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Informativo Ergo 1º Trimestre 2021 Revisado
Informativo Ergo 1º Trimestre 2021 Revisado
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1º Trimestre de 2021
1. VACINAS
Com a aprovação do uso emergencial de duas vacinas pela ANVISA (que esbanjou
competência técnica nesse processo de aprovação, mostrando quão cuidadosa
deve ser a avaliação de qualquer técnica terapêutica nova), resta-nos aguardar
pelo menos um ano para se conseguir uma vacinação eficaz no país. A perspectiva
não é boa para ações de curto prazo, devido à demanda mundial.
Não tenho receio quanto à aceitação das vacinas entre os trabalhadores. Confor-
me costumo dizer, nas boas empresas, o ambiente é outro: médicos do trabalho
e enfermeiros são bons conselheiros, e os influenciadores antivacina podem ser
contrabalançados com relativa facilidade pelo bom esclarecimento, à medida que a empresa
incluir nos pré-requisitos para admissão “estar vacinado” e também porque o temor em rela-
ção ao óbito por COVID tem crescido em todas as esferas.
Uma série de perguntas ainda continuam em aberto: Qual é a duração da imunidade de quem
já teve COVID? Duração da proteção da vacina? Porcentagem para se atingir a imunidade co-
letiva? Quem deve ser vacinado primeiro? Quem já teve a doença, deve, pode ou não precisa
tomar a vacina? Qual é o intervalo entre as doses? Qual é a tolerância? Gera anticorpos detectá-
veis na sorologia? Quais são os ingredientes das vacinas? São seguras? Podem causar reações
alérgicas? Podem provocar a doença? Podem alterar o DNA em médio e longo prazo? Pode-se
tomar vacinas de diferentes fabricantes? Pode-se tomar vacinas para outras doenças? Grávidas
e lactantes? Mulheres que pretendem engravidar? Outras condições médicas: HIV, Guillan Bar-
ré, paralisia do nervo facial? Devemos nos preparar bem para esclarecê-las aos trabalhadores.
2. CUIDADOS HIGIÊNICOS
Uma pauta permanente para todo este ano, e talvez também para 2022, é a necessidade de
higiene coletiva, especialmente nos itens distanciamento social, nas relações interpessoais
fora do trabalho e no uso de máscaras. Temos que influenciar os trabalhadores para essas
atitudes. Nas empresas, a imagem de pessoas distanciadas e usando máscaras
permanecerá por muito tempo ainda.
As influências contrárias ao distanciamento e ao uso de máscaras, especialmente
fora do trabalho, são muitas e estão aí, distribuídas nas redes sociais. Há uma
série de argumentos sedutores quanto a aglomerar e não usar máscaras. Esse
movimento de liberalização sofreu recentemente um baque com a recente ex-
plosão de casos em Manaus, mas continua forte, advogando a imunidade de rebanho ou sim-
plesmente outras teorias estapafúrdias.
Lutar contra essas tolices será um trabalho constante ao longo desse ano. Mas aqui, um dos
melhores argumentos é resgatar a frase de Nicolas Boileau, crítico e poeta francês (1636-1711):
“Um tolo sempre encontra outro ainda mais tolo...que o admira!” (Essa frase também vale
para os que se deixam influenciar pelos inimigos da vacinação).
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3. PROTOCOLOS SANITÁRIOS – COM Associado a essas medidas gerais, o SESMT estabe-
TODO O RIGOR leceu alguns protocolos de conduta que têm feito
diferença:
Em meio a tantas notícias ruins, a atuação dos SES-
1. Protocolo para avaliação técnica da real chance
MT (especialmente dos médicos e enfermeiros do
de exposição e gerenciamento do nível possível
trabalho) tem sido um dos pontos mais valorizados
de segurança;
pelas empresas durante a pandemia, por um motivo
simples: o trabalho árduo e competente desse time 2. Gerenciamento do retorno ao trabalho dos aco-
tem possibilitado viabilizar o resultado das empre- metidos ou dos contactantes;
sas em seu core business. 3. Protocolo de testes, aplicados de forma eficaz e
oportuna, com a previsão das devidas condutas;
O gerenciamento da COVID aproximou a Medicina
do Trabalho da alta direção, com o objetivo prioritá- 4. Atualização dinâmica dos dados dos trabalhado-
rio de garantir a segurança biológica no ambiente de res, possibilitando estatística de absenteísmo di-
trabalho, além de uma informação da melhor quali- nâmicas, relacionadas à necessidade de produção.
dade, transparência e na “língua” da direção e do É bem verdade que alguns procedimentos ficaram
chão de fábrica. Também tem contribuído para mini- prejudicados (espirometria e práticas de fisiotera-
mizar o tempo de afastamento dos casos de COVID, pia, por exemplo), assim como as revisões periódi-
quando possível evitando o afastamento no INSS, e cas presenciais de quem está trabalhando de forma
devolvendo os trabalhadores o mais rápido possível remota.
às suas atividades, com segurança.
Deve-se destacar ter havido um certo relaxamento e
O controle sanitário e o cumprimento de protocolos, cansaço da população com as medidas preventivas,
especialmente aqueles recomendados pela OIT na tanto da parte dos empregados como também das
cartilha emitida em maio de 2020, continua a ser ba- empresas, que afrouxaram um pouco a fiscalização,
lizador para essas ações. Sobre elas, os serviços mé- contribuindo para um aumento de casos. Isso cau-
dicos criaram bastante e hoje existem formas muito sou uma reação das empresas, voltando a endure-
interessantes de garantir essa segurança sanitária: cer as regras, aí já com medidas punitivas e adver-
1. Aplicativos em celular para autoavaliação de saú- tências. Não tivemos notícia de caso de demissão
de, com orientação para não comparecimento em por não cumprimento de regras.
casos suspeitos e orientação de conduta por tele-
consulta pelo médico/enfermeiro da empresa; Todo esse acréscimo de conteúdo só vai continuar
em 2021. Incentivamos que a equipe procure conhe-
2. Sinalização e barreiras de isolamento; cer essas e outras boas práticas; e a maneira mais
3. Fornecimento e orientação sobre o uso correto eficaz, em nossa opinião, são mesmo as redes so-
de máscaras, períodos de trocas e descarte de ciais (que estão fervilhando de bons exemplos).
máscaras descartáveis;
4. Monitores de saúde entre os próprios trabalha-
dores;
4. TRATAMENTO DA COVID-19
Enquanto os efeitos esperados das vacinas não che-
5. Limpeza autônoma e cultura de autocuidado;
gam (e vai demorar algum tempo) e a doença con-
6. Limpeza técnica e sanitização das unidades; tinua em nosso dia a dia, as condutas terapêuticas
7. Cuidados especiais em banheiros, restaurantes e têm sido distintas de país para país.
áreas comuns;
A Medicina do Trabalho tem feito (e tem que con-
8. Garantia de registro de contatos próximos no tinuar fazendo) o seu papel de acompanhamento
trabalho por mais de alguns minutos; ativo dos casos, monitorando todos os casos iden-
9. Ações de garantia de distanciamento mínimo; tificados, seja com visitas ou, mais frequentemente,
10. Definição de local fixo para se sentar no ônibus por telefone e, na existência de convênio médico, re-
de transporte até a fábrica; ferenciando para equipes assistenciais de confiança.
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Tabela 1 - Variação do emprego em 21 setores da indústria de transformação no Brasil desde
2006 (ref 2006, 2012 e 2020). Para efeito desta tabela, todos os valores foram nivelados con-
siderando 100% em 2006
Por outro lado, desde 2001 que o setor terciário (de comércio e de serviços) já vem abrigando
a maior parte da população trabalhadora com trabalho formal. Em 2015 esse percentual já era
de 67%, conforme Tabela 2.
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Assim, é de se esperar que o profissional de SST mi- 12. TRANSTORNOS MENTAIS
gre gradativamente para o setor de serviços, onde
as demonstrações de ganhos financeiros com as Os fatores precipitadores para aumento de transtor-
medidas de higiene, segurança e medicina do traba- nos mentais estão todos aí, em profusão, desde as
lho são mais difíceis. situações de pobreza e falta de condição financeira,
como aqueles relacionados a medos e ao trabalho
(**) É bom nunca esquecer a frase escrita pelo médico Josué de Castro em 1946,
3. Correção dos fatores psicossociais do trabalho e
no livro “Geografia da Fome”, no qual ele alertava para os perigos de haver de redução do estresse
futuramente no Brasil duas classes sociais: “a dos que não dormem porque
não comem e a dos que não dormem com medo dos que não comem.” 4. Preparação das pessoas para lidar com o estresse
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5. Treinamentos de saúde mental pacional relacionadas à vibração de corpo inteiro
6. Preparação das chefias em relações humanas e e processos altamente mecanizados no plantio e
como evitar situações de estresse corte de florestas e tecnologias 4.0 abundantes nas
plantas industriais.
7. Detecção precoce de pessoas com alto nível de
estresse ou sofrimento mental E é importante citar que todo o setor ligado à indús-
8. Diagnóstico Situacional Sistematizado tria petroquímica irá continuar com demanda au-
mentada, com alto nível de tecnologia, porém tra-
9. Ações médicas e psicológicas visando ao trata- balhando “no fio da navalha”, com número cada vez
mento correto menor de trabalhadores.
10. Ações de retorno ao trabalho eficaz após afasta-
mento por transtorno mental Também é importante citar o papel da indústria da
construção civil, tão demandada num país carente
11. Construção do engajamento dos trabalhadores de infraestrutura, como o Brasil. Crescimento ou re-
com as metas tração nesse segmento depende, muitas vezes, do
12. Ações afirmativas relacionadas à qualidade in- investimento público. Atenção com os fatores bio-
trínseca das tarefas mecânicos.
13. Ações afirmativas de Ergonomia, Saúde e Segu- Por fim, o setor de logística tem tido e continuará
rança tendo alta demanda, sempre trabalhando com mar-
14. Ações de sensibilização da alta gerência gem de contribuição apertada e, consequentemen-
te, com sobrecarga sobre os trabalhadores.
♦ Desenvolvimento de apps para internet e smartfones Nessa nova vertente do mundo do trabalho, cabe
♦ Gerenciamento de mídias sociais ao profissional de ergonomia desempenhar o papel
♦ Especialista computacional de dados em nuvem que denomino de ergo-coach, ensinando e avalian-
♦ Analista de big data (cientista de dados) do ergonomia in-loco ou à distância, com atenção às
♦ Criação de conteúdo para Youtube questões do posto de trabalho em casa, de saúde
♦ Analistas virtuais de mercado financeiro mental e de orientação quanto a perceber “sinais
♦ Desenvolvimento de aplicativos de BI (business vermelhos no painel”.
inteligence)
♦ Desenvolvimento de aplicativos de gerenciamento
direcionado em redes sociais e e-mails 21. SESMT DOS HOSPITAIS: A
♦ Desenvolvimento de aplicativos de lojas virtuais PANDEMIA OS TRANSFORMOU
♦ Analistas e desenvolvedores da logística do EM PROTAGONISTAS
comércio eletrônico
♦ Desenvolvimento de jogos eletrônicos Esse foi um dos setores que mais evoluiu na prática
♦ Desenvolvimento de técnicas de deep learning da saúde e segurança durante a pandemia. Os pro-
♦ Analistas e programadores da integração de fissionais foram e estão sendo muito demandados
equipamentos domésticos especialmente para se conseguir segurança de cola-
♦ Desenvolvimento de automação total de processos boradores e pacientes em relação ao coronavírus.
♦ Outros... Aquele risco biológico tradicional dos acidentes per-
furocortantes deu vez ao isolamento e proteção à
Assim como aqueles citados no Item 17, boa parte saúde dos empregados e pacientes do novo risco
deles é de microempreendedores individuais contra- invisível, o SARS-Cov-2.
tados por projetos; só que, ao contrário daqueles de
Outro ponto importante foi o engajamento agora
trabalho muito precário citados no Item 17, estes aqui
obrigatório dos médicos do Corpo Clínico (muitas
desenvolvem seus trabalhos em casa, com remune-
vezes autônomos, sem vínculo empregatício) com
ração razoável, mas, muitas vezes em más condições
os protocolos na instituição. Nos hospitais, a equipe
de ergonomia, trabalhando em horários irregulares
de saúde e segurança foi integrada de vez aos comi-
e também no regime TTTQL. Quase sempre compro-
tês de gestão de crise, ocupando posição mais pró-
metidos com prazos apertados, têm a vantagem de
xima da gestão e muito mais proativa.
gozar de algum grau de flexibilidade para interrom-
per seu trabalho ao sentirem fadiga. Mas é funda- Alguns temas que têm sido abordados:
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1. Estabelecimento de protocolos em salas de emer- pessoas em relação a riscos – incluindo o corpo
gência, centro cirúrgico, ambulatórios e em CTI; clínico – até no manuseio de instrumentos;
2. Gestão do absenteísmo, dando transparência ao 7. Discussão dos ambientes (caracterizando-os
processo, fazendo o rastreio e afastamento dos como salubres e adequados – quando é o caso)
sintomáticos; – de forma a torná-los mais seguros, próximo da
3. Orientação e monitoramento dos profissionais Epidemiologia, com grande ênfase na construção
envolvidos no atendimento; de fluxos.
4. Gestão de indicadores objetivos, mapeamento de O ano de 2021 é ainda mais promissor para a atuação
populações de risco (fumantes, obesos, portado- efetiva dos profissionais do SESMT de instituições
res de doenças crônicas, idosos) e o consequente de saúde.
afastamento de atividades assistenciais;
CONCLUSÃO
5. Mapeamento das áreas de maior risco e tipo de
Este ensaio ficaria incompleto se não falássemos de
EPI necessários, com avaliação qualitativa e alto
duas tendências importantes a serem acompanha-
investimento em compra de EPIs adequados;
das a partir de agora: mudanças radicais no trabalho
6. Consultoria de maneira muito ativa instruindo as de professores, com a incorporação das tecnologias
de ensino à distância como regra em esquemas semi-
presenciais; e a mudança extraordinária a ser prota-
gonizada pela Telemedicina. Estejamos preparados.
AGRADECIMENTOS
Aos seguintes médicos que leram este texto e de-
ram alguma contribuição: Ana Paula Scalia Carneiro,
André Mendes, Bruno Ribeiro Moreira, Fernando
Akio Marya, Marco Antônio Soares Reis e Willes de
Oliveira e Souza
Instrutores:
Hudson de Araújo Couto
Dennis Carvalho Couto
Ao longo de 10 sessões, os participantes
serão capacitados nos principais e mais atuais
conceitos da Ergonomia, por meio de aulas ricas
em exemplos, ferramentas práticas e resoluções
de exercícios.
Carga horária: 23 horas
Datas: 8 a 12 de março e 22 a 26 de março http://www.ergoltda.com.br/2021/01/4o-curso-ergonomia-
Horários das sessões: 19 às 21:15. sem-misterios/
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