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Modelo IS-LM: a Interligacao entre o Lado Real e o Lado Monetario Introdugao ste mudely urigina-se dv waballiy de Hichis (1937), Mr, Keynes andl che classics, es qual o autor tenta sintetizar as contribuigdes de Keynes. Os pressupostos basicos mantém-se os mesmos do modelo keynesiano simples, com a demanda determinando 0 produto, sendo o nivel de pregos constante. No modelo IS-LM (também conhecido como Andlise Hicks-Hansen) corporamos 0 mercado de ativos e a determinacao da taxa de juros 4 andlise, ‘com esta passando a influir na determinacdo da renda através do investimento. Nesse modelo, temos a determinacao simultanea da taxa de juros e da renda que equilibram o mercado de bens e de ativos. Constitui-se, portanto, num modelo de equacdes simultaneas. i A estrutura légica do modelo pode ser visualizada pelo diagrama da Figura 5. 188 _Manual de Macroeconomis + Lopes e vasconcellos ESTRUTURA LOGICA DO MODELO Mercado Mercado de de Ativos [Taxa Bens e Servicos Ofertaedemanda | deivros Produto de moeda Demanda Agregada politica politica monetaria fiscal Figura 5.1 Estrutura do Modelo 1S-LM. De acordo com essa estrutura, 0 mercado de ativos representado pela ofer- ta e demanda de moeda determina a taxa de juros. O investimento agregado, suposta constante no modelo simples do capitulo anterior, é afetado pela taxa de juros, Assim, a taxa de juros, determinada no mercado de ativos, afeta a De- manda Agregada por meio dos investimentos, e portanto o nivel do produto da economia. A renda, por sua vez, também influi no mercado de ativos. por meio da demanda de moeda que afeta a determinacdo da taxa de juros. Percebemos que se ata de uum sisteina de decerminayau sisnultanea, womand veis exégenas no modelo a politica monetaria (oferta de moeda), a politica fiscal (impostos e gastos puiblicos) ¢ o nivel de pregos, que é considerado constante. ‘A interligacao entre o lado real e 0 lado monetério ¢ feita basicamente através da taxa de juros. Iniciaremos a discussio pelo equilfbrio no mercado de bens e servicos. In- troduzimos no modelo keynesiano simples, visto no capitulo anterior, a taxa de juros na determinagao do investimento, para deduzir-se a curva IS. Na seqiién- cia, deduziremos a curva LM, representativa do equilibrio no mercado de ativos, para a qual utilizaremos a discussdo sobre demanda de moeda ja realizada an- teriormente. Explicados os dois mercados e os respectivos equilibrios, analisaremos 0 equilibrio simultaneo em ambos e o impacto das politicas econémicas (monetaria e fiscal) sob diferentes hipéteses. Na seqiiéncia do capitulo, deduziremos a cur- va de Demanda Agregada com base nesse modelo e introduziremos duas novas consideracdes no modelo IS-LM: 0 chamado efeito Pigou ¢ o efeito Fisher. Modelo IS LM a Ineligacdo entre o Lado Real ¢ 0 Lado Monetésio 189 Curva IS: equilibrio no mercado de bens A.curva IS (do ingles Investment-Saving) mostra as condig6es de equilibrio no mercado de bens, isto é, os pontos em que a oferta agregada iguala a demanda agregada de bens e servicos. Mantemos a mesma estrutura do modelo keynesiano, apenas acrescentando a taxa de juros como varidvel para explicar investimen- to. Conforme destacado anteriormente, dada a eficiéncia marginal do capital, 0 investimento varia inversamente a taxa de juros. Ent4o, nosso modelo é expandido da seguinte maneira: Y=C(Y) +10) +6 Vimos no modelo keynesiano que alteragGes no investimento levam & amplia~ cio da renda. Naquele caso, considerava-se o investimento como exogenamente determinado. Agora, ao introduzirmos a taxa de juros, passamos a definir endo- genamente o investimento conforme oscila a taxa de juros. Assim, redugdes na taxa de juros levam a elevagées no investimento e, conseqiientemente, na renda. Isso pode ser visto na Figura 5.2. Figura 5.3. Equilibrio entre oferta agregada e demanda agregada, no mo- delo keynesiano. 190 aanus! de Macrocconomia + Lopes ¢ Vasconcllos Combinando-se os graficos das Figuras 5.2 ¢ 5.3, obtemos a curva IS, que é o locus dos pares de renda e taxa de juros que equilibram o mercado de bens. Figura 5.4 Curva IS. Para deduzir a curva IS, podemos recurzer também a igualdade entre poupan- a investimento. A poupanga como residuo do consumo é, no modelo keyne- siano, fungao da renda disponivel. Assim, redugdes nas taxas de juros que lever. A. ampliagao do investimento devem eer acompanhadas por um crescimento da renda que provoque o aumento necessério na poupanca para manter 0 equilfbrio. Isso pode ser visto recorrendo-se ao grafico da Figura 5.5. No grafira da Figura 5.5, so dadas a funcdo poupanca no 2° quadrante, a condicdo de equilibrio no mercado de bens e servigos no 3° quadrante, e a fun- 40 investimento no 4° quadrante. A curva IS é| obtida ao se rebaterem as demais curvas no 1° quadrante. 3° quadrante 22 quadrante Figura 5.5 Deduedo grafica da curva IS, a partir de vazamentos ¢ injun- bes de renda. Qualquer pouto sobre a curva IS representa o equilibrio no mercado do pro- dluto: oferta agregada igual a demanda agregada de hens e servicos, A inclinacao da curva IS depende essencialmente de dois fatores: * a sensibilidade do investimento em relacdo a taxa de juros; * 4 propensao marginal a consumir (ou o multiplicador de gastos). Quanto ao primeiro temos que quanto maior a elasticidade do investimen- to em relacao A taxa de juros, mais horizontal sera a curva IS, isto é, menor sua inelinacao. Uma pequena variacdo na taxa de juros induzird uma grande va- ‘taco no investimento e, portanto, na demanda agregada e na renda. O oposto ocorreré quando o investimento for pouco sensivel a renda: variagdes no inves- timento iro requerer maiores variagBes na taxa de juros, levando a uma IS pré- xima da vertical. Quanto ao multiplicador de gastos tem-se o seguinte: sea Propensao margi- nal aconsumir for elevada e, portanto, o multiplicador também elevado, variagaes no Investimento gerardo grandes expansdes induzidas no consumo, ampliando a demanda e a renda, Dessa forma, quanto maior 0 multiplicador, maior sera o impacto sobre a renda de variagdes nas taxas de juros, ou seja, menor ser a in clinagao da IS (mais horizontal), Jé oe fatores de desluramento da 1S, ou seja, a posigao da curva IS, de- pendem do volume de gastos auténomos, nos quais incluem-se 0 cansume eo lnvestumento autOnomos, ¢ os elementos da politica fiscal, com destaque para 08 gastos piiblicos. Quanto maior a despesa auténoma, mais para a direita se lo- calizaré a curva IS. Assim, mudancas nestas despesas deslocam a curva, alteran. do sua posicdo. Uma expansdo nos gastos auténomos desloca aIS para a direita (para cima) e uma contracao a desloca para esquerda (para baixo). O montante do deslocamento sera dado pelo multiplicador vezes a variacio na despesa, Ou Seja, dado o nivel da taxa de juros, 0 deslocamento da demanda (renda) sera de- terminado como no modelo keynesiano simples. Curva LM: equilibrio no mercado monetario do Reale 0 Lado Monetérlo 191 A curva LM (do inglés Liquidity Money) representa 0 equilfbrio no mercado de ativos. Para facilitar a exposicio, vamos considerar que existam dots tipos de acivos na ewuumta, NOs uals 0s individuos alocam sua riqueza: moeda e titulos, A caracteristica do primeiro € possuir liquide ahsnluta, mas que ndo rendens qualquer juro, isto & sua posse nao dé um rendimento ao detentor. 4 os titulos fendem jnros, mas poseuem uma liquides inferior & da moeda, isto 6, existe um custo para transformé-los em poder de compra 192 _nanual de Macroeconomia + Lopes e Vasconcllos Supondo um dado estoque de riqueza (W), teremos: DEMANDA TOTAL, DEMANDA TOTAL DE DE MOEDA. * TITULOS ee w " = Mt + B iB sendo W/P a riqueza (patrim6nio) em termos reais. A oferta total desses ativos serd dada por: Ms — + BY = Riqueza P aq. onde M’ éa oferta de moeda e 8° a oferta de titulos. Assim, quando a oferta de ativos iguala a demanda de ativos, temos: Me ME ate 0 Percebemos, portanto, que, como 0 excesso total de demanda no mercado de ativos é igual a zero e como estamos considerando dado o estoque de riqueza, se u meray inunerdiiv estiver enn equiliL de titulos. Se houver excesso de demanda por moeda, haverd excesso de ofer- ta de titulos, e vice-versa. Assim, basta analisar um mercado que jé sabemos 0 ,y mesmo valerd para © mercado que estard acontecendo no outro. Tradicionalmente, como formulado por Hicks (1937), consideramos apenas 0 mercado monetério. Tomando, entdo, 0 mercado monetério, vimos no Capitulo 2 que o Banco Central possui instrumentos para controlar a oferta de moeda; assim, conside- raremos a oferta da moeda como uma varidvel determinada exogenamente, por deciso da autoridade monetaria. Quanto A demanda de moeda, como vimos, as teorias que buscam explica- la apresentam dais tipns de razées para a coletividade demandar (reter) moeda: motivo transacao e motivo portfélio. Quanto ao primeiro motivo, a demanda de moeda é diretamente relacionada ao nivel de renda da economia. Quanto maior © nivel de produto maior serd o volume de transagées e, portanto, maior ser4 a quantidade de moeda requerida (demandada) para realizé-las. Dessa forma, a demanda de moeda aumenta conforme aumenta a renda. Quanto ao motivo portfélio, 0 individuo, ao tomar a decisio de como alocar sua riqueza, compara o diferencial de rentabilidade entre os diferentes ativos. Desconsiderando a existéncia de inflagao, 0 retorno real da moeda é zero, en- quant o dos Litulus é a taxa de juros que estes rendem. Dessa forma, a taxa de Modelo IS-LM: a interligaco entre o Lado Reale Lado Moneticio 193, juros corresponde ao custo de oportunidade de reter moeda; assim, a demanda de moeda diminui conforme aumenta a taxa de juros. Percebemos que a demanda de moeda é como ade um bem normal qualquer: varia inversamente com o prego e diretamente com a renda. Assim, para dado nivel de renda, podemos representar a demanda de moeda como no gréfico da Fi- gura 5.6, em que a demanda de moeda varia inversamente com a taxa de juros. wa 5.6 Demanda de maeda em fungio da tava do juras. ‘Ao considerarmos variagGes da renda, percebemos que estas provocam des- Jocamentos da demanda de moeda. Assim, se a renda se amplia de Y, para ¥,@ demanda de moeda se desloca de M(Y,) para M“(Y,), ou seja, para qualquer nivel de taxa de juros que se considere, haveré maior demanda por moeda. © equilibrio no mercado monetirio ocorre quando a demanda de moeda iguala a oferta de moeda. A tiltima, como dissemos, pode ser considerada cons- tante (dada). ‘Assim, dada uma oferta de moeda, a demanda, combinando os motivos tran- sacio ¢ 0s portfolio, deve igualar-se & oferta, no cquilibrio: =Mé TE M4(Y) + M4(r) El sendo (M/P) a oferta de moeda, M*(Y) a demanda de moeda pelo motive transa- do, e M“(r) a demanda de moeda pelo motivo portfolio. Para verificarmos isso, como a demanda de moeda responde positivamente a renda e negativamente & taxa de juros, clevasées na renda devem ser acompanhadas por aumentos nas taxas de juros, de modo a compensar o impacto expansivo sobre a demanda de moeda decorrente do maior nivel de renda, 0 que pode ser visto no gratico da Figura 5.7. 194 Manual de Macrorconomla + Lopes e Vasconcelos Figura 5.7 Efeito du aumento de renda sobre a demanda de moeda. - Plotando os pares (¥, r) que equilibram 0 mercado monetirio, obtemos a curva LM, como pode ser visto no grafico da Figura 5.8. Figura 5.8 Curva LM. Os fatores que atetam a inclinagao da curva LM sio as elasticidades da de- manda de moeda em relacdo & renda ¢ & raxa de jis Quanto maior a elasticidade da demanda de moeda em relagao a renda, maior serd a inclinacao da curva LM, uma vez que uma pequena variagao na ren- da levaré a uma grande expansdo 11a demanda de moeda, exigindo uma maior elevagdo na taxa de juros para compensé-la. Por outro lado, quanto maior a elasticidade de demanda de moeda em relagao taxa de juros, menor seréa inclinacao. Se a demanda de moeda for muito cenoivel taxa de juros, qualquer variagdo nesta exigira uma mudanga significativa na renda, para compensé-la; ou inversamente, qualquer alteracao no nivel de renda exigiré uma pequena mudan- sana taxa de juros, para manter 0 mercado monetério em equilibrio. Modelo IS-LM a Inverigaco entre o Lado Real eo Lado Monetrio 195 Figura 5.9 Deslocamento da curva LM em fungio de aumento da oferta de moeda. A posi¢o da curva LM é dada pela oferta real de moeda. Como estamos considerando o nivel de pregos constante, esta é afetada basicamente pela politica monetaria. Assim, expansGes na oferta de moeda deslocam a LM para a direita (para baixo) e contragdes para a esquerda (para cima). Figura 5.10 Deslocamento da curva LM em fungio de diminuigao da ofer- 1a de moeda. Equilibrio simultaneo no mercado de bens e de ativos Para determinarmos o nivel de renda e de taxa de juros que equilibram si- multaneamente os mercados de bens e de ativos, basta juntarmos a /S e a LM, conforme o grafico da Figura 5.11. _ Modelo IS-LM: a Ineligacio entre o Lado Real ¢ 0 Lado Monetisio 197 Figura 5.12 Posigdes fora da curva IS. No caso do mercado monetério, seu equilibrio é representado pelos pontos sobre a curva LM. Observando o grifico da Figura 5.13 no caso de pontos 8 di- reita (abaixo), haverd excesso de demanda por moeda, e para pontos a esquerda (acima) haveré excesso de oferta de moeda. Q excesso de demanda, como no. ponto A do grafico, pode ser explicado da seguinte forma: dada a oferta de moe- da, Aquele nivel de renda, as pessoas demandam grande parte para transacdes, mas por outro lado, como a taxa de juroe ect4 muito baixa, no hé ectimulo para ‘os agentes se desfazerem da moeda em carteira e adquirirem titulos, gerando-se, com isso, 0 excesso de demanda. Figura 5.13 Posigdes fora da curva LM. O inverso ocorre no ponto B, em que tanto o nivel de renda é muito baixo, como a taxa de juros é muito clevada, deseotimulando a retengdo de moeda e gerando um excesso de oferta. O ajustamento neste mercado se faz por meio de taxas de juros. Quando ha excesso de demanda de moeda, como vimos, ha exces- so de oferta de titulos, ou seja, os bancos (por exemplo) nao conseguem captar 198_Manval de Macrosconomla + Lopes Vasconcllos _ - recursos, com o que passam a elevar a rentabilidade dos papéis, para estimular os agentes a se desfazerem da liquidez. O inverso ocorre quando hé excesso de oferta e moeda, pois as pessoas querem direcionar todos 0s recursos para 0s ti- tulos, gerando um excesso de demanda por estes, provocando uma queda nas taxas de juros e levando 0 mercado monerério ao equilibrio. Essa 6 a segunda regra de ajustamento: desequilibrins no mercado mo- netdrio so corrigidos com variagdes nas taxas de juros. Quando ha excesso de oferta a taxa de juros diminui e quando ha excesso de demanda a taxa de juros se eleva. Com base no exposto até o momento, podemos delimitar quatro areas de desequilibrio no arcabouco IS-LM (Figura 5.14): Figura 5.14 Posigées fora das curvas IS e LM: éreas de desequilibrio ma- croeconémico. ‘A regio I caracteriza-se por excesso de oferta de bens (FOB) e moeda (EOM), pressionando-se tanto a redugao de renda como da taxa de juros. Na regido II, © excesso de oferta de moeda pressiona a queda da taxa de juros e 0 excesso de demanda por bens (EDB) a amplia¢ao do produto. Na regiao III, temos excesso de demanda de bens e moeda e na regido IV excesso de oferta de bens e excesso de demanda de moeda (EDM). Pelas regras colocadas para 0 ajustamento, percebemos que, em qualquer ponto que a economia se encontre, ela tendera ao equilibrio. Se estivermos, por ‘exemplo, em um ponto de equilibrio no mercado de bens, mas nao no mercado ‘monetério, como no ponto A do grifico da Figura 5.15 (excesso de oferta de mo- eda), esse descquilibrio leva a redugSes na taxa de juros, o que amplia o inves- timento e a demanda, fazendo com que o mercado de bens se desequilibre, apa- recendo um excesso de demanda por bens. Nesse processo, tanto a taxa de juros vai se reduzindy como a renda se ampliando, até atingir-se o equilibrio em E. Modelo IS-LM: a Ineligaio entre 6 Lado Real ¢ 0 Lado Monetério 199 Figura 5.15 Tendéncia ao equilibrio, a partir de uma situagao de equilibrio no mereado de bens, e deseyuilibrio no mercado monetério. Esse processo e a convergéncia para a situagdo de equilibrio se verificard para qualquer ponto de desequilibrio. Consideremos agora o ponto F, no gréfico da Figura 5.16, em que hd um excesso de oferta de hens ¢ um excesso de demanda por moeda (localiza-se na regiao IV). Figura 5.16 Tendéncia ao equilibrio, a partir de uma situasao de desequili- bbrio no mercado de bens e no mercado monetario. ‘Nesse ponto havera presses por elevacao da taxa de juros e redugdo do nf- vel de renda, Seguindo essa trajetéria, a economia logo encontrar o equilibrio no mercado monetério, mas sem que o mercado de bens ainda tenha atingido o equilibrio (ponto G). Acsim, quando a trajetéria de ajustamenty interLepia a Curva LM, essa pas- sagem se da horizontaimente, uma vez que nesse ponto nao existem pressdes sobre a taxa de juros, apenas sobre o nivel de renda, no sentido de reduzi-la. A economia passa para a regido I, ei que coexistem excesso de oferta de bens e 200 Manvel de Masroeconomla + Lopes eVasconcllos de moeda, ou seja, tanto a taxa de juros como a renda passam a apresentar ten- déncias declinantes. Notemos que nesta trajetéria a economia tanto pode caminhar diretamente para 0 equilibrio, conforme as velocidades de ajustamento dos mercados, como pode ocorrer uma nova ultrapassagem para uma nova regio de desequilibrio. Suponhamos que a economia atinja 0 equilfbrio no mercado de bens (ponto H) mas que agora o mercado monetirio esteja em desequilibrio. Neste ponto, néo existem pressécs sobre a ronda, apenas sobre a taxa de juros; assim, a intersec- fo da trajetéria de ajustamento com a IS, isto é, a ultrapassagem se da vertical- mente, o que mostra que nesse ponto apenas a taxa de juros esta se alterando. Persistindo o processo de ajustamento, através de uma trajetéria ciclica, para qualquer ponto em que a economia se encontre, ela caminhard para a situagio de equilibrio. Pelas caracteristicas do mercado de bens e do mercado monctirio, é de su- pormos que este tiltimo se ajuste mais rapidamente do que o primeiro, pois 0 mercado de bens, para corrigir-se, necessita de modificagGes no volume de em- prego de mao-de-obra, entre outras coisas, que sio processos mais lentos. J4 © mercado monetario é corrigido por alteragdes nos precos de ativos, processo que ocorre diariamente no mercado. Assim, podemos considerar, como regra de ajustamento, corregSes instantaneas na mercada monetirin @ lentas no merca- do de bens. Dessa forma, para qualquer situagao de desequilibrio, teriamos 0 gratico da Figura 9.1/7. Figura 5.17 Convergéncia para o equilfbrio: velocidade de ajuste dos mer- cados de bens ¢ monetario. ‘No ponto A, temos um excecso de demanda por bens ¢ um excesso de oferta de moeda. Com a hipétese de ajustamento automatico no mercado monetério, a taxa de juros se reduz instantaneamente para elimunar 0 excesso de oferta, equilibrando o mercado monctétio, atingindo © ponto B, no qual permanece 0 Modelo IS-LM: a ineligacdo entre o Lado Reale Lado Monetério 201 excesso de demanda por bens. Conforme vai se ampliando 0 produto, 0 excesso de demanda por bens vai diminuindo. A elevacao da renda vai ampliando a de- manda de moeda para transago, com o que a taxa de juros deve ir se elevando, para diminuir a demanda de moeda pelo motivo portfélio. Este processo persiste até que os dois mercados estejam equilibrados (ponto E). actu de puliticas economicas no modelo IS-LM ‘Conforme destacado anteriormente, a curva IS é tracada considerando uma dada politica fiscal (nivel de gastos piblicos e tributago) ea curva LM para uma dada oferta de moeda. Alteragdes no ponto de equilibrio da economia (taxas de juros e niveis de renda) decorrem de deslocamentos quer da curva IS que da LM ou de ambas, sendo que estas mudangas so provocadas principalmente por me didas de politica econémica. No caso da curva IS, outros fatores, além de politicas econémicas, podem levar a deslocamentos, como, por exemplo, mudangas no investimento autono- mo em decorréncia de moditficagdes na eficiéncia marginal do capital, ou ainda modificagées no consumo auténomo: se, por exemplo, considerarmos a varidvel riqueza como um fator explicativo do consume, alteragdes do nivel de precos podem afetar a IS ao modificar o estoque de riqueza real (este é 0 chamado efei- 10 Pigou, que discutiremos mais adiante). No caso da LM, seus deslocamentos decorrem de modificacées na oferta real de moeda, que pode se dar por alteragBes ou no estoque nominal de moeda ou no nivel de pregos. Consideraremos, a seguir, apenas as modificagdes decorrentes da politica econémica, mantendo ainda o nivel de precos constantes. Politica monetaria Vamos considerar, inicialmente, 0 efeito de uma expansio monetéria, que deslocard a curva LM para a direita. De acordo com o exposto até 0 momento, concluimos que o resultado final sera uma queda na taxa de juros e uma expan- so na renda, conforme o grafico da Figura 5.18. Figura 5.18 Efeito de uma expanso monetaria. ‘Vamos ver como se dé a transi¢go de £, para E,: com o aumento na oferta de saldos monetérios reais, geramos um desequilibrio no portfolio dos agentes, que tentardo se desfazer da moeda excedente ampliando a demanda por titu- los. Com a elevagao no prego dos titulos, reduzimos a taxa de jurus' de modo a equi maior oferta de moeda no portfélio dos agentes, a rentabilidade dos titulos deve cair para tornar mais atraente a retenco de moeda. wrar'a mercado de ativas: maeda e titulas. Notemas que, para acomodar a A queda 11a tana de jurus estiniula 0 agregada. Ao nivel inicial de produto, gera-se um excesso de demanda por bens, que as firmas atendem com reducao dos estoques. Com isso, as firmas passam a ampliar a producao para atender & maior demanda. Conforme a renda vai se elevando, a demanda de moeda para transagdo aumenta, forcando elevacdes na taxa de juros para diminuir a demanda pelo motivo portfélio, de modo a manter ‘equilibrado 0 mercado monetario. Notemos que, apesar de haver uma elevacao na taxa de juros no segundo momento, ela no volta ao patamar inicial, man- tendo-se abaixo deste, com o que existe uma elevacdo de renda. Caso a taxa de juros voltasse ao nivel inicial, nao haveria qualquer impacto sobre a renda. westinienty, aupliandy a denauda ‘Aosim, © mecaniomo de trancmizoio da politica monetéria é 0 seguinte: 1 aa perceber a relagio entre prego dos titulose taxa de juros, pensemos no seguinte exemplo: ‘suponhamos que exista um tinico tipo de titulo, perpétuo. Este titulo dé uma renda nominal fixa 4 seu detentor pelo resto da vida. Neste caso, o valor do papel que dé origem a esta renda é dado pela capitalizacio do rendimento: Pt = R/r onde Pt & 0 preco do titulo. R é a renda nominal e r € a taxa de juros, Assim, se um titulo qualquer der uma renda anual de RS 100,00 e a taxa de juros for 5% .2.,0 preco do titulo seré igual ao capital necessério para que, aplicado a 5% aa, gere um retorno de R$ 100,00, ou seja, 0 preco sera de RS 2.000,00. Se a taxa de juros se elevar para 10% 4. 0 capital necessario para gerar uma renda de R$ 100,00 seré RS 1,000,00. Assim, 0 prego do tfeulo cai com clevagéca na tana de juros. O raciocinio pode scr feito também da acguinte forma. supondo um rendimento fixo oferecido por algum papel, uma elevagdo na demanda por este eleva seu preyy, coi 0 que, wo Laltular 4 taxa de juros Uo papel, esta ve reduz Model IS-LM: a Interigego entre o Lado Real eo Lado Monetrio 203, 1. amudanga na oferta de moeda deve gerar um desequilibrio de portfélio de modo a alterar taxa de juros; ¢ 2. amudanca na taxa de juros deve impactar no investimento e cam isso na demanda agregada. Dado esse mecanismo de transmissao, é facil analisar quais sao as condigdes que revelam a eficdcia da politica monetéria nesse modelo. primeiro fator a afetar 6 a elasticidade da demanda de moeda em rela- G40 & taxa de juros. Se a demanda de moeda for muito sensivel 3 taxa de juros, una peyuetia vatiayau na (aaa de jusus seré suficiente para ajustar o mereado de ativos. Assim, com esta pequena mudanca na taxa de juros, a maior parte da ex- pansio monetaria serd retida pelo piblico com o que induzir-se-4 uma pequena alteragdo no investimento e, portanto, na renda. Ou seja, quanto maior a elasti- cidade da demanda de moeda em relagao & taxa de juros, menor serd a eficacia da politica monetéria. © segundo condicionante da eficacia da politica monetitia € a elasticidade do investimento em relagao a taxa de juros. Se esta clasticidade for baixa, mesmo que a ampliagfo da oferta de moeda gere uma grande mudanga na taxa de juros, isso podera resultar em uma pequena varlacao no investimento. Concluimos, portanta, que a eficdcia da polities moneraria sera tanto mainr Pe 4 i quanto maior a inclinagao da LM e menor a inclinacio da IS. Podemos considerar dois casos especi moeda é infinitamente eldstica em relagio 4 taxa de juros. F uma situagdo em que a taxa de juros encontra-se em um nivel tio baixo que qualquer ampliacao na oferta de moeda ser retida pelo puiblico, mesmo sem alteragao na taxa de O primeiro, no qual a demanda de juros. Nesse caso, a LM ser4 totalmente horizontal e a politica monetéria néo terd efeito algum sobre a renda. Esta é a chamada Armadilha da Liquidez, na qual a politica monetaria é totalmente ineficaz, e esta ilustrada no grafico da Fi- gura 5.19. segundo caso ocorre quando a demanda de moeda independe da taxa de juros, isto é, a elasticidade da demanda de moeda em relacao a taxa de juros é zero. E 0 chamado caso classico, o mundo da Teoria Quantitativa de Moeda em que a LM é vertical. Nesse caso, amplia-se a eficicia da politica monetéria. De acordo com Keynes, haveria tum estigio intermedidrio entre eles. Para o autor, existe uma estrutura de taxas de juros na economia que se diferencia de acordo com o prazo. Para a decisio de investimento, a taxa relevante é a de longo prazo, enquanto a politica monetaria afeta a taxa de curto prazo. Assim, deve-se considerar que © efeito sobre a taxa de curto prazo é transferido para a de longo prazo. Deve-se destacar que, no pensamento keynesiano, nfo necessariamente o aumento na oferta de moeda redundara em queda na taxa de juros, caso se ample a preferencia pela liquides, isto é, caso a demanda de moeda se desloque para cima, ampliando a quantidade Uciainlade de miveda para qualguer nivel de taxa de juros. Ainda que ocorra a redugée dao taxae de juros, esta ndo necessariamente ampliard o investimento, se acontecer uma queda na Eficiéncia ‘Marginal do Capital 204 Manual de Macroeconomia + Lopese Vasconcelos Figura 5.19 Armaditha da liquidez. Figura 5.20 Demanda de moeda totalmente ineldstica em relagdo @ taxa de _juros (caso cléssico). Politica fiscal Quanto A politica fiscal, j4 discutimos no capitulo anterior a forma pela qual a tributagdo e os gastos puiblicos afetam a demanda agregada na economia. Par- tindo de andlise entéo desenvolvida, vamos avaliar o impacto de uma politica fiscal expansionista, dentro do modelo IS-LM: por exemplo, a elevacio do gasto piiblico. impacto inicial da variagao do gasto piblico é 0 deslocamento da curva IS. A magnitude desse deslocamento é dada pelo incremento do gasto vezes 0 multiplicador, conforme ja discutido. O impacto final desta politica sobre a eco- nomia sera o aumento da renda e da taxa de juros, como pode ser visto no gré- fico da Figura 5.21. Modelo ISM: aimerligacdo entre o Lado Reale o Lado Monetério 205, («= multiplidador de gastos) Figura 5.21 Elevagio do gasto piblico e o efeito multiplicador no modelo IS-LM. Devemos destacar 0 seguinte: no modelo keynesiano simples, o impacto do gasto sobre a renda seria igual ao valor horizontal do deslocamento da IS, com 0 que a nova renda seria Y, (dado pelo multiplicadar de gastos a, vezes 0 aumento dos gastos puiblicos AG). Por que no modelo IS-LM o impacto é menor ea renda se eleva somente para Y,? Conforme a renda se amplia em decorréncia do gasto, aumenta a demanda de moeda. Coma oferta de moeda fixa, a taxa de juros deve se elevar para equilibrar ‘© mercado monetario. A elevacao da taxa de juros, por sua vez, faz com que 0 investimento se reduza, amenizando o impacto da politica fiscal expansionista. Pelo raciocinio acima, podemos perceber quais so os elementos que deter- minam o grau de eficacia da politica fiscal. O primeiro, assim como no modelo keynesiano, é 0 (amanho do multiplicador, que determinard de quanto se deslo- card a IS. Fora este, os outros fatores que afetam s4o os mesmos que determinam a eficacia da politica monetéria: a elasticidade da demanda de moeda em rela- 40 a taxa de juros e a elasticidade do investimento cm rclagao aos juros. Em relacao ao primeiro fator, quanto maior a sensibilidade da demanda de moeda a taxa de juros, maior ser o impacto da politica fiscal, uma vez que esta geraré uma pequena varia¢ao na taxa de juros e, por conseguinte, uma pequena compensagio negativa por parte do investimento. Por outro lado, quanto maior for a sensibilidade no investimento em relacdo & taxa de juros, menor sera o efeito da politica fiscal sobre a renda, uma vez que qualquer mudanca na taxa de juros gerard um grande impacto sobre o investimento, compensando o aumento de gastos do governo. Vejamos a eficadcia da politica fiscal, considerando os dois casos extremos discutidos no item anterior (efeito da politica monetétia) 206 _Masual de Mactosconomia + Lopes ¢ Vasconcelos 1. No caso da armadilha da liquidez, em que a demanda de moeda é in- finitamente eldstica em relag3o & taxa de juros, com a LM horizontal, © efeito da politica fiscal é semelhante ao do modelo keynesiano, dis- cutido no capitulo anterior, uma vez que a taxa de juros nao se altera em resposta ao deslocamento da IS, ndo havendo, portanto, reducao_ do investimento. E 0 caso de maxima eficacia da politica fiscal, com 0 efeito multiplicador funcionando plenamente, como pode ser visto no. grafico da Figura 5.22. Figura 5.22 Eficacia da politica fiscal na armaditha da liquidez. 2. No chamado caso classico, com a LM vertical, temos 0 caso oposto, em que a politica fiscal é totalmente ineficaz. O maior gasto piiblico nfo leva a qualquer alteracfo da renda, apenas gerando uma variago na taxa de juros, que provoca uma reducao no investimento privado de magnitude semelhante a variagao no gasto piblico. Temos apenas a substituigdo de gastos privados por gastos piblicos, 0 chamado cro- wding-out ou efeito deslocamento. Esse resultado pode ser visto no grafico da Figura 5.23. Figura 5.23 Efiedcia da politica fiscal, supondo LM ineléstica em relagao G taxa de juros (caso cldssico). a ___Modeto 1:1: a tmerligagio entre o Lado Reale © Lado Monetirio 207 Combinagao de politicas monetéria e fiscal e composigao do produto Na situag4o normal dentro do modelo IS-LM, vimos que uma politica fiscal expansionista tem o efeito de ampliar o nivel de renda e a taxa de juros, o inver- so ocorrendo com uma politica restritiva. J4 uma politica monetéria expansio- nista também ampliard a renda, mas levard, por outro lado, A redugo da taxa de juros. Como existem, geralmente, diversos objetivos a serem atingidos pela politica econémica ou uma série de restrigdes que nao podem ser violadas,? o governo au utiliza, en yetal, win Guicy iusuuMiento, was uinia comibinayao destes. Eu, muitos casos, as politicas fiscal e monetéria nao s4o totalmente independentes, havendo regras de reagdo de uma politica a outra, alterando os resultados que discutimos anteriormente, em que considerévamos ambas politicas indepen- dentes, de tal modo que podiamos alterar uma das curvas, supondo que a outra permaneceria parada Consideremos, por exemplo, uma situagao em que a meta do Tesouro Na- cional (da politica fiscal) seja a estabilidade do nivel de renda, ou simplesmente que grande parte dos gastos do governo seja inversamente relacionada com 0 nivel de renda ¢ dirctamente relacionada com a taxa de juros (pense em politica assistencialista, cujos gastos crescem na recessao e gastos com a divida piblica, que se reduzem com a queda da taxa de juros). Por outro lado, consideremos que. independentemente do Tesouro. o Banco Central resolve fazer uma politi ca restritiva, contraindo a oferta de moeda, deslocando a LM para cima e para a esquerda, pressionando a clevagao das taxas de juros ¢ a queda da renda. Quer pelo objetivo de manter a renda constante quer pelas caracteristicas de gastos descritas, haveré uma reacao do Tesouro ampliando os gastos, deslocando a IS para cima e para a direita. O resultado pode ser simplesmente a manuten- fo do nivel de renda, com uma grande elevacdo da taxa de juros (de r, parar,), como pode ser visto no grafico da Figura 5.24. Esses pontos ficardo mais claros no decorrer do livro. Nessa segio, apenas discutiremos alguns sxemplos simples de combinagio de politicas, dentro do arcabougo ISM. 208 Manual de Macroeconomia + Lopes e asconcelos Figura 5.24 Politica fiscal expansionista, em resposta a politica monetd- ria restritiva, s fiscais, Uma situacdo mais plaustvel é a reagdo do Banco Central as politi uma vez que estas sofrem uma série de ingeréncias politicas, enquanto o Bacen poderia atuar de forma mais independente. Vamos cupor que Congresso impo- nha uma grande elevacio dos gastos puiblicos ao Tesouro, por qualquer motivo que seja. A conseqiiéncia dessa politica, como j discutimos, é o deslocamento da IS para cima e para a direita, pressionando a elevacao da renda ¢ da taxa de juros, 0 que se verificaré caso 0 Banco Central nio reaja a esta politica, manten- do inalterada a oferta de moeda. Podemos considerar, por outro lado, duas outras regras de atuagio do Ban- co Central. A primeira, de acordo com a qual o Banco Central tenha por meta a estabilidade da taxa de juros, quer para manter os investimentos quer por restri- Ses externas a economia (por exemplo, a taxa interna deve ser igual a externa, ow existe a chamada “lei da usura” aprovada constitucionalmente etc.). Nesse caso, 0 deslocamento da IS ao pressionar a elevacio da taxa de juros forgaré o Banco Central a ampliar a oferta de moeda, deslocando a LM para a direita, evitando 0 aumento da taxa de juros. Nesse caso, a politica fiscal com- binada com a reacdo da politica moneraria, provocara uma grande ampliagao da renda, sem impactas sabre a taxa de juros (o gasto piiblico se eleva sem provo- car qualquer reduo no investimento). Essa situaco pode ser vista no grafico da Figura 5.25. £ interessante observar, nesse caso, que, quando o Banco Cen- tral tem por objetivo manter a estabilidade day taaas de juros, a oferta de moeda torna-se endégena, ou seja, condicionada a politica fiscal. Modelo IS-LM a Intertigago entre o Lado Real ¢ © Lado Monetério 209 Figura 5.25 Politica monetéria visando a estabilidade da taxa de juros, em resposta a politica fiscal expansionista. Outra regra que pode ser seguida pelo Banco Central 6a manutencio do nivel de renda. Como veremos na seqiiéncia do livro, ampliagdes do produto podem ter efeitos negativos sobre o saldo externo ou sobre a estabilidade dos pregos, 0 que pode fazer com que o Banco Central paute sua atuacdo no sentido de evitar flutuagGes da renda. Nesse caso, em resposta 4 uma politica fiscal expansionis- ta, a Autoridade Monetéria deverd contrair a oferta da moeda, compensando 0 deslocamento da IS para a direita por um deslocamento da LM para a esquerda. Assim, a renda permaneceria catdvel, mas havcria uma grande clevayau Ue wax de juros, como pode ser visto no grafico da Figura 5.26. Notemos que o Banco Central contrai « oferta de moeda o suficiente para provocar uma elevacio da taxa de juros que faca com que o investimento se reduza o suficiente para con- trabalancar o impacto expansionista do maior gasto piblico.* Figura 5.26 Politica monetéria visando a estabilidade da renda. em resposta uma politica fiscal expansionista, 4 Temos, neste caso, um erwding-out induzido pela politica monetéria. 210 Manual de Macrosconomia + Lopes eVasconcllos Dessa forma, o modelo IS-LM mostra que tanto a politica monetéria como a politica fiscal podem afetar o nivel de renda. Um ponto importante a determi nar qual instrumento utilizar é a questao da composigéo do produto. Como jé destacamos, apesar de ambas influirem no nivel de renda, elas possuem efeitos opostos sobre a taxa de juros. Assim, tentar obter aumento da renda por intermédio da politica fiscal, considerando aumento dos gastos piiblicos, tera como efeito uma reducao do investimento privado em decorréncia do aumento da taxa de juros (0 crowding- out), levando, neste sentido, a uma “estatizagao” da economia. Considerando novamente uma politica fiscal expansionist, mas agora na forma de uma redu- ‘40 dos impostos, também teremos aumento da renda e da taxa de juros, mas agora o crescimento da renda se dar4 em fungdo da ampliag4o do consumo com reducao do investimento. No caso da utilizagio da politica monetaria, a expansfo da renda se faz de- vido & queda da taxa de juros e & ampliagio do investimento. Assim, 0 instrumento a ser utilizado depende da avalia¢o sobre qual a com- posicao de produto que se pretende obter, 0 que se faz com base na avaliac3o das condigGes vigentes. Inicialmente, poderfamos ser tentados a dizer que o uso da politica moneté- la seria melhor, uma vez que amplia-se investimento ¢ o crescimento a longo prazo. Entretanto, podemos pensar, por exemplo, na situago de um pafs pobre, em que o nivel de investimento ja esteja relativamente alto, mas os padrdes de consumo da maior parte da populacao sejam haixos. Isto justificaria uma expan- sio pela politica fiscal, quer pela redugio de impostos quer pelo aumento das transferéncias 4 populagao de baixa renda. Assit, devemos notat que os instrumentos de politica econdmica devem ser combinados de acordo com os objetivos pretendidos. Deduzindo a demanda agregada Como j observamos, 0 modelo IS-LM considera o nivel de precos constan- te, Para deduzirmos a demanda agregada com base nesse modelo, devemos per- mitir que este varie, uma vez que a Demanda Agregada representa 0 quanto os agentes econdmicos estdo dispostos a adquirir de produto nacional a cada nivel de precos. Precisamos, entdo, passar de um diagrama taxa de juros-renda, para precos-renda Percebemos que a expresso de determinagio da renda de equilibrio dedu- zida no item anterior para o modelo IS-LM jé introduz a relagao entre produto e nivel de pregos, através do comportamento do cstoque real de mocda (M/P). Modelo IS-IM a tnerigaco entre o Lado Real 0 Lado Monetrio 211 Consideremos, por exemplo, o impacto de uma elevacdo no nivel de precos. Mantido o estoque nominal de moeda, um aumento no nivel de pregos seduz a oferta real de moeda, deslocando a LM para a esquerda. Com isso, a taxa de ju- ros se eleva, reduz-se o investimento e contrai-se o nivel de renda, como pode ser visto nos graficos das Figuras 5.27 e 5.28. Figura 5.28 Dedugao da demanda agregada, com base o modelo IS-LM. Assim, tomando como dados os gastos auténomos, isto é, mantendo a IS estivel (sein deslocamento) e mantido constante 0 estoque nominal de moeda M,, podemos obter a fungao demanda agregada: elevagdes no nivel de presos provocam redu¢&o no produto, ou seja, quanto maior o prego menor a demanda agregada. A queda na renda ¢ 0 aumento da taxa de juros recquilibram 0 mer- cado monetario. Notemos que, ao longo da curva de demanda agregada, tanto © mercado de bens como o mercado monetirio est4o em equilfbrio, conforme descrito nu modelo IS-LM. 212, Manual de Macioeconomia + Lopes e Vasconcelos ‘Como observamos, a inclinac4o da curva de demanda agregada depende dos mesmos fatores que detcrminam a cficécia da politica monetaria. Isso decorre da prépria maneira como a obtivemos. No arcabouco IS-LM, o impacto de uma mudanga no nivel de pre¢os ou no estoque nominal de moeda é exatamente 0 mesmo: aitera-se a oferta real de moeda provocando o deslocamento da LM. ‘Assim, a inclinagao da demanda agregada refletira o impacto da mudanga da oferta real de moeda sobre o nivel de renda, ou seja, a variagéo da renda pro- vocada por um deslocamento da curva LM. Como vimos ao discutir a eficacia da politica monetiria, ecta depend da alasticidade- elasticidade-juros da demanda de investimento, além do multiplicador. Quanto maior a sensibilidade da demanda de moeda em relagao a taxa de juros, e quan- to menor a sensibilidade do investimento em relacdo & taxa de jurgs, maior seré a inclinagdo da demanda agregada, isto é, menor sera a resposta da quantidade demandada em relago a uma variagao no nivel de pregos. wros da demanda de moedae da Devemos, porém, notar uma diferenga entre a variagio nos pregos ¢ na qnantidade de moeda em relagio 4 demanda agregada. Modificacdes no nivel de precos provocam movimentos ao longo da curva de demanda, ou seja, altera-se a quantidade demandada. Jé variagdes no estoque de moeda provocario desloca- mentus da curva de dernanda, Tada a estoqne nominal de moeda, uma queda no nivel de precos provocara aquedana taxa de juros e uma ampliacao do investimento, aumentando a quan- tidade demandada. Esse é um ponto importante a ser frisado: ao longo da curva de demanda, maiores niveis de renda esto associados a menores taxas de juros acompa- nhando a queda dos prego. Ja. a0 ampliarmos o estoque nominal de moeda, percebemos que para qual- quer nivel dado de precos, a taxa de juros se reduzird, uma vez que aumenta o volume real de moeda (deslocamento para a direita da curva LM); ou seja, esta ‘iltima nao é induzida pela queda dos precos, mas pelo aumento no estoque no- minal de moeda. Dessa forma, o investimento (a demanda) se ampliara a cada nivel de precos, pois a estes niveis estardo associadas menores taxas de juros, deslocando-se a curva de demanda agregada para a direita. Ou seja, para qualquer nivel de precos que consideremos, a quantidade demandada sera maior, como iguras 5.29 ¢ 5.30.5 pode ser visto nos gréficos das © Esse tenomeno tambem poderia ser constatado com a seguinte pergunta: Para a quantidade demandada permanecer inalterada com uma elevacio na quantidade de moeda, de quanto teria {gue oc clevar o nivel de progos? O aumento teria que ver o euficlonts para manter o eetoque real de ‘moeda constante, de modo que a taxa de juros ndo se elevasse, ou seja, a demanda agregada teria {que se deslocar para cima em magnitude semelhante & variagio do estoque nominal de moeda Modelo IS-LM: aInterigaci entre o Lado Real eo Lado Monetiio 213 Figura 5.30 Deslocamento da demanda agregada, em fungao de uma ex- pansiio monetaria. Outra variavel que influi na posi¢ao da demanda so 0s gastos aut6nomos: consumo autnomo, investimento autonomo, politica fiscal, Vejamos o impacto da modificacdo de uma dessas varidveis sobre a demanda agregada. Utilizando o referencial IS-LM, consideremos 0 impacto de uma politica fiscal expansionista, como, por exemplo, um aumento nos gastos puiblicos. O impac- to dessa politica sera o deslocamento da curva IS para a direita. Considerando dado nivel de precos, isto é, dada a curva LM, o efeito dessa politica é uma ele- vacdo da renda e da taxa de juros, como discutimos anteriormente. Percebemos, ‘nesce caso, que, para qualquer nivel de preys que se Considere, um aumento ‘nos gastos auténomos faz com que a quantidade demandada se amplie, ou seia, desloca-se para a direita a curva de demanda agregada. Esse movimento pode ser visto nos grdficos das Figuras 5.31 e 5.32. 214 Manual de Macroeconomia + Lopes e Vasconcelos Figura 5.32 Deslocamento da demanda agregada, em fungao de politica {fiscal expansionista, Portanto, tanto a politica monetaria como a fiscal expansionista possuem 0 impacto de elevar a quantidade demandada para qualquer nivel de precos. Uma diferenca importante deve ser notada sobre o impacto dessas politicas. No caso da politica monetéria, tomando qualquer nivel de precos, na nova curva, de demanda teremos taxas de juros menores associadas a um mesmo nivel de renda, ou seja, o crescimento da demanda se dard com um aumento do investi- mento. Jé no caso da politica fiscal, para qualquer nivel de pregos, na nova cur- va de demanda teremos taxas de juros mais elevadas associadas aos respectivos niveis de rena, ou seja, © crescimento da renda sc faz acompanhado de uma ‘maior participagao do setor publico na demanda, uma vez que o investimento se retrai em decorréncia do aumento da taxa de juros. ‘Assim, tanto a politica monetaria como a fiscal podem afetar a demanda agregada, mas estas levam a resultados diferentes em termos de composigao do Modelo IS LM: a Iterligago entre o Lado R produto. E um ponto que nio deve ser descartado, ao se definir o instrumento a ser utilizado. Os principais pontos destacados em relagu a curva de demanda agregada podem ser assim resumidos: + A curva de demanda agregada se inclina negativamente, porque uma redugao do nivel de pregus eleva os saldos reais M/P, reduz as taxas de juros, elevando o nivel de equilfbrio dos gastos e do produto. + Tanto uma politica monetatia como uma politica fiscal expansionis- ta desluai a curva de demanda agregada para cima e para a direita, elevando o nivel de equilfbrio dos gastos e do produto a cada nivel de pregos. Outros efeitos decorrentes da variacao de pregos no modelo IS-LM Lado Monetivio 215 Eteito Pigou Um ponto importante sobre o impacto da varia¢ao de precos sobre a renda © 08 gastos nio foi considcrado até este puutu: v Cando efeito Pigou. Até 0 momento, consideramos uma fun¢o consumo determinada pelo consumo aut6- nomo (exégeno) e por uma fra¢ao que variava de acordo com a renda dispor L (a propensao marginal a consumir). Ou seja, vinhamos considerando o consumo como uma fungao estavel do nivel de renda. Consideremos agora que 0 consumo nao dependa apenas do nivel de renda disponivel, mas também do estoque real de riqueza.¢ Parece intuitivo que, para niveis de renda semelhantes, quanto maior for a riqueza real dos agentes maior ser o consumo, ou seja, 0 consumo cresce tanto por aumentos na renda como pelo aumento da riqueza? Consideremos, agora, que 0 volume real de moeda (M/P) faca parte da ti queza. Até o momento consideramos que o volume real de moeda afetava exclu- © Este ponto ser mais cetalhado no capitulo sobre © consumo (Capitulo 9) ao discutirmos di ferentes modelos, como, por exemplo, a teoria do ciclo da vida, a teoria da renda permanente e 2 questo da escolha intertemporal 7 Pensemos no seguinte exemplo: comparemos duas familias que possuem a mesma renda, mas cenquanto a primeira jé possui casa prépria, automével, e um estoaue de ativos financeiros que os sustente na velhice, a segunda no possui nada (casa, automével, aplicac6esfinanceiras et). Parece claro que, como a primeira jé acumulou uma riqueza que Ihe permita estabilidade, ndo precisando Seniuar « acuinula, Io €, poupat, pode consumir uma maior parcela da renda. Ja a segunda, por no possuir qualquer riqueza, se pretender acumular alguma coisa, teri que direcionar uma maior parcela da renda para a poupanga, limitando 0 consumo, 216 _Manyal de Macroeconomi Lopes ei sivamente a posi¢ao da curva LM. Ao considerarmos os saldos reais como parte da riqueza e esta Gilima como variavel explicativa do consumo, os saldos reais passam a influir também na posicao da curva IS. ‘Uma queda no nivel de precos tem um impacto imediato, ja discutimos, que 60 de deslocar a curva LM para a direita, com 0 que deduzimos a curva de de- ‘manda agregada. Contudo, devemos agora considerar que o aumento dos saldos reais decorrente da queda dos precos ampliaré a riqueza dos individuos. Com isso, ampliaremos 0 consumo auténomo, deslacando a curva IS para a direita, ampliando o impacto expansionista da queda de pregos. Comparando duas si tuagoes, uma em que se considera o efeitw Piguu e uti em que este € descar tado, percehemas que com o efeito Pigou a curva de demanda agregada tende 2 ser mais horizontal, uma vez que, agora, a variagdo dos precos tende a afetar 2 demanda por dois mecanismos: o nivel de investimento pelo impacto da variagic dos saldos reais na taxa de juros, e 0 nivel de consumo em decorréncia do efeitc riqueza. Notemos, porém, que o efeito riqueza tende a diminuir a variacio de taxa de juros, como pode ser visto nos graficos das Figuras 5.33 ¢ 5.34. Figura 5.33 Efeito Pigou no modelo IS-LM, supondo queda no nivel de precos. ~ DA com efeito Pigou | nA sem efeita Pigont LL es vy Y’; Ye i Figura 5.34 Efeito Pigou na demanda agreguilu. Movil IS-LM a Sntsigagio entre o Lado Real eo Lado Monetirio 27 Efeito Fisher ‘A introdugao da variacdo de precos traz a tona uma importante questo para ‘© modelo IS-LM, que é a diferencia¢ao entre taxa nominal e real de juros, 0 que niio se fazia necessdrio quando considerévamos © nivel de precos dado. Para in- troduzir 0 assunto, vamos recorrer ao chamado efeito Fisher’ e analisar quais im- pactos este traz nos resultados do modelo IS-LM. Podemos partir do seguinte: isrta seudy ia laa nominal de juros, ra taxa real de juros, ¢ ma taxa de inflagao. Esta igualdade, como vimos, deve, na realidade, ser expressa em termos de expectativa inflacionéria. isrtn onde m é a taxa de inflagao esperada. ‘Assim, a taxa nominal de juros corresponde & taxa real de juros mais a infla~ fo esperada. Conforme jé discutimos, ao negociar a taxa de juros nominal que sera aplicada a um determinado titulo, os agentes estdo interessados na taxa real de juros que desejam, isto é, no incremento de poder de compra que a aplicacéo propiciaré. Assim, com base na tava real de jurns desejada ey ante ¢ da inflacio esperada, definimos a taxa nominal de juros. Como dissemos anteriormente, a taxa real de juros efetiva so sera conhecida ex post, ao conhecermos a inflacav ocorrida no perfodo da aplica¢ao. Caso a inflagao esperada e efetiva sejam dife- rentes, a taxa real de juros ex ante (desejada) sera diferente da ex post (efetiva) Tomando o modelo IS-LM tradicional, por considerarmos o nivel de pregos constante, no tinhamos necessidade de diferenciar entre taxa real ¢ taxa no- minal de juros. Ao introduzirmos a variagao de precos, a inflagao, torna-se ne- cessario diferenciar as duas taxas, uma vez que no caso da demanda de moeda, conforme jé discutimos no Capitulo 2, a taxa de juros relevante é a nominal, que representa o diferencial de rentabilidade real entre a moeda e os demais titu- los, isto é, reflete o custo de oportunidade de reter moeda; j4 no caso da decisio de investimento, a taxa de juros relevante é a real, uma vez que ao decidir pela ampliagdo da capacidade produtiva, empresério compara a produgio adicional gerada pelo equipamento frente a seu custo real.? ‘Assim, a curva IS estipula uma rela¢do entre a taxa real de juros e o nivel de renda, jé a curva LM também estabelece uma relacdo entre as mesmas variaveis, as vonsidera a taxa nominal de juros. Discutido no Capitulo 2. © Considderemos por excmplo, que a variagio de prego do produto que roré pradusida par aquele cequipamenta iguale a taxa de inflacio; logo, torna-se necessério apenas a comparacio em termos teais, Esse ponto serd discutido no Capitulo 10, ao analisarmos 03 modclos de investimento. 218 _sanval de Macroeconomia + Lopes eVasconcllos Conforme demonstrado no Apéndice, supondo a tributagdo como fungéo da renda (T = tY) e a fungio investimentos como fiuncao da taxa de juros (I = [y = dr), a curva IS pode ser expressa algebricamente como ¥=[U/G-c (1-91 (Cy + 1p + Gy) - a] ou Y =a (A-dr) onde: «& = multiplicador keynesiano [1/(1 -c(1 -#))] A ~ volume de gastos auténomos ~Cy | Ip | Gy ilidade do investimento em relac¢do a taxa de juros d — sensil = taxa real de juros Como r —m, alS fica: Y=a(A-ditdn) A curva LM é expressa como: MP = L(Y,i) Assim, quando trabalhévamos com pregos constantes, a expectativa infla- cionéria podia scr considerada nula, isto 6, x? — 0, com o que a IS podia ser ex. pressa em termos de taxas nominais, e a intersec¢ao da IS com a LM definia a taxa de juros de equilibrio, sendo que a real € a nominal possufam v mesiny va~ lor. Ao considerarmos a variacao de pregos ¢ a inflacao, torna-se diferente de zero, fazendo com que as taxas de juros, real e nominal, passem a ser diferentes. Notemos que, para dada taxa nominal de juros, a taxa real de juros sera tanto menor quanto maior a expectativa de inflago. Assim, com aumentos em m*, 0 investimento tende a aumentar a uma mesma taxa nominal de juros, deslocan- do, portanto, para cima e para a direita a curva IS. O montante do deslocamento da TS seré igual a variago em x medido verticalmente. Esse processo pode ser visto no grafico da Figura 5.35. 15, (xf > 0) 15, (f= 0) y Figura 5.35 Bfeito Fisher. Modelo IS-LM: aInerligaco entre o Lado Reale Lado Monetirio 219 Com o deslocamento da IS, tanto o nivel de renda como a taxa nominal de juros scrao mais elevadas. O aumento da renda provoca a elevagao da demanda de moeda; para manter o mercado monetario em equilibrio, é necessérin que a taxa nominal de juros se eleve. A taxa real de juros, porém, se reduz, 0 que pos- sibilita a amplia¢ao do investimento, induzindo a elevagao da rend: Portanto, o motivo pelo qual a ampliagao das expectativas inflaciondrias eleva a renda é a queda da taxa real de juros, mesmo com elevacio da taxa nominal, que se faz necessaria para equilibrar o mercado monetativ. Se toda elevagdo na inflagao esperada se transformasse em aumento da taxa nominal, a taxa real ndo se alteraria, e nao haveria qualquer alteraco na renda, Dessa forma, percebemos que o efeito sobre a renda dependeré dos mes- mos fatores que afetam a eficdcia da politica fiscal, destacando-se a inclinacéo da curva LM. Quanto maior a inclinagao desta tltima, ou seja, quanto menor a sensibilidade da demanda de moeda em relaydo & axa nominal de juros, maior serd a variagdo da taxa nominal em resposta a mudanca na inflacdo esperada; logo, menor ser4 a variagio na taxa real de juros e, por conseqiiéncia, menor a alteracao do investimento e do nivel de renda TA no caso em que a demanda de moeda é muita sensivel em relacia & taxa nominal de juros, a maior parte da variag4o na expectativa de inflagao recair sobre a taxa real de juts, pruyucaudy waiur variaydo do investimento e da renda. Considerando 0s dois casos limites estudados anterinrmente — a case clée- sico ea armadilha da liquidez -, teremos: i, mo caso classico, um aumento da inflacdo esperada ser totalmente re- passado para a taxa nominal de juros, mantendo inalterada a real; logo, no provocard impacto sobre a renda: ii, na armadilha da liquidez, um aumento na expectativa de inflagao pro- vocard uma redugao de igual magnitude na taxa real de juros. Estes dois casos podem ser vistos nos gréficos das Figuras 5.36 e 5.37. 15; (2 > 0) 15, (#*=0) Figura 5.36 Efeiro Fisher e modelo classico. 220 Manual de Mecrocconomia + Lopes. vasconelios 15, (2 > 0) 15, (af =0) Figura 5.37. Efeito Fisher e armaditha da liquidez. Um tiltimo ponto a ser destacado em relacao ao efeito Fisher € 0 que ocorre quando se espera uma deflacio, isto &, 2° < 0. Neste caso, a0 contrario daque- le em que se espera uma inflagao positiva, o comportamento das taxas de juros seguirdo uma trajetéria oposta. As taxas nominais de juros se reduziraio, mas as laxas reais de juros se clevardo, provocande queda do investimento ¢ da renda. ‘Temos um deslocamento da IS para a esquerda e para baixo. Esse ponto ¢ freqtientemente levantado nos debates sobre as causas da grande depressio dos anos 30 nos EUA. Segundo alguns autores, a queda das taxas no- minais de juros naquele perfodo nao significava uma politica monetaria folgada; pelo contrario, mostrava uma politica monetaria apertada. Com a deflagéo ocor- rida, apesar de as taxas nominais estarem em queda, as taxas reais se elevaram significativamente, provocando a brusca queda do investimento e da renda. 0 impacto da deflacio neste arcabouco pode ser visto no grafico da Figura 5.38. Figura 5.38 Efeito Fisher ¢ deflagao.

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