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Modelo Keynesiano Simples de Determinacdo da Renda a Curto Prazo (o Lado Real) Introdugao ‘omo visto no capftulo anterior, para a teoria classica, deixando o mercado funcionar livremente, e na auséncia de imperfeigOes, a economia tenderia a atingir um equilibrio de pleno emprego. De acordo com essa teoria, nao haveria 29 chamado desemprego involuntério, isto é, pessoas desejando trabalhar ao ni- vel de salirio de mercado, e que nao obtivessem emprego. © desemprego, neste sentido, s6 poderia ser causado pelo fato de os trabalhadores quererem receber acima do salério de mercado, ou seja, constituir-se-ia 0 chamado desemprego voluntério. Assim, a diminuicdo do desemprego seria feita através da queda do salario. Observando a economia mundial no inicio dos anos 30, constatamos que 2 teoria classica nao dava conta de explicar o que estava ocorrendo na chamada Grande Depressi. Apesar dos saldrios nominais estarem despencando, o desem- prego foi crescente nos primeiros anos da década, tendo atingido o pico de 25% a0 ano de 1933, on seja, um quarto da forca de trabalho no conseguia emprego, mesmo aceitando redug6es de salArio. As livres forgas de mercado nao pareciam ser capazes de recolocar a economia no trilho do crescimento e da plena ocupa- sdo da fora de trabalho. Nesse contexto, comecaram a ganhar vulto idéias que viam 0 problema da Depressio como insuficiéncia de demanda agregada. Com isso, mudava-se o foco 4a andlise, saindo da Oferta Agregada, das condigGes leanulgicas e do estoyue 140 Manual de Macrozconomia + Lopes ¢ aseoncelos de fatores de producdo, como determinante do nivel de produto, passando para a andlise da Demanda Agregada. ‘A principal contribuicdo nesse sentido foi a obra de John Maynard Keynes, A teoria geral do emprego, do juro e da moeda (1936), em que o autor desenvolve © chamado Principio da Demanda Efetiva como base para a determinacdo do produto e da renda. Rompia-se com a idéia de passividade da demanda e 0 auto- matismo de sua adequacio a oferta, conforme formulado na Lei de Say discutida no capitulo anterior. Keynes nao foi o tinico autor a desenvolver o principio da demanda efetiva e mostrar as limitagdes impostas pela demanda. Trabalhando independentemente, co economista polonés Mikail Kalecki chegou a conclusdes semelhantes as de Key- nes, com base em um referencial distinto. Ao final deste capitulo, apresentaremos ‘um apéndice no qual detalharemos um pouco as idéias deste autof, seu modelo para o funcionamente do sistema econémico ¢ suas principais conclusdes. Neste capitulo e no seguinte, discutiremos a formulagéo convencional do chamado modelo keynesiano, o modelo keynesiano simples e o modelo IS-LM, respectivamente. Principio da demanda efetiva De acordo com Keynes, 0 empresario toma sua decisdo de quantos traba- Ihadores contratar e de quanto produzir com base em quanto ele espera vender. Para 0 autor, o empresério se defronta com duas curvas virtuais que ele deno- mina de: i, Oferta Agregada: a renda necesséria para o empresario oferecer deter- minado volume de emprego; e ii, Demanda Agregada: a renda que o empresirio espera receber por ofe- recer determinado volume de emprego, ‘A curva de oferta agregada de bens © servigos reflete ac condigses de custos marginais crescentes ¢, como tal, a ampliagao do emprego eleva a renda neces- séria para o empresdrio. Jé a demanda agregada reflete as expectativas dos em- presdrios sobre 0 volume de gastos dos consumidores e dos demais empresarios (investimento).. ‘A maximizagéo de lucro faz com que 0 emprego aumente enquanto a ren- da espetada pelu cmprego adicional superar a renda nececséria. O volume de ‘emprego serd determinado pelo ponto de interseccio da oferta agregada e da demanda agregada. Neste ponto, estabelece-se 0 nivel de produgao e assim a demanda efetiva de trabalho. Observamos, portanto, que definir o volume de Modelo Reynesiano Simple de Determinagio da Renda a Curto Prazo (0 Lado Real) emprego é uma atribuicdo dos empresérios, com base em quanto eles esperam vender, ¢ nao do mercado de trabalho, como no modelo classico. Dessa forma, em uma situacdo de desemprego, segundo Keynes, de nada adianta a reducao salarial para induzir maiores contratagdes se os empresdrios acharem que néo terdo para quem vender a producao adicional. Nesse sentido, reduces salariais ainda podem ter um sinal adverso sobre as expectativas dos empresarios, pio- rando ainda mais 0 desemprego. Do mercado de traballiw descrito pela teoria classica, s6 6 admitida por Key- nes a curva que iguala o saldtio real a produtividade marginal do trabalho (a de- manda de trabalho). Quanto ao comportamento dos trabalhadores, para Keynes, estes lutam por saldrios nominais, sobre o qual possuem controle, mas nao por saldrios reais, que néo conseguem controlar. O nivel de emprego é determinado no mercado de bens e servigos pelas expectativas dos empresérios. Dado o nivel de emprego, o salério real se ajustar4 para igualé-lo com a produtividade marginal do trabalho compativel com 0 referido emprego, definindo o tamanho da massa salarial. Essa €a fungao da curva de demanda de trabalho no arcabouco keynesiano. Como a produtividade marginal do trabalho é decrescente, expansées do em- prego séo acompanhadas por quedas no salério real, sendo, portanto, anticiclico 0 comportamento dos salaiios reais, mas no é sua queda que induz 0 crescimento do emprego e do produto, pois a causagéo é justamente a inversa. Dada a massa de salrios reais, a disputa dos trabalhadores por salérios no- minais é uma luta pela repartico dessa massa salarial entre as diferentes catego- rias. Com isso, explica-se a inflexibilidade para baixo dos saldrios nominai pois em uma situago de desemprego teriamos a seguinte situacZo: se uma ca- tegoria qualquer aceitasse redugdo de saldrio nominal, isto em nada garantiria a ‘obtengio de maior quantidade de emprego, mas com certeza, se as demais nao a seguissem, significaria perda de parcela da renda real por esta categoria. Como ado controlam os pregos, e dada a disputa pela distribuicdo do salario nominal, é totalmente racional da parte dos trabalhadores lutarem por salrios nominais nao por salérios reais, a0 contrério do preconizado pela teoria clssica, que nnsideraria irracional este comportamento. Assim. para analisarmos a determinacao da nivel de produto @ de empraga 2, por conseguinte, a causa do desemprego, deve-se olhar o comportamento da demanda efetiva. Em linhas gerais, esse ¢ 0 chumado Principio da Demanda Efetiva, que contrapoe- se frontalmente com a Lei de Say e com a hipétese da flexibilidade de pregos e saldrios da zeoria cléssica. Oo priucipais cuimponentes da deumauda s4o 0 consumo € o investimento. Como veremos, mais adiante, Keynes considera o consumo agregado uma fun- so estvel da renda: 0 consumo se amplia conforme cresce a renda, mas ndo na aesina niagnitude. Keynes definiu uma variével chamada propensao marginal 141 142__Manual de Macroesonomia + Lopes evasconcllos a consumir, que mostra qual o aumento do consumo, dado 0 aumento no vel de renda. Seu valor é influenciado por uma série de fatores tanto objetivos (distribuicao de renda, necessidades biolégicas etc.) como subjetivos (avareza, precaucio etc.), sendo que deve ser positivo (maior que zero), mas inferior 4 unidade (a coletividade nao consome toda a renda que recebe). A estabilidade do valor da propenso marginal a consumir faz com que a instabilidade da demanda, que provoca as flutuac6es econdmicas, nao decorra do consumo, mas das flutuagdes do investimento. No modelo keynesiano, 0 inves- timento é tanto um elemento de demanda agregada a curto prazo, como também um elemento da oferta agregada a longo prazo, ao ampliar a capacidade produtiva. Ao tomar a decisdo de investimento, o empresirio esta interessado no retorno que um dado bem de capital Ihe conferiré ao longo de sua existéncia. Isto est rela- cionado tanto ao custo do investimento como as condi¢des do mercado de bens, no momento que a producao adicional do novo investimento entrar no mercado (preco e quantidade vendida do produto no futuro), sobre 0 qual o empresério possui apenas uma cxpectativa, mas nao o conhece de fato. Assim, a decisdo de investir ¢ tomada a partir do confronto entre o valor presente do fluxo de receita esperada do investimento, o qual Keynes denomina como prego de demanda do bem de capital, trente ao custo de realiza-lo, deno- minado preco de oferta do bem de capital. Com base nessas duas definigées, © autor define a chamada Eficiéncia Marginal do Capital como sendo a taxa de desconto que iguala o fluxo de reccitas coperado ao custo do investimento. Se esta taxa for superior & taxa de juros, que corresponde ao custo de se obter empréstimos para realizar o investimento ou o custo de oportunidade de se imo- bilizar os recursos, o empresdrio investe; se for o contrario, no investe O problema, segundo Keynes, é que a Eficiéncia Marginal do Capital é muito instével, uma vez que é calculada a partir de expectativas dos empresérios, cuja base para formagiio é bastante precaria, uma vez que nosso conhecimento sobre © futuro é bastante limitado, reinando um ambiente de incerteza e ignorancia sobre as condig&es vigentes a longo prazo. A Eficiéncia Marginal do Capital pode alterar-se tanto por presses na indiistria produtora de bens de capital, como por mudancas no estado de espirito dos empresarios. Com isso, o investimen- to tende a sofier fortes oscilagscs, impactando o nivel de demanda agregada ca atividade econdmica Para estabilizar a economia, Keynes propde uma atuagao mais efetiva do Estado, tanto por meio de gastos piblicos, que compensem a falta de demanda privada, quanto pelo direcionamento ¢ incentivos aos investimentos, via reducao da carga tributéria etc. A principal proposta de Keynes consistia no desenvolvi- mento de mecanismos fiscais compensatérioa que permitissem contrabalancar a falta de gastos privados, quando se deteriorassem as expectativas ou que di- minufssem os impetos expansivos (desestabilizadores) nos momentos de euto- ria do setor privado. Dentre as propostas, destacam-sc, por cxemplo, 05 meca- Modelo Keynesiano Simples de De nismos de protecao social - seguro desemprego, assisténcia social etc. - cujas transferéncias tenderiam a crescer com 0 aumento do desemprego, colaborando para manter © consumo elevado, e se retrairiam naturalmente com a retomada do emprego. Além disso, um sistema de tributagdo progressiva pode colaborar para, em momentos de retracao econémica, diminuir a carga tributdria do setor privado liberando maior quantidade de recursos para gastos, na expansio, via subtracdo da renda do setor privado, o que conteria os gastos (ou seja, um siste- ma de impostos progressivos funciona como um estabilizador automatico das flutuagbes ciclicas da economia). Agsitn, da forima como Keynes caracteriza o sistema economico, sua princ- pal contribuicdo normativa foi propor o uso de politicas fiscais compensatérias que tenderiam a ser muito mais eficientes do que instrumentos monetaios, cuja eficacia dependeria de duplo condicionante: a capacidade da politica monetaria em afetar as taxas de juros, e uma vez que tenha afetado, que esta nao seja so- brepujada por alteragdes na eficiéncia marginal do capital, que limitem o impacto das alteragGes na taxa de juros sobre o investimento. Discutiremos neste capitulo uma formulacao simples das idéias de Keynes, especificamente o lado real, que serd depois mais elaborada no capitulo seguinte, por meio da chamada andlise de Hicks-Hansen, vonhecida como modelo 15-LM, quando interligaremos o lado real e o lado monetério. Modelo keynesiano simples (0 lado real) A idéia basica do modelo é de que 0 produto (a renda) é determinado pela demanda agregada, nao existindo restrigdes pelo lado da oferta para a expansio do produto. Consideramos a existéncia de recursos desempregados em nivel suficiente para que as empresas possam oferecer qualquer quantidade de pro- duto sem pressionar seus custos unitarios, ou seja, qualquer nivel de demanda pode ser atendido em um nivel de precos dado (constante). Diferentemente do modelo classico, em que o nivel de produto era dado e independente do nivel de pregos, caractcrizando a oferta agregada vertical de pleno-cmprego (inclastica a pregos), no caso keynesiano as empresas podem oferecer qualquer quantidade a um nivel de pregos estabelecido, isto é, a oferta agregada ¢ infinitamente elistica em relag&o aos precos (oferta agregada horizontal), de tal forma que a demanda agregada é que determina o nivel de produto. Ou seja, prevalece o principio da demanda efetiva, apresentado no tépico anterior. Neose modelo em que 00 pregos ofio constantes ¢ a varidvel de ajuote é a quantidade, as empresas produzem justamente o necessério para atender a de- manda. O mecanismo de ajustamento deixa de assumur a forma de elevagoes de pregos, quando existe excesso de demanda, ou queda de presos, quando ocorre ago da Renda a CurtoPrano (0 Lado Real) 143 144 aanual de Macrocconomia + Lopes e Vasconcelos, excesso de oferta, transformando-se em alteragdes na quantidade produzida de acordo com a demanda. Graficamente, no eixo prego-quantidade, teriamos (Fi- gura 4.1): Figura 4.1 Curva de oferta agregada. A condicio de equilibrio, no mercado do produto, é dada por: Oferta Agregada de bens e servicos = Demanda Agregada de bens e servicos Considerando inicialmente apenas consumo ¢ investimento, isto é, uma eco- nomia fechada e sem governo, temos que: Y=C+l onde ¥ é 0 produto real, C as despesas de consumo e I os gastos com investi- mentos. De acordo com a contabilidade nacional, como vimos, esta igualdade sempre se verifica. Isto decorre do fato de considerar-se como investimento ndo apenas a aquisic¢éo de novos bens de capital, mas também a variagao de estoques. comportamento dos estoques nao segue necessariamente o planejamento dos cempresarios, mas pode decorrer de mudancas nas condicGes de mercado. Em um dado momento, se a produco estiver acima da demanda, as firmas veréo seus estoques crescendo, pois no encontrarao destino para seu produto. Assim, In- dependente de terem planejado acumular estoques, séo obrigados a fazé-lo, pois ‘© mercado nao absorve tudo o que produziram. Por outro lado, se a producéo estiver abaixo da demanda, as firmas terdo que atender esta maior demanda por meio da venda de produtos em estoque, também independente de terem como objetivo desacumular estoques. \Nesse sentido, o investimento deve ser decomposto em duas partes: v cle mado investimento voluntério ou planejado (intencional) que corresponde as aquisicdes de bens de capital pelas empresas e a variagdo pretendida no nivel de estoques, e 0 chamado investimento involuntario ou nao planejado em Modelo Keynesiano Simple de Determinacho de Renda e Cura Prazo (0 Lndo Real) 145: estoques, que corresponde a variagSes no nivel de estoque decorrentes de erros na previsfo do nivel de produgio realizados pelas empresas. equilibrio corresponde a uma situagao em que a variacao naa planejada de estoques seja zero (os estoques so aqueles planejados pelas empresas), e além disso, 0 consumo das familias seja exatamente igual ao consumo planejado, 0 que € uma hipétese realista, j4 que os gastos em consumo apresentam razodvel previsibilidade. Ou seja, o nivel de produto é o suficiente para atender os gastos intencionais dos agentes econdmicos. Assim, = Fastotiria * Hilaevio ‘A demanda agregada efetiva (medida nas contas nacionais), em termos ex post, 6 dada por DA c+ va Esta, por definigao, ¢ igual ao produto, uma vez que considera o investimen- to involuntério: DA, 1 Wow Jd a demanda agregada planejada (intencional). em termos ex ante corres- ponde a: DA stanjeada = © + Lrtunerio Temos, entéo: Toevounetio = DA geina ~ DA sana Ou sej Trgotatévio = ¥ = (C + Lrotesivio) © equilibrio se dé quando: Toyvoantéris = © Assim, se 0 produto é inferior 4 demanda agregada planejada, contigura-se uma situagio de excesso de demanda, provocando a retragdo dos estoques, ou 5€)8, © Tinotundrio® MENOT que zero. Em uma situag4o como esta, as firmas contra- taro mais trabalhadores e ampliardo a producto, de modo a atender a demanda, tal que a variacdo indesejada dos estoques seja zero. Na situago oposta, se a produgao estiver acima da demanda agregada planejada, haverd cavessu Ue Uferta, Lum ad fititas udu Cuuseguindy vender tudo que planejavam. Com isso, os estoques estardo se acumulando, isto 6, 0 stuneiria S€T4 maior que zero, forcando as empresas a retrairem a producio, de modo a cessar 0 aumento dos estoques. 146 _Manusl de Macroeconomia + Lopes e Vasconcllos_ Dessa forma, pela resposta da producdo ao movimento dos estoques, a eco- nomia tende A situagio de equilibrio em que o nivel de produgao iguala-se a de- manda agregada planejada, isto é em que 0 investimento involuntario € nulo. ‘Notamos que os precos nao desempenham qualquer papel no ajustamento eco- némico, que se dé pelo movimento de estoques. Isso também é chamado de po- litica de ajustamento de estoques. ‘Como estamos interessados nos determinantes da renda de equilibrio, pas- saremos a utilizar apenas a nocdo de demanda agregada planejada e investimento voluntério, ao nos referirmos a estas varidveis. Para analisarmos a determinagio da renda de equilibrio, vamos supor ini cialmente que 0 nico componente da demanda seja o consumo, tal que, em equilibrio: Y=DA, ETC} De acordo com a formulaco keynesiana, conforme vimos no item anterior, ‘© consume aumenta conforme aumenta a renda, mas em menor magnitude. Po- demos expressar a fungéo consumo da seguinte forma: c=cty) Supondo uma fun¢ao linear, C=Q+y¥ onde: C, = consumo auténomo (C, > 0) ¢ = propensao marginal a consumir (0 <¢ < 1) O consumo auténomo corresponde aquele consumo que independe do ni- vel de renda, ou seja, existe mesmo que a renda seja zero. Poderiamos pensar em termos de consumo de subsisténcia financiado por venda de ativos previamente acumulados, ou por ajuda externa etc. A propensao marginal a consumir (c) mostra a parcela da renda destina- da ao consumo: quanto cresce o consumo, a partir de aumentos de renda. Por exemply, supuido ume propensio marginal a consumir igual a 0,8, significa que, dado um aumento da renda de R$ 10 bilhGes, a coletividade tende a consumir RS 8 bilhGes. Supondo-se uma fungdo consumo linear, a propenséo marginal a consumir, que é a declividade ou coeficiente angular da fungao, é constante. Fm equilibrio. o produto ¢ igual demanda agregada que, por enquanto, é igual ao consumo. Assim: condiggo de equilibrio: OA =DA oferta agregada: oa=y¥ demanda agregada: DA=C-Cyt+e¥ oso Keynesian Simple de Deseminain da Renda Cute Pazo (Lado Real) 147 Substituindo a OA ea DA na condi¢éo de equilibrio, tem-se Y=Cj+e¥ Resolvendo para ¥, obtemos a renda de equilibrio ¥,, Y-c¥=C, YS Gay Graficamente, podemos ilustrar esta condico da seguinte forma: definindo a ordenada do grafico como sendo a demanda agregada e a abscissa como o pro uto, e tracando uma reta de 45° dividindo o quadrante em duas partes iguais, temos que qualquer ponto sobre esta reta significa a igualdade entre os valores representados no eixo horizontal e no eixo vertical. Ou seja, a reta de 45° repre senta os pontos nos quais a condicao de equilibrio entre OA e DA se verifica, Em seguida, representemos a funcdo demanda agregada, que, por enquanto, se tes- tringe @ funcao consumo. O consumo auténomo representa o intercepto da fundo no eixo vertical e a propensio marginal a consumir 6 a inclinaga da funcdo, O equilfbrio se dé no ponto onde a funcio demanda agregada (consumo) intercepta a reta de 49°. Isso ¢ mostrado no primeiro dos gréficos da Figura 4.2. Figura 4.2 Fquilibrio no modelo keynesiano basico. 148 _Manusl de macrosconomis + Lopes e Vasconcelos z - O segundo grafico da Figura 4.2 mostra que 0 equilibrio também pode ser expressado recorrendo a fungao poupanca. Pela definigiio de poupanga, sabemos que esta corresponde a renda nao consumida. Assim, podemos obter a funcio poupanca da seguinte forma: S=Y¥-C S=¥-(G+e) S=,+(1-0¥ ‘Como a poupanca € o residuo da renda que nao é consumido, sua funcao é exatamente o complemento da fun¢4o consumo. Portanto, o intercepto da fun- do poupanga é 0 consumo auténomo com sinal negativo, sinalizando que o que financia um nivel minimo de consumo, quando nada se produz, éa despoupan- ¢a (poupanga negativa). Assim como 0 consumo, a poupansa aumenta conforme aumenta a renda, mas em menor magnitude. O aumento da poupanga é exatamente a parcela do aumento da renda que ndo se direciona ao consumo. Assim, (1 ~¢) correspondea iaiada propeusdv masginal a poupar, que mostra quanto aumcnta a poupanga quando a renda aumenta uma unidade. Notemos que a soma da propenséo mar- ginal a consumir e da propensdo marginal a poupar é igual a unidade, isto é: c+(l-Qe1 Nesse modelo simplificado, em que s6 estamos considerando a existéncia do consume, o equilibrio em que o produto ¢ igual ao consumo corresponde a ‘uma situago em que o nivel de poupanga é igual a zero, uma vez que toda ren- da é consumida. Considere o seguinte exemplo: suponhamos que a fungo consumo seja dada pela seguinte expressio: C= 100 + 0,8¥ Nesse caso, 0 consumo auténomo é igual a 100 e a propens4o marginal a consumir igual a 0,8. Como a demanda restringe-se ao consumo, temos a se- guinte situagio de equilibrio: Yec Y= 100 + 0,8Y Y-0,8Y = 100 7-08) = 100 1.100 = 08 149 Modelo Keynesiano Simples de Determinasio da Renda a Cuto Prazo (o Lado Real) ¥, = 500 © mesmo resultado pode ser obtido com base na funcdo poupanga: S=¥-C com C = 100 + 0,8Y, por complemento, temos que s 100 + 0,2Y sendo 0,2 0 valor da propenséo marginal a poupar. No equilibrio, como 36 existe o consumo: s ° logo, =100+0,2¥=0 500 Modelo keynesiano com consumo e investimento Introduzindo o investimento, vamos consider4-lo como sendo fixo, isto é auténomo em relagao a renda, I= 0 Em outras palavras, supomos que o investimento nfo depende do nivel de renda (qualquer que seja o nivel de renda, 0 investimento é um valor constan- te)! Com o investimento, a demanda agregada transforma-se agora em: DA=C+Iy Lembramos que, no modelo keynesiano de curto prazo, 0 investimento é um ‘alemento apenas de demanda agregada. Sua influéncia sobre a produgio agrega- da dé-se a longo prazo, apés a sua maturacio. A condi¢ao de equilfbrio continua sendo a de produto igual a demanda, 56 que agora a iltima é acrescida do investimento. Assim, a renda de equilibrio sera dada pela seguinte expresso cri No Capitulo 10, investigaremos mais detathadamente os determinantes do investimento azregado. 150 Manual de Macrosconomia + Lopes ¢ Vasconcelos YaC)+e¥tly (Cy +h) Graficamente, quando introduzimos o investimento como variavel de gasto auténomo, a fungio demanda agregada desloca-se paralelamente para cima em magnitude igual ao valor do investimento, pois este é constante por hipétese. Analisando pela ética da poupanca, percehemos que a condicao de equilibrio Y = DA, transforma-se em S = I. Assim, a renda de equilibrio é determinada no ponto em que a funyau poupanya intercepta a fungao investimento. Esa forma de determinar 0 equilibrio macroeconémico a chamada ética dos vazamen- tos e injegGes de renda. Os vazamentos de renda ocorrem quando hé quedas auténomas da demanda agregada, enquanto as injegdes de renda representam aumentos auténomos da demanda agregada. Tipicamente, aumentos da poupan- ca (e, como veremos mais adiante, dos tributos e das importagdes) representam vazamentos no fluxo de renda, deslocando a curva de demanda agregada para baixo, e provocando per se queda na renda de equilibrio. Por outro lado, aumen- tos nos gastos com investimento (e também das despesas do governo e expor- tages) representam injegdes ao fluxo de renda da economia. Os graficos da Figura 4.3 mostram as duas formas de se verificar 0 equilibrio macraecandmica, na modelo keynesiano simples. Figura 4.3 Equilibrio no modelo keynesiano bsico, incluindo investimen- 0s auténomos. Modelo Keyasiano Simples de Determinacio da Renda a Curt Prazo(o Lado Real) 151 A analise desenvolvida até 0 momento nos permite concluir que © nivel da rende equilibrio depende da propensao marginal a consumir ce do nivel de gastos auténomos (C, ¢ [,). Quanto maiores forem estas variveis, maior serd a renda de equilibrio. Assim, aumentos no investimento ou no consumo autno- ‘mo ampliardo a renda pelo desiocamento para cima da fungo demanda agrega- da, Aumentos na propensao marginal a consumir ampliarao a renda, ao tornar a fungdo demanda agregada mais inclinada. O leitor pode, como exercicio, repre- sentar graficamente essas situacées. Para mostrar numericamente, vamos introduzir uma demanda de investi- mentos de R$ 200 no exercicio anterior. Teremos entao: condigao de equilibrio. Y=C+I fungéo consumo C= 100 + 08Y funcao investimento I 200 ‘Substituindo C e I na condigdo de equilibrio, temos: ¥— 100 + 0,8Y + 200 Resolvendo para ¥, temos: Y, = 1.500 Ou entao, em vermos de poupanga € Investimento (vazamentos € inje- ses): condigao de equilibrio $ fungéo poupanga $= -100+02¥ funcao investimento 200 2, entéo: ~ 100 + 0,2¥ = 200 Resolvendo para ¥, temos novamente: ¥, = 1.500 Multiplicador de gastos De acordo com os exemplos apresentados, perceberos que, no primeiro mo- delo, quando a demanda agregada era composta apenas pela fungdo consumo, a enda de equilfbrio era de R$ 500. Ao introduzirmos o investimento de R$ 200, 152._Manual de Macrocconomia + Lopes e Vseorcellos arenda de equilibrio passou para R$ 1.500. Porque um gasto adicional de R$ 200 levou a um crescimento da renda de R$ 1.000, ou seja, cinco vezes mais? A resposta é dada pelo chamado multiplicador de gastos, segundo 0 qual uma variagao nos gastos auténomos induz uma variagao na renda superior A va- riacfo inicial nos gastos. Genericamente, é dado por: so variagio da renda nacional __AY multiplicador de gastos = “S80 CES ee = variacéo quténoma na ADA demanda agregada A variacao inicial na despesa tem um impacto imediato e direto sobre a renda daqueles que sio beneficidrios desses gastos. Ao receber esta renda, os indivi- duos ampliarao seu consumo de acordo com a propensdo marginal a consumir, levando & nova ampliagdo da renda. Os agentes que forem beneficiados por esta nova ampliagéo da renda também ampliardo seu consumo, gerando novo acrés- cimo de renda, e assim sucessivamente. Nessa forma, os acréscimos de consumo induzidos pelo gasto inicial fazem com que a renda cresca mais que a variagao da despesa inicial Temos a seguinte seqiiéncia: Al; cal; e(ean); c(c(c AN); « ou Al; cAl; cAI; cl; c#AG; Assim, com base em uma despesa inicial, temos uma seqiiéncia de despesas induzidas, Esta série constitui-se uma progresséo geométrica de razo c, com ¢ < 1.0 impacto total sobre a renda decorrente do gasto inicial € 0 somatério da seqiiéncia acima, Tal soma pode ser expressa como: AY = Al + cA + 7Al+ AI + CHAI +. 1 ay =——-Al ¢ O termo 1/(1 ~¢) €o chamado multiplicador de gastos,’ sendo que este scra tanto maior quanto maior for a propenséo marginal a consumir, uma vez que neste caso, quanto maior c, maiores serao os gastos induzidos por uma variacao inicial na despesa. Cum 1 ~¢ é a prupenséo marginal a poupar, o multiplicador necte caso é exatamente 0 inverso de quanto os individuos destinam & poupanca. Neste caso especifico, ¢ © multiplicadlor de gusius Ue investimentos (A), mas © conceive & vvilido para qualquer deslocamento auténomo da demanda agregada (AG, AX, como veremos mais, adiante), No exercicio anterior, como a propensao marginal a consumir é igual a 0,8, © valor do multiplicador de gastos seré igual a: 02 Ou seja, dado um aumento auténomo na demanda agregada (seja nos in- vestimentos [, no consumo auténomo C,), a renda aumentard em 5 vezes 0 au- mento auténomo. Por essa razdo, quando introduzimos uma variac&o no inves- timento de R$ 200 (AI = 200), a renda de equilibrio passou de R$ 500 para R$ 1.500 (AY = 1.000). Entretanto, vale ressaltar que o multiplicador também tem um efeito ampli- ficador que pode ser perverso no caso de quedas auténomas de demanda agre- gada: se os investimentos cairem de R$ 200, a demanda agregada caird em cinco vezes mais (R$ 1.000). Um ponto interessante a destacar no processo do multiplicador é que 0 crescimento da renda, por meio do efeito multiplicador, gera um crescimento da poupanca em magnitude igual a despesa inicial. O aumento da poupang se 4 de acorda com a seguinte seqiiénciay (-OAE (-OcAr A-OcA 1 -O8Ar (1 -c)efAl; O somatério desta seqiiéncia & as Q-oar AS = Ar Notemos que a poupanga é vista como um residuo nesse modelo. A falta de poupanga no se constitui um entrave 4 expansio dos gastos, pois estes induzem a poupanca necessaria para financiar-se. essa andlise, podemos concluir um segundo ponto interessante: o que pode acontecer, em dado pais, onde se faca uma campanha para elevar sua taxa de poupanga. De acordo com este modelo, se os gastos aut6nomos forem mantidos nalterados, uma elevacao da propensao marginal a poupar levara a uma queda da renda.} Este é o chamado Paradoxo da Parciménia. Uma elevacdo da taxa de poupanca da sociedade a tornaria mais pobre. Notemos a diferenca em relagdo ao modelo cléssico discutido anteriormen- te, Naquele, o nivel de poupanga, dado 0 nivel de renda, era uma rectrigo a0 investimento, que se igualaria & poupanca através das flutuag6es da taxa de ju- ‘Observe que um aumento da propensdo marginal a poupar cignifica uma diminuigso da propensio marginal a consumir, diminuindo @ inclinago da Demanda Agregada nos graficos, apresentados. Modelo Keynsiano Simples de Determinagio da Renda a CurtoPrazo( Lado Real) 153 154 _ Manual de Macroeconomla + Lopes e Vasconcellos ros. Neste, qualquer nivel de investimento por meio do ajustamento do produto sgera a poupanca necesséria Percebemos ento, no modelo exposto até 0 momento, sem restrigdes & ex- pansio do produto, que, havendo disposi¢ao ao gasto, o emprego e 0 produto iro aumentando. Qual é 0 limite deste processo? Como vimos no capitulo anterior, o estoque de fatores de producio ea tecnologia definem o chamado produto po- tencial, ou o produto de pleno emprego, aquele obtido quando todos os fatores de producdo esto sendo utilizados, a uma dada tecnologia. Vimos também que quando a economia se encontra ao nivel do produto de pleno emprego, altera- es na demanda repercutirao basicamente sobre os pregos. Isto parece total- mente intuitivo: uma vez esgotada a capacidade ociosa, isto é, se nao houverem mais fatores de produgio disponiveis, mesmo que haja demanda adicional, nao ha como elevar o produto. Assim, chegamos seguinte conclusao: 0 modelo keynesiano, tal como, descrito neste capitulo, é valido em situag6es em que exista capacidade ociosa. Uma vez atingido o limite da capacidade produtiva, uma expanséo da demanda levard, como no modelo clissico, & eleva¢ao dos precos. Podemos assim definir © chamado hiato inflacionario no modelo keynesiano, que corresponde ao ex- cesso de demanda em uma situacao de pleno emprego. Esta situaydu pode ser vista na Figura 4.4, Figura 4.4 Hiato inlacionério. Assim, as conclusées a que chegamos neste capitulo sao validas para uma ituago de desemprego; atingido o pleno emprego, variagdes de demanda re- sultam em variagGes de precos.* Keynes, na Teoria Geral, colocava seu modelo como valido para qualquer caso, seja desemprego bu plenu cuipreye, selusinly, asin, a teva elgosica @ um case particular de ava teorie, quando todos os fatores de producio estivessem empregados. O avango da macroeconomia e as recentes discussoes economlcas que serd Vistas 20 longo do lity pesliven um leitura oposta, qua sa, Ciclo de estoques jo da Renda a Curto Prazo (0 Lado Real) _1 Antes de avangarmos no modelo basico, introduzindo o governo e o setor externo, é oportuino ja indagar nesta altura como ocorre a trajetéria de um ponto de equilibrio para outro, Isso ¢ importante para explicar as flutuacées ciclicas da economia, que discutiremos mais detalhadamente no Capitulo 8 (Ciclos Econd- micos). A questo que colocamos é a seguinte: vamos supot, em nosso exemplo com consumo ¢ investimento, que o nivel original deste tiltimo, antes de passar para R$ 200, forse de RS 140, originando uma senda de eyuilfbrio de R¢ 1.200. Se a economia estivesse inicialmente em equilibrio, como ela atingiria © novo equilibrio de R$ 1.500? Vamos supor, adicionalmente, que as empresas tenham Por meta manter 10% do valor da demanda agregada 11a forma de estoques, para atender eventuais faltas de produto. Assim, no momento que o investimento passa de 140 para 200, as empresas, esto produzindo R$ 1.200, que corresponde av antigo equilibrio. A demanda agregada, no momento inicial, passa a ser de: DA=C+I C= 100 + 0,8Y 1 = 200 DA = 100 + 0,8Y + 200 Com ¥, 1.200, tem-se C = 1.060, e entdo: DA = 1.260 Ou seja, haverd um excesso de demanda de R$ 60, que deverd ser atendido ela reducdo dos estoques. Quando a renda de equilibrio era R$ 1.200, as em- presas mantinham estoques no valor de R$ 120. Com o atendimento do excesso de demanda, estes estoques se reduzem para R$ 60. No momento seguinte, as firmas vio rever suas decis6es de produgao, am- pliando-a tanto para atender a maior demanda de RS 1.260, como para repor 0 nivel deaejado de estoques que agora se elevou para 126, supondo que a meta das empresas ¢ manter 10% da demanda agregada em estoques. Isto resultari €m uma producio adicional de R$ 66 e em um produto, no perfodo seguinte, de R$ 1.326 (estamos considerando que a produco no periodo t seja igual a de- manda no perfodo t ~ 1, e a diferenca entre 0 estoque desejado e a nivel efetiva de estoques também no perfodo anterior). 8 obra de Keynes € que seria um caso particular da teoria cléssica, no caso em que os precas «in, Figidos. U debate passa 2 questionar se 0 caso normal ou padrao é de rigidez de precos ou de pre 0s totalmente flexiveis. Como veremos, este é um debate ainda em aherto, ¢ que tem movido a ‘macroeconomia no periodo recente. 156 wal de Macroeconom Lopes vasconcllos Com esta renda de 1.326, e substituindo na equagdo da DA, teremos uma nova demanda: DA = 1.360,80, sendo um consumo de 1.160,80 e um investi- mento de 200. Notemos que novamente haverd excesso de demanda no valor de 34,8 levando & nova reducdo de estoques, retraindo-se para 25,2. © Quadro 4.1 mostra o comportamento da demanda, produto e estoques rumo & nova situacao de equilibrio, Quadro 4.1 Ciclo dos Estoques. 1.200 1 [reso | 200 1260 | -co | 126 | 6 | 66 1.200 2 [11608 | 200 [13608 | -348 | 1361 | 252 | 1109 | 1.326 3 [12768 | 200 [14768 | sa | w77 | 196 | ver | 147i 4 [13839 | 200 [15039] +21 | 1584 | 406 | 1178 | 1.6049 5 [14614 | 200 |r6614 | +403 | 1661 | 609 | 852 | 1r0W @ [14073 | 00 [14072 | v4.2 | 160.7 | 1397 | aos | 1786 7 | 1.489,4 | 200 | 1.689,4 7 +474 168,9 | 1776 8,7 1.7368 8 | 1.444,6 | 200 | 1.644,6 | +361 164,5 213,7 ak 49,2 1.680,7, [9 1.3/6,3 | 200 | 1.576,3 | +19,1 197,6 232,8 | -75,2 1.595,4 10 [13009 | 200 [15009] +02 | 1501 | 233 | -029 | 1501 11 [12344 | 200 [14344 | 164 | 1434 | 2166 | 732 | 148 32 [1ae9 | 200 [1369 | -278 | 1389 | 188 | 99 | 13612 130 [1.177 200 | 1.371 i 32 1371 156,8 | -19,7 1.339. v4 [rae | 200 [rae | 30 | wer | i268 | ins | 1381 15 fiat | 200 [ram | -22 | wa | rose | «366 | 1392 16 [1260 | 200 [1460 | 10 | 146 | 948 | +512 | 1.450 17 | 1,309 200. | 1.509 42,2 150,9 7 +53,9 ‘1.5142 Percebemos pelo Quadro 4.1 que 0 ajustamento do produto a nova situasao de equilibrio nao se da instantaneamente, quando consideramos que as empresas possuem como estratégia manter um nivel de estoque proporcional deman- da. Quando a demanda sc cleva, tem sc inicialmente uma queda de estoques. {As firmas passardo a produzir mais, tanto para atender 4 maior demanda como para repor a queda dos estoques. Neste proceso, haverd um momento em que © produto ultrapassard a nova situayao de equilibrio (no Quadro 4.1; etapa 4) Modelo Keynesiano Simpes de Determinagko de Renda a Curto Prazo (o Lado Real) havendo a partir dai actimulo de estoques. A renda permanecerd ainda durante um certo periodo acima do equilibrio, podendo fazer, inclusive, com que o nivel de estoque efetivo supere o desejado, levando 4 nova reversaa na proclusfo, para desovar os estoques acumulados. Nesse processo, poderd ocorrer ainda uma ul- trapassagem, com o produto retraindo-se abaixo do equilibrio, levando a dimi- nuigdes do nivel efetivo de estoques. Chegamos a determinado ponto em que novamente se reverter4 a tendéncia do produto, voltando a ampliar-se. Essa alternancia da um cardter ciclico ao proceso de ajustamento, enquanto fo nivel de produto vai convergindo para a nova situagi0 de equilibrio e o nivel efetivo de estoques pata o desejado. Este processo é conhecido como ciclo de estoques e explica por que o produto ndo se ajusta instantaneamente & nova demanda, podendo provocar fortes expanses ou contracées da economia em resposta a distirbios na demanda. Como jé salientamos ao inicio deste tépico, retomaremos a questo mais adiante, especificamente quando discutirmos Ciclo de Negécios, no Capitulo 8. Modelo de determinagao da renda com o governo © governo adquire bens ¢ servigos junto ao setor privado, oferece bens € servigos, transfere renda por meio de politicas assistenciais, previdéncia social, seguro-desemprego, pagamento de juros etc. ¢ se financia através da arrecada- 0 de impostos. O gasto piiblico é um elemento de demanda que se soma ao consumo e ao investimento. J4 os impostos pagos ao governo so subtraidos da renda que os individuos podem alocar em consumo e poupanga, enquanto as. transferéncias ampliam a renda disponivel do setor privado. Assim, a primeira alteracdo decorrente da introdugdo do governo é na funco consumo, que passa a depender da renda disponivel: c=c(¥d) sendo Yd =Y-T+R renda disponivel; Y = renda nacional (total); T —arrecadagdo de impustos, R_ = transferéncias do governo ao setor privado. 157 158 _nanusl de Macrosconomia + Lopes e Vasconceli Por comodidade, consideraremos que as transferéncias sejam impostos nega- tivos e setts valores jé se encontrem deduzidas da arrecadacao total de impostos. ‘Vamos supor que: (i) a arrecadacao seja proporcional a renda, isto , quanto mais se produz maior sera o volume arrecadado pelo governo; ¢ (ii) os gastos puiblicos sejam dados, sendo determinados institucionalmente pelas Autoridades (fatores ‘exégenos ou auténomos). Desse modo, temos: T=ty onde ¢ = participagao do imposto no produto e (0 < t < 1) G=G sendo G os gastos do governo. ‘Assim, a fungdo consumo passa a ser: C=C, i c¥-T) = Cy, +e¥-Y ea demanda agregada: DA=C+I+G No equilibrio (V = DA), temos: = Cy +cl¥-1V+ I, + G 1 ty Hy FG T=eQ= Co * 10 * 0) Percebemos que o gasto piiblico estimula a renda por elevar os gastos auto- nomos. Assim, quanto maior for esta variével, maior seré a renda de equilibrio. ‘Jé os impostos, por meio de sua alfquota, possuem um efeito redutor sobre o nivel de produto, ao diminuirem o valor do multiplicador, pois reduzem as va- riagdes do consumo induzidas por alteragdes na renda. Uma vez ocorrida uma mudanga no nivel de renda, a arrecadacao de impostos faz com que a variacio na renda disponivel seja menor, limitando a alteragdo do consumo. Enquanto 0 gasto publico afeta a posicao da fun¢ao demanda agregada, deslocando-a, a alf- quota de imposto afeta a inclinacao da mesma. Uma elevacio nos gastos piiblicos tem, por assim dizer, o mesmo impac- to que uma variacdo nos investimentos, levando a uma ampliagéo da renda em magnitude igual ao montante de gastos vezes o multiplicador. A redugao do multiplicador decorrente da introdugao dos impostos pode ser vista pelo seguinte exemplo: suponhamos que a aliquota de tributagao seja de 25 %, icto , para cada RE 1,00 de renda, R¢ 0,25 so captadas pelo gaverno, Consideremos, adicionalmente, que a propens4o marginal a consumir mante- nha-se em U,8, mas agora sobre a renda disponivel rd, e nao sobre a renda na- cional total ¥. Assim, uma elevacao nos gastos auténomos de R$ 100,00, leva a __Movllo Keynesiano Simples de Deserminacé um aumento imediato na renda de R$ 100,00. Desta, 25%, ou R$ 25,00, serao pages na forma de impostos ao governo, ou seja, o aumento da renda disponfvel restringiu-se a R$ 75,00. Com uma propensdo marginal a consumir de 0,8, te- ‘mos um aumento no consumo de R$ 60,00, que significa um novo incremento de renda. Destes, novamente o governo apropria-se de 25% (R$ 15,00) fazendo com que a renda disponivel se amplie em apenas R$ 45,00, dos quais R$ 36,00 sao destinados ao consumo, Percebemos que a seqiiéncia de gastos, inicial e in- duzidos, agora é a seguinte: 100; 60; 36; 21,60; 12,96: que é uma progresséo geométrica de razin 0,6. Assim, a soma dos termos da PG é: Ay +100 “1-06 AY = 2,5x100 = 250 onde o primetro termo € 0 valor do multiplicador (2,5), que com a introdu- so do governo, reduziu-se de 5 para 2,5. Assim, cada RS 1.00 de despesa anté- noma, em vez de gerar R$ 5,00 de renda passa a gerar R$ 2,50. INesse exemplo, introduzindo a tributacio, teriamos o seguinte: C= 100 + 0,8(¥-T) Ty = 200 T =0,25Y No equilfbrio, tem-se: Y=C+I ¥ = 100 + 0,8(¥-0,25Y) + 200 Y-0,8(Y - 0,25¥) = 300 Resolvendo para a renda ¥, temos: ¥, = 750 Percebe-se que, com a introdugéo do governo, com a arrecadacao dada por uma aliquota de 25% do produto, reduziu-se o multiplicador para a metade de seu valor original e, accim, a renda de equilibrio também se reduciu pela meta- igi q B de: era de R$ 1.500, passou para R$ 750. J40 gasto publico, como vimos, é um elemento adicional de demanda que se soma aos gastos auténomos, ampliande a renda. Suponde G — 300, te1eius: Y-C+I+G Renda a Cuno Prazo (o Lado Real) 159 160 _Mansoi ge Macroeconomia + Lopes e Vasconcelos ¥ = 100 + 0,8(Y-0,25Y) + 200 + 300 Solucionando para Y, temos: 1.500 Ou seja, com um multiplicador de 2,5 acrescentando-se R$ 300 de gastos auténomos (no caso, os gastos ptblicos), a renda se elevou de $ 750,00 (ou 2,5 X RS 300), voltando aos RS 1.500 iniciais. Percebemos o que foi dito: os impos- tos diminuem a renda pela queda do multiplicador, enquanto os gastos puiblicos a elevam, aumentando as despesas aut6nomas. Se consideréssemos 0 nivel de arrecadaao como dado, independente da renda, ter-se-ia: T= Tp (fixo) Desse modo, Cy + Y= Ty) + Ig + Gy 1 Tooth +G) Nesse caso, vs iinpustus aparecetias Wm un redutor da despesa auténoma sem afetar o multiplicador de gastos, sendo que essa diminuicao nao correspon- dria ao valor total dos impostos, mas aos impostos multiplicados pela propensio marginal a consumir, uma vez que os impstos no diminuem a renda disponivel apenas para 0 consumo, mas também para a poupanga. Com isso, 0 chamado multiplicador de impostos é inferior ao multiplicador de gastos, ou seja, (em médulo, jé que o multiplicador de impostos é negativo). £ interessante considerarmos o efeito multiplicador correspondente as va- riacdes nas aliquotas de impostos (multiplicador de aliquotas de impostos), dado pelu impacto de uma variagéo da aliquote sobre o nivel de renda. Em pri meiro lugar, devemos lembrar que a aliquota de imposto afeta a inclinacao da fungao demanda agregada, que é dada pela propensdo marginal a gastar: c(I~t). © componente de demanda afetado pela mudanga nos impostos é 0 consumo, que depende da renda disponivel. Assim, ao reduzirmos a aliquota de impostos para t’, por exemplo, teremos inicialmente uma variacao no nivel de consumo ‘em relagdo ao valor inicial da renda, dada pela cegninte expresso: c'-C =-cY, (t=) ADA, = -c¥, At Modelo Keynesiano simples de Det Esse impacto inicial, aumentando o consumo, levard a impactos secundarios dados pela nova propensdo a gastar, que passaré a incidir sobre a variacao inicial da renda decorrente da variac4o inicial dos gastos. Assim, teremos uma nova seqiiéncia de gastos, cujo valor inicial sera ADA, e a razdo sera c(1 - t’). Dessa forma, o impacto total sobre a renda de equilfbrio decorrente de uma alteracéo na aliquota de impostos sera: c ay (ics) a O termo entre parénteses do lado direito da express4o acima corresponde ao multiplicador dos impostos. Assim como no multiplicador no qual o valor dos impostos era dado, o multiplicador neste caso tem o mesmo denominador do multiplicador de gastos,’ mas o numerador, em vez de ser a unidade, é a pro- pensio marginal a consumir, gerando, portanto, um multiplicador inferior ao multiplicador de gastos. Para avaliarmos o impacto total do setor publico sobre o nivel de renda, po- demos combinar a arrecadacdo e os gastos ptiblicos. Essa juncdo se faz no cha- mado orgamento puiblico, que mostra o total de arrecadacao e gastos do setor pliblico. Quando o total arrecadado supera 0 volume de gastos, dizemos que 0 orgamente € superavitario, ¢ quando ocorre o inverso, dizemos que é deficitério. O saldo orcamentario é obtido pela seguinte identidade: O=T-G onde 0 = saldo do orcamento ptiblico. No caso em que os impostos so proporcionais a renda, temos: O=t¥-G Notemos que, para um dado nfvel de gastos, o saldo orcamentério é extrema- mente dependente do nivel de renda, pois quanto maior a renda maior a arreca- daco e vice-versa. Assim, com um certo nivel de gastos, a situagéo do governo melhora quando a economia cresce. Isso pode ser visto na Figura 4.5. Pelo discutido nos parégrafos anteriores, quanto mais deficitario o orsamen- to, maior o impacto expansionista da politica fiscal. Essa afirmagao é totalmente verdadeira, mas erros em sua interpretacio le- vam a uma das falacias favoritas dos politicos: “vamos ampliar gastos porque a elevacao da renda decorrente destes levar a um crescimento suficiente da arre-

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