio UN3480 25
Figura 7 – Representação gráfica dos diferentes tipos de bateria quanto a
densidade de energia por peso e por volume. 27
Figura 8 – DC-9 Valujet 30
Figura 9 – Aeronave B747 da empresa cargueira UPS 32
Figura 10 – Malote da ECT danificado após a detonação das baterias 33
Figura 11 – Detonador para caixa eletrônico 34
Figura 12 – Tabela de Probabilidade do evento 41
Figura 13 – Tabela de Severidade do Evento 42
Figura 14 – Matriz de risco 42
Figura 15 – Índice de tolerabilidade 43
Figura 16 – ULD de teste com supressor de fogo 49
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Número de ocorrências envolvendo o transporte de malas postais


em aeronaves 39
Tabela 2 - Quantidade de artigos perigosos mais transportados como mala
postais em aeronaves do operador aéreo Alpha 40
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ANAC Agência Nacional de Aviação Civil;


FAA Federal Aviation Administration;
IATA (International Air Transport Association) – Associação
Internacional do Transporte Aéreo;
ICAO (International Civil Aviation Organization) – Organização da
Aviação Civil Internacional (OACI);
UPS United Parcel Service;
NOAP Notificação de Ocorrências com Artigos Perigosos;
RBAC Regulamento Brasileiro de Aviação Civil;
IS Instrução Suplementar;
UN (United Nations) – União das Nações Unidas;
TGA Thermogravimetric Analysis;
DSC Differential Scanning Calorimeter;
ARC Accelerating Rated Calorimeter;
SOC State of Charge;
PA Passenger Address;
COMAT Company Materials;
NTSB (National Transportation Safety Board) – Conselho Nacional de
Segurança nos Transportes;
DXB Dubai;
PFD Primary flight display;
FO First Officer;
UAE United Arab Emirates;
GCAA General Civil Aviation Authority of UAE;
ULD Unit Load Device;
ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos;
RPN Rede Postal Noturna;
PAC Plano de Ações Corretivas.
LISTA DE SÍMBOLOS

Li Lítio;
O Oxigênio;
Ni Níquel;
Co Cobalto;
Cd Cádmio;
Mn Manganês.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................15

2 QUADRO DE REFERÊNCIA TEÓRICA.............................................17


2.1 Contextualização do transporte de Artigos Perigosos.................17
2.2 Definição de artigos perigosos .......................................................18
2.3 Regulamentação de Artigos Perigosos..........................................18
2.4 Importância do artigo perigoso para a segurança.........................19
2.5 Classificação dos artigos perigosos...............................................19
2.6 Artigos perigosos ocultos ou não declarados...............................21
2.7 Os tipos de bateria de lítio...............................................................21
2.7.1 UN 3090 – Lithium metal batteries......................................................22
2.7.2 UN 3091 – Lithium metal batteries contained in equipment e Lithium
metal batteries packed with equipment..........................................................23
2.7.3 UN 3481 – Lithium ions batteries contained in equipment e Lithium ions
batteries packed with equipment...................................................................24
2.7.4 UN 3480 – Lithium ion batteries..........................................................25
2.8 Thermal runaway e thermal runaway propagation........................27
2.9 Variação da carga da bateria (State of Charge – SOC)..................28
2.10 Ações que levam a inicialização......................................................28
2.11 Histórico de acidentes envolvendo o transporte de Artigos
Perigosos – ValuJet 592..............................................................................28
2.12 Acidente envolvendo o transporte de Baterias classificadas como
Artigos Perigosos - B747 UPS 6.................................................................30
2.13 Estudo de caso – Incidente com Mala Postal envolvendo o
transporte de baterias de lítio numa aeronave cargueira brasileira.......32

3 MÉTODO.............................................................................................35
3.1 Campo de Pesquisa..........................................................................35
3.2 Caracterização Do Método...............................................................35
3.3 Instrumento De Pesquisa.................................................................36
3.4 Tratamento e Análise de Resultados..............................................36
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................37
4.1 Análise de risco.................................................................................39
4.2 A cultura de Notificação de Ocorrências........................................43
4.3 Falhas latentes no sistema de carga aérea brasileiro envolvendo
malas postais...............................................................................................44

5 CONCLUSÃO.....................................................................................46
5.1 Desenvolvimento de formas de mitigação do risco......................47

GLOSSÁRIO.................................................................................................53
ANEXO..........................................................................................................55
15

1 INTRODUÇÃO
O transporte Aéreo de Cargas é global, interliga cidades e países numa
velocidade nunca antes vista. O comércio e as inter-relações humanas existem
desde o início da história, este, teve um papel fundamental para a construção do
mundo globalizado em que vivemos. Através dessa globalização, a crescente
demanda de produtos fez com os seres humanos desenvolvessem métodos para
que este comércio fosse rápido e prático. Dessa forma, com a internet cada vez
mais presente nas nossas vidas, surgiu um conceito que mudaria a forma como se
faz comércio. Conhecido como comércio eletrônico ou como e-commerce, está nova
forma de compra e venda de produtos mudou por completo o cenário mundial, e
com isso transformou para sempre a logística do transporte aéreo de cargas.
A aviação por ser caracterizada como um sistema sócio técnico complexo
(Hollnagel et al.), agora, precisa utilizar de sua capacidade de ser resiliente e
adaptar-se novamente, identificando os novos perigos que estão por trás dessa nova
modalidade de comércio.
Por conta do constante avanço do e-commerce e a alta demanda mundial por
produtos eletrônicos que possuem baterias de íons de lítio ou metal lítio presentes
em computadores, notebooks, smartphones, tablets e etc. fizeram com que o
número de ocorrências aeronáuticas envolvendo estas baterias em aviões de carga
e passageiros tenham aumentado nos últimos anos.
A ANAC, e outros órgãos internacionais como o FAA, IATA e a OACI, vêm
tentando criar medidas para que as consequências do transporte de baterias de íons
de lítio e metal lítio, diminuam os riscos para a segurança operacional.
Após diversos estudos e testes, foram observadas fragilidades no sistema
quando o transporte de baterias ocorria. Dentre um destes testes, foi observado a
ineficácia do sistema de supressão e extinção de fogo nos compartimentos de
aeronaves certificadas. Tais testes utilizaram chamas que foram geradas por
baterias de lítio e intensificadas quando em contato com materiais combustíveis
(como roupas, papéis e etc.,). Após estes testes foi possível classificar a severidade
do evento de falha de bateria com sobreaquecimento (Thermal Runaway) em uma
aeronave, através da metodologia definida pelo manual da ICAO de Gerenciamento
de Risco (ICAO, Doc 9859AN/474).
Eventos similares como este descrito acima, já foram alvos de investigações
de acidentes aeronáuticos, como o voo da 06 da empresa cargueira UPS em
16

setembro de 2010 e reforçaram ainda mais a necessidade de mudanças para que o


transporte de cargas se mantenha dentro da normalidade que é exigida neste tipo de
operação.
No Brasil, o transporte de baterias como carga está banido desde setembro
de 2015, sendo classificado como artigos perigosos (UN3480 e UN3490) proibidos
para o transporte em aeronaves de passageiros (DOC 9284/AN905) a fim de reduzir
os riscos associados a esse transporte. Dessa forma, a logística do transporte
dessas baterias foi repassada a aeronaves exclusivas de carga.
Por outro lado, o transporte dessas baterias pelo modal cargueiro, vem
aumentando a incidência de notificações de ocorrência envolvendo artigos perigosos
(NOAP). Estas notificações são um indicador claro de que este transporte de
baterias de lítio não está sendo realizado de forma segura, ou seja, sem os corretos
procedimentos para a expedição, presentes no RBAC nº 175 da ANAC.
Com isso, a partir de investigações de ocorrências, estudo de caso real
ocorrido numa empresa cargueira e artigos produzidos por de órgãos e especialistas
na aérea, este trabalho tem como objetivo demonstrar quais são os problemas que
ocorrem no transporte de baterias de lítio, bem como identificar possíveis respostas
para a atenuação de ocorrências envolvendo estes artigos perigosos numa empresa
aérea cargueira brasileira que realiza o transporte de malas postais. E para que isso
ocorra é de extrema importância definir o significado de Artigos Perigosos, Artigos
Perigosos Ocultos, e as classes de risco, dando, ênfase nas baterias de lítio, e
também, demonstrar através de estudo de caso os impactos negativos que o
transporte de baterias causou numa empresa brasileira de carga e por fim Discutir a
relação do e-commerce com o aumento das notificações de ocorrência associadas
ao transporte de baterias.
Para finalizar, este é um trabalho de extrema relevância social, pois é
necessário que a população tenha uma maior conscientização a respeito dos riscos
que o transporte de baterias pode causar. Também possui uma relevância
Institucional, devido ao fato de mostrar a necessidade de uma maior vigilância por
parte dos operadores, para que o risco da operação não ultrapasse os níveis de
segurança. E por fim, possui uma relevância acadêmica, pois ilustra a necessidade
de novos estudos na área, e de desenvolvimentos tecnológicos que auxiliem na
mitigação do transporte oculto de baterias que podem ser embarcadas
inadvertidamente dentro de uma aeronave.
17

2 QUADRO DE REFERÊNCIA TEÓRICA


Neste capítulo serão apresentadas algumas informações importantes
acerca do tema, de modo a permitir um entendimento teórico dos fatos observados e
da literatura pertinente, almejando assim criar um fluxo de leitura que permita a
compreensão dos riscos associados ao somatório de vulnerabilidades presentes no
local aeroporto elegido. Deseja-se dessa forma, embasar o conteúdo elaborado
através da caracterização do: processo evolutivo do transporte de artigos perigosos,
dos conceitos e definições fundamentais e dos acidentes envolvendo o transporte de
artigos perigosos.

2.1 Contextualização do transporte de Artigos Perigosos


O transporte de artigos perigosos é realizado rotineiramente no mundo todo.
Mais da metade das cargas transportas por todos os modais de transporte no mundo
são Artigos Perigosos.
Para garantir a integridade dos operadores e das aeronaves são aplicados
padrões internacionais, que cada Estado, de acordo com as disposições da
Convenção de Chicago, deve introduzir na legislação nacional. Esse sistema
garante o controle governamental sobre o transporte aéreo de artigos perigosos e
proporciona uma harmonização mundial dos padrões de segurança.
Sabendo da importância para o correto transporte de Artigos Perigosos, em
1976 a OACI desenvolveu um painel de especialistas que tratariam sobre as
recomendações e revisões técnicas para o correto transporte destes artigos e
juntamente com o comitê de especialistas das Nações Unidas para o transporte de
Artigos Perigosos que criava instruções e recomendações para os demais modais
de transporte, novas questões acerca de transporte eram debatidas a fim de
aumentar os níveis de segurança para o modal aéreo.
Em 1983, a OACI cria o Anexo 18 que determina as normas e métodos
recomendados a serem seguidos pelos países contratantes para o correto transporte
de Artigos Perigosos nas aeronaves. Ao mesmo tempo, foi desenvolvido as
Instruções técnicas para o transporte de Artigos Perigosos, conhecido como DOC
9284, este documento por sua vez é muito mais detalhado do que o anexo 18, pois
detalha todos os procedimentos e instruções que são recomendadas a serem
seguidas para a segurança internacional do transporte de artigos perigosos. O DOC
9284 necessita de atualizações mais frequentes à medida que ocorrem
18

desenvolvimentos nas indústrias química, de fabricação e de embalagens,


acompanhando assim os novos produtos e avanços na tecnologia.

2.2 Definição de artigos perigosos


“Por definição, Artigo perigoso significa artigo ou substância que, quando
transportado por via aérea, pode constituir risco à saúde, à segurança, à
propriedade e ao meio ambiente e que figure na Lista de Artigos Perigosos –
TABELA 3-1 das Instruções Técnicas – ou esteja classificada conforme as
Instruções Técnicas descritas no Documento 9284-AN/905 da OACI: Instruções
Técnicas para o Transporte Seguro de Artigos Perigosos por Via Aérea” (ANAC,
2019)

2.3 Regulamentação de Artigos Perigosos


Essa definição de artigo perigoso está descrita no Anexo 18, no qual o
Estado Brasileiro é membro signatário da Convenção sobre Aviação Civil
Internacional de 1944. Os requisitos gerais presentes no Anexo 18 estão detalhados
nas Instruções Técnicas. As Instruções Técnicas, por sua vez, estabelecem
condições para transportar artigos perigosos por via aérea de maneira segura. Tais
condições são frequentemente mais rigorosas do que aquelas aplicáveis a outros
modos de transporte, tendo em vista a natureza única e a sensibilidade do
transporte aéreo.
Com isso, a OACI, através do anexo 18 recomenda que os países
contratantes promovam através de dispositivos nacionais, como regulamentações,
condições para transportar artigos perigosos. Especificamente no Capítulo 2 do
anexo, é informado que os países devem internalizar na regulamentação pátria as
disposições presentes nas Instruções Técnicas para o transporte internacional de
artigos perigosos.
No Brasil, o transporte de Artigos Perigosos é regido pelo RBAC N° 175 e
suas Instruções Suplementares (IS) quem tem como objetivo auxiliar o cumprimento
dos requisitos estabelecidos no RBAC 175  A regulamentação Brasileira estabelece
os requisitos aplicáveis ao transporte aéreo doméstico e internacional de artigos
perigosos em aeronaves civis e a qualquer pessoa que executa, que intenciona
executar ou que é requisitada a executar quaisquer funções ou atividades
relacionadas ao transporte aéreo de tais artigos.
19

2.4 Importância do artigo perigoso para a segurança


O transporte de Artigos perigosos no modal aéreo tem uma extrema
importância na segurança de voo. Em 1953 membros da IATA reconheceram o
crescimento do transporte aéreo de carga, e dessa forma evidenciaram que esta
modalidade de transporte se não bem controlada poderia causar efeitos adversos
para a segurança de passageiros, membros da tripulação técnica e para a própria
aeronave em si. A exemplificação de outros modais de transporte, foi observado que
o transporte de artigos perigosos pelo ar deveria ocorrer de forma mais controlada e
reduzida haja vista as condições de pressão e temperatura que as aeronaves se
encontravam quando estavam no ar. Após diversos estudos por parte da indústria e
de especialistas no ramo aeronáutico, a IATA desenvolveu e publicou em 1956 seu
primeiro regulamento que auxiliaria as companhias aéreas no transporte de artigos
perigosos.

2.5 Classificação dos artigos perigosos


A classificação dos artigos perigosos é realizada dentro de uma das 9 (nove)
classes de risco estipuladas pelo Comitê de Peritos das Nações Unidas. É
determinado que são classificados como artigos perigosos pela presença de, pelo
menos, uma substância representada nas Classes 1 a 9, nas divisões e, se
aplicável, no grupo de embalagem baseado nos requisitos contidos na Parte 2 das
Instruções Técnicas. É importante destacar que a ordem numérica não diz respeito
ao grau de periculosidade. Abaixo estão a classificação:

 CLASSE 1 Explosivos;
o Divisão 1.1 - Artigos e substâncias que possuem risco de explosão em
massa;
o Divisão 1.2 - Artigos e substâncias que possuem risco de projeção,
mas não de explosão em massa;
20

o Divisão 1.3 - Artigos e substâncias que possuem risco de incêndio e


risco de explosão menor ou risco de projeção menor ou ambos, mas
não risco de explosão em massa;
o Divisão 1.4 - Artigos e substâncias que não apresentam risco
significativo;
o Divisão 1.5 - Substâncias neutras, mas que apresentam risco de
explosão em massa;
o Divisão 1.6 – Substâncias neutras, que não apresentam perigo de
explosão em massa.

 CLASSE 2 Gases;
o Divisão 2.1 - Gases Inflamáveis;
o Divisão 2.2 – Gases não Inflamáveis e não tóxicos;
o Divisão 2.3 - Gases tóxicos.

 CLASSE 3 Líquidos Inflamáveis;

 CLASSE 4 Sólidos inflamáveis;


o Divisão 4.1 - Sólidos inflamáveis;
o Divisão 4.2 - Substâncias sujeitas a combustão espontânea;
o Divisão 4.3 - Substâncias que, em contato com a água, emitem gases
inflamáveis.

 CLASSE 5 Substância oxidante e Peróxido orgânico;


o Divisão 5.1 - Substâncias Oxidantes;
o Divisão 5.2 - Peróxidos Orgânicos.

 CLASSE 6 Substâncias tóxicas / Substâncias infecciosas;


o Divisão 6.1 - Substâncias tóxicas;
o Divisão 6.2 - Substâncias Infecciosas.

 CLASSE 7 Material Radioativo;


21

 CLASSE 8 Material Corrosivo;

 CLASSE 9 Artigos Perigosos Diversos (Miscelâneas).

2.6 Artigos perigosos ocultos ou não declarados


Segundo Sistema Regional de Cooperación para la Vigilancia de la Seguridad
Operacional – SRVSOP (2016) são classificados como artigos perigosos ocultos ou
não declarados aquelas cargas que possuem descrições generalizadas e que por
obrigação deveriam ter sido declaradas como artigos perigosos. Esses volumes
ocultos podem estar presentes em bagagem de mão ou despachadas, volumes de
carga, próximo ao corpo do passageiro ou membro da tripulação e até mesmo em
um item de correio.
No capítulo 6 do DOC9284/AN905 – “Chapter 6 PROVISIONS TO AID
RECOGNITION OF UNDECLARED DANGEROUS GOODS”, é apresentado
diversos exemplos de artigos perigosos considerados ocultos.
Acima de tudo, é importante salientar que o transporte de Artigos perigosos
ocultos traz diversos riscos à segurança operacional, assim, é dever dos
expedidores de cargas aéreas sempre se certificar de identificar, classificar,
embalar, marcar, etiquetar e documentar todos os seus volumes, principalmente
quando Artigos perigosos estão sendo envolvidos no transporte.

2.7 Os tipos de bateria de lítio


O Documento 9480 da OACI disponibiliza as instruções técnicas para o
transporte de artigos perigosos e listam uma variedade de mais de 3 mil artigos
perigosos vide Tabela 3-1.
Esta tabela apresenta os artigos perigosos que possuem restrições,
proibições para transporte em aeronaves de passageiro, os que são proibidos em
aeronaves de carga ou aqueles artigos que são totalmente proibidos para o
transporte pelo modo aéreo.
Alguns objetos ou substâncias que, quando são apresentados para o
transporte aéreo são suscetíveis a explodir, reagir perigosamente, produzir chamas
ou desenvolver calor de maneira perigosa ou, ainda, emitir gases ou vapores
22

tóxicos, corrosivos ou inflamáveis em condições que se observam habitualmente


durante o transporte são considerados demasiadamente perigosos e assim são
classificados como proibidos em quaisquer circunstancias.
Com a evolução da tecnologia nos últimos anos, um exponencial aumento no
uso de equipamentos eletrônicos portáteis ocorreu. Intensificado por uma demanda
crescente e exigente por baterias cada vez menores e mais potentes, foram obtidos
resultados de baterias de tamanho e massa reduzidos, longa durabilidade, e baixo
potencial de agressão ao meio ambiente, quando descartadas. E com esse
desenvolvimento tecnológico vieram as baterias recarregáveis de lítio. Estas baterias
têm sido uma boa opção para atender a demanda de produtos que necessitam de
uma fonte de energia.
A tabela 3-1 apresenta uma variedade de baterias, como por exemplo,
baterias derramáveis, não derramáveis, corrosivas, níquel metal-hidreto e baterias
de lítio.
Dos mais de 3 mil artigos perigosos, seis diferentes tipos de baterias de lítio
são identificados. São as baterias de íons de lítio e de lítio metálico, tais baterias
requerem cuidados ao serem transportados.
As baterias de lítio são classificadas para serem transportadas sozinhas
(apenas a bateria), transportadas dentro de um equipamento (um celular com bateria
interna) ou embaladas dentro de um equipamento (não alocadas dentro do
equipamento, mas acompanham dentro do volume) e são classificadas como:
a) UN 3090 – Lithium metal batteries;
b) UN 3091 – Lithium metal batteries contained in equipment e Lithium
metal batteries packed with equipment;
c) UN 3481 – Lithium ions batteries contained in equipment e Lithium ions
batteries packed with equipment;
d) UN 3480 – Lithium ion batteries.

2.7.1 UN 3090 – Lithium metal batteries


Números UN que são finalizados pelo algarismo 0 na classificação de baterias
de lítio são referenciadas como baterias que são transportadas sozinhas, ou seja,
não possuem equipamentos. As baterias de metal lítio não são recarregáveis,
portanto, devem ser descartadas após perderem toda a sua carga.
23

As baterias de lítio metálico são aquelas baterias ou pilhas não recarregáveis.


Portanto, após o uso, elas devem ser descartadas, pois perderam sua finalidade.
Exemplos visuais de baterias de lítio metálico UN 3090 (não recarregáveis):

Figura 1- Exemplos visuais de baterias de lítio metálico UN 3090 (não recarregáveis)

Fonte: ANAC (2015)

As baterias de metal de lítio são altamente inflamáveis e capazes de causar


ignição. As ignições destas baterias normalmente são causadas por curto-circuito,
quando sobrecarregadas, quando aquecidas a temperaturas extremas, ter sido
furada por algum objeto que atravesse seu corpo ou por algum outro defeito.
Dessa forma, observando a tabela 3-1 das instruções técnicas abaixo, as
baterias classificadas como UN3090 são proibidas de serem transportadas em
aeronaves que contenham passageiros, sendo seu transporte exclusivamente por
aeronaves de carga.

Figura 2- Tabela 3-1 - UN 3090 – Lithium metal batteries

Fonte: Doc 9285/AN905 (2019-2020)

2.7.2 UN 3091 – Lithium metal batteries contained in equipment e Lithium metal


batteries packed with equipment
24

Números UN que são finalizados pelo algarismo 1 na classificação de baterias


de lítio são referenciadas como baterias que são transportadas dentro de
equipamento (por exemplo, quando se compra um eletrônico e a bateria já está
instalada no equipamento) ou embaladas junto com o equipamento (por exemplo,
quando se compra um eletrônico e a mesma embalagem contém as baterias, porém
não estão instaladas no equipamento)
São classificadas como baterias de metal lítio, logo, não são recarregáveis e
devem ser descartadas após perderem sua finalidade

Figura 3- Tabela 3-1 UN 3091 – Lithium metal batteries contained in equipment e Lithium metal
batteries packed with equipment

Fonte: Doc 9285/AN905

Figura 4- Exemplos de baterias de lítio metálico UN 3090 (não recarregáveis).

Fonte: ANAC (2015).

2.7.3 UN 3481 – Lithium ions batteries contained in equipment e Lithium ions


batteries packed with equipment
Esta é uma das baterias mais transportadas atualmente, estando inserida na
maioria dos equipamentos que usamos. A UN 3481 representa as baterias de íon
lítio transportadas dentro do equipamento ou embaladas junto com o equipamento.
25

Smartphones, notebooks, tablets estão entre os produtos que são mais


transportados e que possuem baterias de íons de lítio em seu interior
As baterias de íons de lítio estão em todos os lugares e podem ser um perigo
escondido no meio de diversos volumes que estão sendo transportados.
Como dito na introdução, com o avanço das tecnologias e do comércio
eletrônico, a compra e venda de baterias de íons de lítio faz com que cada vez mais
baterias sejam produzidas com uma procedência duvidosa, podendo causar riscos
aonde estiverem.

Figura 5- Exemplos de produtos eletrônicos que contêm baterias de lítio UN3481


(recarregáveis)

Fonte: The Economic Times (2017).

2.7.4 UN 3480 – Lithium ion batteries


Esta é a classificação para baterias de lítio que são transportadas sozinhas, a
diferença para as baterias de metal lítio é que estas são recarregáveis. As UN3480
são as pilhas ou baterias recarregáveis e por isso não necessitam ser descartadas
logo após serem completamente utilizadas. São amplamente utilizadas em
smartphones, notebooks, computadores, tablets, bicicletas elétricas, etc.
26

Figura 6- Exemplos de baterias de lítio UN3480

Fonte: IATA (2017).

Conforme (CRUCELLO e MACÁRIO, 2017) o Lítio é o mais leve de todos os


metais usados em baterias, além de possuir o maior potencial eletroquímico e
fornece a maior densidade de energia por peso.
Baterias recarregáveis combinam duas importantes características que são a
alta tensão e excelente capacidade armazenagem por volume, resultando em alta
densidade de energia.
Vários tipos de materiais têm sido desenvolvidos de forma a melhorar a
performance em termos de energia especifica, ciclo de vida e segurança das
baterias de lítio. O maior desafio tem sido em aliar a alta potência elétrica em
pequenos volumes com condições extremas de uso sem que haja comprometimento
da segurança. Nesse sentido, a estabilidade térmica é um ponto-chave na
segurança das células/baterias, pois diversas reações exotérmicas podem ocorrer
dentro da célula/bateria quando sua temperatura aumenta muito rapidamente, razão
pela qual a implementação de múltiplos mecanismos eficientes de dissipação de
calor é tão importante na segurança e confiabilidade das mesmas. Quando uma
bateria de íons de lítio está totalmente carregada, o eletrodo positivo (anodo) possui
um forte poder de oxidação devido a formação de um óxido de transição metálico de
lítio (por ex. LiMO2, M = Ni, Co, Mn), enquanto o eletrodo negativo (catodo) contém
carbono litiado (carbolitiação), um material redutor muito forte. O eletrólito não
aquoso habitualmente constituído por um solvente de carbonato orgânico e um sal
de lítio tende a ser facilmente oxidado e reduzido.
Deste modo, a própria célula é termodinamicamente instável e a
compatibilidade da célula é obtida com a presença de películas de passivação na
superfície do eletrodo (Binotto, 2011). Portanto, as baterias de íons de lítio são muito
27

sensíveis ao abuso elétrico e representam riscos de incêndio significativos e


possível explosão.
Essa sensibilidade a variância térmica é prevista em projeto e é verificada
através de testes como estabilidade térmica, penetração/perfuração por prego,
sobrecarga, curto-circuito e experimentos TGA (Thermogravimetric Analysis), DSC
(Differential Scanning Calorimeter) e ARC (Accelerating Rated Calorimeter). A figura
5 abaixo ilustra o mecanismo de carga e descarga dessas células/baterias e a figura
6 a energia especifica por densidade. (CRUCELLO e MACÁRIO, 2017)
Figura 7- Representação gráfica dos diferentes tipos de bateria quanto a densidade de
energia por peso e por volume.

Fonte: CRUCELLO e MACÁRIO (2017).

2.8 Thermal runaway e thermal runaway propagation


Segundo CRUCELLO e MACÁRIO (2017) as baterias de lítio apresentam um
risco de gerar reações exotérmicas e consequentemente gases altamente
inflamáveis quando danificadas, furadas, em curto circuito, aquecida ou com algum
outro tipo de defeito. Esses gases podem gerar um ambiente propício para chamas
e explosões pois produz seu próprio combustível e comburente. Esse aumento de
temperatura de forma a gerar tais consequências é conhecido como thermal
runaway. Ou seja, uma bateria danificada pode iniciar um processo de combustão
ou explosão espontânea.
28

Esta disrupção térmica é capaz de causar uma propagação de temperatura e


assim afetando demais baterias ao seu redor, sofrendo do mesmo efeito de thermal
runaway. Esta propagação entre demais baterias é conhecida como thermal
runaway propagation.
Ainda segundo CRUCELLO e MACÁRIO (2017), o Halon 1301, agente de
supressão encontrado em compartimentos de carga da classe C presente em
aeronaves nos compartimentos de carga de uma aeronave de passageiro, é ineficaz
no controle de um incêndio com baterias de metal lítio pois ocorre uma rápida
propagação do fogo dentro de um compartimento de carga para outros materiais
inflamáveis

2.9 Variação da carga da bateria (State of Charge – SOC)


A variação da carga da bateria ou O state of charge, é a representação de
quantidade de energia acumulada em uma bateria de íons de lítio.
Uma bateria totalmente carregada possui um SOC de 100% e
consequentemente por possuir uma maior energia acumulada, caso ocorra algum
dano, o poder de Thermal runaway será maior.

2.10 Ações que levam a inicialização


Segundo a Federal Aviation Administration - FAA (2010) as ações descritas
abaixo tem o poder de inicialização do processo de thermal runaway:
Superaquecimento decorrente de defeitos de fabricação, mal funcionamento, uso
inadequado (sobrecarga/descarga rápida), curto-circuito ou fogo externo envolvendo
as baterias.

2.11 Histórico de acidentes envolvendo o transporte de Artigos Perigosos – ValuJet


592
Conforme (VIEIRA e ATHAYDE, 2011, pag 3 e 4)

ValuJet Voo 592 Às 13h10 do dia 11 de maio de 1996, com cerca


de uma hora de atraso, o DC-9 de 27 anos, da ValuJet, chegou a Miami
procedente de Atlanta. O atraso acontecera devido a problemas de
manutenção envolvendo o disjuntor direito da bomba hidráulica Havia
outros itens com panes elétricas, entre eles o Passenger Address (PA),
29

usado para comunicação com a cabine de comando e comunicação com os


passageiros, que alternava fases operantes (quando estava no solo) e não
operante (durante o voo). Durante a etapa do voo Atlanta Miami, os
comissários de bordo usaram um megafone para efetuar a comunicação
com os passageiros. Todos os problemas estavam reportados em várias
folhas do livro de bordo, porém, para não parar o avião, aplicavam somente
providências paliativas e não soluções corretivas. Naquele dia, a
manutenção também não conseguiu resolvê-los. Decidiram, então, seguir
viagem assim mesmo, para que o tempo em solo em Miami fosse reduzido
ao máximo e para evitar atrasos adicionais no voo. Assim que o DC-9
parou, as equipes de terra apressaram-se em abordar a aeronave para
iniciar os trabalhos, abriram os porões, retirando com urgência carga e
malotes, reabasteceram o jato, embarcaram as malas dos passageiros do
Voo 592, bem como a carga de porão. Dentre as 4 mil

libras de carga declaradas, havia bagagem, correio e materiais de


uso da própria companhia, classificados e etiquetados como Company
Material (COMAT). O material da companhia consistia de dois pneus e duas
rodas para o trem de pouso principal, uma roda e um pneu da bequilha e
cinco caixas identificadas como "cilindros de oxigênio vazios". Esse material
violava regulamentos da ICAO da proibição do transporte em aeronaves,
sob quaisquer circunstâncias, substâncias sujeitas a produzir calor ou gás
sob condições normalmente encontradas no transporte aéreo; caso dos
geradores químicos. A SabreTech, além de embarcá-los embrulhados em
plástico bolha, material impróprio para esse tipo de material, alojou-os com
outros materiais altamente inflamáveis (pneus e papéis). O anexo 18 da
ICAO, que trata do transporte seguro de artigos perigosos por via aérea,
estabelece que as empresas aéreas devam fornecer para os funcionários,
inclusive das firmas terceirizadas, treinamento em artigos perigosos. No
caso da valuJet, esse treinamento não foi fornecido, e também não houve
preocupação da empresa em fiscalizar o treinamento de artigos perigosos
dos funcionários da SabreTech, empresa contratada. O National
Transportation Safety Board (NTSB) constatou que, devido à diferença de
pressão, os módulos geradores químicos, que estavam sem a tampa de
proteção, transformaram-se em verdadeiros maçaricos, causando um
incêndio e grande concentração de fumaça na cabine de passageiro. A
situação agravou-se, quando a comissária de bordo abriu a porta da cabine
de comando várias vezes, por não poder efetuar a comunicação por meio
do PA, para avisar sobre a fumaça e solicitar que o comandante liberasse
as máscaras de oxigênio para passageiros (procedimento este que, em
caso de fumaça a bordo, não pode ser efetuado). Sua ação resultou na
30

introdução de mais fumaça no cockpit. Precisamente às 14h13min42, o DC-


9 mergulhou no Everglades, matando todos seus ocupantes.

O NTSB constatou que a causa primária provável do acidente foi o


erro da SabreTech em preparar, identificar e impedir o transporte dos
geradores químicos de oxigênio. Como fator contribuinte, identificou a falha
da própria ValuJet em inspecionar o trabalho da SabreTech e em garantir
que fosse realizado corretamente. O NTSB acusou, ainda, a FAA de não
obrigar as empresas a instalarem sistemas de monitoramento de fogo nos
porões das aeronaves. E, finalmente, o NTSB acusou, tanto a SabreTech,
como a ValuJet, de desconhecerem as normas de transporte de materiais
potencialmente perigosos, como publicado pelo órgão em sua
recomendação (NTSB/AAR-97/06).

Figura 8- DC-9 Valujet

Fonte: Airlines.net.

2.12 Acidente envolvendo o transporte de Baterias classificadas como Artigos


Perigosos - B747 UPS 6
No dia 3 de setembro de 2010, um 747-44AF, matrícula N571UP, caiu
próximo a Dubai nos Emirados Árabes Unidos.
O voo UPS 6 seguia de Dubai para Colônia na Alemanha. Após 22 minutos
de voo, a aproximadamente 32,000ft, a tripulação avisou ao controle de área do
Barein que havia uma indicação de fogo a bordo no deque de carga principal. Os
pilotos declararam emergência e o comandante decidiu retornar para DXB. O fogo
31

iniciado no deque de carga aconteceu em algum ponto após a decolagem. Após 3


minutos do primeiro alerta aural e visual de fogo, os sistemas de controle de voo
foram danificados pelas chamas o que impossibilitou o voo manual. Durante o
retorno, a tripulação realizou o checklist de fogo, porém o sistema de supressão, que
elimina o oxigênio dos compartimentos de carga, não estava sendo efetivo pois o
fogo estava se alastrando para os outros pallets de forma descontrolada.
Com mais focos de incêndio sendo iniciados no compartimento de carga,
altos níveis de fumaça foram emitidos o que desencadeou em presença de fumaça
na cabine e impossibilitando a visualização por parte dos pilotos dos instrumentos de
voo e painel de rádio.
Por consequência do incêndio, o sistema de oxigênio suplementar do
comandante foi danificado e o mesmo precisou sair de seu posto de trabalho para
tentar reestabelecer um novo sistema de oxigênio de emergência, este presente no
jump-seat.
Deixando os controles de voo exclusivamente para o primeiro-oficial, o
comandante por sua vez, não retornou ao seu posto de trabalho, pois a fumaça tinha
o incapacitado.
Na tentativa de realizar um pouso utilizando o sistema de piloto automático,
ainda em condições seguras de operação, o primeiro-oficial por conta da alta carga
de trabalho, e, principalmente por não conseguir observar os instrumentos ao seu
redor foi incapaz de manter a aeronave estável para uma aproximação segura em
DXB.
A aeronave se aproximou para uma tentativa de pouso na pista 12L, porém
estava a 4500ft e a 340kts, impossibilitando a captura do glide slope e do localizar.
A fumaça obstruía a visão do PF, impossibilitando leitura dos Primary Flight Displays
(PFD) ou da vista de fora do cockpit.
O controle de tráfego, na tentativa de auxiliar o único piloto abordo para uma
nova aproximação em uma diferente pista, informa a disponibilidade do aeroporto de
Internacional de Shajah a 10nm de sua posição. O piloto foi orientado a realizar uma
curva a esquerda, porém a aeronave foi guinada para a direita e a uma baixa altura
o piloto automático foi desacoplado na tentativa de retomar a proa informada pelo
controlador.
Sem sucesso a aeronave perdeu os controles de voo e começou uma descida
descontrolada caindo a 9 milhes a sudoeste do aeroporto internacional de Dubai.
32

Não houve sobreviventes.


A autoridade de aviação civil dos UAE, Civil Aviation Authority of the United
Arab Emirates (GCAA), através do setor de investigação de acidentes foi possível
identificar através do manifesto de carga que diversos lotes com aproximadamente
81000 baterias totais foram a possível causa do acidente.
Foi constatado que se tratavam de Baterias de Íons de Lítio, consideradas
baterias de alto poder de armazenagem, porém se danificadas possuem um alto
nível de volatilidade, causando ignições que iam sendo repassadas para outras
células da bateria, causando um incêndio e criando um efeito domino pois outras
baterias eram atingidas pelas altas temperaturas e entravam em processo de
ignição.
Por fim, após a ajuda do NTSB o GCAA dos UAE emitiram 60
recomendações de segurança e dentre elas a adoção e desenvolvimento de
detectores de superaquecimento nos compartimentos classe E dentro de ULD’s;
alerta visuais que indiquem o local especifico do fogo para a tripulação;
desenvolvimento de sistemas de supressão de fogo, superaquecimento e resistência
nos ULD; a utilização mandatória de máscaras de oxigênio que cubram o rosto por
completo; Modificações no projeto do B747 para que os sistemas críticos não sejam
afetados como no acidente em questão, etc. (GENERAL CIVIL AVIATION
AUTHORITY OF THE UNITED ARAB EMIRATES, 2013)

Figura 9- Aeronave B747 da empresa cargueira UPS

Fonte: Wikipedia (2020).


33

2.13 Estudo de caso – Incidente com Mala Postal envolvendo o transporte de


baterias de lítio numa aeronave cargueira brasileira
Este é um estudo de caso de um incidente real ocorrido no final de 2018 num
estado brasileiro envolvendo o transporte de artigos perigosos ocultos. Através de
relatos de notificação e imagens é possível observar a presença de baterias de lítio,
porém sua classificação é indefinida.
Para fins de proteção e integridade do operador aéreos envolvido no
incidente, este terá seu nome preservado. Será utilizado o codinome: Operador
Alpha para o operador aéreo.
Incidente com artigo perigoso – 28/12/2018
Origem: Goiânia (SBGO)
Destino: Campo Grande (SBCG)
Aeroporto Internacional de Campo Grande – SBCG, dia 28/12/2018, após o
desembarque de malas postais da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
(ECT) de uma aeronave cargueira, provenientes de Goiânia, foi observado por parte
da equipe de solo da ECT um malote com forte cheiro de queimado.
Após a identificação do malote em questão, a brigada de incêndio do
aeroporto foi acionada a fim de realizar um suporte para a ocorrência. Ao analisar o
malote que havia sido incendiado, a equipe dos bombeiros constatou que o incêndio
tinha sido iniciado a pouco tempo, mais precisamente após a aeronave ter pousado.
Ao abrir o malote danificado foi identificado o volume que havia iniciado o incêndio e
constatado a presença de um temporizador utilizado ilegalmente para detonação de
caixas eletrônicos. A figura 10 ilustra o malote danificado após a detonação das
baterias

Figura 10- Malote da ECT danificado após a detonação das baterias


34

Fonte: Dados da pesquisa do autor.

Este temporizador continha baterias em seu interior que sofreram do processo


de thermal runaway o que levou ao incêndio dentro do malote, queimando outros
volumes que estavam juntos com a caixa com o produto. A figura 11 ilustra o
detonador que utilizava baterias de lítio.
Dessa forma, o operador Alpha foi informado sobre o incidente envolvendo
artigos perigosos em sua aeronave o mesmo realizou uma notificação de
ocorrências envolvendo o transporte de artigos perigosos (NOAP) para que uma
investigação do órgão regulador, a ANAC, investigasse e tomasse as devidas
providências sobre o acontecido.
Não houveram feridos ou danos na aeronave, apenas danos matérias nos
volumes que estavam dentro do malote incendiado.
Figura 11 - Detonador para caixa eletrônico

Fonte: Dados da pesquisa do autor


35

3 MÉTODO
A partir deste capítulo, será descrito o procedimento adotado para a
realização da pesquisa, sendo composto dos seguintes subtítulos: campo de
pesquisa, caracterização do método, instrumento de pesquisa e tratamento de
análise dos dados.

3.1 Campo de Pesquisa


Conforme apresentado nos capítulos anteriores, este trabalho utilizou como
fonte primária a análise documental de regulamentos, artigos científicos e relatórios
finais de acidentes. Todas as revisões de literatura relacionadas ao assunto e
seleção de ilustrações foram feitas nos idiomas: inglês e português, encontrados em
endereços eletrônicos de órgãos governamentais.
Em relação ao estudo de caso, os relatos apresentados foram extraídos pelo
autor durante seu período de trabalho na ANAC e por consulta pública, disponível
gratuitamente na internet, e tem como objetivo mostrar os riscos que uma operação
envolvendo o transporte de baterias pode causar.
Segundo dados obtidos na internet, o operador Alpha teve o início de suas
operações em 2010, operando exclusivamente como cargueira e prestando serviços
para a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) através da rede postal
noturna (RPN), além de outros serviços de carga que são realizados por demanda.
Em relação a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), esta por
sua vez é uma empresa pública federal responsável pelo sistema de
correspondências no Brasil. Sua criação foi em 1663, opera de forma exclusiva no
36

País e utiliza dos modais terrestres e aéreos para a realização das entregas das
correspondências.

3.2 Caracterização Do Método


O presente trabalho trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa com
abordagem descritiva e exploratória do tipo estudo de caso. O estudo de caso é uma
modalidade de pesquisa que permite uma investigação aprofundada do tema
escolhido em seu contexto real, proporcionando amplo e detalhado conhecimento
(GIL, 2002). Foi realizada também uma revisão bibliográfica acerca de leis,
regulamentos, atos normativos brasileiros e também manuais internacionais.

3.3 Instrumento De Pesquisa


Como instrumento de pesquisa, foi utilizado um banco de dados de uso
exclusivo da ANAC para o monitoramento de ocorrências que envolvem o transporte
de artigos perigosos no âmbito nacional. Além da revisão de artigos acadêmicos que
abordaram os riscos do transporte de baterias de lítio no âmbito do transporte aéreo,
estudos realizados por órgãos internacionais como o FAA e OACI e de operadores
aéreos como a UPS e FEDEX, além da própria Agência Nacional de Aviação Civil
(ANAC).
Todos as pesquisas, exceto a do banco de dados da ANAC, foram realizadas
através de endereços eletrônicos dos órgãos competentes e foram obtidos
gratuitamente na internet.

3.4 Tratamento e Análise de Resultados


Todos os documentos analisados que mencionavam o operador do estudo de
caso em questão tiveram seus nomes modificados para Operador Alpha, a fim de
preservar a integridade da organização.
Os dados apresentados neste trabalho foram obtidos através do banco de
dados de ocorrências da ANAC que envolviam o transporte de artigos perigosos e
de processos eletrônicos disponíveis na internet através de consulta pública. Com
isso, foi possível filtrar as relações de ocorrência entre o operador Alpha e a
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) a fim quantificar os números e
apresentar para o leitor os riscos que este tipo de operação pode estar enfrentando.
37

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente trabalho buscou analisar através do estudo de caso da empresa
Alpha as possíveis consequências que o transporte oculto de baterias pode causar.
De início, é de suma importância compreender que Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos (ECT), envolvida no incidente do estudo de caso supracitado,
possui restrições para realizar o transporte de malas postais pelo modal aéreo. Com
exceção do disposto abaixo, artigos perigosos estão proibidos de serem
transportados pela empresa ECT, conforme RBAC 175.

(1) amostras de material para exames médicos laboratoriais, desde


que estejam devidamente classificadas, embaladas e marcadas;

(2) substâncias infecciosas enquadradas somente na Categoria B -


UN 3373, quando embaladas de acordo com a Instrução de Embalagem
650 da Parte 4 do DOC. 9284-AN/905, e dióxido de carbono sólido – gelo
seco –, quando usado como refrigerante para a UN 3373; e

(3) material radioativo, desde que a atividade não ultrapasse um


décimo do estipulado na TABELA 2-15 do DOC. 9284-AN/905.

(j) Exceto como previsto neste Regulamento, ninguém pode


transportar um artigo perigoso em embalagem, recipiente externo ou sobre-
embalagem, a não ser que a embalagem, o recipiente ou a sobre-
embalagem tenham sido inspecionados pelo operador imediatamente antes
de colocá-los na aeronave ou dispositivo de carga, observado que:
38

(1) não devem apresentar rasgos, vazamentos ou outra indicação


de que sua integridade esteja comprometida; e

(2) no caso de produtos radioativos – Classe 7 –, exceto para


embalagens contidas em sobreembalagem que não necessita ser
inspecionada quanto a integridade de seus selos, não tiver seu selo
rompido (AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL - ANAC, 2019, p. 6).

Adicionalmente, é importante ressaltar que a Empresa Brasileira de Correios


e Telégrafos (ECT) não está autorizada a realizar o transporte de equipamentos
eletrônicos contendo baterias de íon lítio – UN 3481 (Lithium ion batteries contained
in equipment) bem como baterias de metal lítio – UN 3091 (Lithium metal batteries
contained in equipment), devendo esta empresa solicitar uma autorização especifica
para cada transporte que envolvam baterias.

2.3 – Transport of Dangerous Goods by Post:

2.3.2 The following dangerous goods may be acceptable in mail for


air carriage subject to the provisions of the appropriate national authorities
concerned and these Instructions which relate to such material:

[…]

d)lithium ion batteries contained in equipment (UN 3481) meeting


the provisions of Section II of Packing Instruction 967. No more than four
cells or two batteries may be mailed in any single package; and

e) lithium metal batteries contained in equipment (UN 3091) meeting


the provisions of Section II of Packing Instruction 970. No more than four
cells or two batteries may be mailed in any single package.

2.3.3 The procedures of designated in equipment postal operators


for controlling the introduction of dangerous goods in mail into air transport
are subject to review and approval by the civil aviation authority of the State
where the mail is accepted.

2.3.4 Before a designated postal operator can introduce the


acceptance of lithium batteries as identified in 2.3.2 d) and e) they must
have received specific approval from the civil aviation authority. (ICAO,
2018, Part 1, 1-2-2)
39

Para que o transporte de baterias fosse aprovado pela agência reguladora, a


empresa em questão deveria apresentar defesas em seu sistema de segurança
operacional, exemplificando políticas e procedimentos padrões, como treinamento
em artigos perigosos para todos os funcionários envolvidos com os processos de
identificação, classificação, embalagem, marcação, etiquetagem e documentação.
Assim, o transporte seria realizado de forma mais segura e respeitando todos
os regulamentos nacionais e internacionais para o transporte de artigos perigosos
pelo modal aéreo.
Através da nota técnica NOTA TÉCNICA Nº 1/2019/GTAP/GCTA/SPO –
Processo: 00065.000801/2019-39, é possível observar inúmeras Irregularidades no
transporte aéreo de artigos perigosos por via postal. Conforme a nota informa,
irregularidades envolvendo o transporte de baterias de lítio são observadas
envolvendo a ECT desde 2011.
4.1 Análise de risco
No ano de 2019 o autor obteve acesso a uma base de dados que continha
todas as ocorrências registradas pela ANAC e dessa forma foi desenvolvido um
estudo para observar a quantidade de ocorrências que envolviam exclusivamente as
duas empresas relatadas no estudo de caso.
Através da plataforma SharePoint, utilizada como banco de dados de
ocorrencias pelo Órgão Regulador (ANAC), foi realizado um levantamento
documental no mesmo ano a fim de mensurar o número de notificações de
ocorrências (NOAP) que envolviam o transporte de artigos perigosos ocultos como
mala postal.
Filtrando todas as ocorrências caracterizadas como artigos perigosos ocultos
com malas postais, foi possível identificar 4 operadores aéreos que realizavam o
transporte regular de malas postais.
Este levantamento teve como base as ocorrências consideradas como artigos
perigosos ocultos por mala postal entre os anos de 2015 a 2018.
A partir deste levantamento, foram identificadas 51 ocorrências que envolviam
o transporte oculto de malas postais sob a responsabilidade da EMPRESA
BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT.
Destas 51 ocorrências totais, 35 notificações foram enviadas à ANAC pelo
operador de codinome Alpha, do estudo de caso em epígrafe, caracterizando uma
porcentagem de 68% do número total de ocorrências notificadas que envolviam
40

malas postais. A tabela 1 demonstra graficamente o número de ocorrências


notificadas por operador aéreo.

Tabela 1– Número de ocorrências envolvendo o transporte de malas postais em aeronaves

N° de ocorrências envolvendo o Transporte


de Artigos Perigosos em Malas Postais

16

35

Operador Alpha Outros Operadores

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2019).


A ANAC, através da nota técnica, informa um numero parecido:

“[...] somente no  período de janeiro de 2017 à dezembro de 2018,


esta Gerência Técnica recebeu 47 (quarenta e sete) Notificações de
Ocorrências com Artigos Perigosos mencionando a ECT  na condição de
operador designado postal, o que corresponde a cerca de 17% de todas as
notificações recebidas pela GTAP no período. [...]” (ANAC,2019)

As 35 notificações enviadas à ANAC, que envolviam e ECT, foram recebidas


entre os meses de janeiro de 2018 a dezembro do mesmo ano.
Das 35 ocorrências reportadas pelo operador Alpha, 17 envolviam o
transporte de UN3481, 7 notificações mencionavam UN3091 e 2 ocorrências
envolviam o transporte de UN3480. Ou seja, do total de 35 notificações, 26
ocorrências relatadas envolviam exclusivamente o transporte oculto de baterias de
lítio como mala postal. A tabela 2 demonstra quais foram os artigos perigosos mais
identificados (através de NOAP) pelo operador Alpha entre os meses de janeiro e
dezembro de 2018
41

Tabela 2- Quantidade de artigos perigosos mais transportados como mala postais em


aeronaves do operador aéreo Alpha

UN Transportadas
18
16
14
12
10
8 17
6
4 7
2
1 1 1 1 2 1 2 2
0
3 5 7 0 1 1 3 0 1 o
126 184 197 290 308 309 337 348 348 c ad
UN UN UN UN UN UN UN UN UN t if i
den
i
o

Fonte: Dados da pesquisa do autor (2019).

Como visto acima e informado na nota técnica supracitada, outros artigos


perigosos foram transportados e posteriormente identificados através de reportes,
causando danos por vazamentos e violações por levar materiais explosivos pelo
correio:

“Dentre os tipos de ocorrências relatados envolvendo a ECT, o mais


comum é o transporte oculto de bateria de lítio, mas não pode-se deixar de
mencionar casos de vazamento de produtos corrosivos em porão de
aeronave e transporte de explosivos”. (AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO
CIVIL, 2019)

Com estes números e baseando-se na metodologia definida pelo manual da


ICAO de Gerenciamento de Risco (ICAO, Doc 9859AN/474) foi classificado o evento
do estudo de caso e das outras diversas ocorrências envolvendo o transporte de
equipamentos eletrônicos contendo baterias de lítio com a ECT.

A seguir, é mostrado o extrato da metodologia usada para classificação da


probabilidade e severidade com base no modelo descrito neste Manual.
42

Figura 12- Tabela de Probabilidade do evento

Fonte: ICAO, adaptado por ANAC (2019).


Figura 13- Tabela de Severidade do Evento

Fonte: ICAO, adaptado por ANAC (2019).

 
43

Assim, considerando a quantidade bem como o tipo de ocorrências recebidas


mencionando a ECT na condição de operador designado postal, foi classificado a
Probabilidade de um evento envolvendo baterias de lítio numa aeronave de carga
como FREQUENTE (Valor 5) e a Severidade do Evento como CRÍTICO (Valor B).

Figura 14- Matriz de risco

Fonte: ICAO, adaptado por ANAC (2019).


Ainda de acordo com o Manual ICAO, a partir dessa classificação, obtém-se a
tolerabilidade do risco, conforme tabelas a seguir:

Figura 15- Índice de tolerabilidade

Fonte: ICAO, adaptado por ANAC (2019).

Dessa forma, observa-se que para a classificação adotada, o Índice de


avaliação de Risco é 5B, sendo considerado, portanto, inaceitável sob as
circunstâncias existentes.
44

4.2 A cultura de Notificação de Ocorrências


A cultura de notificação de ocorrências é vista pelo setor regulado como uma
forma de identificação de culpa e geração de multas. Por mais que a ANAC tente
realizar promoções de mitigação de risco, conhecidas internamente como plano de
análises corretivas (PAC), tais soluções apresentadas pelo setor regulado
envolvendo artigos perigosos, em alguns casos, são ineficazes e não conseguem
mitigar as consequências dos perigos. Esta ineficácia leva ao desenvolvimento de
reservas financeiras exclusivas para pagamento de multas, pois na maioria dos
casos, torna-se mais rentável realizar um pagamento de multa gerada por uma
notificação de uma ocorrência do que realizar a implementação de novos
procedimentos que visem aumentar a segurança deste sistema que se encontra
bastante fragilizado.
Por fim, com o pagamento de multas e conclusão dos processos de
investigação, os operadores voltam a cometer os mesmos erros e violações, e,
consequentemente, quando identificado tais atos inseguros, um novo processo de
investigação é aberto pela ANAC e este fluxo de multas e de novas notificações se
inicia mais uma vez, como um sistema de autoalimentação.
Este fluxo acima descrito é facilmente observado a partir do momento que um
número elevado de ocorrências com causas similares, se não iguais, é notificado e
as mesmas ações, tanto pelos prestadores de serviço, quanto pelo setor regulador
são tomadas.
Tal abordagem que é realizada pela ANAC perante as ações dos regulados é
em sua maioria de caráter reativo e ineficaz. É importante a adoção de medidas que
forcem os prestadores de serviços a tomarem ações de mitigação, isso levará a um
aumento da segurança da operação e uma queda no número de ocorrências
envolvendo o transporte de baterias de lítio, e outros artigos perigosos no geral

4.3 Falhas latentes no sistema de carga aérea brasileiro envolvendo malas postais
Os resultados contidos neste trabalho acadêmico apresentam falhas latentes
como:
 Falta da alta administração da ECT em promover treinamentos que
envolvam o transporte de artigos perigosos para seus funcionários;
 Falta de uma cultura de segurança por parte da ECT, visando normas e
regras que envolvam o transporte de baterias pelo modo aéreo.
45

 Análises realizadas pela ANAC, em sua maioria, consideradas como


reativas pelo fato de simplesmente tomar como ações mitigatórias o
pagamento de multas como forma de solucionar o problema apresentados
nas NOAP;
 Falta de gerenciamento de recursos humanos pela ANAC, apontando para
uma falta de recrutamento de funcionários para a realização de inspeções
que visem identificar o dia a dia das operações ou encontrar falhas nos
processos operacionais que envolvem os operadores aéreos de carga.
 Desenvolvimento de uma cultura de pagamento de multas por parte dos
prestadores de serviços aeronáuticos que não solucionam os problemas
identificado nas ocorrências.

Embora não tenha ocorrido nenhum acidente envolvendo o transporte de


baterias em aeronaves de carga brasileiras, não está descartada esta possibilidade
e caso nenhuma ação seja tomada, um acidente é visto como uma possibilidade
eminente pelo autor. Esta eminência está atrelada ao total despreparo das equipes
da ECT que não fiscalizam quais tipos de volumes estão sendo embarcados nas
aeronaves de carga e ao órgão regulador que não promove medidas eficazes para a
atenuação das ocorrências.
46

5 CONCLUSÃO
Como visto ao longo deste trabalho, para que os artigos perigosos sejam
embarcados com segurança numa aeronave de carga, diversas ações precisam ser
tomadas antes, durante e após o voo.
Através das revisões bibliográficas, dos relatórios finais de acidentes, e,
principalmente no escopo nacional apresentado através do estudo de caso com o
operador Alpha, este trabalho teve o objetivo de apresentar os perigos e os riscos
relacionados ao comercio eletrônico e o transporte de baterias de lítio em aeronaves
de carga, através dos Correios.
Este e-commerce de produtos eletrônicos que contem baterias de lítio,
impulsionado por uma população cada vez mais dependente da tecnologia, fez com
que o transporte aéreo de cargas se adaptasse aos novos riscos impostos por estas
pequenas e poderosas fontes energéticas.
O Acidente do voo UPS 6, relatado nos capítulos anteriores, mostrou para a
comunidade aeronáutica, e, principalmente para o painel de especialistas da ONU,
que o processo logístico para o transporte de baterias de lítio precisava ser
modificado. Com a identificação de falhas latentes neste processo, foi possível que a
OACI determinasse a proibição do transporte de baterias de lítio classificadas como
UN3480 e UN3090 para aeronaves de passageiro, deixando tal transporte exclusivo
para aeronaves cargueiras.
47

Porém, em âmbito nacional é observado diversos problemas graves que


podem pôr em risco a operação de uma empresa que transporta cargas e malas
postais.
O transporte de baterias de lítio, como visto anteriormente, é proibido como
mala postal e precisa de uma prévia autorização da ANAC para que o transporte
seja realizado. Entretanto, estudos feitos pelo autor e pela própria ANAC apontam
para um cenário fora de controle, onde o transporte de baterias de lítio como mala
postal é realizado na maioria das vezes sem o prévio conhecimento das equipes de
solo que fazem o carregamento da aeronave, e, consequentemente não conseguem
transmitir de forma exata o que é embarcado para os pilotos.
Tal afirmação para os reais riscos da operação com malas postais é
fomentada pelo estudo do autor e da ANAC que identificou diversas notificações
envolvendo a ECT e o transporte de baterias de lítio.
Conforme o autor deste trabalho, a identificação de 35 notificações de
ocorrência envolvendo artigos perigosos, sendo 26 notificações exclusivas para
baterias de lítio, acabam por demonstrar na prática que os níveis de segurança não
estão em conformidade.
Essa afirmação, incentivada pelo índice de avaliação de risco do manual da
ICAO (Doc 9859AN/474) feito pela ANAC, aponta para uma classificação inaceitável
sob as circunstâncias existentes.
Entre essas diversas ocorrências no ano de 2018, o incidente do estudo de
caso com o operador Alpha retratou de forma preocupante as prováveis
consequências da falta de defesas nos diversos sistemas da operação do operador
aéreo Alpha e da EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT.
Até o presente momento, apenas se tem notícia desta explosão evidenciada
no estudo de caso.
Em relação ao número de 35 notificações envolvendo baterias de lítio ocultas
pelo operador Alpha em 1 (um) ano, na opinião do autor, este número representa
uma pequena parcela do real número de notificações que deveriam ser recebidas
pela ANAC. Isto é reforçado pelo fato de uma falta de treinamento por parte dos
Correios e das demais falhas latentes mencionadas ao longo do trabalho.
Além do mais, existem outros operadores aéreos que fazem transporte de
malas postais e que sem dúvidas, acabam não observando por completo o fluxo das
malas postais até serem embarcados nas aeronaves.
48

Como dito acima, a tendência é que cada vez mais baterias de lítio sejam
transportadas e com a aplicação do e-commerce, a possibilidade de compra e venda
de produtos novos, usados e com defeito fazem com que o os riscos associados ao
transporte inadequado de baterias aumentem, necessitando de tomadas de ações
rápidas para controle e mitigação dos riscos.

5.1 Desenvolvimento de formas de mitigação do risco


Os perigos sempre existirão num sistema, ainda mais um sistema complexo
como o da aviação, porém quando é identificado os perigosos, medidas devem ser
realizadas imediatamente para que consequências negativas não aconteçam, e
assim, tentar mitigar ao máximo os riscos da operação.
Considerando as características do transporte aéreo de carga brasileiro, as
seguintes considerações poderiam tentar ser aplicadas como forma de mitigação do
risco para o transporte de baterias como mala postal em uma aeronave de carga:

a) Treinamento de Artigos perigosos: Há uma necessidade imediata


por parte da ECT pela implementação de um sistema de treinamento
inicial e periódico de artigos perigosos para seus funcionários. Com
este treinamento, os funcionários seriam capazes de identificar
volumes que contenham qualquer tipo de artigo perigoso e assim tomar
as devidas soluções para que o produto seja entregue pelo modal mais
conveniente.
b) Treinamento dos pilotos em simulador para fogo nos
compartimentos de carga: É importante a realização de treinamentos
periódicos de fogo em compartimento de carga para que os pilotos
brasileiros tenham condições de tomar ações imediatas para este tipo
de evento. Cabe ressaltar a importância do órgão regulador e dos altos
níveis gerencias das empresas aéreas observando continuamente a
operação diária dos treinamentos e dos voos a fim de manter os níveis
de segurança dentro de uma escala aceitável. A adoção dos
programas de vigilância como o Flight operations quality assurance
(FOQA) e o Line Operations Safety Audit (LOSA) devem ser aplicados
no dia a dia das operações a fim de serem ferramentas proativas para
49

o auxílio na identificação de perigos e consequentemente promover a


prevenção de ocorrências.
c) Desenvolvimento de proteção em ULD: Os volumes que contenham
artigos perigosos que forem embarcados sem a ciência da tripulação,
serão caracterizados como artigos perigosos ocultos. Conforme
CRUCELLO e MACÁRIO (2017), todos os volumes que entrassem
numa aeronave que transporta cargas e ou malas postais, seriam
redirecionados a ULD’s que contenham sistema de identificação aural
e visual nas cabines dos pilotos possibilitando identificar a localidade
exata da ULD em caso de fogo e ou fumaça e assim tomar as devidas
ações que estão presentes em guia de resposta a emergência.

CRUCELLO e MACÁRIO (2017) ainda destacam que estudos estão sendo


realizados na aplicação de ULD’s que possuam sistema de resistência e
identificação fogo e fumaça. Testes em um fogo comum, oriundo de materiais
combustíveis, obtiveram resultados positivos, porém testes realizados com baterias
de metal e íons de lítio resultaram em explosão do container devido a formação e
acumulo de gases inflamáveis.
Figura 16 – ULD de teste com supressor de fogo

Fonte: FAA, 2014

d) Capas de contenção de chamas/fogo: CRUCELLO e MACÁRIO


(2017), ainda apontam para a aplicação de capas antichamas em
50

pallets. O autor deste trabalho acredita que tal aplicação poderia ser
utilizada em volumes dos correios a fim de criar uma barreira de defesa
caso um incendia se inicie no deck de carga. Foi comprovado que as
capas são efetivas contra fogo comum oriundo de materiais
combustíveis, porém não há plena certeza de seu funcionamento
quando aplicado em baterias de lítio.

REFERENCIAS

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Instructions for the Safe Transport of Dangerous Goods by Air. 2019–2020 Edition
ed. Montréal, Quebec, Canada, 2019-2020. 1002 p.

INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. DOC 9859: Safety


Management Manual. Fourth Edition ed. Montréal, Quebec, Canada, 2018. 182 p.

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BRASIL. ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). Regulamento Brasileiro da


Aviação Civil: RBAC nº 175. Emenda nº 02. Brasília: ANAC, 2019. Disponível online
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175/@@display-file/arquivo_norma/RBAC175EMD02.pdf> Acesso em: 13 mar.
2020.

BRASIL. ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). PROPOSTA DE EDIÇÃO DE


RESOLUÇÃO QUE PROÍBE O TRANSPORTE DE BATERIAS ÍON LÍTIO COMO
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BRASIL. ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). Apuração/Denúncia:


Apuração/Denúncia Artigos Perigosos/ Processo: 00065.000801/2019-39, janeiro
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In: The Economic Times. 2017, disponível em:
<https://economictimes.indiatimes.com/magazines/panache/apple-watch-series-3-
review-the-smartwatch-is-more-refined-elegant-and-effortless/articleshow/
61237557.cms> Acesso em: 05 jun. 2020.

GLOSSÁRIO

Acidentes Imputáveis a Artigos Perigosos. Uma ocorrência relacionada com o


transporte de artigos perigosos pelo modal aéreo e que resulte em morte ou sérios
danos a pessoas, propriedade ou danos ao meio ambiente. Um acidente imputável a
artigo perigoso pode constituir um acidente aeronáutico, conforme especifica o
Anexo 13 da Convenção sobre Aviação Civil Internacional.
Aeronave de carga: Toda aeronave, que não de passageiros, que transporta
mercadorias ou bens tangíveis.
Bateria: Duas ou mais células ou baterias que estão ligadas eletricamente em
conjunto e equipadas com dispositivos necessários para utilização, por exemplo:
envolto, terminais, marcação e dispositivos de proteção.
Célula: Uma única unidade eletroquímica contida em um envolto, com um eletrodo
positivo e um eletrodo negativo que apresenta um diferencial de tensão nos seus
dois terminais e pode conter dispositivos de proteção.
54

discrepância com artigo perigoso - significa toda ocorrência que não resulte em
um incidente ou acidente com artigo perigoso e que esteja relacionada ao transporte
de artigos perigosos declarados, classificados, embalados, marcados, etiquetados
ou documentados em desacordo com o RBAC nº 175 ou com as Instruções
Técnicas;
Dispositivo de carga unitizada (Unit Load Device - ULD) significa todo tipo de
contêiner de carga, contêiner de avião, palete de aeronave com rede ou palete de
aeronave com rede sobre um iglu.
NOTA: Esta definição não inclui as embalagens externas.
Embalagem - significa os recipientes e outros componentes ou materiais
necessários à sua função de contenção
Incidente imputável a artigos perigosos toda ocorrência – que não se enquadra
na definição de acidente – atribuída ao transporte aéreo de artigos perigosos, não
necessariamente a bordo de uma aeronave, que resulte lesão à pessoa, danos à
propriedade, incêndio, ruptura, derramamento, vazamentos de fluídos ou de
radiação e qualquer outra manifestação que ocasione vulnerabilidade à integridade
da embalagem. Qualquer ocorrência ou discrepância relacionada ao transporte de
artigo perigoso que ponha em risco à saúde, à segurança, à propriedade e ao meio
ambiente também é considerada um incidente. Um incidente imputável a artigo
perigoso pode constituir um incidente aeronáutico conforme especifica o Anexo 13
da Convenção sobre Aviação Civil Internacional.
Mala postal significa volume contendo correspondência e/ou outros objetos
confiados pelas administrações postais a uma empresa aérea para entrega a outras
administrações postais.
Membro da tripulação - significa pessoa que recebe obrigações do explorador a
serem cumpridas a bordo durante o período de serviço do voo.
Número da ONU - significa número de quatro dígitos designado pelo Comitê de
Peritos em Transporte de Artigos Perigosos das Organizações das Nações Unidas –
ONU – que serve para identificar uma substância ou um determinado grupo de
substâncias.
ocorrência com artigo perigoso: significa qualquer tipo de discrepância, incidente
ou acidente com artigo perigoso, incluindo a descoberta de artigo perigoso não
declarado.
55

operador postal designado (DPO) significa uma entidade, governamental ou não,


designada oficialmente por um país membro da União Postal Universal (UPU) para
operar serviços postais e cumprir com as correspondentes obrigações derivadas dos
atos da Convenção da UPU em seu território
Terminal de Carga Aérea (TECA) significa instalação aeroportuária dotada de
facilidades para armazenagem e processamento de carga, e onde ela é transferida
de uma aeronave para um transporte de superfície ou desse para aquela, bem como
para outra aeronave. O TECA pode estar localizado fora do terminal aeroportuário.
Classificação em Watt-hour: expressa em in Watt-hours (Wh), a classificação em
Watt-hora de uma célula ou bateria de lítio é calculada multiplicando a capacidade
nominal em ampères-hora pela tensão nominal.
56

ANEXO

Anexo B - Artigos
Anexo A - Artigos perigosos
perigosos diversos -
diversos, Classe 9
baterias de lítio, Classe 9

Fonte: DOC 9284/AN905


Fonte: DOC 9284/AN905
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