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‘Acta Paul. Eat, 10, nl, janJabr, 1997 SO DE ENFERMAGEM: Um Convite A REFLEXAO Fernanda Carneiro Mussi* Iveth Yamaguchi. Whitaker* Maria de Fatima Prado Fernandes* Terezinha Dalossi Gennari* Virginia Visconde Brasil** Dina de Almeida L.M.da Cruz"? MUSSI, F.C.; WHITAKER, LLY.; FERNANDES, M.P; GENNARI, T.0.; BRASIL, VV. ‘CRUZ , D.ALM. Proceso de enfermagam: um convite a reflexdo. Acta Paul Enf., So Paulo, v.10, n.1, p.26-32, 1997, RESUMO: Em 1972 MAUKSCH e DAVID fizeram algumas atirmagées sobre os. beneficios de se utilizar a prescricao de entermagem. Em 1987 DONNELY avaliou esas atirmagoe: frente a evolugdo da profiss4o. Com base nessas duas publicagbes foram elaboradas algumas reflexdes que compoem a presente publicagao. Partimos. do entendimento de que a implementagao do provesso de enfermagem em nosso meio pode trazer decepgdes se a ele for atribuido o potencial de trazer solugdes. para os sérios problemas da pratica de enfermagem. UNITERMOS: Enfermagem. Processo de Enfermagem, INTRODUGAO O processo de enfermagem incorporado ao ensino © a pritica de enfermagem ainda é um desafio para nos enfermeiros. E algo que parece fundamental em algumas circunstincias e, em outras, é desti- tuido de qualquer consideragdo ou importancia, Vemos e vivemos as dificuldades para tornd-lo realidade em nossas priticas. Quando o processo é possivel de ser implemen- tado, apesar de satisfeitos por sabermos estar vencida uma etapa, novas dificuldades advém para manté Joe para aprimorar o seu contetido. Quando estamos envolvidos em esforgos para implementi-Io no en- sino ou na pratica de enfermagem podemos estar contando com a garantia de alguns resultados que ~ Aluna de Pos-graduagao. Doutorado * Aluna de Pés-graduagao. Mestrado apenas pelo seu uso, ou por aquilo que podemos ver do seu uso, nio poderio ser alcangados As indagagGes originadas nas discusses sobre 6 processo de enfermagem sio muitas ¢ dificil seré encontrar quem as negue. Da mesma forma 0 ceticismo quanto aos seus possiveis beneficios e os relatos de que 0 uso do processo de enfermagem mio traz os beneficios esperados sio também expressos par quem quiser ouvir. Nessas mesmas discussdes sempre marcam presenga as posigées em que os efeitos benéficos oferecidos pela implementagao do pro- cesso so veementemente defendidas No ano de 1995, durante a disciplina Andlise Critica da Atuagéo do Enfermeiro em Unidade de Escola de Enfermagem da USP. Escola de Enfermagem d: use “++ Professor Doutor do Departamento de Enfermagem Mésivo-Cirurgica da Escola de Enfermagem USP, 26 MUSSI, RC. et al Terapia Intensiva, do Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem da Universidade de Sao Paulo, selecionamos como tema de seminério Método de Assisténcia: etapas, dificuldades e perspectivas Consideramos oportuno conduzir o trabalho de forma que houvesse possibilidade de abordar diferentes posigdes que sob as quais o assunto poderia ser visto, Na busca de estratégias que permitissem a ampla participagdo dos outros alunos identif mos na literatura a publicagio de DONNELY! em que faz uma critica a alguns possiveis beneficios do proceso de enfermagem. Essa publicagio é estruturada a partir de afirmagdes usadas por MAUKSCH e DAVID‘ em 1972 para justificar a incorporagiio do proceso de enfermagem a pritica de enfermagem. Considerando que 0 contetide das justificativas de MAUKSCH e DAVID’, apesar das s restrigées, ainda sao veiculados e a pro- priedade da critica conduzida por DONNELY' optamos por trabalhar com esses dois artigos no referido seminério, caracterizando-o como um convite & reflexdo. Esta publicagéo sumariza as discusses desenvolvidas durante 0 referido seminério e, é também um convite 8 reflexdo. Reflexdo sobre 0 que se atribui ao processo de enfermagem. Ou ainda: 0 que & que 0 uso do processo de enfermagem pode nos proporcionar? ‘As razées para 0 uso do processo de enfer- magem constituiram 0 eixo condutor das idéias expressas nas duas publicagées. Elas serio aqui apresentadas, bem como o contetido principal discutido na atividade académica que conduzimos. a RAZOES PARA O USO DO PROCESSO DE ENFERMAGEM MAUKSCH e DAVID® relataram que a possibili- dade da enfermagem nio existir por volta do ano 2000 vinha sendo comentada com crescente fre- giiéncia na década de setenta, pois temia-se que a sua contribuigao no cuidado a satide e doenga pudesse ser eliminada por aqueles mais poderosos nos grupos de tomada de decisio*. A partir desse pressuposto MAUKSCH e DAVID previam que a enfermagem seria uma discreta ocupagio a menos que as en- fermeiras adotassem o proceso de enfermagem como um modo de vida profissional. Prescreveram, entio, Acta Paul. Bot, v.10, 0.1, janJabe. 1997 de enfermagem como uma intervengio brevivencia da profissio, embareada num atalho de atividades difusas e sem uma pratica auténoma efetivamente visivel A importancia do processo de enfermagem foi atribuida, pelos autores acima referidos, por seis razbes que consideravam ser a matriz da contribui- Go de enfermagem para o cuidado & satide: método um meio de unificar a profissio; mostra a fungao da enfermeira através do uso da ciéneia, humanizagao ¢ habilidades; orienta para o cuidado individuali- zado; promovea satisfagao do cliente; permite avaliar a efetividade e a quantidade do cuidado prestado e direciona para a tomada de decisao independente. Em 1987 DONNELY' publicou uma critica as afirmagées feitas por MAUKSCH e DAVID* recon- siderando 0 mérito atribuido ao uso do processo de enfermagem na profissao. HENDERSON?> também analisou de forma critica a finalidade a que o método se propic e as dificuldades de sua utilizagio su- gerindo que se reconsidere as potencialidades atri- buidas ao processo de enfermagem para o desen- yolvimento da profissao. As afirmagées, feitas por MAUKSCH e DAVIDS e retomadas por DONNELY' sio as seguintes con- forme nossa tradugio: 1. Oprocesso de enfermagem é uma forma de unificar a profissdo, agora lamentavelmente dividida. Ele unird as distancias entre as varias ideologias da enfermagem em hospitais e outros locais € entre enfermeiras com diferentes tipos de for- magdo/educacdo. O efeito da unificagdo serd o uso de uma linguagem comum por pessoas de varios idiomas. 2. O processo de enfermagem mostra a fungao da enfermagem através do uso da ciéncia, arte, humanidade ¢ habilidades, uma combinagao que é especifica ¢ nao replicdvel 3. O processo de enfermagem resgata para a pro- {fissdo 0 seu compromisso de prestagao de cui- dados a pessoas, fundamentado na assisténcia individual, e portanto elimina a tendéncia atual de abandonar esta fungdo global para aqueles que niio esto preparados para cumpri-la. 4. O processo de enfermagem promove a satisfa- ¢do do cliente... a enfermeira favorece uma relaciio pessoa a pessoa, na qual o cliente é um parceiro 27 MUSSI, FC. et al ativo e participante na tomada de decisdo. A atual assisténcia & satide/doenga anénima e impessoal serd finalmente substituida pela abor- dagem personalizada ¢ individualizada. 5. O proceso de enfermagem proporciona um meio de avaliar a contribuicdo econdmica da enfer- magem em relagao a totalidade da assisténcia prestada ao cliente. Se a avatiagao é um com- ponente integral do processo de enfermagem, tanto a efetividade como a quantidade de ati- vidades de enfermagem podem ser determina- das e valorizadas economicamente. 6. O processo de enfermagem capacita a enfermei- ra a desenvolver seu potencial para tomada de decisiio independente sobre competéncias na qual tem autoridade, que antes nao eram usadas na realizagdo de funcdes, predominantemente, do tipo assistencial. s foram entregues aos part pantes do seminério, divididos em grupos, € sol citado que argumentassem contra e a favor das afirmagées de que dispunham, Esse procedimento j4 havia sido previamente desenvolvido pelos organizadores do seminario. Das reflexdes ¢ andlise ocorridas, tanto pelos autores quanto pelos participantes do seminirio, emergiram posigdes, questionamentos ¢ concepgdes relacionadas ao poder do processo de enfermagem, as quais so apresentadas a seguir e dizem respeito a cada uma das afirmagdes consideradas por MAUKSCH © DAVID’, como a prescrigio para a sobrevivéncia da enfermagem, UM CONVITE A REFLEXAO Afirmagio 1 O processo de enfermagem & uma forma de unificar a profissdo, agora lamentavelmente divi- dida. Ele unira as distancias entre as varias ideo- logias da enfermagem em hospitais e outros locais € entre enfermeiras com diferentes tipos de forma- sdofeducagao. O efeito da unificagao serd 0 uso de uma linguagem comum por pessoas de varios idiomas Partindo-se do pressuposto que as das profissées e dos grupos que as i leologias tegram se Acta Paul. Eat, ¥10, m1, jan/abe, 1997 constroem com base nas crengas, valores, aspectos culturais, formagao educacional e, especificamente em relacio a enfermagem, no referencial adotado para o cuidar, ndo € possivel que ao processo de enfermagem seja atribuida a finalidade de unir as distincias entre as varias ideologias da enferma- gem, em diferentes ambientes e entre os profissio- nais com diferentes tipos de formagdo. O processo de enfermagem é to somente um instrumento de trabalho que sugere uma seqiiéncia de racio légico, comum a varias atividades humanas, profissio- nais ou ndo. Nesse sentido, constitui-se numa ferra- menta que pode ser de uso comum pelas enfer- a pritica de sua profissio. © uso deste instrumento podera favorecer 0 direcionamento, a organizagio, 0 controle e a ava- liagdo das atividades inerentes ao cuidar. Possibi- litara mostrar or jo que as enfermeiras utilizam na sua pritica, isto é, 0 encadeamento de seus pen samentos € juizos. Questiona-Se como se processa a assisténeia de enfermagem quando a enfermeira afirma nao fazer uso do proceso como instrumento de trabalho, Daf emerge outra questo: 0 que é usar © processo de enfermagem? Freqlentemente isso 6 entendido como as situacdes em que as atividades nele envolvidas sio realizadas ¢ documentadas 0 que permite que sejam recuperadas para andlises que se fagam necessdrias, DONNELLY! atribui ao processo de enferma- gem a possibilidade de aleangar 0 uso de uma linguagem comum no que se refere & denominagao das fases que 0 compéem. Mesmo assim podemos admitir que diferentes perspectivas tedricas, quan- do aplicadas & pratica de enfermagem possam determinar que 0 “processamento” do cuidar tenha arcabouco diferente do que tem sido tradicional- mente compreendido como processo de enferma- gem. io meira ciocit Afirmagio 2 O proceso de enfermagem mostra a fungao da enfermagem através do uso da ciéncia, arte, humanidade ¢ habilidades, uma combinagdo que é especifica e nao replicavel’ A inserciio do processo de enfermagem na pritica € ensino da profissdo traz consigo um carter sim- 28 MUSSI, FC. et al bélico muito forte, isto é, a idéia de que somos profissionais engajados numa pratica cientifica e, portanto, reconhecidas por aquilo que somos € fa- zemos. No entanto, seu uso por si s6, mais repre- senta 0 nosso referencial simbélico, ou seja, 0 desejo de ser, do que propriamente estabelece a profissao sob bases cientificas, contribuindo para 0 aleance do status por ela tio desejado. Nao € propriamente 0 uso do processo que promove a desejada reagio cm cadeia: o aleance de bons resultados assistenciais, a melhoria da qualidade da pratica ¢ em conseqiiéncia disso 0 status da profissdo, mas sim as qualificagdes pro- fissionais da enfermeira que possibilitam usar o método para conduzir o contetido do cuidar de forma a melhorar a pratica. Portanto, a ciéneia, a arte, a humanidade ¢ as habilidades, ou seja, a compe téncia profissional pode ser mostrada no uso do processo, mas no é decorréncia garantida do uso do método. © processo de enfermagem & um instrumento de trabalho, um modo de raciocinio, cuja implemen- tagiio deve, entdo, pressupor que a enfermeira traga consigo a competéncia profissional, a sistematiza- G0 do conhecimento que a atividade cuidativa demanda. A consisténcia, 0 contetdo que permeia € alicerga 0 método sio influcnciados pela com- peténcia do profissional que o implementa ¢ por fatores estruturais do local onde 0 cuidado acon- tece. A pritica livre ¢ criativa da enfermeira no uso do método em tocais especfficos, determina seu sucesso, DONNELLY! afirma que enfermeiras compro- metidas com seu trabalho e que acreditam no seu valor para o cliente, podem obter melhores resul- tados com o uso do processo nos ambientes que valorizam a pratica da enfermagem e€ 0 seu poten- cial para obter resultados positivos. Nos locais onde as enfermeiras so vistas e assumem o papel de ajudantes subordinadas, 0 potencial do processo diminui consideravelmente Nos hospitais onde as atividades de enferma- gem refletem uma série de atribuigdes burocrati- cas, determinadas fora do contexto da assisténcia, ‘ou geradas por ordem de outros, contribuem, se- gundo MAUKSCH ¢ DAVIDS para impedir a qua- lificagdo do cuidado de enfermagem. Isso indica ‘Acta Paul, Ent, v.10, 0.1, janJabr: 1997 que 0 potencial do processo de enfermagem, além de depender da qualificagio © compromisso pro- fissional, é também influenciado por um contexto mais amplo e dominante, 0 forte poder institucional. A questao, entio, niio é negar ou desmerecer 0 método, mas relativizar sua posigdo e nio abusar de sua real dimensio; tirar 0 peso a ele atribuido, isto 6, buscar os seus reais limites. Essa postura pode constituir uma forma de diminuir a resistén- cia que algumas enfermeiras impdem ao uso do método. Nesse contexto, questiona-se o referencial simbélico do processo de enfermagem o que faz urgente a necessidade de refletir, de fato, sobre aguilo que somos, queremos e¢ fazemos e sobre como lidamos com o poder e controle existentes nas instituigdes em que trabalhamos. Afirmagio 3 O processo de enfermagem resgata para a profissao 0 seu compromisso de prestacdo de cuidados 4 pessoas, fundamentado na assisténcia individual, ¢ portanto elimina a tendéncia atual de abandonar esta fungao global para aqueles que ndo estao preparados para cumpri-la’. A prestagio de cuidados individualizados ao cliente tem sofrido influéncia de fatores relacio- nados & propria evolucdo da assisténcia prestada pela enfermagem no ambiente hospitalar e, tam- bém, daqueles que dizem respeito 4 competéncia profissional e a filosofia de enfermagem. Em decorréncia da influéncia de disciplinas religiosas, militares, governamentais © dos princi- pios de administragio de fabricas, que enfatizam a eficiéncia e a produgdo em massa, a assisténcia prestada era centrada mais em rotinas hospitalares em detrimento do planejamento do cuidado que atendesse as especificidades, necessidades ¢ dese- jos do paciente. Essa afirmagZo de DONNELLY! ¢ de HENDERSON’ refere-se ndo sé i enfermagem praticada no inicio da enfermagem moderna, mas também 4 atual. Dado o surgimento da inddstria da assisténcia a satide, do cui dado de enfermagem continua sofrendo influénci- ‘as, nem sempre benéficas, do gerenciamento do hospital como uma empresa, aliado ao répido desen- volvimento da tecnologia e a valoriz que aela 6 dada! 29 MUSSI, FC. et al O uso do processo de enfermagem nao garante a individualizagio do cuidado ao cliente. Talvez isso pudesse ser almejado se houvesse mudangas nas politicas gerenciais que buscam a redugdo de custos diminuindo perigosamente a relagio numé- rica enfermeira/paciente. A organizagio do conhe- cimento de enfermagem e 0 desenvolvimento de estratégias para aprimorar a competéncia profissio- nal das enfermeiras, ¢ a facilitagdio do avesso a essa base de conhecimentos, so indispensdveis para que 0 contetido do processo de enfermagem possa dar alguma garantia de individualizagao do cuida- do. Niio é raro que o processo de enfermagem, em particular 0 plano de cuidados, seja transformado em um simples ato de copiar aquele feito anterior mente®. Para que garanta 0 cuidado individualiza- do, € necessario, também, que o processo de en- fermagem esteja alicergado em um referencial te6rico compativel com essa perspectiva. Devemos admitir a possibilidade de, em algumas circunstan- cias, ser descjavel a assisténcia nao individualiza- da, bem como o desenvolvimento de referenciais te6ricos que a sustentem. Afirmagio 4 O processo de enfermagem promove a satis- faciio do cliente... a enfermeira favorece uma relagao pessou a pessoa, na qual o cliente é um parceiro ativo e participante na tomada de decisiio. A atual assisténcia a satide / doenca anénima e impessoal serd finalmente substituida pela abordagem per- sonalizada ¢ individualizada’ . DONNELLY! apropriadamente analisa que a satisfagdo do paciente torna-se uma realidade quando © processo de enfermagem esti embasado em uma filosofia de assisténcia que reconhece a participa- cae do individuo e o direito de ter voz ativa na tomada de decisio. Considera, portanto, que os componentes do processo de enfermagem nio garantem a satisfagdio do paciente, pois podem ser aplicados de forma autoritaria e reducionista, impcdindo assim odircito do paciente negociar a mais simples atividade. Afirmagio 5 O process de enfermagem proporciona um meio de avaliar a contribuigdo econémica da Acta Paul. Enf., ¥10, m1, jandabr. 1997 enfermagem em relacao a totalidade da assisténcia prestada ao cliente. Se a avaliagao é um compo- nente integral do processo de enfermagem, tanto a efetividade como a quantidade de atividades de enfermagem podem ser determinadas e valorizadas economicamente * Para avaliar a contribuigdo econdmica da enfermagem em relagao a totalidade da assisténcia prestada ao cliente € imprescindivel que todas as atividades por ela desenvolvidas estejam registradas. Pode-se dizer que por mais abrangente que seja 0 planejamento da assisténcia de enfermagem para um determinado paciente, este plano poderd refle- tir apenas ‘uma parte do trabalho desenvolvido diretamente com o paciente, em um dado periodo de tempo. Coleta de sangue para andlises laboratoriais, auxilio a procedimentos médicos, encaminhamen- tos para exames radiol6gicos, transferéneias de unidade, sio alguns exemplos que ilustram atividades rea- lizadas pela enfermagem que independem do plano de cuidados. Um dos aspectos que merece ser destacado é que o tempo dispendido pela enfermagem para a realizagao dos cuidados prescritos esti diretamente relacionado a necessidade do paciente. Além disso, como DONNELLY! afirma as medigdes quantita- tivas da assisténcia de enfermagem sio insuficien- tes para representar a complexidade e 0 valor da assisténcia de enfermagem humanfstica. Para DONNELLY'0s componentes do processo de enfer- magem poderiam ser usados como categorias para determinar como as enfermeiras gastam scu tempo. A determinagio da efetividade das ages de enfermagem sera ainda um grande desafio mesmo que © processo de enfermagem esteja sendo uti- lizado com todas as suas fases. O desenvolvimento do conhecimento da profissdo esta ainda indicando lacunas para que se possa expressar objetivamente as metas que se pretendem aleangar com os cui- dados que sio preseritos © implementados. Sera raro, se ndo for inexistente, a enfermeira que, antes de propor os cuidados, preocupe-se em estabelecer, junto com o paciente, as metas pretendidas. Sen que tal procedimento ocorra ndo ha como se de- terminar a efetividade dos cuidados. Se esperarmos sempre que os resultados dos cuidados sejam a independéncia completa do paciente teremos sem- 30 MUSSI, FC. et al pre a avaliagdo subjetiva e irreal de insucesso. E evidente que as pesquisas sobre as intervengées de enfermagem deverdo, cada vez mais, subsidiar 0 estabelecimento de metas, nas mais variadas cir- cunstincias, sustentando as avaliagées da cfetivi- dade dos cuidados Pode-se concluir, portanto, que por nao asse- gurar todas as informagées necessérias, a utiliza- do do processo de enfermagem como um meio de avaliar a contribuigdo econdmica da enfermagem em relacdo a totalidade da assisténcia prestada ao cliente, pode subestimar sobremaneira tal contri- buigao. Afirmagio 6 O processo de enfermagem capacita a enfer- meira a desenvolver seu potencial para tomada de decisdo independente sobre competéncias na qual tem autoridade, que antes ndo eram usadas na realizagao de fungdes, predominantemente, do tipo assistencial’. © processo de enfermagem pode ser apenas um catalisador para que a enfermeira tome deci sdes independentes (DONNELLY'). O processo de enfermagem nfo capacita para a tomada de decisao independente, mas pode mostrar 0 quanto as cn- fermeiras estdo preparadas ou no para decidir sobre suas agdes, Assim sendo, pode refletir a sistema- tizagao do corpo de conhecimento da profissio ou apontar as lacunas existentes. CONSIDERACOES FINAIS Reconhecemos que a introdugao do processo de enfermagem na profissio representou uma con- quista inquestionavel. Todavia, foi e contiiua sendo conferido a ele um valor que necessita ser revisto. Entende-se o processo de enfermagem tio somente como um instrumento de trabalho, que oferece uma segiiéncia dindmica de operagGes para organizar 0 cuidar. Essa sequéncia dinamica de operagdes no € exclusiva da enfermagem, mas condiz com os processos de pensamento do adulto que as utiliza ‘Acta Paul. Hf. v.10, n.1, janJabe, 1997 tanto no ambito das diferentes profissdes como no Ambito da vida pessoal, Assim nilo ha especificidade do método para aenfermagem. O que caracterizara a especificidade seri 0 objetivo que se pretende e o contetido que serd processado. O referencial teérico adotado pelo grupo de trabalho, a forma de implementa lo © 0 contedido da assisténcia, ajustados as ca racteristicas da unidade © da clientela a que se destina é que poderio garantir, ou nao, muito do que, por vezes temos esperado do processo de enfermagem © uso do processo por si s6 niio garante, Ble 6 um instrumento indispensavel para a organizagao do contetide do cuidar, Nio mais que isso. Nas dicussdes que ocorreram na atividade académica que deu origeme forma a essa publicagao, foi possivel observarmos inguietagdes com essas afirmagées, ao lado de posicionamentos de que essas questées ja sdo claras o suficiente sendo desnecessirio abordi- las. Aos que se inquictam, fazemos um convite 2 reflexdo; aos que jé superaram depositar no pro- cesso de enfermagem garantias que a ele no cabem, fazemos também um convite a reflexdo. Apesar de tanto tempo decorrido da publicagio de MAUKSH e DAVID® ainda encontramos referéncias a0 pro- cesso de enfermagem carregadas de expectativas Aos que resistem ao uso do proceso de enfermagem, seja no ensino ou na assisténcia, convidamos também a reflexiio e sugerimos: aceite © desafio de incorpord-lo na sua prética contando apenas com aquilo que ele pode garantir. A experiéncia de procurarmos argumentos para defender uma afirmagao e depois argumentos para invalidé-la, apesar de dificil, foi gratificante. Gra- irreais* lificante porque observamos o fortalecimento das posigdes pessoais e especialmente porque exige que ampliemos a nossa prépria perspectiva favorecen- do a descoberta de outros pontos de vista, Nenhu- ma das afirmagées foi defendida ou rechagada na integra. A tendéneia sempre foi defender ou inva- lidar apenas parte das afirmagdes, embora ti semos solicitado a abordagem da totalidade das afirmagées. 31 MUSSI, FC. et al mus Acta Paul. Ent, ¥ 10, 1, janJabr. 1997 I, F.C.; WHITAKER, LY.; FERNANDES, M.FP.; GENNARI, T.D; BRASIL, V.V.: CRUZ, D.A.LM, [Nursing process: inviting for reflection]. Acta Paul. Enf., Sao Paulo, v.10, n.1, p.26-32, 1997, ABSTRACT: The present study is guided by the statements made by MAUSKCH: DAVIO in 1972 and discussed by DONNELY in 1987 concerning the nursing process. The main aim is to invite the nurses to reflect aboul it viewing to better understand and adequate the power ascribed to its use within the nursing profession UNITERMS: Nursing. Nursing process. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. DONNELLY, G.R The promise of nursing process: an evaluation, Holistic. Nurs. Pract., v.1, 0.3, p.1-6, 1987. 2. HENDERSON, V. Nursing process -a critique. Holistic. Nurs. Pri 3, p7-18, 1987. 3. HENDERSON, V. The nursing process ‘Ady. Nurs., ¥-7, p.103-9, 1982. is the title right? J. 4. KERBY, L.L. Support for the nursin process. Nurs. Diag., v5, nd, 1994, 5. MAUKSCH, L.G.; DAVID, MLL. Prescription for survival. Am. J. Nurs., v.72, 9,12, p.2189-93, 1972, 6. WALDOW, V.R. Process de enfermagem: tenria e prética Rev. Gaticha Ent, v9, nil, p.14-22, 1988, 32

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