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Processo: 5291675-72.2020.8.09.

0090

Usuário: Jose Pereira endonca Machado de Alkmim - Data: 14/05/2021 15:30:07


JANDAIA - VARA CÍVEL
PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento -> Procedimento de Conhecimento -> Procedimento Comum Cível
Valor: R$ 23.748,00 | Classificador: 04
ESTADO DE GOIÁS
PODER JUDICIARIO COMARCA DE JANDAIA
Jandaia - Vara Cível

Av. Governador dos Mutirões, Qd.05, Lt.01, SETOR REDENTOR, JANDAIA - Fone: (64) 3563-1206.

comarcadejandaia@tjgo.jus.br

Ação: PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento -> Procedimento de Conhecimento -> Procedimento
Comum Cível
Processo nº: 5291675-72.2020.8.09.0090
Promovente(s): Antonio Ferreira Paixao
Promovido(s): Banco Bmg S/a

SENTENÇA

Trata-se de AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DANOS MORAIS, REPETIÇÃO DE


INDÉBITO E PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA ajuizada por ANTÔNIO FERREIRA PAIXÃO em face do BANCO BMG S/A,
partes qualificadas nos autos.

Afirma o requerente, em suma, que contratou com a instituição Requerida empréstimo com descontos automáticos
em seu benefício na modalidade empréstimo consignado.

Aduz que já pagou toda a dívida, porém não há abatimento no saldo devedor.

Discorre que são descontados indevidamente de seu benefício, todos os meses, o valor de R$ 46,85 (quarenta e seis
reais e oitenta e cinco centavos) de maneira ininterrupta e sem prazo para o fim do contrato (descontos).

Afirma que já pagou o valor de R$ 1.874.00 (um mil oitocentos e setenta e quatro reais). Por tal razão, requereu a
concessão de liminar a fim de que fossem suspensos os descontos efetuados em seu benefício até o deslinde final da demanda.

Pugnou, ainda, pela declaração de inexistência do débito apontado na inicial, bem como a condenação do
demandado na restituição dos valores que foram pagos a maior, em dobro e, também, a condenação do banco requerido em
indenização por danos morais.

Por fim, requereu a inversão do ônus de prova e o deferimento da gratuidade de justiça

Com a inicial, vieram os documentos (ev. 1- arq. 2/22).

No ev. 4 foi determinada a intimação do autor para emendar a inicial a fim de juntar cópias legíveis de seus
documentos pessoais e comprovante de endereço.

O autor emendou a inicial no ev. 6.

Na decisão proferida no ev. 8, foi deferido o pedido liminar, determinada a inversão do ônus da prova e a realização

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 11/05/2021 14:50:32
Assinado por ALUIZIO MARTINS PEREIRA DE SOUZA
Validação pelo código: 10443565084599932, no endereço: https://projudi.tjgo.jus.br/PendenciaPublica
Processo: 5291675-72.2020.8.09.0090

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de audiência de conciliação.

A parte ré apresentou contestação no ev. 14. Alegou, preliminarmente, decadência do direito do autor.

No mérito, rebate os argumentos trazidos pelo requerente sustentando a validade do contrato celebrado entre as
partes, a utilização do cartão de crédito, a inexistência de dano moral, a inexistência de valores a serem ressarcidos ao
consumidor, bem como inexistência de dano indenizável. Por fim, requereu a total improcedência dos pedidos iniciais.

A audiência de conciliação restou inexitosa, tendo em vista que as partes não entraram em consenso (ev.19)

Em impugnação à contestação, o autor refutou as alegações apresentadas pelo requerido, pugnando, no final, pela
procedência dos pedidos nos termos da inicial (ev. 20).

No ev. 21, foi determinada a intimação das partes para manifestarem o interesse na produção de outras provas.

O autor informou que não tem interesse na produção de outras provas, assim como requereu o julgamento
antecipado da lide (ev. 24)

Por seu turno, o requerido quedou-se inerte, conforme certidão jungida ao ev. 25.

No ev. 27, foi proferida decisão saneadora, na qual foi rejeitada a preliminar de decadência alegada pelo requerido,
bem como aberto prazo para as partes apresentarem requerimentos/alegações finais.

O autor apresentou alegações finais no ev. 30.

Vieram-me os autos conclusos.

É o relatório. Decido.

Em proêmio, nota-se que a presente lide está apta a receber julgamento, visto que a matéria nela versada é
unicamente de direito e os fatos estão suficientemente comprovados pelos documentos juntados (artigo 355, inciso I, do Código
de Processo Civil).

Cuida-se de ação declaratória de inexistência de débito c/c danos morais e repetição de indébito e, ainda, pedido de
condenação do requerido em indenização pelo dano moral experimentado pelo autor.

Tendo o feito sido saneado e rejeitada a preliminar em decisão saneadora, bem como diante da inexistência de
outras preliminares a serem analisadas, adentro ao meritum causae.

Da nulidade do contrato e da (in) existência do débito

Insta salientar que o caso vertente enquadra-se dentre as hipóteses de incidência do Código de Defesa do
Consumidor - CDC e suas disposições, em face do tipo de relação celebrada, que é de natureza bancária/financeira, portanto,
subordinado ao regime legal e à sistemática de referido diploma.

Deste modo, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, conforme arts. 2º e 3º.

À luz da legislação consumerista, entre as disposições do art. 6º do CDC está a positivação do direito à informação
adequada e clara sobre produtos e serviços, com a especificação correta da quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preços, bem como os riscos que apresentem o objeto.

Em verdade, no âmbito das relações de consumo, a informação não compreende apenas um direito do consumidor,
consubstanciando-se também em um dever do fornecedor, podendo tal assertiva ser extraída da interpretação conjunta dos arts.
31, 46 e 52 de lei n. 8.078/1990:

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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“Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras,
precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade,
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos
que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.”

“Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, senão lhes for
dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos
forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.”

“Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de
financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e
adequadamente sobre: I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; II - montante dos juros
de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acréscimos legalmente previstos; IV - número e periodicidade
das prestações; V - soma total a pagar, com e sem financiamento”.

Ainda sobre o direito à informação, transcrevo a lição do Min. Paulo De Tarso Sanseverino em seu voto como relator
do Recurso Especial 1.599.511/SP:

“O dever de informação constitui um dos princípios consectários lógicos do princípio da boa-fé objetiva,
positivado tanto no Código Civil de 2002 (art. 422), como no Código de Defesa do Consumidor (art. 4º, III),
consubstanciando os deveres de probidade, lealdade e cooperação, que deve pautar não apenas as
relações de consumo, mas todas as relações negociais. Esse dever de informação é de tal modo acentuado
que, segundo ALCIDES TOMASETTI JR., a relação de consumo estaria regida pela regra cavaet praebitor
(acautele-se o fornecedor), que impõe ao fornecedor uma obrigação de diligência na atividade de esclarecer
o consumidor, sob pena de desfazimento do negócio jurídico ou de responsabilização objetiva por eventual
dano causado, ao passo que, num sistema jurídico liberal, aplica-se a regra inversa, caveat emptor(acautele-
se o comprador), incumbindo ao comprador o ônus de buscar as informações necessárias sobre o negócio
jurídico que pretende celebrar (O objetivo de transparência e o regime jurídico dos deveres e riscos de
informação nas declarações negociais de consumo. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: Revista
dos Tribunais, v. 4. out-dez/1992, p. 58)”.

A informação, como direito do consumidor e como dever do fornecedor, visa à adequação do princípio da autonomia
de vontade com a evidente vulnerabilidade técnica, econômica e jurídica de um dos lados da avença, sendo elemento que permite
um melhor equilíbrio da relação contratual.

Na contramão do que foi exposto, as instituições financeiras, não raras vezes, utilizam-se de preceitos vagos e da
sua superioridade técnica e informacional para impor, por meio de contratos de adesão, cláusulas claramente abusivas, tolhendo
direitos e impondo obrigações evidentemente desproporcionais.

A própria forma de execução do contrato se torna abusiva quando impossibilita o devedor saber exatamente qual é o
montante devido e o quanto foi amortizado da dívida. Não raras vezes, as informações passadas pelo fornecedor são tão confusas
que o consumidor equivoca-se até acerca do objeto do contrato.

Compulsando os autos, verifico que as partes firmaram um contrato conhecido como “Cartão de Crédito
Consignado”, por meio do qual, em simples palavras, é disponibilizado ao cliente um cartão que pode ser utilizado para realizar
compras a crédito e saques. Em contrapartida, liberado um valor na conta do cliente (empréstimo) e, após, são descontados
mensalmente no contracheque do cliente valores para pagamento, que é o valor mínimo da fatura do cartão de crédito.

Sobre o tema, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás editou a Súmula nº 63, que preconiza o seguinte:

“Os empréstimos concedidos na modalidade 'Cartão de Crédito Consignado' são revestidos de abusividade,
em ofensa ao CDC, por tornarem a dívida impagável em virtude do refinanciamento mensal, pelo desconto
apenas da parcela mínima devendo receber o tratamento de crédito pessoal consignado, com taxa de juros
que represente a média do mercado de tais operações, ensejando o abatimento no valor devido, declaração

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de quitação do contrato ou a necessidade de devolução do excedente, de forma simples ou em dobro,
podendo haver condenação em reparação por danos morais, conforme o caso concreto”

Registro, neste ponto, que referida súmula destinou-se àqueles casos em que os consumidores das instituições
financeiras não sabiam que estavam aderindo a um contrato de cartão consignado.

Essa é exatamente a situação evidenciada nos presentes autos. O autor, conforme consta de sua narrativa, a qual é
reforçada pelas provas documentais produzidas nos autos, pensou solicitar o serviço bancário de empréstimo consignado, cujos
valores seriam descontados diretamente na sua aposentadoria. Ocorre que para utilização do valor emprestado foi fornecido um
"cartão de crédito consignado".

Em que pese pensar contratar um simples empréstimo, mútuo feneratício, na verdade o autor firmou um contrato de
cartão de crédito, em que o desconto mensal do valor mínimo da fatura é feito sobre sua aposentadoria.

Ademais, a parte requerida não comprovou o envio de fatura de pagamento para o endereço do autor, inviabilizando
o pagamento e gerando o desconto do mínimo da fatura, com os encargos financeiros posteriores.

No contexto apresentado nos autos, ao qual se soma o absurdo fato de os descontos se prolongam no tempo sem
data de encerramento, o enriquecimento da parte ré se sustenta na má-fé e no uso de expedientes escusos para ludibriar o
consumidor, a parte mais frágil desta relação.

Outrossim, o que se percebe é que, com o desconto mensal efetuado para o pagamento mínimo da fatura do cartão,
somente são abatidos os encargos do cartão, sendo que o valor principal da dívida é mensalmente refinanciado e acrescido de
juros exorbitantes, dentre outros encargos, restando claro que o autor nunca conseguirá quitar o débito inicial, mesmo com os
descontos sucessivos efetuados diretamente de sua folha de pagamento.

A respeito desse tipo de contratação, a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás já reconheceu ser
abusiva a conduta do banco requerido, notadamente pela ausência de limite do número de parcelas e pelo valor excessivo da taxa
de juros aplicada ao cartão de crédito, passando a considerar o contrato como empréstimo consignado, inclusive sob orientação
de Circular do Banco Central. A manutenção do contrato nos termos originários representa um endividamento vitalício.

Vejamos o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça Goiano acerca do tema:

"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C DECLARATÓRIA DE


INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C RESCISÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C PEDIDO
DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA. SERVIDORA PÚBLICA. DESCONTOS CONTÍNUOS EM
FOLHA DE PAGAMENTO, REFERENTES ÀS PARCELAS DE EMPRÉSTIMO DO CONTRATO DE CARTÃO
DE CRÉDITO CONSIGNADO. COBRANÇA A MAIOR. ILEGALIDADE. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. APLICABILIDADE. REPETIÇÃO INDÉBITO. RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS A
MAIOR NA FORMA SIMPLES. DANOS MORAIS. INEXISTÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
REDUÇÃO PRECEDENTES DO TJGO. 1. A modalidade de contrato de cartão de crédito, com o desconto
mensal direto na folha de pagamento da servidora pública, apenas do valor mínimo apurado mensalmente,
sem número determinado de prestações e com o refinanciamento automático da quantia total da dívida
restante, consubstancia contratação lesiva e dispendiosa a consumidora. 2. Tratando-se de contrato de
adesão, cabe à parte que redige as suas cláusulas consignar, com clareza, todas as obrigações assumidas
pelos contratantes, sob pena de violação dos princípios contratuais da transparência e da informação. 3. De
acordo com a Circular nº 3549/11 do BACEN, equipara-se o cartão de crédito consignado às demais
operações tradicionais de crédito pessoal consignado(servidor público). 4. Segundo entendimento dominante
do STJ, a devolução em dobro dos valores pagos pelo consumidor somente é possível quando demonstrada
a má-fé do credor, o que não ocorreu in casu, razão pela qual os valores eventualmente pagos em excesso
devem ser restituídos na sua forma simples (ou por compensação). 5. Não restando configurado o dano
moral suportado pela recorrida/consumidora, ficando o fato na esfera do mero aborrecimento em virtude de
desacordo comercial, não há se falar em reparação moral. 6. Considerando a parcial reforma da sentença

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combatida, impõe-se a redução do valor arbitrado a título de honorários advocatícios para o importe de 15%
(quinze por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do parágrafo 2º, do artigo 85, do CPC.
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA." (TJGO, APELACAO 0185709-
41.2016.8.09.0093, Rel. Sandra Regina Teodoro Reis, 6ª Câmara Cível, julgado em 24/01/2018, DJe de
24/01/2018)

“APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C RESCISÃO CONTRATUAL C/C


REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C DANO MORAL. CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR APLICÁVEL ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. DESCONTO MÍNIMO DA
FATURA MENSAL. DÍVIDA INSOLÚVEL. ABUSO E ONEROSIDADE EXCESSIVAS. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO EM DOBRO DO VALOR QUE ULTRAPASSAR O DEVIDO. HONORÁRIOS RECURSAIS
MAJORADOS ? ART. 85, § 11, CPC. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. 1 ? Inequívoca a relação de
consumo travada entre os litigantes, incidem as normas protetivas contempladas pela Lei nº 8.078/90, nos
termos do enunciado da Súmula 297/STJ. 2 ? A modalidade contratual cartão de crédito consignado mostra-
se extremamente onerosa e lesiva à consumidora, visto o banco estar autorizado a deduzir da folha de
pagamento da autora a quantia correspondente ao mínimo da fatura. Todavia, abatidos os encargos de
financiamento, o valor principal da dívida é mensalmente refinanciado, ainda acrescido, de juros exorbitantes,
aumentando de forma vertiginosa, razão pela qual deve ser alterada a natureza do contrato para empréstimo
consignado. 3 ? Reconhecida a existência do negócio jurídico, porém como empréstimo consignado,
prevalece a dívida da consumidora no montante do empréstimo original, acrescido de juros
remuneratórios de acordo com a taxa média de mercado, considerando a operação de crédito pessoal
consignado para o período da contratação e corrigido monetariamente pelo INPC, a partir da
disponibilização do numerário na conta de titularidade da recorrente. 4 – De outro lado, nulo o contrato
de fornecimento de cartão de crédito, resulta cabível a devolução em dobro da quantia eventual e
indevidamente debitada, nos termos do art. 42, parágrafo único, CDC, corrigida monetariamente pelo INPC e
acrescida de juros de mora à taxa de 1% (um porcento) ao mês desde a citação. 5 - Apelo parcialmente
provido, redimensionando os honorários recursais em favor do apelante.” (TJGO, Apelação (CPC) 5248252-
24.2016.8.09.0051, Rel. BEATRIZ FIGUEIREDO FRANCO, 3ª Câmara Cível, julgado em 16/04/2018, DJe
de16/04/2018)

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO EM FOLHA DE PAGAMENTO.
DECADÊNCIA NÃO CONFIGURADA. DÉBITO INFINDÁVEL. DANO MORAL IN RE IPSA. 1. As instituições
financeiras se submetem às disposições do Código de Defesa do Consumidor. 2. Não há falar-se em
decadência do direito do consumidor, pois o que ele busca é o reconhecimento de que já adimpliu
todos os termos do contrato de cartão de crédito consignado, firmado com a instituição financeira, e
não a sua anulação. Desse modo, por mais que sejam reconhecidas as abusividades de algumas das
cláusulas da avença, tal situação não enseja a anulação do pacto, mas, apenas, o seu reajustamento
à realidade jurídica pátria. 3. O contrato de cartão de crédito consignado em folha de pagamento é
uma modalidade contratual extremamente onerosa e lesiva ao consumidor,em que são realizados
descontos mínimos, ocorrendo o abatimento apenas dos encargos de financiamento, sendo que o
valor principal da dívida é mensalmente refinanciado e acrescido de juros exorbitantes, de modo que
o consumidor jamais conseguirá quitar o débito inicial. 4.Demonstrada a patente abusividade do
Banco Apelante, ao promover descontos, em folha de pagamento do Autor, limitados apenas à
cobrança de um valor mínimo, apurado mensalmente pela utilização do cartão, sem número de
prestações determinado, caracterizado está o dano moral, que se presume pelo surgimento de uma
dívida eterna. 5. O valor da indenização por danos morais deverá ser fixado, com base nos princípios
da proporcionalidade e da razoabilidade, levando-se em conta a extensão do dano causado, o grau de
culpa do agente, a repercussão da ofensa, a intensidade do sofrimento da vítima e a situação
patrimonial das partes, visto que a indenização não pode ser fruto de enriquecimento ilícito, nem
pode ser irrisória ao agente causador do dano. 6. Observando-se estes requisitos, não se mostra
desarrazoada a quantia de R$ 12.000,00 (doze mil reais), arbitrada pelo MM. Juiz, ao pagamento de

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PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento -> Procedimento de Conhecimento -> Procedimento Comum Cível
Valor: R$ 23.748,00 | Classificador: 04
indenização por danos morais, ao Autor. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA”. (TJGO,
APELACAO 0175511-13.2014.8.09.0093, Rel. FRANCISCO VILDON JOSE VALENTE, 5ª Câmara Cível,
julgado em 03/04/2018, DJe de 03/04/2018)

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE MODIFICAÇÃO C/C DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULAS


CONTRATUAIS C/C PEDIDO DE TUTELA POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. DECADÊNCIA
AFASTADA. DESCONTOS CONTÍNUOS EM FOLHA DE PAGAMENTO, REFERENTES ÀS PARCELAS DE
EMPRÉSTIMO DO CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. APLICABILIDADE. SERVIDORA PÚBLICA ESTADUAL. DESCONTO MENSAL DO MÍNIMO
DA FATURA. ABUSIVIDADE E ONEROSIDADE. JUROS REMUNERATÓRIOS LIMITADOS À TAXA MÉDIA
DE MERCADO PREVISTA PARA O CRÉDITO PESSOAL CONSIGNADO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS
JUROS EXCLUÍDA. INEXISTÊNCIA DE PACTUAÇÃO EXPRESSA OU TÁCITA. ATO ILÍCITO
CONFIGURADO. DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO RAZOÁVEL. REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
FORMA SIMPLES. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 1. Não vinga a tese de decadência
prevista no artigo 178, do Código Civil, eis que a pretensão inaugural não se a moldao referido dispositivo,
bem como porque nas obrigações de trato sucessivo, consoante trata-se a situação vertente, o prazo para
intentar a ação se protrai no tempo. 2. A modalidade de contrato de cartão de crédito, com o desconto
mensal direto na folha de pagamento do servidor público,apenas do valor mínimo apurado
mensalmente, sem número determinado de prestações e com o refinanciamento automático da
quantia total da dívida restante, consubstancia contratação lesiva e dispendiosa ao consumidor. 3.
Tratando-se de contrato de adesão, cabe à parte que redige assuas cláusulas consignar, com clareza,
todas as obrigações assumidas pelos contratantes, sob pena de violação dos princípios contratuais
da transparência e da informação. 4. De acordo coma Circular nº 3549/11 do BACEN, equipara-se o cartão
de crédito consignado às demais operações tradicionais de crédito pessoal consignado (servidor público). 5.
Os juros remuneratórios devem ser arbitrados ao patamar da taxa média de mercado veiculada pelo Banco
Central à época da contratação quando inexistente disposição em sentido diverso na avença e aplicado o
regramento do crédito pessoal consignado. 6. A capitalização mensal de juros deve ser excluída quando não
há previsão contratual expressa ou tácita de sua incidência.7. Tendo em vista que a instituição financeira não
logrou êxito em comprovar a regularidade dos descontos efetuados junto ao salário do autor, a conduta
abusiva restou configurada, fato este que causa dano moral e comporta indenização. 8. Para a fixação do
valor da indenização por dano moral, impõe-se balizar a razoabilidade e a proporcionalidade, considerando-
se, ainda, as posições sociais do ofensor e do ofendido, a intensidade do ânimo de ofender, a gravidade da
ofensa e a sua repercussão, à luz da teoria do desestímulo. In casu, bem ponderados os referidos critérios
para a fixação do quantum indenizatório em R$ 2.000,00 (dois mil reais), não semostrando ínfimo, a ponto de
perder o seu caráter educativo, nem exagerado, a ponto de ensejar o enriquecimento sem causa de uma das
partes. 9. É devida a repetição do indébito, na forma simples, caso constatado, em liquidação de sentença, o
pagamento de valores derivados de encargos indevidos, em repúdio ao enriquecimento ilícito de quem os
recebeu. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA.” (TJGO, APELACAO0259611-
36.2015.8.09.0166, Rel. Sandra Regina Teodoro Reis, 6ª Câmara Cível, julgado em27/03/2018, DJe de
27/03/2018)

Assim, resta claro que o autor, quando aderiu ao contrato, acreditou que estava contratando um empréstimo
consignado para débito em sua aposentadoria e não um cartão de crédito consignado e, desta forma, foi induzido ao erro, pela
falta de transparência da parte requerida e, principalmente, por ter faltado o agente financeiro (parte requerida) com o dever de
informação consagrado na lei consumerista.

Vertente outra, contendo o contrato qualquer cláusula que possa ser considerada desproporcional, deve ser
declarada nula de pleno direito, na forma preconizada pelo artigo 51, inciso IV e § 1º, mas sem resolução do contrato, em
homenagem ao princípio da conservação dos contratos, abrigado no artigo 51, do CDC, em seu § 2º, dispondo que “a nulidade de
uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração,
decorrer ônus excessivo a qualquer das partes”.

Entretanto, a nulidade de cláusulas contratuais, segundo os critérios legais, somente poderá ocorrer quando

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contiverem obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade (artigo 51, IV, CDC), ou ainda quando se mostre exagerada (artigo 51, § 1º).

Neste sentido, seria perfeitamente possível o reconhecimento de nulidade de cláusula contratual com previsão de
juros em índice totalmente desproporcional, fora da realidade do mercado financeiro, onerando de forma excessiva e
desnecessária o consumidor em manifesta vantagem para o fornecedor.

Destarte, o débito, embora exigível, deve ser pago pelo autor em consonância com a sua vontade original, qual seja,
empréstimo consignado. Ademais, diante do valor inicial da dívida e o montante já pago pelo autor, denota-se a provável quitação
do contrato, porém será necessária a readequação do contrato, e não a declaração de sua nulidade.

Da readequação/conversão do contrato:

Entendo que é cabível a revisão da cláusula contratual (art. 6º, V do CDC) para adequar à manifestação de vontade
original do autor, qual seja, empréstimo consignado com desconto em folha de pagamento (aposentadoria) e não cartão de
crédito, com pagamento sobre o valor mínimo.

Neste sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C REPETIÇÃO DE


INDÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO EM FOLHA
DE PAGAMENTO DE SERVIDORA PÚBLICA. DESCONTO DO MÍNIMO DA FATURA MENSAL.
REFINANCIAMENTO DO VALOR TOTAL DEVIDO. DÍVIDA IMPAGÁVEL. PATENTE ABUSIVIDADE.
JUROS REMUNERATÓRIOS. APLICAÇÃO DA TAXA MÉDIA REFERENTE À OPERAÇÃO DE CRÉDITO
PESSOAL CONSIGNADO. RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO. FORMA SIMPLES. DANO MORAL IN RE IPSA.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1. Trata-se de contrato bancário de cartão de crédito consignado em folha
de pagamento, com prestações em número indeterminado, em que o Banco réu/apelante efetua o desconto,
na folha de pagamento da autora/apelada (servidora pública), apenas do valor mínimo da respectiva fatura
mensal, refinanciando o restante do valor total devido, o que torna o débito impagável. E, ante a omissão do
ajuste acerca do percentual dos juros remuneratórios incidentes, escorreita a sentença ao aplicar à avença a
taxa média de mercado referente ao crédito pessoal consignado (Súmula530/STJ), por ser a mais favorável à
consumidora e traduzir a natureza predominante da operação. 2. Resguarda-se à recorrida a devolução da
quantia paga indevidamente, independentemente de comprovação de erro no pagamento, em obediência ao
princípio que veda o enriquecimento ilícito. 3. A cobrança exorbitante dos juros (onerosidade excessiva) e o
modus operandi em que atrelada a contratação (acarretando uma dívida impagável) violam o dever de
informação, ensejando a reparação, pelo réu/apelante, dos danos morais causados à autora/apelada,
independentemente de prova do efetivo prejuízo. Apelação cível desprovida. (TJGO, APELACAO 0432014-
37.2015.8.09.0125, Rel. ZACARIAS NEVES COELHO, 2ªCâmara Cível, julgado em 04/04/2018, DJe de
04/04/2018)

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C RESCISÃO


CONTRATUAL E REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO EM FOLHA DE
PAGAMENTO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. ABUSIVIDADE E ONEROSIDADE EXCESSIVA.
DESCONTO SOMENTE DO MÍNIMO DA FATURA MENSAL. REFINANCIAMENTO DO VALOR TOTAL
DEVIDO TODO MÊS. DÉBITO QUE NUNCA SE FINDA. REVISÃO DO PACTO EM FAVOR DA PARTE
HIPOSSUFICIENTE. INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULAS QUE PREVEEM CAPITALIZAÇÃO DE JUROS E
TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS. APLICAÇÃO DA TAXA MÉDIA DE MERCADO. EQUIPARAÇÃO
AO EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. LEGALIDADE. CIRCULAR N/11 DO BACEN. DANOS MORAIS NÃO
CONFIGURADOS. VERBAS SUCUMBENCIAIS. INVERSÃO. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1 – A espécie de contrato condizente ao cartão de crédito consignado em
folha de pagamento, ao que se observa no caso concreto, com prestações sem número ou prazo
determinado, com desconto apenas do mínimo do valor da fatura mensal efetuado direto da folha de
pagamento do servidor público, com aplicação de juros remuneratórios exorbitantes, além de outros

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encargos, fazendo o banco réu, na sequência, um refinanciamento do restante do valor total devido, todo
mês, modalidade que externa manifesta abusividade por parte da instituição financeira, lucro exagerado e
onerosidade excessiva ao consumidor, na medida em que a quitação do débito nunca acontece. 2 – De
acordo com a Circular nº 3549/11 do BACEN, os cartões de crédito consignado equiparam-se as demais
operações de créditos consignados propriamente ditos. 3 – Não constando da “ficha cadastral”, trazida aos
autos pelo banco apelado, o percentual de juros remuneratórios contratados, deve ser aplicada a taxa média
de mercado referente às operações de empréstimo pessoal consignado, segundo dados divulgados pelo
Banco Central do Brasil. 4 – Nos contratos celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da MP
no 1.963-17, reeditada sob o no 2.170- 36/2001, é lícito o pacto de juros capitalizados em periodicidade
inferior à anual, desde que previsto no instrumento contratual de maneira expressa, o que não ocorreu na
avença em revisão. 5 - Diante do valor inicial da dívida e o montante já pago pela autora, denota-se a
evidente quitação do contrato, no que devem ser imediatamente suspensos os descontos efetivados em sua
folha de pagamento. 6 - O banco requerido deverá restituir, na forma simples, porque não evidenciada a má-
fé o montante pago a maior pelo consumidor, saldo esse a ser apurado em liquidação de sentença levando-
se em conta a desnaturação do contrato de cartão de crédito para empréstimo consignado em folha de
pagamento. 7 - APELO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA.”(TJGO, APELACAO CIVEL
479994-31.2014.8.09.0087, Rel. DES. KISLEU DIAS MACIEL FILHO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em
07/07/2016, DJe 2070 de 18/07/2016)”.

Após a EC nº 40/2003, que revogou o §3º do art. 192 da Constituição Federal, e de acordo com a Súmula nº 648 do
Supremo Tribunal Federal, não há mais que falar em limitação dos juros no patamar de 12% (doze por cento) ao ano.

Não obstante, se verificada a abusividade na incidência de encargos, capaz de onerar demasiadamente a parte
contratante, deve ser repelida pelo Poder Judiciário, como medida de buscar o equilíbrio contratual.

No caso dos autos, é fato que o contrato de “Cartão de Crédito Consignado” não estabelece número de prestações
ou prazo determinado, descontando, apenas, o valor mínimo da fatura mensal diretamente na folha de pagamento do autor, de
forma que resta evidenciada a abusividade contratual, na medida em que a quitação do saldo remanescente dificilmente seria
efetivada.

Quanto à taxa de juros remuneratórios a ser aplicada, no meu entender, deve ser aplicado ao caso a porcentagem
praticada pelo BMG para o crédito pessoal consignado na data em que foi realizado o empréstimo, levando em conta o valor do
crédito de R$ 1.078,00 (um mil e setenta e oito reais), conforme contrato juntado ao ev. 14 - arq. 5.

Constata-se também, que o autor não utilizou o cartão de crédito para efetuar compras, conforme consta no
demostrativo de despesas juntado no ev. 14 - arq. 8/11, o que comprova que, de fato, o consumidor acreditou se tratar de contrato
de empréstimo consignado.

Neste particular, fazendo uma consulta no Site do Banco Central, verifiquei que na data da assinatura do contrato
(24/10/2016) – (ev. 14, arq. 5), o Banco BMG S/A estava utilizando o percentual de 2,05% (dois vírgula zero cinco por cento) ao
mês para os empréstimos consignados.

Consequentemente, em sede de cumprimento de sentença, os débitos contraídos pelo autor referente aos depósitos
feitos em sua conta bancária e compras ou saques com o cartão de crédito, deverá ser atualizado mediante a utilização de juros
remuneratórios no valor de 2,05% (dois vírgula zero cinco por cento) ao mês, a serem calculados em 36 (trinta e seis) parcelas,
com o consequente abatimento do valor já pago à instituição financeira mês a mês, apurado por simples cálculos aritiméticos.

Caso haja valor exceder, este deve ser restituído ao autor, de forma simples, ante a ausência de má-fé da parte Ré.

Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, vejamos:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DEVOLUÇÃO


EM DOBRO. MÁ-FÉ. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA N. 7 DO STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. "A repetição do indébito prevista no art. 42, parágrafo

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único, do CDC somente é devida quando comprovada a má-fé do fornecedor; em não comprovada a
má-fé, é devida a restituição simples" (AgInt nos EDcl no REsp 1316734/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 16/05/2017, DJe 19/05/2017). 2. Inadmissível recurso especial
quando o entendimento adotado pelo Tribunal de origem coincide com a jurisprudência do STJ (Súmula n.
83/STJ). 3. (…) (STJ, 4ª Turma, AgRg no AREsp n° 713764/PB, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, DJe
23/03/2018, g.)”

Do dano moral:

O dano moral configura-se, em uma perspectiva moderna, na violação a algum dos direitos da personalidade,
prescindindo da demonstração de dor ou sofrimento.

No caso, evidenciada a conduta ilícita do réu, porquanto tenha descumprido com o dever de informação (art. 6, III,
CDC) de boa-fé objetiva, fazendo uso de práticas abusivas e, por conseguinte, prevalecendo-se da fraqueza do consumidor,
negando atendimento à sua demanda (art. 39, II e IV, CDC).

Neste contexto, entendo que a situação vivenciada pelo autor transcende o mero aborrecimento, configurando
induvidosa violação a direitos da personalidade, notadamente a honra, e os direitos do idoso, eis que se viu preso a uma dívida
infindável por anos.

Trago à baila o entendimento jurisprudencial:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C REPARAÇÃO DE DANOS


MORAIS. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. NATUREZA HÍBRIDA. DECADÊNCIA.
AUSÊNCIA DE CONFIGURAÇÃO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
INOBSERVÂNCIA DOS DEVERES DE INFORMAÇÃO E TRANSPARÊNCIA. AUSÊNCIA DE MENÇÃO AOS
ENCARGOS E DEMAIS TERMOS INCIDENTES SOBRE A AVENÇA. RESCISÃO CONTRATUAL DEVIDA.
DANOS MORAIS CONFIGURADOS. 1. Não há falarem decadência quando não verificado o transcurso de
lapso temporal superior àquele previsto no ordenamento civil (art. 178, II) entre os descontos questionados e
a propositura da lide respectiva. 2. As relações contratuais devem observar os princípios da informação e da
transparência, nos termos dos artigos 4º e 6º do Código de Defesa do Consumidor, de sorte que verificada a
omissão quanto à efetiva natureza da avença e às principais características da operação, deve ser
concretizada a rescisão do contrato, inclusive porque evidenciada a abusividade da conduta da instituição
financeira e a consequente desvantagem da parte adversa na relação negocial. 3. Resta caracterizado o
dano moral quando evidenciado que a instituição financeira não agiu nos estritos limites do exercício regular
de direito, estando configurado o ato ilícito advindo da conduta desidiosa e abusiva atinente à realização de
descontos indevidos em folha, sem o correspondente negócio jurídico originário, exsurgindo, daí, o
inafastável dever de indenizar. 4. Inviável a redução do montante indenizatório quando evidenciado que foi
arbitrado segundo os parâmetros que devem nortear sua fixação. Apelação cível conhecida e desprovida.
Sentença mantida.” (TJGO, APELACAO 0237876-69.2015.8.09.0093, Rel. ITAMAR DELIMA, 3ª Câmara
Cível, julgado em 11/03/2018, DJe de 11/03/2018) (grifei e negritei)

“ AGRAVO INTERNO NA APELAÇÃO CÍVEL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE NULIDADE CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO E DANOS MORAIS. APLICABILIDADE DA LEGISLAÇÃO
CONSUMERISTA. CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO EM FOLHA DE
PAGAMENTO NO VALOR MÍNIMO. TRATAMENTO COMO EMPRÉSTIMO
PESSOAL CONSIGNADO. AUSÊNCIA DE FATOS NOVOS. DECISUM
MANTIDO. 1. O julgamento de Recurso por decisão monocrática do relator é
recomendável, porquanto mecanismo de desobstrução das pautas dos tribunais,
bem como foma de garantir efetividade aos princípios da celeridade e da
economia processual. Outrossim, inexiste prejuízo para a parte, a qual possui
mecanismos processuais de submeter a controvérsia ao colegiado por meio do

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competente agravo interno. 2. Consoante Súmula 297 editada pelo Superior
Tribunal de Justiça, a relação jurídica vivenciada nos autos configura-se relação
consumerista. 3. A contratação de cartão de crédito na modalidade de desconto
em folha de pagamento, por ser uma modalidade contratual extremamente
onerosa e lesiva ao consumidor, deve ser interpretado como contrato de crédito
pessoal consignado, no intuito de reestabelecer o equilíbrio contratual entre a
instituição financeira e o consumidor. 4. Devida a condenação da instituição
financeira ao pagamento de indenização por dano moral, conquanto o modus
operandi da contratação, que culminou em uma dívida impagável, viola o dever
de informação, ensejando a compensação dos danos subjetivos causados,
independentemente de prova do efetivo prejuízo (dano moral in re ipsa). 5.
Constitui medida imperativa o desprovimento do agravo interno, porquanto não
evidenciado nenhum argumento novo capaz de modificar a conclusão proposta
na decisão monocrática zurzida, que deve ser mantida. AGRAVO INTERNO
CONHECIDO E DESPROVIDO.” (TJGO, Apelação (CPC) 5275662-46.2017.8.09.0011, Rel.
SANDRA REGINA TEODORO REIS, 6ª Câmara Cível, julgado em 03/09/2019, DJe de 03/09/2019). Grifei.

Importante frisar que o valor da indenização em epígrafe deve ser fixado pelo juiz com moderação e de maneira
proporcional ao grau de culpa, orientando-se pelos parâmetros sugeridos pela doutrina e jurisprudência. Necessário se faz que
seja aferido com razoabilidade, valendo-se o magistrado de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e as
peculiaridades de cada processo.

É cediço que não existem critérios absolutos para a fixação da indenização por dano moral, devendo esta ser
alcançada de maneira comedida, de modo que não represente enriquecimento sem causa por parte do ofendido, ao passo que
não pode ser ínfima a ponto de não representar uma repreensão ao causador do dano, ou seja, ter caráter pedagógico.

Destarte, vários fatores devem ser levados em consideração, como a capacidade econômica das partes e a
repercussão do ato ilícito em análise. Ante tais observações, reputo como razoável no presente caso, a fixação de indenização por
dano moral em R$ 3.000,00 (três mil reais).

Ante ao exposto, com fulcro no art. 487, I, do Código de Processo Civil, JULGO PROCEDENTES os pedidos vertidos
na exordial para:

a) Determinar que o empréstimo de R$ 1.078,00 (um mil e setenta e oito reais), seja recalculado, incidindo a taxa de
2,05% ao mês, em 36 (trinta e seis) parcelas;

b) Condenar o requerido à restituição, de forma simples, dos valores pagos a maior, mediante apuração da quantia
na fase de cumprimento de sentença, por simples cálculos aritméticos, com juros de 1% ao mês, a contar da citação, na forma dos
artigos 405 e 406 do Código Civil, e correção monetária pelo INPC, incidente a contar dos descontos indevidos;

c) Condenar o banco requerido, ao pagamento de indenização pelo dano moral causado à requerente em R$ 3
.000,00 (três mil reais), com juros de 1% ao mês, a contar da citação, nos moldes do artigo 405 do Código Civil e correção
monetária pelo INPC, a contar do ajuizamento da ação;

Condeno o réu ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, os quais arbitro em 10% sobre o
valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, do CPC.

Havendo recurso de apelação, considerando que não há mais juízo de admissibilidade pelo juízo de origem, nos
termos do art. 1.010 do CPC, intimem as partes para apresentarem suas razões e contrarrazões recursais, no prazo legal e após,
remetam os autos ao E. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, com as nossas homenagens de estilo.

Transitada em julgado, intimem o autor para, no prazo de 15 (quinze) dias, requerer o que entender de direito, sob
pena de arquivamento, nos termos do art. 523 do CPC.

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Publiquem. Registrem. Intimem.

Jandaia, data da assinatura digital.

Aluízio Martins Pereira de Souza

Juiz de Direito

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