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MANUAL DO/A FORMANDO/A

Juliana Nunes

K.FP.413.01
FICHA TÉCNICA

Tipologia de Recurso: Manual do Formando


Curso: UFCD 8915 – Términus da vida do idoso - Morte
Formador(es): Juliana Nunes
Autoria: Juliana Nunes
Data: 2021

K.FP.413.01
ÍNDICE
FICHA TÉCNICA ....................................................................................................................................... 1
ÍNDICE ................................................................................................................................................... 1
Introdução ............................................................................................................................................. 2
1. A morte.............................................................................................................................................. 3
1.1. Critérios de análise para a verificação do óbito ..................................................................................... 3
1.2. A morte do outro e a própria morte ...................................................................................................... 6
1.3. Representação da morte ....................................................................................................................... 8
2. Atitudes perante a morte ................................................................................................................. 11
2.1. Recusa .................................................................................................................................................. 11
2.2. Cólera ................................................................................................................................................... 12
2.3. Negociação .......................................................................................................................................... 12
2.4. Depressão ............................................................................................................................................ 13
2.5. Aceitação ............................................................................................................................................. 14
3. Importância de proporcionar uma morte digna ................................................................................. 15
4. Processo de luto ............................................................................................................................... 19
4.1. Diferentes tipos de luto ....................................................................................................................... 19
4.2. Sentimentos no processo de luto ........................................................................................................ 22
4.3. Pensamentos habituais no processo de luto ....................................................................................... 26
4.4. Tarefas para ultrapassar o processo de luto ....................................................................................... 28
5. O técnico de geriatria e a morte ........................................................................................................ 31
5.1. Papel do técnico de geriatria no processo de luto e no acompanhamento de um idoso em fase terminal
.................................................................................................................................................................... 31
5.2. Meios para reforçar o sentido de vida nos idosos ............................................................................... 33
5.2.1. Reminiscência ............................................................................................................................ 33
5.2.2 Compromisso .............................................................................................................................. 34
5.2.3. Otimismo .................................................................................................................................. 35
5.2.4. Religião ...................................................................................................................................... 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................................................................ 39

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INTRODUÇÃO
O presente manual foi concebido como instrumento de apoio à unidade de formação de curta
duração 8915 – Términus da vida do idoso - morte, de acordo com o Catálogo Nacional de Qualificações.

Objetivos

• Identificar e explicar os aspetos atitudinais do idoso na última fase da vida.


• Descrever os aspetos inerentes ao processo de luto.
• Reconhecer a importância do técnico de geriatria como mediador nesta fase da vida.

Conteúdos programáticos

• A morte
o Critérios de análise para verificação do óbito
o A morte do outro e a própria morte
o Representação da morte
• Atitudes perante a morte
o Recusa
o Cólera
o Negociação
o Depressão
o Aceitação
• Importância de proporcionar uma morte digna
• Processo de luto
o Diferentes tipos de luto
o Sentimentos no processo de luto
o Pensamentos habituais no processo de luto
o Tarefas para ultrapassar o processo de luto
• O técnico de geriatria e a morte
o Papel do técnico de geriatria no processo de luto e no acompanhamento de um idoso em fase
terminal
o Meios para reforçar o sentido de vida nos idosos
▪ Reminiscência
▪ Compromisso
▪ Otimismo
▪ Religião

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1. A MORTE

1.1. Critérios de análise para verificação do óbito

Uma instituição de saúde terá certamente de lidar com a morte de clientes e com o subsequente período
de luto. O final da vida nunca deve ser encarado como uma rotina, porque os cuidados que prestamos a
alguém nos últimos dias são tão importantes como os que recebeu ao longo da vida.

O final da vida é um momento em que o respeito pela privacidade e a dignidade é indispensável. O


cliente deve estar num quarto próprio e rodeado dos seus pertences e de familiares e amigos, a não ser que
haja razões médicas muito fortes que o impeçam, ou que o próprio não o deseje.

Os clientes devem poder pronunciar-se sobre os procedimentos a tomar na fase final da sua vida e após
a sua morte. As particularidades culturais, religiosas e pessoais devem ser respeitadas. O envolvimento da
família e amigos pode ajudar, mas só se o próprio estiver de acordo.

Devemos zelar pela satisfação das necessidades físicas, emocionais e espirituais de quem está a morrer,
respeitando os seus desejos e proporcionando-lhe conforto e bem-estar. Há que minimizar a dor: cuidados
paliativos de qualidade contribuem para a qualidade de vida do residente nos seus últimos momentos.

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Após a morte, a instituição de saúde pode apoiar a família e/ou amigos do falecido (se esta assim o
desejar) nos procedimentos a tomar e informá-los sobre possíveis fontes de apoio, serviços fúnebres e outros
aspetos que venham a surgir.

Os profissionais de saúde devem estar preparados e dispostos a falar sobre a morte e o final da vida e
sobre os residentes que tenham falecido recentemente. Por vezes, também os colaboradores precisam de
ajuda, sobretudo se são mais novos e inexperientes.

As instituições de saúde devem ter políticas claras e procedimentos estabelecidos para assegurar que
os últimos dias de um residente são passados com conforto e de forma digna, respeitando-se os seus desejos
integralmente.

Em caso de morte do cliente, a Organização deve ter previsto mecanismos de atuação imediatos,
nomeadamente:
• Comunicação do óbito aos restantes clientes e colaboradores, conferindo especial atenção àqueles
mais próximos do cliente: esta comunicação deve ser efetuada de forma clama e tranquila e num espaço
reservado, de forma a minimizar o impacto da informação;
• Comunicação formal a outras Instituições com as quais o cliente tivesse relacionamento;
• Definição do processo de organização e entrega dos bens do cliente aos significativos;
• Preparação e trabalho com o grupo de clientes com vista a uma gestão emocional de forma equilibrada
e ajustada;
• Identificação do representante da organização que estará presente na cerimónia fúnebre.

Os cuidados post-mortem são assegurados pela Organização em estreita colaboração com os


significativos. Se não existirem referências de pessoas próximas e/ou significativos, deve a Organização
assegurar-se do cumprimento das últimas vontades do cliente, caso tenham sido expressas e providenciar os
procedimentos inerentes ao ato fúnebre e zelar pela dignidade do ato.

O óbito é constatado pelo médico, e logo após deve-se iniciar a preparação do corpo com as finalidades
de:
• Manter o corpo limpo e identificado;
• Evitar odores e saída de excreções e sangue;
• Dispor o corpo em posição adequada antes da rigidez cadavérica.

A preparação do cadáver é da responsabilidade do enfermeiro ao qual o doente estava atribuído,


cabendo ao técnico/a auxiliar de saúde colaborar com ele na preparação do corpo, devendo para tal serem
cumpridos os seguintes cuidados:
• Proceder ao isolamento da unidade do doente, correndo os cortinados;
• Reunir toda a roupa e material necessário à execução da múmia (saco de cadáver ou lençol, adesivo,
algodão, ligaduras, etiquetas de identificação);
• Colaborar na retirada de todos os cateterismos;
• Proceder à higiene corporal do doente se necessário;

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• Colaborar no tamponamento de todos os orifícios naturais (ouvidos, narinas, boca e ânus);
• Efetuar o encerramento das pálpebras;
• Colocar uma ligadura sob o maxilar inferior e atá-la na cabeça, permitindo o encerramento da boca;
• Cruzar as mãos sobre o abdómen e segurá-las com uma ligadura;
• Unir os pés e atá-los com uma ligadura;
• Manter sempre o alinhamento corporal;
• Colocar uma etiqueta de identificação numa das ligaduras que seguram as mãos ou pés;
• Enrolar o corpo no lençol que acompanha o saco de cadáver;
• Colocar o corpo no saco de cadáver e identificar o saco com a 2ª etiqueta.

O cadáver deverá ser sempre identificado com 2 etiquetas, uma interna e outra externamente e
posteriormente transportado obrigatoriamente em maca específica, devendo aí ser colocado nas câmaras
frigoríficas.

A saída do cadáver da Unidade, só será efetuada após informação dos familiares ou, em caso de
impossibilidade, das autoridades (PSP ou GNR) da área de residência do doente falecido e somente após
autorização do enfermeiro responsável.

No caso da morte ocorrer em casa:


• Os cuidados após a morte devem ser realizados com respeito pelo corpo;
• É importante tornar o ambiente à volta do falecido o mais estético possível para a família;
• Devem ser retirados quaisquer tubos como sondas, cateteres venosos, entre outros;
• O corpo deve ser colocado numa cama limpa, em posição natural, sobre resguardos absorventes;
• Devem ser tapados com compressas ou algodão os orifícios naturais do corpo para prevenir a saída
de fluidos;
• A melhor posição é a maior parte das vezes o decúbito dorsal, com os braços ao longo do corpo ou
cruzados sobre ele. As pernas devem estar unidas paralelamente;
• Os olhos devem ser fechados e a dentadura colocada se ainda não houver rigidez do maxilar;
• O maxilar inferior deve ser também fixado de uma forma natural com uma ligadura abaixo do queixo.
Este posicionamento deve ser efetuado antes de se instalar o rigor mortis ou o endurecimento do cadáver
(surge primeiro nos músculos do maxilar e progride de uma forma descendente até às pernas). Outro
processo que ocorre após a morte é o livor mortis, que é o aparecimento de manchas arroxeadas em
determinadas zonas do corpo entre 20 a 30 minutos após a morte.
• O posicionamento imediato do cadáver em decúbito dorsal, com uma almofada debaixo da cabeça
previne o livor mortis na face e dá uma aparência de conforto aos membros da família.

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1.2. A morte do outro e a própria morte

O envelhecimento é o processo que ocorre durante o curso da vida, onde há modificações biológicas,
psicológicas e sociais.
O ser humano modifica-se somaticamente do nascimento até a morte. O idoso geralmente é
especificado pelo tempo cronológico, mas existem questões físicas, funcionais, mentais e de saúde que
podem influenciar.
O idoso é o resultado do processo de desenvolvimento, do seu curso de vida. Faz parte de uma
consciência coletiva.
A velhice é a última fase do processo de envelhecimento. É um conceito abstrato, sendo impossível
delimitá-la em tempo ou em características.
Podemos considerar a morte como a maior das crises que o homem enfrenta.

Todos nós enfrentamos crises, algumas superáveis outras não e embora estejam sempre presentes há
uma diferença que interfere na possibilidade de seu enfrentamento; na terceira idade as perdas aceleram-
se, sendo que o tempo para superá-las é menor.

A velhice traz consigo a perspetiva de morte. Mesmo com o aumento da esperança média de vida, esta
é sempre um período finito. Quando existe uma doença grave, ou outra condição de saúde, incluindo aspetos
físicos, mentais e sociais que gera sofrimento, a morte passa a ser não só uma probabilidade, mas também
uma alternativa. Pode ocorrer, no entanto, o idoso sentir-se incapacitado ou frágil para enfrentá-las
instalando-se assim uma crise mais séria.

Mesmo considerando que envelhecer e adoecer não sejam sinónimos, não podemos ignorar que
determinadas enfermidades são mais frequentes em idosos. Existem as doenças psicossomáticas e ainda as
modificações orgânicas que não são doenças, ou seja, rugas, cabelos brancos, pós-menopausa, postura
encurvada, reflexos mais lentos, tudo isto se reflete na autoestima.

Todos os conflitos gerados por estas situações, geram a preferência pela morte em detrimento da dor
física ou psíquica.

Cada pessoa teme mais um certo aspeto da morte. Afirma-se que se deve considerar a morte sob duas
conceções:
1. A morte do outro: o medo do abandono, envolvendo a consciência da ausência e da separação.
2. A própria morte: A consciência da própria finitude, a fantasia de como será o fim e quando ocorrerá.

Ao referirmo-nos à morte do outro estamos a mencionar a morte do próximo, de alguém que coabita
com o idoso, sendo familiar ou não, que passou a fazer parte da sua vida em contexto institucional.

Este outro que se encontra no seu meio social e partilha da sua experiência vivencial na instituição.
Referimo-nos, assim ao outro idoso, e esta perda pode ser vista como um processo transacional que envolve

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o falecido e os sobreviventes num ciclo de vida comum, reconhecendo-se a finalidade da morte bem como a
continuidade da vida.

A morte é encarada por quatro maneiras: como o luto pessoal, como a morte do ‘outro’, como a
consciência pessoal da morte e como a nossa própria morte.

A morte é a nulidade do conhecimento, é o desaparecimento definitivo, cita-se o morto através das


palavras de quem vive e das memórias além-túmulo, isto porque os mortos estão em silêncio. Mediante
estes factos, as reações e atitudes perante o desaparecimento, isto é, a morte do outro, diferem de idoso
para idoso, de acordo com as suas características socioculturais, as suas crenças, a carga de vivências
passadas e a relação que foi estabelecida com o outro.

Ao pensar a sua morte, cada pessoa pode relacioná-la com um dos seguintes aspetos:
a) Medo de morrer: Quanto à própria morte, surge o medo do sofrimento e da indignidade pessoal. Em
relação à morte do outro é difícil ver o seu sofrimento e desintegração, o que origina sentimentos de
impotência por não se poder fazer nada.
b) Medo do que vem após a morte: Diante da própria morte existe a ameaça do desconhecido, o medo
de não ser e o medo básico da própria extinção. Em relação ao outro, a extinção evoca a vulnerabilidade pela
sensação de abandono.

O que parece mais temido na morte depende da época de vida de cada um e das circunstâncias do
momento como, por exemplo: o perigo eminente devido a situações externas de guerras, crimes, violência;
perturbações internas que ameaçam o sujeito, como medos e fobias, ou mesmo a morte de alguém.

Para alguns a morte amedronta, pois é vista como fim ou como perda da consciência idêntica ao
adormecer, desmaiar ou perder o controlo.

O medo da morte pode conter também o medo da solidão, da separação de quem se ama, o medo do
desconhecido, o medo do julgamento pelos atos terrenos, o medo que possa ocorrer aos dependentes, o
medo da interrupção dos planos e fracasso em realizar os objetivos mais importantes da pessoa.

Os fatores que mais influenciam, no sentido de conter o medo da morte, são: a maturidade psicológica
do indivíduo, a sua capacidade de enfrentamento, a orientação e o envolvimento religiosos que possa ter e
a sua própria idade.

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1.3. Representação da morte

A perceção da morte é distinta em cada um de nós, pelas diversas conceções, crenças e representações,
fundamentadas não só na sua ocorrência, como no contexto familiar, social em que esteja inserido.

A Morte pode ser definida como sendo o cessar irreversível:


1. Do funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos;
2. Do fluxo espontâneo de todos os fluídos, incluindo o ar (“último suspiro”) e o sangue;
3. Do funcionamento do coração e pulmões;
4. Do funcionamento espontâneo de coração e pulmões;
5. Do funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral (morte encefálica);
6. Do funcionamento completo das porções superiores do cérebro (neocórtex);
7. Do funcionamento quase completo do neocórtex;
8. Da capacidade corporal da consciência.

A morte biológica significa o fim do organismo humano, mas o ser social só deixa de existir a partir do
momento em que uma série de cerimónias de despedida é realizada e a sociedade reafirma a sua
continuidade sem ele.

A crescente tecnologia pormenoriza a sua definição, pelo que podemos observar algumas delas:
• A morte é o fim de vida, a interrupção definitiva da vida humana;
• A morte aparente/clínica é caracterizada por paragem respiratória, paragem cardíaca e perda de
consciência, podendo ser revertida em certas situações quando há reanimação;
• A morte cerebral é caracterizada pela paragem definitiva de toda a atividade cerebral, com
suspensão de toda a atividade respiratória, espontânea e com o registo de um eletroencefalograma plano;
• A morte natural é aquela que ocorre na sequência de um processo natural ou por agravamento de
uma enfermidade;
• A morte súbita é a morte inesperada, inapropriada, sobrevindo a um indivíduo que aparentemente
goze de boa saúde;
• A morte do ponto de vista religioso é a separação entre a alma e o corpo, que marca a passagem a
um outro estágio espiritual ou à vida eterna.

Os estudos sobre o desenvolvimento deste conceito têm identificado vários componentes de


assimilação gradual na representação do conceito, constituindo uma mais-valia científica para conduzir a
uma compreensão mais amadurecida sobre o tema, já que incluem:
• A Irreversibilidade refere-se à perceção do facto de que estar morto é um estado definitivo, final e
irrevogável;
• A Universalidade refere-se ao entendimento de que todos os organismos vivos devem morrer sem
exceção (regra universal). Há uma vertente na perceção da verdade, em que a consequência da
universalidade signifique para a pessoa a sua própria mortalidade e não apenas a do outro;

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• A Inevitabilidade refere-se à compreensão de que a morte é inevitável, imprevisível com uma
possibilidade de que vá intervir a qualquer momento na sua vida;
• A Não funcionalidade refere-se ao conhecimento do funcionamento dos organismos vivos e
observações da natureza viva através do conceito de morte, percebendo que este cessa funções após a morte
(a pessoa morta é incapaz de se mover, respirar, falar);
• A Causalidade refere-se à compreensão da relação entre a morte e as funções vitais, isto é, a
perceção de que a morte é a consequência do fracasso das funções vitais.

No mundo ocidental, e em especial na sociedade portuguesa contemporânea, assiste-se a mudanças no


domínio das configurações sociais da morte, designada por vários autores de hospitalização da morte. As
transformações ocorridas neste século no sentido da hospitalização da morte e da supressão do luto, são
equacionadas como crise de uma sociedade que já não sabe lidar com a morte e com os seus mortos, ao
contrário do que acontecia na sociedade tradicional.

Trata-se, portanto de um indicador de mudança de atitudes, quer dos profissionais de saúde quer da
sociedade em geral, face à morte e que é a hospitalização da sua ocorrência.

Noutros tempos, a morte era um acontecimento social que envolvia não só a família, mas toda a
comunidade onde se encontrava inserido. Morria-se em casa, junto dos familiares, vizinhos, amigos e
conhecidos que vinham prestar a última homenagem ao moribundo, ao mesmo tempo que partilhavam o
sofrimento da família.

Hoje em dia, com as alterações nas condições de vida e habitação, o núcleo familiar reduzido, o
isolamento em que se vive, especialmente nos grandes centros urbanos levam a que já não se morra em
família.
Muitas vezes a morte, que faz parte do ciclo vital de todos os seres vivos, tende a ser escondida dentro
das paredes de um hospital.

Quando não existe cura para uma determinada enfermidade, a família do doente pode reagir a essa
situação de diversas maneiras, ou seja, pode ficar em negação ou preferir não dialogar sobre o assunto.

Na maioria das vezes, a família prefere que sejam tentados todos os tratamentos possíveis procurando
a cura, trazendo com isso mais sofrimento para o paciente. O paciente, a sua família e os médicos estão
envolvidos nas decisões que procuram a melhora de sintomas, investimento nos cuidados de saúde e nos
significados acerca da vida e da morte.

As decisões são maioritariamente difíceis de serem tomadas por acarretarem quase sempre sofrimento
e dor. Vários estudos mostram que a família prefere que o doente esteja no seu domicílio mediante um
programa de cuidados paliativos. Este programa surge para satisfazer o paciente no sentido de este estar na
sua própria casa, mas também cuidará da sua dependência funcional e possíveis emergências que apareçam
nos últimos dias de vida.

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Esta opção pode trazer efeitos físicos e psicológicos para a família e para quem cuida do paciente.
Surgem ainda inquietações, inseguranças e isolamento. O cuidador pode estar perante vários fatores de risco
tais como o cansaço e o stresse visto que o doente passa a ser o centro das atenções.

Estes fatores de risco surgem perante a falta de apoio emocional do cuidador diante da morte. Sendo
assim, apesar das famílias reconhecerem que o melhor para o doente é ele ficar em casa junto à sua família,
as instituições continuam a ser o lugar predileto pelos pacientes e respetivas famílias para os últimos dias de
vida.

A morte de um ente querido ao nível familiar pode ter um impacto direto ou indireto na estrutura e
funções familiares, visto que pode afetar sistemas de coping existentes na família.

Com efeito, o significado de uma determinada perda e respostas a ela são moldados essencialmente
pelo sistema de crenças da família, o qual, por sua vez, é modificado por todas as experiências de perda.

O grau de rutura para o sistema familiar é afetado por um número de fatores, sendo os mais
significantes:
1) O contexto social e étnico da morte;
2) O historial de mortes anteriores;
3) A altura da morte no ciclo de vida;
4) A natureza da morte ou da doença grave;
5) A posição e função da pessoa no sistema familiar; e
6) A abertura do sistema familiar.

Deste modo, torna-se essencial perceber o impacto que uma perda significativa tem não só no indivíduo,
como também no sistema familiar e nas suas interações.

Neste contexto, verifica-se a existência de duas tarefas principais para promover o processo de luto de
forma imediata e a longo prazo dos familiares, para fortalecer a família como uma unidade funcional:
• A aceitação partilhada da realidade da morte e experiência partilhada da morte e
• A reorganização do sistema familiar e reinvestimento noutras relações e no seguimento da vida.

Este processo é indiscutivelmente marcado pelo fator tempo, pela necessidade de ajustamento à
mudança da vida e, também, dos projetos de vida, à recolocação ao nível simbólico da pessoa perdida e, por
isso, uma experiência com diferenças significativas de indivíduo para indivíduo.

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2. ATITUDES PERANTE A MORTE

2.1. Recusa

A primeira fase ou estádio é o da negação e o isolamento, em que o doente, ao receber a notícia ou


tomar consciência da sua situação de fase final de vida, tende a negar a eminência de morte, considerando
o diagnóstico errado, e usando outros mecanismos, como o isolamento.

A negação funciona como uma defesa perante a possibilidade da morte, mais ou menos próxima. O
doente não quer acreditar no que está a acontecer, há uma ameaça que é necessário negar para continuar a
vida.
Contudo, a negação não é definitiva e muitos doentes irão ultrapassá-la e aceitarão a dura verdade.
Há a referir que muitos doentes apresentam uma negação parcial, isto é, negam a doença e a sua
gravidade, e, contudo, permanecem internados nas instituições de saúde, continuando a efetuar os
tratamentos médicos e não exercendo qualquer recusa.

Refira-se que a negação poderá ocorrer noutras situações, em que o próprio doente já se encontra em
fases emocionais posteriores. Não se tratará de um recuo, mas antes de uma necessidade que o próprio
doente sente, imprescindível para a sua sobrevivência.
Quem se aproximar destes doentes nesta fase, não deverá interferir, deixando que sigam o seu curso
de consciencialização da gravidade do seu estado.

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No contexto da negação, o doente poderá numa fase posterior cair numa situação de isolamento
pessoal.

A chave para cuidar dos doentes nesta fase e nas fases seguintes é sempre, e sobretudo, a escuta e a
presença amiga. Os profissionais de saúde devem compreender esta negação como um sinal de que o doente
ainda não está preparado para enfrentar essa realidade. É necessário aceitar o doente como um ser humano,
que necessita de tempo e de alguém para partilhar os seus sentimentos de medo, angústia e insegurança.

2.2. Cólera

Após um período inicial em que a negação está presente no discurso e ação do doente, este poderá
começar a sentir cólera e raiva.

Na segunda fase, à medida que o seu mecanismo de negação se vai atenuando, o doente começa a
sentir revolta, inveja e ressentimento, perguntando “porquê eu?” e invejando a sorte dos outros,
exteriorizando a sua hostilidade contra o tratamento, contra os profissionais de saúde e contra Deus.

Esta raiva deverá ser exteriorizada, sendo quase inevitável para que o doente evolua para uma aceitação
da morte. Esta fase é muito difícil, sobretudo para a família e para os profissionais de saúde, pois o doente
revolta-se perante estes. O doente vocifera críticas agressivas contra os profissionais de saúde e inclusive
contra a própria família.

Nesta fase é necessário promover a tolerância perante as reações de raiva do doente, pois esta é a sua
forma de expressar os seus sentimentos. Temos que aprender a escutar o doente e aceitar os seus acessos
de raiva, percebendo que se encontra a expressar sentimentos de alívio. O meio que o rodeia tem de mostrar
muita compreensão e aguardar pacientemente que o doente ultrapasse esta fase.

2.3. Negociação

A terceira fase é a fase da negociação, na qual o doente abandona as reações de raiva e adota a
estratégia de negociar mais tempo de vida, podendo esta negociação ser feita com Deus, com os profissionais
de saúde ou até com ele próprio.

Esta fase é a menos conhecida, mas muito importante para o doente durante um curto período de
tempo. Nesta fase, o doente passa a seguir escrupulosamente o tratamento, prometendo ser mais
compreensivo e tolerante com os outros, dedicando-se às práticas religiosas.

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Alguns doentes tentam obter um alargamento do seu tempo de vida para concretizarem um objetivo
específico. Apesar da relativa frequência com que os doentes estabelecem promessas com Deus para adiar
o seu fim, esta reação emocional esconde, na sua natureza, alguns indícios de culpa.

Nalgumas circunstâncias, o doente poderá estar a martirizar-se e a fazer mais promessas – ir mais vezes
à igreja, tornar-se melhor mãe ou pai –, numa tentativa de remissão de erros que pensa ter cometido no seu
passado. Nestas circunstâncias, a equipa de saúde deverá esta atenta aos sinais do doente para ajudá-lo a
superar esta culpa do passado e também a culpa por não conseguir concretizar as promessas atuais.

2.4. Depressão

A depressão, que corresponde à quarta fase, ocorre quando já não é possível negar a doença, e o doente
se encontra já bastante debilitado.

O alheamento anterior, a revolta e a cólera cedem lugar a um sentimento de perda, onde já não é
possível sequer a negociação, enganar os outros ou a si próprio.

Há dois tipos de depressão que merecem atuações diferentes por parte dos profissionais de saúde e da
própria família. O doente poderá estar com uma depressão reativa porque simplesmente está preocupado
com aspetos relacionados com a doença ou com circunstâncias da sua vivência familiar. Na base da depressão
reativa, encontra-se alguma tarefa ou compromisso que está a atormentar o pensamento do doente.
A ajuda passa pela necessária escuta do problema, incutindo coragem e alento de que tudo será
resolvido pelo melhor em relação às pessoas que se encontram a cargo do doente.

Noutras ocasiões, o doente poderá encontrar-se numa depressão preparatória. Com esta reação, o
doente está a preparar-se para o seu fim, para a perda do que mais ama na vida.

Nesta fase, o silêncio e a presença das pessoas amigas são fundamentais na ajuda ao doente. Esta
depressão pode ser necessária para o doente entrar numa fase de aceitação do fim da sua vida. Em certas
circunstâncias, ocorre uma dissociação entre a vontade da família em desejar a vida do seu familiar e a
vontade do doente em partir.

Caberá aos profissionais de saúde ajudar a família a compreender que aquilo de que o doente mais
precisa naquele momento é de companhia, podendo os apelos ao ânimo e à coragem prejudicar a caminhada
do familiar para o desprendimento e para a aceitação do términus da vida.

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2.5. Aceitação

A quinta fase, a fase da Aceitação representa o culminar de todas as reações emocionais do doente em
fase terminal. É o momento em que o doente se rende perante a iminência da morte, mostrando-se capaz
de entender a sua situação, com todas as suas consequências.

Muitos doentes, quando ajudados, alcançarão esta fase, verificando-se uma necessidade de
acompanhamento em que a comunicação verbal é quase nula: o doente em fase terminal que foi ajudado
alcançará a aceitação e morrerá em paz.

É neste momento que o doente começa a falar claramente na morte, revelando necessidade de rever
as suas experiências passadas mais significativas, como forma de dar sentido à vida e à morte.

Neste período deverá ser valorizado o processo de comunicação, particularmente a escuta ativa, pois
muitos ficam sós e necessitam de alguém que os ouça e os ajude a reenquadrar perspetivas e a atingir o
equilíbrio natural para viver.

A esperança apresenta-se como um traço comum que atravessa as várias fases emocionais do doente
em fase terminal.

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3. IMPORTÂNCIA DE PROPORCIONAR UMA MORTE DIGNA

A ambição da dignidade na morte, como na vida, é comum a todas as pessoas. Querer morrer sem
sofrimento, seja ele físico, psicológico ou espiritual, é um anseio comum a todos os seres humanos, mesmo
que raramente pensem no fim dos seus dias.

A ocorrência de uma boa morte depende de fatores inerentes ao contexto social e cultural em que o
doente se encontra inserido, assim como de aspetos associados à evolução da doença.

Cuidar para morrer bem exige cuidados altamente individualizados, baseados na continuidade do
relacionamento, com trabalho em equipa eficaz, planeamento prévio, atenção específica para a preparação
da morte e discussão adequada dos tratamentos.

As perceções sobre uma boa ou má morte encontram-se relacionadas com o desenvolvimento de certas
interações entre os desejos dos doentes, a capacidade de atingir as expectativas dos vários intervenientes e
o controlo que é exercido sobre o processo de morrer.

Os idosos residentes em estruturas residenciais sofrem muitas vezes de solidão, da indignidade da


dependência e mudanças indesejadas na aparência física. Alguns não têm interação significativa ou nenhuma
com a família ou amigos ou representante espiritual durante a fase final da vida.

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Os profissionais de saúde devem estar sensíveis ao facto de que os cuidados individualizados e as
relações terapêuticas fortes ajudam na prestação de cuidados em fim de vida e dão alento ao longo do
processo de morrer.

Os cuidados paliativos são os indicados a prestar aos idosos de uma estrutura residencial, pois têm como
meta proporcionar ao idoso e família e/ou pessoa significativa condições para que alcancem uma boa
qualidade de vida até á morte, oferecendo assim uma boa morte.

O profissional de saúde tem o dever de fazer valer os direitos das pessoas em fim de vida, porque o
moribundo é, antes de mais, um ser único com necessidades, valores, convicções, que tem direitos durante
o processo de morrer.

A Portaria n.º 52/2012 referência os seguintes os direitos do doente em fim de vida:


1.Receber cuidados paliativos adequados à complexidade da situação e às necessidades da pessoa,
incluindo a prevenção e o alívio da dor e de outros sintomas;
2. Escolher o local de prestação de cuidados paliativos e os profissionais, exceto em casos urgentes, nos
termos dos princípios gerais da Lei de Bases da Saúde;
3. Fazer-se acompanhar, nos termos da lei;
4. Ser informado sobre o seu estado clínico, se for essa a sua vontade;
5. Participar nas decisões sobre cuidados paliativos que lhe são prestados, nomeadamente para efeitos
de determinação de condições, limites ou interrupção dos tratamentos;
6. Ver garantidas a sua privacidade e a confidencialidade dos dados pessoais;
7.Receber informação objetiva e rigorosa sobre condições de internamento.

Para além dos direitos do doente em fim de vida atrás referidos, podemos acrescentar alguns direitos
que o profissional deve valorizar e servir-se deles para enriquecer a relação com o doente em fim de vida.

O doente em fim de vida tem:


• O Direito de ser tratado como um ser humano até morrer;
• O Direito de ser aliviado na dor;
• O Direito de participar nas decisões relativas aos cuidados que lhe são prestados;
• O Direitos de contar com a constante atenção médica e com a continuidade de cuidados, mesmo que
os objetivos de cura devam ser mudados para objetivos de suporte;
• O Direito de ser tratado por pessoas sensíveis, motivadas, competentes, que tentem compreender
as necessidades de quem se encontra a morrer e encontrem satisfação pessoal na ajuda que lhe dão em
relação à morte;
• O Direito a ser tratado por pessoas capazes de conservar sentimento de confiança, qualquer que
sejam as mudanças que possam advir;
• O Direito a que lhe respondam honestamente às suas questões;
• O Direito a não ser enganado;
• O Direito de conservar um sentimento de esperança qualquer que seja a mudança que possa vir a
acontecer;

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• O Direito de exprimir, à sua maneira, os seus sentimentos e emoções face à sua própria morte;
• O Direito de conservar a sua individualidade e de não ser julgado pelas suas decisões, que podem ser
contrárias às convicções dos outros;
• O Direito a discutir e aprofundar a sua experiência religiosa e espiritual, qualquer que seja o
significado que ela tenha para os outros;
• O Direito para a aceitação da morte, a receber a ajuda da família e que esta também receba ajuda;
• O Direito a não morrer só;
• O Direito de esperar que a dignidade do seu corpo seja respeitada após a sua morte;
• O Direito de morrer em paz e com dignidade.

O direito de morrer com dignidade implica que todos os outros sejam válidos e cumpridos. Morrer com
dignidade, é manter até ao fim a sua identidade, de ser único que é, é ser tido em consideração por aqueles
que o rodeiam e não ser abandonado ao destino que lhe está reservado, numa solidão imensa e profunda.

Todo este processo requer um investimento contínuo, isto é, uma tomada de consciência permanente,
do modo como cuidamos e do modo como nos sentimos como profissionais de saúde.
Uma estrutura residencial para pessoas idosas terá certamente de lidar com a morte de residentes e
com o subsequente período de luto.

O final da vida nunca deve ser encarado como uma rotina, porque os cuidados que prestamos a alguém
nos últimos dias são tão importantes como os que recebeu ao longo da vida.
O final da vida é um momento em que o respeito pela privacidade e a dignidade é indispensável. O
residente deve estar num quarto próprio e rodeado dos seus pertences e de familiares e amigos, a não ser
que haja razões médicas muito fortes que o impeçam, ou que o próprio não o deseje.
A institucionalização aumenta o seu sentimento de alienação e obriga-os a abandonarem a outros o
controlo da sua vida e da sua morte, o que fere a sua autoestima e desintegra a sua identidade. Tornam-se
pessoas anónimas, idosos entre outros idosos, e nada podem fazer contra isso. Deixam de ter qualquer poder
e são, muitas vezes, catalogados como pessoas confusas, dependentes e difíceis.

Nesses casos, os idosos têm tendência a isolar-se completamente, a tornarem-se exigentes, coléricos,
etc. … As suas frustrações encontram muitas vezes eco na atitude de quem as trata e que, em reação, não
deseja senão uma coisa, isolá-los cada vez mais. Se as pessoas de idade não tiverem outra escolha senão
morrer numa instituição, é preciso então conseguir os meios necessários para satisfazer as suas necessidades
físicas e psicológicas e ajudar os seus familiares e amigos.
Os residentes devem poder pronunciar-se sobre os procedimentos a tomar na fase final da sua vida e
após a sua morte. As particularidades culturais, religiosas e pessoais devem ser respeitadas. O envolvimento
da família e amigos pode ajudar, mas só se o próprio estiver de acordo.

Devemos zelar pela satisfação das necessidades físicas, emocionais e espirituais de quem está a morrer,
respeitando os seus desejos e proporcionando-lhe conforto e bem-estar. Há que minimizar a dor: cuidados
paliativos de qualidade contribuem para a qualidade de vida do residente nos seus últimos momentos.

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Após a morte, a estrutura residencial pode apoiar a família e/ou amigos do falecido, e esta assim o
desejar, nos procedimentos a tomar e informá-los sobre possíveis fontes de apoio, serviços fúnebres e outros
aspetos que venham a surgir.

Além do círculo íntimo, a morte de um membro da estrutura residencial tem impacto sobre toda a
comunidade. Cada pessoa tem a sua maneira de fazer o luto, e todos devem ter oportunidade de escolher
como fazê-lo, sendo ou não ajudados nesse processo. Os residentes devem ter espaço e tempo para meditar
e refletir e, caso desejem, contactar com conselheiros religiosos ou espirituais.
Os colaboradores da estrutura residencial devem estar preparados e dispostos a falar sobre a morte e o
final da vida e sobre os residentes que tenham falecido recentemente.
Por vezes, também os colaboradores precisam de ajuda - sobretudo se são mais novos e inexperientes.
É um desafio difícil e que requer esforços e energia nem sempre fáceis de reunir. Cada indivíduo tem, como
já dissemos, a sua forma de viver a perda de alguém querido. Daí que não haja procedimentos universais.

Podemos concluir que as estruturas residenciais devem ter políticas claras e procedimentos
estabelecidos para assegurar que os últimos dias de um residente são passados com conforto e de forma
digna, respeitando-se os seus desejos integralmente.

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4. PROCESSO DE LUTO

4.1. Diferentes tipos de luto

Ao longo da existência do ser humano existem, invariavelmente, perdas com que o homem se vai
deparando nas várias fases do seu ciclo vital. A perda implica a privação de alguém, de algo tangível ou
intangível e que impulsiona reações afetivas, cognitivas e comportamentais.
A perda torna-se, desta forma, um fenómeno universalmente conhecido e vivido por todos os seres
humanos. Contudo, a perda que mais sofrimento poderá trazer ao ser humano e a mais intensamente
dolorosa é a morte de uma pessoa amada, em que apenas a volta da pessoa perdida poderá trazer o
verdadeiro conforto.

Inerente a uma perda, encontra-se o luto, como sendo a reação característica a uma perda significativa.
O termo luto é, pois, usado para indicar uma variedade de processos psicológicos, provocados pela perda de
uma pessoa amada, qualquer que sejam os seus resultados.
Neste sentido, quaisquer que sejam as características da perda e morte, estas requerem um processo
de luto que reconheça a desistência e transforme a experiência para que se possa internalizar o que é
essencial e seguir em frente.

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O luto poderá significar uma perda de uma relação, uma perda do contacto com o outro, que rompe o
contacto consigo mesmo. O luto é um processo com determinadas fases, que podem ou não ser vivenciados
pela ordem sequencial que é apresentada pelos autores, e que implica manifestações e reações específicas
em cada uma delas.
A exacerbação dos processos presentes no luto normal, com uma duração muito longa e com
características de obsessão, configura o luto patológico, ou seja, o que determina a complicação do luto é a
intensidade, frequência e duração dos sintomas.

O luto saudável caracteriza-se pela aceitação da modificação do mundo externo e a consequente


modificação do mundo interno. No caso do luto patológico, o enlutado toma a sua angústia como caráter
irreversível. Num processo de luto normal, apesar de muito doloroso e perturbador, a maioria dos enlutados
ultrapassam os sentimentos de descrença, dor, desespero e, progressivamente, vêm a aceitar a perda como
uma realidade.
Todavia, após a perda de um ente significativo, uma significativa parte dos enlutados desenvolve
sintomas debilitantes e uma persistente incapacidade funcional. Essas pessoas apresentam experiências de
dificuldade de ajustamento, essencialmente por se encontrarem fixados num estado de luto crónico.

Como indicadores de um luto não complicado, encontram-se a capacidade que o enlutado tem de sentir
que a vida ainda tem um significado, um sentido de identidade, confiança nos outros e uma capacidade de
reinvestimento em relacionamentos interpessoais e em atividades.
A pessoa enlutada pode, inicialmente, manifestar alguns dos sintomas inerentes ao luto complicado.
Contudo, após mais ou menos seis meses da morte do familiar, observa-se geralmente uma melhoria na
capacidade que tem de se concentrar noutros aspetos e seguir para além da perda.
Aqueles que têm níveis elevados de um conjunto específico de sintomas por mais de seis meses após a
perda são motivo de preocupação.
As pessoas que evidenciam um luto complicado tendem a rever, repetidas vezes, as situações que
levaram à morte do seu ente querido e a preocuparem-se com a sua tristeza e arrependimentos relacionados
com a pessoa que partiu.

Os seus pensamentos relativos a tal, as suas incapacidades de se concentrarem noutros aspetos da sua
vida e o seu sentimento de desconexão relativo a outras pessoas de quem eram próximas antes da morte
levam a um isolamento profundo.

Para o diagnóstico de luto complicado são necessários os seguintes critérios:


• Saudade crónica e persistente, ansiando e desejando pelo falecido (situação que não pode ser
satisfeita por outros);
• A pessoa deve apresentar quatro dos seguintes aspetos, várias vezes por dia ou de uma forma
intensa: dificuldade na aceitação da morte; incapacidade de confiar nos outros; amargura ou raiva excessiva
relacionadas com a morte; dificuldade em seguir em frente; dormência/desapego; sentimento de vida vazia
e sem sentido sem o ente querido; futuro sombrio; agitação;
• Os sintomas devem prolongar-se por, pelo menos, seis meses;

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• Perturbação que causa significativo prejuízo clínico no funcionamento social, ocupacional ou em
outras áreas importantes do funcionamento.

Dentro do luto complicado, podemos encontrar diversos subtipos de luto, que se podem agrupar em:
luto traumático (perda inesperada); luto inibido (retardado, adiado, congelado); luto crónico (dependente);
luto exagerado; luto indizível (privado de direito, afastado).
O luto crónico é descrito como uma resposta emocional intensa, prolongada e invulgar, em que a tristeza
está ausente, mas a raiva e a autorrecriminação dominam e persistem.

Este processo é transitório, podendo ser conceptualizado de acordo com quatro fases:

1.Fase de Entorpecimento

• Consiste num período em que a pessoa se poderá sentir como se estivesse desligada da realidade,
atordoada, desamparada, imobilizada ou perdida.
• Nesta fase assiste-se a uma negação da perda que poderá surgir como uma forma de defesa contra
um evento de difícil aceitação.

2.Fase de Anseio e Protesto

• Caracterizada por um período de emoções fortes, sofrimento psicológico e agitação física.


• Frequentemente assiste-se à manifestação de sentimentos de raiva dirigidos tanto a si próprio como
a pessoas significativas;

3.Fase de Desespero

• Constitui uma fase igualmente complexa que surge frequentemente associada a momentos de apatia
e depressão, sendo que o processo de supressão destas reações é muito lento.
• Por vezes verifica-se um afastamento das pessoas e atividades, falta de interesse, assim como
dificuldades de concentração na execução de tarefas rotineiras.
• Os sintomas somáticos, tais como, insónias, perda de peso e de apetite, são recorrentes.

4.Fase da Recuperação e Restituição

• Nesta fase deverá emergir uma nova identidade, que permite ao indivíduo abandonar a ideia de
recuperar aquilo que perdeu e adaptar-se ao significado que essa perda tem na sua vida.
• Verifica-se, então, o retorno da independência e da iniciativa.
• Apesar de a instabilidade ainda se encontrar presente nos relacionamentos sociais, nesta fase poderá
haver investimentos em novas amizades e o reatar de laços antigos.

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Existem situações em que o processo de luto não segue a evolução acima descrita, podendo ocorrer
fixação numa das etapas e, consequentemente, a não resolução do luto.
Nestas circunstâncias, o luto permanece não resolvido ao longo do tempo, durante vários anos, por
vezes, para o resto da vida da pessoa, interferindo no estado emocional da pessoa e condicionando
significativamente a sua vida.

Outros sinais que nos podem indicar que estarmos perante uma situação de luto patológico, podem ser
as reações emocionais e comportamentais desajustadas ou o adoecer psíquico e/ou físico. Quando se
verificam algumas das situações atrás descritas, em que o processo de luto se desenvolve de um modo
disfuncional e mal adaptado, deve recorrer-se a ajuda especializada.
Nestes casos, torna-se necessária a implementação de uma intervenção específica, que pode incluir a
utilização de psicofármacos e a psicoterapia.

4.2. Sentimentos no processo de luto

A morte de alguém significativo, traz sofrimento aos que o perdem nas suas vidas, reconhecendo-se nos
enlutados manifestações emocionais, físicas, psicológicas, comportamentais e sociais diferentes de cultura
para cultura, de época para época e diferentes em cada sociedade, família ou individuo.

Num grande número de pessoas que vivenciam um luto agudo, existem alguns (senão todos) fenómenos
passíveis de serem observados:

Reações emocionais

• Choro,
• Suspiros,
• Tristeza,
• Depressão,
• Desespero,
• Desânimo,
• Ansiedade,
• Medo;
• Culpa;
• Alívio,
• Ira;
• Zanga,
• Solidão;
• Saudade;
• Anseio;
• Amargura;

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• Choque,
• Entorpecimento,
• Descontrolo emocional,
• Desesperança.

Reações psicológicas/cognitivas

• Preocupação com pensamentos do falecido;


• Recordação;
• Sensação de presença do falecido;
• Repressão,
• Negação;
• Diminuição de autoestima;
• Autocensura;
• Sensação de irrealidade;
• Problemas de memória, atenção e concentração;
• Despersonalização;
• Alucinações;
• Confusão;
• Sonhos com o falecido.

Reações comportamentais/ sociais

• Procura do falecido, visitas ao cemitério e procura/ evitação de espaços onde o falecido estivesse;
• Conservação de pertences do falecido;
• Ritualizações;
• Afastamento social;
• Hostilidade;
• Irritabilidade;
• Negligência pessoal;
• Hiper vigilância;
• Hiperativididade;
• Procura de solidão;
• Apatia;
• Consumos de substâncias.

Reações físicas/somáticas

• Perda de apetite;
• Distúrbios do sono;

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• Perda de energia;
• Agitação;
• Inquietação;
• Exaustão;
• Queixas somáticas/ físicas (algumas semelhantes às do falecido);
• Opressão gástrica, respiratória e cardíaca;
• Mudanças imunológicas e endócrinas;
• Suscetibilidade a adoecer;
• Fragilidade.

Reações espirituais

• Consciência da própria mortalidade,


• Busca ou perda de sentido de vida e de valores pessoais,
• Sentimento de castigo de Deus,
• Refúgio ou afastamento da fé,
• Crenças, espiritualidade ou religião,
• Necessidade de rituais.

Desta forma, entende-se que existe uma grande variedade de comportamentos e experiências
associadas à perda.
Existem determinados fatores que podem ser mediadores num processo de luto; queremos com isto
dizer que estes fatores podem determinar a forma como as pessoas experienciam o luto. A experiência da
perda adverte a existência de fatores que podem ser denominados de risco e de proteção para um processo
de luto.

Um fator de risco é um aspeto do estilo de vida do indivíduo, do comportamento, da situação ambiental


ou de características hereditárias, que decorrentes da evidência epistemológica, estão associadas a
condições relativas da saúde e que se considera importante prevenir.

Assim, os fatores de risco no processo de luto aumentam o perigo de não superar o luto, incidindo no
impacto da saúde mental e física e da velocidade de recuperação.

Os fatores de risco gerais, num processo de luto, são fatores da personalidade e do contexto social, e
subdividem-se em fatores que modulam os efeitos do luto e fatores específicos no luto.

Os fatores de risco para o luto podem ser:

1.Em relação ao vínculo:

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• Intensidade do vínculo
• Ambivalência e dependência afetiva

2.Indicadores afetivos

• Raiva
• Culpa
• Incapacidade de expressar emoções

3.Indicadores de vulnerabilidade psíquica

• Antecedentes psicopatológicos
• Lutos anteriores recentes ou ainda não resolvidos

4.Indicadores contextuais relativos ao processo da doença do familiar perdido

• Demora do diagnóstico
• Progressão rápida da doença
• Conhecimento do prognóstico pelo familiar
• Duração dos cuidados
• Sintomas sem controlo durante todo o processo
• Sintomas sem controlo nos últimos dias de vida

5.Indicadores contextuais familiares

• Problemas económicos
• Presença de crianças
• Falta de apoio familiar.

Os fatores protetores emergem para contribuição num luto ajustado, destacando-se:

1.Fatores relativos às cognições dos indivíduos

• Crenças religiosas
• Capacidade de encontrar sentido
• Confiança na própria recuperação

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• Sentimentos de utilidade no cuidar
• Eficácia na prestação dos cuidados

2-Fatores relativos à manutenção das situações

• Capacidade de planificação de atividades perante as dificuldades que enfrenta


• Capacidade de planear diferentes alternativas para uma situação problema
• Capacidade de comunicação
• Capacidade de autocuidado
• Capacidade de sentir emoções positivas
• Planificação de atividades agradáveis.

4.3. Pensamentos habituais no processo de luto

De uma forma sintética, emergem os seguintes determinantes do luto:


1. Quem era a pessoa falecida, a relação e o grau de vinculação existente;
2. A idade e o sexo da pessoa enlutada, sendo as mulheres e as pessoas mais imaturas mais propensas
ao luto complicado;
3. A forma e o tipo de morte que diz respeito às causas e às circunstâncias da perda, sendo as repentinas
e precoces a oferecer maior dificuldade de enfrentamento;
4. A vulnerabilidade pessoal, tal como a história prévia de doença mental, a elevada dependência ou
relações inseguras;
5. A perceção do apoio humano de que o enlutado dispõe; dentro deste determinante são muito
importantes as variáveis sociais que influenciam o grau de apoio emocional e social;
6. O nível de aceitação social à expressão das manifestações de luto;
7. Perdas anteriores e a forma como estas foram resolvidas;
8. Acontecimentos de vida stressantes concorrentes, tais como as mudanças e as crises que podem
ocorrer após a morte.

Quando se estudam atitudes perante a morte, o medo é o estado psicológico inerente mais citado. O
medo da morte ou a ansiedade perante a morte salienta-se nas abordagens da morte, embora sejam
temáticas diferentes.
A ansiedade é uma experiência emocional desagradável, com causas pouco evidentes e que é
usualmente acompanhada por alterações fisiológicas e comportamentais muito similares às causadas pelo
medo.
A morte revela-se a maior ansiedade do ser humano. A ansiedade perante a morte equivale a
sentimentos como a angústia de castração, a desintegração do ego, que simbolicamente se aproxima da
conceptualização da morte.

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O morrer é universal e atinge todos, estando a idealização de morte acompanhada do medo de morrer
pela interrupção, pela solidão inerente, pela separação dos entes queridos, pelo desconhecido, medo pelo
julgamento dos atos em vida e pelo que poderá acontecer aos que ficam, todos os motivos referidos para ter
medo têm influência nas atitudes perante a morte.

A ansiedade pode ser vista como resposta antecipatória da qual derivam sintomas somáticos, cognitivos
e comportamentais.

Podemos distinguir 4 dimensões do medo da ansiedade perante a morte:


(1) Inquietação com o impacto cognitivo e emocional do morrer e da morte;
(2) Antecipação e medo das alterações físicas que o morrer e a morte comportam;
(3) Perceção do tempo;
(4) Preocupação com o stress e a dor, que acompanham a incapacidade, a doença e a morte.

O envelhecer acarreta a consciência de já se ter vivido muito e é nesta altura que se perceciona que o
risco de morrer aumenta, começando-se a pensar na própria morte; nesse momento pode surgir o medo da
morte.
Diversos estudos revelam existir um aumento da ansiedade perante a morte em pessoas mais velhas,
quando estas apresentam um quadro de problemas de saúde, historial psicológico problemático, crenças
religiosas mínimas, ou residem em lares (institucionalizadas) em comparação aos que residem nas suas
próprias casas.

Comparando idosos da mesma faixa etária, estes apresentam diferenças no tipo específico de medo
perante a morte, devendo-se talvez a perdas recentes que vivenciaram, bem como as atitudes, que variam
significativamente de acordo com a cultura da qual são provenientes.

No desenvolvimento do indivíduo, o medo da morte ocupa um lugar próprio. A ansiedade perante a


morte serve como suporte para encontrar os laços com a história social e cultural.

Considerando os valores e a forma de vivenciar a vida e a morte, verifica-se que os indivíduos reagem
de diferentes formas perante a morte e o medo de morrer, uma vez que a cultura é um elemento de extrema
importância em que se destaca a perceção do indivíduo acerca do ambiente que o rodeia.

Cognições ou pensamentos habituais após a perda

• Descrença (não acreditar na morte assim que se ouve a notícia);


• Confusão (pensamento confuso, não conseguindo ordenar os pensamentos; dificuldade de
concentração ou esquecimento de coisas);
• Preocupação (obsessão com pensamentos acerca do falecido);
• Sensação de presença (contraparte cognitiva do sentimento de anseio);

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• Alucinações (visuais e auditivas; são uma experiência frequente nos enlutados; são normalmente
experiências ilusórias passageiras, que ocorrem habitualmente após poucas semanas da perda e
normalmente não provocam uma experiência de sofrimento mais complicada ou difícil).

4.4. Tarefas para ultrapassar o processo de luto

Após a perda de alguém que nos é querido, existe uma série de tarefas de luto que têm de ser
concretizadas para que se restabeleça o equilíbrio e para o processo de luto ficar completo.

Desta forma, a adaptação à perda envolve 4 tarefas básicas:


1. Aceitar a realidade da perda;
2. Trabalhar a dor advinda da perda;
3. Ajustar a um ambiente em que o falecido está ausente;
4. Transferir emocionalmente o falecido e prosseguir com a vida.

É essencial que o enlutado efetue estas tarefas antes do processo de luto poder ser terminado. Uma vez
que o luto é um processo e não um estado, estas tarefas requerem esforço e, tal como uma doença pode
não ficar totalmente curada, também o luto pode ficar incompleto em algumas pessoas.

1. Aceitar a realidade da perda

Quando alguém morre, mesmo sendo uma morte previsível, há sempre um sentimento de que tal não
aconteceu. Desta forma, a primeira tarefa do sofrimento é apercebermo-nos da realidade de que a pessoa
morreu e que não irá voltar.

O permanecer nesta tarefa pode dever-se a não acreditar na perda através de um determinado tipo de
negação:
- Factos da perda;
- Significado da perda;
- Irreversibilidade da perda.

Negar os factos da perda pode variar em grau, desde uma ligeira distorção até um delírio em larga escala.
Um exemplo bizarro de negação através de delírio é os casos raros em que o enlutado mantém o corpo
do falecido em casa durante um número de dias, antes de notificar alguém acerca da morte.
Estas pessoas sofrem, na grande maioria, de psicoticismo, excentricidade ou isolamento.
O que acontece mais frequentemente é a pessoa passar por uma "mumificação" isto é, reter os bens
materiais do falecido e mantê-los tal como estavam para quando o falecido "regressar".

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Outra forma das pessoas se protegerem da realidade é negarem o significado da perda, permitindo
que a perda aparente ser menos significativa do que na realidade foi.
Algumas pessoas impedem a finalização desta tarefa negando que a morte é irreversível.
Uma estratégia utilizada para negar a finalidade da morte é o espiritualismo. A esperança de reunião
com a pessoa morta é o sentimento normal, principalmente nos primeiros dias e semanas após a perda.
Contudo, a esperança crónica por tal reunião ultrapassa os parâmetros da normalidade.

Chegar a uma aceitação da perda leva tempo, pois envolve não só uma aceitação intelectual, mas
também emocional, esta última sendo mais morosa. A crença e descrença alternam enquanto se permanece
nesta tarefa.
Apesar de levar inevitavelmente tempo, os rituais tradicionais, como o funeral, ajudam muitos
enlutados a avançarem na aceitação da perda.

2. Trabalhar a dor da perda

Muitas pessoas experimentam dor física, bem como dor emocional e comportamental associadas à
perda.
Uma vez que a pessoa em luto tem que passar pela dor causada pela perda, de modo a fazer o trabalho
do sofrimento, então tudo o que permitir ao enlutado evitar ou suprimir essa dor irá muito provavelmente
prolongar o processo de luto.
A negação desta segunda tarefa, corresponde à ausência do sentimento. As pessoas podem evitaresta
tarefa de várias maneiras, sendo a mais comum cortar com os sentimentos e negar a dor que está presente.
Outras formas possíveis são procedimentos para parar o pensamento, idealizar o falecido, evitar coisas
que lembrem o falecido e utilizar álcool ou estupefacientes.
Certas pessoas não compreendem a necessidade de experimentarem a dor do sofrimento e tentam a
cura geográfica, ou seja, viajam de sítio para sítio, tentando encontrar algum alívio das suas emoções, em
vez de se permitirem satisfazer a dor, senti-la e saberem que um dia ela passará.

3. Ajustar a um ambiente em que o falecido está ausente

Ajustar-se a um novo ambiente tem diferentes significados para diferentes pessoas, dependendo da
relação que se tinha com a pessoa falecida e os vários papéis que ela desempenhava.
No caso de uma viúva, a perda de um marido pode significar a perda de um parceiro sexual, um
companheiro, um contabilista, um jardineiro, etc., dependendo dos papéis que eram normalmente
desempenhados pelo seu marido.
A estratégia de coping de redefinir a perda de tal forma que pode recair para o benefício do sobrevivente
é normalmente parte do completamento bem-sucedido desta tarefa.

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Para as pessoas que definem a sua identidade através das relações que têm com os outros, o processo
de luto significa não só a perda de um ente querido, mas também um sentimento de perda do self.
Outra área de ajustamento diz respeito ao sentido que a pessoa tem do mundo, pois a perda pode pôr
em causa várias crenças e desafiar valores fundamentais.

Verifica-se, assim, a existência de 3 áreas de ajustamento que se tem que fazer depois de perder alguém
que nos é próximo:
• Ajustamentos externos (funcionamento diário no mundo);
• Ajustamentos internos (sentido do self);
• Ajustamento de crenças (valores, crenças, considerações sobre o mundo).

Ficar preso nesta tarefa significa que não há uma adaptação à perda. As pessoas trabalham contra elas
mesmas, através da promoção do seu próprio desamparo. Para além disso, não desenvolvem as
competências que precisam para lidar com a perda ou isolam-se do mundo e não enfrentam as exigências
que as rodeiam.

4. Transferir emocionalmente o falecido e prosseguir com a vida

Uma pessoa nunca perde as memórias de uma relação significativa. O processo de luto termina quando
o enlutado deixar de ter uma necessidade de reativar a representação do falecido com uma intensidade
exagerada no quotidiano.
No caso da morte de um parceiro, a disposição para entrar em novas relações está diretamente
dependente de encontrar o espaço adequado para o cônjuge na vida psicológica do enlutado, um espaço
que seja importante, mas que deixe espaço para outros.
Uma maneira de não completar esta tarefa é não amar. A pessoa agarra-se ao vínculo que tem com o
passado, em vez de seguir em frente e formar novas vinculações. Algumas pessoas sentem a perda de uma
forma tão dolorosa que fazem um pacto com elas mesmas de nunca mais amarem.
Para muitas pessoas, esta é a tarefa mais difícil de alcançar, ficando-se por vezes preso nela e só
tomando consciência disso muito tempo depois, verificando que as suas vidas estagnaram após a perda.

A sobre-idealização da pessoa falecida, um sentimento de deslealdade ou o medo catastrófico de uma


nova perda podem bloquear a formação de novas vinculações e compromissos.
Não obstante, esta tarefa pode ser alcançada e a pessoa percebe que pode voltar a amar sem deixar de
amar a pessoa que perdeu.
Um sinal de uma reação de sofrimento finalizada ocorre quando a pessoa consegue pensar no falecido
sem dor e consegue reinvestir as suas emoções na vida e nos vivos.

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5. O TÉCNICO DE GERIATRIA E A MORTE

5.1. Papel do técnico de geriatria no processo de luto e no acompanhamento de um idoso em


fase terminal

O cuidar geriátrico tem que representar mais do que o encontro ocasional entre o doente idoso que
sofre e o profissional. É um processo inter-subjetivo, assente em relações interpessoais, com grande
reciprocidade entre o cuidador e os idosos cuidados.
Devem basear-se numa relação de ajuda com uma componente humana e pessoal verdadeiramente
ampla e treinada no sentido de responder às reais necessidades dos doentes idosos.
Neste sentido, se os cuidados forem prestados de forma coerente, assumem particular importância, pois
deverão integrar a ajuda ao doente e à família para que atinjam as suas metas.
Colocar a pessoa no centro dos cuidados é considerar os seus sofrimentos, as suas angústias, as suas
reações e não somente a sua doença, pois o doente é muito mais que o seu corpo.

Só é possível compreender a verdadeira dimensão do sofrimento humano, quando os profissionais


procuram cuidar em espaços de intimidade e promover a pessoa doente, à altura da dignidade humana.
Particularmente, os técnicos que lidam com doentes terminais necessitam de ter a capacidade de identificar,
avaliar e, quando possível, minorar os sintomas físicos da doença mas também a incapacidade crescente, as
alterações nos papéis sociais e o isolamento social associados com a doença e o processo de morte.

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Simultaneamente, devem saber distinguir quando o isolamento social ou as alterações nos papéis sociais
são sinais de uma depressão clínica e quando a dor e sintomas da doença têm um forte componente
psicológico, requerendo uma abordagem psiquiátrica ou psicológica.
A intervenção deve ser feita a um ritmo adequado às necessidades do doente e da família, em vez de
acontecer ao ritmo das expectativas e agenda do prestador de cuidados acerca do que “deve ser feito”.
Ao providenciarem cuidados a doentes com uma esperança de vida previsivelmente curta, os
profissionais de saúde confrontam‑se inevitavelmente com a ideia da sua própria morte. Este confronto
resulta por vezes na identificação (muitas vezes de uma forma simples, “Se fosse eu…”), podendo funcionar
positivamente como um reforço empático e útil na tomada de decisões mais próximas às necessidades e
vontade do doente.
Corre, no entanto, o risco de se extremar de forma prejudicial, levando o profissional a experienciar
intensa e excessivamente as vivências do doente. Pode haver, também, a identificação do doente com
determinada pessoa próxima ou familiar do profissional, com o risco de excessivo envolvimento, prejudicial
ao profissional e, provavelmente, ao próprio doente.

Deste modo, sendo a morte inevitável e frequente nos serviços de saúde, nem todos os profissionais a
compreendem, a acolhem e reagem a ela da mesma maneira. Confrontados com a doença grave e com a
morte, os profissionais tentam proteger-se da angústia que estas situações geram, adotando estratégias de
adaptação, conscientes ou inconscientes designadas mecanismos de defesa.
Uma vez que os profissionais de saúde se confrontam com a morte nos seus contextos de trabalho,
necessitam adquirir conhecimentos e desenvolver capacidades e competências de forma a encarar e gerir a
morte do outro que nos é semelhante.
Ajudar o doente e a família num momento em que experimentam grande sofrimento constituiu um dos
maiores desafios que a prática quotidiana coloca aos profissionais de saúde. É preciso entender que a morte
nem sempre é significado de fracasso ou insucesso e sim algo que faz parte de um ciclo natural da vida.

É importante que os profissionais tenham consciência das suas próprias reações emocionais e atitudes
na relação com os doentes terminais, contribuindo para que adquiram uma maior capacidade para lidar com
as dificuldades psicológicas/emocionais desencadeadas na prestação de cuidados a estes doentes.

Não é fácil falar e interagir com alguém que está a morrer. A principal barreira é a dificuldade que temos
em colocar-nos no seu lugar e saber o que sentem e pensam. As pessoas que estão a morrer – ou que estão
de luto pela morte de alguém querido - atravessam vários estádios, à medida que se adaptam à situação.
Entender os sentimentos das pessoas neste período traumático ajuda-nos a entender como podemos apoiá-
las.

Neste âmbito, o Técnico de Geriatria deve:


• Dar ao idoso esperanças e não falsas esperanças;
• Encoraja-lo a manter um certo controlo;
• Ajudar a exprimir as suas emoções de desgosto;
• Ajudá-lo a encontrar um sentido para a sua vida e para a sua morte;

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• Mostrar-se disponível e permitir ao idoso falar daquilo que vive;
• Estabelecer uma comunicação verdadeira e de ajuda;
• Estabelecer uma relação de empatia;
• Ajudar o idoso a conservar a autoestima;
• Dar provas de honestidade;
• Ajudar o idoso a manter as suas forças e a energia;
• Ficar junto do idoso, estar presente;
• Ajudar o idoso a manter o contacto com a realidade e a manter-se consciente o máximo de tempo
possível;
• Ajudar o idoso a satisfazer as suas necessidades sociais e reforçar os laços familiares.

5.2. Meios para reforçar o sentido de vida nos idosos

5.2.1. Reminiscência

A reminiscência, enquanto processo normativo inerente a todos os seres humanos, consiste na


recordação de uma experiência ou facto, à qual o sujeito associa de modo habitual dor ou prazer. Ainda que
não seja exclusiva de uma etapa específica de vida, torna-se progressivamente mais presente consoante o
sujeito envelhece.
Recordar situações vividas, de modo individual ou interacional, permite analisar o passado, a
compreensão das mudanças, a adaptação a transições, a aquisição de conhecimentos, a comunicação com
os outros e a promoção da auto-imagem.
A terapia da reminiscência (TR) assenta no revisitar o passado, tendo Erickson sido o pioneiro, de acordo
com a sua conceptualização da teoria do desenvolvimento do ego. No desenvolvimento adulto,
nomeadamente jovem adulto, o conflito intimidade vs isolamento está presente na medida em que a sua
intimidade é satisfatória quando o individuo assume e vive uma relação, caso contrário surge o conflito
isolamento.
No envelhecimento ocorre a dualidade integridade vs desespero. Quando o sujeito recorda a sua vida e
considera positivo o que vivenciou, proporcionando um sentimento de integridade e satisfação, tende para
a integridade. Por outro lado, se essa recordação oferecer uma perspetiva negativa, o sujeito vive
sentimentos de fracasso e de desespero, pois sabe que não pode recomeçar a sua vida de novo.

Esta terapia foca-se na evocação de vivências e experiências passadas - “ato de pensar sobre si e o seu
passado” como um processo normativo - a partir da sua memória autobiográfica (MA). Este processo de
recordação, de forma estruturada e guiada, é aplicado com o intuito de auxiliar o sujeito a gerir situações do
seu quotidiano, e a facilitar a sua adaptação à situação presente.

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A resolução de conflitos passados e a atenção dada ao percurso de vida do sujeito, permite
compreender este percurso na sua totalidade, levando ainda a que o sujeito alcance um conforto psicológico
e um autoconhecimento desde a sua infância ao momento atual.

Na depressão, o foco da reminiscência deve de ser em memórias significativas e positivas em prol das
negativas, aumentando a atenção para estímulos positivos e maior probabilidade de esquecimento de afeto
passado negativo, gerando estratégias de coping adaptativas e uma perspetiva mais positiva da vida.

No processo de luto, o enlutado deve partilhar momentos da sua vida com o falecido, valorizando e
idealizando o seu passado.
As estratégias de intervenção são de escolha do profissional, havendo imensas possibilidades desde
fotografias, a filmes, a imagens, a sons, entre outros mais, desde que sejam significativos para o sujeito.

O papel do profissional passa por escutar ativamente, respeitando silêncios e emoções.

5.2.2. Compromisso

Podemos identificar seis dimensões interligadas que firmam o compromisso do cuidar em cuidados
paliativos:
1. Valorizar
2. Ligar
3. Fortalecer
4. Fazer por
5. Encontrar significado
6. Preservar a integridade.

Valorizar é a dimensão que contextualiza a prestação de cuidados. Representa a componente global


que respeita o valor de todos os seres humanos, assim como, as particularidades individuais com base no
reconhecimento das suas características e aptidões. Valorizar é primeiramente uma atitude ao invés de uma
ação.

Ligar envolve a criação de uma conexão com o doente e família, mantendo-a e quebrando-a quando
necessário. Deve existir algum grau de ligação antes do fortalecimento, devendo manter-se ao longo de todo
o processo. Para criar uma ligação o profissional deve construir uma relação baseada na confiança permitindo
ao doente e família o tempo necessário para que esta se estabeleça.
Deve distinguir funções, explicar os papéis de todos os elementos da equipa, encontrar um elo de ligação
e estabelecer claramente um elemento de referência. Para manter a ligação é essencial que o profissional
possa despender tempo e estar disponível para a família, com condições ideais de privacidade e
confidencialidade. A ligação deve manter-se mesmo após a morte do doente, mas, com o tempo, deverá
quebrar-se.

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A dimensão fortalecer envolve ajudar o doente e família a descobrir e conhecer as suas próprias
fraquezas. Os componentes do fortalecimento são: a avaliação da família, a avaliação e apoio aos métodos
de coping, assistir à tomada de decisão e apoiar as escolhas da família, apoiar a família nos dilemas éticos,
explorar receios e frustrações, assistir na reaproximação e transmitir informação de todos os aspetos dos
cuidados.

A quarta dimensão está diretamente ligada com o fortalecer. O objetivo de fazer por é libertar o doente
e a família para focarem a energia nas áreas que mais os fortalecem. A chave desta dimensão é encontrar
um balanço entre o fazer por e o fortalecimento. Este equilíbrio pode ser atingido através da colaboração
com a família na identificação de expectativas e objetivos, desenvolvendo um plano de cuidados, e através
da manutenção da crença na capacidade da família em encontrar as suas próprias soluções.
As ações levadas a cabo na dimensão fazer por, incluem o controlo da dor e outros sintomas, a
coordenação dos cuidados e advogar pelos direitos do doente e família. O profissional colabora com o
doente, família e equipa multidisciplinar para desenvolver e implementar um plano de cuidados, com
particular atenção na antecipação de sintomas.

A dimensão encontrar sentido representa a ajuda prestada ao doente e família para dar significado à
sua situação, ou seja, focar-se em viver e criar a melhor situação possível através da oferta de esperança
assim como conhecimentos e diálogos abertos acerca da morte.

A dimensão final e nuclear deste modelo de cuidados é preservar a integridade, referindo-se tanto à
integridade do doente e família como à integridade do profissional
Para o profissional, esta dimensão inclui a capacidade para manter a autoestima e motivação para
continuar a prestar cuidados de elevada qualidade. A sua integridade é preservada através da aprendizagem
para dar e receber, pela capacidade de distanciar questões pessoais, mantendo-se saudável e cuidar de si
antes de cuidar do doente e família.

Preservar a integridade do doente e família é considerado o objetivo do compromisso de cuidados e só


é cumprido quando se disponibiliza apoio em todas as dimensões supra referidas.

5.2.3. Otimismo

Perante necessidades variadas das pessoas enlutadas, para além de um cuidar individualizado e
adequado, a intervenção profissional deverá basear-se em três níveis:

1.Apoio: Para as pessoas enlutadas que se encontram a vivenciar um luto normal, é suficiente o apoio
de familiares e amigos, remetendo-se o papel do profissional de saúde para a disponibilização de informação
sobre o luto e recursos disponíveis.

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2.Aconselhamento: Uma parte dos enlutados (em risco) beneficia de uma oportunidade mais formal
para refletiram sobre a sua perda (que poderá ser proporcionada em grupos de autoajuda, orientadores
espirituais ou profissionais de saúde) e para uma avaliação de factores de risco, e deteção precoce de
problemas associados ao luto (caso necessário deverá proceder-se a uma referenciação para profissionais
mais especializados).

3.Terapêutica: Uma pequena parte dos enlutados (luto complicado/patológico), necessitam de uma
intervenção especializada por uma equipa multidisciplinar de saúde mental ou psicoterapeutas com
formação em trabalho de luto.

Os serviços de prestação de cuidados deverão estar preparados para oferecer o primeiro tipo de
intervenção no luto e ter estratégias delineadas para o acesso aos outros tipos de intervenção.
Podemos fazer a distinção entre aconselhamento do luto e terapia do luto. O aconselhamento permite
ajudar as pessoas a facilitar o luto não complicado ou normal, no sentido de uma conclusão saudável das
tarefas de luto num razoável período de tempo. A terapia no luto permite a utilização de técnicas
especializadas que são utilizadas para ajudar as pessoas com reações de luto anormais ou complicadas.

O aconselhamento no luto implica a realização dos seguintes objetivos específicos:


• Aumentar a realidade da perda;
• Ajudar a pessoa a lidar com afetos expressos e latentes;
• Ajudar a pessoa a superar vários obstáculos para se reajustar depois da morte;
• Encorajar a pessoa a dizer um adeus adequado e a sentir-se confortável ao reinvestir novamente na
sua vida.

A este tipo de intervenção no luto, encontram-se inerentes alguns princípios e procedimentos:


• Ajudar a pessoa enlutada a consciencializar-se da perda;
• Ajudar a pessoa enlutada a identificar e expressar os seus sentimentos;
• Ajudar a viver sem a pessoa falecida;
• Facilitar o reposicionamento emocional da pessoa que faleceu;
• Fornecer tempo para o luto;
• Interpretar o comportamento “normal”;
• Fazer concessões às diferenças individuais;
• Oferecer apoio continuado;
• Examinar defesas e estilos de lidar com o problema;
• Identificar a patologia e encaminhar.

O apoio no luto deverá ter em conta um imperativo dual: atender às necessidades dos cuidadores em
luto e membros da família mantendo um nível adequado de custo-eficácia.
De realçar que, o apoio no luto deve ser adequado à fase em que o enlutado se encontra, sendo que as
ações a realizar carecem obrigatoriamente de diferenças perante a fase do luto.

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Os profissionais das equipas de cuidados paliativos beneficiam, desta forma, de treino para
reconhecimento das necessidades dos enlutados e competências para referenciarem apropriadamente para
serviços de intervenção especializada.

Torna-se fundamental a realização de parcerias entre as equipas de cuidados paliativos e os cuidados


de saúde primários, bem como o desenvolvimento e a construção de laços fortes com os grupos e serviços
da comunidade que já existam, permitindo assim uma sustentabilidade e rentabilidade das iniciativas.

5.2.4. Religião

As religiões estruturam-se segundo grandes ideias e dimensões caracterizadas por atitudes rituais onde
se inserem os conceitos de religiosidade – adesão, crenças e práticas relativas a uma instituição religiosa
organizada – e espiritualidade – estilo de vida, disposições morais, carácter e visão do mundo do indivíduo.
É fulcral considerar a interligação destes com as diferentes culturas e religiões em determinadas
situações: o ser humano atribui a Deus ou às Divindades o aparecimento ou resolução dos problemas
pessoais e de saúde, recorrendo a Ele como um recurso cognitivo, emocional e comportamental no
enfrentamento.

O coping religioso é, assim, denominado de “estratégias cognitivas e comportamentais advindas da


religião ou da espiritualidade do indivíduo, para lidar com situações stressantes”.

A velhice, sendo a última etapa da vida, está mais próxima da morte, proporcionando ao indivíduo maior
proximidade com a sua espiritualidade. Nesta fase da vida as pessoas tornam-se mais introspetivas e existe
uma constante reavaliação, na busca de um melhor entendimento dos processos de vida e de morte.
A espiritualidade, ao contribuir na procura do sentido da vida dá força para viver e coragem para poder
morrer, se necessário, por tudo o que dá sentido à vida. Na realidade, prolongar a vida sem proporcionar um
sentido para a existência não é a melhor resposta para o desafio do envelhecimento.

Vários estudos revelam a espiritualidade como um forte indicador de resiliência e superação das
adversidades. Assim, comporta uma série de valores e atitudes humanas e cristãs importantes para se viver,
especialmente nesta última etapa, com maior bem-estar.

Neste sentido, a espiritualidade atua como mediador entre o stress e a saúde emocional e física dos
idosos.

Ao falar-se de envelhecimento, a espiritualidade é um fator que ganha um destaque na promoção de


um envelhecimento bem-sucedido, nas seguintes áreas:
• Alívio da ansiedade do idoso;
• Força integradora;
• Potencial a ser maximizado com o passar dos anos;
• Preparação diante da própria finitude;

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• Transcendência;
• Espiritualidade integradora da personalidade;
• Significado para a vida e para a morte.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

AA VV., Manual de boas práticas – um guia para o acolhimento residencial de pessoas mais velhas,
Instituto da Segurança Social, 2005

AA VV., Regulamento de competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem em


pessoa em situação crónica e paliativa, Ed. Ordem dos enfermeiros, 2011

Bidarra, A., Intervenção do enfermeiro de saúde mental na pessoa em risco de luto complicado,
Dissertação de mestrado, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, 2012

Gomes, A., A Percepção da Morte pelo Idoso em Contexto Institucional de Lar Residencial, Dissertação
de mestrado, Escola Superior de Educação/ IPCB

Leal, A., A experiência de perda e o processo de luto: o papel de uma unidade de cuidados paliativos,
Dissertação de mestrado, Universidade Católica Portuguesa, 2012

Neto, I. et al. Manual de Cuidados Paliativos, 2ª Edição, Ed. Faculdade de Medicina da Universidade de
Lisboa, 2010

Ribeiro, O., Manual de Gerontologia Aspectos biocomportamentais, psicológicos e sociais do


envelhecimento, Ed. Lidel, 2012

Simões, A., “Cuidados em Fim de Vida em Lares de Idosos. Revisão Sistemática da Literatura”, in Revista
Pensar Enfermagem, Vol. 17. Nº 1, 2013

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Roca, 4ª edição, 2009

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