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Os “Resíduos” de Henri Lefebvre e a Política Urbana

Resumo
O artigo introduz a natureza e a função dos “resíduos” na configuração de um
pensamento revolucionário a partir da Metafilosofia de Henri Lefebvre e da sua
Teoria dos resíduos, destacando os resíduos da linguagem, da estrutura e da
escala. Em seguida propõe propõe o deslizamento do framework derivado da
Teoria dos resíduos de Lefebvre ao quotidiano do campo da política em geral,
entendido como composto da política competitiva (politics), da política
constitucional (polity) e da política pública (policy), e, ao quotidiano da política
urbana em particular. Na conclusão chamo atenção para a possibilidade de por
meio da articulação dos resíduos e dos meta-residuos da política urbana

Introdução

Esta comunicação faz uma aproximação à obra de Henri Lefebvre a partir do que
(KIPFER et al, 2008, p.3) para diferenciá-la das duas anteriores que se estruturam a
partir, de um lado, da sua assimilação pela ótica do debate da pós-modernidade
expressa de forma emblemática na leitura de Edward Soja e, do outro, da sua
inserção no debate da economia política urbana associada a David Harvey chamaram
a “terceira constelação de leituras de Lefebvre”. O objeto é mostrar as possibilidades
que se associa aos “resíduo” no quadro analítico de Henri Lefebvre e, no campo da
política urbana. O objetivo é mostrar a centralidade dos resíduos e da sua articulação
como uma condição necessária a ampliação da nossa compreensão i) da obra de
Lefebvre e ii) dos desafios colocados ao campo da política em geral e da política
urbana, em particular. Este propósito é alcançado por etapas, inicialmente
apresenta-se o resíduo como uma categoria central na metafilosofia de Lefebvre,
em seguida mapeia-se as diversas expressões dos resíduos, a partir da arbitragem de
dois conjuntos de resíduos: i) os resíduos substratos e ii) os resíduos catalizadores, e,
por fim, mostrar-se-á que a articulação dos dois conjuntos de resíduos no quotidiano
urbano é o meio proposto por Lefebvre para criar-se as condições de possibilidade
não só de um pensamento urbano revolucionário, mas também de uma política
urbana, igualmente, revolucionária.
1. Os Resíduos na Metafilosofia de Henri Lefebvre

Em função do acima exposto, nossa leitura de Henri Lefebvre privilegia um recorte na


sua obra, no qual se busca ressaltar a relação do debate urbano com sua
metafilosofia estrturada na interfce da filosofia continental com o que se convencionou
chamar o marxismo ocidental. O nossso ponto de partida, portanto, é sua postura
cética diante da capacidade de apreensão da totalidade das realidades, pois para
ele, nenhum conceito é capaz de apreende-la, “alguma coisa” sempre transborda”,
sentencia. E, mais, chama atenção que “o que transborda dos conceitos e das
apreensões conceituais” é o “que há de mais precioso”. Resumindo: diante das
operações do entendimento e do discurso, persistirá sempre um resíduo (LEFEBVRE,
1967, p. 82) E, este resíduo vai ser associado por ele, a um “poder criador” que
considera inesgotável: a poièsis , na qual vislumbra “uma plasticidade sem limites”
que ”motiva a ação (a praxis)”. (LEFEBVRE, 1967, p.390/392).

A primeira identificação dos resíduos é feita a partir da linguagem, quando mesmo sob
a influência de Heidegger, uma das suas referências filosófica resisti a tomar a
linguagem no nível da poiesis como responsável por toda criação. Para ele, isto
não acontece mesmo no período original e poético, ingênuo fresco, da criação, já que
a poesia passa na linguagem, evidentemente, mas não provém apenas da linguagem.
Atente-se que para Lefebvre, “ o estudo crítico da práxis e de suas contradições, bem
como da técnica” faz parte da renovação da meditação, a qual para ele, não será
mais apenas reflexão e mimèsis, mas principalmente ato e poièsis. Atente-se que ele
chega a poiesis, por meio de um caminho que passa pela práxis e pela mimesis.
(LEFEBVRE, 1967, p.130), o que o permite vislumbrar na poiesis “uma plasticidade
sem limites” que ”motiva a ação (a praxis)”. (LEFEBVRE, 1967, p.392).

E, amarra seu argumento chamando atenção que esta poiesis viabilizada pela práxis
toma impulso nos resíduos irredutíveis que escapa ao filósofo: O resíduo irredutível
(“vivido” ou “empiria”), do qual segundo ele, a meditação filosófica deve dele se
ocupar. (LEFEBVRE, 1967, pp. 110 e 116)

Nosso propósito, já anunciado acima é de um lado, mostrar que o conjunto destes


resíduos terão um papel central na sua proposta de um pensamento e de um práxis
revolucionaria, o que se dá , segundo ele por meio da sua articulação como uma pré-
condição para a instalação das possibilidades de um pensamento revolucionário; e, do
outro lado, chamar atenção para a possibilidade que uma articulação similar pode ser
feita com os múltiplos resíduos gerados no campo da política, entendido como
composto de política competitiva (politics), política constitucional (polity) e política
pública (policy).

1.2 Os Planos Analíticos e os Resíduos em Henri Lefebvre

Antes de nos determos na apresentação da articulação dos resíduos como o locus por
excelência da poiesis, dos atos criadores, dos acontecimentos revolucionários
apresentamos estes resíduos, e, como um recursos expositivo agregamo-os em
quatro diferentes planos analíticos: i) o da linguagem, ii) o da estrutura, iii) o social e o
iv) espacial. No plano da linguagem, Henri Lefebvre destaca os resíduos da
linguagem ordinária, da metalinguagem, da linguagem matemática e da própria
linguagem musical. No plano da estrutura ele incorpora tanto os resíduos da estrutura
propriamente dita, como o do sistema. No plano social ele considera os resíduos da
sociedade. E, no plano espacial, ele incorpora a região e o urbano.

i) Os Resíduos da Análise das Linguagens

Como nos referimos acima, Lefebvre chama atenção para os resíduos da linguagem
ordinária, sublinhando que na análise “ das operações do entendimento e do discurso
[...] persistirá sempre um resíduo” (LEFEBVRE, 1967, p. 82) Tais resíduos, se
deve ao fato que [...] as pessoas comuns falam umas com as outras; em função de
sua profissão, de suas atividades sociais, tem estas ou aquelas opiniões” (doxai)”, que
na sua opinião são irredutíveis aos discursos. É neste contexto que ele expressa a
seguinte indagação: “ [..] (N)ão poderá o pensamento filosófico tirar de um exame
muito atento da linguagem as indicações de uma renovação ? Ou seja, na análise da
linguagem ele vê a possibilidade de uma renovação, que como mostraremos a seguir,
no seu entendimento é insumo para uma revolução no pensamento. (LEFEBVRE,
1967, p 129)

Ainda no âmbito da linguagem Henri Lefebvre nos chama atenção para um risco
embutido no “discurso sobre o discurso”, ou seja, no discurso sobre a linguagem
corrente. O risco segundo ele, é transformar em verdade o mundo do discurso,
inteiramente desligado da práxis. (LEFEBVRE, 1967, p.129) Ou seja, o risco aqui,
segundo ele, encontra-se na tendência dos operadores da metalinguagem, a exemplo
dos lógicos, dos semânticos, dos semiólogos de substituir o “discurso (sobre o
discurso) ao discurso espontâneo”, fazendo uso à sua maneira, ora da “metáfora”
(substituição de um termo usual por outros termos), ora da “mentonímia’ (substituição
de uma palavra corrente por uma palavra menos corrente, passando da parte ao todo,
do relativo ao absoluto). Em resumo, para Henri Lefebvre, a ameaça em tela
consiste em, “instituir um estado patológico por ruptura e corte entre o discurso
elaborado e o discurso quotidiano”, por meio do que, o próprio quotidiano passa a
condição de resíduo, assunto ao qual voltaremos mais adiante. (LEFEBVRE, 1967, pp.
127/128)

Com relação aos resíduos no plano da linguagem matemática, ele nos chama
atenção que, tal como os outros planos da linguagem, “alguma coisa” escapa: essa
“alguma coisa” não passa de um resíduo cuja redução podem sempre levar mais
longe, arremata. Este resíduo é o drama. (LEFEBVRE, 1967, pp. 204 e 376). Ainda
nesta mesma direção, e, nos rastros de E. Meyerson, chama atenção que a ciência
racionaliza a natureza: mas essa operação deixa um resíduo, ou seja, a razão lógica-
matemática faz surgir diante dela um irracional. De forma que para ele, se nos
colocamos nesse resíduo, descobrimos que é infinitamente precioso já que nele se
expressam os dramas dos indivíduos, dos grupos, de toda a humanidade.
Resumindo: Para Lefebvre a “realidade” humana tem uma dupla determinação: o
número e o drama. Esses dois aspectos são inseparáveis. Para ele, os resíduos da
matemática é o que escapa ao número: o drama, o qual é iluminado pelo número. É
sobre estes resíduos da matemática que, segundo ele, Heidegger, uma das suas
referências filosófica, vai se debruçar. Em outras palavras, para Lefebvre, Heidegger
afasta o número ou dele só percebe as mais irrisórias implicações, de forma que
acentua apenas o drama do ser individual, a partir do qual compreende o destino do
homem, Lefebvre vai se debruçar sobre o drama do ser coletivo. (LEFEBVRE, 1967,
p. 204) Por fim, ele chama atenção para o resíduo da linguagem musical: o
barulho. Esta idéia o levou a tomar partido pela música concreta, porém, segundo
ele, não enquanto música, mas como construção de lugares e tempos específicos,
quadros de uma vida a criar (os “momentos”). (LEFEBVRE, 1967, p. 376)
ii) Os Resíduos da Análise Ahistórica

A análise ahistórica é aquela que privilegia quer a estrutura quer o sistema. A primeira
alternativa é associada ao estruturalismo cuja análise nos lega a história como um
resíduo da estrutura, o que se expressa nas suas palavras: ”o estruturalismo quer
conjurar a história e exortá-la detendo-a”. E, tal como os resíduos acima referidos
acima, Henri Lefebvre, considera o resíduo histórico “infinitamente precioso”, já que é
ele que traz em latência a possibilidade da substituição i) da coação sobre os homens
pela administração das coisas, ii) das lutas entre os grupos pela organização racional
e planificada, enfim aponta a possibilidade iii) de deperecimento do Estado. E, mais,
esse resíduo é também associado ao poder criador da poièsis.

iii) Resíduos da Análise da Sociedade Capitalista

A análise da sociedade capitalista tecnificada vai, segundo Lefebvre , gerar vários


resíduos. A dimensão social do capitalismo vai nos legar, no seu entendimento, o
proletariado, um elemento residual da sociedade capitalista, ao mesmo tempo além e
fora dela, já que é impossível para essa sociedade desfazer-se dele, apesar de seus
esforços. Ou seja, “o proletariado permanece o irredutível dessa sociedade”.
(LEFEBVRE, 1967, p. 374).

Enquanto que a dimensão técnica, ainda segundo Lefebvre, vai nos legar como
resíduo aquilo que lhes resiste: o sexo, o desejo e, mais geralmente, o “desviante”, o
insólito, já que a organização não pode exterminar a vida espontânea e o desejo,
embora os acue permanentemente. (LEFEBVRE, 1967, p. 376)

Para Lefefbvre, a arte tornada cultural deixa um resíduo: “a criatividade”, enquanto a


ordem moral deixa como resíduo o amor. (LEFEBVRE, 1967, p. 376 e 379 ) A
centralização estatal (e mesmo a descentralização necessária, assumida pelo Estado
centralizado, curiosa paródia) salienta a realidade residual e irredutível das regiões.
Já a consciência é o “resíduo dos resíduos”, a redundância, o discurso, a
rememorização, a reflexão de um lado, e, de outro, a aventura surpreendente, a
descoberta , a poiesis. (LEFEBVRE, 1967, p. 394)

Por fim, se os resíduos acima podem ser concebidos como substratos por meio do
qual se manifesta o acontecimento e se expressa o pensamento revolucionário, não se
pode desconsiderar o fato que um outro conjunto de resíduos funciona como
catalizadores no referido processo de formação de um pensamento revolucionário: i) a
criatividade, ii) o amor, iii) a região e iv) a consciência.

2. A Poiesis e a Articulação dos Resíduos Lefebvreanos

O exposto acima, assume um novo significado quando considerado tendo em conta


que para Lefebvre o primeiro ato da poiesis é a “ [...] a reunião dos resíduos
depositados pelos sistemas que se obstinam sem consegui-lo em constituir-se em
totalidades, a “mundializar-se” e que se mostra através da poièsis. (LEFEBVRE, 1967,
p. . 376)

A consideração da articulação dos resíduos lefebvrianos como um acontecimento que


cria as condições de um pensamento revolucionário se assenta na poiesis enquanto
meditação filosófica, a qual segundo Lefebvre “[…] acaba com certos tormentos
inúteis da reflexão. Aproxima-se do “ser” reencontrado-o ou criando-o. (LEFEBVRE,
1967, p. 394)

Para Lefebvre, a “meditação filosófica” é inclassificável nas categorias admitidas já


que toma por ponto de partida o inominável, a saber, o conjunto dos resíduos, a
desordem que nasce dessa ordem fictícia ou, mais exatamente, da multiplicidade das
ordens fictícias que se quer impor: do pseudo-nada dos resíduos, do quotidiano, da
palavra incerta, da situação equivoca, da ambigüidade, ou seja, parte do insignificante
e de seu sentido.

E, entende que “ao longo dessa reunião teórica e prática, os elementos residuais
devem encontrar-se, reconhecer-se uns aos outros. Devem também transformar-se;
convergindo, lutando efetivamente contra os sistemas que os rejeitam e os
determinam rejeitando-os” Ou seja, não se trata de juntar uns aos outros esses
resíduos. Para Lefebvre, trata-se de transformar o mundo, com cada resíduo
recuperando “a dignidade e força de sua essência”.(Lefebvre, Metafilofia, 377) Por
meio do que ele acredita que se possa alcançar “[…] um grau superior de liberdade
humana. (LEFEBVRE, 1967, p. 378)
Enfim, para Lefebfre “apostar nos resíduos por um ato poético inaugural, reuni-los em
seguida na práxis, ergue-los conta os sistemas e as formas adquiridas, tirar deles
novas formas, é o grande desafio. É a luva lançada em rosto dos podêres e do
estabelecido (do existente”. Esta luta se manifesta entre outras forma na “revolta da
poièsis contra a mimèsis”. O termo “revolta” designa apenas a iniciativa e a partida,
arremata, o revolucionário Lefebvre que, por meio da poiesis vislumbra “ […] a
apropriação pelo homem de sua própria natureza”. (LEFEBVRE, 1967, p. 378)

E, atento aos possíveis equívocos na implantação deste programa, chama nossa


atenção que “não devemos confundir a poièsis (a metafilosofia) com a
espontaneidade. A poiesis, segundo Lefebvre não reage espontaneamente em face
de tal ou qual objeto, tal ou qual estímulo, tal ou qual imagem, mas diante do
conjunto, para modificá-lo e retomá-lo. (LEFEBVRE, 1967, pp. 378/9) Ou seja, o
pensamento metafilosófico lefebvreano engloba essa totalidade fragmentária,
quebrada, a caminho de “outra coisa”: de uma totalidade planetária totalmente nova.
(LEFEBVRE, 1967, p. 382) Ou seja, A poièsis metafilosófica de Lefebvre não é
poesia e verdade, já que pretende ser mais do que expressão poética e descrição:
pretende ser criação. (LEFEBVRE, 1967, p. 379)

Em complemento ao exposto acima, chamamos atenção que tal teoria dos resíduos
de Henri Lefebvre configura uma tentativa de apropriação do romantismo com o
intuito de superá-lo: ou seja, é uma articulação romântica que vai além do romantismo.
Eis suas palavras:

“A teoria dos resíduos retoma, em termos modernos, um tema do


romantismo.. Sustentamos, assim, a tese de um novo romantismo, de
tendência revolucionária ou, antes fundamentalmente revolucionário,
retomando os certos temas essenciais do marxismo (negatividade,
contestação, critica radical). Observação importante: esse romantismo
não se funda na partida e na evasão; não se propõe como método de
fuga; não coloco o essencial fora do “real”, embora não anule o
imaginário utópico. (LEFEBVRE, 1967, p 375)

Em função disto ele propõe seu método dos resíduos constituído de vários
procedimentos, de certa forma apresentados acima: detectar os resíduos – neles
apostar – mostrar neles a preciosa essência – reuni-los – organizar suas revoltas e
totalizá-los. Cada resíduo é, para ele um irredutível a apreender novamente e, nem
é utópico, nem abstrato e, muito menos prospectivo: os resíduos em questão estão ai,
hic et nunc. Em função disto, Lefebvre não pretende o mostrar uma imagem
enganadora do futuro, embora esteja voltado para o futuro e faça apelo ao possível
(logo à imaginação).

Já que a articulação dos resíduos, segundo Lefebvre, parte do atual, sem omitir o
imprevisto e o imprevisível – esses resíduos da previsão racional que sempre
intervém fazem que o novo, diferente do que pensava e queria, surja de uma história.
Portanto, nada é eterno, nada é completamente durável.

Mas, o mais importante, ainda segundo Lefebvre, é que os resíduos, do ponto de


vista da política é o que existe de mais precioso, já que roem, destroem por dentro,
fazem explodir os sistemas que querem absorvê-los. É por isto que a categoria de
poièsis torna-se central na apreensão da metafilosofia de Henri Lefebvre, já que é por
meio desta categoria que podemos nos apoderar dos resíduos, articula-los, criar
objetos e situações. Pois, na ótica da articulação dos resíduos a metafilosofia de
Lefebvre, assim assumida, se revela não uma forma, mas um método, um estilo.
(LEFEBVRE, 1967, pp. 376/377)

No exercício deste método, o primeiro passo é:

Promover um resíduo, mostrar sua essência (e seu caráter essencial)


contra o poder que o oprime e o patenteia tentando oprimi-lo, é uma
revolta. Reunir os resíduos, é um pensamento revolucionário, um
pensamento-ação. (LEFEBVRE, 1967, p. 376)

É importante sublinhar que o potencial revolucionário nesta articulação dos resíduos


se mostra nas possibilidades da reunião destes resíduos já que neste processo se
pode, como diz Lefebvre “deslizar” ou “saltar” da “revolta” para o “pensamento-
ação”. Isto porque, entende que o “resíduo” está ai, hic et nunc e, que, a verdadeira
criação (poièsis) parte dele. (LEFEBVRE, 1967, p. 374)

Uma revolta, segundo ele, dá-se quando se mostra a essência (e seu caráter
essencial) do resíduo contra o poder que o oprime, enquanto que um pensamento
revolucionário, envolve sua reunião. (LEFEBVRE, 1967, p. 376) Ele aposta no
“conjunto desses resíduos”, desses irredutíveis pois, entende que a “verdadeira
criação (poièsis) parte deles” e, portanto numa revolução detonada a partir da sua
união. (LEFEBVRE, 1967, p. 374)

3. Conclusão

É com este método, este estilo que podemos nos debruçar sobre os resíduos e
vislumbrar dois conjuntos de possibilidades de construção: i) de um pensamento
revolucionário, já bem estabelecido pelo próprio Lefebvre e ii) o estabelecimento de
uma nova forma de conceber a política governamental. No primeiro caso, a conclusão
é extraída diretamente do texto de Lefebvre, já que entende ser a articulação dos
resíduos no quotidiano urbano a condição para a criação das condições de
possibilidade de um pensamento urbano revolucionário. No segundo caso, a
conclusão é uma extração virtual do texto de Lefebbre dos contornos de uma nova
concepção do campo da política urbana contemporânea configurada tradicionalmente
nos planos isolados da i) política competitiva (politics), ii) política constitucional (polity)
e da política pública (policy), já que em cada “momento” que se considera cada um
destes planos, os demais são automaticamente relegados a condição de “resíduos”, já
que cada um dos planos aludidos constituem um campo próprio da política, com seus
marcos categoriais e analíticos.

A revolução que aludimos no campo da política provocada pelo deslizamento do frame


de Lefebvre ao campo da política em geral e da política urbana em particlar
configurar-se-á por meio da articulação destes diferentes campos da política. Um
desafio e tanto.

O que se expressa, segundo Lefebvre na “contestação da quotidianeidade, por meio


qual se pode alcançar, em novo plano, a ‘negatividade radical” isto porque é “ a
quotidianeidade e sua recusa (que) põem em questão fragmento por fragmento, o
conjunto do mundo moderno: cultura, Estado, técnica, instituições, estruturas, grupos
constituídos, pensamento analítico e operacional, as separações que mantêm, etc”
(LEFEBVRE, 1967, p. 372 ).

É este portanto o desafio a ser enfrentado por aqueles que se dispuserem adentrar na
aventura de uma articulação dos resíduos no quotidiano no âmbito urbano e, aqui
deve-se entender tanto no plano histórico/empírico como também no plano
categórico/conceitual. No primeiro caso resíduos urbano confundem-se com as
manifestações no meio urbano dos resíduos lefebvreanos, enquanto que no segundo
caso os resíduos urbanos são na verdade meta-residuos, já que se remete aos
resíduos gerados pela reflexão nos distintos planos da política publica em geral e da
política urbana em particular, isto é, no âmbito da política competitiva (politics) da
política constitucional (polity) e da política governamental (policy) que informa as
políticas urbanas contemporâneas.

Em função da fragmentação dos resíduos e dos meta-resíduos urbanos com seus


diferentes planos propomos como prioritário sua articulação por meio da poiesis,
recurso que, segundo Lefebvre, põe fim a fragmentação do conjunto, a totalidade
(quebrada) do existente, ou seja, a reconstituição da sua unidade partir do quotidiano.
(LEFEBVRE, 1967, p. 372 ).

4. Bibliografia

GOLDMANN, Lucien, A Criação Cultural na Sociedade Moderna. São Paulo. Difusão


Européia do Livro.1972

KIPFER, Stefan, Kanishka Goovewardena , Christian Schmid e Richard Milgrom, “On


the Production of Henri Lefebre” in GONEWARDENA, kanishka, Stefan Kipfer, Richard
Milgron e Christian Schmid, Space, Difference, Every Life – Readings Henri Lefebvre.
New York, Routledge, 2008.

LEFEBVRE, Henri, Metafilosofia. Rio de Janeiro. Ed. Civlização Brasileira.1967. 399


pp.

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