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AVALIAR O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DE

ENFERMAGEM COM PORTADORAS DE CÂNCER DE MAMA .

Andreza Maia Correa*


Francisco Ernando De Jesus Teixeira**
Jeferson Pinheiro Da Silva***
Wellem Melo Bezerra****

RESUMO
O câncer de mama é um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil. A mulher
acometida passa por mudanças físicas e também em suas relações interpessoais e
emocionais, fragilizadas pelo estigma trazidos pela doença.

Palavras-chave: Câncer. mama. relações interpessoais.

INTRODUÇÃO
O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células
anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Há
vários tipos de câncer de mama, alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros
crescem lentamente; A maioria dos casos, quando tratados adequadamente e em tempo
oportuno, apresentam bom prognóstico.O câncer de mama também acomete homens,
porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença.

A incidência deste câncer vem aumentando no Brasil e no mundo, e surge cada vez
mais cedo na vida das mulheres. As estimativas apontam que, para o ano de 2021,
ocorrerão cerca de 66.280 casos novos de câncer de mama, sendo este tipo o mais
incidente nas mulheres de quase todas as regiões brasileiras, o Instituto nacional do
câncer (INCA) detectou um aumento de 29% entre os anos de 2019 e 2020 com as
maiores taxas nas regiões Sudeste e Sul. De modo geral, estima-se que 50% das
pacientes com câncer não se curam de sua doença. 1
Porém a preocupação em torno do câncer de mama não é somente por causa de seus
dados epidemiológicos, mas, principalmente, devido às repercussões negativas que esta
doença provoca na vida das mulheres diagnosticadas,os tratamentos que incluem

1 Andreza Maia Correa Email:Andreza98maia@gmail.com


Francisco Ernando De Jesus Teixeira Email:ernandoteixeira15@gmail.com
Jeferson Pinheiro Da Silva E Mail: jefersonpinheiro080@gmail.com
Wellem Melo Bezerra Email: wellemelo@gmail.com
mastectomia, quimioterapia e radioterapia trazem repercussões importantes no que se
refere à identidade feminina. Além da perda da mama ou de parte dela, os procedimentos
complementares podem impor a perda dos cabelos, a parada ou irregularidade da
menstruação e a infertilidade, fragilizando ainda mais o sentimento de identidade da
mulher .Além disso, as representações de dor insuportável, de mutilações desfigurantes e
de ameaça de morte não desaparecem com a retirada do tumor, pois há sempre o
fantasma da metástase e da recorrência
Viver com uma doença ligada a estigmas, conviver constantemente com incertezas em
relação a sua qualidade de vida futura e com relação a sua própria vida, bem como com a
possibilidade de recorrência da doença constituem-se em algumas das várias dificuldades
que a mulher acometida por esta enfermidade terá de enfrentar em seu cotidiano.
Desta maneira para que a equipe de enfermagem consiga dar uma assistência eficaz e
satisfatória para essas pacientes, é necessário ter o conhecimento dos aspectos
socioculturais que integram o processo de ter câncer e considerar todos os conceitos nos
cuidados de saúde dessa clientela para poder planejar e implementar as intervenções de
cuidado na reabilitação do paciente e o apoio à família, com vista a promover uma
sobrevivência com qualidade de vida.
Sendo assim o trabalho toma como referência as bases conceituais da teoria do
relacionamento interpessoal elaborada por Hildegard Elizabeth Peplau, uma enfermeira
americana que viveu entre 1909 e 1999. A opção por essa teoria se deve a importância
que confere ao relacionamento entre enfermeiro e cliente e família, considerado
instrumento essencial no cuidado à mulher com câncer de mama. Justifica-se também por
entender que o câncer de mama é uma doença que marca socialmente, entendido como
um instrumento essencial no cuidado aos pacientes.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Trata-se de um estudo de análise reflexiva sobre a aplicabilidade da teoria do


relacionamento interpessoal elaborada por Hildegard Elizabeth Peplau, publicada em
1952 no livro Relação Interpessoal na Enfermagem: um conceito de referência para a
enfermagem psicodinâmica; E no cuidado à mulher com câncer de mama, com o objetivo
de tornar a assistência à paciente mais segura. Foi realizada uma reflexão com base nos
principais conceitos da teoria de Peplau e em artigos que abordam o câncer de mama no
intuito de adquirir maior aprofundamento e aproximação com o tema, conseguindo assim
extrair os conceitos mais pertinentes à realidade de cuidados à mulher com câncer de
mama e conectando-os às matérias da grade curricular do curso de bacharelado em
enfermagem do Centro de ensino superior do Amapá (CEAP).

RESULTADO E DISCUSSÃO

Os cânceres ou neoplasias malignas vêm assumindo um papel cada vez mais importante
entre as doenças que acometem a população feminina, representando, no Brasil e no
mundo, importante causa de morte entre as mulheres adultas.

● Histórico da doença
No século XIX e primeiras décadas do século XX, o câncer era considerado contagioso e
associado a falta de limpeza, sujeira física e moral. A imundície das cozinhas, a sujeira
das fábricas, a desordem verificada nas ruas das cidades, povoadas de cães e gatos
vadios, a proliferação assustadora de ratos e insetos por toda a cidade, compunham um
quadro deprimente, provocando toda sorte de doenças, entre as quais, acreditava-se,
estava o câncer. Além disso, concebe-se que a doença poderia ser contagiosa entre os
amantes dos excessos do prazer, principalmente no caso das mulheres, nas quais o
adoecimento era resultado de "pecados e vícios", em especial nas práticas sexuais
(Sant’Anna, 2000). Entre as práticas sexuais consideradas "monstruosas", o sexo oral era
identificado como a causa principal das neoplasias nas mulheres, principalmente nas
homossexuais ou bissexuais. Dizia-se que a prática desencadeou a formação de nódulos
cancerosos na cavidade bucal e trato digestivo, que se disseminavam por todo o
organismo (Bertolli Filho, 1996). O câncer era considerado um castigo através do qual o
doente poderia alcançar sua redenção, a libertação dos pecados caso conseguisse
suportar com resignação o sofrimento causado pela doença.
Durante os anos 30 e 40, a argumentação de cunho moral continua em evidência, porém,
mesclando-se com hipóteses novas advindas da observação da vida moderna nas
grandes cidades brasileiras que começam a se industrializar. Outros fatores
predisponentes ao câncer começam a ser sublinhados, tais como a ingestão de alimentos
com produtos químicos, o hábito de fumar, o excesso de trabalho e o aumento de
preocupações cotidianas (Sant’Anna, 2000). A partir de 1950, podem ser observados
grandes avanços nos métodos de diagnóstico e tratamento que possibilitaram o aumento
do número de sobreviventes e do tempo de sobrevida dos pacientes. O acompanhamento
mais prolongado desses pacientes indicou a necessidade de lhes proporcionar boa
qualidade de vida e a importância do estudo das repercussões e adaptação psicossocial
dos pacientes e de suas famílias.
Nos anos 60 e 70 foi intensificada a atenção aos fatores psicológicos. Palmeira (1997)
assinala que os fatores da “esfera psíquica” mais frequentemente estudados e
considerados como implicados na carcinogênese podem ser reunidos em dois grupos
genéricos. No primeiro estão os estados disfóricos (depressão, tristeza, infelicidade,
abatimento, desânimo, desesperança, desamparo, desapontamento) e de ansiedade,
juntamente com situações traumáticas envolvendo perdas e privações. No segundo, estão
os fatores definidos por características de personalidade e de enfrentamento da doença,
que variam segundo os pressupostos teóricos adotados. Nessa nova concepção, o
“candidato ideal” para desenvolver o câncer apresentaria uma personalidade marcada
pela passividade, pouca emotividade, regularidade dos hábitos, baixa agressividade ou
negação da hostilidade, depressão e dificuldade na formação de vínculos afetivos.
Lutar contra o câncer, nesse momento, implicava em autoconhecer-se; conhecer o próprio
corpo, e principalmente, requer que o doente falasse abertamente sobre suas dificuldades
emocionais, expusesse sua vida e sua doença e procurasse meios de fortalecimento e
crescimento através da doença. Neste sentido, a partir da década de 1970 as
experiências de mulheres com câncer começam a ser publicadas.

● Além dos aspectos clínicos e epidemiológicos

O câncer de mama é considerado de bom prognóstico se diagnosticado e tratado


oportunamente, sendo o principal fator que dificulta o tratamento o estágio avançado em
que a doença é descoberta. Em nosso país, a maioria dos casos é diagnosticada em
estágios avançados (III e IV), correspondendo a cerca de 60% dos diagnósticos, por isso
o número de mastectomias realizadas no Brasil é considerado alto.

O tratamento primário é a mastectomia, intervenção cirúrgica que pode ser restrita ao


tumor, atingir tecidos circundantes ou até a retirada da mama, dos linfonodos da região
axilar e de ambos os músculos peitorais. A mais frequente, em torno de 57% das
intervenções realizadas, é a mastectomia radical modificada, aquela que remove toda a
mama juntamente com os linfonodos axilares. Tratamentos complementares geralmente
são necessários, como radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. O prognóstico e a
escolha do tratamento são embasados na idade da paciente, estágio da doença,
características do tumor primário, níveis de receptores de estrógeno e de progesterona,
medidas de capacidade proliferativa do tumor, situação da menopausa e saúde geral da
mulher.

Por suas características, o tratamento traz repercussões importantes no que se refere à


identidade feminina. Além da perda da mama ou de parte dela, os tratamentos
complementares podem impor a perda dos cabelos, a parada ou irregularidade da
menstruação e a infertilidade, fragilizando ainda mais o sentimento de identidade da
mulher . Além disso, as representações de dor insuportável, de mutilações desfigurantes
e de ameaça de morte não desaparecem com a retirada do tumor, pois há sempre o
fantasma da metástase e da recorrência

Estudos têm apontado que a primeira preocupação da mulher e sua família após
receberem o diagnóstico do câncer de mama é a sobrevivência. Em seguida surge a
preocupação com o tratamento e condições econômicas para realizá-lo; e quando o
tratamento está em andamento, as inquietações se voltam para a mutilação, ou
desfiguração e suas conseqüências para a vida sexual da mulher (Carver, 1993; Duarte &
Andrade, 2003; Gandini, 1995; Gimenes & Queiroz, 2000). Estudos prospectivos que
avaliaram a qualidade de vida de mulheres submetidas à mastectomia demonstraram que
elas sentiram piora não só na imagem corporal, mas também na vida sexual, limitações
no trabalho e até mesmo mudanças nos hábitos e atividades de vida diária (Engel et al.,
2004; Ganz et al., 2004). Mesmo quando o tratamento permite a preservação da mama e
ocorre apenas a retirada do tumor, observa-se que a indicação causa medos e crises nas
pacientes. “No imaginário social, a mama costuma ser associada a atos prazerosos –
como amamentar, seduzir e acariciar –, não combinando com a ideia de ser objeto de
uma intervenção dolorosa, ainda que necessária” (Gomes, Skaba & Vieira, 2002, p. 200-
201).

Foi verificado também que as mulheres apresentam o interesse sexual diminuído, por
causa dos efeitos secundários do tratamento, como menopausa precoce, diminuição da
libido e alteração na produção de hormônios sexuais, o que torna o ato sexual doloroso,
além de diminuir a excitação e inibir o orgasmo (Almeida, Mamede, Panobianco, Prado &
Clapis, 2001; Fentiman, 1993; Quintana, Santos, Russowsky & Wolff, 1999). Outros
estudos demonstraram redução da qualidade de vida nos domínios emocional, social e
sexual não somente no período de um a dois anos após o tratamento inicial, mas também
após cinco anos. Sugerem, por isso, que o cuidado psico oncológico oferecido às
pacientes deve ser mantido mesmo após o término do tratamento clínico (Holzner,
Kemmler, Kopp & Moschen, 2001).
Por causa desses aspectos-chave que envolvem o processo de adoecimento por câncer
de mama, a experiência das mulheres transcende a dor causada pela própria doença.
Nesse caso, considerando que o atendimento de qualidade e humana não vê na pessoa
apenas um órgão doente, mas sim a totalidade, com sua história, valores, medos e dores,
espera-se que a relação enfermeiro / paciente seja de fato uma relação de ajuda.

● Teoria do relacionamento interpessoal no cuidado à mulher com câncer de


mama
A teoria das relações interpessoais é vista como um marco na prática em enfermagem,
principalmente pela importância de garantir a relação entre a equipe de enfermagem e o
paciente em processo de tratamento, o problema raramente é discutido e valorizado no
dia a dia desses profissionais. Peplau define a enfermagem como sendo um processo
significativo, terapêutico e interpessoal, por envolver a interação entre duas ou mais
pessoas com uma meta e que envolve interação e têm um objetivo em comum. O objetivo
é estimular durante o tratamento,que a equipe e o paciente respeitem um ao outro, como
indivíduos, ambos crescendo e aprendendo juntos como resultado dessa interação.
No caso do cuidado de mulheres com câncer de mama, é comum a família fazer aliança
com a equipe de enfermagem para alcançar o mesmo objetivo, neste caso,restaurar e
manter a saúde das mulheres, seja em biológica, psicológica e emocional, que se
encontram fragilizados pela doença.

● Dados atuais sobre a doença

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é o segundo


tumor mais comum entre as mulheres, apesar dos dados alarmantes, sua ocorrência é
relativamente rara antes dos 35 anos e nem todo tumor é maligno, a maioria dos nódulos
detectados na mama é benigna. Além disso, quando diagnosticado e tratado na fase
inicial da doença, as chances de cura do câncer de mama chegam a até 95%.

Esta neoplasia é mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3


milhões de casos novos estimados em 2020, o que representa 24,5% dos casos novos
por câncer em mulheres. É também a causa mais frequente de morte por câncer nessa
população, com 684.996 óbitos estimados para esse ano (15,5% dos óbitos por câncer
em mulheres) (IARC, 2020).
No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama também é o
mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e
Sudeste. Para o ano de 2021 foram estimados 66.280 casos novos, o que representa
uma taxa de incidência de 43,74 casos por 100.000 mulheres (INCA, 2020).

A taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada pela população mundial, foi 14,23
óbitos/100.000 mulheres, em 2019, com as maiores taxas nas regiões Sudeste e Sul, com
16,14 e 15,08 óbitos/100.000 mulheres, respectivamente (INCA, 2021). O câncer de
mama é a primeira causa de morte por câncer na população feminina em todas as regiões
do Brasil, exceto na região Norte, onde o câncer do colo do útero ainda ocupa o primeiro
lugar.

Na mortalidade proporcional por câncer em mulheres, em 2019, os óbitos por câncer de


mama ocupam o primeiro lugar no país, representando 16,1% do total de óbitos. Esse
padrão é semelhante para as regiões brasileiras, com exceção da região Norte, onde os
óbitos por câncer de mama ocupam o segundo lugar, com 13,2%. Os maiores percentuais
na mortalidade proporcional por câncer de mama foram os do Sudeste (16,9%) e Centro-
Oeste (16,5%), seguidos pelo Nordeste (15,6%) e Sul (15,4%). A incidência do câncer de
mama tende a crescer progressivamente a partir dos 40 anos, assim como a mortalidade
por essa neoplasia (INCA, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS

A PERSPECTIVA CULTURAL NO CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE


ONCOLÓGICO
Revista Ciência Cuidado e Saúde 2009; 8 (suplem.):23-30
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/download/9714/5527/

A GERÊNCIA DO CUIDADO DE ENFERMAGEM À MULHER COM CÂNCER DE MAMA


EM QUIMIOTERAPIA PALIATIVA
Revista Texto Contexto Enfermagem, 2016; 25(3):e4130015
https://www.scielo.br/j/tce/a/583YFyYhTjDhBqrn5WJBBKK/?lang=pt&format=pdf

CUIDADO DE ENFERMAGEM À MULHER COM CÂNCER DE MAMA EMBASADO NA


TEORIA DO RELACIONAMENTO INTERPESSOAL
Revista de enfermagem UFPE on line., Recife, 7(esp):7209-14, dez., 2013
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/12396/15166

CÂNCER DE MAMA E SOFRIMENTO PSICOLÓGICO: ASPECTOS RELACIONADOS


AO FEMININO
Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 2, p. 239-237, abr../jun. 2008
https://www.scielo.br/j/pe/a/Nt9QhBh3Z6T9pY8hRTgQVjQ/?lang=pt&format=pdf
Teoria das relações interpessoais de Peplau: análise fundamentada em Barnaum
Revista Escola Enfermagem USP 2005; 39(2):202-10.
https://www.scielo.br/j/reeusp/a/tPtzyWHYsRzm8JwmNYrd5QK/?format=pdf&lang=pt

Instituto Nacional De Câncer / Ministério da saúde


https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/conceito-e-magnitude

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