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Arranjos configurados pelos nervos do plexo


braquial no urubu (Coragyps atratus foetens -
Linnaeus, 1758)
Pamela Rodrigues Reina 1 - Pós-Graduanda em Medicina Veterinária (área de Patologia Veterinária)
MOREIRA1 da Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal-SP
Wilson Machado de 2 - Curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista,
SOUZA2 Araçatuba-SP
Nair Trevisan Machado de
SOUZA2 Resumo Palavras-chave:
Roberto Gameiro Plexo braquial.
CARVALHO2 Neuroanatomia.
O estudo anatômico da origem e distribuição do plexo braquial no Urubu.
urubu (Coragyps atratus foetens) foi efetuado em 14 animais, adultos, Coragyps atratus foetens.
Correspondência para:
Pamela Rodrigues Reina Moreira,
machos e fêmeas oriundos da região de Araçatuba (SP). Após a fixação
R. Ivo Simões Gomes, 665, Lagoinha, em solução aquosa de formaldeído a 10,00%, realizou-se a dissecação
14095-180, Ribeirão Preto-SP, bilateral da origem dos plexos braquiais e sua distribuição. A análise
pamela_rreina@yahoo.com.br
permitiu verificar, que o plexo braquial do urubu, possui quatro
troncos, os quais originam-se dos ramos ventrais dos nervos espinhais
Recebido para publicação: 07/06/2005 cervicais onze (C11), doze (C12) e treze (C13) e dos ramos ventrais
Aprovado para publicação: 12/03/2009
dos nervos espinhais torácicos um (T1) e (T2) em 100% dos casos
em ambos antímeros. O primeiro tronco parte de C11 nos antímeros
direito e esquerdo, e da margem cranial do cordão dorsal partem os
nervos subescapular, subcoracoescapular e supracoracóide; em ambos
antímeros (100%). O segundo tronco origina-se de C12 em ambos
antímeros, dando origem ao cordão dorsal, dele partem os nervos
axilar, radial e anconeal (100%). O terceiro tronco do plexo origina-se
unicamente de C13 (100%) e o quarto tronco de T1 em ambos
antímeros (100%). Os troncos de C12, C13 e T1 unem-se dando
origem ao cordão ventral, o qual partem os nervos medianoulnar que
se divide em mediano e ulnar e os nervos peitorais (100%). T2 emite
filamentos que se unem à raiz nervosa de T1, sendo um filamento
(35,55%) e dois filamentos (64,29%) no antímero direito, enquanto
que no esquerdo um filamento (42,85%), dois filamentos (50%) e
três filamentos (7,15%).

Introdução realidade preocupante dos tempos


modernos. Em um ambiente naturalmente
Os urubus são considerados como poluído as aves selvagens são indivíduos
uma classe separada, porém em muitos resistentes e participam ativamente das
aspectos, pouco distanciados do tronco geral cadeias biológicas, determinando deste
dos répteis, de onde se originaram. Um modo à necessidade de conhecimentos
fenômeno de preservação permitiu conhecer profundos de sua morfofisiologia. Sob esta
cinco esqueletos de uma ave ancestral, vertente, o urubu exerce papel de fundamental
Archaeopteryx, o único representante da importância na degradação de resíduos
subclasse Archaeornithes, de sedimentos do orgânicos e na possível difusão de agentes
final do Jurássico. Nesta ave ainda existiam biológicos.4
dentes; as asas eram providas de dedos com Desde a primeira edição de Nomina
garras e a longa cauda era semelhante à de Anatomica Avium (NAA)5, somente alguns
um réptil.1,2,3 termos foram adicionados ou alterados
A poluição gradativa do meio é uma neste capítulo. Entretanto, alguns termos

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foram atualizados e dados novos da transversal dos músculos peitoral superficial


literatura foram introduzidos. Duas revisões e profundo, próximo ao esterno e quilha,
recentes, usando predominantemente a expondo e individualizando os nervos que
nomenclatura de NAA 5, oferecem uma compõem o plexo braquial, e isolamento das
excelente introdução à Anatomia dos nervos demais estruturas vasculares.
cranianos e periféricos. Os troncos nervosos foram
O plexo braquial dos animais tem individualizados próximos à coluna vertebral,
sido objeto de vários estudos clínicos e com o intuito da observação dos ramos
cirúrgicos e nas aves a pesquisa destas ventrais dos nervos espinhais cervicais e
estruturas deve-se ao fato de serem os seus torácicos.
componentes diretamente relacionados aos Após a identificação destes níveis,
diagnósticos de disfunções neuromusculares, procedeu-se a dissecação dos nervos em
conseqüentes de processos traumáticos, sentido distal, observando bilateralmente a
infecções, neoplasias e infestações por ácaros distribuição de ramos nervosos a cada
e vírus, assim como sobre as características músculo na região. Em seguida, os arranjos
pós-morte dos músculos peitorais, como foram esquematizados e algumas preparações
também pelos procedimentos anestésicos fotografadas para documentação. A
local ou regional, que objetivam potencializar nomenclatura utilizada neste trabalho está de
o efeito analgésico durante o período pré e acordo com a Nomina Anatomica Avium
trans-operatório.6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18 de 1993.19,20
Este trabalho teve como objetivo
estabelecer a formação do plexo braquial Resultados
do urubu (Coragyps atratus foetens), a origem
dos nervos que o constitui, bem como a Após a dissecação, verifica-se que os
distribuição dos mesmos aos músculos na plexos braquiais destes animais, em 100%
região da asa, descrevendo e sistematizando dos casos, apresentam quatro troncos, os
seus trajetos. quais originam-se dos ramos ventrais dos
nervos espinhais cervicais situados na décima
Material e Método primeira (C11), décima segunda (C12) e
décima terceira (C13) vértebras cervicais e
Foram utilizados 14 urubus (Coragyps dos ramos ventrais do primeiro (T1) e
atratus foetens), adultos, machos e fêmeas, segundo (T2) nervo espinhais torácicos
procedentes da Região de Araçatuba (SP), (Figuras 1 e 2).
capturados com a devida autorização do Identifica-se constituindo o plexo braquial
Ibama, (estes animais foram oriundos de um do urubu os seguintes nervos: subescapular,
projeto, no qual se testou a toxina Botulínica supracoracóide, subcoracoescapular, axilar, radial,
para observar a sua resposta imunológica e anconeal, bicipital, medianoulnar (mediano e
por isso não puderam ser novamente soltos ulnar), cutâneo, peitorais craniais e caudais,
no ambiente, embora todos tenham torácico dorsal e ventral (Figuras 3 e 4).
sobrevivido à citada toxina) e após o óbito, Particularmente, quanto à formação
com inalação de éter sulfúrico, os mesmos e distribuição de cada nervo do plexo
foram encaminhados ao Laboratório de braquial do urubu, o qual é formado por
Anatomia da UNESP, Campus Araçatuba, quatro troncos que, após ultrapassar a parede
onde foram fixados mediante injeção de do tórax, unem-se para for mar dois
solução de for maldeído a 10% e cordões nervosos, o dorsal e o ventral. O
mergulhados em cubas contendo essa primeiro tronco, origina-se tanto no antímero
mesma solução. Depois da fixação das direito quanto no esquerdo, do décimo
peças, procedeu-se a dissecação mediante primeiro espaço intervertebral cervical (C11)
incisão, rebatimento do revestimento cutâneo em 100% dos casos. Os nervos subescapular,
e tela subcutânea da região axilar, secção subcoracoescapular e supracoracóide em 14

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Figura 1 - Mostrando a origem dos nervos do plexo


braquial no urubu (Coragyps atratus foetens), Figura 3 - Fotografia da face ventral da coluna vertebral
apresentando quatro troncos (Tr1, Tr2, Tr3 na transição das regiões cervical e torácica
e Tr4), os quais originam-se dos ramos identificando as raízes constituintes do plexo
ventrais dos nervos espinhais cervicais braquial no urubu (Coragyps atratus foetens)
situados na décima primeira (C11), décima com os seguintes nervos: subescapular (SUB),
segunda (C12) e décima terceira vértebras supracoracóide (Suc), subcoracoescapular
cervicais (C13) e dos ramos ventrais do (Sce), axilar (Ax), radial (RAD), medianoulnar
primeiro (T1) e segundo (T2) nervos espinhais (Mu), peitorais craniais e caudais (P)
torácicos

Figura 4 - Esquema mostrando os nervos provenientes


Figura 2 - Esquema mostrando que o plexo braquial do do plexo braquial do urubu (Coragyps atratus
urubu (Coragyps atratus foetens) possui foetens): peitorais cranial e caudal (P),
quatro troncos (Tr 1, Tr 2, Tr 3 e Tr 4), os subescapular (SUB), supracoracóide (Suc),
quais originam-se dos ramos ventrais dos subcoracoescapular (Sce), axilar (AX), radial
nervos espinhais cervicais (C11, C12, C13) e (RAD), anconeal (An), bicipital (BI),
dos ramos ventrais dos nervos espinhais medianoulnar (MU), torácico (T), cordão
torácicos (T1 e T2) dorsal (CD) e cordão ventral (CV)
aves - 100%; partem da margem cranial do
cordão dorsal em ambos antímeros. Os músculo escapulo-umeral caudal. Este nervo
ramos nervosos destes nervos são destinados estende-se dorsalmente através de uma
unicamente aos músculos esternocoracóide, abertura entre a superfície caudal da
supracoracóide, subcoracóide, subescapular e articulação escapulo-umeral e a margem
escapulo-umeral dorsal. proximal do músculo grande dorsal, entre
O segundo tronco procede as partes umeral e escapular do músculo
unicamente de C12 nos antímeros direito e tríceps braquial, bifurcando-se, oferece
esquerdo em 100% dos casos, oferecendo ramos aos músculos deltóide maior e menor.
ao cordão dorsal, o nervo axilar, como um O nervo radial é o maior dos dois ramos
ramo terminal desse cordão do plexo terminais do cordão dorsal do plexo
braquial, após ultrapassar a axila cranialmente braquial, inerva os músculos da loja dos
ao nervo radial curva-se ao redor do extensores do antebraço e da mão. O nervo

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anconeal surge da superfície caudal do nervo mediano supre a maioria dos músculos
radial, e percorre por baixo, a superfície flexores ventrais do antebraço e os músculos
caudal do braço. O nervo radial continua intrínsecos da borda anterior da mão. Na
seu percurso ao redor do úmero e penetra fossa cubital, este ner vo situa-se
na fossa cubital, cranialmente à extremidade imediatamente ventral à artéria radial e ao
distal do músculo bíceps braquial tendão do músculo bíceps. Inerva o músculo
profundamente ao músculo extensor radial braquial e a parte cranial da articulação cubital
do carpo, ao qual envia um espesso ramo. na totalidade das peças em ambos os
O tendão do músculo bíceps separa o nervo antímeros. O cordão ventral, além de
radial do nervo mediano e da artéria radial oferecer o nervo medianoulnar, origina os
em todos os animais, em ambos os nervos peitorais em todos os casos nos
antímeros. antímeros direito e esquerdo. O nervo
O terceiro tronco origina-se nos peitoral divide-se dentro do tórax nos nervos
antímeros direito e esquerdo entre C13 e T1, peitorais cranial e caudal inervando também
e o quarto tronco entre T1 e T2. T2 emite o músculo coracobraquial caudal. Do quarto
filamentos nervosos que se unem à raiz tronco (T1) procede os ramos intercostais,
nervosa de T1. No antímero direito emite e todos os componentes emitidos desse
um filamento em cinco aves (35,71%), e no tronco que chega ao (T2), se anastomosa com
esquerdo, seis aves (42,85%). Em nove o nervo intercostal correspondente em todas
indivíduos (64,29%), emite dois filamentos as aves analisadas e em ambos os antímeros.
no antímero direito, enquanto no esquerdo, De todos os nervos do plexo braquial,
emite apenas dois filamentos em sete aves partem ramos que iner vam a cútis
(50%) e três ramos em um indivíduo (7,15%) designados nervos cutâneos, identificados
para T1, e este quarto tronco ao se unir com em todos os urubus estudados em ambos
o segundo e terceiro tronco, originam o antímeros.
cordão ventral, e deles partem o nervo
medianoulnar, o qual penetra no braço Discussão
ventralmente ao músculo escapulotríceps;
nesta porção situa-se cranialmente às partes O estudo dos componentes do plexo
proximais da artéria e veias braquiais. braquial nas aves é importante não apenas
O nervo medianoulnar percorre o como um conhecimento morfológico, o que
braço profundamente, no sulco entre o na realidade já justificaria plenamente esta
músculo bíceps e o músculo escapulotríceps. investigação, mas também face às alterações
O nervo bicipital, ao dobrar distalmente no que os ner vos podem sofrer em
braço, inerva o músculo coracobraquial determinadas situações, como informam.
cranial e emite um ramo proximal em todos 8,11,15
Segundo estes autores na doença de
os casos, tanto no antímero direito como Marek uma das manifestações clínica são os
no esquerdo. Parte do nervo atravessa a sintomas nervosos, com o aumento de
borda cranial do músculo e supre o músculo volume dos nervos periféricos, perda de
bíceps propatagial. estrias, e queda da asa.
O nervo medianoulnar divide-se nos De fato, no urubu em todas
nervos mediano e ulnar, ao aproximar-se oportunidades notou-se quatro troncos
da fossa cubital nas 14 aves - 100%, em nervosos de maior calibre diretamente
ambos os antímeros. O ner vo ulnar comprometidas na inervação do membro
acompanha a artéria do mesmo nome na torácico destes animais especialmente no que
superfície ventral da articulação cubital, se refere aos músculos flexores (ventrais) e
cruzando as origens dos músculos flexores extensores (dorsais), o que difere dos perus,
superficiais, imediatamente após a veia os quais apresentam três troncos principais.21
correspondente. Inerva parte dos músculos Conforme a Nomina Anatomica
flexores do antebraço, enquanto o nervo Avium19 os nervos espinhais são organizados

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semelhante àqueles dos mamíferos, assim o ventral vai ter à musculatura ventral do
número e o nome destes nervos parecem pescoço e Istmo das fauces. Os filamentos
não sofrer grandes alterações, mas é evidente ventrais dos dois nervos cervicais conectam
uma simetria na distribuição periférica destes também com os filamentos dos nervos do
nervos suprindo a musculatura do membro hipoglosso. Embora estes nervos não estejam
torácico. relacionados diretamente na composição do
Os nervos espinhais são denominados plexo braquial, são importantes na postura
nervos cervicais, torácicos, lombares, sacrais do corpo do animal durante o vôo. Os dois
e coccígenos, cujo número corresponde últimos nervos cervicais estão envolvidos na
geralmente ao número das vértebras de cada formação do plexo braquial podendo existir
região e varia conseqüentemente entre as conexões entre os componentes do plexo
espécies de aves.14 braquial, em maior ou menor extensão.14
Nickel, Schummer e Seiferle14 citam De acordo com a NAA19,20, o plexo
ainda que o primeiro nervo cervical (C1) braquial é o conjunto de nervos intercomunicantes
emerge entre o osso occipital e a primeira que inerva o membro torácico. O plexo
vértebra cervical e o último nervo cervical apresenta quatro raízes, as quais se unem para
deixa o canal espinhal entre a última vértebra formar três troncos curtos, nos quais há um
cervical e primeira torácica. Neste trabalho intercâmbio de fibras. Os troncos
adotamos procedimento idêntico situando apresentam alguma separação em divisões
cada um dos componentes do plexo dorsal e ventral que se combina para formar
braquial no urubu e observou-se cada um dois cordões nervosos. Ramos do cordão
deles ocupando a transição intervertebral de dorsal suprem músculos do compartimento
C11 a T2. Já Moreira et al.21 observaram dorsal (extensor) do membro e a pele
em seu estudo com perus, que cada um dos sobrejacente; os ramos do cordão ventral
componentes deste plexo ocuparam a (flexor) do membro. Os ramos terminais do
transição intervertebral de C12 a T2, a qual cordão ventral são tronco peitoral e o nervo
emitiam ramos a T3. mediano-ulnar. O cordão dorsal emite o
Estudos sobre o plexo braquial foram nervo axilar e continua dentro do braço
efetuados em pombos, especialmente sobre como o nervo radial. A disposição
o nervo radial.12,13 Com alusão a este nervo, encontrada no urubu, difere desta descrição
para Wang et al.18, as fibras nucleares durante no que se refere à formação dos cordões
o estímulo elétrico revelaram um tipo ventrais e dorsais, pois nesta ave o cordão
uniforme de resposta que consiste em uma dorsal é formado após a uniam das duas
inibição inicial seguida por uma excitação primeiras raízes enquanto o cordão ventral
desobstruída do córtex cerebelar. Relatam forma-se após a convergência das três
ainda a convergência dos impulsos dos últimas, esta obser vação é sempre
nervos aferentes que originam nas diferentes caracterizada à esquerda e à direita. Nas aves
regiões do corpo dentro da mesma área do os dois últimos nervos cervicais e os dois
cérebro, atividade que pode ser importante primeiros torácicos, ou primeiro, ou mesmo
para a integração dos movimentos do talvez os três primeiros nervos torácicos, são
membro da ave, estas observações são envolvidos na formação do plexo braquial.
importantes, pois o nervo radial tem Nos patos e nos gansos os filamentos
importante papel na inervação dos músculos ventrais dos dois últimos nervos cervicais e
do membro torácico a serem utilizados dos dois primeiros ner vos torácicos
durante o vôo, atividade intensa nestes constituem o plexo braquial. O plexo
animais. braquial pode ser dividido em uma parte
Os nervos cervicais inervam, por cranial e uma caudal. O plexo divide-se em
meio de seu ramo dorsal, o grupo dorsal quatro grupos: nervos torácicos dorsais;
dos músculos curtos das junções da cabeça nervos torácicos ventrais; nervos braquiais
e a musculatura da nuca, enquanto seu ramo dorsais e nervos braquiais ventrais. 6,14

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Particularizando o urubu, registramos que extensor digital long o, os pequenos


além de três troncos de calibre acentuado, músculos do extensor na região do
representando os nervos C12, C13 e T1, metacarpo emitindo ramos primários.
participam do referido plexo C11, de forma Os ner vos braquiais ventrais
constante de ambos os lados e em filete incluem os ner vos cutâneos braquial
único, enquanto de T2 pode emergir 1, 2 ou caudais, o nervo ulnar e o nervo mediano
3 filetes à esquerda e 1 ou 2 filetes à direita, o qual é ligado com a primeira peça do
que se unem sempre a T1. nervo ulnar para dar origem ao nervo
O nervo torácico dorsal inerva os medioulnar. Este último nervo cruza o
músculos rombóide superficial e profundo lado medial do úmero e dá origem a um
e os músculos serrátil ventral e profundo. filamento para o músculo coracobraquial
O nervo torácico ventral inerva a e um filamento para o músculo bíceps
musculatura supracoracóide, origina o nervo braquial. No nível da junção do cotovelo
subescapular, assim como os músculos os nervos ulnar e mediano separam-se e
escapulo-umeral. Originam também os o ner vo ulnar origina filamentos ao
grandes nervos peitorais que inervam os aspecto extensor da junção, dando origem
músculos peitorais. aos filamentos dos músculos flexores ulnar
Um filamento do nervo braquial do carpo, o qual se divide em ramos
dorsal inerva os músculos longuíssimos craniais e caudais. Os ramos caudais
do dorso, e um outro filamento, os nervos percorrem ao longo da superfície caudal
axilares, dando ramos para a pele do lado do carpo e do metacarpo e assim alcança
dorsal da asa e do ombro, o músculo as pontas dos dígitos. Os ramos craniais
deltóide, o músculo coracobraquial e os são a continuação do nervo ulnar que
músculos propatagiais cervicais. O nervo inerva o músculo flexor digital superficial
ancôneo e o nervo radial são também e parte dos pequenos músculos flexores
parte deste grupo de nervos braquiais do metacarpo. O nervo mediano cruza a
dorsais. Os filamentos do ancôneo, por junção do cotovelo e assim, ganha a
meio de seu ramo profundo, o músculo superfície medial do braço e do
tríceps braquial e o músculo ancôneo pelo metacarpo mais para baixo. Da origem aos
ramo superficial. Os nervos radiais são nervos cutâneos, um filamento para o
filamentos grossos que inervam a cabeça músculo flexor carpo radial, o ramo
do músculo umeral braquial e do músculo musculocutâneo para o músculo pronador,
tríceps. Na junção do cotovelo o nervo originando filamentos musculares, um para
radial emite um grande filamento ao o músculo metacarpo ulnar ventral, para o
músculo extensor carpo radial e o músculo flexor digital superficial e
músculo supinador e um outro filamento profundo, e também fornecem pequenos
à junção do próprio cotovelo. Aqui se filamentos para os pequenos músculos do
divide em um ramo cranial e um ramo metacarpo.14 Os informes que obtivemos
caudal. Ao longo de seu curso para a no urubu, em linha gerais não se afastam
junção carpal o último emite ramo destas considerações, evidentemente deve-
muscular para o músculo extensor carpo se atentar para o fato de que nesta ave as
ulnar, o músculo extensor digital comum, raízes nervosas componentes do plexo
o músculo epicôndilo-ulnar e numerosos braquial são em menor número.
filamentos pequenos secundários da asa. Neste sentido completam os
Os ramos craniais representam a infor mes de Buhr 7 , Holland et al. 9,10 ,
continuação dos nervos radiais. Inerva o Parker e George22, Smith, Quist e Crum17,
músculo abdutor longo do dedo, cruza a importantes pois permitem conhecer o plexo
junção carpal e estende finalmente além braquial das aves, além de facilitar os
do metacarpo às regiões dos dígitos. Ao diagnósticos de disfunções neuromusculares,
longo de seu curso fornece o músculo conseqüentes de processos traumáticos,

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infecções, neoplasias e infestações por Conclusões


ácaros e vírus, sobre as características pós-
morte dos músculos peitorais, como O estudo de 14 urubus adultos machos
também pelos procedimentos anestésicos e fêmeas, permite estabelecer que: o plexo
local ou regionais, que objetivam braquial nestas aves situam-se na transição entre
potencializar o efeito analgésico durante o as regiões cervical e torácica entre C11 a T2;
período pré e trans-operatório em uma os nervos componentes do plexo braquial
tentativa de determinar o papel funcional das nestes animais são constituídos por quatro raízes
fibras nervosas durante o vôo. dos nervos espinais, a primeira e a última mais
Assim, analisando as raízes ventrais delgadas, a segunda, a terceira e a quarta mais
nervosas que contribuem para a formação do calibrosas; os nervos neste plexo convergem
plexo braquial do urubu, constata-se que nestes para constituírem dois cordões nervosos, o
animais partem quatro troncos da medula dorsal correspondente aos músculos extensores
espinhal semelhante aos observados nas e o ventral correspondente aos músculos
galinhas, pombos, patos e gansos.6,14,20 flexores.

The arragement of configurat of nervs of brachial plexus in vulture


(Coragyps atratus foetens - Linnaeus, 1758)

Abstract Key words:


Brachial plexus.
The anatomical study of the origin and distribution of brachial plexus Neuroanatomy.
Vulture.
in vulture (Coragyps atratus foetens) was performed in 14 animals, adults, Coragyps atratus foetens.
males and females, deriving of the region of Araçatuba (SP). After fixed
in watery solution of formaldehyde 10,00%, became dissected bilateral
of the origin of the brachial plexus, and yours distribution. The analysis
allowed verify that brachial plexus of vulture, four root possess, which
originate from the ventral branches of cervical spinal nerves eleven (C11),
twelve (C12) and thirteen (C13) and of the ventral branches of thoracic
spinal nerve one (T1) and (T2) in both sides (100%). The first root part
of C11 in the right and left side, and of the edge skull of the dorsal lace
the nerves subescapular, subcoracoescapular e supracoracóide in both
antímeros (100%). As the root originates from C12 in both sides, giving
origin to the dorsal lace, giving the axilar, radial and anconeal nerves
(100%). The third root of plexus originates solely from C13 (100%)
and the root of T1 in both sides (100%). The roots of C12, C13 and T1
was united the ventral lace originates, which breaks the nerves to
medianoulnar that divided in medium and to ulnar and the pectoral
nerves (100%). T2 emits filaments that join it root nervous of T1,
being one filament (35,55%) and two filaments (64,29%) in side right,
while that in the left one filament (42,85%), two filaments (50%) and
three filaments (7,15%).

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