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0011
5ª CÂMARA CÍVEL
VOTO
Como relatado, trata-se de APELAÇÃO CÍVEL interposta por BANCO BMG S.A (mov.
34) em face da sentença (mov. 31) proferida pelo Juíza de Direito da 5ª Vara Cível da comarca de
Aparecida de Goiânia, Dra. Lídia de Assis e Souza Branco, nos autos da ação de obrigação de
fazer c/c repetição de indébito ajuizada em seu desfavor por GERSON RODRIGUES DOS
PASSOS, ora apelado, nos seguintes termos:
c) condenar a parte requerida ao pagamento de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a título de danos
morais, devendo a indenização ser corrigida monetariamente desde o arbitramento (súmula
362, STJ), pelo INPC, com incidência de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês, a
partir da citação (art. 405, CC).
O Banco apelante, em suas razões, alega que o Autor celebrou contratação de cartão
de crédito consignado, pelo qual recebeu o Cartão de Crédito e Débito BMG Card de número
5259.0959.2087.5749, conta cartão n°3783839, o qual assinou livremente o contrato, afastando-
se qualquer vício de consentimento ou defeito na prestação das informações. Em razão disso,
requer o conhecimento e provimento de seu recurso para reformar a sentença, julgando
improcedentes os pleitos inaugurais e, subsidiariamente, a compensação de eventual
condenação com os valores efetivamente recebidos, a ser apurados na fase de cumprimento de
sentença.
1. Da admissibilidade do recurso
Pois bem. No caso dos autos, observa-se que foi contratado “Cartão de Crédito
Consignado emitido pelo Banco BGM S/A e Autorização para Desconto em Folha de Pagamento”,
contrato de adesão n. 50485171, sendo disponibilizado para saque o valor de R$ 2.651,45 (dois
mil, seiscentos e cinquenta e um reais e quarenta e cinco centavos), a ser descontado o valor
Outrossim, extrai-se do extrato dos proventos juntados pela parte autora (mov. 1,
arquivo 06) que o desconto realizado pelo banco réu ocupa o campo de “margem consignável”,
sem apontar o número de parcela e apenas replicando o valor mínimo da fatura do cartão de
crédito.
Já da análise das faturas do cartão de crédito acostadas aos autos pela instituição
financeira (mov. 20, arquivo 02 evento 12), vislumbra-se: a) os lançamentos do saque do valor
contratado (R$ 2.599,20); b) saques adicionais ((13/05/219 – R$ 300,25 (trezentos reais e vinte e
cinco centavos)– fl. 120 do PDF; 17/07/2020 – R$ 362,83 (trezentos e oitenta reais) – fl. 134 do
PDF; 03/08/2020 – R$ 139,02 (cento e nove reais e dois centavos – fl. 135 do PDF); c) encargos
e taxas bancárias; d) valores refentes ao acréscimo dos juros; e) o valor descontado em folha em
torno de R$ 101.35.
Observa-se que o referido instrumento não traz número, o valor das parcelas, nem o
termo inicial e o final do pagamento do empréstimo, isto é, não possui prazo para acabar, em
descumprimento ao inciso III do artigo 6º do CDC.
Desse modo, forçoso concluir pela ausência de boa-fé contratual (artigos 113 e 187 do
CC), sobretudo porque o referido cartão de crédito não foi utilizado para realização de compras
diversas em estabelecimentos comerciais e, mesmo havendo saques complementares –
disponibilizados via TED (evento 20), apenas o pagamento mínimo faz com que a dívida se torne
uma “bola de neve” e, portanto, em uma dívida impagável.
Esse, aliás, é o entendimento uníssono deste Tribunal, que editou súmula para sepultar
a controvérsia:
Súmula nº. 63, TJGO - “Os empréstimos concedidos na modalidade ‘Cartão de Crédito
Consignado’ são revestidos de abusividade, em ofensa ao CDC, por tornarem a dívida
impagável em virtude do refinanciamento mensal, pelo desconto apenas da parcela mínima
devendo receber o tratamento de crédito pessoal consignado, com taxa de juros que
represente a média do mercado de tais operações, ensejando o abatimento no valor devido,
declaração de quitação do contrato ou a necessidade de devolução do excedente, de forma
simples ou em dobro, podendo haver condenação em reparação por danos morais, conforme o
caso concreto.”
Sendo assim, não merece reparos a sentença, no particular, devendo ser mantida a
revisão contratual, descaracterizando-se o contrato para empréstimo consignado, com incidência
de juros à taxa média de mercado para a operação desta natureza, tal como assentado pela
magistrada singular.
Desta forma, o quantum indenizatório deve ser fixado em R$ 6.000,00 (seis mil reais),
valor este que está em estrita observância aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
“(…). São devidos danos morais consubstanciados pelos débitos infindáveis cobrados
mensalmente, os quais foram fixados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). (…).” (TJGO, 5ª CC,
AC nº 5571559-45.2019.8.09.0174, Rel. Des. Marcus da Costa Ferreira, DJe de 26.04.2021).
4. Dispositivo
É o voto.
Relator
5ª CÂMARA CÍVEL
ACÓRDÃO
Desembargador
Relator