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Antonio Raposo 1 Revista no LHGSP Vou, XCVIIL- 2014 ‘AVARES, © “MAIOR BANDEIRANTE” ANTONIO Raposo TAVARES, THE “GREATEST BANDEIRANTE” Resumo: Breve recordagio dos principus tragos biog fieos do bandeirante Antonio Raposo Tavares (1598-1658), natural da freguesia de Sao Mi- quel do Pinheiro (Mértola, Baixo Alentejo), © consideragSes sobre sua importinciahistrics. Alentejo; Sao Paulo colonial; bandeitismo, Palavras-chave: cristios-novos; Jost ANt6Nio FALcko (Sécio correspondiente do IHGSP) Abstract: Brief remenbran traits of Antonio Raposo Tavares (1598-1658), ‘bor in the so called Freguesia de S3o Miguel of the main biographical do Pinheiro (Mértola, Low Alentejo), and con- siderations about its historical importance. Keywords: Alentejo; new christians; colonial Sao Paulo; bandeitismo. Antonio Raposo Tavares, dito “o Velho”, 1598, Os pais, Ferndo Ribeiro Tavares rnasceu em. Francisco Pinheiro da Costa Bra- vo, eram oriundos de Beja, pelo aque as suas raize dade no limiar da pequena nobreza jo nesta ci- Vieira Tavares situava-se provincial, que vivia a lei da aristocracia, mas estava dependente dos favores do rei e dos grandes senhores. Em contrapartida, mercé do casamento, passou a integrar a poderosa comunidade judaica de Beja, juntando os apelidos ¢ a in- fluéncia social e politica ao dinheiro. Isto representava algo perigoso, numa época em que Santo Oficio de Evora, com a sua rede de familiares ~ funciondrios ¢ informadores — bem esta- belecida no prospero concelho de Beja, realizava frequentes incursdes a0 Baixo Alentejo, preferindo-o ao termo eborense, onde tinha que contar com a opo- sigdio direta de outros poderes. Era mais facil “ea no quintal dos vizinhos do que no préprio, principalmente em alturas em que as comunidades estavam mais indefesas e dispunham de patrim@nios apeteciveis, que oleavam a méqui- 99 Jost Axrania Fatcho na inquisitorial, Teré sido durante um destes perfodos criticas que o casal se refugiou em ‘Sto Miguel do Pinheiro, freguesia de povoamento disperso, nas serranias de Mértola; a beira da antiquissima Via da Prata, por onde os almocreves con- duziam as mercadori entradas ou saidas pelo Guadiana, integrava 0 hinter- land bejense. Gente rica da cidade tinha ai negécios eo sitio era propicio para abrigar alguém receoso das malhas de uma justiga pouco justa. A distincia, a solidariedade dos vizinhos, a facilidade de fuga através de Mértola, pelo rio ou mesmo pela raia com a Andaluzia, tudo fazia de Sdo Miguel do Pinheiro um onto adequado para situagdes de emergéncia, como a ocorrida nos iltimos anos do século XVI. ‘A mie de Antonio morreu nova ¢ o jovem foi criado pela madrasta, Maria da Costa, mulher inteligente ¢ culta, dotada de fortuna, também pertencente a uma conhecida familia de cristdos-novos, 0s Elvas, que permaneciam figis tradigto judaica. Raposo Tavares esteve depois ao servigo de D. Francisco de Sousa, sendo por ele armado cavaleiro da Casa Real, o que Ihe dava um estatu- a qual, entretanto, conseguiu prender Maria da Costa. Em 1618, sequioso de espagos amplos, partiu para o Brasil Sao Vicente. Este Femndio Tavares, antigo partidério de D. Anténio, prior do Crato, ¢ ‘mogo da cdmara do rei, era um homem das Arabias. Casado, por duas vezes, no to de nobreza, mas nio o protegia da Inquisi |, com o pai, recém-nomeado capitio-mor e govemnador da capitania de seio de familias de cristios-novos, como vimos, toriou-se tesoureiro da Bula da Santa Cruzada (que acabou por desfalear, perdendo todos os bens). Figura pro- xima dos circulos de poder, tinha bons contatos no Brasil, onde encontravam guarida muitos cristios-novos, ¢ deslizou suavemente para uma carreira de ou- tro lado do oceano, na qualidade de preposto do conde de Monsanto, donatério da capitania de Sao Vicente. Antonio Raposo conheceu, desde cedo, os meandros da politica ultrama- rina. Quando o pai faleceu, em 1622, ficou por sua conta ¢ estabeleceu-se no planalto de Piratininga, onde despontava a vila de Sao Paulo, vindo a participar em expedigdes destinadas a combater € a aprisionar indios, incumbéncia que decorria das fungdes quase obrigatérias dos moradores da pequena localida- 100 vist, no IHGSP- Nou XCVIM- 2044 de, Comegou assim a formar-se a “lenda negra” que 0 acompanhard ao longo da vida; em nome da verdade historica, ha que si tua-la numa conjuntura mais ampla, pois nao eram despi indas, além das hostilidades entre portugueses € indios, as disputas fronteirigas entre portugueses e espanhiis. Cinco anos mais tarde, comandou a sua primeira bandeira (expedigio militar), com um efetivo de 100 paulistas ¢ mais de 2000 indios auxiliares, atingindo o Rio Grande do Sul, de onde expulsou os jesuitas espanhdis, que representavam uma guarda-avangada de interesses do pais vizinho, apesar de se estar ainda numa monarquia dual, sob a égide de Filipe I11. Esta ampliagao das fronteiras do Brasil assegurou a posse dos territérios dos atuais estados do Parana, de Santa Catarina ¢ de Mato Grosso do Sul. Regressado a Sao Paulo, em 1633, tornou-se juiz ordindrio, cargo de que desistiu, no mesmo ano, para ser ouvidor da capitania de Sao Vicente, onde vol- tou a enfrentar, na defesa dos interesses portugueses, os jesuitas espanhdis do colégio de Barueri, o que Ihe valeu a excomunhao, Trés anos depois comandou coutra bandeira, agora para expulsar, com a costumada violencia, as “redugdes” ‘ow misses da Companhia de Jesus na regio do Tapes, no Rio Grande do Sul. Com as suas luzes ¢ as suas violéncias, as intervengdes de Raposo Tavares l, contendo as investidas espanholas — por vezes associadas aos esforgos da Com- desempenharam um papel essencial na delimitagdo das fronteiras do Br: panhia de Jesus para estabelecer “terrtérios-tampto” entre os dois impérios que ajustavam sucessivamente as suas areas de influéncia, & custa das popul ges locais. Segundo assinalou Afonso de Taunay, ele “foi o bandeirante mag- no, o vulto formideivel da nossa histéria”, intérprete cimeiro do bandeirismo. De 1639 a 1642, a pedido de Salvador Correia de Sa, integrou as forgas paulistas que lutaram contra os holandeses, desempenhando papel importante nas campanhas para a reconquista de Pernambuco. Em 1639 recebeu das maos de D. Fernando de Mascarenhas, conde da Torre, a patente de capi 1640, quando chegaram a Sao Paulo as novas da subida ao trono de D. Joo IV, ido. E, em coube-Ihe proclamar a restauragio da independéncit portuguesa, em Sio Paulo. ‘0 monarea nomeé-lo-ia, mais tarde, mestre-de-campo. Raposo Tavares foi chamado a Portugal em 1647 e recebeu 0 encargo de ima expedigdo, no ano levar a cabo uma missdo secreta que viria a sera s 101 Seguinte: @ grande bandeira aos “serranos”, nos confins do Peru. Com o pre- ‘exto de buscar prata, esta expedigdo, formada apenas por algumas dezenas de homens, internou-se no territério mato-grossense,atingindo, pelo rio Madeira, © Amazonas, que subiu até as terras de Quito e desceu até Belém do Pari, de modo a definir, sem provocar as desconfiangas dos espanhdis, a presenca de Portugal na regia, © bandeirante faleceu em Sio Paulo, em 1658. A sua meméria s6 viria a ser ‘esgatada, no Alentejo, em 1966, por iniiativa das autoridades paulistas, aps © notivel estudo que Jaime Cortesdo lhe consagrara,oito anos antes, intitulado Raposo Tavares ¢ a Formacao Territorial do Brasil. Sao deste historiador a Palavras que melhor definem o papel por ele desempenhado: “Como Vasco da Gama em relacdo ao Indico, ou Fernao de Magalhdes ao Pacifico, Raposo Tavares medi a sua grandeza por dois dos maiores padrées da Natureza: os 102

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