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1º Trimestre de 2021

21 CENÁRIOS PARA A SAÚDE E


SEGURANÇA EM 2021
Que o ano de 2020 pode ser chamado de alterado,
ninguém tem dúvidas. Mas foi pura ilusão achar que
2021 seria diferente. O prolongamento da pande-
mia, a falta do auxílio emergencial, as deficiências
grosseiras e sutis da gestão da crise sanitária nos 3
níveis do poder executivo e nos outros poderes nos
levaram a uma perspectiva de continuidade de tem-
pos difíceis ao longo de todo 2021.
Nesse contexto, ousamos falar de 21 possíveis cená-
rios para 2021, sabendo que acertaremos na maior
parte deles, mas outros fatos imprevisíveis podem
ocorrer por conta de toda a imprevisibilidade ligada
à pandemia e seus impactos sobre a estabilidade do
tecido social.
A intenção deste artigo é contribuir para uma com-
petência extremamente importante, que é a habi-
litação conceitual: entender o contexto, enxergar
as diversas variáveis (políticas, sociais, ambientais e
relações de força) existentes na sociedade e, assim,
decidir bem.

No dia 21/01 a Ergo recebeu a visita de Luiz Eduardo


Dos 21 temas aqui tratados, certamente boa parte
Monteiro , fundador da plataforma de e-commerce Brasil na está relacionada à pandemia. Mas outros apresen-
Web, para nos entregar uma medalha pelo ótimo desempenho tados estão relacionados a mudanças de legislação,
obtido pela loja virtual da Ergo Editora em 2020.
avanços tecnológicos e ao futuro do trabalho.
Se você ainda não visitou a loja, acesse:
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10 sessões apresentadas por Hudson Couto e Den-
nis Couto, muito bem ilustradas com fotos e vídeos
e com exercícios práticos. Em 2020 ministramos 3
cursos, todos com todas as vagas preenchidas. Não
perca esse momento e aprenda a ergonomia que
efetivamente resolve.
Boa leitura!
Hudson de Araújo Couto
1
Hudson de Araújo Couto
Dennis Carvalho Couto

21 CENÁRIOS PARA A SAÚDE


E SEGURANÇA EM 2021

1. VACINAS
Com a aprovação do uso emergencial de duas vacinas pela ANVISA (que esbanjou
competência técnica nesse processo de aprovação, mostrando quão cuidadosa
deve ser a avaliação de qualquer técnica terapêutica nova), resta-nos aguardar
pelo menos um ano para se conseguir uma vacinação eficaz no país. A perspectiva
não é boa para ações de curto prazo, devido à demanda mundial.
Não tenho receio quanto à aceitação das vacinas entre os trabalhadores. Confor-
me costumo dizer, nas boas empresas, o ambiente é outro: médicos do trabalho
e enfermeiros são bons conselheiros, e os influenciadores antivacina podem ser
contrabalançados com relativa facilidade pelo bom esclarecimento, à medida que a empresa
incluir nos pré-requisitos para admissão “estar vacinado” e também porque o temor em rela-
ção ao óbito por COVID tem crescido em todas as esferas.
Uma série de perguntas ainda continuam em aberto: Qual é a duração da imunidade de quem
já teve COVID? Duração da proteção da vacina? Porcentagem para se atingir a imunidade co-
letiva? Quem deve ser vacinado primeiro? Quem já teve a doença, deve, pode ou não precisa
tomar a vacina? Qual é o intervalo entre as doses? Qual é a tolerância? Gera anticorpos detectá-
veis na sorologia? Quais são os ingredientes das vacinas? São seguras? Podem causar reações
alérgicas? Podem provocar a doença? Podem alterar o DNA em médio e longo prazo? Pode-se
tomar vacinas de diferentes fabricantes? Pode-se tomar vacinas para outras doenças? Grávidas
e lactantes? Mulheres que pretendem engravidar? Outras condições médicas: HIV, Guillan Bar-
ré, paralisia do nervo facial? Devemos nos preparar bem para esclarecê-las aos trabalhadores.

2. CUIDADOS HIGIÊNICOS
Uma pauta permanente para todo este ano, e talvez também para 2022, é a necessidade de
higiene coletiva, especialmente nos itens distanciamento social, nas relações interpessoais
fora do trabalho e no uso de máscaras. Temos que influenciar os trabalhadores para essas
atitudes. Nas empresas, a imagem de pessoas distanciadas e usando máscaras
permanecerá por muito tempo ainda.
As influências contrárias ao distanciamento e ao uso de máscaras, especialmente
fora do trabalho, são muitas e estão aí, distribuídas nas redes sociais. Há uma
série de argumentos sedutores quanto a aglomerar e não usar máscaras. Esse
movimento de liberalização sofreu recentemente um baque com a recente ex-
plosão de casos em Manaus, mas continua forte, advogando a imunidade de rebanho ou sim-
plesmente outras teorias estapafúrdias.
Lutar contra essas tolices será um trabalho constante ao longo desse ano. Mas aqui, um dos
melhores argumentos é resgatar a frase de Nicolas Boileau, crítico e poeta francês (1636-1711):
“Um tolo sempre encontra outro ainda mais tolo...que o admira!” (Essa frase também vale
para os que se deixam influenciar pelos inimigos da vacinação).
2
3. PROTOCOLOS SANITÁRIOS – COM Associado a essas medidas gerais, o SESMT estabe-
TODO O RIGOR leceu alguns protocolos de conduta que têm feito
diferença:
Em meio a tantas notícias ruins, a atuação dos SES-
1. Protocolo para avaliação técnica da real chance
MT (especialmente dos médicos e enfermeiros do
de exposição e gerenciamento do nível possível
trabalho) tem sido um dos pontos mais valorizados
de segurança;
pelas empresas durante a pandemia, por um motivo
simples: o trabalho árduo e competente desse time 2. Gerenciamento do retorno ao trabalho dos aco-
tem possibilitado viabilizar o resultado das empre- metidos ou dos contactantes;
sas em seu core business. 3. Protocolo de testes, aplicados de forma eficaz e
oportuna, com a previsão das devidas condutas;
O gerenciamento da COVID aproximou a Medicina
do Trabalho da alta direção, com o objetivo prioritá- 4. Atualização dinâmica dos dados dos trabalhado-
rio de garantir a segurança biológica no ambiente de res, possibilitando estatística de absenteísmo di-
trabalho, além de uma informação da melhor quali- nâmicas, relacionadas à necessidade de produção.
dade, transparência e na “língua” da direção e do É bem verdade que alguns procedimentos ficaram
chão de fábrica. Também tem contribuído para mini- prejudicados (espirometria e práticas de fisiotera-
mizar o tempo de afastamento dos casos de COVID, pia, por exemplo), assim como as revisões periódi-
quando possível evitando o afastamento no INSS, e cas presenciais de quem está trabalhando de forma
devolvendo os trabalhadores o mais rápido possível remota.
às suas atividades, com segurança.
Deve-se destacar ter havido um certo relaxamento e
O controle sanitário e o cumprimento de protocolos, cansaço da população com as medidas preventivas,
especialmente aqueles recomendados pela OIT na tanto da parte dos empregados como também das
cartilha emitida em maio de 2020, continua a ser ba- empresas, que afrouxaram um pouco a fiscalização,
lizador para essas ações. Sobre elas, os serviços mé- contribuindo para um aumento de casos. Isso cau-
dicos criaram bastante e hoje existem formas muito sou uma reação das empresas, voltando a endure-
interessantes de garantir essa segurança sanitária: cer as regras, aí já com medidas punitivas e adver-
1. Aplicativos em celular para autoavaliação de saú- tências. Não tivemos notícia de caso de demissão
de, com orientação para não comparecimento em por não cumprimento de regras.
casos suspeitos e orientação de conduta por tele-
consulta pelo médico/enfermeiro da empresa; Todo esse acréscimo de conteúdo só vai continuar
em 2021. Incentivamos que a equipe procure conhe-
2. Sinalização e barreiras de isolamento; cer essas e outras boas práticas; e a maneira mais
3. Fornecimento e orientação sobre o uso correto eficaz, em nossa opinião, são mesmo as redes so-
de máscaras, períodos de trocas e descarte de ciais (que estão fervilhando de bons exemplos).
máscaras descartáveis;
4. Monitores de saúde entre os próprios trabalha-
dores;
4. TRATAMENTO DA COVID-19
Enquanto os efeitos esperados das vacinas não che-
5. Limpeza autônoma e cultura de autocuidado;
gam (e vai demorar algum tempo) e a doença con-
6. Limpeza técnica e sanitização das unidades; tinua em nosso dia a dia, as condutas terapêuticas
7. Cuidados especiais em banheiros, restaurantes e têm sido distintas de país para país.
áreas comuns;
A Medicina do Trabalho tem feito (e tem que con-
8. Garantia de registro de contatos próximos no tinuar fazendo) o seu papel de acompanhamento
trabalho por mais de alguns minutos; ativo dos casos, monitorando todos os casos iden-
9. Ações de garantia de distanciamento mínimo; tificados, seja com visitas ou, mais frequentemente,
10. Definição de local fixo para se sentar no ônibus por telefone e, na existência de convênio médico, re-
de transporte até a fábrica; ferenciando para equipes assistenciais de confiança.

11. Teleconsultas. A Medicina Assistencial tem aprendido muito na con-


3
dução terapêutica de pacientes com COVID-19. Con- Assim, os médicos que usam a terapêutica precoce
tribuíram bastante para a melhoria dos resultados e medicamentos off-label acabam tendo que se es-
terapêuticos: a procura mais rápida pela orientação conder.
médica (e aqui se inclui a teleconsulta), utilização
mais ampla dos testes diagnósticos, especialmen- Nossa opinião é que, como em tudo na vida, o mani-
te o RT-PCR , estadiamento da doença, tratamento queísmo é uma posição insensata. Provavelmente,
precoce, vigilância e terapêutica rápida dos fenôme- neste cenário, a melhor alternativa para o pratican-
nos inflamatórios, tromboembólicos e das complica- te da Medicina do Trabalho seja: tenha referência
ções neurológicas, atenção ao aumento de citocinas de médicos assistenciais com bons protocolos e
e o uso oportuno de corticoides, ventilação não in- acredite nesses médicos com seus protocolos.
vasiva, ventilação prona e bons protocolos.
No Brasil, muitos protocolos já foram desenvolvidos 5. EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA EM RELAÇÃO
considerando as condutas mais indicadas e de bons AO SARS-COV-2 E À COVID-19
resultados segundo o estadiamento da doença. Sa-
Apesar de a Ciência ter sido bem desprezada nessa
be-se hoje que o fator principal ligado ao óbito é o
pandemia, é importante saber que, em alguns pon-
aumento de citocinas e demais substâncias da cas-
tos, o conhecimento científico evoluiu bastante no
cata inflamatória e a consequente inflamação dos
conhecimento da COVID-19. No Brasil, uma série de
pulmões e de outros órgãos; a intervenção precoce
estudos são paradigmáticos dessa evolução, espe-
no exato momento do aumento das citocinas, por
cialmente os produzidos por hospitais assistenciais
meio dos anti-inflamatórios esteroides, tem signifi-
de respeito (COALIZÃO I,II, III e além), os de diversas
cado um divisor de águas, possibilitando uma evo-
universidades e, por fim, os da Fiocruz e Butantan
lução favorável até mesmo mantendo o paciente
relacionados às vacinas. No mundo, o aparecimen-
ambulatorialmente conforme o caso.
to de diversas drogas específicas para o tratamen-
Quanto à utilização de medicamentos off-label no to também está ocorrendo. É para se acompanhar,
tratamento precoce, o mundo se divide entre países especialmente o que vem do FDA norteamericano.
e realidades que os usam e outros que não os usam,
sendo que os Conselhos de Medicina no Brasil já se
posicionaram, de forma sábia, seguindo a Declara-
ção de Helsinki (1962), que dá ao médico a liberdade
de conduta nesses casos, desde que tenha o “Termo
de Consentimento do Paciente” (CRMMG 13/7/2020
e CFM 14/1/2021). Ou seja, é uma decisão difícil para
o médico, na inexistência de medicamentos de efi-
cácia comprovada no tratamento da COVID-19, pres-
crever medicamentos de eficácia apenas alegada e
que não causem danos.
No Brasil, essa decisão está ainda mais difícil por
força de uma pressão ideológica, que é apresentada
ao médico assistente de forma maniqueísta, como o
argumento apresentado em um editorial de revista 6. HOME-OFFICE E HOME-WORK:
médica: Qual o conjunto de três palavras tem feito A PERMANÊNCIA DO QUE FOI
mais vítimas: “Na minha experiência” ou “ensaio clí- IMAGINADO COMO TEMPORÁRIO
nico randomizado”? (*) Nesse tipo de pressão, for-
ça-se o desprezo para condutas baseadas “na minha Em ergonomia se diz haver sempre uma distância
experiência” e força-se a aceitação tácita de “ensaio entre o trabalho prescrito e a real condição de se
clínico randomizado” sugerindo que aquele que op- fazer esse trabalho. Creio que nunca, no mundo do
tar pela primeira alternativa é médico de baixo nível. trabalho, se viu uma distância tão grande quanto a
que ocorreu com o home office: é um despautério
(*) Editorial do Arq Bras Cardiologia, 2020 - Autores: d’Ávila e Vidal Melo, M.A. falar de home office, pois os escritórios (office) cos-
4
PP
tumam ser muito melhores do que se determinou
ser praticado pelas pessoas em casa. Assim, o me-
Os serviços médicos de empresas devem então es-
tar preparados. Nosso parecer sempre foi o de “dai
lhor termo seria home-work. a César o que é de César... mas somente o que é de
César”. Uma das melhores ferramentas é o “pron-
Claramente, trabalhar em casa “caiu no colo” dos tuário à prova de contestações” para todos os exa-
trabalhadores da noite para o dia, sem qualquer pre- mes da NR7, periódicos, lançamento de atestados
paro e uma proporção bem pequena dos que passa- (analisar todos acima de 3 dias), acidentes de traba-
ram a trabalhar em casa teriam, de fato, condições lho e até queixas no ambulatório. Quanto mais do-
de fazê-lo. As impossibilidades tanto podem ser cumentado melhor, com avaliação de especialistas
técnicas (condição de internet e do computador em quando necessário.
si), físicas (posto de trabalho), sociais (dificuldade
de interação com os pares, dificuldade de conciliar Diante de uma demissão, na avaliação do Demissio-
tempo de trabalho com as demandas da casa e da nal, cabe ao médico do trabalho analisar o prontuá-
família) e até mesmo de nível de escolaridade para o rio do trabalhador e estar atento aos seguintes fa-
trabalho em casa, entre outras. tores que podem impactar numa definição de ASO
no Demissional: evidência de doenças relacionáveis
Profissionais de ergonomia estão tendo uma gran- com o trabalho como causa ou concausa; afasta-
de demanda para promover essa adequação e con- mentos previdenciários por B91 em alguma época
tinuarão a ter esse desafio em 2021, pois as condi- da vida profissional sendo o mesmo motivo da ale-
ções sanitárias não melhoraram e as possibilidades gação atual de adoecimento; situação de incapaci-
de flexibilização (4x1 ou 3x2) estão longe de ser rea- dade crônica por qualquer doença ou por iatrogenia
lidade. Os que estão trabalhando em casa necessi- não relacionada ao trabalho; inadaptação por ques-
tam de nossa atenção de forma prioritária. Já exis- tão de característica pessoal ou de exigências do
tem boas experiências sobre como conseguir dar trabalho resultando em absenteísmo.
essa assistência.
Por último, os exames demissionais deverão ser
7. AUMENTO SIGNIFICATIVO DO muito bem feitos, naquilo que denominamos Exame
Demissional à Prova de Contestação, especialmen-
NÚMERO DE DESEMPREGADOS E te exame muito bem feito do aparelho locomotor,
SUA CONSEQUÊNCIA IMEDIATA: com registro explícito das manobras realizadas e
AUMENTO DOS PROCESSOS DE que elas foram negativas.
REINTEGRAÇÃO
Ao início da pandemia, foi possível ao governo fede- 8. AUMENTO DOS AFASTAMENTOS
ral aprovar uma série de medidas de preservação do ALEGADOS COMO DE B91
emprego e do trabalho com auxílio social para aque-
les que não puderam contar com a possibilidade de Diretamente ligado ao item anterior, os afastamen-
trabalhar. Neste ano, isso não será mais possível e o tos médicos que passarem de 15 dias e que serão ava-
desemprego formal deve aumentar. liados pelo INSS tenderão a ser classificados como
B91: documentos médicos para essa finalidade não
Como uma consequência natural, os que forem de- faltarão, especialmente se a CNAE da empresa indi-
mitidos irão procurar o recurso de caracterização car a associação com os CIDs alegados no atestado.
de doença relacionada ao trabalho por ocasião do
processo de demissão, o que lhes daria a garantia A atuação, aqui, deve ser de acompanhar cada caso
de emprego. Na existência de falhas de prontuários de ausência ao trabalho ainda nos primeiros 15 dias,
ou de situações de adoecimento mal resolvidas, es- lutando para a boa assistência e recuperação preco-
pecialmente no caso de lesões musculoesqueléticas ce. Se, apesar de tudo, o afastamento ultrapassar
de membros superiores e lombalgias, a cada de- os 15 dias, o assunto deverá ser conduzido pelo Ju-
missão virá o pedido de reintegração, muitas vezes rídico da empresa, que poderá contratar assistentes
com liminar referendada por juízes do trabalho de técnicos para auxiliar no processo de esclarecimen-
primeira instância, cabendo à empresa obedecer à to correto junto à Previdência Social, sem qualquer
ordem judicial para depois questionar o mérito. garantia de sucesso.
5
9. EMISSÃO OU NÃO DE CAT contact tracing (rastreamento de contatos) para
EM CASO DE COVID-19 identificar a fonte de contaminação e potenciais
contatos próximos que podem estar infectados.
Essa questão, bastante similar ao que já vinha acon- Pode ser um guia útil manter o registro dinâmico do
tecendo para transtornos de membros superiores R0 (taxa de transmissão) naquela planta. Somente
e transtornos mentais, agora volta à tona com a nessas condições a empresa terá como descaracte-
pressão de atores sociais para que todos os casos rizar o nexo com o trabalho, tendo ainda que contar
de COVID-19 sejam caracterizados como de doença com a participação ativa de um setor Jurídico com-
relacionada ao trabalho, na categoria de causa ou petente.
concausa.
Ninguém tem dúvida quanto a esse enquadramen-
10. CADA VEZ MENOS EMPREGO EM
to no caso de profissionais de saúde envolvidos nas INDÚSTRIAS, CADA VEZ MAIS
diversas frentes de tratamento. A questão se com- SERVIÇOS, COM EMPREGOS
plica quando se vai falar de enquadramento quando TERCEIRIZADOS OU INFORMAIS
não se pode garantir distanciamento mínimo entre
as pessoas, como no caso de abatedouros de aves e A mudança no perfil de empregos no Brasil, com a
outros trabalhos em linhas de produção apertadas. redução dos empregos em indústrias, é uma ten-
E se torna ainda mais grave na existência da pande- dência constante ao longo dos últimos 30 anos. Na
mia, em que as pessoas não conseguem fazer dis- origem desse fenômeno, está a necessidade de com-
tanciamento social pelas questões sociais óbvias, petitividade mundial e a pouca estratégia brasileira
como transporte público. para aumentar a produtividade e ganhar pontos
nessa concorrência. Essa é uma questão que atinge
Seria a empresa corresponsabilizada numa situação diretamente a prática da medicina do trabalho, da
como essa? Aqui também vale a mesma lógica dos higiene e da segurança no trabalho, uma vez que,
DORT e dos transtornos mentais: a necessidade de em todo o mundo, as indústrias sempre se constituí-
se manter os cuidados sanitários, especialmente ram nas melhores escolas de práticas prevencionis-
aqueles relacionados às Portarias Interministeriais tas. De forma clara, está sendo cada vez mais difícil
19 e 20 (18/6/2020) e mostrar que está sendo pra- a um profissional do SESMT desenvolver seu traba-
ticado o protocolo preconizado pela OIT e fazer o lho profissional em indústrias.

6
Tabela 1 - Variação do emprego em 21 setores da indústria de transformação no Brasil desde
2006 (ref 2006, 2012 e 2020). Para efeito desta tabela, todos os valores foram nivelados con-
siderando 100% em 2006

Aumento ou redução percentual


do número de empregados
Códigos das Indústrias de Transformação (Valores de novembro de 2020

Em relação a 2006 Porcentagem


1 0. Produtos alimentícios +19,7 +1,8
11. Bebidas +18,0 -12,4
13. Produtos têxteis -23,0 -20,5
14. Confecção de artigos do vestuário e acessórios -40,5 -31,0
15. Couro, artigos para viagem e calçados -14,5 -12,9
16. Produtos de madeira -15,4 +11,1
17. Celulose, papel e produtos de papel +10,9 +5,4
18. Impressão e reprodução de gravações -44,0 -44,6
19. Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis -33,4 -47,7
20. Químicos +5,1 -2,4
21. Produtos farmoquímicos e farmacêuticos +43,8 +26,4
22. Produtos de borracha e de material plástico -0,3 -16,0
23. Produtos de minerais não metálicos -0,3 -19,2
24. Metalurgia -13,8 -26,1
25. Produtos de metal (exceto máquinas e equipamentos) -8,6 -24,8
Fonte: 27. Máquinas, aparelhos e materiais elétricos +29,3 -6,7
Construção do
autor a partir de
28. Máquinas e equipamentos +0,6 -24,2
dados do site da 29. Veículos automotores, reboques e carrocerias -16,1 -38,2
CNI : Indicadores
30. Outros equipamentos de transporte -39,0 -59,0
Industriais -
Portal da 31. Móveis -4,1 -21,9
Indústria - CNI 32. Produtos diversos -33,5 -40,5
(portaldaindus-
tria.com.br) Média de todos os setores -7,6% -19,2

Por outro lado, desde 2001 que o setor terciário (de comércio e de serviços) já vem abrigando
a maior parte da população trabalhadora com trabalho formal. Em 2015 esse percentual já era
de 67%, conforme Tabela 2.

Tabela 2 - População trabalhadora empregada – participação dos setores – realidade de 2015

Trabalhadores formais aproximado


Setores Porcentagem
(milhões)

Setor primário 9,58 10,4%


Construção 6,82 7,4%
Indústria 13,1 14,2%
Setor Terciário – Comércio e Serviços 62,4 67,7%
Estratificação do Setor de Comércio e Serviços:
Comércio e reparação de veículos 17,97 28,8%
Serviços de interesse público 15,29 24,5%
Fonte: Serviços profissionais de diversas naturezas 10,8 17,3%
Construção do Serviços domésticos 6,24 10,0%
autor a partir da
PNAD CONTÍNUA Alojamento e alimentação 4,30 6,9%
(IBGE). Transportes e correios 4,30 6,9%

7
Assim, é de se esperar que o profissional de SST mi- 12. TRANSTORNOS MENTAIS
gre gradativamente para o setor de serviços, onde
as demonstrações de ganhos financeiros com as Os fatores precipitadores para aumento de transtor-
medidas de higiene, segurança e medicina do traba- nos mentais estão todos aí, em profusão, desde as
lho são mais difíceis. situações de pobreza e falta de condição financeira,
como aqueles relacionados a medos e ao trabalho

11. POBREZA, DESEMPREGO isolado, lembrando ainda o terrível impacto do abre-


-e-fecha da economia. Um dos grupos mais críticos
E SEUS IMPACTOS na atualidade é dos profissionais da saúde envolvi-
dos na linha de frente de combate ao coronavírus,
O setor de serviços vinha absorvendo o contingente
pelos motivos bem conhecidos.
de trabalhadores excedentes das indústrias. Com a
pandemia, não mais. É o setor que mais vem sentido Se podemos fazer pouco pelo desempregado em si-
o impacto da recessão. O melhor exemplo da atuali- tuação de penúria, esta é uma das áreas em que a
dade é a queda de empregados em bancos, viagens, equipe de saúde pode fazer muito pelo trabalhador
hospedagem, espetáculos e restaurantes. E com que está na empresa.
isso, vem a tríade 3D: desempregado, demitido ou
desocupado, ingredientes perfeitos para aumento Em relação ao teletrabalho ou homework, a OIT faz
da pobreza. 4 recomendações importantes para gestores:
1. Fazer reunião de trabalho (virtual) com toda a
Esse é o cenário para uma reflexão sobre conse-
equipe pelo menos uma vez por semana;
quências sociais do empobrecimento decorrente de
recessão econômica, de perda do emprego, de falta 2. Não enviar mensagens fora do horário regular de
do “colchão social de amparo”, de aumento de nú- trabalho
mero de pessoas que dependem das que mantêm o 3. Respeitar a carga horária daqueles de horário par-
emprego, e do aumento enorme de uma condição cial
extremamente preocupante no tecido social: os vul-
4. Flexibilidade quanto a alguns horários, especial-
neráveis.
mente daqueles que têm filhos (lembrando que
Vulnerabilidade social traz consigo doenças físicas escolas e creches estão fechadas).
e, principalmente, transtornos mentais. Mas pode
trazer também outras formas de instabilidade do te-
cido social, para a qual devemos estar atentos(**).
Não sabemos se nós, dos SESMT, podemos fazer
muito sobre isso, mas certamente podemos influen-
ciar para que a atitude das empresas, diante das difi-
culdades sociais deste ano, seja de evitar ao máximo
as demissões, até que se tenha muita gente vacina-
da, o que tornará possível uma retomada segura do
desenvolvimento econômico.
Mas, certamente, para aqueles que permanecerem
empregados, podemos montar bons programas de Em nosso livro mais recente (Ergonomia 4.0 – ano
preservação da saúde mental. 2020 – Capítulo 27), relacionamos 14 ações da Medi-
cina do Trabalho visando garantir a boa saúde men-
tal dos trabalhadores:
1. Monitoramento do ambiente psicossocial
2. Detecção precoce de fatores psicossociais críticos

(**) É bom nunca esquecer a frase escrita pelo médico Josué de Castro em 1946,
3. Correção dos fatores psicossociais do trabalho e
no livro “Geografia da Fome”, no qual ele alertava para os perigos de haver de redução do estresse
futuramente no Brasil duas classes sociais: “a dos que não dormem porque
não comem e a dos que não dormem com medo dos que não comem.” 4. Preparação das pessoas para lidar com o estresse
8
5. Treinamentos de saúde mental pacional relacionadas à vibração de corpo inteiro
6. Preparação das chefias em relações humanas e e processos altamente mecanizados no plantio e
como evitar situações de estresse corte de florestas e tecnologias 4.0 abundantes nas
plantas industriais.
7. Detecção precoce de pessoas com alto nível de
estresse ou sofrimento mental E é importante citar que todo o setor ligado à indús-
8. Diagnóstico Situacional Sistematizado tria petroquímica irá continuar com demanda au-
mentada, com alto nível de tecnologia, porém tra-
9. Ações médicas e psicológicas visando ao trata- balhando “no fio da navalha”, com número cada vez
mento correto menor de trabalhadores.
10. Ações de retorno ao trabalho eficaz após afasta-
mento por transtorno mental Também é importante citar o papel da indústria da
construção civil, tão demandada num país carente
11. Construção do engajamento dos trabalhadores de infraestrutura, como o Brasil. Crescimento ou re-
com as metas tração nesse segmento depende, muitas vezes, do
12. Ações afirmativas relacionadas à qualidade in- investimento público. Atenção com os fatores bio-
trínseca das tarefas mecânicos.
13. Ações afirmativas de Ergonomia, Saúde e Segu- Por fim, o setor de logística tem tido e continuará
rança tendo alta demanda, sempre trabalhando com mar-
14. Ações de sensibilização da alta gerência gem de contribuição apertada e, consequentemen-
te, com sobrecarga sobre os trabalhadores.

13. NO ENTANTO, ALGUNS 14. ORÇAMENTOS RIGOROSOS


SEGMENTOS DA ECONOMIA
DEMANDARÃO MUITO TRABALHO Épocas difíceis para as empresas também são acom-
panhadas de redução de investimentos e nós temos
O agronegócio, cada vez mais mecanizado, tem sido que entender isso.
o carro chefe da indústria brasileira nos últimos tem-
pos; diretamente ligado, está o setor de alimentos, Nesse caso, as equipes de ergonomia, saúde e segu-
tradicional fonte de questões ergonômicas, princi- rança das empresas devem ter uma noção clara de
palmente no abate de fontes de proteína animal e que, neste ano de 2021, o orçamento dedicado a es-
nas embalagens. tas áreas fatalmente será reduzido, resultando em
limitações nas ações de melhorias técnicas e na con-
A mineração, especialmente a de minério de ferro, tratação de soluções externas. Esses profissionais
continua exportando muito, com grande demanda deverão se acostumar a “fazer mais com menos”,
de produção e técnicas de produtividade cada vez encontrando soluções de menor custo e muitas ve-
mais aprimoradas. No entanto, aliado a isso, exis- zes desenvolvidas internamente. Essas ações pode-
te redução do efetivo de pessoal, exigindo mais
das equipes de segurança no trabalho e gestão do
meio ambiente. Devem ter atenção especial com as
atividades de manutenção, especialmente quando
realizadas por empresas contratadas, que realizam
práticas de baixo nível e com nenhuma cultura de
segurança.
A indústria farmacêutica também está em alta; ali as
questões estão relacionadas a esforços críticos no
manuseio de insumos, bem como demandas para
membros superiores nas embalagens.
Outro segmento industrial que vem crescendo no
Brasil é o de celulose e papel, com demandas ocu-
9
rão não ser as ideais, mas terão que ser adaptadas à Mês NR Tema
realidade de baixos investimentos.
Fevereiro 4 e 5 Serviços Especializados e CIPA
Nesse contexto, é nosso papel, especialmente das Abril 19,29 e 30 Explosivos, Trabalho Portuário
áreas de segurança, não permitir uma queda de ní- e Aquaviário
vel. Assim, poucos recursos não podem significar Junho 10, 13, 22 e 37 Instalações Elétricas, Caldeiras
deixar os sistemas em risco, vulneráveis. e Vasos sob Pressão, Mineração
e Plataformas de Petróleo
15. PGR-GRO ESTÃO CHEGANDO

Relatório sobre Riscos
Psicossociais
A nova Norma Regulamentadora 1, que entra em vi- (não abordado na NR17)
gor em 2 de agosto de 2021, prevê mudança radical Agosto 11, 33,34 e 36 Transporte, Manuseio e
no sistema de gestão dos riscos, com o PGR (Progra- Armazenagem de Materiais,
ma de Gerenciamento de Riscos) dentro da filosofia Espaços Confinados,
de GRO (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais). Construção Naval e Abate de
Processamento da Carne
Sai de cena o PPRA e entra em cena o Inventário de
Riscos e Perigos. A ideia não é nova, mas só agora Discussão sobre Limpeza
Urbana
foi incorporada como ferramental obrigatório. O
Inventário de Riscos e Perigos tem, como comple- Outubro 6, 26 e 35 EPI, Sinalização de segurança
e Trabalho em Altura
mento obrigatório, os Planos de Ação, de forma a
resolvê-los. Dezembro 8, 14, 21, 23, Edificações, Fornos, Atividades
25 e 32 ao Ar Livre, Proteção contra
Elaborar um bom Inventário de Riscos e Perigos não Incêndios, Destinação de
é tão difícil em relação aos riscos de acidentes típi- Resíduos Industriais e Serviços
de Saúde
cos daquela instalação; é mais complexo em relação
aos riscos por más condições de ergonomia e cos-
tuma ser muito complexo e difícil ao se abordar os
possíveis riscos à saúde de processos industriais e
17. MEI E TERCEIRIZAÇÕES –
ao risco químico difuso. GERALMENTE DE FORA DAS
MEDIDAS DE PROTEÇÃO SOCIAL
Temos aí um ótimo desafio para os profissionais do
SESMT, que devem procurar conhecimento técni- As possibilidades de relações de trabalho decorren-
co profundo do processo produtivo e se cercar de tes da Reforma Trabalhista de 2017 são inúmeras,
consultores técnicos competentes. E, na parte de mas o destaque, neste artigo, é para a questão dos
ergonomia, cabe ao profissional da área construir microempreendedores individuais, que não estão
o Inventário de Riscos Ergonômicos, fazer a Avalia- cobertos por ações preventivas. Quando forem
ção Ergonômica Preliminar, fazer as análises ergo- contratados pelas empresas, deve o SESMT cobrar
nômicas necessárias, coordenando com as chefias as mesmas medidas cobradas rotineiramente de
operacionais a construção dos Planos de Ação e tra- terceiros habituais, sempre lembrando que, nas ter-
balhando como “puxador” do SIG-ERGO (Sistema ceirizações, costuma haver grande tendência em
Integrado de Gestão da Ergonomia). se deixar para o terceiro o trabalho PPPMP (porco,
pesado, perigoso e mal pago). O argumento justifi-
cando a ação preventiva aqui é claro: a responsabili-
16. AGENDA DE REVISÃO DAS NORMAS dade solidária continua valendo.
REGULAMENTADORAS
Mais complexo sob o ponto de vista de saúde públi-
Esteja atento, pois o calendário está cheio de roda- ca é a questão dos microempreendedores envolvi-
das e revisões das Comissões Tripartites. Veja o Qua- dos em demandas por aplicativos, tais como moto-
dro. A participação dos atores sociais tem sido uma ristas e entregadores de alimentos, pois as relações
das grandes características de nossa democracia na de trabalho aqui são nebulosas, quase inexistentes
consolidação dos textos das NR de forma a serem em termos de responsabilidade com a condição de
aceitas por todas as partes. saúde e segurança. E podemos esperar adoecimen-
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tos importantes e acidentes nessas categorias, que terioração na cultura de segurança leva também ao
procuram nesse tipo de trabalho uma alternativa aumento nas queixas no ambulatório, uma vez que
de subsistência. são previstos cortes nos investimentos ligados à er-
gonomia. E, como nossos leitores já sabem, 40% dos
O tema já movimenta a Justiça do Trabalho no Bra- acidentes de trabalho são diretamente decorren-
sil. Em março haverá um congresso virtual sobre A tes de más condições ergonômicas, portanto, com
Justiça do Trabalho, as Novas Tecnologias e Novas piores condições de trabalho, maiores as oportuni-
Relações de Trabalho, que discutirá as perspectivas dades de acidentes. Em cenários mais graves, pode-
legais e regulamentares das novas relações de traba- mos voltar a presenciar desastres industriais e am-
lho e como instrumentalizar as tutelas protetivas nas bientais importantes, gerando danos irreparáveis.
novas relações. Também a conferir e acompanhar.
Novamente, é o papel fundamental do SESMT estar

18. ATENÇÃO À CULTURA DE atento a essas pequenas mudanças diárias na cul-


tura organizacional da empresa, intervindo quando
SEGURANÇA necessário para não permitir que o sistema caminhe
em direção à insegurança.
O professor dinamarquês Jens Rasmussen (1926-
2018), especialista na área de pesquisa sobre erros
e acidentes humanos, afirmou: “acidentes são o re-
sultado de uma migração sistemática do comporta-
19. AS TECNOLOGIAS 4.0 ESTÃO
BOMBANDO E DEVEMOS
mento organizacional sob a influência de pressões
visando custo x benefício em um ambiente altamen-
ESTAR ATENTOS ÀS QUESTÕES
te competitivo”; em outras palavras, à medida que ERGONÔMICAS
as empresas se veem cada vez mais pressionadas a As organizações que mais têm aplicado as Tecnolo-
balancear o tênue equilíbrio entre produtividade e gias 4.0 no Brasil são os bancos (na parte específica
segurança, mais o comportamento das pessoas po- de cyber-segurança), as empresas de logística (na
derá caminhar em direção à insegurança. parte de sistemas inteligentes relacionados ao fluxo
Essa perspectiva é altamente relevante diante dos de materiais) e algumas indústrias químicas e petro-
cenários de redução de investimentos, aumento químicas de ponta (em sistemas inteligentes de con-
nas terceirizações e de demissões e perda da com- trole de processos).
petitividade global da indústria brasileira, discutidos Se, por um lado, diversas dessas tecnologias redu-
neste texto. Acreditamos que essa é a “tempestade zem a sobrecarga física e mental, por outro lado, es-
perfeita” para uma deterioração geral na cultura sas tecnologias trazem consigo alguns pontos bem
de segurança nas empresas, que poderá acontecer, conhecidos de sobrecarga: o trabalho IDT (Intenso,
por exemplo, pelo aumento da permissividade das Denso e Tenso), as demandas urgentes ligadas à co-
chefias com “pequenas violações” das regras de nectividade de sistemas e segurança da informação,
trabalho, substituição de trabalhadores experien- jornadas irregulares, teletrabalho (bem diferente de
tes por trabalhadores não acostumados ao trabalho home-work ou home-office), disponibilidade para
correto, sistemas levados ao limite da produtividade atender a emergências, num trabalho caracteriza-
em detrimento de sua segurança, cortes nos investi- do na “sopa de letras” como TTTQL (trabalha-se o
mentos em manutenção, entre outros. Todas essas tempo todo em qualquer lugar). Isso, na maioria das
práticas serão justificadas pela necessidade de recu- vezes, em condições ergonômicas precárias.
perar os prejuízos causados pela pandemia.
Cuidado especial deve haver também com os gesto-
As consequências naturais dessa deterioração na res desses processos: engenheiros que irão apresen-
cultura de segurança são o aumento dos índices de tar sinais de ansiedade e estresse ligado à própria
acidentes do trabalho. No entanto, há outras con- volatilidade da competência e às demandas que se
sequências mais sutis: não só os índices de aciden- renovam.
tes típicos do trabalho aumentam, como poderão
voltar a acontecer acidentes “raros”, situações que A área de segurança deve estar atenta especialmente
se pensava já estarem resolvidas na empresa. A de- à tendência a projetos tecnocentrados, comprados
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exclusivamente com base em tecnologias sedutoras,
e que são implantados desconsiderando o Princípio
HOTEC (ver Capítulo 22 do livro Ergonomia 4.0).

20. MAS, ATENÇÃO: A MAIORIA


DOS QUE TRABALHAM COM
TECNOLOGIA ESTÃO FORA
DO RADAR
Onde estão, de fato, as pessoas que lidam com tec-
nologias avançadas, como IA? Alguns poucos traba-
lham formalmente para grandes empresas de tecno-
logia, mas a maioria está desenvolvendo aplicativos
avançados para smartfones, compatíveis com de-
mandas sociais atuais.

mental que desenvolvam autogestão eficaz de seu


Onde atuam os profissionais de tecnologia, próprio tempo. E a demanda pela procura de clientes
geralmente como empreendedores individuais sempre será um motivo de ansiedade e tensão.

♦ Desenvolvimento de apps para internet e smartfones Nessa nova vertente do mundo do trabalho, cabe
♦ Gerenciamento de mídias sociais ao profissional de ergonomia desempenhar o papel
♦ Especialista computacional de dados em nuvem que denomino de ergo-coach, ensinando e avalian-
♦ Analista de big data (cientista de dados) do ergonomia in-loco ou à distância, com atenção às
♦ Criação de conteúdo para Youtube questões do posto de trabalho em casa, de saúde
♦ Analistas virtuais de mercado financeiro mental e de orientação quanto a perceber “sinais
♦ Desenvolvimento de aplicativos de BI (business vermelhos no painel”.
inteligence)
♦ Desenvolvimento de aplicativos de gerenciamento
direcionado em redes sociais e e-mails 21. SESMT DOS HOSPITAIS: A
♦ Desenvolvimento de aplicativos de lojas virtuais PANDEMIA OS TRANSFORMOU
♦ Analistas e desenvolvedores da logística do EM PROTAGONISTAS
comércio eletrônico
♦ Desenvolvimento de jogos eletrônicos Esse foi um dos setores que mais evoluiu na prática
♦ Desenvolvimento de técnicas de deep learning da saúde e segurança durante a pandemia. Os pro-
♦ Analistas e programadores da integração de fissionais foram e estão sendo muito demandados
equipamentos domésticos especialmente para se conseguir segurança de cola-
♦ Desenvolvimento de automação total de processos boradores e pacientes em relação ao coronavírus.
♦ Outros... Aquele risco biológico tradicional dos acidentes per-
furocortantes deu vez ao isolamento e proteção à
Assim como aqueles citados no Item 17, boa parte saúde dos empregados e pacientes do novo risco
deles é de microempreendedores individuais contra- invisível, o SARS-Cov-2.
tados por projetos; só que, ao contrário daqueles de
Outro ponto importante foi o engajamento agora
trabalho muito precário citados no Item 17, estes aqui
obrigatório dos médicos do Corpo Clínico (muitas
desenvolvem seus trabalhos em casa, com remune-
vezes autônomos, sem vínculo empregatício) com
ração razoável, mas, muitas vezes em más condições
os protocolos na instituição. Nos hospitais, a equipe
de ergonomia, trabalhando em horários irregulares
de saúde e segurança foi integrada de vez aos comi-
e também no regime TTTQL. Quase sempre compro-
tês de gestão de crise, ocupando posição mais pró-
metidos com prazos apertados, têm a vantagem de
xima da gestão e muito mais proativa.
gozar de algum grau de flexibilidade para interrom-
per seu trabalho ao sentirem fadiga. Mas é funda- Alguns temas que têm sido abordados:
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1. Estabelecimento de protocolos em salas de emer- pessoas em relação a riscos – incluindo o corpo
gência, centro cirúrgico, ambulatórios e em CTI; clínico – até no manuseio de instrumentos;
2. Gestão do absenteísmo, dando transparência ao 7. Discussão dos ambientes (caracterizando-os
processo, fazendo o rastreio e afastamento dos como salubres e adequados – quando é o caso)
sintomáticos; – de forma a torná-los mais seguros, próximo da
3. Orientação e monitoramento dos profissionais Epidemiologia, com grande ênfase na construção
envolvidos no atendimento; de fluxos.
4. Gestão de indicadores objetivos, mapeamento de O ano de 2021 é ainda mais promissor para a atuação
populações de risco (fumantes, obesos, portado- efetiva dos profissionais do SESMT de instituições
res de doenças crônicas, idosos) e o consequente de saúde.
afastamento de atividades assistenciais;
CONCLUSÃO
5. Mapeamento das áreas de maior risco e tipo de
Este ensaio ficaria incompleto se não falássemos de
EPI necessários, com avaliação qualitativa e alto
duas tendências importantes a serem acompanha-
investimento em compra de EPIs adequados;
das a partir de agora: mudanças radicais no trabalho
6. Consultoria de maneira muito ativa instruindo as de professores, com a incorporação das tecnologias
de ensino à distância como regra em esquemas semi-
presenciais; e a mudança extraordinária a ser prota-
gonizada pela Telemedicina. Estejamos preparados.
AGRADECIMENTOS
Aos seguintes médicos que leram este texto e de-
ram alguma contribuição: Ana Paula Scalia Carneiro,
André Mendes, Bruno Ribeiro Moreira, Fernando
Akio Marya, Marco Antônio Soares Reis e Willes de
Oliveira e Souza

Instrutores:
Hudson de Araújo Couto
Dennis Carvalho Couto
Ao longo de 10 sessões, os participantes
serão capacitados nos principais e mais atuais
conceitos da Ergonomia, por meio de aulas ricas
em exemplos, ferramentas práticas e resoluções
de exercícios.
Carga horária: 23 horas
Datas: 8 a 12 de março e 22 a 26 de março http://www.ergoltda.com.br/2021/01/4o-curso-ergonomia-
Horários das sessões: 19 às 21:15. sem-misterios/

Mais Informações: http://www.ergoltda.com.br

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